O documento discute a liberdade na brincadeira infantil. A brincadeira permite que as crianças invertem a ordem do mundo, assumam diferentes papéis e transitem entre tempos. Embora a brincadeira não signifique ausência de regras, ela permite a criação de novas formas de expressão, ação e significado, construindo novas culturas entre as crianças.
3. Agora eu era o herói E o meu cavalo só falava inglês A noiva do cowboy Era você Além das outras três
4. Eu enfrentava os batalhões Os alemães e seus canhões Guardava o meu bodoque E ensaiava um rock Para as matinês
5. Agora eu era o rei Era o bedéu e era também juiz E pela minha lei A gente era obrigado a ser feliz E você era a princesa
6. Que eu fiz coroar E era tão linda de se admirar Que andava nua pelo meu país Não, não fuja não
7. Finja que agora eu era o seu brinquedo Eu era o seu pião O seu bicho preferido Vem, me dê a mão A gente agora já não tinha medo No tempo da maldade Acho que a gente nem tinha nascido
8. Agora era fatal Que o faz-de-conta terminasse assim Pra lá desse quintal Era uma noite que não tem mais fim Pois você sumiu no meu mundo Sem me avisar E agora eu era um louco a perguntar O que é que a vida vai fazer de mim
9. [...] A liberdade no brincar se configura no inverter a ordem, virar o mundo de ponta-cabeça, fazer o que parece impossível, transitar em diferentes tempos – passado, presente e futuro – Agora eu era herói... Rodar até cair, ficar tonto de tanto correr, ser rei, caubói, ladrão, polícia, desafiar os limites da realidade cotidiana. A idéia de liberdade está associada, entretanto, não à ausência de regras, mas à criação de formas de expressão e de ação e à definição de novos planos de significação que implicam novas formas de compreender o mundo e a si mesmo. Assim, a brincadeira é um lugar de construção de culturas, fundado nas interações sociais entre as crianças. (Trecho extraído do texto de Ângela Meyer Borba)