A Face Oculta Da TransferêNcia De Renda Para Jovens No Brasil
A mortalidade entre os jovens adultos brasileiros
1. A MORTALIDADE
ENTRE OS JOVENS ADULTOS BRASILEIROS –
POR QUE E QUAIS MORREM MAIS?
Herton Ellery Araújo1
1 INTRODUÇÃO
É amplamente conhecido o fato da mortalidade dos ho-
mens jovens brasileiros, na década dos oitenta, ter sofrido um subs-
tancial aumento, enquanto a mortalidade feminina apresentou
processo inverso. O objetivo deste artigo é mostrar quais as causas
responsáveis pelo comportamento da mortalidade entre os jovens na
década de oitenta, bem como o comportamento deste fenômeno na
primeira metade dos anos noventa.
Em primeiro lugar, analisa-se as taxas de mortalidade por
idade; o objetivo é ressaltar as idades cujas taxas de mortalidade
apresentaram crescimento nos períodos estudados. Em seguida, apre-
senta-se as taxas de mortalidade da população como um todo pelos
dezessete capítulos da CID 09 – Nona Classificação Internacional de
Doenças; dessa maneira, pode-se ter uma idéia da transição epidemio-
lógica ocorrida no período. Esse é o conteúdo do Capítulo 3 – O
Comportamento da Mortalidade em Geral.
Depois dessa visão mais geral, focaliza-se o problema estu-
dando a mortalidade por causas nas idades “eleitas” como de morta-
lidade problemática, assim pode-se determinar quais são os problemas
de maior relevância na mortalidade jovem. O Capítulo 4 – O Compor-
tamento da Mortalidade Jovem, faz tal focalização.
Antes de começar qualquer análise, todavia, faz-se neces-
sário detalhar a metodologia utilizada, bem como delimitar o universo
estudo; isso é feito no Capítulo 2 – Notas Metodológicas.
Finalmente, o Capítulo 5 – Conclusões, pretende fazer um
resumo do quadro apresentado, sugerindo possíveis desdobramentos.
1 Pesquisador do IPEA.
XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP 1911
2. 2 NOTAS METODOLÓGICAS
As taxas de mortalidade apresentadas neste trabalho são
sempre calculadas separadamente por sexo (dado que o fenômeno da
mortalidade é extremamente diferenciado entre homens e mulheres),
além disso, trata-se de taxas de mortalidade por dez mil habitantes. A
população alvo do trabalho são os residentes em Municípios de Capital
e/ou Regiões Metropolitanas, representando cerca de 39% da popula-
ção brasileira em 1996. Os motivos da escolha desse universo são a
melhor qualidade dos dados de mortalidade, por um lado, e a seme-
lhança nas condições de exposição ao risco de morte, por outro lado,
já que se trata de conglomerados urbanos.
As taxas são apresentadas em três momentos do tempo,
sendo calculadas da seguinte forma:
• Momento 1 – no numerador utiliza-se a média das
mortes de residentes ocorridas entre
1979 e 1981 e no denominador a popula-
ção residente do Censo Demográfico de
1980;
• Momento 2 – no numerador utiliza-se a média das
mortes de residentes ocorridas entre
1990 e 1992 e no denominador a popula-
ção residente do Censo demográfico de
1991;
• Momento 3 – no numerador utiliza-se a média das
mortes de residentes ocorridas entre
1993 e 1995 e no denominador a popula-
ção estimada em 1994. Estimou-se a po-
pulação de 1994 por meio de inter-
polação geométrica entre as populações
correspondentes nos anos de 1991 e 1996
seguindo a coorte, ou seja, a população
de 10 a 14 anos, por exemplo, em 1994 é
igual a interpolação da população de 7 a
11 anos em 1991 e a população de 12 a
16 anos em 1996. A população de 0 a 4
anos é exceção a essa regra, tento sido
estimada por interpolação “horizontal”.
1912 XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP
3. As informações sobre o número de mortes foram obtidas
do CDROM-SIM – Sistema de Informação de Mortalidade fornecido
pelo Ministério da Saúde/Fundação Nacional de Saúde, cujos dados
definitivos de mortes por causas compreendem os óbitos de 1979 à
1995.
Quanto às informações de população, utilizou-se as popu-
lações dos Censos de 1980 e 1991 e da Contagem Populacional de 1996.
Para estimar a população de 1994 utilizou-se o procedimento descrito
acima. No entanto, as populações dos municípios de capital por idade
simples, em 1996, não encontram-se disponíveis, como as de 1991, que
são facilmente obtidas por meio dos microdados do Censo de 1991.
Com o objetivo de preencher tal lacuna, utilizou-se o seguinte recurso:
aplicou-se à cada grupo etário da população de município de capital
(informação disponível no CDROM da Contagem 1996 com dados
municipais) a estrutura etária observada para o estado corres-
pondente (informação disponível no CDROM da Contagem 1996 com
dados gerais).
3 O COMPORTAMENTO DA MORTALIDADE EM GERAL
Nesse capítulo analisa-se a mortalidade do universo da
população, ou seja, residentes em Município de Capital e/ou Região
Metropolitana. O objetivo é identificar as idades e as causas de morte
com comportamento indesejável. No próximo capítulo utilizar-se-á as
informações obtidas nesse para detalhar mais o problema, cruzando
idades com causas, no intuito de apontar os problemas mais graves.
3.1 A mortalidade por grupos de idade
A Tabela 1 mostra as taxas de mortalidade por grupos de
idades escolhidos para homens e mulheres, além das taxas de cresci-
mento anual das mesmas entre os três momentos do estudo. Com isso
pode-se saber que idades têm apresentado taxas crescentes, além de
fazer uma comparação entre os períodos para saber em quais idades
o problema tem-se agravado e em quais tem diminuído. A primeira
linha “TOTAL” mostra as taxas brutas de mortalidade (TBM) para
homens (M) e mulheres (F), bem como sua evolução entre os períodos.
XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP 1913
4. 1914
Tabela 1
TAXAS DE MORTALIDADE POR IDADE E SEXO
DOS RESIDENTES EM MUNICÍPIO DE CAPITAL E/OU REGIÃO METROPOLITANA – 1980 1991 E 1994
E TAXAS DE CRESCIMENTO ANUAL DAS TAXAS ENTRE 1980/1991 E 1991/1994
Taxas de mortalidade Crescimento anual (%)
Idade
1980M 1991M 1994M 1980F 1991F 1994F 91/80M 94/91M 91/80F 94/91F
Total 85,5 76,3 76,5 60,6 50,2 49,7 –1,0 0,1 –1,7 –0,3
0a4 180,7 84,2 83,5 146,2 67,2 67,2 –6,7 –0,3 –6,8 –0,3
5a9 8,1 5,3 5,1 5,8 3,7 3,6 –3,7 –1,6 –3,9 –1,1
10 a 14 8,3 6,6 6,2 5,0 3,6 3,8 –2,1 –2,2 –2,9 1,4
15 a 19 18,6 25,2 23,7 7,6 6,3 6,4 2,8 –2,0 –1,7 0,4
20 a 29 27,8 37,2 37,9 11,0 9,1 9,3 2,7 0,6 –1,8 0,9
30 a 39 43,5 47,4 48,5 21,5 16,3 16,0 0,8 0,8 –2,5 –0,5
40 a 49 85,4 76,8 74,1 44,2 35,6 33,3 –1,0 –1,2 –1,9 –2,2
50 a 59 167,0 157,0 144,9 87,4 82,0 74,5 –0,6 –2,6 –0,6 –3,2
60 a 69 352,6 316,6 294,4 197,1 174,1 158,4 –1,0 –2,4 –1,1 –3,1
70 e + 950,3 866,9 767,8 699,0 648,5 558,1 –0,8 –4,0 –0,7 –4,9
Fontes: Censos Demográficos de 1980, 1991 e 1996 IBGE.
SIM – Sistema de Informação sobre Mortalidade – MS/FNS/CENEPI/DATASUS.
Elaboração própria.
XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP
5. Para os homens a TBM caiu entre 1980 e 1991. Esse
resultado decorreu principalmente da forte queda da mortalidade nas
idades mais jovens de 0 a 14 anos e dos mais velhos 40 anos e mais,
compensando o aumento da mortalidade jovem 15 a 39 anos. Entre
1991 e 1994, ao contrário, a queda na mortalidade dos grupos extre-
mos, principalmente das crianças 0 a 14 anos, não compensou o
aumento da mortalidade no grupo de 20 a 39 anos, o que levou a um
aumento da TBM masculina.
Entre as mulheres destaca-se o fato da mortalidade ter
caído para todas as idades entre 1980 e 1991 levando a uma queda da
TBM no período. Na primeira metade dos noventa, no entanto, as
jovens de 10 a 29 anos apresentaram taxas de mortalidade crescentes.
Além disso, as meninas de 0 a 9 anos e as mulheres de 30 a 39
apresentaram velocidade muito mais modesta na queda, fazendo com
que a TBM se mantivesse praticamente inalterada nesse período.
Um ponto a ser ressaltado é a queda constante das taxas
de mortalidade da população de 40 anos e mais, tanto entre homens
como entre mulheres. Além do movimento ter sido descendente na
década dos oitenta e na primeira metade dos noventa, a velocidade da
queda, medida pelo crescimento anual das taxas, é bem maior em
noventa do que nos oitenta. Doenças do aparelho circulatório e neo-
plasmas (doenças cuja prevenção tem papel preponderante) respon-
dem por mais de cinqüenta por cento das mortes nessas idades.
Pode-se supor, portanto, que o nível de conscientização para a saúde
da população tem melhorado substancialmente.
Os Gráficos 1 e 2, baseados na Tabela 1, mostram respec-
tivamente a evolução das taxas de mortalidade nas idades que apre-
sentaram aumento em pelo menos um dos períodos, 15 a 39 anos para
os homens e 10 a 29 anos para as mulheres.
3.2 A mortalidade por causas
A Tabela 2 mostra as taxas de mortalidade por causas de
morte, ou melhor, por grupos de causas de morte: os 17 capítulos da
CID – 09 – Nona Classificação Internacional de Doenças. Além disso,
como na Tabela 1, são apresentadas as taxas de crescimento anual
para os períodos considerados. O objetivo é eleger entre os dezessete
grupos aqueles que podem ser considerados um problema, no que diz
respeito à saúde pública.
XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP 1915
6. Gráfico 1
TAXAS DE MORTALIDADE MASCULINA DE JOVENS RESIDENTES
EM MUNICÍPIO DE CAPITAL E/OU REGIÃO METROPOLITANA
1980, 1991 E 1994
50 4 7 ,4 4 8 ,5
45 4 3 ,5
40 3 7 ,2 3 7 ,9
35
30 2 7 ,8
2 5 ,2
Taxas
2 3 ,7
25
20 1 8 ,6
15
10
5
0
15 a 19 anos 20 a 29 anos 30 a 39 anos
1980M 1991M 1994M
Gráfico 2
TAXAS DE MORTALIDADE FEMININA DE JOVENS RESIDENTES EM MUNICÍ-
PIO DE CAPITAL E/OU REGIÃO METROPOLITANA
1980, 1991 E 1994
12
1 1 ,0
11
10 9 ,3
9 ,1
9
8 7 ,6
Taxas
7 6 ,3 6 ,4
6
5 ,0
5
3 ,6 3 ,8
4
3
2
10 a 14 anos 15 a 19 anos 20 a 29 anos
1980F 1991F 1994F
1916 XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP
7. Tabela 2
TAXAS DE MORTALIDADE POR CAUSAS E SEXO
DOS RESIDENTES EM MUNICÍPIO DE CAPITAL E/OU REGIÃO METROPOLITANA – 1980 1991 E 1994
E TAXAS DE CRESCIMENTO ANUAL DAS TAXAS ENTRE 1980/1991 E 1991/1994
Taxas de mortalidade Crescimento anual (%)
Capítulo CID. 09
1980M 1991M 1994M 1980F 1991F 1994F 91/80M 94/91M 91/80F 94/91F
Total 85,5 76,3 76,5 60,6 50,2 49,7 –1,0 0,1 –1,7 –0,3
I – Doenças infecciosas e parasitárias 9,7 3,9 3,6 6,8 2,4 2,3 –8,1 –2,1 –8,9 –2,7
II – Neoplasmas 8,0 8,5 8,5 6,9 7,4 7,3 0,5 0,2 0,7 –0,5
III – Doenças endoc nutric metab e transt imunitar 3,1 4,3 5,0 3,2 3,2 3,5 2,8 5,6 0,1 3,1
IV – Doenças do sangue e órgãos hematopoéticos 0,3 0,2 0,2 0,3 0,2 0,2 –3,6 0,7 –3,8 –0,5
V – Transtornos mentais 0,3 0,5 0,6 0,1 0,1 0,1 4,7 2,0 4,3 3,3
VI – Doenças do sist nervoso e dos org sentidos 1,3 0,9 0,9 0,9 0,6 0,6 –3,4 0,1 –3,1 –1,3
VII – Doenças do aparelho circulatório 23,0 21,1 20,1 20,1 18,3 17,3 –0,8 –1,7 –0,9 –1,9
VIII – Doenças do aparelho respiratório 9,2 7,4 7,9 6,5 5,2 5,6 –2,0 2,3 –2,0 2,6
IX – Doenças do aparelho digestivo 4,0 4,1 4,1 2,0 1,9 1,9 0,1 0,0 –0,6 1,0
X – Doenças do aparelho geniturinário 1,2 1,0 1,1 1,0 0,8 0,8 –1,2 1,1 –1,6 1,2
XI – Complicações da gravidez parto e puerpério – – – 0,4 0,2 0,2 – – –6,0 0,1
XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP
XII – Doenças da pele e tecido celular subcutâneo 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 0,1 1,7 3,4 3,0 1,9
XIII – Doenças sist osteomuscular e tec conjuntivo 0,1 0,1 0,1 0,2 0,2 0,2 2,8 –2,3 0,8 1,8
XIV – Anomalias congênitas 1,1 0,8 0,8 0,9 0,6 0,6 –2,9 –1,5 –3,2 0,1
XV – Algumas afecções origin no período perinatal 6,9 3,6 3,4 4,7 2,5 2,4 –5,7 –1,5 –5,3 –2,3
XVI – Sintomas sinais e afecções mal definidas 4,5 4,3 4,9 3,6 3,3 3,6 –0,4 4,3 –0,6 2,8
XVII – Causas externas 12,6 15,6 15,3 3,1 3,0 2,8 1,9 –0,6 –0,4 –1,2
Fontes: Censos Demográficos de 1980, 1991 e 1996 IBGE.
SIM – Sistema de Informação sobre Mortalidade – MS/FNS/CENEPI/DATASUS.
Elaboração própria.
1917
8. Há duas maneiras de ler essa tabela: – na vertical tem-se
uma análise estática, na qual pode-se conhecer as causas que mais
matam a população. Por exemplo, em 1980 os homens tinham como
principal causa de morte o grupo número VII – Doenças do aparelho
circulatório, seguida de causas externas e assim por diante. Por outro
lado, na horizontal, tem-se uma análise dinâmica, na qual pode-se
conhecer a evolução temporal da mortalidade por uma determinada
causa. Por exemplo, a segunda linha mostra que as doenças infecciosas
e parasitárias tiveram uma forte queda em suas taxas, tanto para
homens quanto para mulheres e que a queda foi mais rápida na década
de oitenta do que na primeira metade da de noventa.
O critério utilizado para eleger as cinco causas mais rele-
vantes leva em consideração os dois tipos de análise, a estática e a
dinâmica. Seja o seguinte critério: em primeiro lugar escolhe-se as
cinco principais causas de morte, excetuando-se as causas mal defini-
das, para cada coluna. Com esse procedimento surgem sete diferentes
causas. Daí olha-se as taxas de crescimento anual para cada uma
dessas sete causas. As que apresentarem apenas crescimento negativo
são descartadas, pois considera-se um problema já em vias de ser
resolvido. Um problema surge quando esses dois critérios são utiliza-
dos concomitantemente: o capítulo com as doenças do aparelho circu-
latório é descartado, porque suas taxas estão sempre em declínio no
período, mas essa é a principal causa de morte entre os homens e
também entre as mulheres, portanto este capítulo será considerado
importante mesmo não cumprindo o critério da análise dinâmica.
As cinco causas eleitas pelo critério acima são: II – Neo-
plasmas; III – Doenças das Glândulas Endócrinas, da Nutrição e do
Metabolismo e Transtornos Imunitários; VII – Doenças do Aparelho
Circulatório; VIII – Doenças do Aparelho Respiratório e XVII – Causas
externas. Essas cinco doenças respondiam na década de noventa por
cerca de 74% das mortes da população estudada. Os Gráficos 3 e 4
mostram o comportamento das taxas, respectivamente para homens
e mulheres.
As causas externas possuem uma importância muito
maior entre os homens. Além disso, as taxas de mortalidade masculina
são invariavelmente maiores que as femininas para todas as causas,
inclusive para a mortalidade por neoplasmas. Daí a importância de se
estudar o fenômeno da mortalidade separadamente por sexo.
1918 XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP
9. Gráfico 3
TAXAS DE MORTALIDADE MASCULINA DE RESIDENTES
EM MUNICÍPIO DE CAPITAL E/OU REGIÃO METROPOLITANA
1980, 1991 E 1994
29,6
30
25 23,0
21,1
20,1 19,5 19,7
20
15,6 15,3
Taxas
15 12,6
9,2
10 8,0 8,5 8,5
7,4 7,9
5,0
4,3
5 3,1
0
II Neoplasmas III Doenças V II Doenças V III Doenç as XVII Causas Outras
endoc. nutric. do aparelh o do aparelh o ex ternas
metab. e c irculatório respiratório
transt.
1980M 1991M 1994M
Gráfico 4
TAXAS DE MORTALIDADE FEMININA DE RESIDENTES
EM MUNICÍPIO DE CAPITAL E/OU REGIÃO METROPOLITANA
1980, 1991 E 1994
25
20,8
20,1
20 18,3
17,3
15 13,1 13,1
Taxas
10
6,9 7,4 7,3 6,5
5,2 5,6
5 3,2 3,2 3,5 3,1 3,0 2,8
0
II Neoplasmas III Doenças VII Doenças VIII Doenças XVII Causas Outras
endoc. nutric. do aparelho do aparelho externas
metab. e circulatório respiratório
transt.
1980F 1991F 1994F
XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP 1919
10. 4 O COMPORTAMENTO DA MORTALIDADE JOVEM
No capítulo anterior definiu-se as idades “problemáticas”
para os homens (15 a 19, 20 a 29 e 30 a 39 anos) e para as mulheres
(10 a 14, 15 a 19 e 20 a 29 anos). Além disso elegeu-se as causas de
morte mais graves, para a população como um todo. Obviamente as
principais causas de morte das idades especificadas acima não são
necessariamente as mesmas da população como um todo, mas há uma
semelhança muito grande, como pode-se constatar por meio dos grá-
ficos da análise a seguir. Assim sendo, analisar-se-á o comportamento
daquelas cinco causas nas idades definidas acima.
4.1 A mortalidade jovem por causas
Os Gráficos 5, 6 e 7 mostram o comportamento por causas
da mortalidade masculina, respectivamente para os três grupos de
idade escolhidos. Como se pode ver, causas externas são, indubitavel-
mente, o grupo de causas de morte mais relevante, para as três faixas
de idade estudadas. No entanto, isso não pode ser usado como expli-
cação do crescimento da mortalidade jovem na primeira metade da
década de noventa, pois houve um decréscimo da taxa em todas as
idades.
O aumento da mortalidade no grupo de 15 a 19 anos
durante a década de oitenta (ver Tabela 1), é totalmente explicado pelo
aumento da mortalidade por causas externas, assim como a diminui-
ção da mortalidade no segundo período deve-se à queda da mortalidade
por causas externas. O comportamento da mortalidade dos jovens
nessa faixa etária é, portanto, determinado pelas causas externas.
Quanto aos jovens de 20 a 29 anos, os quais sofreram
aumento nas taxas de mortalidade tanto nos oitenta quanto nos
noventa, nota-se que o aumento na década passada foi determinado
pelas causas externas, mas o dessa primeira metade de década foram
as doenças do grupo III (nas quais encontra-se catalogada a AIDS), as
responsáveis. Assim sendo, surge um novo problema na mortalidade
dos jovens de 20 a 29 anos, nos anos noventa. Note-se que esse grupo
de causas passa a ser o segundo mais importante, já no começo dos
anos noventa. Além disso, sua taxa de mortalidade em 1994 é cerca de
12 vezes maior do que em 1980.
1920 XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP
11. Gráfico 5
TAXAS DE MORTALIDADE MASCULINA DE RESIDENTES
EM MUNICÍPIO DE CAPITAL E/OU REGIÃO METROPOLITANA
1980, 1991 E 1994 (15 A 19 ANOS)
25
20,2
19,1
20
15
12,9
Taxas
10
5
2,9 2,3
2,1
0,9 0,7 0,8 1,1 0,7 0,7 0,7 0,8 0,8
0,1 0,4 0,3
0
II Neoplasmas III Doenças VII Doenças VIII Doenças XVII Causas Outras
endoc. nutric. do aparelho do aparelho externas
metab. e circulatório respiratório
transt.
1980M 1991M 1994M
Gráfico 6
TAXAS DE MORTALIDADE MASCULINA DE RESIDENTES
EM MUNICÍPIO DE CAPITAL E/OU REGIÃO METROPOLITANA
1980, 1991 E 1994 (20 A 29 ANOS)
30
26,5 26,3
25
20 18,6
Taxas
15
10
4,8 4,2
3,6 4,1
5 2,7 2,1 1,7 1,5
1,0 1,0 1,0 1,1 1,2 1,4
0,3
0
II Neoplasmas III Doenças VII Doenças VIII Doenças XVII Causas Outras
endoc. nutric. do aparelho do aparelho externas
metab. e circulatório respiratório
transt.
1980M 1991M 1994M
XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP 1921
12. Gráfico 7
TAXAS DE MORTALIDADE MASCULINA DE RESIDENTES
EM MUNICÍPIO DE CAPITAL E/OU REGIÃO METROPOLITANA
1980, 1991 E 1994 (30 A 39 ANOS)
25
20,8 20,3
20
17,7
15
Taxas
12,0
10,6 10,6
10 7,9
7,2
6,0 5,5
5,2
5
2,5 2,2 2,1 2,7 2,6 2,8
0,7
0
II Neoplasmas III Doenças VII Doenças VIII Doenças XVII Causas Outras
endoc. nutric. do aparelho do aparelho externas
metab. e circulatório respiratório
transt.
1980M 1991M 1994M
Os homens de 30 a 39 anos também apresentaram taxas
de mortalidade crescentes entre os períodos estudados. Porém, para
esse grupo etário os anos oitenta já revela-se o problema das doença
do grupo III, embora as causas externas tenham contribuído para o
aumento da mortalidade ocorrido nos anos oitenta. O Gráfico 7 mostra
nitidamente a transição das causas ligadas às doenças do aparelho
circulatório, para as causas associadas ao grupo III.
Com relação às mulheres a situação é um pouco diferen-
ciada. As cinco principais causas não apresentam um peso tão expres-
sivo na mortalidade, ensejando uma maior dispersão da mortalidade
por causas do que a apresentada pelos homens. Não obstante, as
causas externas apresentam-se como principal causa de morte para
todos os grupos etários e em todos os períodos estudados.
As meninas de 10 a 14 anos, cuja mortalidade aumentou
em 0,2 pontos nessa década (ver Tabela 1), sofreram aumentos per-
ceptíveis nas taxas de mortalidade por neoplasmas e causas externas.
Não parece haver, no entanto, nenhuma tendência de agravamento
do problema, mas sim alguma variação conjuntural, visto que as taxas
são extremamente baixas (Gráfico 8).
1922 XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP
13. Gráfico 8
TAXAS DE MORTALIDADE FEMININA DE RESIDENTES
EM MUNICÍPIO DE CAPITAL E/OU REGIÃO METROPOLITANA
1980, 1991 E 1994 (10 A 14 ANOS)
1,8 1,7 1,7
1,6 1,5
1,4
1,4
1,2 1,1 1,1
1
Taxas
0,8
0,6 0,5 0,5 0,5 0,5
0,4 0,4 0,4
0,4 0,3 0,3
0,2 0,1 0,1 0,1
0
II Neoplasmas III Doenças VII Doenças VIII Doenças XVII Causas Outras
endoc. nutric. do aparelho do aparelho externas
metab. e circulatório respiratório
transt.
1980F 1991F 1994F
Com relação as jovens de 15 a 19 anos, a taxa de mortali-
dade permaneceu praticamente constante, cabendo menção apenas ao
ligeiro aumento da mortalidade por causas externas no começo da
década dos noventa, bem como o que parece ser uma tendência de alta
na mortalidade por causas ligadas ao grupo III – Doenças das Glându-
las Endócrinas, da Nutrição e do Metabolismo e Transtornos Imuni-
tários (Gráfico 9).
Entre as mulheres de 20 a 29 anos a situação é bem mais
definida, pois enquanto a mortalidade por causas externas permanece
praticamente constante, a mortalidade por doenças do aparelho circu-
latório tem uma nítida tendência de queda e a mortalidade pelas
causas do grupo III uma segura tendência ascendente, inclusive com
maior velocidade na década de noventa do que na passada. Se esse
processo continuar, em poucos anos veremos as causas do grupo III
tornarem-se a principal causa de morte entre as mulheres de 20 a 29
anos (Gráfico 10).
XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP 1923
14. Gráfico 9
TAXAS DE MORTALIDADE FEMININA DE RESIDENTES
EM MUNICÍPIO DE CAPITAL E/OU REGIÃO METROPOLITANA
1980, 1991 E 1994 (15 A 19 ANOS)
2,9
3
2,7
2,6 2,6
2,5
1,9 1,9
2
Taxas
1,5
1 0,8
0,6 0,6 0,6 0,6
0,5 0,5 0,5 0,5
0,5
0,2 0,2
0,1
0
II Neoplasmas III Doenças VII Doenças VIII Doenças XVII Causas Outras
endoc. nutric. do aparelho do aparelho externas
metab. e circulatório respiratório
transt.
1980F 1991F 1994F
Gráfico 10
TAXAS DE MORTALIDADE FEMININA DE RESIDENTES
EM MUNICÍPIO DE CAPITAL E/OU REGIÃO METROPOLITANA
1980, 1991 E 1994 (20 A 29 ANOS)
4,4
4,5
4
3,5
3 2,8 2,8 2,9
2,7 2,7
2,5
Taxas
1,9
2
1,5 1,2 1,2
0,9 0,9 0,8 1,0 0,9
1 0,7 0,7 0,7
0,5 0,2
0
II Neoplasmas III Doenças VII Doenças VIII Doenças XVII Causas Outras
endoc. nutric. do aparelho do aparelho externas
metab. e circulatório respiratório
transt.
1980F 1991F 1994F
1924 XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP
15. 4.2 A mortalidade jovem por causas externas
Finalmente pode-se agora eleger o grupo de causas que
mais mata os jovens em geral, as causas externas. Não há dúvidas que
os homens sofrem muito mais desse problema do que as mulheres.
Além disso os homens jovens de 20 a 29 anos são os que apresentam
maiores taxas de mortalidade por causas externas e com menor queda
entre os dois últimos períodos 1991 e 1994. Escolher-se-á, então, este
grupo de jovens para pesquisar que tipo de morte por causas externas
está mais ligado ao aumento da mortalidade.
As mortes por causas externas são separadas em oito
subgrupos, quais sejam:
– E47 – Acidentes de transporte;
– E48-E49 – Envenenamentos acidentais e acidentes aci-
dentes provocados em pacientes durante procedimento
médico, reações anormais, complicações tardias;
– E50 – Quedas acidentais;
– E51 – acidentes causados por fogo e chama;
– E52-E53 – Outros acidentes, incluindo efeitos tardios,
efeitos adversos de drogas, medicamentos e substâncias
biológicas usadas com finalidade terapêutica;
– E54 – Suicídios e lesões auto-infligidas;
– E55 – Homicídios e lesões provocadas intencionalmente
por outras pessoas;
– E56 – Outras violências.
Usando-se o critério de escolha definido no capítulo ante-
rior, define-se os subgrupos mostrados no Gráfico 11. Como se pode
notar, Homicídios e Acidentes de Transporte são as causas mais graves
de mortalidade entre as causas externas. Ambas superam qualquer
outro grupo de causas (ver Gráfico 6), para os três momentos do
estudo. A taxa de mortalidade por Homicídios, além de superar em
mais de três vezes a taxa por Acidente de Transporte no último
período, tem um comportamento ascendente. Caracterizando-se as-
sim no maior problema de mortalidade que o Brasil enfrenta no
começo da década dos noventa.
XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP 1925
16. Gráfico 11
TAXAS DE MORTALIDADE MASCULINA DE RESIDENTES
EM MUNICÍPIO DE CAPITAL E/OU REGIÃO METROPOLITANA
1980, 1991 E 1994 (20 A 29 ANOS)
16
14,7
14 13,5
12
10
Taxas
8
6,5
6
4,8
4,5 4,5
4,0 4,1
4 3,3 3,4
3,0
2,6
2
0,8 1,0
0,7
0
E47 Acidentes de E52-E53 Out. E54 Suicídios e E55 Homicídios e Out ras ex ternas
Transporte acid. incl. efeit. lesões auto lesões
tard. e efect. infligidas provocadas
adver.drog intencionalmente
1980M 1991M 1994M
5 CONCLUSÕES
O trabalho mostrou que há problemas a serem enfrentados
pelos órgãos responsáveis pela saúde pública: esses problemas estão
relacionados com a mortalidade dos jovens brasileiros. Por um lado,
as mulheres jovens tem aumentado sua mortalidade, principalmente
por causa de doenças ligadas ao grupo III – Doenças das Glândulas
Endócrinas, da Nutrição e do Metabolismo e Transtornos Imunitários.
Por outro lado, os homens jovens tem sofrido um aumento de morta-
lidade mais intenso que as mulheres e além da causa aludida acima
para as mulheres, um outro flagelo vem consumindo as vidas dos
jovens brasileiros: o Homicídio.
Na linha do que foi apresentado nesse trabalho pode-se
localizar geograficamente o problema, pois São Paulo e Rio de Janeiro
somam cerca de 45% do universo estudado. Assim, um problema que
parece geral (o do homicídio, por exemplo), pode estar fortemente
localizado nessas duas Regiões Metropolitanas e Belo Horizonte,
Curitiba etc. podem estar sofrendo de outro problema, ou até mesmo
podem não ter problemas com relação à mortalidade.
1926 XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP
17. 6 BIBLIOGRAFIA
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1928 XI Encontro Nacional de Estudos Populacionais da ABEP