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fácil acesso: Laginha, na cidade; Praia
Grande, a vinte minutos de carro, no
Calhau; Baía das Gatas, a quinze; e São
Pedro, a dez.
Os mais aventureiros podem explorar
as praias fora do roteiro, como Flamin-
go – no Verão, as moscas podem ser um
problema – ou Palha Carga. Estas praias
costumam ter tão pouca gente que, se
quiser, pode dar largas ao seu lado mais,
digamos, descontraído (se o apanharem
com os calções na mão, não vale a pena
dizer que o conselho foi meu).
Por outro lado, se o que lhe apetece é
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São Vicente pode não ter as melhores
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azul de Santa Maria, no Sal, ou as dunas
da Boa Vista. ‘Soncent’, em cabo-verdia-
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ma outra é o Mindelo.
A cidade é pequena mas tem muito para
ver. Senhoras, nada de saltos altos (até
porque estão de férias) e força nas per-
nas.
Guia Começamos pela Praça Dom Luís
e aí entramos logo na Casa Café Minde-
lo. Pode sentar-se e consumir, mas tam-
bém pode só entrar, olhar e voltar a sair.
Se alguém achar estranho, finja que não
percebeu. A cidade tem uma série de
malucos – até prova em contrário, dos
mais divertidos que existem – e vão achar
que é um deles.
Subindo a rua, vamos dar aos Paços do
Concelho. Se contornarmos a Igreja, que
fica logo ali, vamos ter ao Parlamento:
não se entusiasme, é apenas uma praci-
nha, com bancos onde os mais velhos se
sentam durante todo o dia a discutir o
mundo em geral. Se descermos uma das
ruas à direita chegamos à Praça Estrela.
A Praça Estrela é um óptimo sítio para
comprar roupa e sapatos contrafeitos,
electrónica barata e artesanato da cos-
ta ocidental africana (como se fosse de
Cabo Verde). Se sentir um bichinho no
estômago, sente-se num dos bares e coma
uma cachupa guisada – muito típico –
por 150 escudos (pouco menos de um
omecemos por Cabo Ver-
de. De verde, o país tem
pouco, excepto quando
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te acontece. Felizmen-
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tem duas iguais. É diferente a geografia,
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Monte Cara, como é conhecida, por ter
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dez do terreno desencorajava até os mais
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A cidade do Mindelo, propriamente
dita, foi mandada construir em 1838. Nos
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carvão mineral da época, com o objecti-
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dessa data, aqui passaram a fazer esca-
la. A movimentação de pessoas de dife-
rentes nacionalidades deu-lhe um toque
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São Vicente combina o melhor de todo
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Se quer praia, tem quatro propostas de
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uma boa tocatina, com músi-
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Uma contradição, numa ilha
que se quer afirmar pelo turis-
mo cultural. Se procura tra-
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A noite da cidade, muito como
toda a ilha, é para ser senti-
da. Esqueça a ideia de ficar
num único sítio. Para apro-
veitar bem, vai ter que salti-
tar entre lugares.
Comece, por exemplo, por
um gato (grogue e sumo de
gengibre: ideal para aquecer
a alma) no La Bodeguita, em
Alto Mira Mar. Depois, desça
até ao Jazzy Bird, na Avenida
Baltasar Lopes da Silva, para
ouvir jazz.
A seguir, e por esta hora já
deve ser meia-noite, suba até
Madeiralzinho e visite o Expe-
rience. Para não dizer que não
o avisámos, o bar é daqueles
sítios a que nunca ninguém
vai, mas onde toda a gente
está.
Rume à Laginha e entre no
Bar Holanda, um dos poucos
sítios que conserva as noites
cabo-verdianas ao melhor esti-
lo de São Vicente.
Finalmente, se ainda tem
forças, atravesse a estrada e
desça as escadas do Caravela
Night Club (na cidade, ao pé
da praça, e dentro do mesmo
género, tem ainda o Syrius).
Se preferir um ambiente, enfim,
mais adulto, pergunte pela
Cave, em Alto São Nicolau.
Como com tudo isto já deve
ser de manhã, volte à rua de
Lisboa e peça uma cachupa
no Katem. Esqueça que ain-
da não são sete da manhã e
atreva-se a guarnecer a igua-
ria com uma bifana.
euro e meio).
Seguindo caminho, viramo-nos para o
mar e prosseguimos. Vamos passar pelo
pelourinho de verduras, onde pode com-
prar frutas e legumes, mas o objectivo é
chegar à Rua de Praia.
Ignore o cheiro, que às vezes não é o
melhor, e concentre-se no movimento:
pescadores, vendedoras, clientes e deso-
cupados (preste bem atenção a quem já
bebeu demasiado grogue – aguardente
de cana – e se quiser experimentar entre
no Botequim Boca de Tubarão). Nós, que
não bebemos (risos), vamos ao merca-
do de peixe.
A primeira coisa a fazer é verificar se
as calças não arrastam no chão. Mesmo
que não esteja a pensar em fazer uma
grelhada, repare nos tipos de peixe e nas
cores. Há quem diga que é o melhor do
mundo, mas como também dizem o mes-
mo do português, fica-se sem saber.
Quem vende não é quem amanha. Isso
é feito uns metros ao lado, por “tratado-
res” credenciados pela câmara munici-
pal. Deve pagar pelo serviço, mas uma
moeda chega.
Imaginando que não traz consigo um
saco de peixe e que por isso não temos
que voltar ao hotel para o guardar no fri-
gobar, continuamos pela Rua de Praia,
passamos novamente pela praça Dom
Luís e seguimos mais trinta metros. À
frente, o Centro Cultural do Mindelo,
antiga alfândega, e à direita, a Bibliote-
ca Municipal (tem 14 mil livros, caso
queira parar para ler alguma coisa). É
aqui que viramos.
Estamos na Rua de Lisboa, o centro do
centro. Há alguns anos, ao subir em direc-
ção ao Palácio do Povo – o edifício cor-
de-rosa no topo, propriedade da Presi-
dência da República, mas que passa a
maior parte do tempo fechado – ia encon-
trar uma série de cafés históricos: Por-
tugal, Royal, Katem, Lisboa e Algarve.
Desses, restam os três últimos. Outras
lojas também já fecharam e reabriram
em formato chinês.
Apesar das mudanças, a rua conserva
o carisma e movimento de sempre. É
também aqui que fica o Mercado Muni-
cipal. O edifício merece uma visita só por
si, mesmo que, cá está, não queira com-
prar couves.
Cruzamentos Quando sair do mercado,
deixe-se ficar pelas ruas do centro – garan-
to-lhe que não se vai perder. A ideia é
que nos encontremos em meia hora na
Praça Nova. Por favor, ignore as casas
que foram deitadas abaixo, as que estão
para ser e as que não fazem sentido
nenhum no sítio onde estão. Mindelo é
património nacional, mas nem sempre
as autoridades se lembram disso.
A Praça Nova, que na realidade até se
chama Amílcar Cabral, é o maior ponto
de encontro da cidade. Ao final da tarde e
nos fins-de-semana à noite, aqui conver-
ge toda a gente. Consoante o horário, é
possível encontrar estudantes universitá-
rios, famílias inteiras ou adolescentes em
animados flirts. Ao domingo, é por vezes
possível ouvir a banda municipal no core-
to (aviso: nem sempre está afinada).
A praça tem num topo a Telecom, no
outro, o Centro Nacional de Artesanato.
Num dos lados, o Hotel Porto Grande, o
mais emblemático da ilha. O edifício qua-
se em ruínas ao lado do hotel é o antigo
cinema Éden Park, que poderia ser, só
por si, motivo de várias reportagens. Anti-
gamente, comia-se mancarra (amen-
doim) nas sessões esgotadas. Agora, à
falta de melhores planos, espera-se que
caia.
A visita poderia continuar pela margi-
nal, até à Laginha. Ou até ao mesmo des-
tino, descendo a rua da Escola Técnica.
Como vai mesmo precisar de mais uns
dias para sentir a cidade, e os voos da TAP
são só às terças e sábados (a TACV voa às
sextas), deixamos para mais tarde.
Por agora, sente-se no quiosque da Pra-
ça, peça um ‘pontche’ de mel (ou de tam-
barina, coco, bolacha, morango, nata,
pêssego, manga, chocolate, mancarra –
e basicamente de tudo o que possa ima-
ginar) e conclua que, às vezes, a vida
pode ser muito simples e, ainda assim,
maravilhosa.

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Praias e Cidade de São Vicente

  • 1. fácil acesso: Laginha, na cidade; Praia Grande, a vinte minutos de carro, no Calhau; Baía das Gatas, a quinze; e São Pedro, a dez. Os mais aventureiros podem explorar as praias fora do roteiro, como Flamin- go – no Verão, as moscas podem ser um problema – ou Palha Carga. Estas praias costumam ter tão pouca gente que, se quiser, pode dar largas ao seu lado mais, digamos, descontraído (se o apanharem com os calções na mão, não vale a pena dizer que o conselho foi meu). Por outro lado, se o que lhe apetece é gastar a sola dos ténis, existem percur- sos a pé que pode experimentar. São Vicente pode não ter as melhores praias, até porque é difícil bater a água azul de Santa Maria, no Sal, ou as dunas da Boa Vista. ‘Soncent’, em cabo-verdia- no, não tem os melhores trilhos – mas para isso tem Santo Antão aqui ao lado – agora, o que a ilha tem como nenhu- ma outra é o Mindelo. A cidade é pequena mas tem muito para ver. Senhoras, nada de saltos altos (até porque estão de férias) e força nas per- nas. Guia Começamos pela Praça Dom Luís e aí entramos logo na Casa Café Minde- lo. Pode sentar-se e consumir, mas tam- bém pode só entrar, olhar e voltar a sair. Se alguém achar estranho, finja que não percebeu. A cidade tem uma série de malucos – até prova em contrário, dos mais divertidos que existem – e vão achar que é um deles. Subindo a rua, vamos dar aos Paços do Concelho. Se contornarmos a Igreja, que fica logo ali, vamos ter ao Parlamento: não se entusiasme, é apenas uma praci- nha, com bancos onde os mais velhos se sentam durante todo o dia a discutir o mundo em geral. Se descermos uma das ruas à direita chegamos à Praça Estrela. A Praça Estrela é um óptimo sítio para comprar roupa e sapatos contrafeitos, electrónica barata e artesanato da cos- ta ocidental africana (como se fosse de Cabo Verde). Se sentir um bichinho no estômago, sente-se num dos bares e coma uma cachupa guisada – muito típico – por 150 escudos (pouco menos de um omecemos por Cabo Ver- de. De verde, o país tem pouco, excepto quando chove, o que raramen- te acontece. Felizmen- te, o arquipélago, a qua- tro horas de voo de Lisboa, tem outros encantos. A diversidade é o maior deles. São dez ilhas, nove povoadas, e não exis- tem duas iguais. É diferente a geografia, são diferentes as pessoas e o crioulo que se fala. Vamos, então, a São Vicente e começa- mos com uma aula de história – não desis- ta já, são só dois parágrafos. A ilha do Monte Cara, como é conhecida, por ter um monte semelhante a um rosto dei- tado, foi a última a ser povoada. A ari- dez do terreno desencorajava até os mais aventureiros. A cidade do Mindelo, propriamente dita, foi mandada construir em 1838. Nos finais do século XIX, aqui se instalaram algumas das principais companhias de carvão mineral da época, com o objecti- vo de abastecer os navios que, a partir dessa data, aqui passaram a fazer esca- la. A movimentação de pessoas de dife- rentes nacionalidades deu-lhe um toque cosmopolita, que se prolonga até hoje. As ruas da morada – como é chamado o centro histórico – estão cheias de gen- te de diferentes origens. Nacionais, turis- tas, que só não são em maior número porque os projectos de desenvolvimen- to do sector ainda não saíram do papel, e emigrantes, alguns dos quais persona- gens misteriosas, de origem relativamen- te duvidosa. A chegada a São Vicente faz-se pelo aeroporto Cesária Évora – se quiser tam- bém pode vir de barco e atracar na mari- na, mas de avião é mais rápido. Cize, a diva dos pés descalços, que morreu em Dezembro de 2011, continua a ser a maior referência internacional do país. Uma movimentação popular, em especial nas redes sociais, logo após a morte, exigiu que o aeroporto fosse baptizado com o seu nome, pretensão a que o governo acedeu. São Vicente combina o melhor de todo o arquipélago e é por isso o destino ideal para quem procura mais do que sol e mar. Se quer praia, tem quatro propostas de Diz-se que a noite do Minde- lo já não é o que era. Faltam as casas onde se pode ouvir uma boa tocatina, com músi- ca tradicional cabo-verdiana. Uma contradição, numa ilha que se quer afirmar pelo turis- mo cultural. Se procura tra- dição, vai encontrá-la em res- taurantes e em alguns bares com música ao vivo. A noite da cidade, muito como toda a ilha, é para ser senti- da. Esqueça a ideia de ficar num único sítio. Para apro- veitar bem, vai ter que salti- tar entre lugares. Comece, por exemplo, por um gato (grogue e sumo de gengibre: ideal para aquecer a alma) no La Bodeguita, em Alto Mira Mar. Depois, desça até ao Jazzy Bird, na Avenida Baltasar Lopes da Silva, para ouvir jazz. A seguir, e por esta hora já deve ser meia-noite, suba até Madeiralzinho e visite o Expe- rience. Para não dizer que não o avisámos, o bar é daqueles sítios a que nunca ninguém vai, mas onde toda a gente está. Rume à Laginha e entre no Bar Holanda, um dos poucos sítios que conserva as noites cabo-verdianas ao melhor esti- lo de São Vicente. Finalmente, se ainda tem forças, atravesse a estrada e desça as escadas do Caravela Night Club (na cidade, ao pé da praça, e dentro do mesmo género, tem ainda o Syrius). Se preferir um ambiente, enfim, mais adulto, pergunte pela Cave, em Alto São Nicolau. Como com tudo isto já deve ser de manhã, volte à rua de Lisboa e peça uma cachupa no Katem. Esqueça que ain- da não são sete da manhã e atreva-se a guarnecer a igua- ria com uma bifana.
  • 2. euro e meio). Seguindo caminho, viramo-nos para o mar e prosseguimos. Vamos passar pelo pelourinho de verduras, onde pode com- prar frutas e legumes, mas o objectivo é chegar à Rua de Praia. Ignore o cheiro, que às vezes não é o melhor, e concentre-se no movimento: pescadores, vendedoras, clientes e deso- cupados (preste bem atenção a quem já bebeu demasiado grogue – aguardente de cana – e se quiser experimentar entre no Botequim Boca de Tubarão). Nós, que não bebemos (risos), vamos ao merca- do de peixe. A primeira coisa a fazer é verificar se as calças não arrastam no chão. Mesmo que não esteja a pensar em fazer uma grelhada, repare nos tipos de peixe e nas cores. Há quem diga que é o melhor do mundo, mas como também dizem o mes- mo do português, fica-se sem saber. Quem vende não é quem amanha. Isso é feito uns metros ao lado, por “tratado- res” credenciados pela câmara munici- pal. Deve pagar pelo serviço, mas uma moeda chega. Imaginando que não traz consigo um saco de peixe e que por isso não temos que voltar ao hotel para o guardar no fri- gobar, continuamos pela Rua de Praia, passamos novamente pela praça Dom Luís e seguimos mais trinta metros. À frente, o Centro Cultural do Mindelo, antiga alfândega, e à direita, a Bibliote- ca Municipal (tem 14 mil livros, caso queira parar para ler alguma coisa). É aqui que viramos. Estamos na Rua de Lisboa, o centro do centro. Há alguns anos, ao subir em direc- ção ao Palácio do Povo – o edifício cor- de-rosa no topo, propriedade da Presi- dência da República, mas que passa a maior parte do tempo fechado – ia encon- trar uma série de cafés históricos: Por- tugal, Royal, Katem, Lisboa e Algarve. Desses, restam os três últimos. Outras lojas também já fecharam e reabriram em formato chinês. Apesar das mudanças, a rua conserva o carisma e movimento de sempre. É também aqui que fica o Mercado Muni- cipal. O edifício merece uma visita só por si, mesmo que, cá está, não queira com- prar couves. Cruzamentos Quando sair do mercado, deixe-se ficar pelas ruas do centro – garan- to-lhe que não se vai perder. A ideia é que nos encontremos em meia hora na Praça Nova. Por favor, ignore as casas que foram deitadas abaixo, as que estão para ser e as que não fazem sentido nenhum no sítio onde estão. Mindelo é património nacional, mas nem sempre as autoridades se lembram disso. A Praça Nova, que na realidade até se chama Amílcar Cabral, é o maior ponto de encontro da cidade. Ao final da tarde e nos fins-de-semana à noite, aqui conver- ge toda a gente. Consoante o horário, é possível encontrar estudantes universitá- rios, famílias inteiras ou adolescentes em animados flirts. Ao domingo, é por vezes possível ouvir a banda municipal no core- to (aviso: nem sempre está afinada). A praça tem num topo a Telecom, no outro, o Centro Nacional de Artesanato. Num dos lados, o Hotel Porto Grande, o mais emblemático da ilha. O edifício qua- se em ruínas ao lado do hotel é o antigo cinema Éden Park, que poderia ser, só por si, motivo de várias reportagens. Anti- gamente, comia-se mancarra (amen- doim) nas sessões esgotadas. Agora, à falta de melhores planos, espera-se que caia. A visita poderia continuar pela margi- nal, até à Laginha. Ou até ao mesmo des- tino, descendo a rua da Escola Técnica. Como vai mesmo precisar de mais uns dias para sentir a cidade, e os voos da TAP são só às terças e sábados (a TACV voa às sextas), deixamos para mais tarde. Por agora, sente-se no quiosque da Pra- ça, peça um ‘pontche’ de mel (ou de tam- barina, coco, bolacha, morango, nata, pêssego, manga, chocolate, mancarra – e basicamente de tudo o que possa ima- ginar) e conclua que, às vezes, a vida pode ser muito simples e, ainda assim, maravilhosa.