4. 1. Dona de casa foi ao mercado às compras e comprou
sardinhas.
2. Chegou a casa, colocou as sardinhas em cima da
bancada e foi atender o telefone.
3. Quando voltou à cozinha, o saco das sardinhas tinha
desaparecido.
4. Ao canto da cozinha o gato Micas lambia os beiços.
11. Conclusões:
estado de espírito em que a dona de casa ficou
reação dela para com o Micas
Reação do Micas;
Resultado Final.
12. A minha avó contou-me uma vez uma história sobre uma amiga dela
e o seu gato.
Na altura a minha avó vivia numa pequena aldeia, onde as pessoas se
davam muito bem e onde tinham animais de estimação que podiam
andar livremente pela casa, entrar, sair, etc.
Uma das vizinhas da minha avó, a Dona Otília, era uma senhora já
idosa, que tinha dificuldade em andar, pois tinha reumático. No
entanto, todos os dias ia ao mercado comprar os alimentos de que
precisava. Dizia ela que era um exercício que lhe fazia bem, apanhava
ar fresco e desenferrujava as pernas já cansadas dos muitos percursos
feitos.
Vivia numa casinha térrea, pequena mas confortável, na companhia
de um gato felpudo, muito grande e gordo, pachorrento e que
passava os dias em cima dos muros ao sol. Passeava-se em casa e na
rua como se fosse o rei da aldeia, olhando sobranceiramente para
tudo e para todos. E não ligava nenhuma às crianças da aldeia que lhe
atiravam pedras a caminho da escola. Fugia, eriçava-se, miava e
procurava outro local onde ninguém o importunasse.
13. No entanto, toda a gente sabia que o Micas - era assim que se
chamava o gatarrão – adorava peixe. Ninguém podia comprar peixe
que o faro do temível Micas não desse com ele. E toda a gente sabia
que deixar peixe preparado para o almoço em cima da bancada da
cozinha era correr o risco de passar fome… pois o peixe tinha
tendência para desaparecer. Ninguém nunca via o que acontecia. Mas
que o peixe desaparecia, lá isso era verdade. E depois, havia pessoas
que contavam que viam o Micas a dormir numa sombra qualquer,
com um sorriso nos lábios ao mesmo tempo que não parava de os
lamber.
Nesse dia a Dona Otília foi ao mercado e depois de muito cotejar os
alimentos expostos, decidiu que iria comprar umas bonitas sardinhas
que se estavam a rir para ela no escaparate da dona Amélia, a
peixeira da aldeia.
Depois de conversar e por a fofoca em dia relativamente à vida das
raparigas e rapazes jovens da aldeia que pareciam que tinham o diabo
no corpo, despediu-se da Dona Amélia e lá foi ela, vagarosamente,
rua abaixo, com o saco das compras numa mão e a inseparável
bengala na outra.
14. Estava um dia de Verão radiante, com um sol luminoso e um céu
azulinho claro que até dava vontade de dar uma voltinha ao pé do rio
e molhar os pés na água fresca que corria amodorradamente fazendo
barulhinhos suaves nas pedras roladas entre as quais nadavam
peixinhos calmos mas ariscos, que fugiam com movimentos bruscos
mal avistavam alguma sombra inesperada.
Mas já estava atrasada para fazer o almoço. E as sardinhas no saco
pareciam estar a chamá-la, tanto gostava ela de umas sardinhas
assadas.
Chegou a casa, abriu a porta das traseiras que tinha sempre uma
nesga aberta para o Micas poder entrar e sair, entrou na cozinha e
colocou o saco das compras em cima da mesa. Depois tirou o saco
com as sardinhas, abriu-o e tirando um prato do armário da loiça,
dispôs as sardinhas e polvilhou-as com sal, para depois as ir assar no
jardim.
15. Entretanto a campainha do telefone fez-se ouvir. «Outra vez aquele
maldito telefone», pensou ela com os seus botões… Deve ser outra
vez alguém a querer vender cartões de crédito, ou algum aspirador de
última geração. Como se ela não tivesse mais nada que fazer se não
aturar aqueles vendedores abelhudos. Virou-se e dirigiu-se para a
salinha onde estava o telefone em cima de uma mesinha.
- Sim…
E uma voz do outro lado começou uma longa arenga, que a Dona
Otília parecia querer interromper, mas que não fazia por educação.
No fim de alguns segundos lá arranjou coragem e interrompeu o
discurso:
-Mas vocês acham que eu tenho de comprar tudo aquilo que vocês
querem vender? Acham que eu não tenho mais nada que fazer? Vão
chatear outra pessoa. Muito boa tarde. Passem bem!
16. E desligou o telefone. Ficou pensativa a olhar pela janela e de repente
vieram as sardinhas à sua mente. E saiu, tão rapidamente quanto as
suas pernas lhe permitiam, em direcção à cozinha.
Quando entrou na cozinha, olhou para a bancada e o seu coração
estremeceu: o prato das sardinhas estava vazio… nem uma para
amostra. Olhou em volta. No canto da cozinha, o Micas olhava para
ela como se se estivesse a rir, lambendo os beiços.
-Ah, meu malandrim! Foste tu que me roubaste as sardinhas! Espera
aí que eu já te digo! - , rompeu ela, dirigindo-se atrás da porta da
cozinha e empunhando uma vassoura.
O Micas, que era gato mas não era parvo, mal viu a vassoura
empunhada pela velhota, deu um pulo e esgueirou-se pela nesga
aberta da porta das traseiras, saindo a correr para o jardim. Atrás
dele, vociferando, gritando, coxeando e esbracejando seguia a Dona
Otília. Claro que sem sorte nenhuma, pois o gato já se tinha
escapulido por cima do muro e já estava fora do alcance da sua raiva.
17. Desalentada, regressou a casa. O dia estava arruinado. Já não tinha
almoço, já não tinha as suas maravilhosas sardinhas. E estava
completamente consumida de forças, quase não conseguindo andar.
Aquele malvado gato ia sentir quem mandava naquela casa… Agora já
não tinha perdão. Quando quisesse comer, que fosse demandar
coisas boas à vizinhança, porque dela não levava mais nada.
E repisando estes sentimentos de raiva, abriu a porta, entrou e
fechou-a atrás de si.
O Micas, esse, encontrou um local seguro para se refugiar da raiva da
Dona Otília. «Soube-me tão bem! Que boas estavam as
sardinhinhas!» pensou ele, lambendo os beiços enquanto se aninhava
para uma soneca retemperadora. «Amanhã a Dona Otília já não se
lembra e vai querer que eu me deita aos seus pés quando está a ver
televisão!».
E assim satisfeito, adormeceu.