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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA – MEC
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI
PRÓ-REITORIA DE ESTUDOS DE GRADUAÇÃO – PREG
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO - CCE
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
PROJETOS EXPERIMENTAIS – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

JOSÉ ORLANDO DA SILVA JÚNIOR

A IMPORTÂNCIA DO AGENDATHE.COM.BR PARA O DESENVOLVIMENTO DA
MÚSICA AUTORAL “ALTERNATIVA” DE TERESINA
RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO FINAL

TERESINA, PI
SETEMBRO DE 2013
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA – MEC
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI
PRÓ-REITORIA DE ESTUDOS DE GRADUAÇÃO – PREG
CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO - CCE
DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL
PROJETOS EXPERIMENTAIS – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

JOSÉ ORLANDO DA SILVA JÚNIOR

A IMPORTÂNCIA DO AGENDATHE.COM.BR PARA O DESENVOLVIMENTO DA
MÚSICA AUTORAL “ALTERNATIVA” DE TERESINA
RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO FINAL

Relatório final do Trabalho de Conclusão de Curso, prérequisito apresentado à UFPI como instrumento de avaliação
para obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social
com Habilitação em Jornalismo na Universidade Federal do
Piauí, período 2013.1

Orientador: Eliezer Menda

TERESINA, PI
SETEMBRO DE 2013
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer minha mãe - Solange, por desde o inicio da minha vida me proporcionar a
oportunidade de ter uma educação de qualidade e nesta fase de produção do Trabalho de Conclusão
de Curso sempre me apoiou, principalmente nos momentos em que ela percebia meu cansaço,
agradecer também a meus irmãos por me incentivarem e mostrarem que eu era capaz de fazê-lo.
Agradecimento também a toda a família, por me manter sempre em contato com essa cultura da
música alternativa teresinense e me apoiar na construção desse projeto. Agradecer nominalmente a
minhas tias Shirley e Stela e a meu tio Sandro por me fazer compreender a importância do tema e
me apoiarem durante o percurso.
Quero dizer também um muito obrigado a meu amigo e colega de trabalho Monteiro Júnior, por
disponibilizar equipamentos da Doroteu Filmes para filmagem e edição do documentário. 'Valeu
cumpade!'. Agradecer a Central Criativa em nome do João Carlos que junto a Doroteu Filmes
divide espaço físico da produtora e permitiu que eu estivesse por lá por vários dias para que a
edição pudesse ser feita da melhor forma possível.
Agradecer a todos que cederam entrevista: Marco Foyce, Ricardo Totte, André “Café” Oliveira,
Sérgio Holom, Rubinho Figueiredo, Diego Barbosa e em especial a Jônatas Freitas, que começou a
me aturar em conversas sobre o projeto muito antes de iniciada a disciplina de Estudo Orientado da
Pesquisa II, onde foi construído o projeto para o TCC. Você é um grande amigo.
Agradecer a meu orientador, Eliezer Menda, que me deu liberdade para a construção do
documentário, mas que sempre que se fez necessário encontrou-se presente me auxiliando no que
necessitei, foi de ajuda vital na construção deste relatório.
Além de todos que acreditaram que este projeto poderia se realizar ou que me ajudaram de alguma
forma, são muitos, não citarei nomes para evitar injustiças.
Ainda, agradecer a todos os amigos que eu fiz durante meu período como estudante da UFPI. Ao
movimento estudantil que me engrandeceu incalculavelmente como pessoa, seja na ENECOM,
MECOM ou Movimento Geral, espero não perder contato. A todos os professores do curso de
comunicação com todos aprendi alguma coisa, com uns mais outros menos.
RESUMO
Este relatório foi produzido como parte integrante do trabalho final da disciplina de Projetos
Experimentais – Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). E vem tratar da relação entre música
autoral alternativa teresinense e a mídia local, mais especificamente com a internet e o Agenda
Cultural de Teresina, o www.AgendaThe.com.br.
O documentário trata, num primeiro momento, do contexto musical teresinense, das dificuldades de
se trabalhar com cultura do estado, e ao final, da relação dessa produção musical com a mídia, como
ocorre esse diálogo, quais as convergências e divergências.
Em complemento ao documentário, vem o relatório com a base teórica para melhor entender os
processos abordados no filme. Traz discussões sobre música alternativa, a identidade cultural
piauiense e teresinense, indústria cultural, como a mídia agenda essa produção, além de debater
sobre juízos de gosto.

Palavras-chave: identidade cultural piauiense; música autoral; música alternativa; gosto; indústria
cultural.
Sumário

1. Introdução.......................................................................................................................................01
2. Referencial Teórico.........................................................................................................................04
3. Metodologia....................................................................................................................................15
4. Considerações Finais......................................................................................................................20
5. Referenciais Bibliográficas............................................................................................................22
1 – INTRODUÇÃO
Como trabalho de conclusão de curso, na disciplina de Projetos Experimentais, do curso de
Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo foi produzido um documentário relacionando
bandas de música autoral alternativa teresinense dos anos 2000 para cá com a importância da
internet para a divulgação de seus trabalhos, visto que, pelo que foi relatado nas entrevistas
coletadas, por motivos apontados no próprio documentário, a grande mídia não pauta esse tipo de
banda e nem projetos relacionados a estas, salvaguardando raríssimas exceções. Mesmo assim,
como bem frisou Ricardo Totte em entrevista que parecia que havia no ar uma voz dizendo para que
se fosse feito música autoral e aquilo inspirou o surgimento de diversas bandas em Teresina.
Este relatório divide-se em seis partes, são elas: 1- Introdução, este texto de apresentação do
relatório. 2- Contextualização Teórica onde é apresentado o objeto AgendaThe além de
contextualizar a música autoral no momento destacado no documentário. 3- Referencial Teórico,
são apresentadas as teorias e pensamentos que embasam o as ideias trazidas no documentário,
dando enfase na identidade cultural piauiense e teresinense, características da produção musical
autoral local e como estes pontos dialogam com a mídia. 4- Metodologia, descreve como ocorreu
todo o processo de criação e produção de todo o trabalho final para a disciplina de Projetos
Experimentais, além de apresentar os personagens e algumas das dificuldades/problemas
encontradas. 5- Considerações Finais, como o nome propõe, são as conclusões tidas após a
produção tanto do documentário quanto do relatório. 6- Referencias Bibliográficas, são os
livros/textos utilizados para construção do trabalho como um todo.
2 – CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA
Na segunda metade da primeira década dos anos 2000 Teresina vivia um contexto musical
bastante interessante, que já era fomentado desde o fim dos anos 90 com a produção autoral local,
mas que foi fortalecido principalmente com o Festival Piauí Pop que abriu espaço para bandas
piauienses/teresinenses para o grande público – público que em situações normais não vai a
apresentações de bandas ditas locais – além de outros festivais secundários que passaram a ocorrer e
sempre com participação destas bandas.
A partir dessa explosão de festivais, teve inicio um processo de surgimento de diversas
bandas sempre com um caráter tido por alternativo – músicas com temas e pegadas regionais, indie
rock e reggae principalmente – e consequentemente houve o surgimento de casa de eventos
especializadas em shows desta natureza.
Ao mesmo tempo que ocorria o boom das bandas alternativas teresinenses na segunda
metade da década passada também foi o período da popularização das redes sociais online
inicialmente com o Orkut1 e mais recentemente com o Facebook2 e os produtores de eventos
perceberam que grande parte do público presente nos eventos alternativos eram/são frequentadores
assíduos destas redes. Em pouco tempo as redes sociais estavam sendo bombardeadas por flyers de
eventos tanto pelo fato já citado acima quanto pelo baixo custo desta nova forma de veiculação e
divulgação. Entretanto, não havia um “local” específico para a postagem destes flyers, eles eram
postados aleatoriamente na redes e tornava-se bastante complicado saber quais eram todas as
opções pro fim de semana, por exemplo. As postagens, principalmente no Orkut por serem feitas
através dos scrapbooks, eram muito restritas a quem fazia parte do grupo de amigos dos produtores
logo a expansão do público acontecia de maneira lenta e nem sempre efetiva, no Facebook, pelas
opções de compartilhamento, essa divulgação melhorou mas ainda não era o ideal, surgia a
necessidade da existência de um local onde todos os eventos pudessem ser encontrados de maneira
simples e efetivamente divulgada.
Outro fator que instigou a necessidade da criação desse espaço de divulgação comum foi a
falta de interesse da grande mídia em tornar público este tipo de evento. A única visibilidade que
estas bandas locais têm na mídia é quando estarão presentes em grandes festivais e além disso ainda
assim é mínima essa apresentação, pois o foco sempre é em que vem de outros lugares para tocar
aqui.
Pela necessidade deste local é que é criado a agenda cultural de Teresina, cujo link inicial
era www.theculturalizando.blogspot.com e após a parceira com o grupo de agendas culturais de
1
2

Orkut. Www.orkut.com – rede social que teve seu auge no Brasil entre 2005 e 2006.
Facebook. Www.facebook.com – rede social mais popular no Brasil atualmente. Possui opções de
compartilhamento de conteúdo que permite divulgações em proporções de progressões geométricas – PG.
todo o país passou a ser encontrado pelo link www.agendathe.com.br.
Percebendo esta necessidade por também ser frequentador das redes sociais e dos eventos
tidos alternativos, Jônatas Freitas, no inicio de 2009 cria o blog e passa a buscar os flyers postados
nas redes sociais e pô-los na sua página. A ideia foi aprovada pelo público e o blog, em pouco
tempo, passou a ter milhares de acessos/mês e foram os produtores que passaram a procurar o blog
para terem seus eventos divulgados no local online.
Da forma que este documentário foi dirigido, dividido em dois momentos pode-se
compreender melhor em que contexto se deu a evolução da música alternativa autoral teresinense
do novo milênio e de que maneiras se deu e se dá o diálogo entre este tipo de manifestação cultural
underground e as diversas mídias disponíveis e quais são seus pontos positivos e negativos – como
será melhor detalhado na metodologia – no primeiro, o foco é no contexto musical, origem das
bandas, quais as dificuldades, como se deu esse início; já a segunda parte do filme tem por foco a
divulgação do trabalho das bandas, porque se torna necessário a utilização da internet para este
divulgação, e onde entra o AgendaThe dentro do contexto da divulgação da cultural
teresinense/piauiense (por ser o site de divulgação da cultura alternativa mais acessado do estado do
Piauí). Partindo desta divisão pode-se compreender a importância deste trabalho, já que ele torna-se,
antes de tudo, uma auto-crítica contextualizada realizada pelos músicos e protagonistas da cultura
da capital, permitindo a quem assistir ao vídeo entender minimamente a situação cultural da cidade
da última década, por outro lado torna-se uma crítica construtiva aos profissionais da mídia que
ocupam as editorias de cultura e, ao mesmo tempo, um apelo, para que estes comunicadores se
voltem para a cultura alternativa e leve-á ao grande público.
Com o documentário constata-se que a música autoral local possui qualidade, mas ainda
assim falta profissionalismo. Constata-se também que esta falta de profissionalismo se dá, muitas
vezes por falta de apoio – no caso em questão – apoio da mídia.
Para tratar este tema da música autoral alternativa local e sua relação com as mídias foi
produzido um filme documentário dentro do estilo criação do Modo Expositivo, que traz a
historicidade da coisa, ou seja, retrata e contextualiza o tema a partir da fala dos entrevistados. A
proposta foi criar um diálogo entre os diversos personagens entrevistados para o documentário. É
formado um dialogismo no momento da edição onde é possível trazer um filme coeso com o tema
proposto e sem alteração de sentidos sem a utilização da ferramenta de narração. Em alguns
momentos ocorrem legendas, mas no sentido de facilitar o entendimento sem que seja necessário
um prolongamento maior do vídeo. Foi utilizada também imagens de eventos e músicas de bandas
locais conhecidas com o intuito de aproximar o telespectador e, ao mesmo tempo, dar uma
dinamicidade maior ao documentário.
3 – REFERÊNCIAL TEÓRICO

Para que este filme pudesse ser realizado fez-se necessário se debruçar sobre alguns
conceitos. Estes conceitos foram fundamentais para o bom andamento do vídeo, tanto os
primordiais como o que diferencia um documentário de um outro gênero cinematográfico e, após
este, quais tipos de documentários foram utilizados e porque, quanto os fundamentados para uma
melhor contextualização como a identidade cultural do regionalismo piauiense e como é a atuação
da mídia neste processo de auto conhecimento, e aprofundando um pouco mais, buscou-se entender
as concepções de gosto individual e coletivamente constituído compreendendo-o como uma
construção a partir do acesso de um grupo a este, visto que para que se possa criar um um juízo de
valor, seja ele positivo ou negativo, com relação a determinado objeto simbólico cultural – tratando
especificamente da música, que é o objeto de estudo deste trabalho – faz-se obrigatoriamente
necessário que se conheça o mesmo tal como quais suas referências genealógicas.
Segundo Nichols, toda produção audiovisual que tem por objetivo contar uma história é
considerado um documentário, no sentido de que sempre ocorre uma reprodução inspirada em
valores, culturas e/ou comportamentos da realidade vivida ou observada. Esta reprodução pode ser
desenvolvida partindo de sonhos, desejos, medos ou pesadelos criando assim um universo paralelo
visualizado pelo público através das telas de cinemas no qual muitos de seus pontos de vista e
características estéticas, críticas ou reflexivas se diferenciam do mundo real. Este tipo de produção é
chamado pelo autor de documentário ficcional ou simplesmente cinema de ficção. Entretanto,
também pode buscar ser uma representação verossímil de um fragmento da realidade, a partir do
reconhecimento da existência de um problema/situação real o documentarista passa a se relacionar
com os agentes sociais responsáveis de alguma maneira por aquele(a) determinado(a)
problema/situação afim de compreender as suas nuances, quais os mecanismos existentes naquele
nicho. Este é o documentário de não-ficção. Para Nichols (2009), “these views put before us social
issues and current events, recurring problems and possible solutions. The bond between
documentary and the historical world is deep and profound.”3.
Dentro desta perspectiva, deve-se sempre preocupar-se com a forma que esta realidade está
sendo apresentada ao telespectador, um documentário (por questões didáticas, ao referir-se ao
documentário não-ficcional, será falado somente documentário, e com relação a documentários
ficcionais, apenas ficção), assim como qualquer outra produção audiovisual, é produzido com um
objetivo – apresentar e fomentar discussões sobre o tema proposto – e isso deve ser respeitado, no
3

“Essas visões nos põem diante de questões e acontecimentos atuais, problemas recorrentes e possíveis soluções. O
vínculo entre o documentário e a realidade é íntima e profunda. Tradução do autor.
entanto, diferentemente de uma produção cinematográfica ficcional, um documentário não possui
um roteiro engessado no qual deve ser seguido para que, por fim, possa-se alcançar o final desejado,
muito pelo contrário, o roteiro de uma produção não-ficcional ocorre numa construção gradativa e
coletivizada (é construído pela equipe responsável pela produção do filme em parceria com os
entrevistados e personagens atores sociais4 participantes da produção). Mesmo com o filme estando
sujeito a variação de viés, o cineasta deve prosseguir com o filme, mantendo a responsabilidade de
apresentar os fatos como são apresentados a ele. “This quality alone often provides a basis for
belief: we see what was there before the camera; it must be true.5” (Nichols, 2009 p. 02).
Continuando com a conceituação de documentário, compreendendo o mesmo como uma
produção cinematográfica interessada em apresentar uma produção com alto grau de
verossimilhança no que tange a realidade observada na qual se percebeu o problema/situação que
inspirou o filme, deve-se frisar que há diversas maneiras de se trabalhar a realidade dentro de um
documentário, ainda de acordo com Nichols, afirma-se que existam 6 sub-gêneros de
documentários, ou simplesmente, 6 formas de se fazer documentários. Os modos são, poético,
expositivo, participativo, observacional, reflexivo e performático.
A melhor maneira de tornar compreensível os motivos que acarretaram na escolha da
produção de um documentário trabalhado na linha do sub-gênero expositivo mas com um pé
presente no poético, é fazendo uma rápida caracterização de cada um dos demais sub-gêneros. 1 –
participativo é aquele que mais se assemelha ao campo da antropologia, onde o cinegrafista age tal
qual um antropólogo, convivendo com os membros do grupo pesquisado, compartilhando sua
cultura, suas atividades, passa a integrar a comunidade de modo a conquistar a confiança de seus
membros e assim conhecer mais a fundo suas características, esta técnica é conhecida como
observação participativa.
The social sciences have long promoted the study of social
groups. Anthropology, for example, remains heavily
defined by the practice of field work, where an
anthropologist lives among a people for an extended period
of time and then writes up what she has learned. 6
(NICHOLS, 2009 p. 115)

2 – o modo observacional, como o próprio nome já propõe, tem o documentarista somente como um
4
5
6

Social Actors adj. Trazido por Bill Nichols em seu livro “Introduction to Documentary”, apresentando o que seriam
os personagens não-atores dentro do documentário, ou seja, anônimos que levam um pouco de suas experiencias
para o filme.
“Esta qualidade por si só, muitas vezes fornece a base para a crença: Nós vemos que está diante da câmera; pode ser
verdade”. Tradução do autor.
“As ciências sociais tem por muito tempo promovido o estudo sobre grupos sociais. A antropologia, por exemplo, é
fortemente definida pelas práticas nos campos sociais, um antropólogo vive entre entre um povo por um longo
período de tempo e escreve sobre o que aprendeu”. Tradução do autor.
observador, ele apenas grava o que ocorre naquele ambiente num determinado momento. Não há
interferência de maneira alguma. O cineasta comporta-se como alguém que visualiza a ocorrência
de um incidente a distância e que nada pode fazer a respeito. É um modelo que que surgiu após a
segunda guerra mundial, mas que teve seu auge na década de 60 principalmente acompanhando
grupos musicais em suas turnês. Em outras palavras, “we look in on life as it is lived. Social actors
engage with one another, ignoring the filmmakers.7” (Nichols, 2009 p. 111). 3 – O modo reflexivo
tem por foco os processos de negociação entre o cineasta e o espectador. O sub-gênero reflexivo
além de trazer um apanhado histórico sobre o tema em questão traz também uma atuação
humanista, no sentido que puxar o debate sobre quais os motivos deste contexto e que
consequências afetarão o grupo estudado por conta deste contexto. No caso do modo reflexivo, o
documentarista é, de fato, membro deste grupo, tem interesse em seus problemas e como resolvêlos, diferentemente do modo participativo onde o pesquisador necessita ser aceito pelo grupo e
somente após isso, ser capaz de produzir seu filme. 4 – o performático trabalha com a subjetividade,
busca apresentar a individualidade dos personagens, suas significações. É um documentário que
trabalha questões emocionais, a memória dos personagens, suas crenças e a partir daí propõem uma
leitura de mundo, seja dentro de um grupo familiar, de igrejas ou setores do governo. É um filme
que aponta os valores do nicho em questão e, em seguida, retrata a visão de mundo deste nicho por
conta de seus valores. Ou ainda,
the institutional framework (governments and churches,
families and marriages) and specific social practices (love
and war, competition and cooperation) that make up a
society. Performative documentary underscores the
complexity of our knowledge of the world by emphasizing
its subjective and affective dimensions. (NICHOLS, 2009
p. 131)8.

Dar-se-á uma atenção especial aos 2 sub-gêneros restantes especificados por Bill Nichols
visto que estes, modos expositivo e poético, foram os que inspiraram as técnicas para a produção do
documentário em questão. O modo expositivo fez parte dos planos desde o inicio, quando se pensou
em fazer um documentário com essa temática. Trazendo um conteúdo com historicidade e
contextualização do assunto, o expositivo foi o modo ideal para este trabalho. É uma forma de
documentar fatos que propõe um diálogo direto com o espectador, este diálogo geralmente vem
através de narração, podendo ocorrer de duas maneiras, ou com a ferramenta chamada Voz de deus
ou com voz da autoridade. Na primeira ocasião, a voz de deus, é a situação em que o espectador
7 “Nós filmamos a vida como ela é. Atores sociais engajados uns com os outros. Ignorando os cineastas.” Tradução
do autor.
8 “o quadro institucional (governos e igrejas, famílias e casamentos) e práticas sociais específicas (amor e guerra,
competição e cooperação) que compõem a sociedade. O documentário performático ressalta a complexidade de
nosso conhecimento de mundo enfatizando suas dimensões subjetivas e afetivas”. Tradução do autor.
apenas ouve o narrador, há a presença do audio e, sobreposto a ele, são postas imagens que
ratificam o que é dito. Ao se utilizar da Voz de deus, é necessário que o narrador seja profissional,
alguém de voz polida e segura, e de palavras bem pronunciadas, deve-se imprimir credibilidade. Já
a ferramenta Voz da autoridade, como o próprio nome já supõe, o narrador será apresentado.
Geralmente alguém com vasto conhecimento na área. É bastante utilizado também na televisão,
principalmente em telejornais quando existe o interesse em fortalecer uma argumentação em
detrimento de outras.
No caso do documentário sobre o AgendaThe e a música autoral alternativa teresinense, não
houve a utilização de nenhuma das duas ferramentas. Utilizou-se sim, de títulos (legendas) para
facilitar o entendimento do que estava sendo exposto. Ao invés de se trazer esta historicidade para o
documentário através de narração, foi buscada a inovação, de modo que, o que seria revelado na
narração foi previamente fomentado na formulação das perguntas aos entrevistados, e partindo de
suas respostas, se criou um contexto situacional onde os espectadores puderam se localizar bem
dentro do tempo-espaço da produção musico-cultural vivida na época e seu diálogo com a mídia.
O estilo de documentário poético surge na proposta de filme acima citada após a obtenção
de todas as imagens necessárias para que a produção atingisse exito, ou seja, na pós-produção. É no
momento da edição que ocorre a percepção que se utilizando o estilo poético de documentário teriase um enriquecimento do conteúdo. Para esta produção buscou-se inspiração no sub-gênero poético
no ponto da edição. Onde deixa-se de lado a continuidade e ritmo da (ou das, neste caso em
especial) entrevista fazendo recortes de tempo e vídeo de modo a fazer sentido para quem o assiste.
Neste documentário fez-se necessária a presença de 7 personalidades com vasto conhecimento na
cultura teresinense, muitas vezes as falas dialogaram entre si, seja no sentido de convergirem ou
divergirem, por conta disso, avaliou-se ser interessante existir esse dialogismo trazido pelo estilo
poético. Pois o sub-gênero poético
shares a common terrain with the modernist avant-garde.
The poetic mode sacrifices the conventions of continuity
editing and the sense of a very specific location in time and
place that follows from it to explore associations and
patterns that involve temporal rhythms and spatial
juxtapositions9. (NICHOLS, 2009 p. 102)

Entender como se constrói a identidade cultural teresinense é um dos pontos vitais para o
exito da pesquisa, e consequentemente, do documentário. Para a melhor compreensão desta
identidade cultural dos dias atuais é salutar que haja uma visualização ampla da formação do estado
9

“compartilha um terreno comum ao modernismo de vanguarda. O modo poético sacrifica as convenções de
continuidade e edição e o senso de localização específica no tempo e espaço da sequencia para explorar associações
e padrões que envolvem ritmos temporais e justaposições espaciais”. Tradução do autor.
piauiense e formatação de seu povo.
Trazendo um rápido apanhado histórico percebemos que o Piauí sofreu o processo
“civilizatório” tardio pela inexistência de litoral em seu território e também por conta da falta do
litoral a ocupação do estado se deu de maneira inversa se levado em consideração os demais estados
da região nordeste. O surgimento das vilas e, futuramente das cidades, se deu a partir do interior,
com as fazendas de gado. Isso foi fator determinante de todo um processo de construção da
identidade cultural do Piauí.
Por conta principalmente da falta de litoral em seu território, o Piauí sofreu por um longo
período um isolamento cultural. Era difícil a chegada ao estado o que contribuiu para o
fortalecimento de uma cultura voltada para a criação de gado, com a mão de ferro dos coronéis e a
legitimação e valorização do vaqueiro. Cultura esta que é bastante notável até os dias de hoje.
Entretanto, a falta de litoral no território piauiense favoreceu, desde sua formação, a hibridização
da cultura10 de seu povo. Visto que nos demais estados nordestinos ocorria constante fluxo de
estrangeiros, sendo eles principalmente holandeses, ingleses e franceses (portugueses não são
citados por colonizarem todo o território brasileiro). Para que estes estrangeiros pudessem chegar ao
Piauí obrigatoriamente deveriam cruzar outros estados nordestinos, o que os punha em contato
constante com outras culturas (principalmente indígena e negra, além das europeias) por longos
períodos.
Com o passar do anos, com o desenvolvimento do estado piauiense e a obtenção da cidade
de Parnaíba através de negociações com o estado do Ceará, houve um fluxo ainda maior de
estrangeiros e cada povo se aglomerou numa região distinta, causando uma diversificação cultural
dentro do território, como traz o exemplo dado por Janete Rodrigues:
Sotaques, danças, culinárias e hábitos de vida em geral
podem ser facilmente localizados como elementos culturais
diferenciadores dessas populações dentro do próprio
Estado. Podemos citar, por exemplo, Parnaíba, que possui
ainda hoje algumas marcas de influencias da cultura
inglesa; Amarante, conhecida pela sua diversidade de
danças folclóricas, com a dança do Cavalo Piancó, Pagode
de Amarante, entre outras heranças da colonização
portuguesa; Floriano, pela forte presença da cultura Síriolibanesa. (RODRIGUES, 2006 p. 69)

Com a transferência da capital para Teresina, cidade posicionada entre dois grandes rios
navegáveis (à época), houve um súbito aumento do fluxo de pessoas e mercadorias na região
10 Hibridismo cultural. Conceito trazido por García Canclini. Caracteriza a convergência cultural que ocorre no
mundo pós-moderno. Surgimento de uma cultura hibrida, fusão de culturas permitindo assim a formação de uma
cultura mundial genérica, onde ainda se veem objetos de uma cultura específica mas não se é capaz de delimitar
fronteiras entre culturas diversas.
ocasionando uma centralização do processo de hibridização cultural. Então, houve a convergência
entre culturas estrangeiras, povos originários, africanos, vaqueiros além de culturas urbanas
fomentadas principalmente por conta do fortalecimento do capitalismo.
Para Janete Rodrigues, esta hibridização cultural piauiense enraizada no sentimento coletivo
popular desde o “inicio da história” do Estado provocou na população uma sensação de déficit
identitário. Não existe, no senso comum, uma identidade genuinamente piauiense o que dificulta o
surgimento e fortalecimento de grupos de apoio e incentivo a cultura, principalmente no que tange à
cultura popular. Em outras palavras, a cultura piauiense, e consequentemente a teresinense, é
ancorada em valores de culturas diversas, o que, na prática, não causa um déficit cultural e sim, uma
espécie de superávit11 cultural.
Esta densa diversificação de culturas dentro do Piauí também é facilmente identificada ao se
analisar bandas autorais que buscam uma linha regionalista. Que buscam musicar sentimentos
culturais coletivos através de uma pegada alternativa12. Essa diversidade musico-cultural existente
na música autoral alternativa teresinense é interessante, por ser, de fato, uma auto-localização de sua
posição dentro da cultura nacional. A música autoral alternativa teresinense se identifica
culturalmente por sua miscigenação de gêneros. A presença de 3, 4, 5 ou até mais vertentes musicais
na composição musical das bandas não é privilégio de poucas, é regra dentro da produção local
como aponta o estudo de Leila Lima de Sousa sobre a produção musical das bandas Validuaté e
Batuque Elétrico:
Os ritmos musicais são diversos e, na maioria das vezes,
agregam características das regiões onde foram criados. As
bandas Batuque Elétrico e Validuaté produzem uma
identidade musical própria através da mistura de diferentes
ritmos musicais presentes em diferentes regiões brasileiras.
A mistura de todos esses diferentes ritmos dá origem a uma
música genuinamente piauiense, diversificada, que ganha
aos poucos destaque frente ao cenário musical nacional.
(SOUSA, 2013 p.06)

Durante o documentário sobre a música autoral alternativa teresinense e o AgendaThe foi
aberta uma discussão na qual o objetivo era entender como agendamento musico-cultural da mídia
local e porque a cultura alternativa não é pautada e a partir daí compreender a importância da
internet e das redes sociais para a divulgação desta cultura alternativa. Para isso, faz-se necessário
que sejam respondidos alguns questionamentos. Quem é essa mídia local e quais seus critérios de
agendamento? Se utilizando de conceitos criados pela Escola de Frankfurt ao se tratar de indústria
11 Superávit. Termo utilizado por economistas para caracterizar saldo positivo no balanço financeiro. Contrário de
Déficit (saldo negativo). Na sentença em questão significa presença de vasta diversidade cultural.
12 Alternativo. Proposta de trabalho diferente do convencional. Música alternativa, proposta diferenciada de música do
que é comumente agendado, agendamento este geralmente pautado pela grande mídia.
cultural e do pensamento de Schneider, em seu livro Música e Capital Mediático, porque esta
cultura alternativa é ofuscada de modo a tornar-se quase inexistente, midiaticamente falando? E, por
fim, levantar alguns temas sobre cibercultura e as redes sociais para a cultura alternativa.
A mídia local é uma espécie de extensão da mídia nacional. Ela trabalha com os mesmo
princípios de agendamento, sempre com temas mais generalistas, pois seu foco é o grande público,
há a necessidade de abranger o maior número de pessoas possível, e, para isso, age tal qual a
nacional, com temas como educação, segurança, saúde, informando de maneira distante e
descontextualizada, na desculpa de buscar a imparcialidade.
Nacionalmente, o agendamento midiático da música sofre influência quase que total da
indústria cultural. Como aponta Schneider em trecho retirado de uma notícia publicada no jornal O
Globo, “hoje, cinco grandes grupos de comunicação controlam mais de 80% das vendas de discos
do mundo.” (SCHNEIDER, 2003 p. 113), este é um dado alarmante para quem segue uma linha de
produção divergente a proposta pela Indústria cultural. Apesar de não comungar de ideais propostos
pela indústria cultural, principalmente com ideias de Benjamin e Adorno de que o simples fato de
copiar-se um objeto artístico é um ato em confronto a produções artísticas por destruir a aura
criada/posta pelo artista àquele objeto. Este relatório credita a indústria cultural a acusação de
produção de produtos culturais objetivados à manutenção do status quo. A elite produzindo e
apresentando um modelo único de cultura para as massas. “Em seu estudo sobre os programas
musicais no rádio, Adorno criticara o estatuto da música, rebaixado ao estado de ornamento da vida
cotidiana, denunciando o que ele chama de “felicidade fraudulenta da arte afirmativa, ou seja, uma
arte integrada ao sistema””. (MATTELART e MATTELART, 2009 p. 76).
Para a indústria cultural, qualquer elemento cultural existente na sociedade é passível de
tornar-se um produto midiaticamente aceito. Ocorre o processo de coisificação, desde meados do
século passado, o mundo passa por um processo de esvaziamento cultural, “hoje, praticamente tudo
é passível de se tornar produto consumível e, portanto, alvo da indústria cultural. Tanto a cultura de
elite quanto a popular têm passado por processos de esvaziamento de seus conteúdos para atingir
realmente o grande público.” (GUERRA e MATTOS, 2008 p. 06). Isso é facilmente percebido na
música brasileira, onde, nos últimos 20 anos, as principais manifestações musico-culturais do país
foram tomadas pela indústria cultural e tiveram seus valores reduzidos a, primeiramente, desilusões
amorosas e, após, simplesmente sexo. Isso é observado nas letras de estilos musicais tidos como
populares, como o caso do forró, do sertanejo, e mais escancaradamente pode-se notar na
swingueira. Como no exemplo a seguir, com um trecho da banda de swingueira, Black Style:
“Mama Eu – Black Style
Que delíííííícia
Mama eu, mama eu, mama mama mama eu (2x)
Mama eu, mama eu, mama mama mama eu (2x)
As novinhas de hoje em dia
Você já sabe como é que é
Elas ficam facinho no pagode
Já era ou já é
Não se troca telefone
Não se dá msn
É meu barco do amor
Apertando sua mente
Chama ela no cantinho
Descobriu é perigoso
Ela vai descendo
E vai fazendo gostoso” 13
Em contrapartida, os grupos musicais autorais alternativos teresinenses buscam temas
'menos interessantes para o povo'14. Muitas cantam causos ou situações vivenciadas no interior do
estado em comunidades simples.
O Sapucaia, desde sua fundação vem com um repertório
cheio de Piauí, suas riquezas dentro do contexto da cultura
popular. Grupo influenciado por diferentes gêneros
musicais tendo como marca a literatura de cordel somada
aos instrumentos de percussão usados em várias vertentes
da música, juntamente com guitarras distorcidas com
muitos riffs e solos, adaptando o som ao contexto da
música atual.15

Já outras bandas trazem cirandas, sempre misturando com a temática atual, como bem demonstra
Leila de Sousa:
13 Trecho da música Mama Eu, da banda de swingueira, Black Style retirado de http://letras.mus.br/blackstyle/2000706/.
14 “Se, por outro lado, julgamos fundamental que se leve em conta que são os diferentes lastros na experiência
concreta que asseguram leituras distintas dos mesmos produtos simbólicos, e que o que é selecionado para ser
reproduzido e posto em circulação, apesar de excludente (o que é inevitável em uma seleção), atende, de alguma
forma, a alguma demanda existente (que não é todavia fruto do “gosto popular” como expressão “natural” da alma
popular, mas da formação dos consumidores, determinada por sua posição em meio às relações de trabalho), por
outro lado julgamos ainda mais importante identificar a espantosa unidade de aprovação social, ainda que sob
leituras transversais, dos mesmos discursos e gostos hegemônicos. Em outras palavras, o fato de haverem leituras
distintas de, por exemplo, um conjunto de discursos políticos ou religiosos, de canções ou de telenovelas, não anula
um outro fato a nosso ver mais relevante: é somente este conjunto, e não outros existentes, que é posto em
circulação. Por quê? Por que é o que o “povo” gosta? Mas quem é o “povo”? E, seja quem for, quem garante que
não gostaria de outras coisas? E o que significa “gostar”?” (SCHNEIDER, 2003 p. 17)
15 Trecho retirado de release enviado pela banda Sapucaia.
Letras que retratam a simplicidade do cotidiano do homem
piauiense ganham espaço ao lado de versos que falam do
advento da internet, de culturas globais e do
comportamento contemporâneo dos indivíduos.
As duas bandas fazem uma mistura entre velhos e novos
elementos culturais piauienses e agregam toda essa mistura
a elementos globais que interferem diretamente na
construção das identidades culturais do estado. (SOUSA,
2013 p. 06)

André “Café” teoriza durante entrevista concedida para a produção do documentário que
esta forma de produção musical é ofuscada pela grande mídia por, muitas vezes, se apresentar de
maneira contrária a convencional. É aversa ao machismo e homofobia, e não trabalha o conceito
feminino com comercialismos e rasteiros apelos sexuais.
O objetivo deste trabalho não é dogmatizar a música autoral alternativa, é sabido que
existem bandas nesta linha que têm produções machistas e/ou homofóbicas, o objetivo é apontar
que estas bandas são exceções. Logo, pela maioria ir contra estes (e, as vezes outros) valores
hegemônicos a produção autoral alternativa teresinense não é pautada pela grande mídia local.
Entretanto, Marco Schneider é contrário a ideia de que esta proposta musical é simplesmente
desinteressante ao grande público antes mesmo que este seja apresentado a primeira, já que para ele
é impossível se formar um juízo de gosto sobre determinado objeto cultural sem que este seja de seu
conhecimento. “requer maior ou menor conhecimento do código e maior ou menor repertório de
referências: não se pode emitir um juízo de gosto a respeito de um poema escrito em javanês sem
que se conheça pela menos o idioma javanês, para não falar da história e dos costumes de Java etc.”
(SCHNEIDER, 2003 p. 100).
Confirmando ainda, a fala de André “Café” Oliveira sobre o desinteresse da mídia local para
com a cultura alternativa está a hipótese da Agenda Settings ou simplesmente, Agendamento. Há
quem defenda que a mídia não determina o que os receptores da informação devem pensar sobre os
temas veiculados, todavia, de um modo geral a mídia é quem determina sobre o quê deve se pensar
e fazer parte das rodas de conversa. Ou seja, a mídia “pode, na maior parte das vezes, não conseguir
dizer às pessoas como pensar, tem, no entanto, uma capacidade espantosa para dizer aos seus
próprios leitores sobre que temas devem pensar qualquer coisa” (WOLF apud COHEN, 1999 p.
144).
Por conta da indisponibilidade de espaço da grande mídia para a produção autoral
alternativa, a opção vai viável foi a migração para a internet. Com o advento da internet 2.0 se
tornou algo deveras interessante para as bandas de material alternativo a sua participação nestes
espaços. Com a possibilidade de um maior compartilhamento de materiais e com a web 2.0 tendo
com um dos princípios base a interatividade estes grupos podem apresentar seu material de maneira
satisfatória (se fizer um bom trabalho de marketing) e, em tempo real são capazes e de receber a
opinião do público. Este é um dos fatores que permite sobrevivência deste estilo de produção não só
dentro do Piauí, mas em todo o país (quiçá no mundo). E foi dentro desta perspectiva de utilização
de um meio simples e barato mas com eficácia comprovada que surge a Agenda Cultural de
Teresina com o objetivo de alavancar este mercado promissor musico-culturalmente falando e, com
isso, fomentar o surgimento de grupos, a produção de eventos e a criação de projetos para que esse
eixo cultural possa se manter.
A partir das conceituações apresentadas neste relatório pode-se perceber, na prática, que a
música autoral alternativa teresinense utilizada no documentário se encaixa na tradução identitária
local tanto pela mistura de temas presentes nas composições como no mix de ritmos. Esta
identidade também é percebida nas falas de alguns entrevistados e, principalmente na composição
do cenário da entrevista concedida pelo músico Marco Foyce. No ambiente em que a entrevista
ocorre é possível perceber a presença de objetos referentes a culturas diversas.
Além disso, pode ser percebida esta discussão sobre a mídia em grande parte dos discursos
apresentados no documentário. Neste caso, ocorre uma divergência entre algumas falas pois a
maioria dos entrevistados aponta que há um desinteresse da mídia para com esse tipo de produção
autoral e, por outro lado, Rubinho Figueiredo – funcionário da FM-UFPI – argumenta que ocorre o
desinteresse pelas duas partes. Ele afirma que os músicos e bandas desta linha ainda trabalham de
forma bastante amadora, causando um problema duplo, pois, com isso, não tem condições de
produzir e conduzir projetos de qualidade satisfatória, e, por acontecer isso, não conseguem atrair o
interesse da mídia. Mas, mesmo assim, Rubinho acredita que grande parte da grande mídia finge
não ver o trabalho deste nicho simplesmente por questões financeiras, já que, por questões já
discutidas anteriormente neste tópico, a produção alternativa autoral não consegue atingir
satisfatoriamente o povo (o grande público), o gosto popular.
Mas o principal discurso presente no documentário no que se refere a mídia, converge com o
de André, apresentado anteriormente (ver página 12). acredita-se que não é de interesse da mídia
que este tipo de produção seja divulgado, por trabalhar com valores diferentes, e muitas vezes até
contrários, aos publicizados pela imprensa através da hipótese do agendamento.
4 – METODOLOGIA

Este documento vem com o intuito de relatar quais foram os procedimentos tomados durante
todo o processo de produção da disciplina Projetos Experimentais – trabalho de conclusão de curso,
que, neste caso, será a produção de um documentário em todas as suas instancias, desde a pesquisa,
passando pela produção, filmagem, direção e edição, além deste relatório escrito apresentando
como se deu todo o processo, além de falar um pouco sobre quais métodos e técnicas foram
aplicadas e o porquê destas.
O processo de produção do documentário se deu de forma bem tranquila e dentro do prazo
estipulado ainda no projeto apresentado no semestre anterior para a disciplina de Estudo Orientado
da Pesquisa II. Somente algumas entrevistas tiveram que ser feitas no mês de julho, por uma
questão de logística, pois as datas para a utilização do equipamento de filmagem estavam meio
'atropeladas', mas não houveram prejuízos para o processo.
Inicialmente, foram lidos trechos de Mídias de Identidades Culturais – Um estudo de
recepção midiática do Balé Folclórico de Teresina no Piauí, uma tese de doutoramento da Prof. Dr.
Janete de Páscoa Rodrigues; Os Intelectuais e a Organização da Cultura de Antonio Gramsci; e
livros mais técnicos como Introdução à Teoria do Cinema de Robert Stam e Introduction to
Documentary de Bill Nichols; além de Música e Capital Midiático de Marco Schneider, lido na
íntegra.
Cada entrevista teve duração média de 20 minutos e foram bastante esclarecedoras. Houve
um total de 7 personagens ouvidos e filmados. Foram eles Jônatas Freitas, idealizador e realizador
do Blog/website AgendaThe.com.br. Jornalista, estudante de relações públicas na UESPI, Jônatas
sempre teve interesse por música e cultura, ainda no ensino médio criou um blog de poesias em
parceria com 2 amigos, Márcio Rodrigues e Hélio Júnior. Hoje, além do AgendaThe, Jônatas faz
parte de uma blues rock band chamada Fenomenais Partidos Baixos. “Eu criei o blog para dar
espaço para quem não é visto, aqui não importa a quantidade e sim, a qualidade” (Jônatas Freitas
em entrevista concedida para a produção). Ricardo Totte, músico e produtor cultural de longa data
na capital. Grande fomentador da música e da cultura regionalista teresinense. “Surgiu numa
brincadeira, da necessidade que tínhamos de trabalhar com arte […] nós tínhamos reuniões onde
cada um apresentava uma música e veio a ideia de formar uma banda” (Ricardo Totte, em entrevista
concedida a produção). Marco Foyce, músico na banda Sapucaia e CaféTheFoyce, ingressou na
vida musical através do metal, mas com o passar do tempo percebeu que o que queria realmente
tocar era música regional. “Com as vivências com relação ao cenário mesmo, Piauí, Teresina. Por
estar sempre no interior, convivendo com gente simples, o forró mais tradicional feito mesmo no
chão batido, por tudo isso, a forma mais fácil de entrar na música era com aquilo que eu vivi
realmente que é a música regional. (Marco Foyce, em entrevista concedida a produção). Sérgio
Holom, músico, radialista e proprietário do Espaço Cultural Tenda Alternativa, sempre teve contato
com a música, toca diversos instrumentos musicais e além de tocar na banda de metal Samantha.
“Os dois trabalhos são interessantes [produção cover e produção autoral], ai vai depender qual o seu
intuito com a música […] mas se você sabe compor, por que não compor? (Sérgio Holom, em
entrevista concedida a produção). André “Café” Oliveira, jornalista, músico e poeta, participou de
diversos campeonatos de poesia em sua época de colégio, tempos depois ministrou oficinas de
argila no Salão Internacional de Humor. É um dos fundadores do grupo ativista poético Sociedade
dos Poetas por Vir, além de tocar nas bandas Sapucaia, CaféTheFoyce e Santa Maria. “Não é que a
grande mídia não veja com bons olhos a produção autoral alternativa, ela simplesmente não quer
ver [a produção], saca? (André “Café” Oliveira, em entrevista concedida a produção). Rubinho
Figueiredo, músico e programador musical da FM Universitária 96,7. Participa da cena autoral
alternativa teresinense há muito tempo, atualmente toca com Edivaldo Nascimento. “No meu ponto
de vista tem que haver uma unidade maior, uma unicidade, uma multiplicidade de bandas que
estejam trabalhando em bloco, para que, de repente, essa cena possa ser mais bem respeitada, mais
bem vista” (Rubinho Figueiredo, em entrevista concedida a produção). Diego Barbosa, estudante
universitário e apreciador da produção cultural local. “O Agenda é essencial, tá favoritado16 lá, todo
dia tenho que olhar para saber o que vai rolar na cidade” (Diego Barbosa, em entrevista concedida a
produção).
Outro ponto pertinente a ser tocado a respeito das entrevistas é que buscou-se que nenhum
dos entrevistados olhassem diretamente para a câmera, houve uma certa dificuldade pelo fato na
maioria das entrevistas televisionadas querer-se que olhe-se diretamente para a câmera. O objetivo
de não se olhar direto para a câmera é dar ao diálogo uma ideia de pensatividade, fortalecendo
assim a proposta de dar historicidade ao filme. Com isso, buscou-se também dar um ar atemporal ao
documentário, pois não olhando para a câmera tem-se a sensação de o personagem estar
conversando sozinho, a sensação de não haver a presença de um entrevistador. Além de promover a
ideia de estar se falando sempre de uma experiência vivida, este ar pensativo faz com que o diálogo
entre os personagens do vídeo flua melhor, todos fazendo parte da mesma experiencia cultural,
construída coletivamente, cada um de seu ponto de vista.
Após a gravação de todas as entrevistas, foram feitas as gravações de trechos do show da
banda Sapucaia numa das culturais do Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação Social –
ENECOM – ocorrido em Teresina, na UFPI. E, para que houvesse uma maior variedade musical
16 Favoritado. Tornar favorito. Opção existente no mundo da internet utilizado para acessos rápidos a determinados
links.
imagética foi feito o pedido para a banda Batuque Elétrico, em nome de Ricardo Totte, para que se
pudesse utilizar de vídeos da banda publicados na internet. Terminando assim a primeira parte da
produção do trabalho para a disciplina Projetos Experimentais – TCC.
A segunda parte foi o processo de edição. Por utilizar o equipamento da produtora Doroteu
Filmes, houveram problemas para marcar datas de utilização. Após a resolução desse impasse, se
deu o processo de edição. Durante o processo de gravação foi produzido um total de 21GB de
imagens entre entrevistas e gravações de eventos.
Para a edição, utilizou-se o programa Adobe Premiere, num Mac pc. No primeiro momento,
foram postas todas as entrevistas na timeline do programa com o intuito de fazer uma triagem, fazer
uma seleção para ver quais trechos ficaram bem gravados e têm falas interessantes para a produção
do documentário. Ao final do primeiro processo de triagem, permaneceram na timeline cerca de 1
hora de entrevistas – este processo inicial durou em torno de 7 horas (primeiro dia de edição). No
segundo momento da edição, foi dado inicio a um processo denominado por Willian Bonner como
'colocar o elefante na casinha do cachorro'. No projeto norteador do trabalho de conclusão de curso,
foi estipulado que o documentário teria no máximo 10 minutos de duração, e esta foi uma das
maiores dificuldades. Como contextualizar e apresentar argumentações diversas (as vezes
divergentes) sobre um tema e menos de 10 minutos?
A solução pensada foi sempre que possível buscar utilizar frases rápidas, curtas e de fácil
entendimento, pronunciadas pelos entrevistados, de modo a fazer com que elas conseguissem
dialogar entre si de modo a fazer sentido. A atividade do segundo dia de edições foi basicamente
este.
No terceiro dia foi dado inicio a edição propriamente dita. A montagem começou a ser feita.
A principal dificuldade deste dia foi iniciar. Como abrir o filme de uma forma que prenda a atenção
de quem vá assistir, e a fala de Totte foi ideal, ela por si só conseguiu definir o sentimento da época,
do momento, em menos de 5 segundos, Ricardo Totte conseguiu laçar a atenção do espectador e
após, com a fala de Foyce, este espectador deixa-se seduzir por completo, de forma a obrigar-se a
ver o filme até o final. Depois de iniciado, avaliou-se que o ideal seria dividir o filme em dois
momentos, no primeiro com a contextualização cultural antes e hoje, e após, com a apresentação do
AgendaThe e sua importância para a cena local, e a relação dessa cena com a mídia de um modo
geral. Os dois momentos do filme foram divididos por imagens de eventos, não ocorre divisão por
capítulos.
Essa montagem durou aproximadamente 9 horas e foi ocorrendo instintivamente, ou seja,
não foi criado um roteiro previamente. Com o fim da montagem, foi dado inicio ao melhoramento
das imagens e áudios, este é um processo um pouco mais trabalhoso, já que deve ser feito de
fragmento por fragmento. Ao final, o vídeo foi assistido diversas vezes para que pudesse ser
identificada alguma possível falha. Foi percebida a necessidade de um título do inicio conceituando
música autoral e, para isso, teve-se que alongar um pouco a trilha sonora, causando um pequeno
desconforto sonoro no momento alongado. Também achou-se necessária a presença física do
AgendaThe no documentário, e, por isso, colocou-se alguns prints17 sobrepostos a entrevistados.
O maior problema identificado no documentário foi a falta de compatibilidade no que diz
respeito a quantidade de fremes entre as imagens gravadas e o formato utilizado na edição, havendo
assim, perda de definição de imagens com movimentos bruscos.
O terceiro e último momento da produção do trabalho de conclusão de curso pela disciplina
Projetos Experimentais é a produção deste relatório. Foi a etapa na qual teve-se mais dificuldade
principalmente para delimitar o referencial teórico.
Para escrever a apresentação não houveram maiores dificuldades, já que pode-se tomar por
base a apresentação já utilizada no próprio projeto construído no período anterior, fez-se necessário
apenas alguns ajustes por conta de alterações ocorridas no decorrer do processo de produção e
adicionar informações novas, como falas retiradas de entrevistas e constatações obtidas após a
produção do documentário, além de inserir imagens com o objetivo tanto de ilustrar como de situar
o leitor desse projeto em tempo-espaço.
Para a elaboração do referencial teórico deste relatório foi necessário, antes de tudo, um
planejamento para que se entendesse quais seriam os principais pontos a serem tocados. Com isso,
delimitou-se que este referencial teórico teria três focos. O primeiro deles foi a parte técnica, com o
que é documentário e quais os tipos de documentários existentes, a partir daí explicar quais os tipos
adotados e porque. Para isso, foi utilizado o livro Introduction to Documentary, de Bill Nichols no
qual se faz a conceituação do que é documentário, apontando-o como qualquer produção
cinematográfica com interesse em contar uma história, entretanto, ao dar continuidade a leitura
entende-se que este tipo de documentário proposto neste relatório é chamado por Nichols de
documentário não-ficção, mas convencionou-se a chamá-lo neste texto somente documentário. Viuse também que, segundo o autor, existem 6 tipo de documentários, são eles o participativo,
expositivo, reflexivo, poético, observacional e performático. No documentário AgendaThe e a
Música Autoral de Teresina avaliou-se que os melhores tipos a serem utilizados na produção seriam
o expositivo, por seu caráter de produção e reprodução do contexto através da historicidade e o
poético por sua não-linearidade, dissociando as falas do tempo-espaço do filme e realocando-as na
timeline do filme pondo-as em diálogo entre si de modo a fazer sentido.
17 Print Screem. Fotografar a tela, cria-se um arquivo em formato JPG com todos os elementos presentes na tela do
computador no momento que o botão Print Screem é pressionado.
O segundo foco veio com o objetivo de entender o que caracteriza essa música autoral
alternativa, quais são os regionalismos presentes, como se constrói a identidade cultural piauiense e
teresinense e como ela se reflete na música. Para isso, foi utilizado como publicação base a tese de
doutoramento da professora doutora Janete de Páscoa Rodrigues, Mídias de Identidades Culturais –
Um estudo de recepção midiática do Balé Folclórico de Teresina no Piauí, a partir dessa leitura
pode-se entender melhor o que é esta cultura regional piauiense e como ela se formou, com isso,
partiu-se para leituras mais direcionadas ao tema da música com os artigos Cultura Jovem em
Movimentos Alternativos de Teresina-PI de Edmara de Castro Pinto e Maria do Carmo Alves do
Bonfim e O híbrido na cultura piauiense: uma análise das composições das bandas Batuque Elétrico
e Validuaté, da mestranda em comunicação na UFPI Leila Lima de Sousa.
Por fim, focou-se na mídia e nos debates sobre Indústria Cultural, puxando além de
discussões contextualizando fatos, envolveu-se também teorias da comunicação, para que se
pudesse entender de maneira satisfatória o posicionamento da mídia quanto a produção autoral
alternativa. Para isso foram utilizados os livros História das Teorias da Comunicação de Mattelart e
Mattelart, Teorias da Comunicação de Mauro Wolf, A indústria Cultural de Guerra e Mattos, Música
e Capital Mediático de Schneider. Além dos livros utilizados em todas as atapas, sempre buscou-se
embasamento nas falas dos entrevistados afim de fazer com que documentário e relatório se tornem
objetos complementares, e não alienígenas entre si.
5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este relatório foi produzido como parte integrante do trabalho final para a disciplina
Projetos Experimentais – disciplina final do curso de Comunicação Social com habilitação em
Jornalismo. Para a conclusão da disciplina (e do curso) se produziu além um documentário
relacionando a produção autoral alternativa teresinense e sua relação com a mídia, aprofundando na
importância do site AgendaThe para a divulgação deste tipo de produção, o documentário foi
denominado AgendaThe e a Música Autoral de Teresina – O processo analisado por dentro. Além
do documentário, foram produzidos durante o semestre três relatórios, dois parciais apresentando o
andamento do processo de desenvolvimento dos trabalhos da disciplina, e o terceiro, o relatório
final, este que está sendo finalizado. O relatório final é mais complexo que os anteriores, nele é
necessário que conste não só o relato de como se deu a produção do trabalho em todas as suas
instancias, mas também o porquê das decisões tomadas durante este processo assim como suas
fundamentações teóricas para tal.
Para a produção do documentário fez-se necessário adquirir conhecimento quanto algumas
questões, questões estas solucionadas no decorrer do desenvolvimento deste documentário, como
quem é o AgendaThe e porque lhe é designado tanta importância?
O Agenda Cultural de Teresina é um blog que tem por objetivo primordial a divulgação de
eventos alternativos que ocorrerão principalmente na capital – Teresina, mas também trabalha com
divulgação deste tipo de evento em outras cidades do Estado do Piauí. É um blog que surgiu no ano
de 2009 da necessidade sentida por seu idealizador e fundador, Jônatas Freitas, em ter em um único
local todos os cartazes de divulgação de eventos que ocorrerão no fim de semana, por exemplo.
Segundo ele, antes do blog era muito complicado saber que eventos ocorreriam na cidade, o Orkut
não possuía ferramentas que facilitassem a divulgação online de flyers tal como ocorre com o
Facebook e suas opções de compartilhamento. Depois disso, percebeu-se que o AgendaThe poderia
se tornar uma opção para a divulgação de trabalhos autorais de músicos da capital então foi criado o
projeto autoral em destaque. Este blog é considerado de grande importância da divulgação de
eventos alternativos e trabalhos autorais tanto por ser o primeiro a trabalhar nesse sentido quanto
por seu alcance. O blog tem cerca de 50 mil acessos mensais.
Com isso, sentiu-se a necessidade de entender quem é essa música autoral alternativa
teresinense, como ela se constituiu. Este relatório, após profunda pesquisa, entendeu que antes de
entender quem é ou como se constituiu essa música autoral regionalista, era de suma importância
compreender quais as nuances presentes na cultura desse estado, como ele se identifica
culturalmente. Compreendeu-se que essa identidade cultural se constrói deste do “inicio da história”
do Piauí, com a valorização da saga diária dos vaqueiros e a vida de submissão imposta pelo
coronelismo, em paralelo a isto, tem-se o conglomerado de culturas já com processos de 'hibrização'
em estado adiantado tendo contato com a cultura relativamente isolada do piauiense (isolada pelo
fato de não haver muitas possibilidades de entrada no estado, principalmente pela falta de litoral).
Por conta do genocídio sofrido pelos povos originários da região e deste processo de hibrização – a
forte presença de culturas diversas – desde o século XIX existe um sentimento de ausência de
cultura em meio a maior parte da população.
Entretanto, é a partir dessa mistura de culturas que surge a música regional piauiense. Uma
música marcada pela diversidade de ritmos, tal qual apontou Leila Lima de Sousa (ver página 11). e
o conceito de alternativo vem por projetar-se de maneira contrária ao andamento do que propõe a
indústria cultural. Uma música que pauta temas histórico-regionalistas que dialogam com a
atualidade e desenvolvimento tecnológico contemporâneo enquanto a indústria cultural alavanca
produções relacionadas a romantismos baratos, mercantilização da mulher e propagação de outros
esteriótipos e preconceitos.
Ainda, por esta produção não andar na mesma linha que a cultura que é vendida ao grande
público pela indústria cultural é que acredita-se que a mídia não a agenda. Por crer que este tipo de
pauta não dialoga com o público/receptor da informação e portanto, não traz lucro. E, por conta
desta falta de espaço nas grandes mídias (apesar de algumas dessas mídias trabalhar com esse tipo
de cultura como é o caso da FM – Universitária, apontado por Rubinho Figueiredo no
documentário) as bandas viram a internet como uma forma de escoar sua criação, fazendo com que
parcelas da população pudesse conhecer sua música, e com a internet 2.0, pudesse de forma
instantânea sentir a aceitação ou não do produto.
Enfim, este trabalho em sua completude, com o documentário juntamente ao relatório
escrito, torna-se essencial para um maior conhecimento da cultura regionalista piauiense e
teresinense e, mais especificamente, da produção musico-cultural autoral alternativa teresinense.
Apresentando argumentações pertinentes para caracterizar tanto o contexto histórico da formação da
identidade cultural do estado, quanto o contexto da situação atual da produção cultural local. Além
de debates que ajudam a entender melhor estes conceitos, como os abordando indústria cultural,
juízos de gosto e teorias como a do agendamento. Isso pelo relatório. Em soma a isso, vem o
documentário, onde podemos confirmar o que é discutido no relatório a partir de relatos de alguns
dos protagonistas da produção e fomentação cultural do estado, além de conhecer fatos mais a
fundo, como o contexto em que o AgendaThe foi criado e como vivem o músicos de Teresina. Além
de compreender um pouco mais como ocorre o diálogo entre mídia e cultura alternativa.
6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

NICHOLS, Bill. Introduction to Documentary. Bloomington-IN. Indiana University Press. 2009.
RODRIGUES, Janete de Páscoa. Mídias de Identidades Culturais: Um estudo da recepção
midiática do Balé Folclórico de Teresina no Piauí. São Leopoldo-RS. UNISINOS. 2006.
MATTELART, Michelle e Armand. História das Teorias da Comunicação. São Paulo-SP. Loyola.
2009.
SOUSA, Leila Lima de. O híbrido na cultura piauiense: uma análise das composições das Bandas
Batuque Elétrico e Validuaté. Teresina-PI. Revista Temática Ano IX n. 01. 2013.
GRAMSCI, Antonio. Os Intelectuais e a Organização da Cultura. Rio de Janeiro-RJ. Civilização
Brasileira SA. 1982.
WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Mass Media contextos e paradigmas, Novas tendencias,
Efeitos a longo prazo, O Newsmaking. Lisboa-Portugal. Presença. 1999.
SCHNEIDER, Marco. Música e Capital Mediático: Introdução a uma Crítica da Economia
Política do Gosto. Rio de Janeiro-RJ. UFRJ. 2003.
PINTO, Edmara de Castro; BONFIM, Maria do Carmo Alves do. Cultura Jovem em Movimentos
Alternativos de Teresina-PI. Teresina-PI. UFPI.
STAM, Robert. Introdução à Teoria do Cinema. Campinas-SP. Papirus. 2003.
GUERRA, Marco Antonio; MATTOS, Paula de Vincenzo Fidelis Belfort. Indústria Cultural. São
Paulo. Universidade São Judas Tadeu. 2008.

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Agenda the e a música autoral teresinense

  • 1. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA – MEC UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI PRÓ-REITORIA DE ESTUDOS DE GRADUAÇÃO – PREG CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO - CCE DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL PROJETOS EXPERIMENTAIS – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO JOSÉ ORLANDO DA SILVA JÚNIOR A IMPORTÂNCIA DO AGENDATHE.COM.BR PARA O DESENVOLVIMENTO DA MÚSICA AUTORAL “ALTERNATIVA” DE TERESINA RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO FINAL TERESINA, PI SETEMBRO DE 2013
  • 2. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO E CULTURA – MEC UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ – UFPI PRÓ-REITORIA DE ESTUDOS DE GRADUAÇÃO – PREG CENTRO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO - CCE DEPARTAMENTO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL PROJETOS EXPERIMENTAIS – TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO JOSÉ ORLANDO DA SILVA JÚNIOR A IMPORTÂNCIA DO AGENDATHE.COM.BR PARA O DESENVOLVIMENTO DA MÚSICA AUTORAL “ALTERNATIVA” DE TERESINA RELATÓRIO TÉCNICO-CIENTÍFICO FINAL Relatório final do Trabalho de Conclusão de Curso, prérequisito apresentado à UFPI como instrumento de avaliação para obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo na Universidade Federal do Piauí, período 2013.1 Orientador: Eliezer Menda TERESINA, PI SETEMBRO DE 2013
  • 3. AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer minha mãe - Solange, por desde o inicio da minha vida me proporcionar a oportunidade de ter uma educação de qualidade e nesta fase de produção do Trabalho de Conclusão de Curso sempre me apoiou, principalmente nos momentos em que ela percebia meu cansaço, agradecer também a meus irmãos por me incentivarem e mostrarem que eu era capaz de fazê-lo. Agradecimento também a toda a família, por me manter sempre em contato com essa cultura da música alternativa teresinense e me apoiar na construção desse projeto. Agradecer nominalmente a minhas tias Shirley e Stela e a meu tio Sandro por me fazer compreender a importância do tema e me apoiarem durante o percurso. Quero dizer também um muito obrigado a meu amigo e colega de trabalho Monteiro Júnior, por disponibilizar equipamentos da Doroteu Filmes para filmagem e edição do documentário. 'Valeu cumpade!'. Agradecer a Central Criativa em nome do João Carlos que junto a Doroteu Filmes divide espaço físico da produtora e permitiu que eu estivesse por lá por vários dias para que a edição pudesse ser feita da melhor forma possível. Agradecer a todos que cederam entrevista: Marco Foyce, Ricardo Totte, André “Café” Oliveira, Sérgio Holom, Rubinho Figueiredo, Diego Barbosa e em especial a Jônatas Freitas, que começou a me aturar em conversas sobre o projeto muito antes de iniciada a disciplina de Estudo Orientado da Pesquisa II, onde foi construído o projeto para o TCC. Você é um grande amigo. Agradecer a meu orientador, Eliezer Menda, que me deu liberdade para a construção do documentário, mas que sempre que se fez necessário encontrou-se presente me auxiliando no que necessitei, foi de ajuda vital na construção deste relatório. Além de todos que acreditaram que este projeto poderia se realizar ou que me ajudaram de alguma forma, são muitos, não citarei nomes para evitar injustiças. Ainda, agradecer a todos os amigos que eu fiz durante meu período como estudante da UFPI. Ao movimento estudantil que me engrandeceu incalculavelmente como pessoa, seja na ENECOM, MECOM ou Movimento Geral, espero não perder contato. A todos os professores do curso de comunicação com todos aprendi alguma coisa, com uns mais outros menos.
  • 4. RESUMO Este relatório foi produzido como parte integrante do trabalho final da disciplina de Projetos Experimentais – Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). E vem tratar da relação entre música autoral alternativa teresinense e a mídia local, mais especificamente com a internet e o Agenda Cultural de Teresina, o www.AgendaThe.com.br. O documentário trata, num primeiro momento, do contexto musical teresinense, das dificuldades de se trabalhar com cultura do estado, e ao final, da relação dessa produção musical com a mídia, como ocorre esse diálogo, quais as convergências e divergências. Em complemento ao documentário, vem o relatório com a base teórica para melhor entender os processos abordados no filme. Traz discussões sobre música alternativa, a identidade cultural piauiense e teresinense, indústria cultural, como a mídia agenda essa produção, além de debater sobre juízos de gosto. Palavras-chave: identidade cultural piauiense; música autoral; música alternativa; gosto; indústria cultural.
  • 5. Sumário 1. Introdução.......................................................................................................................................01 2. Referencial Teórico.........................................................................................................................04 3. Metodologia....................................................................................................................................15 4. Considerações Finais......................................................................................................................20 5. Referenciais Bibliográficas............................................................................................................22
  • 6. 1 – INTRODUÇÃO Como trabalho de conclusão de curso, na disciplina de Projetos Experimentais, do curso de Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo foi produzido um documentário relacionando bandas de música autoral alternativa teresinense dos anos 2000 para cá com a importância da internet para a divulgação de seus trabalhos, visto que, pelo que foi relatado nas entrevistas coletadas, por motivos apontados no próprio documentário, a grande mídia não pauta esse tipo de banda e nem projetos relacionados a estas, salvaguardando raríssimas exceções. Mesmo assim, como bem frisou Ricardo Totte em entrevista que parecia que havia no ar uma voz dizendo para que se fosse feito música autoral e aquilo inspirou o surgimento de diversas bandas em Teresina. Este relatório divide-se em seis partes, são elas: 1- Introdução, este texto de apresentação do relatório. 2- Contextualização Teórica onde é apresentado o objeto AgendaThe além de contextualizar a música autoral no momento destacado no documentário. 3- Referencial Teórico, são apresentadas as teorias e pensamentos que embasam o as ideias trazidas no documentário, dando enfase na identidade cultural piauiense e teresinense, características da produção musical autoral local e como estes pontos dialogam com a mídia. 4- Metodologia, descreve como ocorreu todo o processo de criação e produção de todo o trabalho final para a disciplina de Projetos Experimentais, além de apresentar os personagens e algumas das dificuldades/problemas encontradas. 5- Considerações Finais, como o nome propõe, são as conclusões tidas após a produção tanto do documentário quanto do relatório. 6- Referencias Bibliográficas, são os livros/textos utilizados para construção do trabalho como um todo.
  • 7. 2 – CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA Na segunda metade da primeira década dos anos 2000 Teresina vivia um contexto musical bastante interessante, que já era fomentado desde o fim dos anos 90 com a produção autoral local, mas que foi fortalecido principalmente com o Festival Piauí Pop que abriu espaço para bandas piauienses/teresinenses para o grande público – público que em situações normais não vai a apresentações de bandas ditas locais – além de outros festivais secundários que passaram a ocorrer e sempre com participação destas bandas. A partir dessa explosão de festivais, teve inicio um processo de surgimento de diversas bandas sempre com um caráter tido por alternativo – músicas com temas e pegadas regionais, indie rock e reggae principalmente – e consequentemente houve o surgimento de casa de eventos especializadas em shows desta natureza. Ao mesmo tempo que ocorria o boom das bandas alternativas teresinenses na segunda metade da década passada também foi o período da popularização das redes sociais online inicialmente com o Orkut1 e mais recentemente com o Facebook2 e os produtores de eventos perceberam que grande parte do público presente nos eventos alternativos eram/são frequentadores assíduos destas redes. Em pouco tempo as redes sociais estavam sendo bombardeadas por flyers de eventos tanto pelo fato já citado acima quanto pelo baixo custo desta nova forma de veiculação e divulgação. Entretanto, não havia um “local” específico para a postagem destes flyers, eles eram postados aleatoriamente na redes e tornava-se bastante complicado saber quais eram todas as opções pro fim de semana, por exemplo. As postagens, principalmente no Orkut por serem feitas através dos scrapbooks, eram muito restritas a quem fazia parte do grupo de amigos dos produtores logo a expansão do público acontecia de maneira lenta e nem sempre efetiva, no Facebook, pelas opções de compartilhamento, essa divulgação melhorou mas ainda não era o ideal, surgia a necessidade da existência de um local onde todos os eventos pudessem ser encontrados de maneira simples e efetivamente divulgada. Outro fator que instigou a necessidade da criação desse espaço de divulgação comum foi a falta de interesse da grande mídia em tornar público este tipo de evento. A única visibilidade que estas bandas locais têm na mídia é quando estarão presentes em grandes festivais e além disso ainda assim é mínima essa apresentação, pois o foco sempre é em que vem de outros lugares para tocar aqui. Pela necessidade deste local é que é criado a agenda cultural de Teresina, cujo link inicial era www.theculturalizando.blogspot.com e após a parceira com o grupo de agendas culturais de 1 2 Orkut. Www.orkut.com – rede social que teve seu auge no Brasil entre 2005 e 2006. Facebook. Www.facebook.com – rede social mais popular no Brasil atualmente. Possui opções de compartilhamento de conteúdo que permite divulgações em proporções de progressões geométricas – PG.
  • 8. todo o país passou a ser encontrado pelo link www.agendathe.com.br. Percebendo esta necessidade por também ser frequentador das redes sociais e dos eventos tidos alternativos, Jônatas Freitas, no inicio de 2009 cria o blog e passa a buscar os flyers postados nas redes sociais e pô-los na sua página. A ideia foi aprovada pelo público e o blog, em pouco tempo, passou a ter milhares de acessos/mês e foram os produtores que passaram a procurar o blog para terem seus eventos divulgados no local online. Da forma que este documentário foi dirigido, dividido em dois momentos pode-se compreender melhor em que contexto se deu a evolução da música alternativa autoral teresinense do novo milênio e de que maneiras se deu e se dá o diálogo entre este tipo de manifestação cultural underground e as diversas mídias disponíveis e quais são seus pontos positivos e negativos – como será melhor detalhado na metodologia – no primeiro, o foco é no contexto musical, origem das bandas, quais as dificuldades, como se deu esse início; já a segunda parte do filme tem por foco a divulgação do trabalho das bandas, porque se torna necessário a utilização da internet para este divulgação, e onde entra o AgendaThe dentro do contexto da divulgação da cultural teresinense/piauiense (por ser o site de divulgação da cultura alternativa mais acessado do estado do Piauí). Partindo desta divisão pode-se compreender a importância deste trabalho, já que ele torna-se, antes de tudo, uma auto-crítica contextualizada realizada pelos músicos e protagonistas da cultura da capital, permitindo a quem assistir ao vídeo entender minimamente a situação cultural da cidade da última década, por outro lado torna-se uma crítica construtiva aos profissionais da mídia que ocupam as editorias de cultura e, ao mesmo tempo, um apelo, para que estes comunicadores se voltem para a cultura alternativa e leve-á ao grande público. Com o documentário constata-se que a música autoral local possui qualidade, mas ainda assim falta profissionalismo. Constata-se também que esta falta de profissionalismo se dá, muitas vezes por falta de apoio – no caso em questão – apoio da mídia. Para tratar este tema da música autoral alternativa local e sua relação com as mídias foi produzido um filme documentário dentro do estilo criação do Modo Expositivo, que traz a historicidade da coisa, ou seja, retrata e contextualiza o tema a partir da fala dos entrevistados. A proposta foi criar um diálogo entre os diversos personagens entrevistados para o documentário. É formado um dialogismo no momento da edição onde é possível trazer um filme coeso com o tema proposto e sem alteração de sentidos sem a utilização da ferramenta de narração. Em alguns momentos ocorrem legendas, mas no sentido de facilitar o entendimento sem que seja necessário um prolongamento maior do vídeo. Foi utilizada também imagens de eventos e músicas de bandas locais conhecidas com o intuito de aproximar o telespectador e, ao mesmo tempo, dar uma dinamicidade maior ao documentário.
  • 9. 3 – REFERÊNCIAL TEÓRICO Para que este filme pudesse ser realizado fez-se necessário se debruçar sobre alguns conceitos. Estes conceitos foram fundamentais para o bom andamento do vídeo, tanto os primordiais como o que diferencia um documentário de um outro gênero cinematográfico e, após este, quais tipos de documentários foram utilizados e porque, quanto os fundamentados para uma melhor contextualização como a identidade cultural do regionalismo piauiense e como é a atuação da mídia neste processo de auto conhecimento, e aprofundando um pouco mais, buscou-se entender as concepções de gosto individual e coletivamente constituído compreendendo-o como uma construção a partir do acesso de um grupo a este, visto que para que se possa criar um um juízo de valor, seja ele positivo ou negativo, com relação a determinado objeto simbólico cultural – tratando especificamente da música, que é o objeto de estudo deste trabalho – faz-se obrigatoriamente necessário que se conheça o mesmo tal como quais suas referências genealógicas. Segundo Nichols, toda produção audiovisual que tem por objetivo contar uma história é considerado um documentário, no sentido de que sempre ocorre uma reprodução inspirada em valores, culturas e/ou comportamentos da realidade vivida ou observada. Esta reprodução pode ser desenvolvida partindo de sonhos, desejos, medos ou pesadelos criando assim um universo paralelo visualizado pelo público através das telas de cinemas no qual muitos de seus pontos de vista e características estéticas, críticas ou reflexivas se diferenciam do mundo real. Este tipo de produção é chamado pelo autor de documentário ficcional ou simplesmente cinema de ficção. Entretanto, também pode buscar ser uma representação verossímil de um fragmento da realidade, a partir do reconhecimento da existência de um problema/situação real o documentarista passa a se relacionar com os agentes sociais responsáveis de alguma maneira por aquele(a) determinado(a) problema/situação afim de compreender as suas nuances, quais os mecanismos existentes naquele nicho. Este é o documentário de não-ficção. Para Nichols (2009), “these views put before us social issues and current events, recurring problems and possible solutions. The bond between documentary and the historical world is deep and profound.”3. Dentro desta perspectiva, deve-se sempre preocupar-se com a forma que esta realidade está sendo apresentada ao telespectador, um documentário (por questões didáticas, ao referir-se ao documentário não-ficcional, será falado somente documentário, e com relação a documentários ficcionais, apenas ficção), assim como qualquer outra produção audiovisual, é produzido com um objetivo – apresentar e fomentar discussões sobre o tema proposto – e isso deve ser respeitado, no 3 “Essas visões nos põem diante de questões e acontecimentos atuais, problemas recorrentes e possíveis soluções. O vínculo entre o documentário e a realidade é íntima e profunda. Tradução do autor.
  • 10. entanto, diferentemente de uma produção cinematográfica ficcional, um documentário não possui um roteiro engessado no qual deve ser seguido para que, por fim, possa-se alcançar o final desejado, muito pelo contrário, o roteiro de uma produção não-ficcional ocorre numa construção gradativa e coletivizada (é construído pela equipe responsável pela produção do filme em parceria com os entrevistados e personagens atores sociais4 participantes da produção). Mesmo com o filme estando sujeito a variação de viés, o cineasta deve prosseguir com o filme, mantendo a responsabilidade de apresentar os fatos como são apresentados a ele. “This quality alone often provides a basis for belief: we see what was there before the camera; it must be true.5” (Nichols, 2009 p. 02). Continuando com a conceituação de documentário, compreendendo o mesmo como uma produção cinematográfica interessada em apresentar uma produção com alto grau de verossimilhança no que tange a realidade observada na qual se percebeu o problema/situação que inspirou o filme, deve-se frisar que há diversas maneiras de se trabalhar a realidade dentro de um documentário, ainda de acordo com Nichols, afirma-se que existam 6 sub-gêneros de documentários, ou simplesmente, 6 formas de se fazer documentários. Os modos são, poético, expositivo, participativo, observacional, reflexivo e performático. A melhor maneira de tornar compreensível os motivos que acarretaram na escolha da produção de um documentário trabalhado na linha do sub-gênero expositivo mas com um pé presente no poético, é fazendo uma rápida caracterização de cada um dos demais sub-gêneros. 1 – participativo é aquele que mais se assemelha ao campo da antropologia, onde o cinegrafista age tal qual um antropólogo, convivendo com os membros do grupo pesquisado, compartilhando sua cultura, suas atividades, passa a integrar a comunidade de modo a conquistar a confiança de seus membros e assim conhecer mais a fundo suas características, esta técnica é conhecida como observação participativa. The social sciences have long promoted the study of social groups. Anthropology, for example, remains heavily defined by the practice of field work, where an anthropologist lives among a people for an extended period of time and then writes up what she has learned. 6 (NICHOLS, 2009 p. 115) 2 – o modo observacional, como o próprio nome já propõe, tem o documentarista somente como um 4 5 6 Social Actors adj. Trazido por Bill Nichols em seu livro “Introduction to Documentary”, apresentando o que seriam os personagens não-atores dentro do documentário, ou seja, anônimos que levam um pouco de suas experiencias para o filme. “Esta qualidade por si só, muitas vezes fornece a base para a crença: Nós vemos que está diante da câmera; pode ser verdade”. Tradução do autor. “As ciências sociais tem por muito tempo promovido o estudo sobre grupos sociais. A antropologia, por exemplo, é fortemente definida pelas práticas nos campos sociais, um antropólogo vive entre entre um povo por um longo período de tempo e escreve sobre o que aprendeu”. Tradução do autor.
  • 11. observador, ele apenas grava o que ocorre naquele ambiente num determinado momento. Não há interferência de maneira alguma. O cineasta comporta-se como alguém que visualiza a ocorrência de um incidente a distância e que nada pode fazer a respeito. É um modelo que que surgiu após a segunda guerra mundial, mas que teve seu auge na década de 60 principalmente acompanhando grupos musicais em suas turnês. Em outras palavras, “we look in on life as it is lived. Social actors engage with one another, ignoring the filmmakers.7” (Nichols, 2009 p. 111). 3 – O modo reflexivo tem por foco os processos de negociação entre o cineasta e o espectador. O sub-gênero reflexivo além de trazer um apanhado histórico sobre o tema em questão traz também uma atuação humanista, no sentido que puxar o debate sobre quais os motivos deste contexto e que consequências afetarão o grupo estudado por conta deste contexto. No caso do modo reflexivo, o documentarista é, de fato, membro deste grupo, tem interesse em seus problemas e como resolvêlos, diferentemente do modo participativo onde o pesquisador necessita ser aceito pelo grupo e somente após isso, ser capaz de produzir seu filme. 4 – o performático trabalha com a subjetividade, busca apresentar a individualidade dos personagens, suas significações. É um documentário que trabalha questões emocionais, a memória dos personagens, suas crenças e a partir daí propõem uma leitura de mundo, seja dentro de um grupo familiar, de igrejas ou setores do governo. É um filme que aponta os valores do nicho em questão e, em seguida, retrata a visão de mundo deste nicho por conta de seus valores. Ou ainda, the institutional framework (governments and churches, families and marriages) and specific social practices (love and war, competition and cooperation) that make up a society. Performative documentary underscores the complexity of our knowledge of the world by emphasizing its subjective and affective dimensions. (NICHOLS, 2009 p. 131)8. Dar-se-á uma atenção especial aos 2 sub-gêneros restantes especificados por Bill Nichols visto que estes, modos expositivo e poético, foram os que inspiraram as técnicas para a produção do documentário em questão. O modo expositivo fez parte dos planos desde o inicio, quando se pensou em fazer um documentário com essa temática. Trazendo um conteúdo com historicidade e contextualização do assunto, o expositivo foi o modo ideal para este trabalho. É uma forma de documentar fatos que propõe um diálogo direto com o espectador, este diálogo geralmente vem através de narração, podendo ocorrer de duas maneiras, ou com a ferramenta chamada Voz de deus ou com voz da autoridade. Na primeira ocasião, a voz de deus, é a situação em que o espectador 7 “Nós filmamos a vida como ela é. Atores sociais engajados uns com os outros. Ignorando os cineastas.” Tradução do autor. 8 “o quadro institucional (governos e igrejas, famílias e casamentos) e práticas sociais específicas (amor e guerra, competição e cooperação) que compõem a sociedade. O documentário performático ressalta a complexidade de nosso conhecimento de mundo enfatizando suas dimensões subjetivas e afetivas”. Tradução do autor.
  • 12. apenas ouve o narrador, há a presença do audio e, sobreposto a ele, são postas imagens que ratificam o que é dito. Ao se utilizar da Voz de deus, é necessário que o narrador seja profissional, alguém de voz polida e segura, e de palavras bem pronunciadas, deve-se imprimir credibilidade. Já a ferramenta Voz da autoridade, como o próprio nome já supõe, o narrador será apresentado. Geralmente alguém com vasto conhecimento na área. É bastante utilizado também na televisão, principalmente em telejornais quando existe o interesse em fortalecer uma argumentação em detrimento de outras. No caso do documentário sobre o AgendaThe e a música autoral alternativa teresinense, não houve a utilização de nenhuma das duas ferramentas. Utilizou-se sim, de títulos (legendas) para facilitar o entendimento do que estava sendo exposto. Ao invés de se trazer esta historicidade para o documentário através de narração, foi buscada a inovação, de modo que, o que seria revelado na narração foi previamente fomentado na formulação das perguntas aos entrevistados, e partindo de suas respostas, se criou um contexto situacional onde os espectadores puderam se localizar bem dentro do tempo-espaço da produção musico-cultural vivida na época e seu diálogo com a mídia. O estilo de documentário poético surge na proposta de filme acima citada após a obtenção de todas as imagens necessárias para que a produção atingisse exito, ou seja, na pós-produção. É no momento da edição que ocorre a percepção que se utilizando o estilo poético de documentário teriase um enriquecimento do conteúdo. Para esta produção buscou-se inspiração no sub-gênero poético no ponto da edição. Onde deixa-se de lado a continuidade e ritmo da (ou das, neste caso em especial) entrevista fazendo recortes de tempo e vídeo de modo a fazer sentido para quem o assiste. Neste documentário fez-se necessária a presença de 7 personalidades com vasto conhecimento na cultura teresinense, muitas vezes as falas dialogaram entre si, seja no sentido de convergirem ou divergirem, por conta disso, avaliou-se ser interessante existir esse dialogismo trazido pelo estilo poético. Pois o sub-gênero poético shares a common terrain with the modernist avant-garde. The poetic mode sacrifices the conventions of continuity editing and the sense of a very specific location in time and place that follows from it to explore associations and patterns that involve temporal rhythms and spatial juxtapositions9. (NICHOLS, 2009 p. 102) Entender como se constrói a identidade cultural teresinense é um dos pontos vitais para o exito da pesquisa, e consequentemente, do documentário. Para a melhor compreensão desta identidade cultural dos dias atuais é salutar que haja uma visualização ampla da formação do estado 9 “compartilha um terreno comum ao modernismo de vanguarda. O modo poético sacrifica as convenções de continuidade e edição e o senso de localização específica no tempo e espaço da sequencia para explorar associações e padrões que envolvem ritmos temporais e justaposições espaciais”. Tradução do autor.
  • 13. piauiense e formatação de seu povo. Trazendo um rápido apanhado histórico percebemos que o Piauí sofreu o processo “civilizatório” tardio pela inexistência de litoral em seu território e também por conta da falta do litoral a ocupação do estado se deu de maneira inversa se levado em consideração os demais estados da região nordeste. O surgimento das vilas e, futuramente das cidades, se deu a partir do interior, com as fazendas de gado. Isso foi fator determinante de todo um processo de construção da identidade cultural do Piauí. Por conta principalmente da falta de litoral em seu território, o Piauí sofreu por um longo período um isolamento cultural. Era difícil a chegada ao estado o que contribuiu para o fortalecimento de uma cultura voltada para a criação de gado, com a mão de ferro dos coronéis e a legitimação e valorização do vaqueiro. Cultura esta que é bastante notável até os dias de hoje. Entretanto, a falta de litoral no território piauiense favoreceu, desde sua formação, a hibridização da cultura10 de seu povo. Visto que nos demais estados nordestinos ocorria constante fluxo de estrangeiros, sendo eles principalmente holandeses, ingleses e franceses (portugueses não são citados por colonizarem todo o território brasileiro). Para que estes estrangeiros pudessem chegar ao Piauí obrigatoriamente deveriam cruzar outros estados nordestinos, o que os punha em contato constante com outras culturas (principalmente indígena e negra, além das europeias) por longos períodos. Com o passar do anos, com o desenvolvimento do estado piauiense e a obtenção da cidade de Parnaíba através de negociações com o estado do Ceará, houve um fluxo ainda maior de estrangeiros e cada povo se aglomerou numa região distinta, causando uma diversificação cultural dentro do território, como traz o exemplo dado por Janete Rodrigues: Sotaques, danças, culinárias e hábitos de vida em geral podem ser facilmente localizados como elementos culturais diferenciadores dessas populações dentro do próprio Estado. Podemos citar, por exemplo, Parnaíba, que possui ainda hoje algumas marcas de influencias da cultura inglesa; Amarante, conhecida pela sua diversidade de danças folclóricas, com a dança do Cavalo Piancó, Pagode de Amarante, entre outras heranças da colonização portuguesa; Floriano, pela forte presença da cultura Síriolibanesa. (RODRIGUES, 2006 p. 69) Com a transferência da capital para Teresina, cidade posicionada entre dois grandes rios navegáveis (à época), houve um súbito aumento do fluxo de pessoas e mercadorias na região 10 Hibridismo cultural. Conceito trazido por García Canclini. Caracteriza a convergência cultural que ocorre no mundo pós-moderno. Surgimento de uma cultura hibrida, fusão de culturas permitindo assim a formação de uma cultura mundial genérica, onde ainda se veem objetos de uma cultura específica mas não se é capaz de delimitar fronteiras entre culturas diversas.
  • 14. ocasionando uma centralização do processo de hibridização cultural. Então, houve a convergência entre culturas estrangeiras, povos originários, africanos, vaqueiros além de culturas urbanas fomentadas principalmente por conta do fortalecimento do capitalismo. Para Janete Rodrigues, esta hibridização cultural piauiense enraizada no sentimento coletivo popular desde o “inicio da história” do Estado provocou na população uma sensação de déficit identitário. Não existe, no senso comum, uma identidade genuinamente piauiense o que dificulta o surgimento e fortalecimento de grupos de apoio e incentivo a cultura, principalmente no que tange à cultura popular. Em outras palavras, a cultura piauiense, e consequentemente a teresinense, é ancorada em valores de culturas diversas, o que, na prática, não causa um déficit cultural e sim, uma espécie de superávit11 cultural. Esta densa diversificação de culturas dentro do Piauí também é facilmente identificada ao se analisar bandas autorais que buscam uma linha regionalista. Que buscam musicar sentimentos culturais coletivos através de uma pegada alternativa12. Essa diversidade musico-cultural existente na música autoral alternativa teresinense é interessante, por ser, de fato, uma auto-localização de sua posição dentro da cultura nacional. A música autoral alternativa teresinense se identifica culturalmente por sua miscigenação de gêneros. A presença de 3, 4, 5 ou até mais vertentes musicais na composição musical das bandas não é privilégio de poucas, é regra dentro da produção local como aponta o estudo de Leila Lima de Sousa sobre a produção musical das bandas Validuaté e Batuque Elétrico: Os ritmos musicais são diversos e, na maioria das vezes, agregam características das regiões onde foram criados. As bandas Batuque Elétrico e Validuaté produzem uma identidade musical própria através da mistura de diferentes ritmos musicais presentes em diferentes regiões brasileiras. A mistura de todos esses diferentes ritmos dá origem a uma música genuinamente piauiense, diversificada, que ganha aos poucos destaque frente ao cenário musical nacional. (SOUSA, 2013 p.06) Durante o documentário sobre a música autoral alternativa teresinense e o AgendaThe foi aberta uma discussão na qual o objetivo era entender como agendamento musico-cultural da mídia local e porque a cultura alternativa não é pautada e a partir daí compreender a importância da internet e das redes sociais para a divulgação desta cultura alternativa. Para isso, faz-se necessário que sejam respondidos alguns questionamentos. Quem é essa mídia local e quais seus critérios de agendamento? Se utilizando de conceitos criados pela Escola de Frankfurt ao se tratar de indústria 11 Superávit. Termo utilizado por economistas para caracterizar saldo positivo no balanço financeiro. Contrário de Déficit (saldo negativo). Na sentença em questão significa presença de vasta diversidade cultural. 12 Alternativo. Proposta de trabalho diferente do convencional. Música alternativa, proposta diferenciada de música do que é comumente agendado, agendamento este geralmente pautado pela grande mídia.
  • 15. cultural e do pensamento de Schneider, em seu livro Música e Capital Mediático, porque esta cultura alternativa é ofuscada de modo a tornar-se quase inexistente, midiaticamente falando? E, por fim, levantar alguns temas sobre cibercultura e as redes sociais para a cultura alternativa. A mídia local é uma espécie de extensão da mídia nacional. Ela trabalha com os mesmo princípios de agendamento, sempre com temas mais generalistas, pois seu foco é o grande público, há a necessidade de abranger o maior número de pessoas possível, e, para isso, age tal qual a nacional, com temas como educação, segurança, saúde, informando de maneira distante e descontextualizada, na desculpa de buscar a imparcialidade. Nacionalmente, o agendamento midiático da música sofre influência quase que total da indústria cultural. Como aponta Schneider em trecho retirado de uma notícia publicada no jornal O Globo, “hoje, cinco grandes grupos de comunicação controlam mais de 80% das vendas de discos do mundo.” (SCHNEIDER, 2003 p. 113), este é um dado alarmante para quem segue uma linha de produção divergente a proposta pela Indústria cultural. Apesar de não comungar de ideais propostos pela indústria cultural, principalmente com ideias de Benjamin e Adorno de que o simples fato de copiar-se um objeto artístico é um ato em confronto a produções artísticas por destruir a aura criada/posta pelo artista àquele objeto. Este relatório credita a indústria cultural a acusação de produção de produtos culturais objetivados à manutenção do status quo. A elite produzindo e apresentando um modelo único de cultura para as massas. “Em seu estudo sobre os programas musicais no rádio, Adorno criticara o estatuto da música, rebaixado ao estado de ornamento da vida cotidiana, denunciando o que ele chama de “felicidade fraudulenta da arte afirmativa, ou seja, uma arte integrada ao sistema””. (MATTELART e MATTELART, 2009 p. 76). Para a indústria cultural, qualquer elemento cultural existente na sociedade é passível de tornar-se um produto midiaticamente aceito. Ocorre o processo de coisificação, desde meados do século passado, o mundo passa por um processo de esvaziamento cultural, “hoje, praticamente tudo é passível de se tornar produto consumível e, portanto, alvo da indústria cultural. Tanto a cultura de elite quanto a popular têm passado por processos de esvaziamento de seus conteúdos para atingir realmente o grande público.” (GUERRA e MATTOS, 2008 p. 06). Isso é facilmente percebido na música brasileira, onde, nos últimos 20 anos, as principais manifestações musico-culturais do país foram tomadas pela indústria cultural e tiveram seus valores reduzidos a, primeiramente, desilusões amorosas e, após, simplesmente sexo. Isso é observado nas letras de estilos musicais tidos como populares, como o caso do forró, do sertanejo, e mais escancaradamente pode-se notar na swingueira. Como no exemplo a seguir, com um trecho da banda de swingueira, Black Style: “Mama Eu – Black Style Que delíííííícia
  • 16. Mama eu, mama eu, mama mama mama eu (2x) Mama eu, mama eu, mama mama mama eu (2x) As novinhas de hoje em dia Você já sabe como é que é Elas ficam facinho no pagode Já era ou já é Não se troca telefone Não se dá msn É meu barco do amor Apertando sua mente Chama ela no cantinho Descobriu é perigoso Ela vai descendo E vai fazendo gostoso” 13 Em contrapartida, os grupos musicais autorais alternativos teresinenses buscam temas 'menos interessantes para o povo'14. Muitas cantam causos ou situações vivenciadas no interior do estado em comunidades simples. O Sapucaia, desde sua fundação vem com um repertório cheio de Piauí, suas riquezas dentro do contexto da cultura popular. Grupo influenciado por diferentes gêneros musicais tendo como marca a literatura de cordel somada aos instrumentos de percussão usados em várias vertentes da música, juntamente com guitarras distorcidas com muitos riffs e solos, adaptando o som ao contexto da música atual.15 Já outras bandas trazem cirandas, sempre misturando com a temática atual, como bem demonstra Leila de Sousa: 13 Trecho da música Mama Eu, da banda de swingueira, Black Style retirado de http://letras.mus.br/blackstyle/2000706/. 14 “Se, por outro lado, julgamos fundamental que se leve em conta que são os diferentes lastros na experiência concreta que asseguram leituras distintas dos mesmos produtos simbólicos, e que o que é selecionado para ser reproduzido e posto em circulação, apesar de excludente (o que é inevitável em uma seleção), atende, de alguma forma, a alguma demanda existente (que não é todavia fruto do “gosto popular” como expressão “natural” da alma popular, mas da formação dos consumidores, determinada por sua posição em meio às relações de trabalho), por outro lado julgamos ainda mais importante identificar a espantosa unidade de aprovação social, ainda que sob leituras transversais, dos mesmos discursos e gostos hegemônicos. Em outras palavras, o fato de haverem leituras distintas de, por exemplo, um conjunto de discursos políticos ou religiosos, de canções ou de telenovelas, não anula um outro fato a nosso ver mais relevante: é somente este conjunto, e não outros existentes, que é posto em circulação. Por quê? Por que é o que o “povo” gosta? Mas quem é o “povo”? E, seja quem for, quem garante que não gostaria de outras coisas? E o que significa “gostar”?” (SCHNEIDER, 2003 p. 17) 15 Trecho retirado de release enviado pela banda Sapucaia.
  • 17. Letras que retratam a simplicidade do cotidiano do homem piauiense ganham espaço ao lado de versos que falam do advento da internet, de culturas globais e do comportamento contemporâneo dos indivíduos. As duas bandas fazem uma mistura entre velhos e novos elementos culturais piauienses e agregam toda essa mistura a elementos globais que interferem diretamente na construção das identidades culturais do estado. (SOUSA, 2013 p. 06) André “Café” teoriza durante entrevista concedida para a produção do documentário que esta forma de produção musical é ofuscada pela grande mídia por, muitas vezes, se apresentar de maneira contrária a convencional. É aversa ao machismo e homofobia, e não trabalha o conceito feminino com comercialismos e rasteiros apelos sexuais. O objetivo deste trabalho não é dogmatizar a música autoral alternativa, é sabido que existem bandas nesta linha que têm produções machistas e/ou homofóbicas, o objetivo é apontar que estas bandas são exceções. Logo, pela maioria ir contra estes (e, as vezes outros) valores hegemônicos a produção autoral alternativa teresinense não é pautada pela grande mídia local. Entretanto, Marco Schneider é contrário a ideia de que esta proposta musical é simplesmente desinteressante ao grande público antes mesmo que este seja apresentado a primeira, já que para ele é impossível se formar um juízo de gosto sobre determinado objeto cultural sem que este seja de seu conhecimento. “requer maior ou menor conhecimento do código e maior ou menor repertório de referências: não se pode emitir um juízo de gosto a respeito de um poema escrito em javanês sem que se conheça pela menos o idioma javanês, para não falar da história e dos costumes de Java etc.” (SCHNEIDER, 2003 p. 100). Confirmando ainda, a fala de André “Café” Oliveira sobre o desinteresse da mídia local para com a cultura alternativa está a hipótese da Agenda Settings ou simplesmente, Agendamento. Há quem defenda que a mídia não determina o que os receptores da informação devem pensar sobre os temas veiculados, todavia, de um modo geral a mídia é quem determina sobre o quê deve se pensar e fazer parte das rodas de conversa. Ou seja, a mídia “pode, na maior parte das vezes, não conseguir dizer às pessoas como pensar, tem, no entanto, uma capacidade espantosa para dizer aos seus próprios leitores sobre que temas devem pensar qualquer coisa” (WOLF apud COHEN, 1999 p. 144). Por conta da indisponibilidade de espaço da grande mídia para a produção autoral alternativa, a opção vai viável foi a migração para a internet. Com o advento da internet 2.0 se tornou algo deveras interessante para as bandas de material alternativo a sua participação nestes espaços. Com a possibilidade de um maior compartilhamento de materiais e com a web 2.0 tendo com um dos princípios base a interatividade estes grupos podem apresentar seu material de maneira
  • 18. satisfatória (se fizer um bom trabalho de marketing) e, em tempo real são capazes e de receber a opinião do público. Este é um dos fatores que permite sobrevivência deste estilo de produção não só dentro do Piauí, mas em todo o país (quiçá no mundo). E foi dentro desta perspectiva de utilização de um meio simples e barato mas com eficácia comprovada que surge a Agenda Cultural de Teresina com o objetivo de alavancar este mercado promissor musico-culturalmente falando e, com isso, fomentar o surgimento de grupos, a produção de eventos e a criação de projetos para que esse eixo cultural possa se manter. A partir das conceituações apresentadas neste relatório pode-se perceber, na prática, que a música autoral alternativa teresinense utilizada no documentário se encaixa na tradução identitária local tanto pela mistura de temas presentes nas composições como no mix de ritmos. Esta identidade também é percebida nas falas de alguns entrevistados e, principalmente na composição do cenário da entrevista concedida pelo músico Marco Foyce. No ambiente em que a entrevista ocorre é possível perceber a presença de objetos referentes a culturas diversas. Além disso, pode ser percebida esta discussão sobre a mídia em grande parte dos discursos apresentados no documentário. Neste caso, ocorre uma divergência entre algumas falas pois a maioria dos entrevistados aponta que há um desinteresse da mídia para com esse tipo de produção autoral e, por outro lado, Rubinho Figueiredo – funcionário da FM-UFPI – argumenta que ocorre o desinteresse pelas duas partes. Ele afirma que os músicos e bandas desta linha ainda trabalham de forma bastante amadora, causando um problema duplo, pois, com isso, não tem condições de produzir e conduzir projetos de qualidade satisfatória, e, por acontecer isso, não conseguem atrair o interesse da mídia. Mas, mesmo assim, Rubinho acredita que grande parte da grande mídia finge não ver o trabalho deste nicho simplesmente por questões financeiras, já que, por questões já discutidas anteriormente neste tópico, a produção alternativa autoral não consegue atingir satisfatoriamente o povo (o grande público), o gosto popular. Mas o principal discurso presente no documentário no que se refere a mídia, converge com o de André, apresentado anteriormente (ver página 12). acredita-se que não é de interesse da mídia que este tipo de produção seja divulgado, por trabalhar com valores diferentes, e muitas vezes até contrários, aos publicizados pela imprensa através da hipótese do agendamento.
  • 19. 4 – METODOLOGIA Este documento vem com o intuito de relatar quais foram os procedimentos tomados durante todo o processo de produção da disciplina Projetos Experimentais – trabalho de conclusão de curso, que, neste caso, será a produção de um documentário em todas as suas instancias, desde a pesquisa, passando pela produção, filmagem, direção e edição, além deste relatório escrito apresentando como se deu todo o processo, além de falar um pouco sobre quais métodos e técnicas foram aplicadas e o porquê destas. O processo de produção do documentário se deu de forma bem tranquila e dentro do prazo estipulado ainda no projeto apresentado no semestre anterior para a disciplina de Estudo Orientado da Pesquisa II. Somente algumas entrevistas tiveram que ser feitas no mês de julho, por uma questão de logística, pois as datas para a utilização do equipamento de filmagem estavam meio 'atropeladas', mas não houveram prejuízos para o processo. Inicialmente, foram lidos trechos de Mídias de Identidades Culturais – Um estudo de recepção midiática do Balé Folclórico de Teresina no Piauí, uma tese de doutoramento da Prof. Dr. Janete de Páscoa Rodrigues; Os Intelectuais e a Organização da Cultura de Antonio Gramsci; e livros mais técnicos como Introdução à Teoria do Cinema de Robert Stam e Introduction to Documentary de Bill Nichols; além de Música e Capital Midiático de Marco Schneider, lido na íntegra. Cada entrevista teve duração média de 20 minutos e foram bastante esclarecedoras. Houve um total de 7 personagens ouvidos e filmados. Foram eles Jônatas Freitas, idealizador e realizador do Blog/website AgendaThe.com.br. Jornalista, estudante de relações públicas na UESPI, Jônatas sempre teve interesse por música e cultura, ainda no ensino médio criou um blog de poesias em parceria com 2 amigos, Márcio Rodrigues e Hélio Júnior. Hoje, além do AgendaThe, Jônatas faz parte de uma blues rock band chamada Fenomenais Partidos Baixos. “Eu criei o blog para dar espaço para quem não é visto, aqui não importa a quantidade e sim, a qualidade” (Jônatas Freitas em entrevista concedida para a produção). Ricardo Totte, músico e produtor cultural de longa data na capital. Grande fomentador da música e da cultura regionalista teresinense. “Surgiu numa brincadeira, da necessidade que tínhamos de trabalhar com arte […] nós tínhamos reuniões onde cada um apresentava uma música e veio a ideia de formar uma banda” (Ricardo Totte, em entrevista concedida a produção). Marco Foyce, músico na banda Sapucaia e CaféTheFoyce, ingressou na vida musical através do metal, mas com o passar do tempo percebeu que o que queria realmente tocar era música regional. “Com as vivências com relação ao cenário mesmo, Piauí, Teresina. Por estar sempre no interior, convivendo com gente simples, o forró mais tradicional feito mesmo no
  • 20. chão batido, por tudo isso, a forma mais fácil de entrar na música era com aquilo que eu vivi realmente que é a música regional. (Marco Foyce, em entrevista concedida a produção). Sérgio Holom, músico, radialista e proprietário do Espaço Cultural Tenda Alternativa, sempre teve contato com a música, toca diversos instrumentos musicais e além de tocar na banda de metal Samantha. “Os dois trabalhos são interessantes [produção cover e produção autoral], ai vai depender qual o seu intuito com a música […] mas se você sabe compor, por que não compor? (Sérgio Holom, em entrevista concedida a produção). André “Café” Oliveira, jornalista, músico e poeta, participou de diversos campeonatos de poesia em sua época de colégio, tempos depois ministrou oficinas de argila no Salão Internacional de Humor. É um dos fundadores do grupo ativista poético Sociedade dos Poetas por Vir, além de tocar nas bandas Sapucaia, CaféTheFoyce e Santa Maria. “Não é que a grande mídia não veja com bons olhos a produção autoral alternativa, ela simplesmente não quer ver [a produção], saca? (André “Café” Oliveira, em entrevista concedida a produção). Rubinho Figueiredo, músico e programador musical da FM Universitária 96,7. Participa da cena autoral alternativa teresinense há muito tempo, atualmente toca com Edivaldo Nascimento. “No meu ponto de vista tem que haver uma unidade maior, uma unicidade, uma multiplicidade de bandas que estejam trabalhando em bloco, para que, de repente, essa cena possa ser mais bem respeitada, mais bem vista” (Rubinho Figueiredo, em entrevista concedida a produção). Diego Barbosa, estudante universitário e apreciador da produção cultural local. “O Agenda é essencial, tá favoritado16 lá, todo dia tenho que olhar para saber o que vai rolar na cidade” (Diego Barbosa, em entrevista concedida a produção). Outro ponto pertinente a ser tocado a respeito das entrevistas é que buscou-se que nenhum dos entrevistados olhassem diretamente para a câmera, houve uma certa dificuldade pelo fato na maioria das entrevistas televisionadas querer-se que olhe-se diretamente para a câmera. O objetivo de não se olhar direto para a câmera é dar ao diálogo uma ideia de pensatividade, fortalecendo assim a proposta de dar historicidade ao filme. Com isso, buscou-se também dar um ar atemporal ao documentário, pois não olhando para a câmera tem-se a sensação de o personagem estar conversando sozinho, a sensação de não haver a presença de um entrevistador. Além de promover a ideia de estar se falando sempre de uma experiência vivida, este ar pensativo faz com que o diálogo entre os personagens do vídeo flua melhor, todos fazendo parte da mesma experiencia cultural, construída coletivamente, cada um de seu ponto de vista. Após a gravação de todas as entrevistas, foram feitas as gravações de trechos do show da banda Sapucaia numa das culturais do Encontro Nacional de Estudantes de Comunicação Social – ENECOM – ocorrido em Teresina, na UFPI. E, para que houvesse uma maior variedade musical 16 Favoritado. Tornar favorito. Opção existente no mundo da internet utilizado para acessos rápidos a determinados links.
  • 21. imagética foi feito o pedido para a banda Batuque Elétrico, em nome de Ricardo Totte, para que se pudesse utilizar de vídeos da banda publicados na internet. Terminando assim a primeira parte da produção do trabalho para a disciplina Projetos Experimentais – TCC. A segunda parte foi o processo de edição. Por utilizar o equipamento da produtora Doroteu Filmes, houveram problemas para marcar datas de utilização. Após a resolução desse impasse, se deu o processo de edição. Durante o processo de gravação foi produzido um total de 21GB de imagens entre entrevistas e gravações de eventos. Para a edição, utilizou-se o programa Adobe Premiere, num Mac pc. No primeiro momento, foram postas todas as entrevistas na timeline do programa com o intuito de fazer uma triagem, fazer uma seleção para ver quais trechos ficaram bem gravados e têm falas interessantes para a produção do documentário. Ao final do primeiro processo de triagem, permaneceram na timeline cerca de 1 hora de entrevistas – este processo inicial durou em torno de 7 horas (primeiro dia de edição). No segundo momento da edição, foi dado inicio a um processo denominado por Willian Bonner como 'colocar o elefante na casinha do cachorro'. No projeto norteador do trabalho de conclusão de curso, foi estipulado que o documentário teria no máximo 10 minutos de duração, e esta foi uma das maiores dificuldades. Como contextualizar e apresentar argumentações diversas (as vezes divergentes) sobre um tema e menos de 10 minutos? A solução pensada foi sempre que possível buscar utilizar frases rápidas, curtas e de fácil entendimento, pronunciadas pelos entrevistados, de modo a fazer com que elas conseguissem dialogar entre si de modo a fazer sentido. A atividade do segundo dia de edições foi basicamente este. No terceiro dia foi dado inicio a edição propriamente dita. A montagem começou a ser feita. A principal dificuldade deste dia foi iniciar. Como abrir o filme de uma forma que prenda a atenção de quem vá assistir, e a fala de Totte foi ideal, ela por si só conseguiu definir o sentimento da época, do momento, em menos de 5 segundos, Ricardo Totte conseguiu laçar a atenção do espectador e após, com a fala de Foyce, este espectador deixa-se seduzir por completo, de forma a obrigar-se a ver o filme até o final. Depois de iniciado, avaliou-se que o ideal seria dividir o filme em dois momentos, no primeiro com a contextualização cultural antes e hoje, e após, com a apresentação do AgendaThe e sua importância para a cena local, e a relação dessa cena com a mídia de um modo geral. Os dois momentos do filme foram divididos por imagens de eventos, não ocorre divisão por capítulos. Essa montagem durou aproximadamente 9 horas e foi ocorrendo instintivamente, ou seja, não foi criado um roteiro previamente. Com o fim da montagem, foi dado inicio ao melhoramento das imagens e áudios, este é um processo um pouco mais trabalhoso, já que deve ser feito de
  • 22. fragmento por fragmento. Ao final, o vídeo foi assistido diversas vezes para que pudesse ser identificada alguma possível falha. Foi percebida a necessidade de um título do inicio conceituando música autoral e, para isso, teve-se que alongar um pouco a trilha sonora, causando um pequeno desconforto sonoro no momento alongado. Também achou-se necessária a presença física do AgendaThe no documentário, e, por isso, colocou-se alguns prints17 sobrepostos a entrevistados. O maior problema identificado no documentário foi a falta de compatibilidade no que diz respeito a quantidade de fremes entre as imagens gravadas e o formato utilizado na edição, havendo assim, perda de definição de imagens com movimentos bruscos. O terceiro e último momento da produção do trabalho de conclusão de curso pela disciplina Projetos Experimentais é a produção deste relatório. Foi a etapa na qual teve-se mais dificuldade principalmente para delimitar o referencial teórico. Para escrever a apresentação não houveram maiores dificuldades, já que pode-se tomar por base a apresentação já utilizada no próprio projeto construído no período anterior, fez-se necessário apenas alguns ajustes por conta de alterações ocorridas no decorrer do processo de produção e adicionar informações novas, como falas retiradas de entrevistas e constatações obtidas após a produção do documentário, além de inserir imagens com o objetivo tanto de ilustrar como de situar o leitor desse projeto em tempo-espaço. Para a elaboração do referencial teórico deste relatório foi necessário, antes de tudo, um planejamento para que se entendesse quais seriam os principais pontos a serem tocados. Com isso, delimitou-se que este referencial teórico teria três focos. O primeiro deles foi a parte técnica, com o que é documentário e quais os tipos de documentários existentes, a partir daí explicar quais os tipos adotados e porque. Para isso, foi utilizado o livro Introduction to Documentary, de Bill Nichols no qual se faz a conceituação do que é documentário, apontando-o como qualquer produção cinematográfica com interesse em contar uma história, entretanto, ao dar continuidade a leitura entende-se que este tipo de documentário proposto neste relatório é chamado por Nichols de documentário não-ficção, mas convencionou-se a chamá-lo neste texto somente documentário. Viuse também que, segundo o autor, existem 6 tipo de documentários, são eles o participativo, expositivo, reflexivo, poético, observacional e performático. No documentário AgendaThe e a Música Autoral de Teresina avaliou-se que os melhores tipos a serem utilizados na produção seriam o expositivo, por seu caráter de produção e reprodução do contexto através da historicidade e o poético por sua não-linearidade, dissociando as falas do tempo-espaço do filme e realocando-as na timeline do filme pondo-as em diálogo entre si de modo a fazer sentido. 17 Print Screem. Fotografar a tela, cria-se um arquivo em formato JPG com todos os elementos presentes na tela do computador no momento que o botão Print Screem é pressionado.
  • 23. O segundo foco veio com o objetivo de entender o que caracteriza essa música autoral alternativa, quais são os regionalismos presentes, como se constrói a identidade cultural piauiense e teresinense e como ela se reflete na música. Para isso, foi utilizado como publicação base a tese de doutoramento da professora doutora Janete de Páscoa Rodrigues, Mídias de Identidades Culturais – Um estudo de recepção midiática do Balé Folclórico de Teresina no Piauí, a partir dessa leitura pode-se entender melhor o que é esta cultura regional piauiense e como ela se formou, com isso, partiu-se para leituras mais direcionadas ao tema da música com os artigos Cultura Jovem em Movimentos Alternativos de Teresina-PI de Edmara de Castro Pinto e Maria do Carmo Alves do Bonfim e O híbrido na cultura piauiense: uma análise das composições das bandas Batuque Elétrico e Validuaté, da mestranda em comunicação na UFPI Leila Lima de Sousa. Por fim, focou-se na mídia e nos debates sobre Indústria Cultural, puxando além de discussões contextualizando fatos, envolveu-se também teorias da comunicação, para que se pudesse entender de maneira satisfatória o posicionamento da mídia quanto a produção autoral alternativa. Para isso foram utilizados os livros História das Teorias da Comunicação de Mattelart e Mattelart, Teorias da Comunicação de Mauro Wolf, A indústria Cultural de Guerra e Mattos, Música e Capital Mediático de Schneider. Além dos livros utilizados em todas as atapas, sempre buscou-se embasamento nas falas dos entrevistados afim de fazer com que documentário e relatório se tornem objetos complementares, e não alienígenas entre si.
  • 24. 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS Este relatório foi produzido como parte integrante do trabalho final para a disciplina Projetos Experimentais – disciplina final do curso de Comunicação Social com habilitação em Jornalismo. Para a conclusão da disciplina (e do curso) se produziu além um documentário relacionando a produção autoral alternativa teresinense e sua relação com a mídia, aprofundando na importância do site AgendaThe para a divulgação deste tipo de produção, o documentário foi denominado AgendaThe e a Música Autoral de Teresina – O processo analisado por dentro. Além do documentário, foram produzidos durante o semestre três relatórios, dois parciais apresentando o andamento do processo de desenvolvimento dos trabalhos da disciplina, e o terceiro, o relatório final, este que está sendo finalizado. O relatório final é mais complexo que os anteriores, nele é necessário que conste não só o relato de como se deu a produção do trabalho em todas as suas instancias, mas também o porquê das decisões tomadas durante este processo assim como suas fundamentações teóricas para tal. Para a produção do documentário fez-se necessário adquirir conhecimento quanto algumas questões, questões estas solucionadas no decorrer do desenvolvimento deste documentário, como quem é o AgendaThe e porque lhe é designado tanta importância? O Agenda Cultural de Teresina é um blog que tem por objetivo primordial a divulgação de eventos alternativos que ocorrerão principalmente na capital – Teresina, mas também trabalha com divulgação deste tipo de evento em outras cidades do Estado do Piauí. É um blog que surgiu no ano de 2009 da necessidade sentida por seu idealizador e fundador, Jônatas Freitas, em ter em um único local todos os cartazes de divulgação de eventos que ocorrerão no fim de semana, por exemplo. Segundo ele, antes do blog era muito complicado saber que eventos ocorreriam na cidade, o Orkut não possuía ferramentas que facilitassem a divulgação online de flyers tal como ocorre com o Facebook e suas opções de compartilhamento. Depois disso, percebeu-se que o AgendaThe poderia se tornar uma opção para a divulgação de trabalhos autorais de músicos da capital então foi criado o projeto autoral em destaque. Este blog é considerado de grande importância da divulgação de eventos alternativos e trabalhos autorais tanto por ser o primeiro a trabalhar nesse sentido quanto por seu alcance. O blog tem cerca de 50 mil acessos mensais. Com isso, sentiu-se a necessidade de entender quem é essa música autoral alternativa teresinense, como ela se constituiu. Este relatório, após profunda pesquisa, entendeu que antes de entender quem é ou como se constituiu essa música autoral regionalista, era de suma importância compreender quais as nuances presentes na cultura desse estado, como ele se identifica culturalmente. Compreendeu-se que essa identidade cultural se constrói deste do “inicio da história”
  • 25. do Piauí, com a valorização da saga diária dos vaqueiros e a vida de submissão imposta pelo coronelismo, em paralelo a isto, tem-se o conglomerado de culturas já com processos de 'hibrização' em estado adiantado tendo contato com a cultura relativamente isolada do piauiense (isolada pelo fato de não haver muitas possibilidades de entrada no estado, principalmente pela falta de litoral). Por conta do genocídio sofrido pelos povos originários da região e deste processo de hibrização – a forte presença de culturas diversas – desde o século XIX existe um sentimento de ausência de cultura em meio a maior parte da população. Entretanto, é a partir dessa mistura de culturas que surge a música regional piauiense. Uma música marcada pela diversidade de ritmos, tal qual apontou Leila Lima de Sousa (ver página 11). e o conceito de alternativo vem por projetar-se de maneira contrária ao andamento do que propõe a indústria cultural. Uma música que pauta temas histórico-regionalistas que dialogam com a atualidade e desenvolvimento tecnológico contemporâneo enquanto a indústria cultural alavanca produções relacionadas a romantismos baratos, mercantilização da mulher e propagação de outros esteriótipos e preconceitos. Ainda, por esta produção não andar na mesma linha que a cultura que é vendida ao grande público pela indústria cultural é que acredita-se que a mídia não a agenda. Por crer que este tipo de pauta não dialoga com o público/receptor da informação e portanto, não traz lucro. E, por conta desta falta de espaço nas grandes mídias (apesar de algumas dessas mídias trabalhar com esse tipo de cultura como é o caso da FM – Universitária, apontado por Rubinho Figueiredo no documentário) as bandas viram a internet como uma forma de escoar sua criação, fazendo com que parcelas da população pudesse conhecer sua música, e com a internet 2.0, pudesse de forma instantânea sentir a aceitação ou não do produto. Enfim, este trabalho em sua completude, com o documentário juntamente ao relatório escrito, torna-se essencial para um maior conhecimento da cultura regionalista piauiense e teresinense e, mais especificamente, da produção musico-cultural autoral alternativa teresinense. Apresentando argumentações pertinentes para caracterizar tanto o contexto histórico da formação da identidade cultural do estado, quanto o contexto da situação atual da produção cultural local. Além de debates que ajudam a entender melhor estes conceitos, como os abordando indústria cultural, juízos de gosto e teorias como a do agendamento. Isso pelo relatório. Em soma a isso, vem o documentário, onde podemos confirmar o que é discutido no relatório a partir de relatos de alguns dos protagonistas da produção e fomentação cultural do estado, além de conhecer fatos mais a fundo, como o contexto em que o AgendaThe foi criado e como vivem o músicos de Teresina. Além de compreender um pouco mais como ocorre o diálogo entre mídia e cultura alternativa.
  • 26. 6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS NICHOLS, Bill. Introduction to Documentary. Bloomington-IN. Indiana University Press. 2009. RODRIGUES, Janete de Páscoa. Mídias de Identidades Culturais: Um estudo da recepção midiática do Balé Folclórico de Teresina no Piauí. São Leopoldo-RS. UNISINOS. 2006. MATTELART, Michelle e Armand. História das Teorias da Comunicação. São Paulo-SP. Loyola. 2009. SOUSA, Leila Lima de. O híbrido na cultura piauiense: uma análise das composições das Bandas Batuque Elétrico e Validuaté. Teresina-PI. Revista Temática Ano IX n. 01. 2013. GRAMSCI, Antonio. Os Intelectuais e a Organização da Cultura. Rio de Janeiro-RJ. Civilização Brasileira SA. 1982. WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Mass Media contextos e paradigmas, Novas tendencias, Efeitos a longo prazo, O Newsmaking. Lisboa-Portugal. Presença. 1999. SCHNEIDER, Marco. Música e Capital Mediático: Introdução a uma Crítica da Economia Política do Gosto. Rio de Janeiro-RJ. UFRJ. 2003. PINTO, Edmara de Castro; BONFIM, Maria do Carmo Alves do. Cultura Jovem em Movimentos Alternativos de Teresina-PI. Teresina-PI. UFPI. STAM, Robert. Introdução à Teoria do Cinema. Campinas-SP. Papirus. 2003. GUERRA, Marco Antonio; MATTOS, Paula de Vincenzo Fidelis Belfort. Indústria Cultural. São Paulo. Universidade São Judas Tadeu. 2008.