3. Metodologia ou Especulação?
Em tempos de eleições, a Estatística se descaracteriza de sua premissa e parece não ser mais uma ciência tão exata. As
famosas pesquisas eleitorais, que costumam ser elementos impulsionadores nas intenções de voto do eleitor, variam, e muito, a
cada instituto, levantando a seguinte questão: seriam todas as pesquisas de intenções de votos divulgadas pelos diversos
institutos de pesquisa como IBOPE, DataFolha, Vox Populi, entre outros, apenas dados inconsistentes lançados ao ar?
Ciências exatas ou nem tanto?
O Brasil foi às urnas no último dia 3 de Outubro e alguns resultados causaram surpresa e apresentaram a fragilidade desse
processo, justamente pelos apontamentos imprecisos das últimas pesquisas divulgadas momentos antes das eleições. A seguir,
vamos comparar os principais casos em que as tais “margens de erro” foram tão superiores às informadas, que em alguns
resultados, alteraram completamente o cenário proposto pelos institutos a milhões de brasileiros.
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4. PRINCIPAIS CARGO
CANDIDATO DATAFOLHA IBOPE URNAS
ADVERSÁRIOS ASPIRADO
Marina Silva Dilma Rousseff Presidente da 16 % 16 % 19,33%
(PT) e José Serra República Margem de erro – 14% a 18% Margem de erro – 14% a 18%
(PV) (PSDB)
Roberto Gustavo Fruet Senador do 44% 47% 24,8%
Requião (PSDB) Paraná
Ricardo Barros Margem de erro – 41% a 47% Margem de erro – 45% a 49%
(PMDB) (PP)Gleisy (PT)
Beto Richa Osmas Dias (PDT) Governador do _ 45% 52%
(PSDB) Paraná Margem de erro – 43% a 47%
Geraldo Mercadante (PT) Governador de 55% 45% 50,63%
Alckmin São Paulo Margem de erro – 53% a 57% Margem de erro – 43% a 47%
(PSDB)
Aloysio Nunes Marta Suplicy (PT) Senador de São 20% 28% 30,42%
(PSDB) e Netinho (PC do Paulo Margem de erro – 18% a 22% Margem de erro – 26% a 30%
B)
Ricardo Young Marta Suplicy (PT), Senador de São 3% Não é citado 11,2%
(PV) Netinho (PC do B) Paulo Margem de erro – 1% a 5%
e Aloysio Nunes
(PSDB)
Antonio Hélio Costa Governador de 55% 46% 62,72%
Anastasia (PMDB) Minas Gerais Margem de erro – 53% a 57% Margem de erro – 44% a 48%
(PSDB)
Aécio Neves Itamar Franco Senador de 71% 69% 39,47%
(PSDB) (PPS) e Pimentel Minas Gerais Margem de erro – 69% a 73% Margem de erro – 67% a 71%
(PT)
Tarso Genro Fogaça (PMDB) Governador de 55% 48% 54,35%
(PT) Rio Grande do Margem de erro – 53% a 57% Margem de erro – 46% a 50%
Sul
Raimundo Ângela Amin (PP) e Governador de _ 41% 52,72%
Colombo Ideli Salvatti (PT) Santa Catarina Margem de erro – 39% a 43%
(DEM)
Eduardo Jarbas (PMDB) Governador de 79% 73% 82,84%
Campos (PSB) Pernambuco Margem de erro – 77% a 81% Margem de erro – 71% a 75%
Teotônio Vilela Ronaldo Lessa Governador de _ 34% 39,58%
(PSDB) (PDT) e Collor Alagoas Margem de erro – 32% a 36%
(PTB)
Benedito de Renan (PMDB) e Senador de _ 49% 35,94%
Lira (PP) Heloísa Helena Alagoas Margem de erro – 47% a 51%
(PSOL)
Garibaldi Alves José Agripino Senador de Rio _ 63% 35,03%
Filho (PMDB) (DEM) e Vilma Grande do Norte Margem de erro – 61% a 65%
(PSB)
Renato Luís Paulo (PSDB) Governador do 61% 64% 82,3%
Casagrande Espírito Santo Margem de erro – 59% a 63% Margem de erro – 62% a 66%
(PSB)
Ricardo Zé Maranhão Governador da - 46%Margem de erro – 44% a 48% 49%
Coutinho (PMDB) Paraíba
(PMDB)
Fonte: Folha de São Paulo, IBOPE, TSE
Nesta tabela encontram-se os principais candidatos das Eleições 2010 onde os percentuais mais divergiram em relação ao
resultado final nas urnas. Abaixo, vemos alguns comentários sobre estas comparações:
Marina Silva apareceu nas últimas pesquisas sempre com uma média entre 10 e 12 pontos percentuais. No último mês, as
pesquisas já apontavam um crescimento e na véspera das eleições, a expectativa era de 16%. Se considerássemos uma margem
de erro de 2 pontos percentuais, a candidata do PV poderia obter nas urnas entre 14% e 18%. Com este resultado, não teríamos
segundo turno para a Presidência da República. Não aconteceu como previsto e Marina Silva obteve praticamente 20% dos votos
válidos, alterando a projeção de vitória no primeiro turno da candidata do PT.
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5. O senador Roberto Requião do Paraná, aparecia nas pesquisas empatado com a candidata Gleisy, com 44% das intenções de
voto divulgadas pelo DataFolha. Para o IBOPE, Requião ocupava o segundo lugar das intenções de voto com 47%, enquanto a
candidata do PT, aparecia com 51% dos votos. Os resultados da eleição mostraram a fragilidade desses números através de uma
disputa acirrada, bem diferente da zona confortável prevista na véspera para os dois eleitos: o senador Roberto Requião ficou
com apenas 24,8% dos votos válidos, atrás da senadora Gleisy, que deteve 29,5% dos votos, apresentando uma diferença de
mais de 21 pontos percentuais. Os outros dois candidatos que concorriam ao senado, Gustavo Fruet e Ricardo Barros, ficaram
muito próximos desses números, com 23,1% e 20,2% respectivamente. O DataFolha havia divulgado na pesquisa anterior que as
intenções de voto para os dois candidatos eram de 21% e 18%. Se a falha da pesquisa não foi tão grande quando comparamos
os resultados dos dois últimos candidatos, o que dizer sobre a mesma pesquisa, realizada na mesma data, com a mesma
amostragem que atribuía aos dois primeiros uma eleição garantida?
No Paraná também, Beto Richa foi eleito o mais novo governador do estado com 52,44% dos votos válidos, mas na véspera das
eleições o Instituto IBOPE apontava 45 pontos percentuais para o candidato, matematicamente empatado com o segundo
colocado, Osmar Dias, antevendo um segundo turno. O DataFolha não publicou mais pesquisas relacionadas ao candidato desde
que Beto Richa entrou com uma ação judicial no TSE contestando as pesquisas que apresentam esses resultados, questionando
a metodologia empregada. Nas urnas, Beto Richa foi eleito já no primeiro turno e o segundo candidato ficou com 45,63%.
O caso de Geraldo Alckmin, candidato ao governo de São Paulo foi curioso: as pesquisas de três institutos tinham entre si 15
pontos percentuais de diferença e nenhuma delas passou perto do resultado oficial, já que para o Datafolha o candidato poderia
ter entre 53% e 57%, para o IBOPE, entre 43% e 47% e para o Vox Populi, entre 38% e 42%. O tucano foi eleito com 50,6% dos
votos. O segundo colocado Aloizio Mercadante do PT em pesquisa do DataFolha apresentava 27 pontos percentuais e nas urnas
seu resultado foi de 35,23%.
Pelo estado de São Paulo, a vitória de Aloysio Nunes para o senado foi surpreendente. Segundo pesquisa do DataFolha
divulgada na véspera das eleições, isso seria impossível. O instituto apontava 20% das intenções de voto para o candidato, ou
seja, poderia variar de 18% a 22%, prevendo a vitória dos candidatos Marta Suplicy e Netinho de Paula. Resultado: Aloysio Nunes
obteve 30,42% dos votos válidos, deixando a segunda vaga para Marta Suplicy, que conquistou 22,61% das urnas. Netinho de
Paula que aparecia nas pesquisas empatado com Marta Suplicy foi desbancado pelos eleitores.
Ricardo Young, candidato ao senado de São Paulo, sempre esteve nas pesquisas com uma média de 5% das intenções de voto.
Nas últimas pesquisas do DataFolha, aparecia com 3% e na véspera, o IBOPE não citou seu nome no levantamento. Nas urnas, o
candidato conseguiu 11,2% dos votos válidos, sem nem ter sido considerado na última pesquisa.
Para Anastasia, governador eleito no estado de Minas Gerais, o índice mais alto foi apontado pelo DataFolha nas vésperas
também. Segundo o instituto, o candidato teria 55% dos votos, podendo alcançar no máximo 57% com a margem de erro. Após a
apuração, as urnas indicaram resultado de 62,7%. Uma diferença de 5 pontos percentuais do que foi previsto pelo DataFolha e,
inacreditáveis 12 pontos percentuais das intenções divulgadas pelo IBOPE. Muito longe de todos estes números, o Vox Populi
apontava 28% para o candidato três dias antes das eleições.
Aécio Neves, eleito como Senador por Minas Gerais, ao contrário, esteve a frente em todos os momentos nas pesquisas. Na
véspera, tanto o IBOPE quanto o DataFolha apontavam praticamente 70% das intenções de voto para o candidato. Final das
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6. apurações, os números confirmaram Aécio Neves como detentor de uma das vagas do Senado de Minas, mas com um resultado
bem inferior ao previsto - 39,47%.
Com Tarso Genro, do Rio Grande do Sul, o IBOPE também deslizou nas pesquisas: o governador aparecia na situação de disputa
de um segundo turno com o candidato José Fogaça do PMDB, mas na realidade, Tarso Genro venceu o pleito em primeiro turno,
e ainda com folga de 4 pontos percentuais nas urnas. As pesquisas de Vox Populi ficaram mais longe ainda das margens de erro,
apontando 36% de votos válidos para o candidato.
O mesmo aconteceu com o governador eleito de Santa Catarina, Raimundo Colombo. Enquanto o IBOPE apontava para o
candidato 41% dos votos válidos, ou seja, segundo turno na certa, seus eleitores se mostraram confiantes nas urnas e deram à
Colombo 52,72% dos votos válidos. Como explicar a margem de erro de 11 pontos percentuais?
Em Pernambuco não tivemos mudança de cenário com os apontamentos e resultados de Eduardo Campos, pela pesquisa de
véspera do DataFolha. Porém, mais uma vez tivemos uma grande diferença entre o previsto e os resultados, pois o IBOPE
indicava que o governador teria 9 pontos percentuais a menos que o obtido, já que Eduardo Campos foi eleito com 82,84%
Na disputa do governo de Alagoas um fato intrigante: Teotônio Vilela, na pesquisa publicada pelo IBOPE um dia antes das
eleições, detinha o primeiro lugar, seguido por Fernando Collor de Mello. O interessante é que, após as apurações, o resultado
revelou Teotônio Vilela com 39,58% dos votos e Fernando Collor com o modesto terceiro lugar, com 28,81% dos votos.
Também houve erros nos índices dos candidatos ao senado de Alagoas. Benedito Lira possuía nas pesquisas 49% dos votos,
atrás de Renan Calheiros. No dia 3 de Outubro, Benedito Lira conquistou a primeira vaga com 35,94%, 14 pontos percentuais a
menos e Renan Calheiros, que obtinha mais de 50% nas pesquisas ficou com a segunda vaga de senador do estado, alcançando
33%. O que justifica estes equívocos?
A maior margem de erro ocorreu com Garibaldi Alves, candidato ao senado do Rio Grande do Norte. Os índices elevadíssimos do
IBOPE apontavam para a conquista de uma das vagas, com 63% dos votos. Impressionantes foram os resultados, um dia após a
divulgação da pesquisa, onde o percentual caiu para modestos 35% das intenções de voto.
Este caso comentado é capixaba e envolve o governador Renato Casagrande, que nas pesquisas detinha a média de 61% a 64%
das intenções de voto e, no resultado final das urnas, mostrou-se quase 20 pontos percentuais mais forte, vencendo as eleições
com 82,30% dos votos.
Ricardo Coutinho, segundo colocado nas pesquisas do IBOPE para governador da Paraíba divulgadas dia 02 de Outubro. Os
índices traziam 46% das intenções de voto para o candidato, que ficava atrás de Zé Maranhão, que aparecia na mesma pesquisa
com 52% das intenções. A diferença de 6 pontos percentuais sugeria sua vitória já no primeiro turno da eleição. 03 de Outubro,
dia de votação – resultado: Segundo turno e inversão de posições. Com um dos resultados mais acirrados do Brasil, Ricardo
Coutinho ficou na primeira posição, com 49,74% dos votos válidos e Zé Maranhão, em segundo lugar, com 49,30% dos votos.
Democracia Influenciável
Diante destes resultados nos questionamos: até que ponto a população pode e deve ser direcionada por este tipo de pesquisa?
Que elas têm um fortíssimo poder de persuasão, não podemos negar, por isso é imprescindível a certificação de que estas
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7. avaliações seguem processos e metodologias adequadas, para que seus resultados representem a veracidade dos fatos e não
meras especulações.
Os índices que trazem as famosas “margens de erros”, devem limitar-se a padrões de segurança e confiabilidade que mantenham
o respeito pelos institutos de pesquisa, já tão tradicionais nestes períodos eleitoreiros. O TSE tem papel fundamental neste
processo, e deve se manifestar interferindo nesta prática desmedida, pois as pesquisas não devem ser utilizadas de forma
direcionada, nem tampouco, como ferramentas de marketing dos candidatos, com o propósito de interferência nos resultados das
campanhas.
Pesquisas podem e devem ser divulgadas, de forma transparente e precisa, para que tenham um cunho informativo, como um
serviço prestado à população. A política democrática se norteia no princípio de que cidadãos elejam seus representantes, através
de candidatos que correspondam às expectativas do eleitorado, tanto sobre suas propostas, quanto seus programas de
administração pública, independente de números que apontem lideranças de campanha ou gráficos que indiquem intenções de
voto.
Em um país que ainda necessita de leis para coibir a indução e compra de votos, é lamentável que índices influenciáveis como
estes, ainda sejam vistos apenas como ferramentas involuntárias de práticas eleitorais.
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8. Essa análise foi desenvolvida pela MITI Inteligência.
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