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Introdução
Pode parecer óbvio, mas nunca é demais sublinhar que um dos grandes desafios
dos acervos audiovisuais é a passagem do tempo. Os suportes de conteúdo, seja em pelí-
cula ou em fitas magnéticas, estão em contínuo e inexorável processo de deterioração, não
importando quão bem tratados e conservados sejam. Os equipamentos de reprodução, por
sua vez, tornam-se obsoletos. As indústrias deixam de fabricar as máquinas utilizadas para
a limpeza dos suportes e para a reprodução das imagens e sons, bem como descontinua as
peças de reposição e insumos para manutenção desses equipamentos.
A tecnologia digital abriu novas possibilidades para a revitalização dos acervos
audiovisuais. Novos equipamentos possibilitam a restauração das imagens e dos sons e
novos suportes digitais garantem a longevidade desses materiais. Além da transposição
física dos conteúdos analógicos armazenados em fitas de vários formatos para mídias
de dados, de grande durabilidade, a digitalização possibilita que os conteúdos estejam
no centro da convergência, trafegando em rede, para serem apropriados por diferentes
plataformas.
No modelo de negócio da televisão digital, a identificação e a recuperação dos
conteúdos disponíveis é parte importante do fluxo operacional das emissoras, integradas
ao processo de produção e exibição da programação.
Mas chegar a este ponto, onde as emissoras passam a operar sem a necessidade
de utilização de fitas magnéticas e, ao mesmo tempo, resgatar os sons e imagens acumu-
lados em acervo ao longo de quase 50 anos de operação de uma emissora de televisão
é um desafio que exige investimentos em equipamentos, formação de recursos humanos
especializados, além de muito tempo e muita dedicação.
3
Este é o trabalho que está sendo empreendido pela equipe da Gerência-Executiva
de Acervo e Conhecimento da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), há cerca de cinco
anos, com o apoio da ACERP – Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto, que
tem o objetivo de resgatar e tornar disponível para a população brasileira os acervos histó-
ricos da extinta TV Educativa do Rio de Janeiro e da também extinta Radiobrás, prestadora
de serviços de comunicação ao Governo Federal, em Brasília-DF.
Histórico Institucional
A recém-nascida Empresa Brasil de Comunicação (EBC) é herdeira de um acervo
audiovisual de consideráveis proporções. Soma 173.717 horas o volume de material produzi-
do ou acumulado desde 1975 pelas empresas que constituíram a televisão pública – Radio-
brás e TV Educativa do Rio de Janeiro – em suas sedes e centros de produção em Brasília,
Rio de Janeiro e Maranhão.
A Radiobrás foi uma empresa pública, criada pelo regime militar em 1975, por meio
da Lei nº 6.301, que instituiu a política de exploração de serviço de radiodifusão de emisso-
ras oficiais e autorizou o Poder Executivo a constituir a Empresa Brasileira de Radiodifusão
- Radiobrás, entre outras providências. A empresa passou a gerir de maneira centralizada
todas as emissoras de rádio e televisão do Governo Federal brasileiro espalhadas pelo país.
Em 1988, a Radiobrás fundiu-se com a Empresa Brasileira de Notícias, sucessora da antiga
Agência Nacional, e mudou sua denominação para Empresa Brasileira de Comunicação.
Desde então, já foi vinculada ao Ministério da Comunicações, ao Ministério da Justiça e
subordinada diretamente à Presidência da República.
Como empresa de comunicação governamental, a produção de conteúdos da Ra-
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diobrás foi marcada por uma tradição jornalística, que procurou acompanhar e registrar os
atos do poder executivo, especialmente em solenidades e cerimônias públicas.
A criação da TV Educativa do Rio de Janeiro remonta ao início da década de 1960,
quando um grupo de educadores começou a pensar a criação de uma televisão educativa
no Brasil. A primeira iniciativa foi a produção de um curso destinado à alfabetização de
adultos, lançado ao ar em 1961, pela então TV Rio.
Em 1962, já pela TV Continental, foi lançada a programação intitulada “mesas re-
dondas”, durante a qual surgiu a proposta de uma universidade sem paredes, capaz de
atender aos milhões de brasileiros maiores de 16 anos que perderam, na época própria, a
oportunidade de acesso à escola. A partir desta ideia, um grupo formado por educadores
e por funcionários do então Ministério da Educação e Cultura e do Conselho Nacional de
Telecomunicações começou a desenhar o projeto de criação de uma televisão educativa.
Em 03/01/67, a Lei nº 5.198 autorizou o Poder Executivo a criar, sob a forma de Fun-
dação, o “Centro Brasileiro de TV Educativa”, que passou, a partir de 27/07/1970, a ser su-
pervisionado pelo Ministério da Educação e Cultura. Em setembro de 1972, FCBTVE mudou-
se para o telecentro, na Avenida Gomes Freire, 474. O então órgão coordenador da FCBTVE,
o PRONATEL, tornou-se em 1978 o Departamento de Aplicações Tecnológicas (DAT).
Em 1979, o Departamento e Aplicações Tecnológicas (DAT) passou a denominar-
se Secretaria de Aplicações Tecnológicas (SEAT), continuando a coordenar a FCBTVE.
Neste mesmo ano, a SEAT organizou o Sistema Nacional de Televisão Educativa
-SINTED, que conjugava as nove emissoras de TV existentes na época, com o objetivo de
intercambiar programas, equipamentos e assistência técnica.
Em 1981, a SEAT foi extinta e foi criada a FUNTEVÊ. A Portaria Ministerial n° 565 de
5
08/10/81 homologou o estatuto da FUNTEVÊ, prevendo a existência dos centros de televisão
educativa, rádio educativo e de informática. Em 08/03/83, o Sistema Nacional de Televisão
Educativa (SINTED) passou a denominar-se Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa
(SINRED) em virtude da inclusão das rádios educativas no Sistema.
Em 1990, de acordo com o disposto na Lei nº 8.029, a FUNTEVÊ passou a denominar-
se Fundação Roquette-Pinto – FRP. Em 1995, com a mudança de Governo, a FRP foi transfe-
rida do âmbito do MEC para a Secretaria de Estado de Comunicação do Governo – SECOM
e o SINRED foi desativado. Em 1997, iniciaram-se as negociações, no âmbito do Governo
Federal, para a extinção da Fundação Roquette-Pinto e sua substituição por uma Organiza-
ção Social, fato que se concretizou, em janeiro de 1998, com a implantação da Associação
de Comunicação Educativa Roquette-Pinto (ACERP).
A TV Educativa do Rio de Janeiro foi uma instituição com finalidades educativas,
que atuou na área de radiodifusão, operando um conjunto de emissoras de rádio e televisão,
por todo o território brasileiro. Teve como missão desenvolver programas educacionais, cul-
turais e informativos, com o uso de sistemas integrados de rádio, de televisão e de novas
tecnologias, mobilizando uma rede nacional de parcerias qualificadas e comprometidas com
o acesso democrático à informação, com vistas à ampliação de conhecimentos, à educação
e ao exercício pleno da cidadania.
Os conteúdos produzidos pela extinta TV Educativa do Rio de Janeiro, hoje perten-
centes ao acervo da Empresa Brasil de Comunicação – EBC, contém séries de programas
que marcaram época na televisão brasileira, tais como:
EM CENA O AUTOR
Série de entrevistas, depoimentos e representação de obras dos grandes autores
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teatrais nacionais. Produzida em 1983, esta série apresenta peças de autores que até 1979
foram perseguidos pela censura, tais como: Dias Gomes, Gianfrancesco Guarnieri e Ariano
Suassuna.
DOCUMENTÁRIOS
Série que aborda a vida e a opinião de intelectuais brasileiros. Alguns programas
de destaque mostram a poeta Cora Coralina, em sua casa de Goiás Velho, falando sobre
seus hábitos simples e sua vida onde a poesia flui naturalmente, como a água que corre
no riacho que corta a cidade. Outro programa importante é o depoimento de Raquel de
Queiroz, primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, em sua fazenda no
sertão do Ceará.
CONTRA LUZ
Série musical, gravada ao vivo, com grandes nomes da MPB como: Elizeth Car-
doso, Paulinho da Viola, Aracy de Almeida, João Bosco e Dorival Caymmi, conversando
descontraidamente com Hermínio Bello de Carvalho nos estúdios da emissora.
A MÚSICA, OS MÚSICOS
Série produzida entre 1975 e 1976, composta por entrevistas e apresentações musicais
de artistas como: Julinho do Acordeon, João Bosco, Eliana Pitman, Leny Andrade, entre outros.
ÁGUA VIVA
Série de programas sobre personalidades da música brasileira iniciada em 1977.
Composta por shows, entrevistas, homenagem e bate-papo com os músicos. Nesta série
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foram revelados grandes nomes da MPB, como: Ademilde Fonseca, Jards Macalé, Sivuca,
Rosinha de Valença e Quinteto Violado.
MUSEUS
Série de programas mostrando os museus, os monumentos e o folclore de uma
região, um Estado ou de uma cidade brasileira. Contém imagens únicas e exclusivas de
praticamente todos os museus importantes do País. Um dos episódios da série, o “Museu de
Olinda”, foi contemplado com o Prêmio Japão, que anualmente escolhe o melhor programa
voltado para a educação em diversas categorias. A série possibilita um passeio por museus
como: Museu do Folclore, Museu Nacional, Sabará, Fundação Oswaldo Cruz, Imagens do
Inconsciente, Diamantina, entre outros.
ADVOGADO DO DIABO
Série de depoimentos de personalidades de várias áreas da cultura brasileira. Com
o entrevistado iluminado no centro do estúdio escuro, criando um clima de dramaticidade,
o entrevistador e seus convidados fazem perguntas sem aparecer diante das câmeras. Os
principais entrevistados do programa foram: João Saldanha, Carlos Heitor Cony, Barbosa
Lima Sobrinho, Dias Gomes, Fernanda Torres, Dina Sfat entre outros.
TRIBUNAL DO POVO
Em cada programa desta série ideias conflitantes foram colocadas frente a frente
e defendidas por seus principais expoentes, como se estivessem em um tribunal. Um dos
exemplos mais marcantes é o programa Comunismo x Capitalismo, em que Luís Carlos Pres-
tes e Roberto Campos defendem suas teses.
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54 MINUTOS
Série de entrevistas iniciada em 1988 e produzida até o ano de 1993. Teve como
principal característica a realização de entrevistas e debates sobre temas polêmicos e atu-
ais. Alguns entrevistados: Paulo Freire, Roberto Campos, Leandro Konder, Daniel Filho, Zue-
nir Ventura, Zélia Gattai.
Todos esses programas e imagens fazem parte do acervo da atual Empresa Brasil
de Comunicação – EBC, produto da fusão dos patrimônios da Empresa Brasileira de Radio-
difusão (Radiobrás) e da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (ACERP)
que coordenava a TV Educativa do Rio de Janeiro. A TV Brasil é uma sociedade de econo-
mia mista, pertence à EBC, tendo a ACERP como empresa associada.
O desafio dos suportes de conteúdo
A evolução tecnológica dos meios de produção audiovisual ao longo da história
da televisão resultou na utilização de diferentes suportes para a realização de programas.
A televisão brasileira nasceu ao vivo, nos anos 1950, e é bom lembrar que os programas
veiculados se resumiam a espetáculos encenados em frente às câmeras. O meio televisão
era considerado efêmero, o que eliminava a hipótese de gravação e manutenção dos pro-
gramas exibidos. Não havia a preocupação em preservar aquelas imagens e sons para o
futuro.
Aos poucos, o telejornalismo trouxe as imagens das ruas para a tela da televisão,
em rolos de película, filmados com câmeras de 16 mm que eram usadas na reportagem diá-
ria. As latas de filmes deram origem aos arquivos, verdadeiros depósitos de latas com rolos
de filme, em geral armazenados em condições inadequadas.
9
Os primeiros videotapes e suas fitas que podiam ser reutilizadas chegaram às emis-
soras com o formato quadruplex, também conhecido como “convencional”. As fitas qua-
druplex tinham duas polegadas de largura, eram acondicionadas em rolos, pesando cerca
de oito quilogramas cada, com capacidade para uma hora de gravação. Os equipamentos
também eram pesados e difíceis de usar em campo, mas ideais para gravar os programas
em estúdio e transportá-los para exibição em outras emissoras. O tráfego aéreo de progra-
mas em fitas quadruplex foi importante na operação das primeiras redes de televisão no
país. Muitos programas viajaram do Rio de Janeiro para São Paulo e vice-versa, na ponte
aérea. Mas as fitas não eram consideradas suporte de material para arquivo. Ao contrário, a
economia mandava reutilizar a fita logo após a exibição dos programas.
No início da década de 1980, os videocassetes U-Matic tornaram o material de pro-
dução mais barato, além de dar portabilidade às equipes, possibilitando o aumento do vo-
lume produzido. Esta abundância de imagens e sons em um suporte mais barato provocou
o estabelecimento de locais para armazenamento das fitas, o que deu origem aos arquivos
das emissoras. Programas concluídos e imagens brutas passaram a ser catalogados por
meio de fichas, que continham a descrição do conteúdo e os principais dados sobre a pro-
dução, como data, local e, eventualmente, os nomes dos profissionais responsáveis pela re-
alização. Arquivistas e bibliotecários deram início ao gerenciamento dos acervos, definindo
a política de seleção do que deveria ser mantido, catalogado, indexado e qual o material a
ser descartado.
Com a chegada do formato Betacam, nos anos 90, e a descontinuidade da fabrica-
ção dos equipamentos de videotape convencional, algumas emissoras passaram a transpor
o material mais antigo – em quadruplex e U-Matic – para os novos suportes – Betacam e
BVH de uma polegada –, na tentativa de salvar seus conteúdos do envelhecimento.
10
Entretanto, os meios técnicos para esta transposição sempre estiveram fora do al-
cance da maioria dos arquivos, pois seriam necessários grandes investimentos em equipa-
mentos de engenharia, que são, normalmente, destinados somente ao processo produtivo.
Dessa forma, os arquivos passaram a acumular materiais de todos os formatos existentes,
muitas vezes sem contar com a possibilidade de copiá-los para os formatos mais modernos,
devido à inexistência de equipamentos de reprodução.
Esta grande diversidade de suportes audiovisuais, aos quais se somaram, nos últi-
mos anos, os padrões digitais – Betacam Digital, DVCAM e XDCAM – retrata bem a compo-
sição do acervo da Empresa Brasil de Comunicação. São mais de 170.000 horas de material
audiovisual assim distribuídos:
Formato Número de fitas Número de horas
Quadruplex 2” 5671 5671
BVH 1” 5267 5619
U-Matic 37016 35098
Betacam 96145 86798
Betacam Digital 292 283
DVCAM 29639 35064
XDCAM 3969 4760
SAIT 29 435
TOTAL 178.018 mídias 173.717 horas
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Primeiros passos
A organização dos acervos da EBC foi iniciada em 2006, quando a ACERP obteve o
patrocínio da Petrobras, para projeto aprovado pelo Conselho Nacional de Cultura, no âmbi-
to da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
Com os recursos viabilizados pelo projeto foram feitas obras de infra-estrutura na
área do acervo de forma a possibilitar o adequado controle de temperatura e umidade, bem
como garantir o armazenamento das mídias em condições ideais de conservação, de acordo
com as normas de Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos, editadas pela Com-
mission on Preservation and Access: Magnetic Tape Storage and Handling – A Guide for
Libraries and Archives (1995).
Foram adquiridos equipamentos básicos para limpeza e digitalização de imagens e
sons, bem como ilhas de edição com ferramentas para correção de cor e restauração de de-
feitos nas imagens. O sistema foi ligado a equipamentos de reprodução em formato U-Matic,
Betacam e BVH, que já pertenciam à emissora.
Os recursos do projeto possibilitaram também o aumento da equipe e a contratação
de estagiários, dando início a um processo permanente de formação de recursos humanos
para operar uma política de acervo integrada ao novo ambiente tecnológico e ao fluxo ope-
racional da emissora.
A criação de uma área gestora do acervo na estrutura da ACERP possibilitou a
centralização e o controle dos suportes de conteúdo e o estabelecimento de padrões para
catalogação e preservação dos programas e também das imagens brutas para reutiliza-
ção.
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Inventário de suportes
A primeira ação indispensável para organização do acervo foi o inventário de mí-
dias, que identificou com uma numeração e um código de barras todos os suportes de
informação em todos os formatos acumulados ao longo dos anos, em arquivos de diversos
endereços e diferentes condições de conservação.
Este inventário foi possibilitado pela automação dos procedimentos de emprésti-
mo e devolução de mídias do acervo, utilizando um sistema de gerenciamento de conteúdos
contratado no mercado, mas customizado para operar segundo as necessidades e peculia-
ridades da emissora.
O inventário de suportes e a identificação das mídias com código de barras foram
medidas fundamentais que abriram caminho para a descentralização da catalogação dos
conteúdos do acervo. Faltava um sistema descentralizado, acessível através da rede cor-
porativa, capaz de receber a contribuição de todos os profissionais envolvidos na cadeia
produtiva para a catalogação dos programas e demais produtos audiovisuais.	
Sistema de Gerenciamento de Conteúdos
Em parceria com a área de Tecnologia da Informação da ACERP, foi desenvolvido
um sistema de gerenciamento de conteúdos, o sistema iAcervo, em plataforma livre. O sis-
tema está organizado em três módulos, capazes de garantir o controle das mídias que são
suportes do conteúdo (módulo Tráfego de Mídias), a catalogação e o gerenciamento dos
conteúdos (módulo Acervo) e o gerenciamento dos processos de planejamento de progra-
mação e exibição dos programas (módulo Roteiro de Programação).
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O sistema iAcervo entrou em operação em maio de 2010, passando a concentrar
todos processos relativos à gestão do acervo audiovisual, desde o inventário e controle de
mídias, à catalogação dos conteúdos, de foma articulada com a programação da emissora,
inclusive no que se refere aos intervalos, onde são programadas vinhetas, campanhas, co-
merciais de apoio e interprogramas.
Com base na rede mundial de computadores, o sistema possibilitou a implantação
da mesma metodologia de cadastro de acervo em todas as praças de operação, bem como
a geração dos metadados relativos ao produto final ao longo de todo o processo produtivo.
Ou seja, os próprios realizadores dos programas são responsáveis pelo cadastramento das
informações no sistema, deixando como responsabilidade da área de acervo os processos
de indexação e tagueamento.
O tratamento da informação é a parte mais delicada do trabalho dos arquivos au-
diovisuais numa instituição que produz mais de 20 horas de conteúdos finais a cada dia, sem
contar o material bruto, estimado em cerca de 50 horas diárias. O trabalho de catalogação e
indexação desses conteúdos, constitui, também, o cerne do processo de digitalização. So-
mente registros cuidadosamente estabelecidos podem garantir a recuperação da informa-
ção em todas as etapas da migração tecnológica. Por esta razão, os profissionais do acervo
são os fiéis guardiões da catalogação dos conteúdos e do padrão de metadados adotados
para este trabalho em todas as etapas do processo de produção.
Política de acervo
Há entretanto, uma política estabelecida de gestão do conteúdo que pressupõe:
•	 Manutenção integral de todos os programas realizados pela emissora;
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•	 Manutenção dos programas cuja produção tenha sido contratada de terceiros,
enquanto durarem os direitos de exibição;
•	 Tratamento do material bruto diário (jornalismo e produção), compreendendo
seleção, edição e arquivo de imagens produzidas;
•	 Decupagem e catalogação do material bruto arquivado, com informações so-
bre: local, data de produção, assunto, equipe técnica, equipamento, etc;
•	 Identificação descentralizada dos programas concluídos, sob responsabilida-
de de cada produção, com supervisão da área de documentação;
•	 Tratamento diferenciado dos telejornais, por meio de sinopses das matérias
veiculadas;
•	 Centralização do acesso aos suportes de conteúdo sob supervisão da área de
documentação;
•	 Atendimento a pesquisas em sistema de busca livre por qualquer item com
seis possibilidades de cruzamento;
•	 Digitalização e edição – sob demanda – do acervo histórico, com a respectiva
catalogação de conteúdo.
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O diagrama abaixo exemplifica, de forma sucinta, o processamento da informação
audiovisual feita no âmbito da Gerência-Executiva de Acervo e Conhecimento da EBC:
	
A preservação e manutenção dos conteúdos audiovisuais das emissoras da Empre-
sa Brasil de Comunicação são feitas em duas frentes de trabalho:
Tratamento da produção diária: seleção, identificação e catalogação do conteúdo
originalmente produzido em formato digital, de forma permanente, em todas as praças de
operação;
Tratamento do acervo histórico: limpeza física das mídias originais, ingestão para
o servidor (digitalização), edição corretiva (restauração, correção de cor, etc), importação
dos dados de catalogação já existentes e inserção de novos metadados, quando necessário.
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Recuperação e restauração
A digitalização do acervo histórico é feita sob demanda das equipes de produção
de conteúdo. O processo consiste em localizar, avaliar, selecionar, recuperar, transcrever,
catalogar e digitalizar o acervo audiovisual. Estas etapas devem ser rigorosamente cumpri-
das para que a captura do material do suporte analógico para o digital seja adequadamente
realizada, sem provocar danos aos originais.
A limpeza da mídia original é o primeiro momento do processo de recuperação do
acervo, em que as fitas são selecionadas e passam por um equipamento que retira as im-
purezas da superfície da fita, por fricção. Nessa etapa o operador deve trabalhar de forma
dedicada, pois é onde se inicia o trabalho de restauração.
O processo de limpeza pode levar muito tempo, pois depende do estado de oxi-
dação da superfície das mídias. No caso das fitas em formato U-Matic e Betacam, ocorre,
ainda, uma frequente deterioração do suporte, com rompimento das fitas e quebra de
bobinas ou caixas. O processo de limpeza é manual e individual, ou seja, uma fita por vez.
Eventualmente, é possível utilizar álcool isopropílico para a remoção de resíduos mais
resistentes.
Após a limpeza, as fitas seguem para o “ingest”, um equipamento que transforma
as imagens e sons em bits e bytes (digitalização). Este ingest é feito em tempo real, ou seja,
se o programa tem uma hora de duração, será digitalizado em uma hora.
Os sinais digitais armazenados em servidor podem, então, ser resgatados para
uma ilha de edição, onde se faz a restauração das imagens e sons, de forma que o material
volte a recuperar as características técnicas necessárias à sua veiculação, se for o caso.
Nesta etapa são efetuados procedimentos de correção de cor, brilho e luminosidade, redu-
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ção de defeitos provocados pelo tempo, como os drop-outs e centelhamentos apresentados
no vídeo. O tempo do processo de edição é relativo, quando se trata de vídeos em estado
precário, porém para os vídeos que apresentam melhor estado de conservação, pode levar
de um a dois dias.
Após a restauração, os programas são decupados, por meio da descrição das ima-
gens e catalogados no sistema iAcervo. Importante destacar que as mídias analógicas con-
tinuarão armazenadas em acervo, pois acredita-se que a evolução tecnológica poderá tra-
zer novas soluções e formas de digitalização mais perfeitas do que as atualmente existentes.
Os primeiros programas a serem recuperados para mídias digitais foram os que
se encontravam armazenados em suporte U-Matic, que representam as séries realizadas
pela TV Educativa do Rio de Janeiro no início da década de 1980 a meados dos anos 1990. A
escolha desse material como prioridade se deve à acelerada deterioração não só da mídia
de suporte (fitas), mas, principalmente dos equipamentos de limpeza e reprodução, cujos
componentes há muito deixaram de ser fabricados pela indústria.
Utilizando esta metodologia, já foram digitalizados 736 programas do acervo, para
utilização na programação da emissora, tanto nos programas jornalísticos como em especiais,
veiculados em datas comemorativas, a exemplo das séries Bossa Sempre Nova (2009) e Re-
vista Brasil (2010) – em que o acervo representa, em média, 40% do tempo total de produção.
Acesso público
Um dos principais objetivos desse trabalho de resgate dos programas e imagens
históricas que fizeram parte do processo de construção da televisão pública no Brasil é
tornar esses acervos acessíveis à população brasileira.
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O acesso principal ainda é a própria grade de programação da TV Brasil, onde são
veiculadas imagens recuperadas e os programas especiais já mencionados.
Em 2010, o acervo ganhou ainda mais visibilidade na grade de programação em
dois projetos bem-sucedidos. A primeira experiência foi a série de interprogramas, bati-
zada: Televisão Faz Bem à Memória. Veiculados nos intervalos da programação, esses in-
terprogramas fizeram referência a momentos marcantes dos musicais realizados pela TV
Educativa do Rio de Janeiro em sua história. Alguns exemplos estão no DVD que constitui
o anexo II.
Ainda em 2010, o acervo conquistou outro espaço importante na programação,
com a série Musicograma, que consiste na releitura de programas históricos e é realizado
com 100% de material de arquivo. O objetivo do programa é apresentar os grandes ícones
da música popular brasileira às novas gerações, conforme o texto de divulgação abaixo
reproduzido:
MUSICOGRAMA
Nova série musical da TV Brasil estreia no dia 3 de maio
Apresentar a música popular brasileira às novas gerações. Esta é a proposta
de Musicograma, nova série musical da TV Brasil que resgata a história dessa arte, a
partir da digitalização do acervo da emissora. O programa semanal, que estreia no dia 3
de maio, à 0h30, traz em cada episódio dois grandes nomes da MPB. São imagens únicas
como o duo de Rafael Rabelo e Elizeth Cardoso em um show no Teatro João Caetano, no
início dos anos 80. Outra preciosidade é o dueto de Lúcio Alves e Dick Farney cantando a
música Tereza da Praia, de Tom Jobim e Billy Blanco, no episódio ‘Precursores da Bossa
Nova’.
19
A origem mineira de Clara Nunes e João Bosco; a autenticidade da música regional
de Gonzagão que influenciou seu filho, Gonzaguinha; o amor pela escola de samba Man-
gueira, cantado por Cartola e por Beth Carvalho. Essas relações, que vão além da música,
entre dois artistas são a base da linha narrativa do programa. Cada edição de 30 minutos
possui um tema voltado para o viés regional, herança musical, escolas de samba, duos,
instrumentos, entre outros. Além dos musicais, os episódios também exibem depoimentos e
curiosidades revestidos com uma roupagem contemporânea.
Na estreia, o episódio “As Minas Gerais de Clara Nunes e João Bosco” mostra cenas
de um especial de fim de ano com Clara Nunes, em 1979, gravadas no Parque da Cidade, no Rio
de Janeiro. No especial, a música Guerreira, de Clara Nunes, é filmada em um plano sequência
que dura mais de 2 minutos sem cortes numa linguagem cinematográfica. A cena foi produzida
pelo jornalista, compositor e radialista Fernando Lobo, e a fotografia é de José Guerra, o Guer-
rinha. No mesmo programa, imagens de João Bosco em uma roda de samba cantando “Linha
de Passe”. E a primeira interpretação do músico de “O Bêbado e o Equilibrista”.
Segundo o diretor do programa, Luiz Carlos Pires, cada musical guarda uma história. São
quase200.000horasdematerial,quevemsendorecuperadodesde2006.Asimagenspassarampor
umprocessodedigitalizaçãorealizadoporumaequipeespecializadadaemissora.Oáudiotambém
recebeu uma atenção especial. Musicograma revela um precioso acervo audiovisual, momentos
históricos da MPB de um tempo que já se passou, mas que nunca poderá ser esquecido!
Nos próximos programas
Luiz Gonzaga reconta a sua vida em uma música de mais de sete minutos. À vonta-
de no Morro da Mangueira, Cartola ao lado de Dona Zica. Moreira da Silva e Jards Macalé
dividem o palco no Projeto Pixinguinha.
20
Essas e outras cenas memoráveis da música popular brasileira poderão ser vistas
pelo público no Musicograma, nova série musical da TV Brasil. O projeto só foi possível gra-
ças ao trabalho de recuperação, restauração e digitalização do acervo da antiga TVE, feito
pela equipe da Gerente-Executiva de Acervo e Conhecimento, Lacy Barca. Um dos maiores
acervos do país dentro do tema, segundo o diretor do Musicograma, o veterano Luiz Carlos
Pires. “Programas sobre música são uma tradição na TV pública brasileira. A TVE sempre
teve e a TV Brasil vai manter isso”, comenta.
Diretor da antiga TV Educativa durante as décadas de 70 e 80, o próprio Luiz Carlos
Pires ajudou a montar parte desse acervo que hoje serve de fonte para o Musicograma.
Entre outros profissionais, Pires também lembra o trabalho de Dermeval Netto, Hermínio
Bello de Carvalho e Carlos Alberto Loffler, na direção de musicais.
Sobre a concepção do programa, ele explica que, a cada episódio de meia hora,
serão exibidos momentos de dois nomes da Música Popular Brasileira, unidos por um vín-
culo comum. Essa ligação pode ser feita de várias maneiras. “Podem ser ligações regio-
nais, como ‘As Minas Gerais de Clara Nunes e João Bosco’, familiares, como ‘Gonzagão e
Gonzaguinha’, ou instrumental, como ‘o violão de sete cordas de Rafael Rebello e Yamandu
Costa’”, exemplifica.
Para Luiz Carlos Pires, a escolha de falar de dois artistas ao mesmo tempo enrique-
ce a proposta. “Falar de uma pessoa só seria cômodo, mas com duas nós podemos fazer
links, acrescentar informações”. Como exemplo, Pires cita o programa sobre Cartola e Beth
Carvalho. “Temos o compositor e a Beth, que ajudou a popularizá-lo. Podemos ver os dois
interpretando “As Rosas Não Falam”. Um valoriza o outro”, defende.
Além do material com depoimentos e apresentações do acervo digitalizado, serão
adicionados dados e curiosidades sobre os artistas. “O programa tem uma linguagem mais
21
pop. Toda a programação visual é feita para dar uma cara nova às imagens de acervo, mui-
tas bastante antigas.”, explica Pires. A recuperação dos musicais, no entanto, não significa
que as novidades da MPB vão ficar de fora. “O acervo não significa apenas coisa velha. Vale
usar o material do ano passado. Temos um bem recente, por exemplo, que vai falar sobre a
nova Lapa de Teresa Cristina e Roberta Sá”, ressalva.
Espaço cultural
Para possibilitar o acesso do grande público ao material já digitalizado, a ACERP
inaugurou, na Rua da Relação 18, um Espaço Cultural, que reúne amostras dos programas
históricos da TV Educativa do Rio de Janeiro, em módulos multimídia e está aberto a visita-
ção de segunda a sexta-feira, de 09 às 18 horas.
Os próximos passos do trabalho da Gerência-Executiva de Acervo e Conhecimento
consistem na edição de um catálogo virtual, que possibilitará que todos os brasileiros con-
sultem o conteúdo do acervo audiovisual da Empresa Brasil de Comunicação.
22
Equipe de trabalho
Rio de Janeiro
Adilson Gonçalves Rodrigues Junior
Alexandra Soares Lima Oliveira – Líder do Núcleo
de Pesquisa e Recuperação de Acervo
Alexandre de Souza Oliveira
Alexandre Lemos Cordeiro Sayd
Anderson de Oliveira Gonçalves
Bruno Pereira Rasga – Líder do Núcleo de Sele-
ção e Arquivo de Imagens
Carlos José Pereira Portela
Débora Antunes Costa
Dilceia Norberto de Oliveira
Eduardo Chataignier Campos
Eduardo da Silva Durães
Eraldo Vianna Siqueira
Flávia de Azevedo Menna Barreto
Íris Martins de Farias
Isadora Pessoa Fernandes
Jônatas Ribeiro Barbosa
Lacy Barca – Gerente-Executiva de Acervo e Co-
nhecimento
Leonardo Aquino Freitas de Miranda
Leonardo Manhães de Oliveira
Marjourie Andreza de Araújo Cruz Marques
Max Peter Pereira Nette
Melissa Duarte dos Santos
Noemi Nunes Vieira – Líder do Núcleo de Docu-
mentação
Raian Schoenardie Faller
Raimundo Fernandes de Aquino
Rosemary de Cássia S. de Araújo
Sérgio Ney de Carvalho Cardoso – Líder do Nú-
cleo de Tráfego de Mídias
Sueli Garcia de Oliveira
23
Thiago Pereira Dias
Estagiários:
Caroline Thomaz Pereira
Felipe Martins dos Santos
Lucas Batal Monteiro Ferreira
Michel Tork Monteiro
Renato Pereira Palhano
Valquíria Guedes
Brasília
Abraão Guimarães dos Santos
Alcebiades Ferreira do Nascimento
Anielle Gerliana Torres da Silva
Alvimar Rosa de Souza
Cristiano Ferreira dos Reis
Cristina Joana da Silva Melo
Diego Bryan das Neves Bezerra
Diogo Barbosa de Freitas
José Valmir Alves Barbosa
José Vieira de Moraes
Ludmila Ilário Araújo de Oliveira
Luiz Saturnino de Oliveira
Mardey Ribeiro do Couto – Coordenador do Acer-
vo no Distrito Federal
Maria Aparecida Eugênia da Silva
Mauro Augusto da Silva
Nathália Paccelli Pedro
Olinda de Souza Antônio
Paloma Alves Marcelino
Sueli Barbosa Ribeiro
Tyrone Cristian Freire de Alencar
William da Silva Machado
Estagiárias:
Janaína de Oliveira Silva
Flávia Dias
São Paulo
Fábio Fernandes de Albuquerque
Otávio Pieri

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Organização, Inventário, Catalogação e Restauração do Acervo da TV Brasil

  • 1.
  • 2. 2 Introdução Pode parecer óbvio, mas nunca é demais sublinhar que um dos grandes desafios dos acervos audiovisuais é a passagem do tempo. Os suportes de conteúdo, seja em pelí- cula ou em fitas magnéticas, estão em contínuo e inexorável processo de deterioração, não importando quão bem tratados e conservados sejam. Os equipamentos de reprodução, por sua vez, tornam-se obsoletos. As indústrias deixam de fabricar as máquinas utilizadas para a limpeza dos suportes e para a reprodução das imagens e sons, bem como descontinua as peças de reposição e insumos para manutenção desses equipamentos. A tecnologia digital abriu novas possibilidades para a revitalização dos acervos audiovisuais. Novos equipamentos possibilitam a restauração das imagens e dos sons e novos suportes digitais garantem a longevidade desses materiais. Além da transposição física dos conteúdos analógicos armazenados em fitas de vários formatos para mídias de dados, de grande durabilidade, a digitalização possibilita que os conteúdos estejam no centro da convergência, trafegando em rede, para serem apropriados por diferentes plataformas. No modelo de negócio da televisão digital, a identificação e a recuperação dos conteúdos disponíveis é parte importante do fluxo operacional das emissoras, integradas ao processo de produção e exibição da programação. Mas chegar a este ponto, onde as emissoras passam a operar sem a necessidade de utilização de fitas magnéticas e, ao mesmo tempo, resgatar os sons e imagens acumu- lados em acervo ao longo de quase 50 anos de operação de uma emissora de televisão é um desafio que exige investimentos em equipamentos, formação de recursos humanos especializados, além de muito tempo e muita dedicação.
  • 3. 3 Este é o trabalho que está sendo empreendido pela equipe da Gerência-Executiva de Acervo e Conhecimento da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), há cerca de cinco anos, com o apoio da ACERP – Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto, que tem o objetivo de resgatar e tornar disponível para a população brasileira os acervos histó- ricos da extinta TV Educativa do Rio de Janeiro e da também extinta Radiobrás, prestadora de serviços de comunicação ao Governo Federal, em Brasília-DF. Histórico Institucional A recém-nascida Empresa Brasil de Comunicação (EBC) é herdeira de um acervo audiovisual de consideráveis proporções. Soma 173.717 horas o volume de material produzi- do ou acumulado desde 1975 pelas empresas que constituíram a televisão pública – Radio- brás e TV Educativa do Rio de Janeiro – em suas sedes e centros de produção em Brasília, Rio de Janeiro e Maranhão. A Radiobrás foi uma empresa pública, criada pelo regime militar em 1975, por meio da Lei nº 6.301, que instituiu a política de exploração de serviço de radiodifusão de emisso- ras oficiais e autorizou o Poder Executivo a constituir a Empresa Brasileira de Radiodifusão - Radiobrás, entre outras providências. A empresa passou a gerir de maneira centralizada todas as emissoras de rádio e televisão do Governo Federal brasileiro espalhadas pelo país. Em 1988, a Radiobrás fundiu-se com a Empresa Brasileira de Notícias, sucessora da antiga Agência Nacional, e mudou sua denominação para Empresa Brasileira de Comunicação. Desde então, já foi vinculada ao Ministério da Comunicações, ao Ministério da Justiça e subordinada diretamente à Presidência da República. Como empresa de comunicação governamental, a produção de conteúdos da Ra-
  • 4. 4 diobrás foi marcada por uma tradição jornalística, que procurou acompanhar e registrar os atos do poder executivo, especialmente em solenidades e cerimônias públicas. A criação da TV Educativa do Rio de Janeiro remonta ao início da década de 1960, quando um grupo de educadores começou a pensar a criação de uma televisão educativa no Brasil. A primeira iniciativa foi a produção de um curso destinado à alfabetização de adultos, lançado ao ar em 1961, pela então TV Rio. Em 1962, já pela TV Continental, foi lançada a programação intitulada “mesas re- dondas”, durante a qual surgiu a proposta de uma universidade sem paredes, capaz de atender aos milhões de brasileiros maiores de 16 anos que perderam, na época própria, a oportunidade de acesso à escola. A partir desta ideia, um grupo formado por educadores e por funcionários do então Ministério da Educação e Cultura e do Conselho Nacional de Telecomunicações começou a desenhar o projeto de criação de uma televisão educativa. Em 03/01/67, a Lei nº 5.198 autorizou o Poder Executivo a criar, sob a forma de Fun- dação, o “Centro Brasileiro de TV Educativa”, que passou, a partir de 27/07/1970, a ser su- pervisionado pelo Ministério da Educação e Cultura. Em setembro de 1972, FCBTVE mudou- se para o telecentro, na Avenida Gomes Freire, 474. O então órgão coordenador da FCBTVE, o PRONATEL, tornou-se em 1978 o Departamento de Aplicações Tecnológicas (DAT). Em 1979, o Departamento e Aplicações Tecnológicas (DAT) passou a denominar- se Secretaria de Aplicações Tecnológicas (SEAT), continuando a coordenar a FCBTVE. Neste mesmo ano, a SEAT organizou o Sistema Nacional de Televisão Educativa -SINTED, que conjugava as nove emissoras de TV existentes na época, com o objetivo de intercambiar programas, equipamentos e assistência técnica. Em 1981, a SEAT foi extinta e foi criada a FUNTEVÊ. A Portaria Ministerial n° 565 de
  • 5. 5 08/10/81 homologou o estatuto da FUNTEVÊ, prevendo a existência dos centros de televisão educativa, rádio educativo e de informática. Em 08/03/83, o Sistema Nacional de Televisão Educativa (SINTED) passou a denominar-se Sistema Nacional de Radiodifusão Educativa (SINRED) em virtude da inclusão das rádios educativas no Sistema. Em 1990, de acordo com o disposto na Lei nº 8.029, a FUNTEVÊ passou a denominar- se Fundação Roquette-Pinto – FRP. Em 1995, com a mudança de Governo, a FRP foi transfe- rida do âmbito do MEC para a Secretaria de Estado de Comunicação do Governo – SECOM e o SINRED foi desativado. Em 1997, iniciaram-se as negociações, no âmbito do Governo Federal, para a extinção da Fundação Roquette-Pinto e sua substituição por uma Organiza- ção Social, fato que se concretizou, em janeiro de 1998, com a implantação da Associação de Comunicação Educativa Roquette-Pinto (ACERP). A TV Educativa do Rio de Janeiro foi uma instituição com finalidades educativas, que atuou na área de radiodifusão, operando um conjunto de emissoras de rádio e televisão, por todo o território brasileiro. Teve como missão desenvolver programas educacionais, cul- turais e informativos, com o uso de sistemas integrados de rádio, de televisão e de novas tecnologias, mobilizando uma rede nacional de parcerias qualificadas e comprometidas com o acesso democrático à informação, com vistas à ampliação de conhecimentos, à educação e ao exercício pleno da cidadania. Os conteúdos produzidos pela extinta TV Educativa do Rio de Janeiro, hoje perten- centes ao acervo da Empresa Brasil de Comunicação – EBC, contém séries de programas que marcaram época na televisão brasileira, tais como: EM CENA O AUTOR Série de entrevistas, depoimentos e representação de obras dos grandes autores
  • 6. 6 teatrais nacionais. Produzida em 1983, esta série apresenta peças de autores que até 1979 foram perseguidos pela censura, tais como: Dias Gomes, Gianfrancesco Guarnieri e Ariano Suassuna. DOCUMENTÁRIOS Série que aborda a vida e a opinião de intelectuais brasileiros. Alguns programas de destaque mostram a poeta Cora Coralina, em sua casa de Goiás Velho, falando sobre seus hábitos simples e sua vida onde a poesia flui naturalmente, como a água que corre no riacho que corta a cidade. Outro programa importante é o depoimento de Raquel de Queiroz, primeira mulher a ingressar na Academia Brasileira de Letras, em sua fazenda no sertão do Ceará. CONTRA LUZ Série musical, gravada ao vivo, com grandes nomes da MPB como: Elizeth Car- doso, Paulinho da Viola, Aracy de Almeida, João Bosco e Dorival Caymmi, conversando descontraidamente com Hermínio Bello de Carvalho nos estúdios da emissora. A MÚSICA, OS MÚSICOS Série produzida entre 1975 e 1976, composta por entrevistas e apresentações musicais de artistas como: Julinho do Acordeon, João Bosco, Eliana Pitman, Leny Andrade, entre outros. ÁGUA VIVA Série de programas sobre personalidades da música brasileira iniciada em 1977. Composta por shows, entrevistas, homenagem e bate-papo com os músicos. Nesta série
  • 7. 7 foram revelados grandes nomes da MPB, como: Ademilde Fonseca, Jards Macalé, Sivuca, Rosinha de Valença e Quinteto Violado. MUSEUS Série de programas mostrando os museus, os monumentos e o folclore de uma região, um Estado ou de uma cidade brasileira. Contém imagens únicas e exclusivas de praticamente todos os museus importantes do País. Um dos episódios da série, o “Museu de Olinda”, foi contemplado com o Prêmio Japão, que anualmente escolhe o melhor programa voltado para a educação em diversas categorias. A série possibilita um passeio por museus como: Museu do Folclore, Museu Nacional, Sabará, Fundação Oswaldo Cruz, Imagens do Inconsciente, Diamantina, entre outros. ADVOGADO DO DIABO Série de depoimentos de personalidades de várias áreas da cultura brasileira. Com o entrevistado iluminado no centro do estúdio escuro, criando um clima de dramaticidade, o entrevistador e seus convidados fazem perguntas sem aparecer diante das câmeras. Os principais entrevistados do programa foram: João Saldanha, Carlos Heitor Cony, Barbosa Lima Sobrinho, Dias Gomes, Fernanda Torres, Dina Sfat entre outros. TRIBUNAL DO POVO Em cada programa desta série ideias conflitantes foram colocadas frente a frente e defendidas por seus principais expoentes, como se estivessem em um tribunal. Um dos exemplos mais marcantes é o programa Comunismo x Capitalismo, em que Luís Carlos Pres- tes e Roberto Campos defendem suas teses.
  • 8. 8 54 MINUTOS Série de entrevistas iniciada em 1988 e produzida até o ano de 1993. Teve como principal característica a realização de entrevistas e debates sobre temas polêmicos e atu- ais. Alguns entrevistados: Paulo Freire, Roberto Campos, Leandro Konder, Daniel Filho, Zue- nir Ventura, Zélia Gattai. Todos esses programas e imagens fazem parte do acervo da atual Empresa Brasil de Comunicação – EBC, produto da fusão dos patrimônios da Empresa Brasileira de Radio- difusão (Radiobrás) e da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto (ACERP) que coordenava a TV Educativa do Rio de Janeiro. A TV Brasil é uma sociedade de econo- mia mista, pertence à EBC, tendo a ACERP como empresa associada. O desafio dos suportes de conteúdo A evolução tecnológica dos meios de produção audiovisual ao longo da história da televisão resultou na utilização de diferentes suportes para a realização de programas. A televisão brasileira nasceu ao vivo, nos anos 1950, e é bom lembrar que os programas veiculados se resumiam a espetáculos encenados em frente às câmeras. O meio televisão era considerado efêmero, o que eliminava a hipótese de gravação e manutenção dos pro- gramas exibidos. Não havia a preocupação em preservar aquelas imagens e sons para o futuro. Aos poucos, o telejornalismo trouxe as imagens das ruas para a tela da televisão, em rolos de película, filmados com câmeras de 16 mm que eram usadas na reportagem diá- ria. As latas de filmes deram origem aos arquivos, verdadeiros depósitos de latas com rolos de filme, em geral armazenados em condições inadequadas.
  • 9. 9 Os primeiros videotapes e suas fitas que podiam ser reutilizadas chegaram às emis- soras com o formato quadruplex, também conhecido como “convencional”. As fitas qua- druplex tinham duas polegadas de largura, eram acondicionadas em rolos, pesando cerca de oito quilogramas cada, com capacidade para uma hora de gravação. Os equipamentos também eram pesados e difíceis de usar em campo, mas ideais para gravar os programas em estúdio e transportá-los para exibição em outras emissoras. O tráfego aéreo de progra- mas em fitas quadruplex foi importante na operação das primeiras redes de televisão no país. Muitos programas viajaram do Rio de Janeiro para São Paulo e vice-versa, na ponte aérea. Mas as fitas não eram consideradas suporte de material para arquivo. Ao contrário, a economia mandava reutilizar a fita logo após a exibição dos programas. No início da década de 1980, os videocassetes U-Matic tornaram o material de pro- dução mais barato, além de dar portabilidade às equipes, possibilitando o aumento do vo- lume produzido. Esta abundância de imagens e sons em um suporte mais barato provocou o estabelecimento de locais para armazenamento das fitas, o que deu origem aos arquivos das emissoras. Programas concluídos e imagens brutas passaram a ser catalogados por meio de fichas, que continham a descrição do conteúdo e os principais dados sobre a pro- dução, como data, local e, eventualmente, os nomes dos profissionais responsáveis pela re- alização. Arquivistas e bibliotecários deram início ao gerenciamento dos acervos, definindo a política de seleção do que deveria ser mantido, catalogado, indexado e qual o material a ser descartado. Com a chegada do formato Betacam, nos anos 90, e a descontinuidade da fabrica- ção dos equipamentos de videotape convencional, algumas emissoras passaram a transpor o material mais antigo – em quadruplex e U-Matic – para os novos suportes – Betacam e BVH de uma polegada –, na tentativa de salvar seus conteúdos do envelhecimento.
  • 10. 10 Entretanto, os meios técnicos para esta transposição sempre estiveram fora do al- cance da maioria dos arquivos, pois seriam necessários grandes investimentos em equipa- mentos de engenharia, que são, normalmente, destinados somente ao processo produtivo. Dessa forma, os arquivos passaram a acumular materiais de todos os formatos existentes, muitas vezes sem contar com a possibilidade de copiá-los para os formatos mais modernos, devido à inexistência de equipamentos de reprodução. Esta grande diversidade de suportes audiovisuais, aos quais se somaram, nos últi- mos anos, os padrões digitais – Betacam Digital, DVCAM e XDCAM – retrata bem a compo- sição do acervo da Empresa Brasil de Comunicação. São mais de 170.000 horas de material audiovisual assim distribuídos: Formato Número de fitas Número de horas Quadruplex 2” 5671 5671 BVH 1” 5267 5619 U-Matic 37016 35098 Betacam 96145 86798 Betacam Digital 292 283 DVCAM 29639 35064 XDCAM 3969 4760 SAIT 29 435 TOTAL 178.018 mídias 173.717 horas
  • 11. 11 Primeiros passos A organização dos acervos da EBC foi iniciada em 2006, quando a ACERP obteve o patrocínio da Petrobras, para projeto aprovado pelo Conselho Nacional de Cultura, no âmbi- to da Lei Federal de Incentivo à Cultura. Com os recursos viabilizados pelo projeto foram feitas obras de infra-estrutura na área do acervo de forma a possibilitar o adequado controle de temperatura e umidade, bem como garantir o armazenamento das mídias em condições ideais de conservação, de acordo com as normas de Conservação Preventiva em Bibliotecas e Arquivos, editadas pela Com- mission on Preservation and Access: Magnetic Tape Storage and Handling – A Guide for Libraries and Archives (1995). Foram adquiridos equipamentos básicos para limpeza e digitalização de imagens e sons, bem como ilhas de edição com ferramentas para correção de cor e restauração de de- feitos nas imagens. O sistema foi ligado a equipamentos de reprodução em formato U-Matic, Betacam e BVH, que já pertenciam à emissora. Os recursos do projeto possibilitaram também o aumento da equipe e a contratação de estagiários, dando início a um processo permanente de formação de recursos humanos para operar uma política de acervo integrada ao novo ambiente tecnológico e ao fluxo ope- racional da emissora. A criação de uma área gestora do acervo na estrutura da ACERP possibilitou a centralização e o controle dos suportes de conteúdo e o estabelecimento de padrões para catalogação e preservação dos programas e também das imagens brutas para reutiliza- ção.
  • 12. 12 Inventário de suportes A primeira ação indispensável para organização do acervo foi o inventário de mí- dias, que identificou com uma numeração e um código de barras todos os suportes de informação em todos os formatos acumulados ao longo dos anos, em arquivos de diversos endereços e diferentes condições de conservação. Este inventário foi possibilitado pela automação dos procedimentos de emprésti- mo e devolução de mídias do acervo, utilizando um sistema de gerenciamento de conteúdos contratado no mercado, mas customizado para operar segundo as necessidades e peculia- ridades da emissora. O inventário de suportes e a identificação das mídias com código de barras foram medidas fundamentais que abriram caminho para a descentralização da catalogação dos conteúdos do acervo. Faltava um sistema descentralizado, acessível através da rede cor- porativa, capaz de receber a contribuição de todos os profissionais envolvidos na cadeia produtiva para a catalogação dos programas e demais produtos audiovisuais. Sistema de Gerenciamento de Conteúdos Em parceria com a área de Tecnologia da Informação da ACERP, foi desenvolvido um sistema de gerenciamento de conteúdos, o sistema iAcervo, em plataforma livre. O sis- tema está organizado em três módulos, capazes de garantir o controle das mídias que são suportes do conteúdo (módulo Tráfego de Mídias), a catalogação e o gerenciamento dos conteúdos (módulo Acervo) e o gerenciamento dos processos de planejamento de progra- mação e exibição dos programas (módulo Roteiro de Programação).
  • 13. 13 O sistema iAcervo entrou em operação em maio de 2010, passando a concentrar todos processos relativos à gestão do acervo audiovisual, desde o inventário e controle de mídias, à catalogação dos conteúdos, de foma articulada com a programação da emissora, inclusive no que se refere aos intervalos, onde são programadas vinhetas, campanhas, co- merciais de apoio e interprogramas. Com base na rede mundial de computadores, o sistema possibilitou a implantação da mesma metodologia de cadastro de acervo em todas as praças de operação, bem como a geração dos metadados relativos ao produto final ao longo de todo o processo produtivo. Ou seja, os próprios realizadores dos programas são responsáveis pelo cadastramento das informações no sistema, deixando como responsabilidade da área de acervo os processos de indexação e tagueamento. O tratamento da informação é a parte mais delicada do trabalho dos arquivos au- diovisuais numa instituição que produz mais de 20 horas de conteúdos finais a cada dia, sem contar o material bruto, estimado em cerca de 50 horas diárias. O trabalho de catalogação e indexação desses conteúdos, constitui, também, o cerne do processo de digitalização. So- mente registros cuidadosamente estabelecidos podem garantir a recuperação da informa- ção em todas as etapas da migração tecnológica. Por esta razão, os profissionais do acervo são os fiéis guardiões da catalogação dos conteúdos e do padrão de metadados adotados para este trabalho em todas as etapas do processo de produção. Política de acervo Há entretanto, uma política estabelecida de gestão do conteúdo que pressupõe: • Manutenção integral de todos os programas realizados pela emissora;
  • 14. 14 • Manutenção dos programas cuja produção tenha sido contratada de terceiros, enquanto durarem os direitos de exibição; • Tratamento do material bruto diário (jornalismo e produção), compreendendo seleção, edição e arquivo de imagens produzidas; • Decupagem e catalogação do material bruto arquivado, com informações so- bre: local, data de produção, assunto, equipe técnica, equipamento, etc; • Identificação descentralizada dos programas concluídos, sob responsabilida- de de cada produção, com supervisão da área de documentação; • Tratamento diferenciado dos telejornais, por meio de sinopses das matérias veiculadas; • Centralização do acesso aos suportes de conteúdo sob supervisão da área de documentação; • Atendimento a pesquisas em sistema de busca livre por qualquer item com seis possibilidades de cruzamento; • Digitalização e edição – sob demanda – do acervo histórico, com a respectiva catalogação de conteúdo.
  • 15. 15 O diagrama abaixo exemplifica, de forma sucinta, o processamento da informação audiovisual feita no âmbito da Gerência-Executiva de Acervo e Conhecimento da EBC: A preservação e manutenção dos conteúdos audiovisuais das emissoras da Empre- sa Brasil de Comunicação são feitas em duas frentes de trabalho: Tratamento da produção diária: seleção, identificação e catalogação do conteúdo originalmente produzido em formato digital, de forma permanente, em todas as praças de operação; Tratamento do acervo histórico: limpeza física das mídias originais, ingestão para o servidor (digitalização), edição corretiva (restauração, correção de cor, etc), importação dos dados de catalogação já existentes e inserção de novos metadados, quando necessário.
  • 16. 16 Recuperação e restauração A digitalização do acervo histórico é feita sob demanda das equipes de produção de conteúdo. O processo consiste em localizar, avaliar, selecionar, recuperar, transcrever, catalogar e digitalizar o acervo audiovisual. Estas etapas devem ser rigorosamente cumpri- das para que a captura do material do suporte analógico para o digital seja adequadamente realizada, sem provocar danos aos originais. A limpeza da mídia original é o primeiro momento do processo de recuperação do acervo, em que as fitas são selecionadas e passam por um equipamento que retira as im- purezas da superfície da fita, por fricção. Nessa etapa o operador deve trabalhar de forma dedicada, pois é onde se inicia o trabalho de restauração. O processo de limpeza pode levar muito tempo, pois depende do estado de oxi- dação da superfície das mídias. No caso das fitas em formato U-Matic e Betacam, ocorre, ainda, uma frequente deterioração do suporte, com rompimento das fitas e quebra de bobinas ou caixas. O processo de limpeza é manual e individual, ou seja, uma fita por vez. Eventualmente, é possível utilizar álcool isopropílico para a remoção de resíduos mais resistentes. Após a limpeza, as fitas seguem para o “ingest”, um equipamento que transforma as imagens e sons em bits e bytes (digitalização). Este ingest é feito em tempo real, ou seja, se o programa tem uma hora de duração, será digitalizado em uma hora. Os sinais digitais armazenados em servidor podem, então, ser resgatados para uma ilha de edição, onde se faz a restauração das imagens e sons, de forma que o material volte a recuperar as características técnicas necessárias à sua veiculação, se for o caso. Nesta etapa são efetuados procedimentos de correção de cor, brilho e luminosidade, redu-
  • 17. 17 ção de defeitos provocados pelo tempo, como os drop-outs e centelhamentos apresentados no vídeo. O tempo do processo de edição é relativo, quando se trata de vídeos em estado precário, porém para os vídeos que apresentam melhor estado de conservação, pode levar de um a dois dias. Após a restauração, os programas são decupados, por meio da descrição das ima- gens e catalogados no sistema iAcervo. Importante destacar que as mídias analógicas con- tinuarão armazenadas em acervo, pois acredita-se que a evolução tecnológica poderá tra- zer novas soluções e formas de digitalização mais perfeitas do que as atualmente existentes. Os primeiros programas a serem recuperados para mídias digitais foram os que se encontravam armazenados em suporte U-Matic, que representam as séries realizadas pela TV Educativa do Rio de Janeiro no início da década de 1980 a meados dos anos 1990. A escolha desse material como prioridade se deve à acelerada deterioração não só da mídia de suporte (fitas), mas, principalmente dos equipamentos de limpeza e reprodução, cujos componentes há muito deixaram de ser fabricados pela indústria. Utilizando esta metodologia, já foram digitalizados 736 programas do acervo, para utilização na programação da emissora, tanto nos programas jornalísticos como em especiais, veiculados em datas comemorativas, a exemplo das séries Bossa Sempre Nova (2009) e Re- vista Brasil (2010) – em que o acervo representa, em média, 40% do tempo total de produção. Acesso público Um dos principais objetivos desse trabalho de resgate dos programas e imagens históricas que fizeram parte do processo de construção da televisão pública no Brasil é tornar esses acervos acessíveis à população brasileira.
  • 18. 18 O acesso principal ainda é a própria grade de programação da TV Brasil, onde são veiculadas imagens recuperadas e os programas especiais já mencionados. Em 2010, o acervo ganhou ainda mais visibilidade na grade de programação em dois projetos bem-sucedidos. A primeira experiência foi a série de interprogramas, bati- zada: Televisão Faz Bem à Memória. Veiculados nos intervalos da programação, esses in- terprogramas fizeram referência a momentos marcantes dos musicais realizados pela TV Educativa do Rio de Janeiro em sua história. Alguns exemplos estão no DVD que constitui o anexo II. Ainda em 2010, o acervo conquistou outro espaço importante na programação, com a série Musicograma, que consiste na releitura de programas históricos e é realizado com 100% de material de arquivo. O objetivo do programa é apresentar os grandes ícones da música popular brasileira às novas gerações, conforme o texto de divulgação abaixo reproduzido: MUSICOGRAMA Nova série musical da TV Brasil estreia no dia 3 de maio Apresentar a música popular brasileira às novas gerações. Esta é a proposta de Musicograma, nova série musical da TV Brasil que resgata a história dessa arte, a partir da digitalização do acervo da emissora. O programa semanal, que estreia no dia 3 de maio, à 0h30, traz em cada episódio dois grandes nomes da MPB. São imagens únicas como o duo de Rafael Rabelo e Elizeth Cardoso em um show no Teatro João Caetano, no início dos anos 80. Outra preciosidade é o dueto de Lúcio Alves e Dick Farney cantando a música Tereza da Praia, de Tom Jobim e Billy Blanco, no episódio ‘Precursores da Bossa Nova’.
  • 19. 19 A origem mineira de Clara Nunes e João Bosco; a autenticidade da música regional de Gonzagão que influenciou seu filho, Gonzaguinha; o amor pela escola de samba Man- gueira, cantado por Cartola e por Beth Carvalho. Essas relações, que vão além da música, entre dois artistas são a base da linha narrativa do programa. Cada edição de 30 minutos possui um tema voltado para o viés regional, herança musical, escolas de samba, duos, instrumentos, entre outros. Além dos musicais, os episódios também exibem depoimentos e curiosidades revestidos com uma roupagem contemporânea. Na estreia, o episódio “As Minas Gerais de Clara Nunes e João Bosco” mostra cenas de um especial de fim de ano com Clara Nunes, em 1979, gravadas no Parque da Cidade, no Rio de Janeiro. No especial, a música Guerreira, de Clara Nunes, é filmada em um plano sequência que dura mais de 2 minutos sem cortes numa linguagem cinematográfica. A cena foi produzida pelo jornalista, compositor e radialista Fernando Lobo, e a fotografia é de José Guerra, o Guer- rinha. No mesmo programa, imagens de João Bosco em uma roda de samba cantando “Linha de Passe”. E a primeira interpretação do músico de “O Bêbado e o Equilibrista”. Segundo o diretor do programa, Luiz Carlos Pires, cada musical guarda uma história. São quase200.000horasdematerial,quevemsendorecuperadodesde2006.Asimagenspassarampor umprocessodedigitalizaçãorealizadoporumaequipeespecializadadaemissora.Oáudiotambém recebeu uma atenção especial. Musicograma revela um precioso acervo audiovisual, momentos históricos da MPB de um tempo que já se passou, mas que nunca poderá ser esquecido! Nos próximos programas Luiz Gonzaga reconta a sua vida em uma música de mais de sete minutos. À vonta- de no Morro da Mangueira, Cartola ao lado de Dona Zica. Moreira da Silva e Jards Macalé dividem o palco no Projeto Pixinguinha.
  • 20. 20 Essas e outras cenas memoráveis da música popular brasileira poderão ser vistas pelo público no Musicograma, nova série musical da TV Brasil. O projeto só foi possível gra- ças ao trabalho de recuperação, restauração e digitalização do acervo da antiga TVE, feito pela equipe da Gerente-Executiva de Acervo e Conhecimento, Lacy Barca. Um dos maiores acervos do país dentro do tema, segundo o diretor do Musicograma, o veterano Luiz Carlos Pires. “Programas sobre música são uma tradição na TV pública brasileira. A TVE sempre teve e a TV Brasil vai manter isso”, comenta. Diretor da antiga TV Educativa durante as décadas de 70 e 80, o próprio Luiz Carlos Pires ajudou a montar parte desse acervo que hoje serve de fonte para o Musicograma. Entre outros profissionais, Pires também lembra o trabalho de Dermeval Netto, Hermínio Bello de Carvalho e Carlos Alberto Loffler, na direção de musicais. Sobre a concepção do programa, ele explica que, a cada episódio de meia hora, serão exibidos momentos de dois nomes da Música Popular Brasileira, unidos por um vín- culo comum. Essa ligação pode ser feita de várias maneiras. “Podem ser ligações regio- nais, como ‘As Minas Gerais de Clara Nunes e João Bosco’, familiares, como ‘Gonzagão e Gonzaguinha’, ou instrumental, como ‘o violão de sete cordas de Rafael Rebello e Yamandu Costa’”, exemplifica. Para Luiz Carlos Pires, a escolha de falar de dois artistas ao mesmo tempo enrique- ce a proposta. “Falar de uma pessoa só seria cômodo, mas com duas nós podemos fazer links, acrescentar informações”. Como exemplo, Pires cita o programa sobre Cartola e Beth Carvalho. “Temos o compositor e a Beth, que ajudou a popularizá-lo. Podemos ver os dois interpretando “As Rosas Não Falam”. Um valoriza o outro”, defende. Além do material com depoimentos e apresentações do acervo digitalizado, serão adicionados dados e curiosidades sobre os artistas. “O programa tem uma linguagem mais
  • 21. 21 pop. Toda a programação visual é feita para dar uma cara nova às imagens de acervo, mui- tas bastante antigas.”, explica Pires. A recuperação dos musicais, no entanto, não significa que as novidades da MPB vão ficar de fora. “O acervo não significa apenas coisa velha. Vale usar o material do ano passado. Temos um bem recente, por exemplo, que vai falar sobre a nova Lapa de Teresa Cristina e Roberta Sá”, ressalva. Espaço cultural Para possibilitar o acesso do grande público ao material já digitalizado, a ACERP inaugurou, na Rua da Relação 18, um Espaço Cultural, que reúne amostras dos programas históricos da TV Educativa do Rio de Janeiro, em módulos multimídia e está aberto a visita- ção de segunda a sexta-feira, de 09 às 18 horas. Os próximos passos do trabalho da Gerência-Executiva de Acervo e Conhecimento consistem na edição de um catálogo virtual, que possibilitará que todos os brasileiros con- sultem o conteúdo do acervo audiovisual da Empresa Brasil de Comunicação.
  • 22. 22 Equipe de trabalho Rio de Janeiro Adilson Gonçalves Rodrigues Junior Alexandra Soares Lima Oliveira – Líder do Núcleo de Pesquisa e Recuperação de Acervo Alexandre de Souza Oliveira Alexandre Lemos Cordeiro Sayd Anderson de Oliveira Gonçalves Bruno Pereira Rasga – Líder do Núcleo de Sele- ção e Arquivo de Imagens Carlos José Pereira Portela Débora Antunes Costa Dilceia Norberto de Oliveira Eduardo Chataignier Campos Eduardo da Silva Durães Eraldo Vianna Siqueira Flávia de Azevedo Menna Barreto Íris Martins de Farias Isadora Pessoa Fernandes Jônatas Ribeiro Barbosa Lacy Barca – Gerente-Executiva de Acervo e Co- nhecimento Leonardo Aquino Freitas de Miranda Leonardo Manhães de Oliveira Marjourie Andreza de Araújo Cruz Marques Max Peter Pereira Nette Melissa Duarte dos Santos Noemi Nunes Vieira – Líder do Núcleo de Docu- mentação Raian Schoenardie Faller Raimundo Fernandes de Aquino Rosemary de Cássia S. de Araújo Sérgio Ney de Carvalho Cardoso – Líder do Nú- cleo de Tráfego de Mídias Sueli Garcia de Oliveira
  • 23. 23 Thiago Pereira Dias Estagiários: Caroline Thomaz Pereira Felipe Martins dos Santos Lucas Batal Monteiro Ferreira Michel Tork Monteiro Renato Pereira Palhano Valquíria Guedes Brasília Abraão Guimarães dos Santos Alcebiades Ferreira do Nascimento Anielle Gerliana Torres da Silva Alvimar Rosa de Souza Cristiano Ferreira dos Reis Cristina Joana da Silva Melo Diego Bryan das Neves Bezerra Diogo Barbosa de Freitas José Valmir Alves Barbosa José Vieira de Moraes Ludmila Ilário Araújo de Oliveira Luiz Saturnino de Oliveira Mardey Ribeiro do Couto – Coordenador do Acer- vo no Distrito Federal Maria Aparecida Eugênia da Silva Mauro Augusto da Silva Nathália Paccelli Pedro Olinda de Souza Antônio Paloma Alves Marcelino Sueli Barbosa Ribeiro Tyrone Cristian Freire de Alencar William da Silva Machado Estagiárias: Janaína de Oliveira Silva Flávia Dias São Paulo Fábio Fernandes de Albuquerque Otávio Pieri