Sinopse:
A Insígnia de Claymor
Europa, Idade Média
Jehanie Claymor é uma jovem Lady que cresceu protegida pelo amor incestuoso do irmão Alexei. Sem conhecer os perigos e maldades da época, ela foi mimada e amada ao extremo. Mas, em uma viagem em que abandona o castelo de seu pai para ir de encontro ao seu noivo Garreth, vê todas as suas ilusões românticas chegando ao fim.
Sir Daniel Trent só busca vingança. Sua irmã mais jovem foi seduzida pelo cavaleiro Alexei Claymor, e abandonada por ele após engravidar. Sem esperança, a jovem matou-se, deixando Trent com a incumbência de limpar sua honra. No entanto, seu destino muda completamente ao encontrar uma jovem que perdeu a memória.
...E assim, sem saber, ele acaba se apaixonando pela irmã de seu maior inimigo...
1. A Insígnia de Claymor
Prólogo
Final da Idade Média, Europa.
Os gritos repetiram-se durante toda à tarde e noite. Eram agonizantes,
lamuriosos e demonstravam com realidade a dor que Lady Josephine
sentia. O som seco e constante fez o castelo de Claymor cair em um
silêncio sepulcral.
Na ante sala do castelo, uma dupla de homens sentava-se próximo a uma
lareira. Nenhum dele tecia nenhum comentário sobre a dor da mulher e
nenhuma emoção partia da parte masculina perante o sofrimento da
Lady que gemia no quarto.
Ao lado da cadeira do Lord, uma criança de cinco anos observava a frieza
dos adultos. O menino era loiro e de intensos olhos azuis. Seu aspecto era
idêntico ao da mãe, Natasha, russa que veio de suas terras para se casar
com Albert, o imponente homem que bebia ao seu lado.
Albert Claymor amou Natasha e amava seu herdeiro com a intensidade
de um homem de sangue quente. Mas o destino quis que a bela e loira
russa viesse a falecer num acidente com os cavalos. Dois anos depois ele
se casou novamente, mais para satisfazer os desejos da carne do que por
amor ou pelo dinheiro que o pai de Josephine lhe oferecera. Apesar da
independência, Albert nunca se sentiu a vontade para procurar aliviar
sua tensão sexual na vila, portanto a única coisa a fazer seria arrumar
uma esposa.
Conheceu Josephine na corte francesa, e notou que poderia desejá-la. A
jovem mulher tinha cabelos tão vermelhos quanto o sangue e olhos tão
2. azuis quanto o céu ao amanhecer. E era tão pacifica quanto uma morta.
Nunca se negou a nada, e quando engravidou, mal sorriu.
-Acho que ela vai morrer... – murmurou ao homem a sua frente.
-É o primeiro filho dela. O primeiro parto é sempre difícil – respondeu
Adam, amigo e leal cavaleiro que servia a Albert.
Os olhos de Lord Claymor demonstraram descrença.
-Josephine é mais frágil que uma pena. Tenho certeza de que não
aguentara parir um bebê. Eu a avisei de que se protegesse com as ervas
para não ficar prenhe, mas ela não me ouviu. Não queria mais um filho,
pois já tenho um herdeiro – falou e apontou com a cabeça o menino loiro.
Alexei Claymor, a criança, tentava compreender porque seu pai
aparentava não se importar com Josephine, já que a madrasta era uma
boa pessoa. Sem sucesso, apenas foi ao colo de Albert como se precisasse
saber se o pai mantinha com ele o mesmo sentimento que nutria pela
madrasta.
Para seu alívio, o homem de cabelos escuros sorriu ao notar o menino no
seu colo. Não... ele não amava Josephine, mas idolatrava Alexei. Seu
sangue e sangue de Natasha!
Um grito mais agudo encheu o ar, e então houve silêncio. Pareciam que
na sala todos ficaram aliviados ao notar que não mais Josephine os
incomodava com sua dor. Ninguém se levantou para ver o que tinha
acontecido; portanto, o garoto estava curioso. Demorou cerca de cinco
minutos até alguém se aproximar. A velha parteira do vilarejo foi
caminhando em direção aos homens. Alexei assustou-se imediatamente
ao vê-la coberta de sangue e então se apertou mais ao pai.
-Milady não resistiu – balbuciou a mulher.
3. Albert pegou um cálice com rum que estava em uma mesa ao lado e
bebeu tranquilamente. Nenhuma palavra nem gesto. Quando por fim se
pronunciou, perguntou:
-E a criança?
-Está viva.
O Lord não sabia se ficava aliviado ou não com a informação. Retirando o
menino de suas pernas, ele se levantou.
-É um menino? – perguntou esperando uma boa notícia.
-É uma menina.
Segurando um palavrão que dançou em seus lábios, Albert olhou para o
amigo Adam que erguia as sobrancelhas esperando uma ordem. A ordem
não veio.
-Uma menina! Era só o que faltava! Por que Deus me enviou uma
menina? Um filho mais jovem eu poderia mandar para as guerras ou
entregar a Igreja, mas uma filha só me trará problemas. Terei que criá-la
para depois entregá-la a qualquer homem que a vai tratar como todos os
homens tratam as mulheres: como cães!
Sem entender o porquê, Alexei sentiu que não queria que a menina fosse
tratada como um animal.
-Isso se o marido não bater nela. A Igreja até esta apoiando essas atitudes
para que o homem mantenha o controle de sua casa – completou Adam,
secamente.
Albert caminhou até uma janela e observou a noite que se tornava cada
vez mais densa.
-Milord deseja que eu me desfaça da menina? – perguntou a velha, sem
piedade.
4. Pratica comum, ele sabia. Mas era religioso. Um intelectual que estudou
grego, latim (obviamente escondido dos padres e escribas) e aramaico não
poderia se fazer de desentendido quando se encontrasse com o Todo
Poderoso no juízo final. Além disso, temia os castigos que Deus pudesse
lhe enviar se mandasse matar a menina.
-Não. Arrume uma ama de leite.
A ordem foi acatada com servidão. Agachando-se a mulher retirou-se do
aposento.
Voltando para a mesa a fim de beber mais, Albert não notou que o
menino Alexei deixou a sala e seguiu a velha corcunda.
Os passos o levaram até o quarto de Josephine. Assustado ele viu a
madrasta atirada sobre a cama, os olhos abertos e marcas de lágrimas em
sua face. Mesmo ainda inocente demais para entender a morte e a
maneira como a madrasta veio a falecer, Alexei sentiu piedade. Quis se
aproximar, mas lhe faltava coragem. Foi neste momento que a velha
parteira notou o menino. Pela primeira vez naquele dia, ela sorriu.
-O jovem Lord Alexei quer conhecer sua irmã?
Um tanto receoso, aproximou-se da velha e observou que a mesma tinha
um embrulho nas mãos. Era uma criança que chorava baixo, e mexia as
mãos como se procurasse por algo.
Quando a parteira curvou-se, ele viu o pequeno ser, inteiramente
vermelho e tristonho.
Completamente só e desamparado.
E, naquele momento, Alexei a amou.
E não foi um amor fraterno.
Era um amor de homem para com uma mulher.