1) O autor sente que perdeu a alegria e espontaneidade do Dia das Crianças ao amadurecer.
2) Ele sempre quis manter seu espírito jovem quando criança, mas descobriu que a juventude da alma é efêmera.
3) O autor questiona se poderá encontrar sua juventude interior novamente ou se terá que passar os Dias das Crianças como dias normais de adulto sem graça.
1. …E a mágica da data, que antes tinha um ar tão festivo e tão
descontraído, se tornou só mais um dia, como todos os outros.
Cade toda a alegria e espontaneidade que o dia das crianças
causava em mim? Onde foi parar a felicidade com gosto de
pirulito que subitamente subia pelas minas veias, encharcando
meus poros de pura vitalidade de criança? Ano passado mesmo,
ainda me lembro com facilidade de como meus olhos brilhavam
simplesmente por eu me sentir ainda uma criança. É, acho que
a criança em mim cresceu.
Sempre pensei, ainda quando eu era criança – pelo menos
criança de alma -, que queria permanecer sempre assim. Manter
meu espírito jovem, pra que nos anos finais da minha vida, eu
pudesse percorrer na memória, todos os meus anos bem vividos
e felizes. Mas acabo por descobrir que assim como a beleza e
a felicidade, a juventude da alma também é efémera.
Mas, então o que há com aqueles velhinhos, que vivem com
olhos cheios de brilho, se não é a juventude preservada como
num frasco, sempre fresca? Pensando por algum tempo, não
consigo e nem posso descobrir a resposta, não ainda. É que
ainda sou um recém adulto, e dessa forma preciso aprender a
viver na realidade de um adulto. Dessa forma, tudo é novo.
Então, será que quando eu enjoar dessa nova forma de ver a
vida, com toda a seriedade e maturidade, poderei eu
reencontrar dentro de mim, escondida em um canto escuro que
nem havia percebido antes, um frasco de juventude? Ou quem
sabe um jarro, para durar até o fim da vida?
Como passarei os outros Dias das Crianças até lá então? Como
um outro dia qualquer? Como um domingo chato no meio da
semana, já que por ser feriado, ninguém sente vontade de
fazer nada além de ficar em casa? Sentado no sofá assistindo
a programação da tarde na TV? Monotonia não me faz bem, pois
se no dia-a-dia comum já fico exausto com tantas vidas, que
eu mesmo protagonizo todas, e mesmo assim não consigo dizer
que não sou eu.
Ah! Me sinto velho reclamando. Será que assim eu encontro o
jarro que tanto desejo pro dia das crianças? Não quero
2. parecer que não me satisfaço com o que tenho. É só a saudade
dos dias alegres e felizes, quando o meu espírito era de uma
criança ainda, e é dele quem mais sinto falta agora. Nunca
desejei tanto ser mais criança do que desejo hoje. Só que
hoje não é natal e Papai Noel não existe. É dia das crianças
e eu sou adulto.