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1- INTRODUÇÃO
O Dobrado é o gênero musical preferido e mais identificado com a Banda de Música. A
banda de música, como a conhecemos hoje, surgiu no Século XIX no Brasil e, desde
então, tem tido importante papel em Minas Gerais, não apenas do ponto de vista
musical, mas também de inserção social de seus participantes e de preservação da
memória cultural do povo, especialmente no interior do estado. Além de promover
entretenimento à população de cidades, vilas e vilarejos, as Bandas funcionam como
verdadeiros Conservatórios, sendo responsáveis pela formação da maioria dos
músicos das bandas militares e naipes de sopro de orquestras sinfônicas (ANDRADE,
1988, p.56).
Entre os compositores mineiros de música para banda, destaca-se João Cavalcante
(1902-1985), em cujos dobrados, a tuba não se limita a fazer uma simples marcação
nos tempos fortes do compasso. Ao contrário, realiza solos, desempenhando assim
uma função diferente do que se costuma ver e ouvir em dobrados.
Meu primeiro contato com a obra de João Cavalcante se deu durante o curso de
música na Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais. O dobrado
Pretensioso constava do repertório da Banda Sinfônica da EMUFMG e a sofisticada
parte da tuba me chamou a atenção, pois desde o início de meus estudos na banda de
música da cidade de Paula Cândido-MG, não tinha ouvido um dobrado com aquela
característica. Posteriormente, tomei contato com o dobrado Seresteiro na Banda do
SESI-MG, onde o compositor também explora o potencial solístico da tuba.
Nos livros que tratam de bandas de música, pude constatar que como outros
compositores mineiros, João Cavalcante tem sido negligenciado pelos musicólogos.
Nenhum dado foi encontrado sobre o compositor em livros referenciais como a
Enciclopédia da música brasileira: erudita, popular e folclórica (MARCONDES ed.,
1998), A História da música no Brasil (MARIZ, 2000) ou o Catálogo de manuscritos
musicais presentes no acervo do maestro Vespasiano Gregório dos Santos (MIRANDA,
1994).
2
O Estado de Minas Gerais é conhecido por ter o maior número de bandas no Brasil,
mas, contraditoriamente, os compositores de seu principal repertório permanecem
ignorados. O estudo da obra de João Cavalcante busca, por isso, não apenas revelar
as características peculiares de seus dobrados, mas também resgatar sua importância
no meio musical, principalmente entre os próprios músicos de banda.
Os procedimentos metodológicos nesse estudo incluem: 1- Revisão bibliográfica sobre
bandas de música; 2- Levantamento de partituras em arquivos de bandas; 3-
Entrevistas com a filha do compositor e com músicos que tiveram sua formação
musical inicial em bandas de música e que conheceram ou trabalharam com o maestro
e compositor João Cavalcante; 4-Levantamento e catalogação de seus dobrados; 5-
Seleção de dobrados tradicionais e de João Cavalcante e realização de uma análise
comparativa entre as partes de tuba; 6- Discutir a utilização diferenciada da tuba nos
dobrados Seresteiro, Saudades e Pretensioso.
Através de uma análise formal, fraseológica, motívica e das partes de tuba de dobrados
tradicionais e de João Cavalcante, pretende-se mostrar a diferente utilização da tuba
nos dobrados Seresteiro, Saudades e Pretensioso.
3
1.1- A banda de retreta
A banda de retreta, há muito tempo também conhecida simplesmente como banda de
música, é uma das mais antigas e menos estudadas instituições ligadas à criação e
divulgação da música de cunho popular no Brasil. Quase sempre abandonadas ou
esquecidas, sobrevivem principalmente graças ao esforço e determinação de seus
músicos e maestros.
A banda de retreta brasileira surgiu no século XIX com a vinda de D. João VI para o
Brasil. Antes disso, haviam os chamados ternos (grupos de madeiras, metais e
percussão) e as bandas de barbeiros, que eram bandas formadas por ex-escravos que
tocavam de ouvido (TINHORÃO, 1997, p.140). Com a decadência da economia de
exploração do ouro, as bandas herdam o serviço musical religioso que antes era
executado pelas orquestras. Assim, as bandas proliferaram e tornou-se comum, cada
vila ter ou buscar a formação destes grupos musicais. A banda de música continua
sendo uma importante fonte de música para a comunidade, servindo como importante
veículo de cultura, entretenimento e funções sociais em eventos comemorativos e
significativos, como festas cívicas e religiosas, saudações a autoridades ou pessoas
ilustres e abertura de jogos esportivos (REZENDE, 1989, p.666). Nas cidades do
interior, onde não existem conservatórios ou escolas de música, as bandas funcionam
como centros formadores de músicos, sendo ainda responsáveis pela formação da
maioria dos músicos das Bandas Militares e Orquestras Sinfônicas do país. É também
importante meio de estímulo de composição e veiculação de obras de autores locais.
Muitas dessas obras são dedicadas a pessoas da comunidade, parentes e amigos, ou
relacionadas a eventos ou fatos importantes, contribuindo assim na preservação e
reconstrução da história das comunidades.
Minas Gerais é o estado brasileiro com maior número de bandas de música, dado
apresentado pela Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais (2004) e
corroborado pela FUNARTE (2004). Desde 1981, a Secretaria de Estado da Cultura de
Minas Gerais vem cadastrando as bandas mineiras e hoje já são mais de seiscentas
bandas catalogadas.
4
Ex.1 – Foto histórica da Sociedade Musical União Social de Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto
(Arquivo da Sociedade Musical União Social de Cachoeira do Campo).
Bandas centenárias, como a União XV de Novembro de Mariana, a Sociedade Musical
Carlos Gomes de Belo Horizonte, a Sociedade Musical União Social e a Banda de
Música Euterpe Cachoeirense de Cachoeira do Campo (Distrito de Ouro Preto), estão
entre as mais importantes instituições musicais que colaboram na difusão da cultura
musical, na formação de novos músicos e na preservação da história mineira como um
todo.
Ex 2. – Foto histórica da Banda de Música Euterpe Cachoeirense de Cachoeira do Campo, distrito de
Ouro Preto (Arquivo da Sociedade Musical União Social de Cachoeira do Campo).
Uma banda de música compõe-se prioritariamente de instrumentos de metais, de
palhetas e de percussão em sua formação mais tradicional. No repertório tradicional de
bandas, seja de composições originais ou de arranjos, os instrumentos tendem a
5
exercer uma mesma função e de maneira bastante estratificada. Desse modo,
instrumentos como a flauta, a clarineta, o sax alto e os trompetes geralmente fazem as
melodias. Os trompetes também são reservados para momentos de maior brilho como
nos fortes ou nos tutti. O trombone pode tanto reforçar a melodia quanto fazer
contracantos junto com o sax tenor, o que pode também ser realizado pelo
bombardino. Já a tuba limita-se à marcação dos tempos, especialmente os tempos
fortes, e seu caráter percussivo ocasionalmente incorpora simples passagens
escalares ou arpejadas que acontecem, na maioria das vezes, entre os graus da tônica
e da dominante. O naipe de percussão, ou bateria como é chamado nas bandas de
retreta, compõe-se de bombo, surdo, caixa e pratos, sendo que cada um destes
desempenha as funções específicas de marcação, repique e brilho nos clímax,
respectivamente. O conjunto da bateria, no repertório de banda brasileiro, quase nunca
tem suas partes cavadas. Geralmente, os compositores anotam somente “bateria” nas
grades e os músicos tocam de ouvido.
1.2- O dobrado
A banda de música conta com um repertório muito eclético: valsas, polcas, choros,
tangos, maxixes, sambas e marchas entre outros gêneros. No entanto, o gênero
preferido e mais profundamente identificado com o som das bandas é, sem dúvida, o
dobrado. Nos arquivos das bandas, os dobrados predominam, o que, segundo Regis
Duprat, citado por GRANJA, (1984, p.119), justifica-se por ser o dobrado um gênero
criado especificamente para ser tocado por esse grupo instrumental.
A origem do dobrado remonta às músicas militares européias: pasodoble ou marcha
redobrada para os espanhóis; pas-redoublé para os franceses ou passo doppio para os
italianos (GRANJA, 1984, p. 119). Pasodoble é uma referência ao passo acelerado da
infantaria. O dobrado geralmente aparece em andamento rápido e em compasso
binário 2
/4 ou, menos freqüentemente, 6
/8.
Em relação à forma, o dobrado geralmente é dividido em três seções principais, (A, B,
e C, esta última também chamada de Trio), precedidas por uma Introdução curta e em
dinâmica forte, geralmente com a extensão de oito compassos.Cada uma das seções
principais do dobrado é sempre tocada com repetição antes de se passar à seção
6
seguinte, exceto pela última apresentação da Seção A, o que é uma referência à forma
do rondó, conforme o esquema mostrado no Ex.3.
(Trio)
Introdução ║A :║ ║B:║ ║A║ ║ C: ║ ║ A ║
Ex. 3 – Esquema formal do dobrado
Quando a tonalidade inicial é maior, o mais comum é manter a tonalidade inicial nas
seções A e B, modulando apenas no Trio, geralmente para o tom da subdominante. No
caso do dobrado ser em tonalidade menor, a Seção B, quase sempre modula para o
tom relativo maior e sua dinâmica é mais forte. O Trio pode ter uma pequena
preparação que também pode funcionar como o arremate da forma descrita acima e,
quando está em tom menor, é comum modular para o tom homônimo maior ou seu
relativo maior. O Trio se caracteriza por um textura mais leve e pela presença de duas
melodias simultâneas de igual importância. Geralmente esse contracanto, como é
chamado no jargão das bandas, é feito pelo bombardino. Após o Trio, o procedimento
mais comum para finalizar a peça é fazer um Da Capo, tocando a Seção A sem
repetição.
1.3- João Cavalcante
O compositor e maestro João Cavalcante nasceu em Passagem de Mariana, Minas
Gerais, a 18 de maio de 1902. Aos 16 anos de idade já regia a Banda de Música de
sua terra natal, dedicando-se também à composição. Iniciou sua vida profissional em
Ouro Preto, trasferindo-se depois para Belo Horizonte, onde formou-se no
Conservatório Mineiro de Música, atual Escola de Música da Universidade Federal de
Minas Gerais. Ali, foi aluno dos maestros Francisco Nunes, no curso de Harmonia, e
Assis Republicano, no curso de Contraponto e Fuga. Transferiu-se para São João del
Rei como Mestre da Banda de Música do Regimento Tiradentes, onde fundou a
Sociedade de Concertos Sinfônicos nessa cidade.
7
Ex. 4 –- O compositor e maestro João Cavalcante
No Rio de Janeiro, foi aluno de Heitor Villa-Lobos em curso de canto coral, formação
que lhe permitiu formar vários corais em São João del Rei e Belo Horizonte. Em Belo
Horizonte, fundou a Orquestra Sinfônica Mineira com a qual, durante 15 anos
consecutivos, realizou a Temporada Oficial de Operetas. Compositor eclético escreveu
para diversas formações, como orquestra sinfônica, coro, música de câmara, piano,
música religiosa e banda de música. João Cavalcante faleceu no dia 14 agosto de
1985, aos 83 anos de idade.
Toda a sua produção musical, exceto pela peça Salve para piano e canto, publicada
pelas Casas Carlos Gomes em 1929, ainda encontra-se na forma manuscrita. Também
não há ainda uma catalogação de suas obras e, neste estudo é apresentada uma
catalogação de seus dobrados apenas. Seu acervo encontra-se dividido entre os
acervos de sua filha, a violista Ivone Cavalcante e o acervo da Sociedade de Concertos
Sinfônicos na cidade de São João del Rei. Cópias de seus dobrados e de várias outras
obras também constam do acervo da Biblioteca da Escola de Música da UFRJ (Centro
de Letras e Artes).
1.4- Os dobrados de João Cavalcante
João Cavalcante compôs 23 dobrados, produção que se concentrou entre os anos de
1926 e 1940. Seus dobrados têm uma construção musical bem elaborada onde as
8
possibilidades técnico-musicais dos instrumentos são bem exploradas, recorrendo com
freqüência à escrita contrapontística. A tuba, instrumento sempre colocado em segundo
plano, para fazer meramente a marcação de tônicas e dominantes dos acordes, tem
nos dobrados de João Cavalcante um papel de destaque. Isso se verifica claramente
em seus dobrados Seresteiro (data de composição inexistente), Pretensioso (1937) e
Saudades (1940), onde a tuba participa como um dos principais solistas.
No que se refere à instrumentação, a escrita de João Cavalcante tornou-se
gradualmente mais arrojada. Em seus primeiros dobrados, sua escrita é bem
tradicional quanto aos instrumentos empregados: trompetes, clarinetas e saxofones,
que são comuns em todas as bandas. Sua curiosidade e atenção a timbres pouco
comuns, entretanto, o levou a utilizar instrumentos como bugles (ou flugelhorn) e
cornetins, que são da família do trompete. Além destes utilizou o clarone (clarineta
baixo) e o sax-barítono, que não são comuns em pequenas bandas.
9
2- COMPARAÇÃO ENTRE DOBRADOS TRADICIONAIS E OS DOBRADOS
SERESTEIRO, SAUDADES E PRETENSIOSO DE JOÃO CAVALCANTE
Os dobrados 220¸ composto por Antônio Manuel do Espírito Santo e Batista de Melo,
composto por Matias de Almeida, estão entre os mais tradicionais do repertório de
bandas. O dobrado 220 tem a mesma música da canção de versos anônimos Avante
Camaradas, que por sua vez, é também conhecido pelo nome Brigada Ferreira. Já o
dobrado Batista de Melo foi composto a partir de um pedido do Senador da República
Joaquim Batista de Melo ao compositor Matias de Almeida para celebrar a posse do
Marechal Hermes da Fonseca, eleito Presidente do Brasil em 1910. Ambos 220 e
Batista de Melo apresentam o mesmo esquema tonal característico dos dobrados em
tom menor: a Introdução e a Seção A na tonalidade principal (Fá menor) e as Seções B
e Trio, ambas no tom relativo maior (Lá b maior). Os dobrados de João Cavalcante
selecionados para este estudo também são em tonalidades menores, mas seus
esquemas tonais diferem dos tradicionais (Ex.5).
Dobrados Tradicionais
Título Introdução A B A Trio A
220 Fá m (i) Fá m (i) Lá b (III) Fá m (i) Lá b (III) Fá m (i)
Batista de Melo Fá m (i) Fá m (i) Lá b (III) Fá m (i) Lá b (III) Fá m (i)
Dobrados de João Cavalcante
Título Introdução A B A Trio A
Saudades Dó m (i) Dó m (i) Mi b (III) Dó m (i) Dó M(I) Dó m (i)
Pretensioso Dó m (i) Dó m (i) Mi b (III) Dó m (i) Lá b (VI) Dó m (i)
Seresteiro Rem(i) –
Solm(iv)–
Rem(i)
Ré m (i) Ré m (i) Ré m (i) Si b (VI) Ré m (i)
Ex.5 – Esquema tonal de dobrados tradicionais (220 e Batista de Melo) e os dobrados Saudades,
Pretensioso e Seresteiro de João Cavalcante.
Observando a estrutura apresentada no Ex. 5, nota-se que o esquema tonal dos
dobrados tradicionais 220 e Batista de Melo é idêntica:
Introdução e Seção A → Fá menor
Seção B → Lá bemol maior, ou seja, relativo maior da Seção A
Trio → Lá bemol maior (relativo maior)
10
Já os dobrados de João Cavalcante, têm a estrutura um pouco diferente entre eles:
Dobrado Saudades:
Introdução e Seção A → Dó menor
Seção B → Mi bemol maior (relativo maior)
Trio → Dó maior
Dobrado Pretensioso:
Introdução e Seção A → Dó menor
Seção B → Mi bemol maior (relativo maior)
Trio → Lá bemol maior
Observa-se que o esquema harmônico do dobrado Pretensioso difere do dobrado
Saudades no Trio. João Cavalcante fecha Saudades com o homônimo maior do tom
(Dó maior) e Pretensioso com a submediante (Lá bemol maior) numa modulação em
que o relativo maior (Mi bemol maior) é utilizado como dominante.
No dobrado Seresteiro é que notamos uma diferença maior em relação à estrutura
harmônica. Primeiro, apesar da Introdução ser em Ré menor, esta não se inicia no
acorde da tônica (que só aparece no c.9), mas no acorde de sétimo grau menor (sub-
tônica). Segundo, ao contrário das típicas introduções de dobrados, a Introdução de
Seresteiro prossegue em meio a uma seqüência harmônica pouco comum (veja Ex. 9
abaixo) modulando para Sol menor e só retornando ao acorde de tônica no c.20.
Introdução → Ré menor
Seções A e B → Ré menor
Trio → Si bemol maior (sexto grau abaixado)
Segundo, porque as Seções A e B têm a mesma tonalidade.
Uma das características marcantes dos dobrados tradicionais é o caráter afirmativo de
suas introduções, sempre em dinâmica forte, sendo um dos poucos momentos em que
a tuba ganha a oportunidade de realizar trechos mais melódicos, embora não como
solista (Ex.6 e Ex.7). Esta tradição é observada por João Cavalcante (Ex.8, Ex.9.
Ex.10), embora busque uma maior democratização entre os instrumentos, o que resulta
em um contraponto em que a tuba, às vezes receba uma parte menos movimentada,
reservando seu destaque para as seções internas do dobrado.
11
Ex.6 - Parte de tuba (c. 1-22), na introdução do dobrado Batista de Melo.
Ex. 7 – Parte de tuba (c.1-14) na introdução do dobrado 220 de Antônio Manuel do Espírito Santo
Ex.8 - Parte da tuba (c.1-21) na introdução do dobrado Pretensioso de João Cavalcante.
12
Ex. 9 – Parte de tuba e clarinetas (c.1-22) na introdução do dobrado Seresteiro de João Cavalcante.
Ex. 10 – Parte da tuba e clarinetas (c.1-8) na introdução do dobrado Saudades de João Cavalcante.
13
Na Seção A dos dobrados 220 e Batista de Melo, a tuba faz a marcação dos tempos,
especialmente os tempos fortes, realizando desenhos que gravitam entre a tônica e a
dominante, bastante típicos. Em 220 (Ex. 11), a tuba progride da tônica até a
dominante ascendentemente por graus conjuntos e retorna em arpejo que lembra o
baixo de Alberti. Já em Batista de Melo (Ex.12), são utilizados somente notas da tríade,
que partem da dominante para a tônica em movimentos descendentes e ascendentes.
Ex.11- Parte de tuba (c.15-46) da Seção A do dobrado 220.
Ex. 12 – Parte da tuba (c.23-54) na Seção A do dobrado Batista de Melo
14
Na Seção A de Pretensioso João Cavalcante utiliza dois temas, um feito pelas palhetas
e trompetes e outro feito pela tuba conforme se observa no Ex.13.
Ex: 13 – Contraponto entre tuba e clarinetas na Seção A (c.21-38) do dobrado Pretensioso de João
Cavalcante.
O dobrado teve influências de gêneros populares que também surgiram no final do
século XIX, como o choro, por exemplo, que também faz parte do repertório das
bandas. A forma tradicional do dobrado é a mesma do choro. Em seu artigo Análise e
considerações sobre a execução dos choros para piano solo Canhoto e Manhosamente
de Radamés Gnattali, SANTOS (2001, p.6) cita características do choro sistematizados
por ALMEIDA (1999, p.105-131), como baixo condutor harmônico, baixo melódico,
cromatismos e anacruses. No item “Baixos”, são descritos conceitos que se encaixam
perfeitamente nas partes de tuba dos dobrados de João Cavalcante, como o Baixo
Condutor Harmônico que é responsável pela condução das harmonias invertidas,
acumulando em si as funções de realização da linha do baixo, da harmonia e do ritmo,
como pode ser observado, por exemplo, na Seção A de Saudades (Ex.14).
15
Ex. 14 – Parte de tuba da Seção A do dobrado Saudades de João Cavalcante. (c. 9-24)
No dobrado Seresteiro, além da presença do baixo harmônico, encontram-se também
cromatismos na frase da tuba e também uma valorização da anacruse. No Ex.15,
observa-se estes aspectos e também uma maior movimentação na frase da tuba do
que no próprio solo, feito pela flauta.
Ex. 15. – Partes de tuba e flauta na Seção A (c.23-39) do dobrado Seresteiro de João Cavalcante.
Na Seção B dos dobrados Batista de Melo e 220 a tonalidade é no tom relativo maior
de Lá bemol e a marcação da tuba, cuja rítmica é formada apenas padrões repetitivos
e sem nenhum caráter melódico, reforça o caráter marcial dos dobrados. Em Batista de
Melo (Ex.16), a restrição dos ritmos à colcheia e sua pausa, sem nenhuma ligadura de
expressão, criam um acompanhamento de caráter percussivo, cuja monotonia é
quebrada apenas por escassos graus conjuntos como notas de passagem (Fá e Dó no
c.58) ou descida entre o V e IV graus no arpejamento do acorde de sétima da
dominante (c.66).
16
Ex. 16 – Parte de tuba na Seção B do dobrado Batista de Melo. (c. 57-88)
Em 220 (Ex.17), a ligaduras entre os compassos tem a função única de enfatizar a
condução harmônica entre a marcação obsessiva do V grau (Mi b) nas semínimas do
segundo tempo e a tônica (Lá b) ou super-tônica (Si b) nas colcheias do primeiro tempo
do compasso seguinte.
Ex. 17 – Parte de tuba na Seção B (c.60-95) do dobrado 220.
Na Seção B dos dobrados Pretensioso e Saudades, aparece a técnica do contraponto
imitativo como um novo elemento musical e, ao mesmo tempo, confirmando uma
característica também utilizada no choro e que ALMEIDA (1999, p.105-131) chama de
Baixo Melódico. Primeiro em Saudades (Ex.18), a tuba é imitada em toda a seção
pelos cornetins e bugles, tendo o compositor o cuidado de explicitar os acentos que
deixam claro sua intenção.
17
Ex. 18 – Partes de cornetins, bugles e tuba na Seção B (c.43-59) do dobrado
Saudades de João Cavalcante.
Em Pretensioso (Ex.19), João Cavalcante contrapõe a tuba em fortissimo a um tutti de
clarinetas, cornetins e bugles, criando um diálogo em que o “solista” é respondido pelas
forças de acompanhamento, invertendo a lógica natural dos instrumentos e funções
tradicionalmente melódicos e harmônicos no dobrado.
Ex. 19 – Partes de clarineta, cornetins e bugles e tuba na Seção B (c.57-72)
do dobrado Pretensioso.
18
Se no dobrado 220, há um importante solo para a tuba, bem marcial e em dinâmica
forte (Ex.20), já o dobrado Batista de Melo reserva a este instrumento apenas a
tradicional marcação de tônicas e dominantes dos acordes (Ex.21).
Ex. 20 - Parte solística de tuba no Trio (c.103-136) do dobrado 220.
Ex.21 - Parte de tuba no Trio (c.97-132) do dobrado Batista de Melo de Matias de Almeida.
No Trio do dobrado Saudades, observa-se que João Cavalcante cria duas frases
musicais distintas envolvendo a tuba, o que difere da maioria dos dobrados, nos quais
19
geralmente se mantém um único fraseado para a seção. No primeiro trecho (c.72-103),
a tuba faz um desenho em staccato e piano, que lembra as baixarias1
do violão de sete
cordas no choro, dialogando com a melodia principal feita pelas clarinetas (Ex.22).
Ex. 22 – Parte de tuba e clarineta no Trio (c.71-103) do dobrado Saudades
de João Cavalcante.
No segundo trecho do Trio de Saudades (c.103-135), mostrado no Ex.23, a tuba muda
o tipo de fraseado, fazendo outro desenho musical, que é sublinhado pela percussão
que passa a incluir também os pratos, retornando ao típico caráter marcial dos
1
As baixarias são contracantos graves realizados no choro. O termo pode designar: a) a linha formada
pelos baixos da progressão dos acordes em uma determinada passagem; b) um desenho ou gesto
melódico, por parte dos acompanhadores de tessitura grave, que normalmente conduz de um acorde a
outro, que preenche os momentos de maior repouso da melodia principal ou ainda que define um estilo
de levada (BRASIL, p.13).
20
dobrados, valorizado pela dinâmica em fortíssimo e pelas acentuações anotadas na
partitura. Apesar da escrita predominantemente homofônica entre a tuba e a clarineta,
ainda se observam fragmentos dialógicos entre esses instrumentos.
Ex. 23 – Parte de clarineta e tuba no Trio do dobrado Saudades de João Cavalcante. (c. 103-135)
21
No Trio do dobrado Pretensioso, João Cavalcante mantém o destaque da tuba. Para
isso, recorre ao material temático apresentado anteriormente pela própria tuba na
Seção A (c.21), como mostra o Ex.24.
Ex. 24 – Similaridade temática das seções A (c.21) e Trio (c.84) do dobrado Pretensioso de João
Cavalcante na parte de tuba.
Nesse trecho do Trio de Pretensioso, que equivale à primeira exposição do tema, pode-
se observar o jogo entre a tuba e os cornetins, em que João Cavalcante,
engenhosamente, alterna a escrita paralela e o contraponto imitativo (Ex: 25).
Ex. 25 – Escrita paralela e contraponto imitativo entre cornetins e tuba no Trio (c.84-100) do dobrado
Pretensioso de João Cavalcante.
22
A partir do c.116 ocorre a reexposição do tema do Trio com um contracanto de
clarinetas. A tuba (c.132-137) passa a fazer uma marcação com os temas
apresentados pelos cornetins. A tuba retoma o tema principal no c.139, conforme
mostra o Ex.26.
Ex. 26 - Partes de clarinetas, cornetins e tuba no Trio (c.116-147) do dobrado Pretensioso de João
Cavalcante.
23
3- CONCLUSÃO
O dobrado, considerado o principal gênero musical do repertório das tradicionais
bandas de retreta brasileiras, recebeu do eclético compositor João Cavalcante uma
atenção especial. Seu conjunto de 23 dobrados, alguns dos quais não foi possível
assegurar a data de composição, coloca-o em destaque entre os compositores que se
dedicaram a este gênero.
A sólida formação musical do compositor reflete-se no seu estilo composicional para
bandas de retreta. Nos seus dobrados Saudades, Seresteiro e Pretensioso, destaca-se
a escrita influenciada pelo tratamento sinfônico na instrumentação e utilização de
timbres, a utilização sistemática de dinâmicas, acentos, ligaduras, a utilização do
contraponto, esquemas formais e harmônicos menos óbvios e, especialmente do ponto
de vista do instrumentista, a exploração mais refinada das possibilidades técnico-
musicais de instrumentos geralmente negligenciados como a tuba.
Observa-se na escrita para tuba de João Cavalcante a mesma variedade de funções e
sofisticação encontráveis nas partes graves do gênero choro. De fato, João Cavalcante
não se esquece do papel de acompanhamento tradicional da tuba na música de banda
de retreta, mas cria linhas de condução harmônica mais interessantes ao lançar mão
da inversão de acordes, inflexões melódicas, riqueza de ritmos, anacruses e
cromatismo, fugindo ao lugar-comum de tônica-dominante-tônica dos dobrados. Por
outro lado, permite à tuba a realização de baixos melódicos, cujas linhas podem ir
desde pequenos motivos ou trechos em escrita paralela ou em contraponto com outros
instrumentos solistas até longos trechos acompanhados por todo o grupo.
24
4- CATALOGAÇÃO DOS DOBRADOS DE JOÃO CAVALCANTE
Todos os manuscritos dos dobrados de João Cavalcante encontram-se em poder de
sua filha, Ivone Cavalcante.
Abreviatura dos instrumentos das bandas de retreta:
Fltn – Flautim
Rqta Mib – Requinta em Mi bemol
Cl Sib – Clarineta Si bemol
Sax alto Mib – Saxofone alto Mi bemol
Sax Tenor Sib – Saxofone tenor Si bemol
Sax Bar. Mib – Saxofone barítono Mi bemol
Clrn Sib – Clarone Si bemol
Cornetim Cornetim
Bgl Sib – Bugle Si bemol
Tpte – Trompete
Bbno – Bombardino
Bar. Sib – Barítono Si bemol
Tbn – Trombone
Bxo Sib – Baixo Si bemol
Bxo Mib – Baixo Mi bemol
Cxa – Caixa
Pto – Pratos
Bbo - Bombo
Bat - Bateria
1937 (?)
Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ 3 Saxhorn mib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 2 Bgl
sib/ 2 Bbno/ Cornetin/ 2 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Bateria.
1938 (?)
Rqta mib/ 3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ 2 Bgl sib/
2 cornetins sib/ 2 Bbno/ Bar. sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Bateria.
1939 (20/01/1939)
Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ Bar.
sib/ Bgl sib/ 2 Bbno/ Cornetas/ Cornetins sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Tambor/ Cxa/
Pto/ Bbo.
Álvaro Marciano (São João Del Rei, Dez 1932) à memória de Álvaro Marciano
Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ Clrne/ 3 Saxhorn
mib/ Bar. sib/ 2 Bgl sib/ 2 Bbno/ 2 Cornetins sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Pto/ Bbo
Alvorada (1939) Tema do toque de Alvorada do FFAA
3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ 2 Bar. sib/ 2 Bgl sib/ 2 Bbno/ Cornetas/ 2 Cornetins
sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Cxa/ Pto/ Bbo.
25
Anão (?)
Fltn/ Rqta mib/ 4 Cl sib/ Sax Soprano/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ 3 Saxhorn mib/ Bar.
sib/ 2 Bgl sib/ Bbno/ 2 tpte sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Pto/ Bbo.
Ar Lindo (1938) Ao amigo Tenente Arlindo Furreara
Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ 2
Bar. sib/ 2 Bgl sib/ 2 Bbno/ 2 Cornetins sib/ 4 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Bateria.
Assalto de Guajuvyra (1926)
Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ 2 Bgl
sib/ 2 tpte/ Bbno/ 2 Tbn/ Bxo sib/ Bateria.
Bandeira Branca (?)
Fltn/ Rqta mib/ 4 Cl sib/ Sax Soprano/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3
Saxhorn mib/ Bar. sib/ 2 Bgl sib/ 2 Bbno/ 2 tpte sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Pto/ Bbo.
Barulho (03/06/1933)
Fltn/ Rqta mib/ 4 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ 3 Saxhorn mib/ Bgl sib/ 2 tpte/
Bbno/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Cxa/ Pto/ Bbo.
Cruz Azul (?)
Fltn/ Rqta mib/ 2 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ Bar.
sib/ 2 Bbno/ 2 tpte sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Bateria.
Cruz Vermelha (11/03/1934)
Fltn/ Rqta mib/ 2 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ Bar.
sib/ 2 Bbno/ 2 tpte sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Bateria.
Dobrado “de minha terra” (12/01/1930)
Rqta mib/ Cl sib/ 1 Saxhorn mib/ Bar. sib/ Bbno/ 1 tpte sib/ 1 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/
Garboso (1936)
Rqta mib/ 2 Cl sib/Sax Soprano/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn
mib/ Bar. sib/ 2 Bgl sib/ Bbno/ Clrne/ Cornetas/ 2 Cornetins sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo
mib/ Tambor/ Cxa/ Pto/ Bbo.
Lembranças (1940)
Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ 3 Saxhorn mib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib / Bar.
sib/ Bgl sib/ Bbno/ 2 Cornetins/ Clrn sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Cxa/ Pto/ Bbo.
Mario Thiago (02/02/1933)
Fltn/ Rqta mib/ 2 Cl sib/ Sax Soprano sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/
Clrn sib/ 3 Saxhorn mib/ 2 Bgl sib/ Bbno/ 2 Cornetins sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Cxa/
Pto/ Bbo.
Minúsculo (?)
Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ Bar.
sib/ 2 Bgl sib/ Bbno/ Cornetas/ 2 Cornetins sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Cxa/ Pto/ Bbo.
26
Petit (03/06/1933)
Fltn/ Rqta mib/ 2 Cl sib/ 3 Saxhorn mib/ 2 Sax alto mib/ 2 Sax tenor sib/ Bgl sib/ Bbno/ 2
Cornetins/ 2 Tpte/ Clrn sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Pto/ Bbo.
Pretensioso (1937)
Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ 3 Saxhorn mib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. sib/ 2 Bgl
sib/ Bar. sib/ Bbno/ 2 Cornetins/ 2 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Pto/ Bbo.
Sargento Martins F. da Costa (?)
Fltn/ Rqta mib/ 2 Cl sib/ 3 Saxhorn mib/ Sax alto mib/ Bar. sib/ 2 Bgl sib/ 2 Bbno/ 2
Cornetins/ 2 Tpte/ Clrn sib/ Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib.
Saudades (Passagem de Mariana – 23/02/1940)
Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ 3 Saxhorn mib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Bar. sib/ 2 Bgl sib/
Bbno/ 2 Cornetins/ Clrn sib/ 4 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Cxa/ Pto/ Bbo.
Seresteiro (?)
Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ 3 Saxhorn mib/ 2 Tpas/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar.
mib/ Bbno/ 2 Cornetins/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Bateria.
Treco (26/03/1935)
Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ Bar.
sib/ Bgl sib/ 2 Bbno/ Cornetas/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Bateria.
27
5- BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Hermínio Carlos de. Corporação Musical Nossa Senhora da Conceição: 85
anos de memória viva em Belo Horizonte. 1999. 178f. Monografia (Especialização em
Musicologia Brasileira) – Escola de Música, Universidade Federal de Minas Gerais,
Belo Horizonte, 1999.
ANDRADE, Hermes de. A Banda de Música na Escola de Primeiro e Segundo Graus.
1988. 214f. (Mestrado em Música, Educação Musical) – Conservatório Brasileiro de
Música, Rio de Janeiro, 1988.
CAVALCANTE, João. Pretensioso. Belo Horizonte: [s.n], 1937. Dobrado para Banda de
Música. 1 partitura.
____.Saudades. Belo Horizonte: [s.n], 1940. Dobrado para Banda de Música. 1
partitura.
____.Seresteiro. Belo Horizonte: [s.n], [194-]. Dobrado para Banda de Música. 1
partitura.
CINTRA, Sebastião de Oliveira. Maestro Tenente João Cavalcante - Grande benfeitor
da arte Musical de São João del Rei. Tribuna Sanjoanense, São João del Rei, p.3, 26
março, 1996.
FUNARTE. Disponível em <http://www.funarte.gov.br/comus/comus.htm#>. Acesso
em: 05, março, 2004.
GUEDES, Alexandre Brasil de Matos. Introdução à Poética do Contrabaixo no Choro; O
Fazer do Músico Popular entre o Querer e o Dever, 2003. 180 f. Dissertação ( Mestrado
em Música) UNIRIO, Rio de Janeiro, 2003.
GRANJA, Maria de Fátima Duarte. A Banda: Som e Magia. 1984. 163f. Dissertação
(Mestrado em Comunicação, Sistemas de Comunicação) – Escola de Comunicação,
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1984.
LEITE, M. Batista de Melo. Dobrado para banda de música. 1 Parte de tuba
MEIRA, Antônio Gonçalves; SCHIRMER, Pedro. Música Militar & Bandas Militares:
Origem e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Estandarte Editora E. C. 2000. 136p.
MÔNICA, Laura Della. História da banda de música da Polícia Militar do Estado de São
Paulo. 2. Ed. São Paulo: Tip. Edanne, 1975. 136p.
OURO PRETO WORLD. Desenvolvido por Nylton Gomes Batista, 2004.
<http://www.ouropreto-ourtoworld.jor.br/bandamusica/id10.htm>. Acesso em: 25 set.
2004.
PREFEITURA MUNICIPAL Belo Horizonte. Sociedade Musical Carlos Gomes: Cem
anos marcando o compasso da nossa história. Belo Horizonte:[s.n], 1996. 268 p.
28
REZENDE, Maria Conceição. A música na história de Minas Colonial. Belo Horizonte:
Itatiaia, 1989. 765p.
SALLES, Vicente. Sociedades de Euterpe: As Bandas de Música no Grão Pará. Edição
do Autor. Brasília: 1985. 230 p.
SANTOS, Rafael dos. Análise e considerações sobre a execução dos choros para
piano solo Canhoto e Manhosamente de Radamés Gnattali. Per Musi, Belo Horizonte,
v. 3, p. 5-16, 2002.
SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA DE MINAS GERAIS. Disponível em
<http://www.cultura.mg.gov.br>. Acesso em: 05 março 2004.
SÉVE, Mário. Vocabulário do Choro. Rio de Janeiro: Lumiar Editora, 1999
SOCIEDADE MUSICAL UNIÃO SOCIAL DE CACHOEIRA DO CAMPO.
<http://www.cachoeiradocampo.art.br/bandas.htm#cima>. Acesso em: 27 set. 2004.
TINHORÃO, José Ramos. Música Popular: Os Sons que vem da rua. Rio de Janeiro:
Ed. Tinhorão, 1976. 190p.
TINHORÃO, José Ramos. Música Popular: um tema em debate. 3 ed. revista e
ampliada. São Paulo: Ed. 34, 1997. 191 p.
TIRADENTES, Banda de Música do 11º Batalhão de Infantaria de Montanha
Regimento (interp.). Saudades: Marchas Militares e Dobrados Brasileiros. São João del
Rei: 2001. 1 CD. Acompanha livreto.

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  • 1. 1 1- INTRODUÇÃO O Dobrado é o gênero musical preferido e mais identificado com a Banda de Música. A banda de música, como a conhecemos hoje, surgiu no Século XIX no Brasil e, desde então, tem tido importante papel em Minas Gerais, não apenas do ponto de vista musical, mas também de inserção social de seus participantes e de preservação da memória cultural do povo, especialmente no interior do estado. Além de promover entretenimento à população de cidades, vilas e vilarejos, as Bandas funcionam como verdadeiros Conservatórios, sendo responsáveis pela formação da maioria dos músicos das bandas militares e naipes de sopro de orquestras sinfônicas (ANDRADE, 1988, p.56). Entre os compositores mineiros de música para banda, destaca-se João Cavalcante (1902-1985), em cujos dobrados, a tuba não se limita a fazer uma simples marcação nos tempos fortes do compasso. Ao contrário, realiza solos, desempenhando assim uma função diferente do que se costuma ver e ouvir em dobrados. Meu primeiro contato com a obra de João Cavalcante se deu durante o curso de música na Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais. O dobrado Pretensioso constava do repertório da Banda Sinfônica da EMUFMG e a sofisticada parte da tuba me chamou a atenção, pois desde o início de meus estudos na banda de música da cidade de Paula Cândido-MG, não tinha ouvido um dobrado com aquela característica. Posteriormente, tomei contato com o dobrado Seresteiro na Banda do SESI-MG, onde o compositor também explora o potencial solístico da tuba. Nos livros que tratam de bandas de música, pude constatar que como outros compositores mineiros, João Cavalcante tem sido negligenciado pelos musicólogos. Nenhum dado foi encontrado sobre o compositor em livros referenciais como a Enciclopédia da música brasileira: erudita, popular e folclórica (MARCONDES ed., 1998), A História da música no Brasil (MARIZ, 2000) ou o Catálogo de manuscritos musicais presentes no acervo do maestro Vespasiano Gregório dos Santos (MIRANDA, 1994).
  • 2. 2 O Estado de Minas Gerais é conhecido por ter o maior número de bandas no Brasil, mas, contraditoriamente, os compositores de seu principal repertório permanecem ignorados. O estudo da obra de João Cavalcante busca, por isso, não apenas revelar as características peculiares de seus dobrados, mas também resgatar sua importância no meio musical, principalmente entre os próprios músicos de banda. Os procedimentos metodológicos nesse estudo incluem: 1- Revisão bibliográfica sobre bandas de música; 2- Levantamento de partituras em arquivos de bandas; 3- Entrevistas com a filha do compositor e com músicos que tiveram sua formação musical inicial em bandas de música e que conheceram ou trabalharam com o maestro e compositor João Cavalcante; 4-Levantamento e catalogação de seus dobrados; 5- Seleção de dobrados tradicionais e de João Cavalcante e realização de uma análise comparativa entre as partes de tuba; 6- Discutir a utilização diferenciada da tuba nos dobrados Seresteiro, Saudades e Pretensioso. Através de uma análise formal, fraseológica, motívica e das partes de tuba de dobrados tradicionais e de João Cavalcante, pretende-se mostrar a diferente utilização da tuba nos dobrados Seresteiro, Saudades e Pretensioso.
  • 3. 3 1.1- A banda de retreta A banda de retreta, há muito tempo também conhecida simplesmente como banda de música, é uma das mais antigas e menos estudadas instituições ligadas à criação e divulgação da música de cunho popular no Brasil. Quase sempre abandonadas ou esquecidas, sobrevivem principalmente graças ao esforço e determinação de seus músicos e maestros. A banda de retreta brasileira surgiu no século XIX com a vinda de D. João VI para o Brasil. Antes disso, haviam os chamados ternos (grupos de madeiras, metais e percussão) e as bandas de barbeiros, que eram bandas formadas por ex-escravos que tocavam de ouvido (TINHORÃO, 1997, p.140). Com a decadência da economia de exploração do ouro, as bandas herdam o serviço musical religioso que antes era executado pelas orquestras. Assim, as bandas proliferaram e tornou-se comum, cada vila ter ou buscar a formação destes grupos musicais. A banda de música continua sendo uma importante fonte de música para a comunidade, servindo como importante veículo de cultura, entretenimento e funções sociais em eventos comemorativos e significativos, como festas cívicas e religiosas, saudações a autoridades ou pessoas ilustres e abertura de jogos esportivos (REZENDE, 1989, p.666). Nas cidades do interior, onde não existem conservatórios ou escolas de música, as bandas funcionam como centros formadores de músicos, sendo ainda responsáveis pela formação da maioria dos músicos das Bandas Militares e Orquestras Sinfônicas do país. É também importante meio de estímulo de composição e veiculação de obras de autores locais. Muitas dessas obras são dedicadas a pessoas da comunidade, parentes e amigos, ou relacionadas a eventos ou fatos importantes, contribuindo assim na preservação e reconstrução da história das comunidades. Minas Gerais é o estado brasileiro com maior número de bandas de música, dado apresentado pela Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais (2004) e corroborado pela FUNARTE (2004). Desde 1981, a Secretaria de Estado da Cultura de Minas Gerais vem cadastrando as bandas mineiras e hoje já são mais de seiscentas bandas catalogadas.
  • 4. 4 Ex.1 – Foto histórica da Sociedade Musical União Social de Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto (Arquivo da Sociedade Musical União Social de Cachoeira do Campo). Bandas centenárias, como a União XV de Novembro de Mariana, a Sociedade Musical Carlos Gomes de Belo Horizonte, a Sociedade Musical União Social e a Banda de Música Euterpe Cachoeirense de Cachoeira do Campo (Distrito de Ouro Preto), estão entre as mais importantes instituições musicais que colaboram na difusão da cultura musical, na formação de novos músicos e na preservação da história mineira como um todo. Ex 2. – Foto histórica da Banda de Música Euterpe Cachoeirense de Cachoeira do Campo, distrito de Ouro Preto (Arquivo da Sociedade Musical União Social de Cachoeira do Campo). Uma banda de música compõe-se prioritariamente de instrumentos de metais, de palhetas e de percussão em sua formação mais tradicional. No repertório tradicional de bandas, seja de composições originais ou de arranjos, os instrumentos tendem a
  • 5. 5 exercer uma mesma função e de maneira bastante estratificada. Desse modo, instrumentos como a flauta, a clarineta, o sax alto e os trompetes geralmente fazem as melodias. Os trompetes também são reservados para momentos de maior brilho como nos fortes ou nos tutti. O trombone pode tanto reforçar a melodia quanto fazer contracantos junto com o sax tenor, o que pode também ser realizado pelo bombardino. Já a tuba limita-se à marcação dos tempos, especialmente os tempos fortes, e seu caráter percussivo ocasionalmente incorpora simples passagens escalares ou arpejadas que acontecem, na maioria das vezes, entre os graus da tônica e da dominante. O naipe de percussão, ou bateria como é chamado nas bandas de retreta, compõe-se de bombo, surdo, caixa e pratos, sendo que cada um destes desempenha as funções específicas de marcação, repique e brilho nos clímax, respectivamente. O conjunto da bateria, no repertório de banda brasileiro, quase nunca tem suas partes cavadas. Geralmente, os compositores anotam somente “bateria” nas grades e os músicos tocam de ouvido. 1.2- O dobrado A banda de música conta com um repertório muito eclético: valsas, polcas, choros, tangos, maxixes, sambas e marchas entre outros gêneros. No entanto, o gênero preferido e mais profundamente identificado com o som das bandas é, sem dúvida, o dobrado. Nos arquivos das bandas, os dobrados predominam, o que, segundo Regis Duprat, citado por GRANJA, (1984, p.119), justifica-se por ser o dobrado um gênero criado especificamente para ser tocado por esse grupo instrumental. A origem do dobrado remonta às músicas militares européias: pasodoble ou marcha redobrada para os espanhóis; pas-redoublé para os franceses ou passo doppio para os italianos (GRANJA, 1984, p. 119). Pasodoble é uma referência ao passo acelerado da infantaria. O dobrado geralmente aparece em andamento rápido e em compasso binário 2 /4 ou, menos freqüentemente, 6 /8. Em relação à forma, o dobrado geralmente é dividido em três seções principais, (A, B, e C, esta última também chamada de Trio), precedidas por uma Introdução curta e em dinâmica forte, geralmente com a extensão de oito compassos.Cada uma das seções principais do dobrado é sempre tocada com repetição antes de se passar à seção
  • 6. 6 seguinte, exceto pela última apresentação da Seção A, o que é uma referência à forma do rondó, conforme o esquema mostrado no Ex.3. (Trio) Introdução ║A :║ ║B:║ ║A║ ║ C: ║ ║ A ║ Ex. 3 – Esquema formal do dobrado Quando a tonalidade inicial é maior, o mais comum é manter a tonalidade inicial nas seções A e B, modulando apenas no Trio, geralmente para o tom da subdominante. No caso do dobrado ser em tonalidade menor, a Seção B, quase sempre modula para o tom relativo maior e sua dinâmica é mais forte. O Trio pode ter uma pequena preparação que também pode funcionar como o arremate da forma descrita acima e, quando está em tom menor, é comum modular para o tom homônimo maior ou seu relativo maior. O Trio se caracteriza por um textura mais leve e pela presença de duas melodias simultâneas de igual importância. Geralmente esse contracanto, como é chamado no jargão das bandas, é feito pelo bombardino. Após o Trio, o procedimento mais comum para finalizar a peça é fazer um Da Capo, tocando a Seção A sem repetição. 1.3- João Cavalcante O compositor e maestro João Cavalcante nasceu em Passagem de Mariana, Minas Gerais, a 18 de maio de 1902. Aos 16 anos de idade já regia a Banda de Música de sua terra natal, dedicando-se também à composição. Iniciou sua vida profissional em Ouro Preto, trasferindo-se depois para Belo Horizonte, onde formou-se no Conservatório Mineiro de Música, atual Escola de Música da Universidade Federal de Minas Gerais. Ali, foi aluno dos maestros Francisco Nunes, no curso de Harmonia, e Assis Republicano, no curso de Contraponto e Fuga. Transferiu-se para São João del Rei como Mestre da Banda de Música do Regimento Tiradentes, onde fundou a Sociedade de Concertos Sinfônicos nessa cidade.
  • 7. 7 Ex. 4 –- O compositor e maestro João Cavalcante No Rio de Janeiro, foi aluno de Heitor Villa-Lobos em curso de canto coral, formação que lhe permitiu formar vários corais em São João del Rei e Belo Horizonte. Em Belo Horizonte, fundou a Orquestra Sinfônica Mineira com a qual, durante 15 anos consecutivos, realizou a Temporada Oficial de Operetas. Compositor eclético escreveu para diversas formações, como orquestra sinfônica, coro, música de câmara, piano, música religiosa e banda de música. João Cavalcante faleceu no dia 14 agosto de 1985, aos 83 anos de idade. Toda a sua produção musical, exceto pela peça Salve para piano e canto, publicada pelas Casas Carlos Gomes em 1929, ainda encontra-se na forma manuscrita. Também não há ainda uma catalogação de suas obras e, neste estudo é apresentada uma catalogação de seus dobrados apenas. Seu acervo encontra-se dividido entre os acervos de sua filha, a violista Ivone Cavalcante e o acervo da Sociedade de Concertos Sinfônicos na cidade de São João del Rei. Cópias de seus dobrados e de várias outras obras também constam do acervo da Biblioteca da Escola de Música da UFRJ (Centro de Letras e Artes). 1.4- Os dobrados de João Cavalcante João Cavalcante compôs 23 dobrados, produção que se concentrou entre os anos de 1926 e 1940. Seus dobrados têm uma construção musical bem elaborada onde as
  • 8. 8 possibilidades técnico-musicais dos instrumentos são bem exploradas, recorrendo com freqüência à escrita contrapontística. A tuba, instrumento sempre colocado em segundo plano, para fazer meramente a marcação de tônicas e dominantes dos acordes, tem nos dobrados de João Cavalcante um papel de destaque. Isso se verifica claramente em seus dobrados Seresteiro (data de composição inexistente), Pretensioso (1937) e Saudades (1940), onde a tuba participa como um dos principais solistas. No que se refere à instrumentação, a escrita de João Cavalcante tornou-se gradualmente mais arrojada. Em seus primeiros dobrados, sua escrita é bem tradicional quanto aos instrumentos empregados: trompetes, clarinetas e saxofones, que são comuns em todas as bandas. Sua curiosidade e atenção a timbres pouco comuns, entretanto, o levou a utilizar instrumentos como bugles (ou flugelhorn) e cornetins, que são da família do trompete. Além destes utilizou o clarone (clarineta baixo) e o sax-barítono, que não são comuns em pequenas bandas.
  • 9. 9 2- COMPARAÇÃO ENTRE DOBRADOS TRADICIONAIS E OS DOBRADOS SERESTEIRO, SAUDADES E PRETENSIOSO DE JOÃO CAVALCANTE Os dobrados 220¸ composto por Antônio Manuel do Espírito Santo e Batista de Melo, composto por Matias de Almeida, estão entre os mais tradicionais do repertório de bandas. O dobrado 220 tem a mesma música da canção de versos anônimos Avante Camaradas, que por sua vez, é também conhecido pelo nome Brigada Ferreira. Já o dobrado Batista de Melo foi composto a partir de um pedido do Senador da República Joaquim Batista de Melo ao compositor Matias de Almeida para celebrar a posse do Marechal Hermes da Fonseca, eleito Presidente do Brasil em 1910. Ambos 220 e Batista de Melo apresentam o mesmo esquema tonal característico dos dobrados em tom menor: a Introdução e a Seção A na tonalidade principal (Fá menor) e as Seções B e Trio, ambas no tom relativo maior (Lá b maior). Os dobrados de João Cavalcante selecionados para este estudo também são em tonalidades menores, mas seus esquemas tonais diferem dos tradicionais (Ex.5). Dobrados Tradicionais Título Introdução A B A Trio A 220 Fá m (i) Fá m (i) Lá b (III) Fá m (i) Lá b (III) Fá m (i) Batista de Melo Fá m (i) Fá m (i) Lá b (III) Fá m (i) Lá b (III) Fá m (i) Dobrados de João Cavalcante Título Introdução A B A Trio A Saudades Dó m (i) Dó m (i) Mi b (III) Dó m (i) Dó M(I) Dó m (i) Pretensioso Dó m (i) Dó m (i) Mi b (III) Dó m (i) Lá b (VI) Dó m (i) Seresteiro Rem(i) – Solm(iv)– Rem(i) Ré m (i) Ré m (i) Ré m (i) Si b (VI) Ré m (i) Ex.5 – Esquema tonal de dobrados tradicionais (220 e Batista de Melo) e os dobrados Saudades, Pretensioso e Seresteiro de João Cavalcante. Observando a estrutura apresentada no Ex. 5, nota-se que o esquema tonal dos dobrados tradicionais 220 e Batista de Melo é idêntica: Introdução e Seção A → Fá menor Seção B → Lá bemol maior, ou seja, relativo maior da Seção A Trio → Lá bemol maior (relativo maior)
  • 10. 10 Já os dobrados de João Cavalcante, têm a estrutura um pouco diferente entre eles: Dobrado Saudades: Introdução e Seção A → Dó menor Seção B → Mi bemol maior (relativo maior) Trio → Dó maior Dobrado Pretensioso: Introdução e Seção A → Dó menor Seção B → Mi bemol maior (relativo maior) Trio → Lá bemol maior Observa-se que o esquema harmônico do dobrado Pretensioso difere do dobrado Saudades no Trio. João Cavalcante fecha Saudades com o homônimo maior do tom (Dó maior) e Pretensioso com a submediante (Lá bemol maior) numa modulação em que o relativo maior (Mi bemol maior) é utilizado como dominante. No dobrado Seresteiro é que notamos uma diferença maior em relação à estrutura harmônica. Primeiro, apesar da Introdução ser em Ré menor, esta não se inicia no acorde da tônica (que só aparece no c.9), mas no acorde de sétimo grau menor (sub- tônica). Segundo, ao contrário das típicas introduções de dobrados, a Introdução de Seresteiro prossegue em meio a uma seqüência harmônica pouco comum (veja Ex. 9 abaixo) modulando para Sol menor e só retornando ao acorde de tônica no c.20. Introdução → Ré menor Seções A e B → Ré menor Trio → Si bemol maior (sexto grau abaixado) Segundo, porque as Seções A e B têm a mesma tonalidade. Uma das características marcantes dos dobrados tradicionais é o caráter afirmativo de suas introduções, sempre em dinâmica forte, sendo um dos poucos momentos em que a tuba ganha a oportunidade de realizar trechos mais melódicos, embora não como solista (Ex.6 e Ex.7). Esta tradição é observada por João Cavalcante (Ex.8, Ex.9. Ex.10), embora busque uma maior democratização entre os instrumentos, o que resulta em um contraponto em que a tuba, às vezes receba uma parte menos movimentada, reservando seu destaque para as seções internas do dobrado.
  • 11. 11 Ex.6 - Parte de tuba (c. 1-22), na introdução do dobrado Batista de Melo. Ex. 7 – Parte de tuba (c.1-14) na introdução do dobrado 220 de Antônio Manuel do Espírito Santo Ex.8 - Parte da tuba (c.1-21) na introdução do dobrado Pretensioso de João Cavalcante.
  • 12. 12 Ex. 9 – Parte de tuba e clarinetas (c.1-22) na introdução do dobrado Seresteiro de João Cavalcante. Ex. 10 – Parte da tuba e clarinetas (c.1-8) na introdução do dobrado Saudades de João Cavalcante.
  • 13. 13 Na Seção A dos dobrados 220 e Batista de Melo, a tuba faz a marcação dos tempos, especialmente os tempos fortes, realizando desenhos que gravitam entre a tônica e a dominante, bastante típicos. Em 220 (Ex. 11), a tuba progride da tônica até a dominante ascendentemente por graus conjuntos e retorna em arpejo que lembra o baixo de Alberti. Já em Batista de Melo (Ex.12), são utilizados somente notas da tríade, que partem da dominante para a tônica em movimentos descendentes e ascendentes. Ex.11- Parte de tuba (c.15-46) da Seção A do dobrado 220. Ex. 12 – Parte da tuba (c.23-54) na Seção A do dobrado Batista de Melo
  • 14. 14 Na Seção A de Pretensioso João Cavalcante utiliza dois temas, um feito pelas palhetas e trompetes e outro feito pela tuba conforme se observa no Ex.13. Ex: 13 – Contraponto entre tuba e clarinetas na Seção A (c.21-38) do dobrado Pretensioso de João Cavalcante. O dobrado teve influências de gêneros populares que também surgiram no final do século XIX, como o choro, por exemplo, que também faz parte do repertório das bandas. A forma tradicional do dobrado é a mesma do choro. Em seu artigo Análise e considerações sobre a execução dos choros para piano solo Canhoto e Manhosamente de Radamés Gnattali, SANTOS (2001, p.6) cita características do choro sistematizados por ALMEIDA (1999, p.105-131), como baixo condutor harmônico, baixo melódico, cromatismos e anacruses. No item “Baixos”, são descritos conceitos que se encaixam perfeitamente nas partes de tuba dos dobrados de João Cavalcante, como o Baixo Condutor Harmônico que é responsável pela condução das harmonias invertidas, acumulando em si as funções de realização da linha do baixo, da harmonia e do ritmo, como pode ser observado, por exemplo, na Seção A de Saudades (Ex.14).
  • 15. 15 Ex. 14 – Parte de tuba da Seção A do dobrado Saudades de João Cavalcante. (c. 9-24) No dobrado Seresteiro, além da presença do baixo harmônico, encontram-se também cromatismos na frase da tuba e também uma valorização da anacruse. No Ex.15, observa-se estes aspectos e também uma maior movimentação na frase da tuba do que no próprio solo, feito pela flauta. Ex. 15. – Partes de tuba e flauta na Seção A (c.23-39) do dobrado Seresteiro de João Cavalcante. Na Seção B dos dobrados Batista de Melo e 220 a tonalidade é no tom relativo maior de Lá bemol e a marcação da tuba, cuja rítmica é formada apenas padrões repetitivos e sem nenhum caráter melódico, reforça o caráter marcial dos dobrados. Em Batista de Melo (Ex.16), a restrição dos ritmos à colcheia e sua pausa, sem nenhuma ligadura de expressão, criam um acompanhamento de caráter percussivo, cuja monotonia é quebrada apenas por escassos graus conjuntos como notas de passagem (Fá e Dó no c.58) ou descida entre o V e IV graus no arpejamento do acorde de sétima da dominante (c.66).
  • 16. 16 Ex. 16 – Parte de tuba na Seção B do dobrado Batista de Melo. (c. 57-88) Em 220 (Ex.17), a ligaduras entre os compassos tem a função única de enfatizar a condução harmônica entre a marcação obsessiva do V grau (Mi b) nas semínimas do segundo tempo e a tônica (Lá b) ou super-tônica (Si b) nas colcheias do primeiro tempo do compasso seguinte. Ex. 17 – Parte de tuba na Seção B (c.60-95) do dobrado 220. Na Seção B dos dobrados Pretensioso e Saudades, aparece a técnica do contraponto imitativo como um novo elemento musical e, ao mesmo tempo, confirmando uma característica também utilizada no choro e que ALMEIDA (1999, p.105-131) chama de Baixo Melódico. Primeiro em Saudades (Ex.18), a tuba é imitada em toda a seção pelos cornetins e bugles, tendo o compositor o cuidado de explicitar os acentos que deixam claro sua intenção.
  • 17. 17 Ex. 18 – Partes de cornetins, bugles e tuba na Seção B (c.43-59) do dobrado Saudades de João Cavalcante. Em Pretensioso (Ex.19), João Cavalcante contrapõe a tuba em fortissimo a um tutti de clarinetas, cornetins e bugles, criando um diálogo em que o “solista” é respondido pelas forças de acompanhamento, invertendo a lógica natural dos instrumentos e funções tradicionalmente melódicos e harmônicos no dobrado. Ex. 19 – Partes de clarineta, cornetins e bugles e tuba na Seção B (c.57-72) do dobrado Pretensioso.
  • 18. 18 Se no dobrado 220, há um importante solo para a tuba, bem marcial e em dinâmica forte (Ex.20), já o dobrado Batista de Melo reserva a este instrumento apenas a tradicional marcação de tônicas e dominantes dos acordes (Ex.21). Ex. 20 - Parte solística de tuba no Trio (c.103-136) do dobrado 220. Ex.21 - Parte de tuba no Trio (c.97-132) do dobrado Batista de Melo de Matias de Almeida. No Trio do dobrado Saudades, observa-se que João Cavalcante cria duas frases musicais distintas envolvendo a tuba, o que difere da maioria dos dobrados, nos quais
  • 19. 19 geralmente se mantém um único fraseado para a seção. No primeiro trecho (c.72-103), a tuba faz um desenho em staccato e piano, que lembra as baixarias1 do violão de sete cordas no choro, dialogando com a melodia principal feita pelas clarinetas (Ex.22). Ex. 22 – Parte de tuba e clarineta no Trio (c.71-103) do dobrado Saudades de João Cavalcante. No segundo trecho do Trio de Saudades (c.103-135), mostrado no Ex.23, a tuba muda o tipo de fraseado, fazendo outro desenho musical, que é sublinhado pela percussão que passa a incluir também os pratos, retornando ao típico caráter marcial dos 1 As baixarias são contracantos graves realizados no choro. O termo pode designar: a) a linha formada pelos baixos da progressão dos acordes em uma determinada passagem; b) um desenho ou gesto melódico, por parte dos acompanhadores de tessitura grave, que normalmente conduz de um acorde a outro, que preenche os momentos de maior repouso da melodia principal ou ainda que define um estilo de levada (BRASIL, p.13).
  • 20. 20 dobrados, valorizado pela dinâmica em fortíssimo e pelas acentuações anotadas na partitura. Apesar da escrita predominantemente homofônica entre a tuba e a clarineta, ainda se observam fragmentos dialógicos entre esses instrumentos. Ex. 23 – Parte de clarineta e tuba no Trio do dobrado Saudades de João Cavalcante. (c. 103-135)
  • 21. 21 No Trio do dobrado Pretensioso, João Cavalcante mantém o destaque da tuba. Para isso, recorre ao material temático apresentado anteriormente pela própria tuba na Seção A (c.21), como mostra o Ex.24. Ex. 24 – Similaridade temática das seções A (c.21) e Trio (c.84) do dobrado Pretensioso de João Cavalcante na parte de tuba. Nesse trecho do Trio de Pretensioso, que equivale à primeira exposição do tema, pode- se observar o jogo entre a tuba e os cornetins, em que João Cavalcante, engenhosamente, alterna a escrita paralela e o contraponto imitativo (Ex: 25). Ex. 25 – Escrita paralela e contraponto imitativo entre cornetins e tuba no Trio (c.84-100) do dobrado Pretensioso de João Cavalcante.
  • 22. 22 A partir do c.116 ocorre a reexposição do tema do Trio com um contracanto de clarinetas. A tuba (c.132-137) passa a fazer uma marcação com os temas apresentados pelos cornetins. A tuba retoma o tema principal no c.139, conforme mostra o Ex.26. Ex. 26 - Partes de clarinetas, cornetins e tuba no Trio (c.116-147) do dobrado Pretensioso de João Cavalcante.
  • 23. 23 3- CONCLUSÃO O dobrado, considerado o principal gênero musical do repertório das tradicionais bandas de retreta brasileiras, recebeu do eclético compositor João Cavalcante uma atenção especial. Seu conjunto de 23 dobrados, alguns dos quais não foi possível assegurar a data de composição, coloca-o em destaque entre os compositores que se dedicaram a este gênero. A sólida formação musical do compositor reflete-se no seu estilo composicional para bandas de retreta. Nos seus dobrados Saudades, Seresteiro e Pretensioso, destaca-se a escrita influenciada pelo tratamento sinfônico na instrumentação e utilização de timbres, a utilização sistemática de dinâmicas, acentos, ligaduras, a utilização do contraponto, esquemas formais e harmônicos menos óbvios e, especialmente do ponto de vista do instrumentista, a exploração mais refinada das possibilidades técnico- musicais de instrumentos geralmente negligenciados como a tuba. Observa-se na escrita para tuba de João Cavalcante a mesma variedade de funções e sofisticação encontráveis nas partes graves do gênero choro. De fato, João Cavalcante não se esquece do papel de acompanhamento tradicional da tuba na música de banda de retreta, mas cria linhas de condução harmônica mais interessantes ao lançar mão da inversão de acordes, inflexões melódicas, riqueza de ritmos, anacruses e cromatismo, fugindo ao lugar-comum de tônica-dominante-tônica dos dobrados. Por outro lado, permite à tuba a realização de baixos melódicos, cujas linhas podem ir desde pequenos motivos ou trechos em escrita paralela ou em contraponto com outros instrumentos solistas até longos trechos acompanhados por todo o grupo.
  • 24. 24 4- CATALOGAÇÃO DOS DOBRADOS DE JOÃO CAVALCANTE Todos os manuscritos dos dobrados de João Cavalcante encontram-se em poder de sua filha, Ivone Cavalcante. Abreviatura dos instrumentos das bandas de retreta: Fltn – Flautim Rqta Mib – Requinta em Mi bemol Cl Sib – Clarineta Si bemol Sax alto Mib – Saxofone alto Mi bemol Sax Tenor Sib – Saxofone tenor Si bemol Sax Bar. Mib – Saxofone barítono Mi bemol Clrn Sib – Clarone Si bemol Cornetim Cornetim Bgl Sib – Bugle Si bemol Tpte – Trompete Bbno – Bombardino Bar. Sib – Barítono Si bemol Tbn – Trombone Bxo Sib – Baixo Si bemol Bxo Mib – Baixo Mi bemol Cxa – Caixa Pto – Pratos Bbo - Bombo Bat - Bateria 1937 (?) Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ 3 Saxhorn mib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 2 Bgl sib/ 2 Bbno/ Cornetin/ 2 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Bateria. 1938 (?) Rqta mib/ 3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ 2 Bgl sib/ 2 cornetins sib/ 2 Bbno/ Bar. sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Bateria. 1939 (20/01/1939) Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ Bar. sib/ Bgl sib/ 2 Bbno/ Cornetas/ Cornetins sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Tambor/ Cxa/ Pto/ Bbo. Álvaro Marciano (São João Del Rei, Dez 1932) à memória de Álvaro Marciano Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ Clrne/ 3 Saxhorn mib/ Bar. sib/ 2 Bgl sib/ 2 Bbno/ 2 Cornetins sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Pto/ Bbo Alvorada (1939) Tema do toque de Alvorada do FFAA 3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ 2 Bar. sib/ 2 Bgl sib/ 2 Bbno/ Cornetas/ 2 Cornetins sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Cxa/ Pto/ Bbo.
  • 25. 25 Anão (?) Fltn/ Rqta mib/ 4 Cl sib/ Sax Soprano/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ 3 Saxhorn mib/ Bar. sib/ 2 Bgl sib/ Bbno/ 2 tpte sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Pto/ Bbo. Ar Lindo (1938) Ao amigo Tenente Arlindo Furreara Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ 2 Bar. sib/ 2 Bgl sib/ 2 Bbno/ 2 Cornetins sib/ 4 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Bateria. Assalto de Guajuvyra (1926) Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ 2 Bgl sib/ 2 tpte/ Bbno/ 2 Tbn/ Bxo sib/ Bateria. Bandeira Branca (?) Fltn/ Rqta mib/ 4 Cl sib/ Sax Soprano/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ Bar. sib/ 2 Bgl sib/ 2 Bbno/ 2 tpte sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Pto/ Bbo. Barulho (03/06/1933) Fltn/ Rqta mib/ 4 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ 3 Saxhorn mib/ Bgl sib/ 2 tpte/ Bbno/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Cxa/ Pto/ Bbo. Cruz Azul (?) Fltn/ Rqta mib/ 2 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ Bar. sib/ 2 Bbno/ 2 tpte sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Bateria. Cruz Vermelha (11/03/1934) Fltn/ Rqta mib/ 2 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ Bar. sib/ 2 Bbno/ 2 tpte sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Bateria. Dobrado “de minha terra” (12/01/1930) Rqta mib/ Cl sib/ 1 Saxhorn mib/ Bar. sib/ Bbno/ 1 tpte sib/ 1 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Garboso (1936) Rqta mib/ 2 Cl sib/Sax Soprano/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ Bar. sib/ 2 Bgl sib/ Bbno/ Clrne/ Cornetas/ 2 Cornetins sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Tambor/ Cxa/ Pto/ Bbo. Lembranças (1940) Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ 3 Saxhorn mib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib / Bar. sib/ Bgl sib/ Bbno/ 2 Cornetins/ Clrn sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Cxa/ Pto/ Bbo. Mario Thiago (02/02/1933) Fltn/ Rqta mib/ 2 Cl sib/ Sax Soprano sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ Clrn sib/ 3 Saxhorn mib/ 2 Bgl sib/ Bbno/ 2 Cornetins sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Cxa/ Pto/ Bbo. Minúsculo (?) Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ Bar. sib/ 2 Bgl sib/ Bbno/ Cornetas/ 2 Cornetins sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Cxa/ Pto/ Bbo.
  • 26. 26 Petit (03/06/1933) Fltn/ Rqta mib/ 2 Cl sib/ 3 Saxhorn mib/ 2 Sax alto mib/ 2 Sax tenor sib/ Bgl sib/ Bbno/ 2 Cornetins/ 2 Tpte/ Clrn sib/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Pto/ Bbo. Pretensioso (1937) Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ 3 Saxhorn mib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. sib/ 2 Bgl sib/ Bar. sib/ Bbno/ 2 Cornetins/ 2 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Pto/ Bbo. Sargento Martins F. da Costa (?) Fltn/ Rqta mib/ 2 Cl sib/ 3 Saxhorn mib/ Sax alto mib/ Bar. sib/ 2 Bgl sib/ 2 Bbno/ 2 Cornetins/ 2 Tpte/ Clrn sib/ Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib. Saudades (Passagem de Mariana – 23/02/1940) Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ 3 Saxhorn mib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Bar. sib/ 2 Bgl sib/ Bbno/ 2 Cornetins/ Clrn sib/ 4 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Cxa/ Pto/ Bbo. Seresteiro (?) Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ 3 Saxhorn mib/ 2 Tpas/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ Bbno/ 2 Cornetins/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Bateria. Treco (26/03/1935) Fltn/ Rqta mib/ 3 Cl sib/ Sax alto mib/ Sax tenor sib/ Sax Bar. mib/ 3 Saxhorn mib/ Bar. sib/ Bgl sib/ 2 Bbno/ Cornetas/ 3 Tbn/ Bxo sib/ Bxo mib/ Bateria.
  • 27. 27 5- BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, Hermínio Carlos de. Corporação Musical Nossa Senhora da Conceição: 85 anos de memória viva em Belo Horizonte. 1999. 178f. Monografia (Especialização em Musicologia Brasileira) – Escola de Música, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1999. ANDRADE, Hermes de. A Banda de Música na Escola de Primeiro e Segundo Graus. 1988. 214f. (Mestrado em Música, Educação Musical) – Conservatório Brasileiro de Música, Rio de Janeiro, 1988. CAVALCANTE, João. Pretensioso. Belo Horizonte: [s.n], 1937. Dobrado para Banda de Música. 1 partitura. ____.Saudades. Belo Horizonte: [s.n], 1940. Dobrado para Banda de Música. 1 partitura. ____.Seresteiro. Belo Horizonte: [s.n], [194-]. Dobrado para Banda de Música. 1 partitura. CINTRA, Sebastião de Oliveira. Maestro Tenente João Cavalcante - Grande benfeitor da arte Musical de São João del Rei. Tribuna Sanjoanense, São João del Rei, p.3, 26 março, 1996. FUNARTE. Disponível em <http://www.funarte.gov.br/comus/comus.htm#>. Acesso em: 05, março, 2004. GUEDES, Alexandre Brasil de Matos. Introdução à Poética do Contrabaixo no Choro; O Fazer do Músico Popular entre o Querer e o Dever, 2003. 180 f. Dissertação ( Mestrado em Música) UNIRIO, Rio de Janeiro, 2003. GRANJA, Maria de Fátima Duarte. A Banda: Som e Magia. 1984. 163f. Dissertação (Mestrado em Comunicação, Sistemas de Comunicação) – Escola de Comunicação, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1984. LEITE, M. Batista de Melo. Dobrado para banda de música. 1 Parte de tuba MEIRA, Antônio Gonçalves; SCHIRMER, Pedro. Música Militar & Bandas Militares: Origem e Desenvolvimento. Rio de Janeiro: Estandarte Editora E. C. 2000. 136p. MÔNICA, Laura Della. História da banda de música da Polícia Militar do Estado de São Paulo. 2. Ed. São Paulo: Tip. Edanne, 1975. 136p. OURO PRETO WORLD. Desenvolvido por Nylton Gomes Batista, 2004. <http://www.ouropreto-ourtoworld.jor.br/bandamusica/id10.htm>. Acesso em: 25 set. 2004. PREFEITURA MUNICIPAL Belo Horizonte. Sociedade Musical Carlos Gomes: Cem anos marcando o compasso da nossa história. Belo Horizonte:[s.n], 1996. 268 p.
  • 28. 28 REZENDE, Maria Conceição. A música na história de Minas Colonial. Belo Horizonte: Itatiaia, 1989. 765p. SALLES, Vicente. Sociedades de Euterpe: As Bandas de Música no Grão Pará. Edição do Autor. Brasília: 1985. 230 p. SANTOS, Rafael dos. Análise e considerações sobre a execução dos choros para piano solo Canhoto e Manhosamente de Radamés Gnattali. Per Musi, Belo Horizonte, v. 3, p. 5-16, 2002. SECRETARIA DE ESTADO DA CULTURA DE MINAS GERAIS. Disponível em <http://www.cultura.mg.gov.br>. Acesso em: 05 março 2004. SÉVE, Mário. Vocabulário do Choro. Rio de Janeiro: Lumiar Editora, 1999 SOCIEDADE MUSICAL UNIÃO SOCIAL DE CACHOEIRA DO CAMPO. <http://www.cachoeiradocampo.art.br/bandas.htm#cima>. Acesso em: 27 set. 2004. TINHORÃO, José Ramos. Música Popular: Os Sons que vem da rua. Rio de Janeiro: Ed. Tinhorão, 1976. 190p. TINHORÃO, José Ramos. Música Popular: um tema em debate. 3 ed. revista e ampliada. São Paulo: Ed. 34, 1997. 191 p. TIRADENTES, Banda de Música do 11º Batalhão de Infantaria de Montanha Regimento (interp.). Saudades: Marchas Militares e Dobrados Brasileiros. São João del Rei: 2001. 1 CD. Acompanha livreto.