O documento fornece um guia detalhado da cidade de Mindelo em São Vicente, Cabo Verde, descrevendo atrações populares como praias, mercados, ruas históricas e vida noturna. O guia destaca os principais pontos de interesse cultural e histórico da cidade, assim como sugestões para experimentar a culinária e música típicas de Cabo Verde.
1. fácil acesso: Laginha, na cidade; Praia
Grande, a vinte minutos de carro, no
Calhau; Baía das Gatas, a quinze; e São
Pedro, a dez.
Os mais aventureiros podem explorar
as praias fora do roteiro, como Flamin-
go – no Verão, as moscas podem ser um
problema – ou Palha Carga. Estas praias
costumam ter tão pouca gente que, se
quiser, pode dar largas ao seu lado mais,
digamos, descontraído (se o apanharem
com os calções na mão, não vale a pena
dizer que o conselho foi meu).
Por outro lado, se o que lhe apetece é
gastar a sola dos ténis, existem percur-
sos a pé que pode experimentar.
São Vicente pode não ter as melhores
praias, até porque é difícil bater a água
azul de Santa Maria, no Sal, ou as dunas
da Boa Vista. ‘Soncent’, em cabo-verdia-
no, não tem os melhores trilhos – mas
para isso tem Santo Antão aqui ao lado
– agora, o que a ilha tem como nenhu-
ma outra é o Mindelo.
A cidade é pequena mas tem muito para
ver. Senhoras, nada de saltos altos (até
porque estão de férias) e força nas per-
nas.
Guia Começamos pela Praça Dom Luís
e aí entramos logo na Casa Café Minde-
lo. Pode sentar-se e consumir, mas tam-
bém pode só entrar, olhar e voltar a sair.
Se alguém achar estranho, finja que não
percebeu. A cidade tem uma série de
malucos – até prova em contrário, dos
mais divertidos que existem – e vão achar
que é um deles.
Subindo a rua, vamos dar aos Paços do
Concelho. Se contornarmos a Igreja, que
fica logo ali, vamos ter ao Parlamento:
não se entusiasme, é apenas uma praci-
nha, com bancos onde os mais velhos se
sentam durante todo o dia a discutir o
mundo em geral. Se descermos uma das
ruas à direita chegamos à Praça Estrela.
A Praça Estrela é um óptimo sítio para
comprar roupa e sapatos contrafeitos,
electrónica barata e artesanato da cos-
ta ocidental africana (como se fosse de
Cabo Verde). Se sentir um bichinho no
estômago, sente-se num dos bares e coma
uma cachupa guisada – muito típico –
por 150 escudos (pouco menos de um
omecemos por Cabo Ver-
de. De verde, o país tem
pouco, excepto quando
chove, o que raramen-
te acontece. Felizmen-
te, o arquipélago, a qua-
tro horas de voo de Lisboa, tem outros
encantos. A diversidade é o maior deles.
São dez ilhas, nove povoadas, e não exis-
tem duas iguais. É diferente a geografia,
são diferentes as pessoas e o crioulo que
se fala.
Vamos, então, a São Vicente e começa-
mos com uma aula de história – não desis-
ta já, são só dois parágrafos. A ilha do
Monte Cara, como é conhecida, por ter
um monte semelhante a um rosto dei-
tado, foi a última a ser povoada. A ari-
dez do terreno desencorajava até os mais
aventureiros.
A cidade do Mindelo, propriamente
dita, foi mandada construir em 1838. Nos
finais do século XIX, aqui se instalaram
algumas das principais companhias de
carvão mineral da época, com o objecti-
vo de abastecer os navios que, a partir
dessa data, aqui passaram a fazer esca-
la. A movimentação de pessoas de dife-
rentes nacionalidades deu-lhe um toque
cosmopolita, que se prolonga até hoje.
As ruas da morada – como é chamado
o centro histórico – estão cheias de gen-
te de diferentes origens. Nacionais, turis-
tas, que só não são em maior número
porque os projectos de desenvolvimen-
to do sector ainda não saíram do papel,
e emigrantes, alguns dos quais persona-
gens misteriosas, de origem relativamen-
te duvidosa.
A chegada a São Vicente faz-se pelo
aeroporto Cesária Évora – se quiser tam-
bém pode vir de barco e atracar na mari-
na, mas de avião é mais rápido. Cize, a
diva dos pés descalços, que morreu em
Dezembro de 2011, continua a ser a maior
referência internacional do país. Uma
movimentação popular, em especial nas
redes sociais, logo após a morte, exigiu
que o aeroporto fosse baptizado com o
seu nome, pretensão a que o governo
acedeu.
São Vicente combina o melhor de todo
o arquipélago e é por isso o destino ideal
para quem procura mais do que sol e mar.
Se quer praia, tem quatro propostas de
Diz-se que a noite do Minde-
lo já não é o que era. Faltam
as casas onde se pode ouvir
uma boa tocatina, com músi-
ca tradicional cabo-verdiana.
Uma contradição, numa ilha
que se quer afirmar pelo turis-
mo cultural. Se procura tra-
dição, vai encontrá-la em res-
taurantes e em alguns bares
com música ao vivo.
A noite da cidade, muito como
toda a ilha, é para ser senti-
da. Esqueça a ideia de ficar
num único sítio. Para apro-
veitar bem, vai ter que salti-
tar entre lugares.
Comece, por exemplo, por
um gato (grogue e sumo de
gengibre: ideal para aquecer
a alma) no La Bodeguita, em
Alto Mira Mar. Depois, desça
até ao Jazzy Bird, na Avenida
Baltasar Lopes da Silva, para
ouvir jazz.
A seguir, e por esta hora já
deve ser meia-noite, suba até
Madeiralzinho e visite o Expe-
rience. Para não dizer que não
o avisámos, o bar é daqueles
sítios a que nunca ninguém
vai, mas onde toda a gente
está.
Rume à Laginha e entre no
Bar Holanda, um dos poucos
sítios que conserva as noites
cabo-verdianas ao melhor esti-
lo de São Vicente.
Finalmente, se ainda tem
forças, atravesse a estrada e
desça as escadas do Caravela
Night Club (na cidade, ao pé
da praça, e dentro do mesmo
género, tem ainda o Syrius).
Se preferir um ambiente, enfim,
mais adulto, pergunte pela
Cave, em Alto São Nicolau.
Como com tudo isto já deve
ser de manhã, volte à rua de
Lisboa e peça uma cachupa
no Katem. Esqueça que ain-
da não são sete da manhã e
atreva-se a guarnecer a igua-
ria com uma bifana.
2. euro e meio).
Seguindo caminho, viramo-nos para o
mar e prosseguimos. Vamos passar pelo
pelourinho de verduras, onde pode com-
prar frutas e legumes, mas o objectivo é
chegar à Rua de Praia.
Ignore o cheiro, que às vezes não é o
melhor, e concentre-se no movimento:
pescadores, vendedoras, clientes e deso-
cupados (preste bem atenção a quem já
bebeu demasiado grogue – aguardente
de cana – e se quiser experimentar entre
no Botequim Boca de Tubarão). Nós, que
não bebemos (risos), vamos ao merca-
do de peixe.
A primeira coisa a fazer é verificar se
as calças não arrastam no chão. Mesmo
que não esteja a pensar em fazer uma
grelhada, repare nos tipos de peixe e nas
cores. Há quem diga que é o melhor do
mundo, mas como também dizem o mes-
mo do português, fica-se sem saber.
Quem vende não é quem amanha. Isso
é feito uns metros ao lado, por “tratado-
res” credenciados pela câmara munici-
pal. Deve pagar pelo serviço, mas uma
moeda chega.
Imaginando que não traz consigo um
saco de peixe e que por isso não temos
que voltar ao hotel para o guardar no fri-
gobar, continuamos pela Rua de Praia,
passamos novamente pela praça Dom
Luís e seguimos mais trinta metros. À
frente, o Centro Cultural do Mindelo,
antiga alfândega, e à direita, a Bibliote-
ca Municipal (tem 14 mil livros, caso
queira parar para ler alguma coisa). É
aqui que viramos.
Estamos na Rua de Lisboa, o centro do
centro. Há alguns anos, ao subir em direc-
ção ao Palácio do Povo – o edifício cor-
de-rosa no topo, propriedade da Presi-
dência da República, mas que passa a
maior parte do tempo fechado – ia encon-
trar uma série de cafés históricos: Por-
tugal, Royal, Katem, Lisboa e Algarve.
Desses, restam os três últimos. Outras
lojas também já fecharam e reabriram
em formato chinês.
Apesar das mudanças, a rua conserva
o carisma e movimento de sempre. É
também aqui que fica o Mercado Muni-
cipal. O edifício merece uma visita só por
si, mesmo que, cá está, não queira com-
prar couves.
Cruzamentos Quando sair do mercado,
deixe-se ficar pelas ruas do centro – garan-
to-lhe que não se vai perder. A ideia é
que nos encontremos em meia hora na
Praça Nova. Por favor, ignore as casas
que foram deitadas abaixo, as que estão
para ser e as que não fazem sentido
nenhum no sítio onde estão. Mindelo é
património nacional, mas nem sempre
as autoridades se lembram disso.
A Praça Nova, que na realidade até se
chama Amílcar Cabral, é o maior ponto
de encontro da cidade. Ao final da tarde e
nos fins-de-semana à noite, aqui conver-
ge toda a gente. Consoante o horário, é
possível encontrar estudantes universitá-
rios, famílias inteiras ou adolescentes em
animados flirts. Ao domingo, é por vezes
possível ouvir a banda municipal no core-
to (aviso: nem sempre está afinada).
A praça tem num topo a Telecom, no
outro, o Centro Nacional de Artesanato.
Num dos lados, o Hotel Porto Grande, o
mais emblemático da ilha. O edifício qua-
se em ruínas ao lado do hotel é o antigo
cinema Éden Park, que poderia ser, só
por si, motivo de várias reportagens. Anti-
gamente, comia-se mancarra (amen-
doim) nas sessões esgotadas. Agora, à
falta de melhores planos, espera-se que
caia.
A visita poderia continuar pela margi-
nal, até à Laginha. Ou até ao mesmo des-
tino, descendo a rua da Escola Técnica.
Como vai mesmo precisar de mais uns
dias para sentir a cidade, e os voos da TAP
são só às terças e sábados (a TACV voa às
sextas), deixamos para mais tarde.
Por agora, sente-se no quiosque da Pra-
ça, peça um ‘pontche’ de mel (ou de tam-
barina, coco, bolacha, morango, nata,
pêssego, manga, chocolate, mancarra –
e basicamente de tudo o que possa ima-
ginar) e conclua que, às vezes, a vida
pode ser muito simples e, ainda assim,
maravilhosa.