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Myrian Nunomura
TÉCNICO DE GINÁSTICA ARTÍSTICA:
uma proposta para a formação profissional
Este exemplar corresponde à redação final
da Tese de Doutomdo em Educação Física
defendida por Myrian Nunomum e aprovada
pela Comissão Julgadom em 20 dejulho de 2001
Orientador: Prof'. Dr". Vilma Leni Nisla Piccolo
Campinas
N.' CPD
Cl"iOOi
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA-FEF-UNICAMP
"927t
Nunomura, Myrian
Técnico de ginástica artística: uma proposta para a formação profissional I
Myrian Nunomura. --Campinas, SP: [s. n.], 2001.
Orientador: Vilma Leni Nista-Piccolo
Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Facnidade de
Educação Física
1. *Ginástica artística 2. Formação profissional 3. Estudo e ensino-
Atualização. I. Nista-Piccolo, Vilma l.eni. I!. Universidade Estadual de
Campinas, Faculdade de Educação Física.lll. Título.
)
Este exemplar corresponde à redação final
da tese de doutorado defendida por Myriam
Nunomura e aprovada pela comissão julgadora
em 20 de julho de 2001
(Orientadora)
AGRADECIMENTOS
Seria dificil expressar em palavras toda a minha gratidão às pessoas que
participaram da construção deste trabalho, um ideal que vinha alimentando há um certo
tempo. É um momento muito importante, tanto em minha vida profissional como pessoal.
Aprendi muito durante a realização deste trabalho mas, talvez, a lição mais significativa
que tirei de tudo isso foi que não somos ou não construímos nada sozínhos. Sempre
houve alguém que atenuasse as dificuldades que encontrei no caminho. O trabalho está
muito longe da perfeição mas, com certeza, ele foi enriquecido com a boa vontade, a
paciência, o respeito e o carinho daqueles que participaram da aplicação do programa, das
entrevistas e dos questionamentos, fornecendo--me ínformações e materiais valiosos. Não
posso me esquecer das pessoas que pontuaram e conigiram os meus erros, oferecendo-me
sugestões e criticas construtivas, mostrando-me o caminho certo ... Agradeço a todas
essas pessoas, independente do seu grau de envolvimento, porque cada grão de areia me
ajudou e fizeram com que meus passos se tomassem cada vez mais determinados. Receio
que ao citar nomes, que são muitos, poderia cometer alguma injustiça, esquecendo-me de
alguém. Apenas peço permissão para que eu manifuste um agradecimento especial à
minha orientadora e à minha família por terem me apoiado constantemenle, caminhando
sempre ao meu lado, dividindo comigo os momentos de ups and downs ...
Muito obrigada a todos vocês !
Campinas, 20 dejulbo de 2001.
v
"Vemos as coisas como elas são e perguntamos:
Porquê?
Sonho com coisas que nunca existiram epergunto:
vii
Por que não?"
(George B. Shaw)
RESUMO
ABSTRACT
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO--------------···························································--···················-·--··-----·· 01
O Objetivo do estudo ..................................................................................................... 04
O Problema .................................................................................................................... 04
AJustificativa ................................................................................................................ 09
A Contribuição do estudo .............................................................................................. 14
CAPÍTULO I ................................................................................................................ 15
A Ginástica Artística e a Formação Profissional no Brasil ............................................ 15
Os Cursos de Graduação e as principais mudanças ....................................................... 17
A Comissão de Especialistas de Ensino em Educação Física ....................................... 30
A Formação ua ãrea do Esporte ..................................................................................... 33
Clubes Esportivos, Federação e Confederação .............................................................. 45
A Formação de Técnicos em outros países .................................................................... 46
O Modelo do Canadá ..................................................................................................... 79
CAPÍTULO ll .............................................................................................................. 81
A Trajetória Metodológica ............................................................................................ 81
A Abordagem qnalitativa ................................................................................... 81
Os métodos procedimentais, as técnicas e os resultados ............................................... 88
A Pesquisa Bibliográfica ................................................................................... 88
A Pesquisa de Campo ........................................................................................ 88
-Entrevista com técnicos de GAdo estado de São Paulo-------·-·---------·-· 88
"'
- Questionamento aos participantes do Curso de Especialização ........... 97
- Questionamento aos alunos do Curso de Bacharelado em Esporte .....103
- O contato e o estudo do Programa do Canadá .....................................107
- A Aplicação do Programa ....................................................................107
CAPÍI'ULO ID ........................................................................................................... 133
APropos1a de um Programa .........................................................................................133
CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................153
REFERÊNCIAS BffiLIOGRÁFICAS ......................................................................159
BmLIOGRAFIA GERAL ........................................................................................165
ANEXOS ......................................................................................................................169
Anexo 1 .........................................................................................................................170
Anexo 2 .........................................................................................................................171
Anexo 3 .........................................................................................................................178
Anexo4 .........................................................................................................................179
RESUMO
O objetivo do presente estudo é apresentar uma proposta que visa melhorar a
qualidade de ensino da Ginástica Artística (GA), partindo-se da premissa que existe a
necessidade de uma formação específica para os professores de Educação Física que
querem atuar como técnico dessa modalidade. Este fato foi confinnado por meio de
investigações feitas entre os profissionais que já atuam na GA e entre aqueles que
pretendem ingressar nesta carreira, somando-se a isso a minha vivência como atleta,
árbitro, técnica e docente universitária nesta modalidade. Embora o problema tenha sido
constatado, as instituições relacionadas à prática da GA ainda não se mobilizaram com a
intenção de suprir as necessidades básicas desses profissionais. Após realizar um
levautamento bibliográfico, deparei-me com Programas para formação de técnicos em
outros países como o Caoadà, a Austrália, os Estados Unidos e Portugal. Depois de estudá-
los, pautei-me nas idéias apresentadas pelo modelo do Caoadà, criando e aplicando um
Programa de mesma natureza no Brasil, cuja avaliação recebeu um parecer positivo, tanto
dos participantes daqui como dos criadores do Programa naqoele país. Foram estes fatores
que, junto aos resultados encontrados nas investigações, puderam reforçar a impor1ilncia de
um Programa para formação de técnicos de GA em nosso país. Desta forma, apresento a
proposta de um Programa vinculado à criação de uma Associaçifu de Ginástica, que se
responsabilizaria pela integração de diversas instituições ligadas à modalidade para
desenvolver os cursos que podem formar, qualificar e maoter os profissionais da GA
atualizados.
ABSTRACT
The purpose of this study is to present a proposal to improve lhe quality of teaching
in Artistic Gymnastics (AG). lt started from lhe premise that there is a need for specific
Coaching Education in Brazil. This fact was confirmed by an investigation made within AG
professionals and those who intended to coach, also adding my experience as an athlete,
judge, coach and professor. Although this problem had been recognised before, no
institution related to AG expressed any support to satisfY lhe basic need of those
professiouals. While I was searchlng for some information concenting coaching education,
I found a Coaching Education Program whlch bas been implemented in Canada, Australia,
lhe USA and Portugal. So, after studying carefully those programs I took lhe Canadian
model as a reference and created and applied lhe same kind of Program in Brazil, which
received a positivo feedhack from lhe participants and its creators in that coun!Iy. Ali these
facts, added to lhe results achieved from my investigations, reinforced lhe importance ofa
Coaching Education Program in Brazil as well. So that, I proposed a Program linked to lhe
creation of a Gymoastics Association. This Assocíation would be responsible for lhe
integration ofdifferent institutions conoected to Gymoastics in order to conduct lhe courses
whlch would educate lhe AG professiouals, improving their necessary professional
qnalifications, and keeping !hem updated
INTRODUÇÃO
A Ginástica Artística
1
(GA) é uma modalidade esportiva que encanta o público com
seus movimentos graciosos e~ ao mesmo tempo. audaciosos e complexos que. aos olhos dos
leigos, parecem incompreensíveis e inacreditáveis. No Brasil, a divulgação, pela mídia, dos
principais eventos vem fazendo com que o número de praticantes desta modalidade cresça,
tanto em clubes como em academias, condominios e escolas (BAPTISTA et ai., 1997).
Outro aspecto que, hoje, poderia estar contribuindo para esse interesse seria o fato de se
conhecer um pouco mais a respeito dos beneficios proporcionados pela sua prática
(MELLO, s/d). Desta forma, observa-se um maior número de profissionais estimulando a
prática da GA, seja como recreação ou competição. Cresce, também, a demanda por
profissionais' cada vez mais especializados à medida que o ruvel de performance vai
aumentando.
Mas será que os nossos técrucos de GA estão sendo preparados adeqnadamente para
exercerem esta função?
Fiquei intrigado com a suposta lacuna existente entre a Graduação (ruvel superior) e
a atuaçãn prática de nossos técnicos de GA. Então, lancei-me em uma trajetória de
investigação desta questão, procurando conhecer a realidade da formação desses
profissionais e os Cursos de Graduação. Só assim foi possível traçar um perfil dos nossos
técnicos, além da descobrir as falhas presentes na sua formação, que se refletem no campo
de atuação (ambiente prático).
1 Tanto o termo Gi.ná&tica Artística con:IO Ginástica Olimpica referem--se à mesma modalidade da ginástica em apmellios (4 eventos
femininos e 6 masculinos). No Bnlsil, ambos são utilizado~:. Emborn a versão mais pro:cima do inglês seja Ginástica Artlstica (Artistic
Oymnastics), houve uma divetgência no pais, sendo aceitas as duas nomenclaturas e, dependendo do estado. cidade ou entidade, é adotada
uma ou outta nomenciatum., o que tem causado algumas coofusões..
~Aqui. o termo _profissional inclui tanto lideres, instrutores, tétmicos como professores.
1
A inexistência de uma '~Formação Específica" para os técnicos de GA tomou-se o
alvo da minha discussão, uma vez que ainda podemos encontrar técnicos que atuam nesta
modalidade valendo-se apenas de sua experiência como atleta. Atualmeníe, forçados pela
regulamen~ão
3
da profissão de Educação Física, esses técnicos esllio buscando os Cursos
de Graduação para não perderem sua posição no mercado de trabalho.
Apesar de acreditar que existe uma carência muito grande de profissionais com
conhecimento e experiência necessários para desenvolver aGA, não encontrei um Programa
de Formação ou de Certificação para esses profissionais no Brasil. Nem tampouoo há, até o
presente momento, intenções declaradas por parte dos órgãos oficiais, relacionados
diretameníe ou não à modalidade, como a Federação Paulista de Ginástica (FPG), a
Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), a Secretaria Municipal de Esportes (SEME) ou
o Ministério da Educação e Cultura (MEC) de incentivar a formação e desenvolvimento dos
técnícos de GA. Este cenário favorece a contratação de técnicos estrangeiros e a necessidade
dos técnicos brasileiros de buscarem cursos fom do país.
Atualmeníe, existem os Cursos em nível superior que coníemplam mua formação
mais direcionada ao profissional da àrea do Esporte como o da Universidade de São Paulo
(USP), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade Paulista-
Campus Rio Claro (UNESP) e, mais recentemente, o da Universidade Estadual de Londrina
(UEL). A proposta desses cursos é a formação de profissionais capacitados para intervirem
diretamente no esporte e nos empreendimentos esportivos. Mas será que esses cursos estão
atendendo à demanda do mercado de trabalho? No caso da GA, serà que os técnicos são
preparados adequadamente para orientarem os praticantes em diferentes níveis? Esses cursos
contemplam as expectativas e as necessidades desses profissionais?
A minha experiência como ginasta, técnica e árbitro da modalidade e, atualmente,
como docente universitária, e ainda a participação em encontros com profissionais da área,
enfim, a minha trajetória no ceuàrio da GA são futores imporlantes que contribuínnn de
forma significativa para o delineamento da questão da formação dos técnicos de GA.
3
A lei 9696198 esúlbelece ao profissional de Educação Fú:ica o resguardo dos direitos profismonai.s, a. delimitação das questões éticas e
suficiente possibilidade de organizar-se em categoúa profissional que possa oferecer-lhe o direito de participação de atividades pura as
quais somtm1e essa di:tmminada classe encontra--se formada e preparaéla.. podf:ndo ainda, apesar da existência da titul.ação necessâria. ser
cobrada umaatuaçãocompetente(TOJAL, 1999).
2
Um fato que também reforçou a minha opinião com relação à necessidade de um
Programa específico para a formação dos nossos técnicos foi a experiência de aplicar um
programa de treinamento em um Clube Esportivo de São Paulo, sem prévio estudo dos
componentes teórico, técnico e prático, cujo procedimento se mostrou pouco eficiente.
Uma investigação entre os profissionais qoe atuam nesta modalidade e entre aqueles
que pretendem ingressar nesta carreira também reforçaram a minha hipótese de que nossos
técnicos de GA necessitam de um Programa de furmação específico.
Partindo então dessa premissa e objetivando criar uma proposta de um programa que
pudesse contemplar a formação desses técnicos, investiguei como isso ocorre no contexto
internacional Após um levantamento dos programas existentes e de uma análise mais
aprofundada dos dados encontrados, pude constatar que o Programa Nacional de Formação
e Certificação para Técnicos Desportivos' do Canadá, que inclui a modalidade de GA,
mostrou~se mais adequadamente estruturado. Tomei conhecimento desse Programa em
1995, mas somente três anos depois (1998) é qoe pude contatar os responsàveis pela sua
criação, já com o intuito de toroà-1o um parâmetro parn a minha proposta apresentada nesta
tese de doutorado.
De acordo com os responsàveis pela implaotação do Programa no Canadá, este serve
parn orientar os profissionais a construirem um planejamento mais adequado, da iniciação ao
alto nível, e também estabelecer níveis de qualificação parn a profissão (RUSSELL&
KINSMAN5
, 1986).
Os criadores deste Programa também oferecem assessona a outros países que
pretendem elaborar um Programa de Formação e Certificação parn seus técnicos.
Portamo, a partir dos problemas detectados e tendo como referência o Programa do
Canadá parn a formação de técnicos, elaborei e apliquei um Programa de mesma natureza
com um grupo de alunos da Faculdade de Edocação Física da UNICAMP (FEF-
4 O I'rogrn.o:ul Nacional de Certifieação paxa Wcnioos do Canadá (Nali<mt.d Coaching Certi.fication Program) engloba mais de 60
modalidades esportivas, desde a iniciação até a competição. No caso da GA, atualmente, estão em desenvolvimento os níveis 4 e 5, que
~aos níveis mais avançados de uma deotemllnada modalidade esportiva. Para cada nível (de I a S) existe um Curso Teórico,
Téçcioo e Prático. O Canadá IXlllScguiU padrolúzar um Programa Nacional de GA e a Certificayão tomou·se quase que uma exigência nas
insti~ de Esportedo pais (NCCP, 1996).
~ Rus:sell e Kinsman são os principais responsáveis pela criação e ímplantaçãodo Programa de Certificação de Técnicos do Canadá, desde
seu inicio há aproximadamente 23 anos. RussclJ foi técnico da equipe nacim.tal masculina de GA do Canadá e membro do comitê técnico
por vários lUlOS. Foi também oolabomdor ativo na il:nplantaçiode um Progm:na 1lQ$ mesmos moldes na AUSirália.
3
UNICAMP), cujos resultados foram apresentados aos criadores do Programa no Canadá.
A intenção aqui não é propor urna réplica do Programa Caoadense, mas utilizar a
idéia central da formação específica dos técuicos, criando perspectivas para o
desenvolvimento destes profissionais e da própria modalidade de acordo com a nossa
realidade. Isto quer dizer que a proposta que foi fundamentada e que ora apresento é o
resultado de urna reflexão sobre os aspectos relevantes levantados no contexto da ginástica.
A partir de estados a respeito de Programas de Certíficação, estruturei um Programa que
pudesse ampliar o conhecimento do técnico de GA, não só na questão prática como também
no aprofundamento teórico dessa atuação.
O Objetivo do estudo
O objetivo deste estodo é propor um Programa para a formação de técnicos nacionais
de GA que atenda tanto áqueles que já atuam 111a modalidade como áqueles qoe preteadem
ingressar nesta carreira,. com o intuito de aprimorar o serviço prestado por estes
profissionais.
O Problema
Todo problema nasce de questionameolos. A minha vivência na GA trouxe muitas
indagações. Quem é este técuico qoe está aloando em clubes, escolas, prefeituras e outras
instituições? Como é a sua formação? O que ele sabe? Está satisfeito ou não com o seu
conhecitnento e a sua formação? Como é adquirido este conhecimeoto? O que seria
importante para a sua atuação como técnico? Quais as suas expectativas nesta carreira?
Essas e outras indagações geraram a idéia de elaborar um Programa para a formação de
técnicos desta modalidade.
A entrevista com os técnicos atuantes revelou lacunas entre a Graduação e o campo de
4
atuação desses profissionais, assim como o interesse deles por cursos com conteúdo mais
específico para a modalidade que não foi contemplado neste período de sua formação.
Outro futor que gerou o problema em questão paula-se na investigação feita entre os
alunos regulannente matriculados no Curso de Especialização em Ginástica desenvolvido
pela FEF-UNICAMP. Ao questionar a opinião dos alunos com relação à implantação de um
Programa para formação de técnicos de GA, a grande maioria mostrou-se fuvoràvel,
ressaltando que a àrea carece de profissionais, tanto em quantidade como em qualidade.
Além disso, relataram que muitos tópicos importantes para a sua atuação não foram tratados
com especificidade no Curso de Graduação.
Já os alunos regulannente matriculados na disciplina de Treinamento em GA, da grade
curricular do Curso de Bacharelado em Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da
USP (EEFEUSP), enfatizaram em seus discursos um grande interesse por uma formação
especifica para técnicos.
O resullado das investigações e a minha vivência na GA, que descrevo a seguir,
possibilitaram visualizar o perfil de nossos técnicos~ assnn como levantar alguns
questionamentos gerados por uma formação insuficiente.
Como atleta, ginasta de uma equipe de nível estadual, não tive um posicionamento
crítico com relação à fonnação dos técnicos que me orientaram e nem da forma como
conduziam o treinamento. Lembro-me que eles não mostravam o registro do planejamento
do treinamento e nem relatavam algo a respeito de nossa evolução, apenas exigiam muita
disciplina e resultados positivos em competições.
Na Graduação, o docente respoosável pela disciplina de GA foi um dos meus
técnicos e pareceu-me que não houve muito a acrescentar ao conhecimento porque a ênfase
dade à disciplina era o desenvolvimento técníco. Senti falta de discussões a respeito do
conteúdo e reflexões sobre as questões pedagógicas da GA que não vivenciei porque fui
encaminhada diretamente ao ambiente competitivo. Naquela época, só via a possibilidade de
trabalho com a GA nos moldes competitivos, o que acabou sendo minha opção profissioual
durante este período.
5
Por ter concluído a Licenciatura em Educação Física, muítas disciplioas do curso
pareceram irrelevantes, uma vez que o meu objetivo era orientar equipes competitivas de
GA. Só após uma reflexão geral do Curso de Graduação, penso que não fui preparada nem
para trabalhar com a GA no ambiente escolar e muíto menos no ambiente competitivo.
Comecei a atuar como técnica no primeiro ano da Graduação. Acreditava que a
miuba experiência como atleta e as informações adquíridas ao longo da Graduação seriam
suficientes para que eu me desenvolvesse nessa carreira. Entretanto, atuando no ambiente
prático, foilllll surgindo dúvidas e problemas 'l'le não conseguia resolver. Não compreendia
a dificuldade das ginastas em aprender as habilidades, o estresse que as competições
causavam, não respeitava o período de recuperação delas e não considerava as questões
pedagógicas do ensino. Nem ao menos tiuba noções de como elaborar o phmejamento do
treinamento. Além disso, não sabia onde me amparar e como melhorar a minha atuação. Os
outros técnicos não se mostravam abertos <~ nem dispostos a discutir ou estudar os
problemas. Essa situação foi me frustando pois não obtiuba resultados significativos. Em
alguns momentos de reflexão, ainda atuaodo como técuíca, percebi que estava reproduzindo
exatamente a forma como fui orientada enquanto atleta. Nesta fuse, resolvi atuar em outro
segmento acreditando que tudo poderia ser diferente. Foi assim que parti para o âmbito
escolar, o que também não me satisfez profissionalmente. Na escola em que trabalhei, além
da diseiplina de Educação Física, havia uma Escola de Esportes oode as crianças optavam
em praticar a modalidade esportiva de sua preferência, em horário extracurricular. Embora
essa atividade tivesse caráter participativo, em outros raros momentos de reflexão, percebi
que, muítas vezes, eu exigia uma performance além dos limites dos alunos. Assim, resolvi
dar continuidade aos meus estudos, envolvendo-me num curso de Pós Graduação, na
tentativa de procurar outros caminhos que me ajudassem a solucionar os problemas do
ambiente prático e melhorar a miuba atuação, além de amphar a minha visão da GA Após
concluir o progmma de mestrado voltei a atuar em mn clube esportivo. agora em mn
programa não mais relacionado à GA Nesta época, um dos técnicos de GA do clube trouxe
um Programa de Treinamento de GA de outro pais e decidiu aplicàwlo com suas crianças.
Auxilieí na tradução do material e fiz algumas sugestões para a adaptação deste Progillllla à
6
realidade da instituição. No entanto, os técnicos tiveram dificuldades em estabelecer o
conteúdo para os diferentes níveis das crianças, mesmo tendo em mãos um manual de apoio
para a prática, o que reforçou a importância de estudos preliminares à aplicação do
Programa. Este fato tantbém me levou a questionar como seria uma formação adequada dos
técnícos de GA A partir desta experiência, percebi que se atuasse diretamente na formação
desses profissionais poderia encontrar algumas respostas para as minhas indagações. Assim,
comecei a atuar como docente uníversitária na diseiplina de GA
Como árbitro, no início, não despertei nenhum posicionamento critico com relação
ao ambiente competitivo da GA Mais tarde, como árbitro de campeonatos e não mais como
técnica, é que comecei a observar as atitudes dos técnicos, suas condutas em compatição e a
forma de se relacionarem com seus atletas. Percebi o quanto "vencer'' em importante para
os técnicos e para os atletas, principalmente nas compatições oficiais. Em vários momentos,
pode detectar a inadequação das habilidades apresentadas em relação às capacidades dos
praticantes. Esse tipo de procedimento era e ainda continua sendo utilizado por muitos
técnicos. Estas cenas se repetem com muito mais freqüência em Jogos Regionais (JR) e
Jogos Abertos (JA) realizados no interior do estado de São Paulo. Anteriormente, as séries
eram de natureza obrigatória6
Há aproximadamente cinco anos, houve uma modificação no
regulamento técnico desses torneios. Primeiro~ passou-se a seguir o regulamento do Código
de Pontuação da Federação Internacional de Ginàstica7
(FIG), fazendo-se algumas
modificações, principalmente com relação às partes de valor dos elementos•. Mais tarde,
adotou-se o regulamento da FIG integralmente, sem adaptações. Acredito que não seja
apenas meu ponto de vista, mas de muitos qoe vêm acompanhando essas competições, de
que o resultado foi um "desastre' ou melhor~ um festival de quedas, acidentes e riscos em
potencial! Parece que a única preocupação dos técnicos é tentar cumprir as exigências do
novo regulamento. Estariam errados? Penso que a falba é da Cotuissão Técnica que não
previu ou, ainda, não foi capaz de perceber a inadequação dessas regms. Não penso que
~A Omú.s!!lo Tilcnica da Secretaria de Esportes e Turismo do Estado de São Paulo estabelecia 1ll1'll.l série de exewicios pata cada eparelho
(sendo eliminados a:; paxalc:la:; assimétricas, ct~valo rom lltÇ6e3 c: argolas). Todos os partiçi.pantes d.evc:riam exc:ootar as tllCSUlllS stries.,
sendo despon1Uadoo por elementos faltantes e falhas de execllÇão e postum. Onivet de dificu1dade ara equivalente às séries obrigatórias da
categoria infunti1da FPG.
' A Fedmtç!io Intemacionalde Ginãstica (FIG) e oórgão mãJtiml;,) que admínistm a Gmásticano 'IIIIJ.Ildo.
R O Códígo de Pordl~Dção contém as descrições e 0 valores de cada elemento de aula aparelho. De acordo COOl o tipo da C0l1:1pdição.
7
estas cidades não tenham condições de funnar excelentes atletas em nlvel compatível ou
superior ao de atletas federados. Mas, sabe-se que elas dispõem de muito pouco recurso e
somente com a aproximação destes eventos é que algumas conseguem apoio financeiro da
Prefeii:Ura, principalmente se forem a sede das competições. Algumas cidades chegam a
contratar técnicos estrangeiros pouco antes dos JR ou JA! Assim que os torneios se
encerram, geralmente, esses técnicos são del11itidos. Conversando com alguns técnicos
destas cidades, pude perceber o interesse deles em melhorar a sua atuação na GA Muitos,
no entanto, relatam não saber onde buscar mais conhecintento, além da não terem condições
de se deslocar ou arcar com os custos de cursos no exterior. Mesmo assim. lá estão eles no
ano seguinte tentando fazer seus atletas cumprirem o Código de Pontuação à risca ...
Mesmo nas competições oficiais, tanto da FPG como da CBG, embora com menor
freqüência, também podemos constatar alguns técnicos snhmetendo seus atletas a situações
de risco, exigindo que estes executem elementos para os quais ainda não estão preparados.
Seria um reflexo da falta de preperação adequada destes profissionais para orientar a GA?
Acredito que a l11inha experiência nessa àrea, arbitomdo em diversas cidades e
estados, foi o que mais despertou meu posicionamento critico com relação à GA e à atuação
dos técnicos dessa modalidade.
Ao iniciar a carreira acadêmica como docente da disciplim de GA do Curso de
Bacharelado em Esporte da EEFEUSP, ficou muito clara a dificuldade em atender,
simultaneamente, aos interesses daqueles que gostariam de iniciar a GA nos mais diferentes
ambientes e outros que gostariam de preparar atletas para competições e. embora poucos~
aqueles que gostariam de furmar atletas de alto nivel. Em uma disciplim de 60 horas seria
possível abordar um conteúdo satisfatório para um trabalho de iniciaçao da GA Entretanto,
toma-se inviável se buscarmos~ numa mesma disciplina,. atender àqueles que desejam
orientar a GA como esporte de alto nlvel. A quem caberia, então, a Fonnação desses
técuicos? Como deveriam ser preparados? Ficariam lintitad:os a desenvolver programas de
iniciação da GA? Onde deveriam buscar tal conhecimento? Na tentativa de atender ao
interesse desses futuros profissionais, o Curso de Bacharelado em Esporte da EEFEUSP
exige--;re um determinado nlimefo de elementos que são divididos. em <miem crescentede dificuldade e valor em A. B, C, D e E.
8
possibilitou o aprofundamento em uma modalidade esportiva, a Habilitação. Haveria, então,
uma disciplina dita GAll, com uma carga horária de 64 horas (mais 120h de estágios) e de
caráter optativo. Pelo número reduzido de participantes e por terem cursado a GAI, esta
disciplina tem a possibilidade de ir além dos fundamentos básicos da GA e sua abordagem
pedagógica, partindo-se diretamente para o seu caráter técnico. Creio que não caberia ao
curso formar técnicos para orientarem atletas de alto nfvel, mas os 4 anos de experiência
nestes moldes mostraram que a impossibilidade de dar continuidade a um aprofundamento e
atualização na área aeabatia desmotivando o futoro técnico a prosseguir nesta carreira.
Acredito que os futos aqui relatados poderam ilustJar parte da problemática que
norteia a GA no nosso país.
Para muitos profissionais que atuam nesta modalidade ou não, esta interpretação da
problemática da GA pode ser pessoal e particular. Certamente eu não descartaria esta
possibilidade. Para quem acredita que as questões levantadas são infundadas, não haveria o
que mudar.
Por outro lado, também estou certa que existe um grupo de profissionais que
partilham da mesma opinião e vêem a necessidade de reformulações no processo de
formação de nossos técnicos. Esta não é a única solução, mas acredito que possa atenuar
alguns problemas desta modalidade.
A Justificativa
Embora tivéssemos obtido o melhor resultado da história da GA brasileira nos Jogos
Olímpicos em Sydoey (21' classificação individual geral), vale lembrar que foi um destaque
individual. Se mais pessoas tivessem acesso à modalidade talvez pudéssemos classificar uma
equipe completa, tanto feminina como masculina9
.
O que parece controverso é que a disciplina de GA está presente na maioria dos
currículos de Educação Física. mesmo nos cursos de Licenciatura. Isto levaria muitos leigos
~ No Campeonato Mundial ~ antecede os Jogos Olimpioos. as 12 melhores equipes têro o direito de enviar a equipe completa. Abaixo
desta classificação, dependendo daJX!Sição. oo países têm direito de enviar 2, 1ounenhum ginasta.
9
a pensarem que exístem muitos praticantes e muitas equipes competitivas de GA Mas,
infelizmente, não é esta a nossa realidade. Em São Paulo, por exemplo, um estado com
aproximadamente 20 otilhões de habitantes, tiolba apenas lO entidades filiadas oficialmente à
FPG no ano de 2000, sendo que algmnas competições não aconteceram ou não foram
oficializadas por não termos o número ntinimo de entidades participantes, principalmente
nas categorias superiores (juvenil e adulta). Sobre isso, penso que outros fatores poderiam
estar desmotivando a prática da GA como questões econôoticas e, talvez, culturais, uma vez
que existe uma tendência em relacionar a sua prática a crianças e adolescentes. Entretanto.
não cabe ao âmbito desse estudo focalizar estes aspectos.
O que enfoco neste estodo é que estes fatores podem estar diretamente relacionados à
qualidade da formação dos técnicos que se reflete nos serviços prestados por eles.
A questão da Certificação da Qualidade é discutida nos diferentes segmentos e,
atualmente, começa a ganhar destaque também no âmbito da Educação Física e Esporte,
como revela o discurso de LIMA (1994:42),
"... o certificado de qualidade é uma medida que, garantindo as características de um
artigo produzido pelo setor industrial ou de um produto lançado no mercado, visa
proteger e salvaguardar o utilizador ou o comprador de um risco de segurança ou agressão
à saúde ..."
"... os certificados emitidos por diferentes instituições. de certo modo, constituem
certificação de qualidade visto comprovarem uma garantia de que os sujeitos, a favor de
quem foram passados, satisfizeram as exigências a que aqueles dizem respeito ...""
"... uma instituição que passa um 1:::ertificado de habilitação acadêmica deveria garantir
uma certificação de qualidade ao interessado de modo a que este se sentisse seguro no
exercício da atividade a que aquele se refere ..."
De acordo com o autor, uma vez que é a Universidade que fornece a ~·certificação",
ela seria diretamente responsável pela qualidade dos serviços prestados pelo profissional que
ela habilitou, a partir do momento da emissão desta comprovação (diploma). Mas a
realidade tem mostrado que esta relação não é verdadeira.
lO
Então, como poderíamos garantir a qualidade desses serviços? Quem seria
responsável por fiscalizar a atuação dos profissionais?
A busca de melhoria da qualidade está presente em qualquer área de trabalho. O
desenvolvimento de um produto ou um serviço satisfatório e com qualidade~ cria uma
credibilidade mútua, entre quem oferece e quem desfruta desse serviço. Na área esportiva,
mais especificamente na GA, não poderia ser diferente. Um Programa que corresponda ás
expec1ativas e atenda ás necessidades dos participantes é o «Produto <:om Qualidade"
desejado. A credibilidade do profissional é adquirida por meio de uma forma apropriada de
trabalho, assim como pelos resultados que ele apresenta
Foi pensando na qualidade da fonnação de seus técnicos e, conseqüentemente, na
qualidade dos serviços prestados por eles é que o Canadá desenvolveu o Programa de
Formação e Certificação de técnicos de GA em parceria com órgãos do Governo e
pstrocinado pela empresa 3M. Atualmente, quase todos os técnicos das províncias
canadenses obtiveram algom grau de certificação (de 1 a 3). A maioria das instituições
(clubes, academias, YMCA10
, etc.) exige a certificação de seus profissionais e muitos
técnicos relatarsm que o estabelecimento de níveis de qualificação oferece perspectivas
nessa carreira (RUSSELL, 1994).
Minha justificativaem criar e implantar um Programa para a formação de téeuicos no
Brasil, assim como o Canadá, pauta-se nos seguintes aspeetos:
J a importância de uma padronização dos Programas de GA existentes no país, procurando
atender aos objetivos (educacional, competitivo, recreativo) e ás necessidades específicas de
cada instituição que as desenvolverá (tanto clube, academia, escola, condomtuio como
Universidade);
J a fonnação de profissionais mais confiantes e capazes de conduzir a GA com segurança e
com domínio do conhecimento a ser transmitido, bem como da metodologia de ensino
adequada;
11
J a criação de um trabalho que integre esfon;os dos órgãos vinculados diretamente à GA
(Federações e CBG) com as Universidades <:, até mesmo, a possibilidade de criar uma
Associação de Ginàstica, que seria respousàvel pela furmação e qualificação dos técnicos;
J a possibilidade de oferecer maior respaldo para a elaboração dos Programas de GA e para
aqueles que os conduzem, procurando conquistar credibilidade perante a sociedade;
J a busca de melhor participação do Brasil em torneios internacionais, possibilitando que
um maior número de atletas consiga atingir as condições necessàrias para isso. Graças à
intplanração deste programa, o Canadà, a Austrália e a Nova Zelândia, que trabalham em
parceria com o primeiro, vêm se destacando mundialmente nos torneios internacionais entre
os atletas de elite (GCG1
 1996,1997; AUSTRALIAN JNSTITUTE OF SPORT, 1998);
J a possível alternativa de conteódo programàtico para os Cursos de Bacharelado em
Educação Física e Esporte em nossas Universidades;
J um técnico melhor preparado tem domínio do conhecimento e pode, assim, desenvolver
um programa adequado que desperte mais interesse e possibilite os praticantes a desfrutarem
dos inúmeros beneficios inerentes à GA RUSSELL (1980, 1984) e RJZZUTO (1989)
relatam que os beneficios seriam o de melhorar o auto-conceito e a a.uto--confiança; auxiliar
os praticantes a enfrentarem dificuldades emocionais como o medo, a ansiedade, a frustração
e a derrota; desenvolver o controle do corpo em várias situações; elevar a auto-estima, além
de melhorar a capacidade de conce~.
A GA, hoje, é uma modalidade um pouco mais "desmistificada" e vem atraindo não
só criaoças, mas adolesceotes, adultos e a população especial, além de ser utilizada como
atividade complementar para outras modalidades esportivas como forma de
desenvolvimento e manutenção do condicionamento fisico e motor. Embora ela possa
evoluir para o esporte competitivo, para aqueles com este potencial e desejo~ é na iniciação,
ou em forma de recreação, que ela pode beoeficiar muitas pessoas (RUSSELL, 1980,1986).
Assim, a GA poderia estar presente em escolas, clubes. academias~ centros comunitários,
ACMs. condomínios, e na própria Universidade. No ambiente universitário temos o
11
Coofederação de Gínástica do Canadá., ó:tgilonacional que administn1 a Ginástica nesw pEJ:ís.-
12
exemplo do Projeto Crescendo com a Ginástíca12
(PCG). Este projeto foi implantado pela
FEF-UNICAMP há mais de dez anos e atendia crianças em geral, entre 4 e 12 anos de idade,
visando ao seu desenvolvimento integral por meio de propostas lúdicas fundamentadas na
ginástica artística e rítmica. Essa proposta educacional tentava desmistificar a imagem
predominante de esporte de alto rendimento destas duas modalidades, por meio de
atividades lúdicas. Essas atividades proporcionavam prazer, despertando a esploração, o
auto domínio e o controle do corpo em situações progressivamente desafiadoras. explonmdo
as mais diferentes possibilidades corporais.
O trabalho desenvolvido por Nista-Piccolo no PCG poderia estar refletiodo os
aspectos positivos de um aprendizado especifico para o futuro profissional, trazendo
conceitos teóricos e aplicaJl.Clo..os em situações reais. com supervisão e orientação de um
profissional mais experiente. Este trabalho poderia se caracterizar em um modelo de
"preparação dos futuros profissionais", uma vez que se faz uma ligação entre a teoria, a
prática, os estudos e as pesquisas, aspectos fundamentais na qualidade da furmação
profissional.
Os resultados positivos apresentados tanto pelo Canadá como por outros países que
criaram um Programa para formação de técnicos (SCHEMBRl, 1995) e o desconhecimento
de um Programa para formação e/ou qualificação dos profissionais dessa modalidade no
Brasil impulsionaram este estudo.
Senti-me extremamente motivada a iniciar e continuar este trabalho por acreditar que
o Canadá não teria dispensado anos de estudo e dedicação com a implantação deste
Programa se os resultados obtidos não fossem positivos. Da mesma forma, outros países não
solicitariam o apoio e a assistência do Canadá para a criação de seus Programas se ele não
tivesse alcançado 1al êxito.
Por fim, os questionamentos que surgiram a partir do início de minha atuação
profissional poderiam ganhar respaldo acadêmico com o seu envolvimento em um programa
17 VUwulw:lo- ao Departamento de Educação Motora, foi ~ pela Profa. Dru. Vilma Leni Nista"Piccolo e desenvolvido pela Equipe
Universitárill de Estudos da Ginástica. Essa equipe nasceu da necessidade de reunir pessoas envolvidas com o projeto para o
desenvolvimento de estudos e pesquisas nessa modalidade. A partirde 1993, o projeto recebeu1llllll sistematízação em toda a sua estruturn.,
envolvendo 30 alunos de gtaduação e pós-graduação que atuavam como monitores, alllriliafes e ~- Assim, ele se
!.lonfinnou como um Jm.1iet.o de ensino, porque oferecia ~ de atu.:!Ção prática aoo alunos de graduaçiQ, que lhes trouxe gnmd<.:
bagagem profissional,.acrescil.fus dos cursos, paJ.estms e encontros pedagógicos (NlSTA-PICCOLO, 1999).
13
de doutorado, atendendo ao rigor cientifico exigido para um estudo dessa natureza
A Contribuição do estudo
Um Programa para formação de técnicos de GA pode contribuir com aqueles que
desejam prosseguir nesta carreira mas não encontram apoio para o seu desenvolvimento.
Também é favorável para aqueles que não possuem condições de arcar com as despesas de
cursos no exterior. E, ainda, para os profissionais que pretendam se manter atualizados e
primam pelo seu aperfeiçoamento nessa modalidade.
Existem poucos estudos sistematizados em GA e a possibilidade de desenvolvê-los
pode estimular a criação de um grupo de profissionais que possua interesse comum em
aprofundar o seu conhecimento a respeito desta modalidade, além de enriquecer a área com
materiais científicos.
14
CAPÍTUWI
1-A Ginástica Artística e a Formação ProfiSSional no Brasil
SegundoDIANNO (1988), embora a GA tenha chegado ao país no início do século
XIX, esse período não foi suficiente para que o Brasil acompanhasse o desenvolvimento
internacional dessa modalidade. Tal si~ se deve a muitos problemas que, para o autor,
são causados pela necessidade dessa prática esportiva passar por muitas mudanças, tanto
técnícas como adminístrativas, para que este pequeno grupo de pessoas envolvido na
modalidade, não se tome um eterno espectador internacional. No seu ponto de vista, as
principaís dificuldades que a GA, como modalidade esportiva enfrenta, estariam no âmbito
das questões de infra-estrutura e do material humano (ginastas). Em nenhum momento o autor
discute a questão da formação inadequada ou insuficiente dos profissionais que orientam o
treinamento como um tàtor que contribui para o inexpressivo desenvolvimento da modalidade
em nosso país.
Percorrendo os Cursos de Graduação em Educação Física, segundo as descrições das
ementas, pode constatar que não existe uma formação específica para aqueles qne pretendem
seguir a carreira de técnico de GA, embora a maioria dos Cursos ofereça a disciplina, como
mostra o Quadro 1:
15
.... DF
. .... SemmreiPeriodoiFue horiria
Univ=idadeEstadual de Campinas SP Pedagogia do Esporte • GA l" """"""' 30h
Treinamento em GA Optatiw
;:!::ohde
es · emGA
Univm~idade de SãoPaulo SP GOl 6" semestre (Obrigatório) 60h
GOl! 7" seme::õlre (Optativo) 64h+l20hde
estãttio em00
Univen;idade Paulista - Campus SP Fundamentos de GA I" semestre (obrigatório) 60h
Rio Claro E"""'" A =GA
.._ 60h
Uni'l:t'Sidade São Judas Tadeu SP GOl "?GOl 36h
OOll 8°GOII 36h
UllÍversidade Paulista (UNIP) SP GAI 5° semestre 36h
GAll 6° semestre 36h
Universidade de Guarulhoo SP GA't
,._ 36h
GAII 6"semestre 72h
UniversídadeIbira SP Ginástica, incl.Wndo 00 ,. 72h
Univenridade Fedem! de São Carlos SP
""'""""' . .
Uni~idade da Cidade de São SP GOl ,...,.. 36h
'"""' GOl!
··- 36h
Universídade do Valedo Paraíba SP 00/GRI ,..,.,... 64h
GO/GRll
··- 64h
FEflSA SP ~~ticae ,.""' 72h
M< .. oo
Universidade do ABC SP GO 5"e 6" semestres 72h
Faculdades •Módulo SP GA w 72h
Escola Superior de Educação Física SP GA 1" ciclo 40h
da Policia Militar 2" ciclo 40h
Universidade Metropolitana
"' SP GO 4"semestre 36h
""""' GA ,._ 36h
Faculo:lade:i Integradas de Rfbeirão SP 00 7" e 8" semestres 72h
-Univtmildade Cruzeiro do Sul SP GO -:,• e 4"semestres 72h
Faculdades Metropolitanas Unidas SP GA s·e 6"semestres 72h
de São Paulo
Uniwrsidade Bandt:irantes SP GO 7" e s· smnestres 72h
'"""""' E®w"""""
"' SP ~=dlndividuais com l módulo de
v damez:Jto em GA l" """"""' 42h30
Universidade~ SP Teoria ePrática da 00 I 4 E..,.
'""""""Teoria e Piátieada GO II s'EtaÕa. 3 créditos
Fundação Universidade Fedenl do AC
""'""'= . .
-Univmridade F""'""
"" s.m~ se G. Desportiva 4"Fase 54h
Catarin.a.
--· Optatiw. 54 h
Aro:::!o.
Uni'IOO'lidadeFedl:nll deUberlândia MG GA: scto s·1:riodi.J. 60h
GA:a~illws 6"Periodo 90h
Treinamenm emGA s"Período 45h
F~ Univ.:rridade Federal de MO GOl 3"Per!odo 60h
v· GOI! 4"Periodo 60h
F - Uni~dade Br.milia DF doGA 3 Período 20créditos
Uniwnidade Fedem! do Rio
"' RJ Modalidades Desportivas
'""""" Individuais(~ 2) 120h
GAl
Uniwnridade Federal Runú do Rio RJ GAl Oprntiws a partir do 3• 2 créditos
deJaneíro GAII
'""""" 2 créditos
Universidade Gama Filho RJ GOl 60h
oon(el<ltiv.~) 60h
Fll!!dação Univenidade Fedem! do MA GA ,_ 60h
...,._
16
Fundação Univemdade Federal do PI
"'""""" - -
"""Universidade Fcdeml de Goiás 00
"''""""' - -FUlldaç.ão Uaiversi.dade Federul de MS
'"'"""" - -
"""'""""'u~ Estadual da Pamiba PB Fundamentos Básicos e
1- 66h
Técnioosda GA
Universidade Fedeml da Paraíba PB Metodologia doEnsino da 4 Pmodo 60h
00
GO
"""'"'" 60h
Fundação Univenidade Federal do Mr GO 4a Série 72h
MatoGrosso do SUl
Universidade de Passo Fundo RS
·-~~-deGA
Nh<J7 4"""""
,.,._
·-1" """" RS
""'""""' - -
Moria
Uni:versidude Estadnal de PR GA 68h
Un.ive:rsidatkEstadualde Londrina PR
00 """"""'
!'série 68h
GO Feminina f série 68h
GO~i:':i
4' série l02h
aoFeminina tiva 4' série 102h
Univel:sidade Fedewl do Paraná PR
-- 60h
Quadro I- Cursos de Educação Física e a disciplina de GA
Ao observar que entre as 41 escolas consultadas, 35 oferecem a disciplina, sendo que 7
delas ainda oferecem o aprofundamento, poderia concluir que os técnicos de GA que possuem
formação superior em Educação Física provavelmente obtiveram alguma forma de infonnação
desta modalidade. Quanto ao conteúdo, segundo as ementas que consultei, a maioria das
escolas desenvolve os fundamentos básicos da GA, fornecendo subsídios para orientar
progrnmas de iniciação à modalidade. Entretanto, neubuma delas tem como objetivo formar
técnicos para orientar o alto nivel, mesmo aquelas que oferecem a GA li em caràter de
aprofundamento. Assim, posso concluir que não seria na Universidade que o técnico
encontraria subsídios para avançar nesta carreira
2- Os Cursos de Graduação e as principais mudanças
A preparação profissional é um tema que vem sendo discutido em mnitas àreas e um
dos principais responsáveis. ou o principal responsável~ por ela seria o Curso de Graduação.
17
No sentido de atender às exigências da sociedade e, conseqüentemente, do mercado de
trabalho, as Universidades buscam reestruturar seus curriculos, procurando, assim, suprir as
novas demandas da área de atuação do futuro profissional.
Atualmente, o Curso de Graduação em Educação Flsica vem recebendo muito
destaque em decorrência das inúmeras reformulações, tanto a divisão em Licenciatura e
Bacharelado corno as alterações em seu curriculo, sem contar a regulamentação dessa
profissão.
Entretanto, talvez o maior impacto tenba sido o da criação do Curso de Bacharelado
em Educação Física
A criação do Bacharelado em Educação Física, segundo SILVA & MACHADO
(1997), nasceu da deturpação dos objetivos do Curso de Licenciatura em Educação Física. Na
tentativa de abastecer o mercado de trabalho com professores de Educação Física, a maioria
dos cursos passou a aumentar os seus currículos com a finalidade de formar profissionais que
atuassem em todas as áreas da atividade fisica. No sentido de atender às demandas sociais, os
Cursos de Licenciatura não estavam mais voltando seu enfoque para a escola, até então seu
principal objetivo, mas para qualquer lugar onde o aluno pudesse encontrar um emprego. Esse
fato comprova a preocupação de muitas instituições de nível superior em abastecer o mercado
de trabalho, sem se preocupar com o que deveria ser ou não a Licenciatura. Segundo TANI
(1992), esta característica eclética na fonnação do professor de Educação Física, "o faz de
tudo um pouco", injetou no mercado de trabalho um profissional indefinido e desorientado em
relação ao seu campo profissional.
Para compreender a origem destas mudanças e as suas principais repercussões~ é
necessário retomar certos fatos históricos pelos quais aEducação Física passou.
BORGES (1998) traça brevemente a origem dos Cursos Superiores de Educação
Física, como descrevo a seguir.
Nas duas primeiras décadas do século passado são criadas as primeiras escolas de
Educação Física, ainda no meio militar. As primeiras escolas do meio civil (Período do Estado
Novo) foram criadas em 1939, sendo a Escola de Educação Física do Estado de São Paulo e a
18
Escola Nacional de Educação Física da Universidade do Brasil (RJ). Neste período, a
administração das escolas de Educação Física ficava sob a responsabilidade da Divisão de
Educação Física (DEF). De acordo com FARIA JUNIOR (1987), este era um fator que
distanciava a Educação Física das demais licenciatoras. Nesta época, a Habilitação, segundo
BORGES (1998), era definida para os seguintes ruveis: técrucos, especialistas, morutores e
professores. Essa diversidade de terminalidades aumentou o distanciamento entre os próprios
profissionais da área. Em 1945, houve uma aproximação maior da Educação Física com as
outras licenciatoras. Em I%2, dois pareceres são aprovados, um estabelecendo o elenco de
matérias pedagógicas e o outro fixando o currículo mínimo dos cursos superiores de Educação
Física, que receheu o seguinte comentário de FARIA JUNIOR (1987:23),
... com sete anos de atraso em relação a legislação (Parecer n°. 292/62) e com trinta anos, de fato,
em relação as demais licenciaturas, matérias pedagógicas como Didática, Prática de Ensino,
Psicologia, etc., foram efetivamente incluídas nos cuniculos de Educação Física, aproximando a
formação deste profissional da dos demais ...
Entretanto, estes pareceres não se efetivaram na prática. Só depois do Golpe de 1964 é
que as Universidades Brasileiras passaram por inómeras modificações. A partir deste periodo,
multiplicaram-se o número de escolas de Educação Física nas Universidades Brasileiras. Até
esta época. o objetivo das instituições superiores era preparar o professor para o sistema
escolar e treinadores e massagistas para o esporte (quando de seu início em 1939). Mas, com
as mudanças sociais e o crescimento econômico. as novas opções de carreiras para o professor
de Educação Física começaram a surgir e a sociedade passou a necessitar de serviços
especializados, não só no campo da Edocação Física como também do Esporte, da Dança e do
Lazer.
Os currículos dos Cursos de Educação Física permaneceram inalterados por quase duas
décadas (1%9-1987), iníciando-se por volta dos anos 80 urna série de discussões, cuja idéia
central era a implantação ou não do curso de Bacharelado em Educação Física e,
posteriormente, o curso de Bacharelado em Esporte e Lazer (RAMOS, 1995).
19
Entre 1980-90, acirraram-se as discussões a respeito da fonnação do profissional em
Educação Física. principalmente no que se referia ao curriculo dos cursos, como mostram os
dados a seguir.
A partir de 1978, iniciam-se vários <Oleontros para a discussão do tema (1978 na
Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 1979, na Universidade Federal do Rio de Janeiro;
1980, em vários estados brasileiros; 1981 oa Universidade Federal de Santa Catarina e em
1982, em Curitiba) (TOJAL, 1989).
Nestes encontros, discutiu-se, entre milltos assuntos. o seguinte:
,. a supervalorização do atleta, que levou a uma tendência na formação técnico-desportiva
dos professores de Edocação Física (nas décadas de 60 e 70 o desporto de alto nível
caracterizou fortemente os cuniculos de Educação Física);
,. a falta de ênfase no aspecto humanístico, visando a formação com conotação de pedagogo;
,. a possibilidade da formação no Curso de Li<:enciatura em três aspectos distintos;
,. o estabelecimento de uma lioba filosófica do cuniculo, entre outras.
A análise de alguns cuniculos de outros países, onde não existe um "cuniculo
mínimo", e a elaboração do mesmo, ficando a cargo das necessidades de cada instituição,
forsm dados que também contribuíram para os debates a respeito da estruturação dos nossos
cuniculos (TOJAL, 1989).
De acordo com TOJAL (1989), há pelo menos duas décadas o cuniculo do Curso de
Licenciatura em Educação Física deveria ser discutido. As propostas de mudanças vêm de
todos aqueles que estão envolvidos com o estudo e a pesquisa nessa área. Entretanto,
poderíamos dizer que tais mudaoças ainda estão engatiobando.
Ainda em TOJAL (1989), são apmsentados alguns itens das novas propostas
curriculares, como:
,. fixação de uma carga horária mínima para a realização do curso;
,. fixação de limite mínimo e máximo para a finalização do curso;
.f estabelecimento de matérias que ajudariam :as instituições na elaboração de seus currículos;
-" criação de mecanismos de controle "a poste:riori.. na fase de reconhecimento.
20
Em 1984, o Conselho Federal de Educação (CEF), por meio da Portaria n'. 10/84,
constituiu um Grupo de Trabalho ConsultiVo que, com base nas discussões entre as Escolas de
Educação Física, apresentou um anteprojeto de reformulação curricular, que foi apreciado e
aprovado pelo CFE, por meio da Resolução n'. 03/8713
. Assim, definia-se um mínimo de
conteúdos que formaria licenciados e bacharéis. A partir desta data, O CFEIMEC estabelecia
um prazo de três anos (até 1990) para que cada instituição fizesse seus devidos ajustes
curriculares para atender ao que fora definido.
De acordo com BORGES (1998), essas reformas curriculares não representaram um
grande avanço para a área. O que aconteceu foi um inchaço dos curriculos, principalmente nas
áreas esportiva e biomédica. Segundo TAFFAREL (1993), o curriculo se tomou
compsrtimentalizado e distante da realidade.
De acordo com RAMOS (1995), a fragmentação da Licenciatura em Educação Física
era emergente. Entretanto, a fragmentação das disciplinas, dos conteúdos e do ser humano
deveria ser revista. Isto porque, na sua visão, todos os caminhos agora traçados, seja
Licenciatura ou Bacharelado em Educação Física e Bacharelado em Esporte, passam pela
interdisciplínaridade e por trajetos em comum. Há de se tomar o cuidado para não radicalizar
e desmembrar totalmente um conteúdo do outro.
PASSOS (1988) organizou um trabalho em que foram reunidos posicionamentos
favoráveis à separação do Curso de Educação Física em Licenciatura e Bacharelado de
OLIVEIRA (1988), COSTA (1988), PEl.LEGRlNE (1988) e MOREIRA (1988).
OLIVEIRA (1988) defendia a diferenciação entre Educação Física (Bacharelado e
Licenciatura) e Esporte (Bacharelado), tendo em vista a ampliação do mercado de trabalho
(clinicas, academias de dança e ginástica, clubes, etc.) que antes era atendido apenas pela
Licenciatura
COSTA (1988) reforça a mesma opinião, afirmando que a restrição à Licenciatura,
enquanto formação em Educação Física, limita a atuação do profissional e deixa de atender a
13' A Resolução nQ. 031S7. ~no Pareot:r n°, 215187, do n:l.ator Mmro C. Rodrigues. t.mta do "perfil profissiográfiw" do
licencia.do. do bacbal11 e do técnioo dcsportiw. e adota uma proposta de currk:ulo tninimo que busca o perfil profissional; define as áreas de
abrangêocia do (.urriculo e a duração l:l'linima do cur:so (quatro anw); e indica. como deve ser a parte de Formaçãc> Geral (.Humanística e
Técnica) e a parte de Aprofundamento deConhecimentos Especifioos (BORGES, 1998).
21
uma sociedade que vem valorizando cada vez mais a prática da atividade física e esportiva
Para PELLEGRJNE (1988), os cursos deveriam contemplar uma formação
diferenciada para o especialista (técnico em desporto/bacharel) e para o licenciado em
Educação Física porque a atual formação generalista não vem atendendo à necessidade de
ambos. Além disso, ressalta que boa parte dos cursos de Educação Física no Brasil estão com
estrutura cunicular de 10 ou 20 anos atrás.
Da mesma fonna, MOREIRA (1988) mostra-se a favor da difereociação da Edocação
Física em Bacharelado, assumindo uma visão generalista, e Licencia~ especializando em
educação furmal. Para o autor, a Licenciatura não tinha uma identidade própria, com caràter
acrítico, a-histórico e ídeológico, prevalecendo a negação do pensamento criativo.
E, em defesa do Bacharelado, MOREIRA (1988:271) traça o seguinte parecer:
"...a realidade social brasileira organizou-se muito além da estrutura de uma educação escolar
formal Por esse motivo, fica difícil defender um arrso superior na área da educação física,
que continue a enfocar apenas uma vertente: licenciatura ..."
"...o bacharel talvez seja tão necessário para a educação fisica quanto a sociedade onde ele se
situa..."
Na visão do autor, a necessidade de wrn profissional com formação qualificada para
atender ao mercado de trabalho na àrea não-escolar é mais do que emergente, concordando
com uma grande maioria da necessidade de uma formação diferenciada em outros segmentos
do movimento humano.
TOJAL (1990:160) também parece favoràvel à criação do curso de Bacharelado em
Educação Física, uma vez que a formação única, ou seja, a Licenciatura, restringia o mercado
de atuação na àrea escolar, afirmando:
"...mesmo tendo-se consciência da amplitude do mercado de trabalho existente e da
diversidade de opção de atuação para o profissional de Educação Física, observa-se que a
formação única, que é oferecida pelos diversos curws no país, através da Licenciatura, tem
confinado esse profissional ao mercado garantido por lei junto ao ensino de 1<> e 2" graus e
22
algumas incursões na área desportiva acadêmica..."
Entretanto, segundo TOJAL (1989), de nada adiantará se tais mudanças ocorrerem
apenas nos currículos, sem a diferenciação do conteúdo das disciplinas e da qualificação
docente, aspecto este discutido durante as apresentaç(ies das propostas de implantação do
currículo para a fonnação do Bacharel em Educação Física
OUVEIRA (1988) acredita que a distinção em Licenciatura e Bacharelado contribuirá
na legitimação da profissão, como podemos constatar em seu discurse:
"... o oferecimento do curso de bacharelado em educação fisica torna·se um instrumento
fàcili.tador e possibilitador da regulamentação da profissão, não de professor de educação
fisica, mas de profissional de educação fisica, independentemente da preocupação com a
necessidade ou não da adequação ou mesmo mudança do nome "educação física"...
(198ll:232).
O autor, ainda, demonstra a sua preocupação em ver a "não-proteção e/ou indefinição"
de qualificação profissional do mercado de trabalho relacionada com a Educação Física na
área não-escolar por ela não estar regulamentada e oão possuir entidades sindicais específicas.
A questão da regulamentação é um tema que já vem sendo discutido, sendo que duas
áreas de concentrações diferentes na própria Educação Física reforçam ainda mais a
necessidade de um reconhecimento da profissão perante a lei, a sociedade e o mercado de
trabalho.
Ainda segundo OUVEIRA (1988), a união da classe por meio de um sindicato e sua
conseqüente regulamentação contribuiriam para o reconhecimento do profissional nas duas
áreas distintas: aescolar e a não-escolar. No entanto, ele ressalta que:
"... não seria simplesmente através de instrwnentos legais que wna classe profissional iria
adquirir prestigio e confiança, mas sim em função da significância e da qualidade de sua
formação ..." (1988:231).
23
TOJAL, 1989; PELLEGRINE, 1988; OLIVEIRA, 1988; BARROS, 1998 vêem o
Bacharelado como uma possibilidade de uma melhor atuação do profissional na área não-
escolar e uma melhor especificação do seu campo de atuação.
A formação específica do profissional na área não-escolar poderia prepará-lo mais
adequadamente para assumir este campo de trdbalho, possibilitando-o a desempenhar funções
mais específicas neste segmento.
"'...o surgimento do Bacharelado c;ontribuiu ainda para valorizar a Licenciatura, pois esta
passou a ter uma caracterização própria, podendo assim. assemelhar-se às licenciaturas dos
demais cursos, e como contribuição na busca da definição de um objeto de estudo da
Educação Física.." (BARROS, 1995:73).
A formação generalista na área da Educação Física tem se mostrado ineficiente para
atender às demandas do mercado e às expectativas dos futuros profissionais. A
difurenciação/especificidade na formação do futuro profissional poderia favorecer
significativamente tanto a objetividade da sua formação como o seu campo de atuação.
Acredito que tanto a Licenciatura como o Bacharelado não têm a intenção de
descartar o papel do "educador". Ao que me parece, após observar os conteúdos que estão
sendo propostos, os dois cursos contemplam os aspectos pedagógicos e educacionais.
A abertura oferecida ao Bacharelado em Educação Física, pela nova Legislação, trouxe
uma possibilidade de preparar o professor de woordo com a realidade do mercado de trabalho.
A nova Legislação conferiu autonomia e flexibilidade na elaboração dos currículos, o que
pennitiu a cada instituição adequar-se às condi~;ões e necessidades de sua região.
RAMOS (1995:15) tambêm aponta aspectos positivos desta nova Resolução do CFE
03187, afirmando que:
"... esta nova proposta consagra uma flexibilidade runicular que permite às Instituições de
Ensino Superior atenderem aos interesses dos alunos e peculiaridades regionais do mercado
de trabalho ..."
"... o surgimento de novos modelos de preparação profissional possibilitará -wna preparação
24
mais específica, com aprofundamento de conhecimento na área de interesse do aluno e
permitindo a necessária competência profissional ....,
Em sua dissertação de mestrado, o autor discute a estrutura curricular da Educação
Física, da Licenciatura ao Bacharelado. Ele discrimina os aspectos positivos e negativos,
favoráveis e desfavoráveis e a viabilidade e inviabilidade de cada um dos cursos.
De acordo com RAMOS (1995), seguindo a sugestão do Parecer n°. 215187, as
principais Universidades Estaduais Paulistas apresentavam a seguinte estrutura curricular:
!JNlCAMP:
Lit:enciatura em Educação Fisica
Bacharektdo em Educação Física cem Habilitação em:
],)E
11acharelado emEducação Física
Bacharelado em Esporn
Licenciatura em EducaçãoFísica
!JNESP:
Licenciatura em Educação Física
Recreação eLazer
Treinamento em Esportes
Bacharelado em Educaçlio Física rom Conce1'llraÇão em: Esportes
Atividaik Flsíca Generalizada
Pelos três exemplos citados, poderoos perceber que a preocupação pela formação
específica do profissional na área do esporte também já vem sendo terna de discussão entre as
principais Universidades paulistas.
De acordo com o autor. uma vez que muitas instituições de nível superior têm como
referência uma destas Universidades citadas~ poderiamos esperar que outras instituições
também criassem o Bacharelado ero Educação Física e em Esporte.
Entretanto, BARROS (1998) investigou, por meio da análise de 23 currículos, como as
25
instituições de Ensino Superior do Estado de São Paulo estão desenvolveodo seus cursos de
Graduação em Educação Física após a Resolu(:ão CFE 03/87. E, surpreendentemente, o autor
concluiu que estas escolas praticamente nada fizeram pam adequar os cuniculos de seus
cursos ao novo referencial proposto pelo pare<:er CFE 215/87 e aos novos perfis do mercado
de trabalho.
Em conclusão ao seu estudo, BARROS (1998) relatou que a estrutura dos currículos
praticamente não sofreu mudanças e que também não houve alteração das disciplinas
pedagógicas. Principalmente, no que se refe~re à especificidade da função relacionada ao
esporte, não aparece claramente definida, e:<eeto em alguns poucos cuniculos. Não há
também discussões quanto às diferenças eotre o professor de ( e 2" graus, preparador físico ou
técnico desportivo. Segundo o autor, a Lü:enciatura continua sendo confundida com a
preparação profissional pam todas as possibilidades e necessidades do mercado de trabalho.
Além da adequação dos currículos pam a preparação profissional ao novo perfil do mercado, o
inverso também seria necessário, ou seja, é pre:ciso organizar um currículo que também possa
atender os principais perfis profissionais.
Seguudo a investigação realizada po1r BARROS (1998), mais de 100 cursos de
Graduação no Brasil estão operando com diferentes currículos, embora tenham a mesma
proposta (licenciatura e/ou bacharelado). Talvez esta multiplicidade de currículos pam o
mesmo curso esteja ocorrendo em função da abertura cunicular oferecida pelo parecer CFE
215/87. Caso esses currículos fossem diferendados. no sentido de atender às necessidades
especificas da instituição, região ou dos discentes, não haveria o que questionar.
Quando fez sua pesquisa BARROS (1'998) já destacava um consenso geral entre as
escolas de que os currículos não atendiam mais às expectativas dos profissionais e às
possibilidades do mercado de trabalho. Ele viu que, até 1987, todos os Cursos de Graduação
em Educação Física vestiam uma camisa de fOrça imposta pelo CFE, que restringia as suas
possibilidades ao oferecimento do Curso de Líc:enciatura e, complementarmente~ o de Técnico
Esportivo, havendo a necessidade de uma defíoição.
Historicamente, as Universidades mantinham, até então, uma estrutura curricular
26
inflexivel, com pouca abertura para que cada uma pudesse melhor se ajustar à sua realidade.
Confinnando tal característica de nossas Universidades, MOCKER (1993) revela que a
dinâmica curricular das Universidades Brasileiras traz um "ranço" da ditadura militar, uma
rigidez no sistema de créditos, na divisão dos departamentos e semestres que consagrou a total
desmobilização discente e docente. TAFFAREL (1992) também critica a forma autoritária da
reformulação dos currículos na Educação Física, vendo-a mais propriamente como uma
fragmentação do processo de formação profissional em dois segmentos: Bacharelado e
Licenciatura, não caracterizando reahnente uma reformulação.
Assim, também encontramos em PASSOS (1988) argumentações contrárias à divisão
da Educação Física em Licenciatura e Bacharelado, como as de FARIA JUNIOR (1987,
1992), BETTI (1992) e TAFFAREL (1993).
FARIA JUNIOR (1987:28) crítica a formação cada vez mais especializada e
fragmentada da Educação Física, afirmando:
... afot1118Ção geral aparece revalorizada na sociedade contemporânea, apresentando-se mais
importante do que a formação puramente técnica, profissionalizante. A fOrmação geral
proporciona wna visão muito mais ampla e flexível do que a oferecida pelo saber técnico no
sentido profissional. Ela é o ponto de encontro, a intersecção entre vários subsistemas da
sociedade ...
--· a distinção entre formação geral e formação especial (habilitado, bacharel, etc.) não se
justifica, pois se trata de formar o educador: o geral e o específico são partes integrantes e
indissociáveis da formação pedagógica ...
FARlA JUNIOR (1992) vê muitas contradições na formação do professor de Educação
Física, discutindo o corpo único de conhecimentos que procura atender à Licenciatura e ao
Bacharelado, e questiona o significado do Bacharelado em Educação Física e o Magistério,
como profissões, e a hierarquia no quadro de profissões.
FARIA JÚNIOR (1987, 1992) ainda crítica o Bacharelado defendendo a existência do
licenciado generalista, afirmando que a própria terminologia de bacharel em Educação Física
não se enquadraria a um profissional que iria exercer o "magistério em clubes, academías e
27
outros". O autor afirma que são nessas áreas que mais se necessitam de educadores. Ele ainda
argumenta o fàto de wn mesmo corpo de conhecimentos proporcionar a base para as duas
profissões indistintamente. Aqui, o antor se refere aos atuais cursos de Bacharelado em
Educação Física, nos quais o profissional estaria atendendo a wn amplo mercado de trabalho,
relacionando desde a atividade fisica até o esporte.
De acordo com BETTI (1992), deve-se tomar o cuidado para não se estigmatizar o
bacharel de especialista e o licenciado de generalista. O autor sugere que a diferenciação dos
dois estaria nas experiências de ensino...aprendizagem proporcionadas pelo currículo, sendo
que haveria um conjunto de disciplinas em comum que seria o elo de união entre as duas
formações. Mas, ressalta que esta abordagem só seria possível dentro de uma perspectiva
interdisciplinar e transdisciplinar, o que demonstra sua opinião contrária à uma total
separação entre Licenciatura e Bacharelado.
Vejo como uma grande vantagem haver "'momentos em comum" nos dois curriculos
porque, desta fonna~ tomaria mais fácil a swt operacionalização. principalmente no que se
refere à atuação do corpo docente, instalações e materiais didáticos. Mas, ressalto que isto
deveria ocorrer se os conteúdos abordados fossem realmente de importância e interesse
comum para os futuros profissionais. Caso contrário, não estaria muito distante do antigo
curso de Licenciatura.
COSTA (1988:218) também partilha da mesma opinião dizendo que:
"". há que existir diferença qualitativa entre bacharelado e licenciatura, mas ambos devem
articular-se entre si, sem se tomarem apêndices um do outro ...""
"... o bacharelado integrar-se ao curso de graduação em Educação Física como reflexão e
aprendizagem de como fazer ciências (motricidade humana, biológica, psicológica e social),
resgatando a totalidade da fonnaçãQ profissional ..."
Aqui. há uma preocupação não somente com a diferenciação dos cursos, mas
principalmente com a sua qualidade, o que se apresenta muito claro na opinião do autor.
De acordo com TAFFAREL (1992), os cursos parecem estabelecer um vinculo
28
produção-bacharelado e aplicação de conhecimento-licenciatura, dividindo os profissionais
em dois pólos: «os que pensam" e "os que fazem".
Concluindo estas discussões, SILVA & MACHADO (1997:893) afirmam que,
"... a liberdade oferecida às instituições em optarem entre Licenciatura e/ou Bacharelado não
promoverá uma real transformação da Educação Física brasileira, se os professores e os
alunos se omitirem. não se aproveitando desse momento para tat O que eles percebem é que
a maioria dos alunos das escolas de Educação Física, ou são incapazes de perceber a
existência de problemas na sua formação, ou apesar de os perceberem nada fàzem para
modificâ~los, não agindo portanto de forma práxica ..."
Apesar da abertura de possibilidades para formações difereociadas, as pessoas que
fazem parte deste processo (docentes, discentes) parecem não estar aproveitando este
momento para adequar seus cursos e proverem formações diferenciadas para atuações
distintas. Isto pode representar uma 11
Ieação pacifica" por não saber "como agir11
•
Finalizando o seu depoimeoto, SILVA & MACHADO (1997) afirmam, mais uma vez,
que a fragmentação dos cursos de Edueação Flsica em Liceociatura e Bacharelado é a melhor
solução para que se formem profissionais compromissados com as suas respectivas áreas de
atuação.
Mas tais mudaoças eram emergentes em função de uma solicitação de "multi-ação"
dos licenciados. Ou seja, como a única opção era a Licenciatura em Educação Física, este
profissional também atuava no esporte competitivo, por exemplo. Se já não havia muita
credibilidade na atuação deste profissional na área não-escolar, na área esportiva, então,
parecia ínimaginável. Entretanto. é o que acontecia e ainda vem acontecendo.
Por fim, a influência de origem alemã, via escola de Colônia e, mais tarde, a influência
americaoa, por intermédio de profissionais da USP, resultou na prevalência da idéia de
formação diferenciada, em bacharéis e licenciados,. o que culminou com a Resolução no.
03/87, na Gestão do Conselho Federal de Educação (BORGES, 1998).
Após esta "grande reformulação" do Curso de Educação Física, os curriculos não
29
pararam mais de receber alterações, inclusões e exclusões, certamente recheados de críticas e
poucas sugestões das próprias Universidades.
Como outro momento importante ref<.-ente às mudanças curriculares, posso citar o
Parecer 776/97, cujas criticas formuladas po1r KUNZ et al. (1998) demonstram sua pouca
aceitação devido à sua caracteristica muito rigida. Estes autores criticam os atuais curriculos14
em alguns aspectos:
.F estas mudanças apresentam uma carga horália de disciplinas obrigatórias excessiva;
.F o tempo para a realização e conclusão do curso é muito longo;
../ os currículos não consideram a dinâmica do mercado de trabalho, mais competitivo e
mutável, entre outros.
A idéia de centralizar as propostas e as reformas curriculares não é aceita por muitos
autores. Estes argumentam que o currículo faz parte de um todo, de wn contexto, e é
impossível isolá-lo dos individuas envolvidos.
Creio que as discussões e mudanças cwriculares, tanto da Licenciatura como do
Bacharelado, não se esgotam por aqui Penso que esta situação é interessante e necessária
para o próprio avanço da àrea, O que não poderia se perder de vista é o papel que o
profissional desempenhará na sociedade em que ele está inserido, bem como da qualidade de
seus semços.
3 - Comissão de Especialistas de Ensino em Educação Física (COESP-EF)
Recentemente, em 1999, a COESP-EF {1999), a Comissão de Especialistas de Ensino
em Educação Física, lançou uma "Proposta de Diretrizes Curriculares para o Curso de
Graduação em Educação Física. Esta proposta surgiu em consideração às críticas e sugestões
manifestadas pelos representantes de Institui<;ões de Ensino Superior (IES) em Educação
Física (Parecer n°. 776/97).
'i>areoorn". 776f97:L
30
Em resposta às criticas, os Conselheiros tomaram algumas decisões como assegurar
liberdade das IES em estabelecer a carga horária para a conclusão dos cursos e especificidade
das unidades de estudo, incentivar a formação geral e abertura para diferentes tipos de
aprofundamento em um mesmo curso, estimular e aproveitar, como créditos acadêmicos,
práticas de estudos independentes e encorajar o reconhecimento de conhecimentos,
habilidades e competências adquiridas fora do ambiente escolar, inclusive as experiências
profissionaisjulgadas relevantes para a área de formação.
Com base nessas criticas, os Conselheiros da Câmara de Educação Superior do
Conselho Nacional de Educação (CESICNE) decidiram que as novas diretrizes curriculares
deveriam observar os seguintes princípios15
:
.F assegurar liberdade às instituições na composição da carga horária para conclusão dos
cursos e na especialização das unidades de estudo;
.F incentivar uma sólida formação geral e pemtitir tipos diferenciados de aprofundamento em
um mesmo curso;
.F evitar a fixação de conteúdos específicos com cargas horárias pré-detertuínadas;
.F evitar o prolongamento desnecessário para a conclusão do curso;
./' estimular e aproveitar, como créditos acadêmicos, práticas de estudos independentes. entre
outros.
Assim, esta relativa nautonomia" na estrutura dos currículos poderia facilitar o ajuste e
a adequação de cada um deles às necessidades de sua instituição, seus alunos e sua região.
De acordo com este documento, o profissional receberia o titulo de Graduado em
Educação Física e teria a possibilidade de aprofundamento. O curriculo, como um todo,
visaria um profissional que fosse capaz de intervir no contexto específico e histórico-cultural
com base em conhecimentos técnico~ científicos e culturais. Esses conhecimentos seriam
obtidos por meio de ensino, pesquisa e extensão. Este profissional seria preparado para
organizar, planejar, adntinistrar, avaliar e atuar em todo o âmbito da cultura do movimento.
Os curriculos teriam duas partes: (I) Conhecimento identificador da área (formação bàsica e
1
~ Lançado no Edital nc. 4197 no Diini.o Oficialda União (12.12.97 -seção 3 - p.261720), logo após a publicaçã9 do pan:cer n~. 776197_
31
fmmação específica) e (2) conhecimento identificador do tipo de aprofundamento.
A critica recaia sobre a excessiva 1igidez dos currículos dos cursos superiores
formulados na vigência da legislação revogada pela Lei n'. 9394, de dezembro de 1996. A
rigidez deste currlculo estava presente no excesso de disciplinas obrigatórias, tempo
demasiadamente longo para conclusão do curso, não se levando em consideração a dinâmica
do mercado de trabalho e o processo de formação continnada.
O objetivo desta nova proposta é corrigir e aprimorar a Resolução no. 03/87.
Entretaoto, o fato de oferecer tamanha liberdade na definição do tempo para conclusão nos
levaria a pensar que algnmas institnições se utilizariam desta abertura para dirninnir seus
custos. Outro aspecto, seria a necessidade de se criar ou ampliar os Cursos para atender a
Comunidede, que são poucos, principalmente nas lnstitnições privadas. No que se refere aos
ítens ~·estimular e aproveitar como créditos acadêmicos as práticas de estudos independentes"
e "reconhecimento de conhecimentos, habilidades e competências adquiridas fora do
ambiente escolar", é importante que sejam bem definidas as carateristicas, os critérios de
avaliação e avaliadores do reconhecimento desses estudos, conhecimentos, babilidedes e
competências.
Aqui, vemos claramente uma abertura para que cada IES da área de Educação Física
adapte seu currlculo de modo a capacitar o futllto profissional em diversas áreas de atuação e
características regionais. o que poderia ser considerado como um avanço da área
A nova proposta permite um regresso daqueles que já obtiveram a Graduação, mas
buscam conhecimento em outras linhas de aprofundamento. Enquanto atualização e re-
colocação do profissional no mercado de trabalho, essa proposta seria extremamente positiva.
Apenas com a ressalva de que também seria importante estabelecer critérios para a aceitação
desses profissionais como, por exemplo, a característica do Curso em que estes se graduaram.
Embom a área de Educação Física esteja passando por uma série de reformulações,
sem definições concretas de sua estrutura curricular e o papel de cada profissional que se
forma, é curioso observar como vem crescendo o número de escolas de Educação Física no
Brasil. BARROS (1998) relatou que, no início dos anos 70, havia 10 escolas de Educação
32
Física e ao final desse perindo, já eram 90 escolas. Hoje, ele calcula que sejam
aproximadamente 11O escolas, sendo sua maior concentração na região sudeste.
Surpreendentemente, dados mais recentes revelam a existência de 220 escolas no Brasil, das
quais aproximadamente 113 estão instaladas no estado de São Paulo (CASTELLANI, 2001).
BARROS (1998) apenas lamenta que, infelizmente, não se pnde perceber a qualidade e
adequação das propostas curriculares crescerem na mesma velocidade, bem como do número
de professores preparados para o magistério superior.
Em outra publicação, BARROS (2000) diz que a regulamentação deverá estimular o
desenvolvimento profissional e a melboria do padrão de qualidade de seus serviços para que a
sociedade seja atendida condignamente.
Ainda seria prematuro discutir esta última questão, uma vez que a regulamentação da
Educação Física ocorreu há pouco tempo e não há dados reais que relacionem este
acontecimento com a melboria da qualidade dos serviços prestados pelos profissionais desta
área.
A COESP-EF está discutindo uma nova Proposta de Diretrizes Curriculares para os
Cursos de Educação Física que deverá ser laoçada em agosto deste ano.
4- A Formação na área do Esporte
Podemos observar que a mudança da Licenciatura para o Bacharelado em Educação
Física trouxe questionamentos quanto à sua necessidade e adequação à área e à sociedade.
Uma outra "divisão" da Educação Física, o Bacharelado em Esporte, levantou outras questões
e incertezas que podemos constatar a seguir.
A criação do Bacharelado em Esporte, proposta defendida por OLIVEIRA (1988),
visava ampliar o mercado de trabalho que, segundo o autor. não poderia mais ser atendido
pelo profissioual de Educação Física.
BARROS (1996) também defende a necessidade dos profissionais que prestam
33
serviços no campo da Educação Física e do Esporte definirem um espaço próprio para serem
melhor identificados e garantirem sua credibilidade na sociedade. Mas ele discute e afirma
que existe uma problemática na orgrurização profissional em nossa área. Acrescenta, ainda,
que hoje existem muitas oportunidades de trabalho na área, resultante da abertura do espectro
de atuação da Educação Física para além das escolas, expandindo-se nos aspectos do
movimento, exercícios fisicos, esportes e suas inter·relações. Assim, diversos serviços
exigidos pela sociedade evoluíram de tal forma que requerem uma preparação especializada e
de longa duração, até que o indivíduo possa prestá-los satisfatoriamente. Essa preparação
específica seria normalmente obtida num Curso de Graduação que, para BARROS (1996),
tem como um de seus principais objetivos preparar profissionais para o mercado de trabalho.
Em se tratando do curso de Bacharelado em Esporte, podemos perceber que, em razão
da sua recente criação (1992), este ainda carece de uma estrutura curricular que atenda
realmente às expectativas dos alunos e à demanda social. Desde a sua implantação em
algumas escolas de Educação Fisica (USP, UNICAMP, UNESP e UEL), o seu principai
objetivo tem sido o de suprir o mercado do Esporte e áreas afins com profissionais
qualificados para atenderem às demandas da sociedade.
Muitos estudiosos vêem o Esporte como uma área promissora (TUBINO, 1994) e que,
num futuro próximo, tenderá a crescer em demanda por serviços e, conseqüentemente,
buscando profissionais cada vez mais qualificados para atender este mercado de trabalho.
Apesar da prevísão de uma demanda maior, ainda não houve muita mobilização,
principalmente das instituições privadas, em I>COmpanhar esta tendência, o que poderia causar
certa swpresa. Isto pode ser confirmado ao analisar a f.~strutura curricular destes cursos,
muitos ainda atrelados ao modelo antigo da USP do Curso de Licenciatura em Educação
Física
Teríamos, então, algumas poucas alternativas, como Cursos de Graduação, para
aqueles que pretendessem exercer essa profissão como os Cursos de Bacharelado em Esporte
oferecido pela USP em São Paulo, Treimnne1oto Esportivo pela UNICAMP em Campinas e
Concentração em Esportes pela UNESP de Rio Claro, Cursos de Educação Continuada da
34
Universidade do Esporte e, mais recentemente, o Curso de Ciências do Esporte pela UEL de
Londrina
No caso do Curso de Bacharelado em Esporte da USP, a estrutma curricular
apresenta-se da seguinte forma:
..
~
~
~·
~
~ ]li
~
Quadro IT - Estrutura Curricular do Curso de Bacharelado em Esporte da EEFEUSP (1999}
35
Este Curso da EEFEUSP tem como proposta capacitar os futuros profissionais a
atuarem na área esportiva como administração, técnica, marketing, jornalismo, preparação
fisica, gerenciamento, entre outros. Para q;oem deseja um aprofundamento em alguma
modalidade esportiva, existe a opção do Treinamento.
Uma investigação empírica, feita entre os alunos que se matricularam na disciplina de
Treinamento em GA da EEFEUSP, revelou que muitos mantêm a expectativa de se tornar um
técnico de alto nivel e esperam que esta discipl!ina forneça os subsídios necessários para isso.
A experiência como docente da disc:iplina de Treinamento em GA, desde 1996,
permitiu levantar algumas questões e reflexi>es, tanto de caráter pessoal como de caráter
coletivo, a respeito deste Curso, que são:
J por ser pioneiro nesse tipo de curso, ainda há uma carência de docentes preparados
satisfatoriamente para miuistrar algumas das disciplinas específicas à àrea do esporte; o que
existe atualmente é uma adaptação dos docentes de àreas afins para as disciplinas do curso;
J a existência da dúvida em se abordar ou não os aspectos pedagógicos das modalidades
esportivas, com a argumentação de que caberia ao curso aberdar as questões técnicas e táticas
das modalidades; mas a minha experiência pessoal me mostrou que muitos alunos não têm
experiência e/ou conhecimento satisfatório para avançar nos aspectos específicos da
modalidade;
J a disciplina de Treinamento em nma modalidade esportiva, de caràter optativo, parece não
oferecer os subsídios necessários para uma a1uação como técnico de alto níveUcompetitivo.
Então, como este aspecto poderia ser contemplado nos Cursos?;
J a opção de modalidades esportivas oferecida no curso ainda é pequena. Por exemplo, ainda
não oferecemos para a Ginástica Rítmica, o Tênis, o Futebol de Salão, entre outras
modalidades que também têm destaque internacional;
J não há uma integração direta, por meio de encontros ou intercâmbios, dos futuros
profissionais do esporte com o mercado de trabalho;
" a existência de uma "disputa11
pelo espaço de trabalho entre o Bacharel em Educação Fisica
e em Esporte, uma vez que até a criação desu' segundo, era o graduado em Educação Física
36
que prestava serviços na área do Esporte; nem mesmo o mercado de trabalho sabe como
enqnadrar este novo profissional porque, além dos licenciados em Educação Física, ainda
existia a admíssão de ex-atletas para exercerem o papel de técnicos;
J os alunos. ao ingressarem na EEFEUSP, parecem não sabem diferenciar os objetivos e as
possibilidades de atuação do Bacharel em Educação Física e do Bacharel em Esporte, o que
tem causado muito desconforto para os futuros profissionais.
Com o intuito de formar um profissional específico para atender ao mercado da área
do Esporte, outras Universidades também criaram seus Cursos diferenciados do Bacharelado
em Educação Física, como mostro a seguir.
O estudo e a disseminação do conhecimento observado nas últimas décadas sobre o
"fenômeno esporte" associado ao grande interesse da sociedade moderna pela sua prática,
levou o Centro de Educação Física e Desportes da Universidade Estadwl de Londrina a
optar pela criação de um novo curso na área: o Bacharelado em Ciência do Esporte, criado
pela resolnção CEPE e CA 01/98 (UEL, 1999).
O curso da UEL surge com a intenção de oferecer aos futuros profissionais urna sólida
formação universitária voltada à orientação e ao acompanhamento de programas de exercícios
fisicos direcionados à promoção da saúde e à pràtica de esportes (comunítàrio, formação de
atletas e alto rendimento), na tentativa de atender à diversidade do mercado de trabalho na
área da Educação Física
Segondo informações obtidas pelo site da UEL e do material fornecido pela própria
Universidade, a preparação do Bacharel em Ciência do Esporte é voltada ao planejamento, à
execução. ao acompanhamento e à avaliação de exercícios físicos e da prática esportiva para
urna clientela formada por jovens, adultos e idosos em Clubes, Associações, Academias,
Condomínios, Colônia de Férias, Atividades em Hotéis, Atividades em Empresas, Escolas
Particulares, Empregos Públicos em órgãos Municipais, Centros de Reabilitação e
Condicionamento Físico.
O Bacharel em Ciência do Esporte deverá atuar de forma plena na área esportiva como
37
técnico, preparador fisico e dirigente esportivo. É ele, também, que estará habilitado a atuar
nas academias e centros de condicionamento fisíco, supervisionando o desenvolvimento de
programas de exercícios fisicos voltados à promoção da saúde. Outra opção de trabalho para
este profissional é atuar na reabilitação de deficiências fisicas mediante a orientação de
prática esportiva.
Com a duração minima de 4 anos, em periodo integral, as disciplinas que comporão a
estrutura cnrricnlar deste curso está apresentada no Quadro ll!.
Tél;cicas de A
DISCIIPLINAS
Fisiol
Pslool ·
Filcooiia
Soei<>
Antropologia
Comuni eMarketing
Administta e Legislação Esportiva
Ética e Conduta Profissional
o
e Treinamento em Modalidades E
N o
Atividades ti.cas P Es
Na o Bebês
Naw :ra Gestanres
Na 11. a 3•Idade
Na io Portadores de Necessidades Esp;.ciais
E
Futsal
Judô
""""""'Tênis
Voleibol
Fmebcl
Ginástica Olím ica Masculina
Ginástica Ollin ·ca Feminina
GinásticaR.itmica
Portadores de Necessidades
Quadro m -Estrutura Curricular do Curso de Ciências do Esporte da UEL (1999).
Estão incluídos no curso 68 horas de estágio, sob a supervisão de professores. em
clubes e instituições relacionadas ao esporte que estejam de acordo com os seus interesses.
Para a conclusão do curso, os alunos deverão desenvolver um trabalho científico
38
(monografia).
Além do corpo docente, deverá haver a participação dos treinadores de equipes com
representatividade estadual, nacional e internacional para o desenvolvimento das disciplinas
do Curso. A idéia de UEL de unir o Curso ao mercado de trabalho, trazendo técnicos e atletas
de destaque, é interessaote. Penso que os técnicos poderiam atuar nas disciplinas desde que
tivessem qualificação para isso e que seus nomes não fossem utilizados como chamariz.
A FEF-UNICAMP proporcwna o título de Bacharel em Educação Física, na
modalidade Treinamento em Esporte, cujo profissional poderá atuar como Técnico em
Esportes de modalidades cursadas ou como Administrador Esportivo ou, ainda, em Assessoria
Técnica Esportiva Este curso é composto de 200 créditos, equivalentes a 3.000 horas. Além
do Nécleo comum, o aluno deve cumprir as seguintes determinações:
39
CUMPRIRAS DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS:
T:reínamento em
Biolnecânica do Movimento em Esporte!
Estudos Psiool · ·oos do
Sallde Coletiva e PerfunnanceHUillllll8
I TreinamentoemE
de TreinaJZllmto em Es
DISCIPIJNAS ELETIVAS- ,. :ZO cridff4ts -~
Artes Marciais
Alktimw
"""""""""Gínâstiea Ritmiea
Futebol de C
N• o
VoJ.cibol
OS eridiÚI3 denne:
· 'onado:s em Treinamentoe Jrtl! I em:
"Artes Marciais
-Atletismo
- )3as( ebol__,
- Ginástica Rltmíca .Vll
-Futebol de Cam
-Natação
- V(lleibol
'os S 'sionados em Treinamento II em:
" Artes Marciais
-Atletism(l
""""''-Handebol
- Ginástica Ritt:nica -a
-""""'"' de
-N•
-Voleibol
Quadro IV- Estrutura curricular do Treinamento em Modalidade GA (UNICAMP, 2001).
Da mesma forma, a UNESP de Rio Claro oferece o Bacharelado em Educação Física
com opção por Área de Esportes. O curso é composto de 194 créditos, o equivalente a 2.910
horas. Para quem opta por esta área, além de cumprir os créditos do Bacharelado em
Educação Física,. também terá de cursar as seguintes disciplinas:
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Es1udos. Avançados emHandebol, A11etismo. Basquerebol, Capoeil.'a, FuteOOl eFutebol de Salão,
GinãsticaArtistica GRD,Judõ,N~. Vole!OOI (escolha duas .f..~)
Trabalho de Formatura
Quadro V ~ Disciplinas optativas para Concentração em Esportes do Curso de Bacharelado em Educação Física
(UNESP, 2000; BARROS, 1995).
Em Curitiba, foi criada a "Universidade Livre do Esporte oo Poraná'', declarada de
utilidade pública pela Lei Estadual n & ordm; 12099, em 23 de março de 1998. Foi constituída
sob a forma de sociedade civil, sem fins lucrativos, com autonomia juridica, administrativa e
f:manceira e com plena gestão de seus bens e recursos, de interesse coletivo e de caráter
educacional, desportivo e social. Ela está voltada para a formação, aperfeiçoamento e
desenvolvimento de estudantes, atletas, professores, técnicos e público em geral, oferecendo
cursos de educação continuada para aqueles envolvidos com o desporto em todas as suas
fonnas de manifestação (UNNERSIDADE DO ESPORTE, 1998).
Seus 12 sócios fundadores participam da sua manutenção. São eles:
(1) Instituto de Desenvolvimento Educacional do Paraná- FUNDEPAR
(2) Banco Real
(3) Petrobrás
(4) Universidade Tuiuti do Paraná
(5) Pontificia Universidade Católica do Paraná- PUC- PR
(6) Universidade do Norte do Paraná- UNOPAR
(7) Companbia de Desenvolvimento de Curitiba - CIC
(8) Companbia Paranaense de Energia Elétrica- COPEL
(9) Secretaria de Estado da Educação - SEED
(1O) Secretaria de Esporte e Turismo - PARANÁ ESPORTE
(li) Associação Paranaense das Instimições de Ensino Superior Público - APIESP
(12) Sistema FIEP/SESI/SENAI
A ~~universidade do Esporte" tem como principais objetivos:
~ promover a busca de novos talentos em todas as manifestações do esporte, estimulando a
participação ativa de atletas expoentes da commtidade;
41
./ valorizar os esportes olímpicos e incentivar a criatividade e sistematização científica, tanto
no plano individual como coletivo;
J possibilitar que a iniciativa privada participe do desenvolvimento sncial da comnnidade por
meio de parcerias com o setor público;
J incrementar e desenvolver novas tecnologias que possibilitem a qualificação dos
interessados, quer seja mediante a exigência presencial quer seja à distância;
J propor a realização de estudos e pesquosas em àreas que subsidiem a temàtica de
aperfeiçoamento e desenvolvimento do esport<o e do lazer;
J avaliar os resultados de qualificação e os impactos de melhoria do ensino e da pràtica
desportiva;
./ promover encontros ou seminários a partir da identificação de necessidades;
J executar cursos profissionalizantes, de ext<:nsão e especialização na àrea de esportes, em
parceria com instituições de ensino e empresas privadas.
A Universidade do Esporte, entendendo o Esporte como um direito de todos, procura
atuar em três manifestações:
(a) o Esporte Educação;
(b) o Esporte Participativo voltado à Populaçii<> em geral;
(c) <> Esporte Performance voltado ao Desportista.
Atualmente, está em andamento o Curso "Técnico em Administração para o Esporte",
com habilitação específica em Administração Esportiva, Marketing no Esporte e Recreação e
Lazer. O curso está estruturado da seguinte fonna:
L Núcleo bàsico para as três habilitações, com duração de 300 horas, distribuído em cinco
módulos:
(a) Introdução ao Esporte;
(b) Gestão Administrativa;
(c) Gestão Organizacional;
42
(d) Empreendedorismo;
(e) Infonnática Instrumental.
2. Habilitações Especificas (citadas anteriormente) com duração de 300 horas cada uma.
3. Estágio Supervisionado com duração de 200 horas.
Embora a iniciativa desta instituição tenha méritos, é importante observar que a
formação especifica na área do Esporte ainda não inclui a de técnicos de modalidades, o que
acredito que ocorrerá em um futuro breve.
Com as mudanças curriculares, acreditei que mais escolas de Educação Física criariam
os Cursos na área esportiva. Pelo que pude constatar, poucas seguiram este caminho.
A necessidade de transfonnação, não só dos Cursos de Educação Física, de suas
disciplinas e carga horária, mas de tudo um grupo que faz parte dele, ou seja, do corpo
doceote, do corpo oniversitário (reitores, diretores, coordenadores, eotre outros) e o seu
conceito dentro da sociedade era emergente.
Entretanto, lançar um "curso novo" com a intenção de arrebanhar um maior número de
pessoas, como muitas instituições particulares têm feito, leva à formação de "novos
profissionais'', mas sem qualidade. Isso causaria apenas novas dicotomias para a mesma
formação, o que puderia vir a detorpar ainda mais esta profissão. Sabemos que a sociedade
não diferencia o técnico de futebol~ que obteve a sua formação com base única e exclusíva na
experiência como jogador, daquele técnico que dedicou anos de estudo para a sua formação,
muitas vezes atribuindo maior valor ao primeiro.
Com isso. não quero defender uma ou outra formação, ou dizer que uma seja mais
adequada que a outra, ou ainda que exista um currículo ideal para cada curso, seja ele
Licenciatura ou Bacharelado em Edncação Física, Bacharelado em Esporte ou similar. O que
defendo neste estudo é uma fonnação que se aproxime mais da realidade a ser enfrentada
pelos futuros profissionais, uma vez que uma única estrutura curricular não atende~ e nem
43
Uma proposta para formação de técnicos de ginástica artística no Brasil
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Uma proposta para formação de técnicos de ginástica artística no Brasil

  • 1. Myrian Nunomura TÉCNICO DE GINÁSTICA ARTÍSTICA: uma proposta para a formação profissional Este exemplar corresponde à redação final da Tese de Doutomdo em Educação Física defendida por Myrian Nunomum e aprovada pela Comissão Julgadom em 20 dejulho de 2001 Orientador: Prof'. Dr". Vilma Leni Nisla Piccolo Campinas
  • 2. N.' CPD Cl"iOOi FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA-FEF-UNICAMP "927t Nunomura, Myrian Técnico de ginástica artística: uma proposta para a formação profissional I Myrian Nunomura. --Campinas, SP: [s. n.], 2001. Orientador: Vilma Leni Nista-Piccolo Tese (doutorado) - Universidade Estadual de Campinas, Facnidade de Educação Física 1. *Ginástica artística 2. Formação profissional 3. Estudo e ensino- Atualização. I. Nista-Piccolo, Vilma l.eni. I!. Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Educação Física.lll. Título.
  • 3. ) Este exemplar corresponde à redação final da tese de doutorado defendida por Myriam Nunomura e aprovada pela comissão julgadora em 20 de julho de 2001 (Orientadora)
  • 4. AGRADECIMENTOS Seria dificil expressar em palavras toda a minha gratidão às pessoas que participaram da construção deste trabalho, um ideal que vinha alimentando há um certo tempo. É um momento muito importante, tanto em minha vida profissional como pessoal. Aprendi muito durante a realização deste trabalho mas, talvez, a lição mais significativa que tirei de tudo isso foi que não somos ou não construímos nada sozínhos. Sempre houve alguém que atenuasse as dificuldades que encontrei no caminho. O trabalho está muito longe da perfeição mas, com certeza, ele foi enriquecido com a boa vontade, a paciência, o respeito e o carinho daqueles que participaram da aplicação do programa, das entrevistas e dos questionamentos, fornecendo--me ínformações e materiais valiosos. Não posso me esquecer das pessoas que pontuaram e conigiram os meus erros, oferecendo-me sugestões e criticas construtivas, mostrando-me o caminho certo ... Agradeço a todas essas pessoas, independente do seu grau de envolvimento, porque cada grão de areia me ajudou e fizeram com que meus passos se tomassem cada vez mais determinados. Receio que ao citar nomes, que são muitos, poderia cometer alguma injustiça, esquecendo-me de alguém. Apenas peço permissão para que eu manifuste um agradecimento especial à minha orientadora e à minha família por terem me apoiado constantemenle, caminhando sempre ao meu lado, dividindo comigo os momentos de ups and downs ... Muito obrigada a todos vocês ! Campinas, 20 dejulbo de 2001. v
  • 5. "Vemos as coisas como elas são e perguntamos: Porquê? Sonho com coisas que nunca existiram epergunto: vii Por que não?" (George B. Shaw)
  • 6. RESUMO ABSTRACT SUMÁRIO INTRODUÇÃO--------------···························································--···················-·--··-----·· 01 O Objetivo do estudo ..................................................................................................... 04 O Problema .................................................................................................................... 04 AJustificativa ................................................................................................................ 09 A Contribuição do estudo .............................................................................................. 14 CAPÍTULO I ................................................................................................................ 15 A Ginástica Artística e a Formação Profissional no Brasil ............................................ 15 Os Cursos de Graduação e as principais mudanças ....................................................... 17 A Comissão de Especialistas de Ensino em Educação Física ....................................... 30 A Formação ua ãrea do Esporte ..................................................................................... 33 Clubes Esportivos, Federação e Confederação .............................................................. 45 A Formação de Técnicos em outros países .................................................................... 46 O Modelo do Canadá ..................................................................................................... 79 CAPÍTULO ll .............................................................................................................. 81 A Trajetória Metodológica ............................................................................................ 81 A Abordagem qnalitativa ................................................................................... 81 Os métodos procedimentais, as técnicas e os resultados ............................................... 88 A Pesquisa Bibliográfica ................................................................................... 88 A Pesquisa de Campo ........................................................................................ 88 -Entrevista com técnicos de GAdo estado de São Paulo-------·-·---------·-· 88 "'
  • 7. - Questionamento aos participantes do Curso de Especialização ........... 97 - Questionamento aos alunos do Curso de Bacharelado em Esporte .....103 - O contato e o estudo do Programa do Canadá .....................................107 - A Aplicação do Programa ....................................................................107 CAPÍI'ULO ID ........................................................................................................... 133 APropos1a de um Programa .........................................................................................133 CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................................153 REFERÊNCIAS BffiLIOGRÁFICAS ......................................................................159 BmLIOGRAFIA GERAL ........................................................................................165 ANEXOS ......................................................................................................................169 Anexo 1 .........................................................................................................................170 Anexo 2 .........................................................................................................................171 Anexo 3 .........................................................................................................................178 Anexo4 .........................................................................................................................179
  • 8. RESUMO O objetivo do presente estudo é apresentar uma proposta que visa melhorar a qualidade de ensino da Ginástica Artística (GA), partindo-se da premissa que existe a necessidade de uma formação específica para os professores de Educação Física que querem atuar como técnico dessa modalidade. Este fato foi confinnado por meio de investigações feitas entre os profissionais que já atuam na GA e entre aqueles que pretendem ingressar nesta carreira, somando-se a isso a minha vivência como atleta, árbitro, técnica e docente universitária nesta modalidade. Embora o problema tenha sido constatado, as instituições relacionadas à prática da GA ainda não se mobilizaram com a intenção de suprir as necessidades básicas desses profissionais. Após realizar um levautamento bibliográfico, deparei-me com Programas para formação de técnicos em outros países como o Caoadà, a Austrália, os Estados Unidos e Portugal. Depois de estudá- los, pautei-me nas idéias apresentadas pelo modelo do Caoadà, criando e aplicando um Programa de mesma natureza no Brasil, cuja avaliação recebeu um parecer positivo, tanto dos participantes daqui como dos criadores do Programa naqoele país. Foram estes fatores que, junto aos resultados encontrados nas investigações, puderam reforçar a impor1ilncia de um Programa para formação de técnicos de GA em nosso país. Desta forma, apresento a proposta de um Programa vinculado à criação de uma Associaçifu de Ginástica, que se responsabilizaria pela integração de diversas instituições ligadas à modalidade para desenvolver os cursos que podem formar, qualificar e maoter os profissionais da GA atualizados.
  • 9. ABSTRACT The purpose of this study is to present a proposal to improve lhe quality of teaching in Artistic Gymnastics (AG). lt started from lhe premise that there is a need for specific Coaching Education in Brazil. This fact was confirmed by an investigation made within AG professionals and those who intended to coach, also adding my experience as an athlete, judge, coach and professor. Although this problem had been recognised before, no institution related to AG expressed any support to satisfY lhe basic need of those professiouals. While I was searchlng for some information concenting coaching education, I found a Coaching Education Program whlch bas been implemented in Canada, Australia, lhe USA and Portugal. So, after studying carefully those programs I took lhe Canadian model as a reference and created and applied lhe same kind of Program in Brazil, which received a positivo feedhack from lhe participants and its creators in that coun!Iy. Ali these facts, added to lhe results achieved from my investigations, reinforced lhe importance ofa Coaching Education Program in Brazil as well. So that, I proposed a Program linked to lhe creation of a Gymoastics Association. This Assocíation would be responsible for lhe integration ofdifferent institutions conoected to Gymoastics in order to conduct lhe courses whlch would educate lhe AG professiouals, improving their necessary professional qnalifications, and keeping !hem updated
  • 10. INTRODUÇÃO A Ginástica Artística 1 (GA) é uma modalidade esportiva que encanta o público com seus movimentos graciosos e~ ao mesmo tempo. audaciosos e complexos que. aos olhos dos leigos, parecem incompreensíveis e inacreditáveis. No Brasil, a divulgação, pela mídia, dos principais eventos vem fazendo com que o número de praticantes desta modalidade cresça, tanto em clubes como em academias, condominios e escolas (BAPTISTA et ai., 1997). Outro aspecto que, hoje, poderia estar contribuindo para esse interesse seria o fato de se conhecer um pouco mais a respeito dos beneficios proporcionados pela sua prática (MELLO, s/d). Desta forma, observa-se um maior número de profissionais estimulando a prática da GA, seja como recreação ou competição. Cresce, também, a demanda por profissionais' cada vez mais especializados à medida que o ruvel de performance vai aumentando. Mas será que os nossos técrucos de GA estão sendo preparados adeqnadamente para exercerem esta função? Fiquei intrigado com a suposta lacuna existente entre a Graduação (ruvel superior) e a atuaçãn prática de nossos técnicos de GA. Então, lancei-me em uma trajetória de investigação desta questão, procurando conhecer a realidade da formação desses profissionais e os Cursos de Graduação. Só assim foi possível traçar um perfil dos nossos técnicos, além da descobrir as falhas presentes na sua formação, que se refletem no campo de atuação (ambiente prático). 1 Tanto o termo Gi.ná&tica Artística con:IO Ginástica Olimpica referem--se à mesma modalidade da ginástica em apmellios (4 eventos femininos e 6 masculinos). No Bnlsil, ambos são utilizado~:. Emborn a versão mais pro:cima do inglês seja Ginástica Artlstica (Artistic Oymnastics), houve uma divetgência no pais, sendo aceitas as duas nomenclaturas e, dependendo do estado. cidade ou entidade, é adotada uma ou outta nomenciatum., o que tem causado algumas coofusões.. ~Aqui. o termo _profissional inclui tanto lideres, instrutores, tétmicos como professores. 1
  • 11. A inexistência de uma '~Formação Específica" para os técnicos de GA tomou-se o alvo da minha discussão, uma vez que ainda podemos encontrar técnicos que atuam nesta modalidade valendo-se apenas de sua experiência como atleta. Atualmeníe, forçados pela regulamen~ão 3 da profissão de Educação Física, esses técnicos esllio buscando os Cursos de Graduação para não perderem sua posição no mercado de trabalho. Apesar de acreditar que existe uma carência muito grande de profissionais com conhecimento e experiência necessários para desenvolver aGA, não encontrei um Programa de Formação ou de Certificação para esses profissionais no Brasil. Nem tampouoo há, até o presente momento, intenções declaradas por parte dos órgãos oficiais, relacionados diretameníe ou não à modalidade, como a Federação Paulista de Ginástica (FPG), a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG), a Secretaria Municipal de Esportes (SEME) ou o Ministério da Educação e Cultura (MEC) de incentivar a formação e desenvolvimento dos técnícos de GA. Este cenário favorece a contratação de técnicos estrangeiros e a necessidade dos técnicos brasileiros de buscarem cursos fom do país. Atualmeníe, existem os Cursos em nível superior que coníemplam mua formação mais direcionada ao profissional da àrea do Esporte como o da Universidade de São Paulo (USP), da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade Paulista- Campus Rio Claro (UNESP) e, mais recentemente, o da Universidade Estadual de Londrina (UEL). A proposta desses cursos é a formação de profissionais capacitados para intervirem diretamente no esporte e nos empreendimentos esportivos. Mas será que esses cursos estão atendendo à demanda do mercado de trabalho? No caso da GA, serà que os técnicos são preparados adequadamente para orientarem os praticantes em diferentes níveis? Esses cursos contemplam as expectativas e as necessidades desses profissionais? A minha experiência como ginasta, técnica e árbitro da modalidade e, atualmente, como docente universitária, e ainda a participação em encontros com profissionais da área, enfim, a minha trajetória no ceuàrio da GA são futores imporlantes que contribuínnn de forma significativa para o delineamento da questão da formação dos técnicos de GA. 3 A lei 9696198 esúlbelece ao profissional de Educação Fú:ica o resguardo dos direitos profismonai.s, a. delimitação das questões éticas e suficiente possibilidade de organizar-se em categoúa profissional que possa oferecer-lhe o direito de participação de atividades pura as quais somtm1e essa di:tmminada classe encontra--se formada e preparaéla.. podf:ndo ainda, apesar da existência da titul.ação necessâria. ser cobrada umaatuaçãocompetente(TOJAL, 1999). 2
  • 12. Um fato que também reforçou a minha opinião com relação à necessidade de um Programa específico para a formação dos nossos técnicos foi a experiência de aplicar um programa de treinamento em um Clube Esportivo de São Paulo, sem prévio estudo dos componentes teórico, técnico e prático, cujo procedimento se mostrou pouco eficiente. Uma investigação entre os profissionais qoe atuam nesta modalidade e entre aqueles que pretendem ingressar nesta carreira também reforçaram a minha hipótese de que nossos técnicos de GA necessitam de um Programa de furmação específico. Partindo então dessa premissa e objetivando criar uma proposta de um programa que pudesse contemplar a formação desses técnicos, investiguei como isso ocorre no contexto internacional Após um levantamento dos programas existentes e de uma análise mais aprofundada dos dados encontrados, pude constatar que o Programa Nacional de Formação e Certificação para Técnicos Desportivos' do Canadá, que inclui a modalidade de GA, mostrou~se mais adequadamente estruturado. Tomei conhecimento desse Programa em 1995, mas somente três anos depois (1998) é qoe pude contatar os responsàveis pela sua criação, já com o intuito de toroà-1o um parâmetro parn a minha proposta apresentada nesta tese de doutorado. De acordo com os responsàveis pela implaotação do Programa no Canadá, este serve parn orientar os profissionais a construirem um planejamento mais adequado, da iniciação ao alto nível, e também estabelecer níveis de qualificação parn a profissão (RUSSELL& KINSMAN5 , 1986). Os criadores deste Programa também oferecem assessona a outros países que pretendem elaborar um Programa de Formação e Certificação parn seus técnicos. Portamo, a partir dos problemas detectados e tendo como referência o Programa do Canadá parn a formação de técnicos, elaborei e apliquei um Programa de mesma natureza com um grupo de alunos da Faculdade de Edocação Física da UNICAMP (FEF- 4 O I'rogrn.o:ul Nacional de Certifieação paxa Wcnioos do Canadá (Nali<mt.d Coaching Certi.fication Program) engloba mais de 60 modalidades esportivas, desde a iniciação até a competição. No caso da GA, atualmente, estão em desenvolvimento os níveis 4 e 5, que ~aos níveis mais avançados de uma deotemllnada modalidade esportiva. Para cada nível (de I a S) existe um Curso Teórico, Téçcioo e Prático. O Canadá IXlllScguiU padrolúzar um Programa Nacional de GA e a Certificayão tomou·se quase que uma exigência nas insti~ de Esportedo pais (NCCP, 1996). ~ Rus:sell e Kinsman são os principais responsáveis pela criação e ímplantaçãodo Programa de Certificação de Técnicos do Canadá, desde seu inicio há aproximadamente 23 anos. RussclJ foi técnico da equipe nacim.tal masculina de GA do Canadá e membro do comitê técnico por vários lUlOS. Foi também oolabomdor ativo na il:nplantaçiode um Progm:na 1lQ$ mesmos moldes na AUSirália. 3
  • 13. UNICAMP), cujos resultados foram apresentados aos criadores do Programa no Canadá. A intenção aqui não é propor urna réplica do Programa Caoadense, mas utilizar a idéia central da formação específica dos técuicos, criando perspectivas para o desenvolvimento destes profissionais e da própria modalidade de acordo com a nossa realidade. Isto quer dizer que a proposta que foi fundamentada e que ora apresento é o resultado de urna reflexão sobre os aspectos relevantes levantados no contexto da ginástica. A partir de estados a respeito de Programas de Certíficação, estruturei um Programa que pudesse ampliar o conhecimento do técnico de GA, não só na questão prática como também no aprofundamento teórico dessa atuação. O Objetivo do estudo O objetivo deste estodo é propor um Programa para a formação de técnicos nacionais de GA que atenda tanto áqueles que já atuam 111a modalidade como áqueles qoe preteadem ingressar nesta carreira,. com o intuito de aprimorar o serviço prestado por estes profissionais. O Problema Todo problema nasce de questionameolos. A minha vivência na GA trouxe muitas indagações. Quem é este técuico qoe está aloando em clubes, escolas, prefeituras e outras instituições? Como é a sua formação? O que ele sabe? Está satisfeito ou não com o seu conhecitnento e a sua formação? Como é adquirido este conhecimeoto? O que seria importante para a sua atuação como técnico? Quais as suas expectativas nesta carreira? Essas e outras indagações geraram a idéia de elaborar um Programa para a formação de técnicos desta modalidade. A entrevista com os técnicos atuantes revelou lacunas entre a Graduação e o campo de 4
  • 14. atuação desses profissionais, assim como o interesse deles por cursos com conteúdo mais específico para a modalidade que não foi contemplado neste período de sua formação. Outro futor que gerou o problema em questão paula-se na investigação feita entre os alunos regulannente matriculados no Curso de Especialização em Ginástica desenvolvido pela FEF-UNICAMP. Ao questionar a opinião dos alunos com relação à implantação de um Programa para formação de técnicos de GA, a grande maioria mostrou-se fuvoràvel, ressaltando que a àrea carece de profissionais, tanto em quantidade como em qualidade. Além disso, relataram que muitos tópicos importantes para a sua atuação não foram tratados com especificidade no Curso de Graduação. Já os alunos regulannente matriculados na disciplina de Treinamento em GA, da grade curricular do Curso de Bacharelado em Esporte da Escola de Educação Física e Esporte da USP (EEFEUSP), enfatizaram em seus discursos um grande interesse por uma formação especifica para técnicos. O resullado das investigações e a minha vivência na GA, que descrevo a seguir, possibilitaram visualizar o perfil de nossos técnicos~ assnn como levantar alguns questionamentos gerados por uma formação insuficiente. Como atleta, ginasta de uma equipe de nível estadual, não tive um posicionamento crítico com relação à fonnação dos técnicos que me orientaram e nem da forma como conduziam o treinamento. Lembro-me que eles não mostravam o registro do planejamento do treinamento e nem relatavam algo a respeito de nossa evolução, apenas exigiam muita disciplina e resultados positivos em competições. Na Graduação, o docente respoosável pela disciplina de GA foi um dos meus técnicos e pareceu-me que não houve muito a acrescentar ao conhecimento porque a ênfase dade à disciplina era o desenvolvimento técníco. Senti falta de discussões a respeito do conteúdo e reflexões sobre as questões pedagógicas da GA que não vivenciei porque fui encaminhada diretamente ao ambiente competitivo. Naquela época, só via a possibilidade de trabalho com a GA nos moldes competitivos, o que acabou sendo minha opção profissioual durante este período. 5
  • 15. Por ter concluído a Licenciatura em Educação Física, muítas disciplioas do curso pareceram irrelevantes, uma vez que o meu objetivo era orientar equipes competitivas de GA. Só após uma reflexão geral do Curso de Graduação, penso que não fui preparada nem para trabalhar com a GA no ambiente escolar e muíto menos no ambiente competitivo. Comecei a atuar como técnica no primeiro ano da Graduação. Acreditava que a miuba experiência como atleta e as informações adquíridas ao longo da Graduação seriam suficientes para que eu me desenvolvesse nessa carreira. Entretanto, atuando no ambiente prático, foilllll surgindo dúvidas e problemas 'l'le não conseguia resolver. Não compreendia a dificuldade das ginastas em aprender as habilidades, o estresse que as competições causavam, não respeitava o período de recuperação delas e não considerava as questões pedagógicas do ensino. Nem ao menos tiuba noções de como elaborar o phmejamento do treinamento. Além disso, não sabia onde me amparar e como melhorar a minha atuação. Os outros técnicos não se mostravam abertos <~ nem dispostos a discutir ou estudar os problemas. Essa situação foi me frustando pois não obtiuba resultados significativos. Em alguns momentos de reflexão, ainda atuaodo como técuíca, percebi que estava reproduzindo exatamente a forma como fui orientada enquanto atleta. Nesta fuse, resolvi atuar em outro segmento acreditando que tudo poderia ser diferente. Foi assim que parti para o âmbito escolar, o que também não me satisfez profissionalmente. Na escola em que trabalhei, além da diseiplina de Educação Física, havia uma Escola de Esportes oode as crianças optavam em praticar a modalidade esportiva de sua preferência, em horário extracurricular. Embora essa atividade tivesse caráter participativo, em outros raros momentos de reflexão, percebi que, muítas vezes, eu exigia uma performance além dos limites dos alunos. Assim, resolvi dar continuidade aos meus estudos, envolvendo-me num curso de Pós Graduação, na tentativa de procurar outros caminhos que me ajudassem a solucionar os problemas do ambiente prático e melhorar a miuba atuação, além de amphar a minha visão da GA Após concluir o progmma de mestrado voltei a atuar em mn clube esportivo. agora em mn programa não mais relacionado à GA Nesta época, um dos técnicos de GA do clube trouxe um Programa de Treinamento de GA de outro pais e decidiu aplicàwlo com suas crianças. Auxilieí na tradução do material e fiz algumas sugestões para a adaptação deste Progillllla à 6
  • 16. realidade da instituição. No entanto, os técnicos tiveram dificuldades em estabelecer o conteúdo para os diferentes níveis das crianças, mesmo tendo em mãos um manual de apoio para a prática, o que reforçou a importância de estudos preliminares à aplicação do Programa. Este fato tantbém me levou a questionar como seria uma formação adequada dos técnícos de GA A partir desta experiência, percebi que se atuasse diretamente na formação desses profissionais poderia encontrar algumas respostas para as minhas indagações. Assim, comecei a atuar como docente uníversitária na diseiplina de GA Como árbitro, no início, não despertei nenhum posicionamento critico com relação ao ambiente competitivo da GA Mais tarde, como árbitro de campeonatos e não mais como técnica, é que comecei a observar as atitudes dos técnicos, suas condutas em compatição e a forma de se relacionarem com seus atletas. Percebi o quanto "vencer'' em importante para os técnicos e para os atletas, principalmente nas compatições oficiais. Em vários momentos, pode detectar a inadequação das habilidades apresentadas em relação às capacidades dos praticantes. Esse tipo de procedimento era e ainda continua sendo utilizado por muitos técnicos. Estas cenas se repetem com muito mais freqüência em Jogos Regionais (JR) e Jogos Abertos (JA) realizados no interior do estado de São Paulo. Anteriormente, as séries eram de natureza obrigatória6 Há aproximadamente cinco anos, houve uma modificação no regulamento técnico desses torneios. Primeiro~ passou-se a seguir o regulamento do Código de Pontuação da Federação Internacional de Ginàstica7 (FIG), fazendo-se algumas modificações, principalmente com relação às partes de valor dos elementos•. Mais tarde, adotou-se o regulamento da FIG integralmente, sem adaptações. Acredito que não seja apenas meu ponto de vista, mas de muitos qoe vêm acompanhando essas competições, de que o resultado foi um "desastre' ou melhor~ um festival de quedas, acidentes e riscos em potencial! Parece que a única preocupação dos técnicos é tentar cumprir as exigências do novo regulamento. Estariam errados? Penso que a falba é da Cotuissão Técnica que não previu ou, ainda, não foi capaz de perceber a inadequação dessas regms. Não penso que ~A Omú.s!!lo Tilcnica da Secretaria de Esportes e Turismo do Estado de São Paulo estabelecia 1ll1'll.l série de exewicios pata cada eparelho (sendo eliminados a:; paxalc:la:; assimétricas, ct~valo rom lltÇ6e3 c: argolas). Todos os partiçi.pantes d.evc:riam exc:ootar as tllCSUlllS stries., sendo despon1Uadoo por elementos faltantes e falhas de execllÇão e postum. Onivet de dificu1dade ara equivalente às séries obrigatórias da categoria infunti1da FPG. ' A Fedmtç!io Intemacionalde Ginãstica (FIG) e oórgão mãJtiml;,) que admínistm a Gmásticano 'IIIIJ.Ildo. R O Códígo de Pordl~Dção contém as descrições e 0 valores de cada elemento de aula aparelho. De acordo COOl o tipo da C0l1:1pdição. 7
  • 17. estas cidades não tenham condições de funnar excelentes atletas em nlvel compatível ou superior ao de atletas federados. Mas, sabe-se que elas dispõem de muito pouco recurso e somente com a aproximação destes eventos é que algumas conseguem apoio financeiro da Prefeii:Ura, principalmente se forem a sede das competições. Algumas cidades chegam a contratar técnicos estrangeiros pouco antes dos JR ou JA! Assim que os torneios se encerram, geralmente, esses técnicos são del11itidos. Conversando com alguns técnicos destas cidades, pude perceber o interesse deles em melhorar a sua atuação na GA Muitos, no entanto, relatam não saber onde buscar mais conhecintento, além da não terem condições de se deslocar ou arcar com os custos de cursos no exterior. Mesmo assim. lá estão eles no ano seguinte tentando fazer seus atletas cumprirem o Código de Pontuação à risca ... Mesmo nas competições oficiais, tanto da FPG como da CBG, embora com menor freqüência, também podemos constatar alguns técnicos snhmetendo seus atletas a situações de risco, exigindo que estes executem elementos para os quais ainda não estão preparados. Seria um reflexo da falta de preperação adequada destes profissionais para orientar a GA? Acredito que a l11inha experiência nessa àrea, arbitomdo em diversas cidades e estados, foi o que mais despertou meu posicionamento critico com relação à GA e à atuação dos técnicos dessa modalidade. Ao iniciar a carreira acadêmica como docente da disciplim de GA do Curso de Bacharelado em Esporte da EEFEUSP, ficou muito clara a dificuldade em atender, simultaneamente, aos interesses daqueles que gostariam de iniciar a GA nos mais diferentes ambientes e outros que gostariam de preparar atletas para competições e. embora poucos~ aqueles que gostariam de furmar atletas de alto nivel. Em uma disciplim de 60 horas seria possível abordar um conteúdo satisfatório para um trabalho de iniciaçao da GA Entretanto, toma-se inviável se buscarmos~ numa mesma disciplina,. atender àqueles que desejam orientar a GA como esporte de alto nlvel. A quem caberia, então, a Fonnação desses técuicos? Como deveriam ser preparados? Ficariam lintitad:os a desenvolver programas de iniciação da GA? Onde deveriam buscar tal conhecimento? Na tentativa de atender ao interesse desses futuros profissionais, o Curso de Bacharelado em Esporte da EEFEUSP exige--;re um determinado nlimefo de elementos que são divididos. em <miem crescentede dificuldade e valor em A. B, C, D e E. 8
  • 18. possibilitou o aprofundamento em uma modalidade esportiva, a Habilitação. Haveria, então, uma disciplina dita GAll, com uma carga horária de 64 horas (mais 120h de estágios) e de caráter optativo. Pelo número reduzido de participantes e por terem cursado a GAI, esta disciplina tem a possibilidade de ir além dos fundamentos básicos da GA e sua abordagem pedagógica, partindo-se diretamente para o seu caráter técnico. Creio que não caberia ao curso formar técnicos para orientarem atletas de alto nfvel, mas os 4 anos de experiência nestes moldes mostraram que a impossibilidade de dar continuidade a um aprofundamento e atualização na área aeabatia desmotivando o futoro técnico a prosseguir nesta carreira. Acredito que os futos aqui relatados poderam ilustJar parte da problemática que norteia a GA no nosso país. Para muitos profissionais que atuam nesta modalidade ou não, esta interpretação da problemática da GA pode ser pessoal e particular. Certamente eu não descartaria esta possibilidade. Para quem acredita que as questões levantadas são infundadas, não haveria o que mudar. Por outro lado, também estou certa que existe um grupo de profissionais que partilham da mesma opinião e vêem a necessidade de reformulações no processo de formação de nossos técnicos. Esta não é a única solução, mas acredito que possa atenuar alguns problemas desta modalidade. A Justificativa Embora tivéssemos obtido o melhor resultado da história da GA brasileira nos Jogos Olímpicos em Sydoey (21' classificação individual geral), vale lembrar que foi um destaque individual. Se mais pessoas tivessem acesso à modalidade talvez pudéssemos classificar uma equipe completa, tanto feminina como masculina9 . O que parece controverso é que a disciplina de GA está presente na maioria dos currículos de Educação Física. mesmo nos cursos de Licenciatura. Isto levaria muitos leigos ~ No Campeonato Mundial ~ antecede os Jogos Olimpioos. as 12 melhores equipes têro o direito de enviar a equipe completa. Abaixo desta classificação, dependendo daJX!Sição. oo países têm direito de enviar 2, 1ounenhum ginasta. 9
  • 19. a pensarem que exístem muitos praticantes e muitas equipes competitivas de GA Mas, infelizmente, não é esta a nossa realidade. Em São Paulo, por exemplo, um estado com aproximadamente 20 otilhões de habitantes, tiolba apenas lO entidades filiadas oficialmente à FPG no ano de 2000, sendo que algmnas competições não aconteceram ou não foram oficializadas por não termos o número ntinimo de entidades participantes, principalmente nas categorias superiores (juvenil e adulta). Sobre isso, penso que outros fatores poderiam estar desmotivando a prática da GA como questões econôoticas e, talvez, culturais, uma vez que existe uma tendência em relacionar a sua prática a crianças e adolescentes. Entretanto. não cabe ao âmbito desse estudo focalizar estes aspectos. O que enfoco neste estodo é que estes fatores podem estar diretamente relacionados à qualidade da formação dos técnicos que se reflete nos serviços prestados por eles. A questão da Certificação da Qualidade é discutida nos diferentes segmentos e, atualmente, começa a ganhar destaque também no âmbito da Educação Física e Esporte, como revela o discurso de LIMA (1994:42), "... o certificado de qualidade é uma medida que, garantindo as características de um artigo produzido pelo setor industrial ou de um produto lançado no mercado, visa proteger e salvaguardar o utilizador ou o comprador de um risco de segurança ou agressão à saúde ..." "... os certificados emitidos por diferentes instituições. de certo modo, constituem certificação de qualidade visto comprovarem uma garantia de que os sujeitos, a favor de quem foram passados, satisfizeram as exigências a que aqueles dizem respeito ..."" "... uma instituição que passa um 1:::ertificado de habilitação acadêmica deveria garantir uma certificação de qualidade ao interessado de modo a que este se sentisse seguro no exercício da atividade a que aquele se refere ..." De acordo com o autor, uma vez que é a Universidade que fornece a ~·certificação", ela seria diretamente responsável pela qualidade dos serviços prestados pelo profissional que ela habilitou, a partir do momento da emissão desta comprovação (diploma). Mas a realidade tem mostrado que esta relação não é verdadeira. lO
  • 20. Então, como poderíamos garantir a qualidade desses serviços? Quem seria responsável por fiscalizar a atuação dos profissionais? A busca de melhoria da qualidade está presente em qualquer área de trabalho. O desenvolvimento de um produto ou um serviço satisfatório e com qualidade~ cria uma credibilidade mútua, entre quem oferece e quem desfruta desse serviço. Na área esportiva, mais especificamente na GA, não poderia ser diferente. Um Programa que corresponda ás expec1ativas e atenda ás necessidades dos participantes é o «Produto <:om Qualidade" desejado. A credibilidade do profissional é adquirida por meio de uma forma apropriada de trabalho, assim como pelos resultados que ele apresenta Foi pensando na qualidade da fonnação de seus técnicos e, conseqüentemente, na qualidade dos serviços prestados por eles é que o Canadá desenvolveu o Programa de Formação e Certificação de técnicos de GA em parceria com órgãos do Governo e pstrocinado pela empresa 3M. Atualmente, quase todos os técnicos das províncias canadenses obtiveram algom grau de certificação (de 1 a 3). A maioria das instituições (clubes, academias, YMCA10 , etc.) exige a certificação de seus profissionais e muitos técnicos relatarsm que o estabelecimento de níveis de qualificação oferece perspectivas nessa carreira (RUSSELL, 1994). Minha justificativaem criar e implantar um Programa para a formação de téeuicos no Brasil, assim como o Canadá, pauta-se nos seguintes aspeetos: J a importância de uma padronização dos Programas de GA existentes no país, procurando atender aos objetivos (educacional, competitivo, recreativo) e ás necessidades específicas de cada instituição que as desenvolverá (tanto clube, academia, escola, condomtuio como Universidade); J a fonnação de profissionais mais confiantes e capazes de conduzir a GA com segurança e com domínio do conhecimento a ser transmitido, bem como da metodologia de ensino adequada; 11
  • 21. J a criação de um trabalho que integre esfon;os dos órgãos vinculados diretamente à GA (Federações e CBG) com as Universidades <:, até mesmo, a possibilidade de criar uma Associação de Ginàstica, que seria respousàvel pela furmação e qualificação dos técnicos; J a possibilidade de oferecer maior respaldo para a elaboração dos Programas de GA e para aqueles que os conduzem, procurando conquistar credibilidade perante a sociedade; J a busca de melhor participação do Brasil em torneios internacionais, possibilitando que um maior número de atletas consiga atingir as condições necessàrias para isso. Graças à intplanração deste programa, o Canadà, a Austrália e a Nova Zelândia, que trabalham em parceria com o primeiro, vêm se destacando mundialmente nos torneios internacionais entre os atletas de elite (GCG1 1996,1997; AUSTRALIAN JNSTITUTE OF SPORT, 1998); J a possível alternativa de conteódo programàtico para os Cursos de Bacharelado em Educação Física e Esporte em nossas Universidades; J um técnico melhor preparado tem domínio do conhecimento e pode, assim, desenvolver um programa adequado que desperte mais interesse e possibilite os praticantes a desfrutarem dos inúmeros beneficios inerentes à GA RUSSELL (1980, 1984) e RJZZUTO (1989) relatam que os beneficios seriam o de melhorar o auto-conceito e a a.uto--confiança; auxiliar os praticantes a enfrentarem dificuldades emocionais como o medo, a ansiedade, a frustração e a derrota; desenvolver o controle do corpo em várias situações; elevar a auto-estima, além de melhorar a capacidade de conce~. A GA, hoje, é uma modalidade um pouco mais "desmistificada" e vem atraindo não só criaoças, mas adolesceotes, adultos e a população especial, além de ser utilizada como atividade complementar para outras modalidades esportivas como forma de desenvolvimento e manutenção do condicionamento fisico e motor. Embora ela possa evoluir para o esporte competitivo, para aqueles com este potencial e desejo~ é na iniciação, ou em forma de recreação, que ela pode beoeficiar muitas pessoas (RUSSELL, 1980,1986). Assim, a GA poderia estar presente em escolas, clubes. academias~ centros comunitários, ACMs. condomínios, e na própria Universidade. No ambiente universitário temos o 11 Coofederação de Gínástica do Canadá., ó:tgilonacional que administn1 a Ginástica nesw pEJ:ís.- 12
  • 22. exemplo do Projeto Crescendo com a Ginástíca12 (PCG). Este projeto foi implantado pela FEF-UNICAMP há mais de dez anos e atendia crianças em geral, entre 4 e 12 anos de idade, visando ao seu desenvolvimento integral por meio de propostas lúdicas fundamentadas na ginástica artística e rítmica. Essa proposta educacional tentava desmistificar a imagem predominante de esporte de alto rendimento destas duas modalidades, por meio de atividades lúdicas. Essas atividades proporcionavam prazer, despertando a esploração, o auto domínio e o controle do corpo em situações progressivamente desafiadoras. explonmdo as mais diferentes possibilidades corporais. O trabalho desenvolvido por Nista-Piccolo no PCG poderia estar refletiodo os aspectos positivos de um aprendizado especifico para o futuro profissional, trazendo conceitos teóricos e aplicaJl.Clo..os em situações reais. com supervisão e orientação de um profissional mais experiente. Este trabalho poderia se caracterizar em um modelo de "preparação dos futuros profissionais", uma vez que se faz uma ligação entre a teoria, a prática, os estudos e as pesquisas, aspectos fundamentais na qualidade da furmação profissional. Os resultados positivos apresentados tanto pelo Canadá como por outros países que criaram um Programa para formação de técnicos (SCHEMBRl, 1995) e o desconhecimento de um Programa para formação e/ou qualificação dos profissionais dessa modalidade no Brasil impulsionaram este estudo. Senti-me extremamente motivada a iniciar e continuar este trabalho por acreditar que o Canadá não teria dispensado anos de estudo e dedicação com a implantação deste Programa se os resultados obtidos não fossem positivos. Da mesma forma, outros países não solicitariam o apoio e a assistência do Canadá para a criação de seus Programas se ele não tivesse alcançado 1al êxito. Por fim, os questionamentos que surgiram a partir do início de minha atuação profissional poderiam ganhar respaldo acadêmico com o seu envolvimento em um programa 17 VUwulw:lo- ao Departamento de Educação Motora, foi ~ pela Profa. Dru. Vilma Leni Nista"Piccolo e desenvolvido pela Equipe Universitárill de Estudos da Ginástica. Essa equipe nasceu da necessidade de reunir pessoas envolvidas com o projeto para o desenvolvimento de estudos e pesquisas nessa modalidade. A partirde 1993, o projeto recebeu1llllll sistematízação em toda a sua estruturn., envolvendo 30 alunos de gtaduação e pós-graduação que atuavam como monitores, alllriliafes e ~- Assim, ele se !.lonfinnou como um Jm.1iet.o de ensino, porque oferecia ~ de atu.:!Ção prática aoo alunos de graduaçiQ, que lhes trouxe gnmd<.: bagagem profissional,.acrescil.fus dos cursos, paJ.estms e encontros pedagógicos (NlSTA-PICCOLO, 1999). 13
  • 23. de doutorado, atendendo ao rigor cientifico exigido para um estudo dessa natureza A Contribuição do estudo Um Programa para formação de técnicos de GA pode contribuir com aqueles que desejam prosseguir nesta carreira mas não encontram apoio para o seu desenvolvimento. Também é favorável para aqueles que não possuem condições de arcar com as despesas de cursos no exterior. E, ainda, para os profissionais que pretendam se manter atualizados e primam pelo seu aperfeiçoamento nessa modalidade. Existem poucos estudos sistematizados em GA e a possibilidade de desenvolvê-los pode estimular a criação de um grupo de profissionais que possua interesse comum em aprofundar o seu conhecimento a respeito desta modalidade, além de enriquecer a área com materiais científicos. 14
  • 24. CAPÍTUWI 1-A Ginástica Artística e a Formação ProfiSSional no Brasil SegundoDIANNO (1988), embora a GA tenha chegado ao país no início do século XIX, esse período não foi suficiente para que o Brasil acompanhasse o desenvolvimento internacional dessa modalidade. Tal si~ se deve a muitos problemas que, para o autor, são causados pela necessidade dessa prática esportiva passar por muitas mudanças, tanto técnícas como adminístrativas, para que este pequeno grupo de pessoas envolvido na modalidade, não se tome um eterno espectador internacional. No seu ponto de vista, as principaís dificuldades que a GA, como modalidade esportiva enfrenta, estariam no âmbito das questões de infra-estrutura e do material humano (ginastas). Em nenhum momento o autor discute a questão da formação inadequada ou insuficiente dos profissionais que orientam o treinamento como um tàtor que contribui para o inexpressivo desenvolvimento da modalidade em nosso país. Percorrendo os Cursos de Graduação em Educação Física, segundo as descrições das ementas, pode constatar que não existe uma formação específica para aqueles qne pretendem seguir a carreira de técnico de GA, embora a maioria dos Cursos ofereça a disciplina, como mostra o Quadro 1: 15
  • 25. .... DF . .... SemmreiPeriodoiFue horiria Univ=idadeEstadual de Campinas SP Pedagogia do Esporte • GA l" """"""' 30h Treinamento em GA Optatiw ;:!::ohde es · emGA Univm~idade de SãoPaulo SP GOl 6" semestre (Obrigatório) 60h GOl! 7" seme::õlre (Optativo) 64h+l20hde estãttio em00 Univen;idade Paulista - Campus SP Fundamentos de GA I" semestre (obrigatório) 60h Rio Claro E"""'" A =GA .._ 60h Uni'l:t'Sidade São Judas Tadeu SP GOl "?GOl 36h OOll 8°GOII 36h UllÍversidade Paulista (UNIP) SP GAI 5° semestre 36h GAll 6° semestre 36h Universidade de Guarulhoo SP GA't ,._ 36h GAII 6"semestre 72h UniversídadeIbira SP Ginástica, incl.Wndo 00 ,. 72h Univenridade Fedem! de São Carlos SP ""'""""' . . Uni~idade da Cidade de São SP GOl ,...,.. 36h '"""' GOl! ··- 36h Universídade do Valedo Paraíba SP 00/GRI ,..,.,... 64h GO/GRll ··- 64h FEflSA SP ~~ticae ,.""' 72h M< .. oo Universidade do ABC SP GO 5"e 6" semestres 72h Faculdades •Módulo SP GA w 72h Escola Superior de Educação Física SP GA 1" ciclo 40h da Policia Militar 2" ciclo 40h Universidade Metropolitana "' SP GO 4"semestre 36h """"' GA ,._ 36h Faculo:lade:i Integradas de Rfbeirão SP 00 7" e 8" semestres 72h -Univtmildade Cruzeiro do Sul SP GO -:,• e 4"semestres 72h Faculdades Metropolitanas Unidas SP GA s·e 6"semestres 72h de São Paulo Uniwrsidade Bandt:irantes SP GO 7" e s· smnestres 72h '"""""' E®w""""" "' SP ~=dlndividuais com l módulo de v damez:Jto em GA l" """"""' 42h30 Universidade~ SP Teoria ePrática da 00 I 4 E..,. '""""""Teoria e Piátieada GO II s'EtaÕa. 3 créditos Fundação Universidade Fedenl do AC ""'""'= . . -Univmridade F""'"" "" s.m~ se G. Desportiva 4"Fase 54h Catarin.a. --· Optatiw. 54 h Aro:::!o. Uni'IOO'lidadeFedl:nll deUberlândia MG GA: scto s·1:riodi.J. 60h GA:a~illws 6"Periodo 90h Treinamenm emGA s"Período 45h F~ Univ.:rridade Federal de MO GOl 3"Per!odo 60h v· GOI! 4"Periodo 60h F - Uni~dade Br.milia DF doGA 3 Período 20créditos Uniwnidade Fedem! do Rio "' RJ Modalidades Desportivas '""""" Individuais(~ 2) 120h GAl Uniwnridade Federal Runú do Rio RJ GAl Oprntiws a partir do 3• 2 créditos deJaneíro GAII '""""" 2 créditos Universidade Gama Filho RJ GOl 60h oon(el<ltiv.~) 60h Fll!!dação Univenidade Fedem! do MA GA ,_ 60h ...,._ 16
  • 26. Fundação Univemdade Federal do PI "'""""" - - """Universidade Fcdeml de Goiás 00 "''""""' - -FUlldaç.ão Uaiversi.dade Federul de MS '"'"""" - - """'""""'u~ Estadual da Pamiba PB Fundamentos Básicos e 1- 66h Técnioosda GA Universidade Fedeml da Paraíba PB Metodologia doEnsino da 4 Pmodo 60h 00 GO """'"'" 60h Fundação Univenidade Federal do Mr GO 4a Série 72h MatoGrosso do SUl Universidade de Passo Fundo RS ·-~~-deGA Nh<J7 4""""" ,.,._ ·-1" """" RS ""'""""' - - Moria Uni:versidude Estadnal de PR GA 68h Un.ive:rsidatkEstadualde Londrina PR 00 """"""' !'série 68h GO Feminina f série 68h GO~i:':i 4' série l02h aoFeminina tiva 4' série 102h Univel:sidade Fedewl do Paraná PR -- 60h Quadro I- Cursos de Educação Física e a disciplina de GA Ao observar que entre as 41 escolas consultadas, 35 oferecem a disciplina, sendo que 7 delas ainda oferecem o aprofundamento, poderia concluir que os técnicos de GA que possuem formação superior em Educação Física provavelmente obtiveram alguma forma de infonnação desta modalidade. Quanto ao conteúdo, segundo as ementas que consultei, a maioria das escolas desenvolve os fundamentos básicos da GA, fornecendo subsídios para orientar progrnmas de iniciação à modalidade. Entretanto, neubuma delas tem como objetivo formar técnicos para orientar o alto nivel, mesmo aquelas que oferecem a GA li em caràter de aprofundamento. Assim, posso concluir que não seria na Universidade que o técnico encontraria subsídios para avançar nesta carreira 2- Os Cursos de Graduação e as principais mudanças A preparação profissional é um tema que vem sendo discutido em mnitas àreas e um dos principais responsáveis. ou o principal responsável~ por ela seria o Curso de Graduação. 17
  • 27. No sentido de atender às exigências da sociedade e, conseqüentemente, do mercado de trabalho, as Universidades buscam reestruturar seus curriculos, procurando, assim, suprir as novas demandas da área de atuação do futuro profissional. Atualmente, o Curso de Graduação em Educação Flsica vem recebendo muito destaque em decorrência das inúmeras reformulações, tanto a divisão em Licenciatura e Bacharelado corno as alterações em seu curriculo, sem contar a regulamentação dessa profissão. Entretanto, talvez o maior impacto tenba sido o da criação do Curso de Bacharelado em Educação Física A criação do Bacharelado em Educação Física, segundo SILVA & MACHADO (1997), nasceu da deturpação dos objetivos do Curso de Licenciatura em Educação Física. Na tentativa de abastecer o mercado de trabalho com professores de Educação Física, a maioria dos cursos passou a aumentar os seus currículos com a finalidade de formar profissionais que atuassem em todas as áreas da atividade fisica. No sentido de atender às demandas sociais, os Cursos de Licenciatura não estavam mais voltando seu enfoque para a escola, até então seu principal objetivo, mas para qualquer lugar onde o aluno pudesse encontrar um emprego. Esse fato comprova a preocupação de muitas instituições de nível superior em abastecer o mercado de trabalho, sem se preocupar com o que deveria ser ou não a Licenciatura. Segundo TANI (1992), esta característica eclética na fonnação do professor de Educação Física, "o faz de tudo um pouco", injetou no mercado de trabalho um profissional indefinido e desorientado em relação ao seu campo profissional. Para compreender a origem destas mudanças e as suas principais repercussões~ é necessário retomar certos fatos históricos pelos quais aEducação Física passou. BORGES (1998) traça brevemente a origem dos Cursos Superiores de Educação Física, como descrevo a seguir. Nas duas primeiras décadas do século passado são criadas as primeiras escolas de Educação Física, ainda no meio militar. As primeiras escolas do meio civil (Período do Estado Novo) foram criadas em 1939, sendo a Escola de Educação Física do Estado de São Paulo e a 18
  • 28. Escola Nacional de Educação Física da Universidade do Brasil (RJ). Neste período, a administração das escolas de Educação Física ficava sob a responsabilidade da Divisão de Educação Física (DEF). De acordo com FARIA JUNIOR (1987), este era um fator que distanciava a Educação Física das demais licenciatoras. Nesta época, a Habilitação, segundo BORGES (1998), era definida para os seguintes ruveis: técrucos, especialistas, morutores e professores. Essa diversidade de terminalidades aumentou o distanciamento entre os próprios profissionais da área. Em 1945, houve uma aproximação maior da Educação Física com as outras licenciatoras. Em I%2, dois pareceres são aprovados, um estabelecendo o elenco de matérias pedagógicas e o outro fixando o currículo mínimo dos cursos superiores de Educação Física, que receheu o seguinte comentário de FARIA JUNIOR (1987:23), ... com sete anos de atraso em relação a legislação (Parecer n°. 292/62) e com trinta anos, de fato, em relação as demais licenciaturas, matérias pedagógicas como Didática, Prática de Ensino, Psicologia, etc., foram efetivamente incluídas nos cuniculos de Educação Física, aproximando a formação deste profissional da dos demais ... Entretanto, estes pareceres não se efetivaram na prática. Só depois do Golpe de 1964 é que as Universidades Brasileiras passaram por inómeras modificações. A partir deste periodo, multiplicaram-se o número de escolas de Educação Física nas Universidades Brasileiras. Até esta época. o objetivo das instituições superiores era preparar o professor para o sistema escolar e treinadores e massagistas para o esporte (quando de seu início em 1939). Mas, com as mudanças sociais e o crescimento econômico. as novas opções de carreiras para o professor de Educação Física começaram a surgir e a sociedade passou a necessitar de serviços especializados, não só no campo da Edocação Física como também do Esporte, da Dança e do Lazer. Os currículos dos Cursos de Educação Física permaneceram inalterados por quase duas décadas (1%9-1987), iníciando-se por volta dos anos 80 urna série de discussões, cuja idéia central era a implantação ou não do curso de Bacharelado em Educação Física e, posteriormente, o curso de Bacharelado em Esporte e Lazer (RAMOS, 1995). 19
  • 29. Entre 1980-90, acirraram-se as discussões a respeito da fonnação do profissional em Educação Física. principalmente no que se referia ao curriculo dos cursos, como mostram os dados a seguir. A partir de 1978, iniciam-se vários <Oleontros para a discussão do tema (1978 na Universidade do Estado do Rio de Janeiro; 1979, na Universidade Federal do Rio de Janeiro; 1980, em vários estados brasileiros; 1981 oa Universidade Federal de Santa Catarina e em 1982, em Curitiba) (TOJAL, 1989). Nestes encontros, discutiu-se, entre milltos assuntos. o seguinte: ,. a supervalorização do atleta, que levou a uma tendência na formação técnico-desportiva dos professores de Edocação Física (nas décadas de 60 e 70 o desporto de alto nível caracterizou fortemente os cuniculos de Educação Física); ,. a falta de ênfase no aspecto humanístico, visando a formação com conotação de pedagogo; ,. a possibilidade da formação no Curso de Li<:enciatura em três aspectos distintos; ,. o estabelecimento de uma lioba filosófica do cuniculo, entre outras. A análise de alguns cuniculos de outros países, onde não existe um "cuniculo mínimo", e a elaboração do mesmo, ficando a cargo das necessidades de cada instituição, forsm dados que também contribuíram para os debates a respeito da estruturação dos nossos cuniculos (TOJAL, 1989). De acordo com TOJAL (1989), há pelo menos duas décadas o cuniculo do Curso de Licenciatura em Educação Física deveria ser discutido. As propostas de mudanças vêm de todos aqueles que estão envolvidos com o estudo e a pesquisa nessa área. Entretanto, poderíamos dizer que tais mudaoças ainda estão engatiobando. Ainda em TOJAL (1989), são apmsentados alguns itens das novas propostas curriculares, como: ,. fixação de uma carga horária mínima para a realização do curso; ,. fixação de limite mínimo e máximo para a finalização do curso; .f estabelecimento de matérias que ajudariam :as instituições na elaboração de seus currículos; -" criação de mecanismos de controle "a poste:riori.. na fase de reconhecimento. 20
  • 30. Em 1984, o Conselho Federal de Educação (CEF), por meio da Portaria n'. 10/84, constituiu um Grupo de Trabalho ConsultiVo que, com base nas discussões entre as Escolas de Educação Física, apresentou um anteprojeto de reformulação curricular, que foi apreciado e aprovado pelo CFE, por meio da Resolução n'. 03/8713 . Assim, definia-se um mínimo de conteúdos que formaria licenciados e bacharéis. A partir desta data, O CFEIMEC estabelecia um prazo de três anos (até 1990) para que cada instituição fizesse seus devidos ajustes curriculares para atender ao que fora definido. De acordo com BORGES (1998), essas reformas curriculares não representaram um grande avanço para a área. O que aconteceu foi um inchaço dos curriculos, principalmente nas áreas esportiva e biomédica. Segundo TAFFAREL (1993), o curriculo se tomou compsrtimentalizado e distante da realidade. De acordo com RAMOS (1995), a fragmentação da Licenciatura em Educação Física era emergente. Entretanto, a fragmentação das disciplinas, dos conteúdos e do ser humano deveria ser revista. Isto porque, na sua visão, todos os caminhos agora traçados, seja Licenciatura ou Bacharelado em Educação Física e Bacharelado em Esporte, passam pela interdisciplínaridade e por trajetos em comum. Há de se tomar o cuidado para não radicalizar e desmembrar totalmente um conteúdo do outro. PASSOS (1988) organizou um trabalho em que foram reunidos posicionamentos favoráveis à separação do Curso de Educação Física em Licenciatura e Bacharelado de OLIVEIRA (1988), COSTA (1988), PEl.LEGRlNE (1988) e MOREIRA (1988). OLIVEIRA (1988) defendia a diferenciação entre Educação Física (Bacharelado e Licenciatura) e Esporte (Bacharelado), tendo em vista a ampliação do mercado de trabalho (clinicas, academias de dança e ginástica, clubes, etc.) que antes era atendido apenas pela Licenciatura COSTA (1988) reforça a mesma opinião, afirmando que a restrição à Licenciatura, enquanto formação em Educação Física, limita a atuação do profissional e deixa de atender a 13' A Resolução nQ. 031S7. ~no Pareot:r n°, 215187, do n:l.ator Mmro C. Rodrigues. t.mta do "perfil profissiográfiw" do licencia.do. do bacbal11 e do técnioo dcsportiw. e adota uma proposta de currk:ulo tninimo que busca o perfil profissional; define as áreas de abrangêocia do (.urriculo e a duração l:l'linima do cur:so (quatro anw); e indica. como deve ser a parte de Formaçãc> Geral (.Humanística e Técnica) e a parte de Aprofundamento deConhecimentos Especifioos (BORGES, 1998). 21
  • 31. uma sociedade que vem valorizando cada vez mais a prática da atividade física e esportiva Para PELLEGRJNE (1988), os cursos deveriam contemplar uma formação diferenciada para o especialista (técnico em desporto/bacharel) e para o licenciado em Educação Física porque a atual formação generalista não vem atendendo à necessidade de ambos. Além disso, ressalta que boa parte dos cursos de Educação Física no Brasil estão com estrutura cunicular de 10 ou 20 anos atrás. Da mesma fonna, MOREIRA (1988) mostra-se a favor da difereociação da Edocação Física em Bacharelado, assumindo uma visão generalista, e Licencia~ especializando em educação furmal. Para o autor, a Licenciatura não tinha uma identidade própria, com caràter acrítico, a-histórico e ídeológico, prevalecendo a negação do pensamento criativo. E, em defesa do Bacharelado, MOREIRA (1988:271) traça o seguinte parecer: "...a realidade social brasileira organizou-se muito além da estrutura de uma educação escolar formal Por esse motivo, fica difícil defender um arrso superior na área da educação física, que continue a enfocar apenas uma vertente: licenciatura ..." "...o bacharel talvez seja tão necessário para a educação fisica quanto a sociedade onde ele se situa..." Na visão do autor, a necessidade de wrn profissional com formação qualificada para atender ao mercado de trabalho na àrea não-escolar é mais do que emergente, concordando com uma grande maioria da necessidade de uma formação diferenciada em outros segmentos do movimento humano. TOJAL (1990:160) também parece favoràvel à criação do curso de Bacharelado em Educação Física, uma vez que a formação única, ou seja, a Licenciatura, restringia o mercado de atuação na àrea escolar, afirmando: "...mesmo tendo-se consciência da amplitude do mercado de trabalho existente e da diversidade de opção de atuação para o profissional de Educação Física, observa-se que a formação única, que é oferecida pelos diversos curws no país, através da Licenciatura, tem confinado esse profissional ao mercado garantido por lei junto ao ensino de 1<> e 2" graus e 22
  • 32. algumas incursões na área desportiva acadêmica..." Entretanto, segundo TOJAL (1989), de nada adiantará se tais mudanças ocorrerem apenas nos currículos, sem a diferenciação do conteúdo das disciplinas e da qualificação docente, aspecto este discutido durante as apresentaç(ies das propostas de implantação do currículo para a fonnação do Bacharel em Educação Física OUVEIRA (1988) acredita que a distinção em Licenciatura e Bacharelado contribuirá na legitimação da profissão, como podemos constatar em seu discurse: "... o oferecimento do curso de bacharelado em educação fisica torna·se um instrumento fàcili.tador e possibilitador da regulamentação da profissão, não de professor de educação fisica, mas de profissional de educação fisica, independentemente da preocupação com a necessidade ou não da adequação ou mesmo mudança do nome "educação física"... (198ll:232). O autor, ainda, demonstra a sua preocupação em ver a "não-proteção e/ou indefinição" de qualificação profissional do mercado de trabalho relacionada com a Educação Física na área não-escolar por ela não estar regulamentada e oão possuir entidades sindicais específicas. A questão da regulamentação é um tema que já vem sendo discutido, sendo que duas áreas de concentrações diferentes na própria Educação Física reforçam ainda mais a necessidade de um reconhecimento da profissão perante a lei, a sociedade e o mercado de trabalho. Ainda segundo OUVEIRA (1988), a união da classe por meio de um sindicato e sua conseqüente regulamentação contribuiriam para o reconhecimento do profissional nas duas áreas distintas: aescolar e a não-escolar. No entanto, ele ressalta que: "... não seria simplesmente através de instrwnentos legais que wna classe profissional iria adquirir prestigio e confiança, mas sim em função da significância e da qualidade de sua formação ..." (1988:231). 23
  • 33. TOJAL, 1989; PELLEGRINE, 1988; OLIVEIRA, 1988; BARROS, 1998 vêem o Bacharelado como uma possibilidade de uma melhor atuação do profissional na área não- escolar e uma melhor especificação do seu campo de atuação. A formação específica do profissional na área não-escolar poderia prepará-lo mais adequadamente para assumir este campo de trdbalho, possibilitando-o a desempenhar funções mais específicas neste segmento. "'...o surgimento do Bacharelado c;ontribuiu ainda para valorizar a Licenciatura, pois esta passou a ter uma caracterização própria, podendo assim. assemelhar-se às licenciaturas dos demais cursos, e como contribuição na busca da definição de um objeto de estudo da Educação Física.." (BARROS, 1995:73). A formação generalista na área da Educação Física tem se mostrado ineficiente para atender às demandas do mercado e às expectativas dos futuros profissionais. A difurenciação/especificidade na formação do futuro profissional poderia favorecer significativamente tanto a objetividade da sua formação como o seu campo de atuação. Acredito que tanto a Licenciatura como o Bacharelado não têm a intenção de descartar o papel do "educador". Ao que me parece, após observar os conteúdos que estão sendo propostos, os dois cursos contemplam os aspectos pedagógicos e educacionais. A abertura oferecida ao Bacharelado em Educação Física, pela nova Legislação, trouxe uma possibilidade de preparar o professor de woordo com a realidade do mercado de trabalho. A nova Legislação conferiu autonomia e flexibilidade na elaboração dos currículos, o que pennitiu a cada instituição adequar-se às condi~;ões e necessidades de sua região. RAMOS (1995:15) tambêm aponta aspectos positivos desta nova Resolução do CFE 03187, afirmando que: "... esta nova proposta consagra uma flexibilidade runicular que permite às Instituições de Ensino Superior atenderem aos interesses dos alunos e peculiaridades regionais do mercado de trabalho ..." "... o surgimento de novos modelos de preparação profissional possibilitará -wna preparação 24
  • 34. mais específica, com aprofundamento de conhecimento na área de interesse do aluno e permitindo a necessária competência profissional ...., Em sua dissertação de mestrado, o autor discute a estrutura curricular da Educação Física, da Licenciatura ao Bacharelado. Ele discrimina os aspectos positivos e negativos, favoráveis e desfavoráveis e a viabilidade e inviabilidade de cada um dos cursos. De acordo com RAMOS (1995), seguindo a sugestão do Parecer n°. 215187, as principais Universidades Estaduais Paulistas apresentavam a seguinte estrutura curricular: !JNlCAMP: Lit:enciatura em Educação Fisica Bacharektdo em Educação Física cem Habilitação em: ],)E 11acharelado emEducação Física Bacharelado em Esporn Licenciatura em EducaçãoFísica !JNESP: Licenciatura em Educação Física Recreação eLazer Treinamento em Esportes Bacharelado em Educaçlio Física rom Conce1'llraÇão em: Esportes Atividaik Flsíca Generalizada Pelos três exemplos citados, poderoos perceber que a preocupação pela formação específica do profissional na área do esporte também já vem sendo terna de discussão entre as principais Universidades paulistas. De acordo com o autor. uma vez que muitas instituições de nível superior têm como referência uma destas Universidades citadas~ poderiamos esperar que outras instituições também criassem o Bacharelado ero Educação Física e em Esporte. Entretanto, BARROS (1998) investigou, por meio da análise de 23 currículos, como as 25
  • 35. instituições de Ensino Superior do Estado de São Paulo estão desenvolveodo seus cursos de Graduação em Educação Física após a Resolu(:ão CFE 03/87. E, surpreendentemente, o autor concluiu que estas escolas praticamente nada fizeram pam adequar os cuniculos de seus cursos ao novo referencial proposto pelo pare<:er CFE 215/87 e aos novos perfis do mercado de trabalho. Em conclusão ao seu estudo, BARROS (1998) relatou que a estrutura dos currículos praticamente não sofreu mudanças e que também não houve alteração das disciplinas pedagógicas. Principalmente, no que se refe~re à especificidade da função relacionada ao esporte, não aparece claramente definida, e:<eeto em alguns poucos cuniculos. Não há também discussões quanto às diferenças eotre o professor de ( e 2" graus, preparador físico ou técnico desportivo. Segundo o autor, a Lü:enciatura continua sendo confundida com a preparação profissional pam todas as possibilidades e necessidades do mercado de trabalho. Além da adequação dos currículos pam a preparação profissional ao novo perfil do mercado, o inverso também seria necessário, ou seja, é pre:ciso organizar um currículo que também possa atender os principais perfis profissionais. Seguudo a investigação realizada po1r BARROS (1998), mais de 100 cursos de Graduação no Brasil estão operando com diferentes currículos, embora tenham a mesma proposta (licenciatura e/ou bacharelado). Talvez esta multiplicidade de currículos pam o mesmo curso esteja ocorrendo em função da abertura cunicular oferecida pelo parecer CFE 215/87. Caso esses currículos fossem diferendados. no sentido de atender às necessidades especificas da instituição, região ou dos discentes, não haveria o que questionar. Quando fez sua pesquisa BARROS (1'998) já destacava um consenso geral entre as escolas de que os currículos não atendiam mais às expectativas dos profissionais e às possibilidades do mercado de trabalho. Ele viu que, até 1987, todos os Cursos de Graduação em Educação Física vestiam uma camisa de fOrça imposta pelo CFE, que restringia as suas possibilidades ao oferecimento do Curso de Líc:enciatura e, complementarmente~ o de Técnico Esportivo, havendo a necessidade de uma defíoição. Historicamente, as Universidades mantinham, até então, uma estrutura curricular 26
  • 36. inflexivel, com pouca abertura para que cada uma pudesse melhor se ajustar à sua realidade. Confinnando tal característica de nossas Universidades, MOCKER (1993) revela que a dinâmica curricular das Universidades Brasileiras traz um "ranço" da ditadura militar, uma rigidez no sistema de créditos, na divisão dos departamentos e semestres que consagrou a total desmobilização discente e docente. TAFFAREL (1992) também critica a forma autoritária da reformulação dos currículos na Educação Física, vendo-a mais propriamente como uma fragmentação do processo de formação profissional em dois segmentos: Bacharelado e Licenciatura, não caracterizando reahnente uma reformulação. Assim, também encontramos em PASSOS (1988) argumentações contrárias à divisão da Educação Física em Licenciatura e Bacharelado, como as de FARIA JUNIOR (1987, 1992), BETTI (1992) e TAFFAREL (1993). FARIA JUNIOR (1987:28) crítica a formação cada vez mais especializada e fragmentada da Educação Física, afirmando: ... afot1118Ção geral aparece revalorizada na sociedade contemporânea, apresentando-se mais importante do que a formação puramente técnica, profissionalizante. A fOrmação geral proporciona wna visão muito mais ampla e flexível do que a oferecida pelo saber técnico no sentido profissional. Ela é o ponto de encontro, a intersecção entre vários subsistemas da sociedade ... --· a distinção entre formação geral e formação especial (habilitado, bacharel, etc.) não se justifica, pois se trata de formar o educador: o geral e o específico são partes integrantes e indissociáveis da formação pedagógica ... FARlA JUNIOR (1992) vê muitas contradições na formação do professor de Educação Física, discutindo o corpo único de conhecimentos que procura atender à Licenciatura e ao Bacharelado, e questiona o significado do Bacharelado em Educação Física e o Magistério, como profissões, e a hierarquia no quadro de profissões. FARIA JÚNIOR (1987, 1992) ainda crítica o Bacharelado defendendo a existência do licenciado generalista, afirmando que a própria terminologia de bacharel em Educação Física não se enquadraria a um profissional que iria exercer o "magistério em clubes, academías e 27
  • 37. outros". O autor afirma que são nessas áreas que mais se necessitam de educadores. Ele ainda argumenta o fàto de wn mesmo corpo de conhecimentos proporcionar a base para as duas profissões indistintamente. Aqui, o antor se refere aos atuais cursos de Bacharelado em Educação Física, nos quais o profissional estaria atendendo a wn amplo mercado de trabalho, relacionando desde a atividade fisica até o esporte. De acordo com BETTI (1992), deve-se tomar o cuidado para não se estigmatizar o bacharel de especialista e o licenciado de generalista. O autor sugere que a diferenciação dos dois estaria nas experiências de ensino...aprendizagem proporcionadas pelo currículo, sendo que haveria um conjunto de disciplinas em comum que seria o elo de união entre as duas formações. Mas, ressalta que esta abordagem só seria possível dentro de uma perspectiva interdisciplinar e transdisciplinar, o que demonstra sua opinião contrária à uma total separação entre Licenciatura e Bacharelado. Vejo como uma grande vantagem haver "'momentos em comum" nos dois curriculos porque, desta fonna~ tomaria mais fácil a swt operacionalização. principalmente no que se refere à atuação do corpo docente, instalações e materiais didáticos. Mas, ressalto que isto deveria ocorrer se os conteúdos abordados fossem realmente de importância e interesse comum para os futuros profissionais. Caso contrário, não estaria muito distante do antigo curso de Licenciatura. COSTA (1988:218) também partilha da mesma opinião dizendo que: "". há que existir diferença qualitativa entre bacharelado e licenciatura, mas ambos devem articular-se entre si, sem se tomarem apêndices um do outro ..."" "... o bacharelado integrar-se ao curso de graduação em Educação Física como reflexão e aprendizagem de como fazer ciências (motricidade humana, biológica, psicológica e social), resgatando a totalidade da fonnaçãQ profissional ..." Aqui. há uma preocupação não somente com a diferenciação dos cursos, mas principalmente com a sua qualidade, o que se apresenta muito claro na opinião do autor. De acordo com TAFFAREL (1992), os cursos parecem estabelecer um vinculo 28
  • 38. produção-bacharelado e aplicação de conhecimento-licenciatura, dividindo os profissionais em dois pólos: «os que pensam" e "os que fazem". Concluindo estas discussões, SILVA & MACHADO (1997:893) afirmam que, "... a liberdade oferecida às instituições em optarem entre Licenciatura e/ou Bacharelado não promoverá uma real transformação da Educação Física brasileira, se os professores e os alunos se omitirem. não se aproveitando desse momento para tat O que eles percebem é que a maioria dos alunos das escolas de Educação Física, ou são incapazes de perceber a existência de problemas na sua formação, ou apesar de os perceberem nada fàzem para modificâ~los, não agindo portanto de forma práxica ..." Apesar da abertura de possibilidades para formações difereociadas, as pessoas que fazem parte deste processo (docentes, discentes) parecem não estar aproveitando este momento para adequar seus cursos e proverem formações diferenciadas para atuações distintas. Isto pode representar uma 11 Ieação pacifica" por não saber "como agir11 • Finalizando o seu depoimeoto, SILVA & MACHADO (1997) afirmam, mais uma vez, que a fragmentação dos cursos de Edueação Flsica em Liceociatura e Bacharelado é a melhor solução para que se formem profissionais compromissados com as suas respectivas áreas de atuação. Mas tais mudaoças eram emergentes em função de uma solicitação de "multi-ação" dos licenciados. Ou seja, como a única opção era a Licenciatura em Educação Física, este profissional também atuava no esporte competitivo, por exemplo. Se já não havia muita credibilidade na atuação deste profissional na área não-escolar, na área esportiva, então, parecia ínimaginável. Entretanto. é o que acontecia e ainda vem acontecendo. Por fim, a influência de origem alemã, via escola de Colônia e, mais tarde, a influência americaoa, por intermédio de profissionais da USP, resultou na prevalência da idéia de formação diferenciada, em bacharéis e licenciados,. o que culminou com a Resolução no. 03/87, na Gestão do Conselho Federal de Educação (BORGES, 1998). Após esta "grande reformulação" do Curso de Educação Física, os curriculos não 29
  • 39. pararam mais de receber alterações, inclusões e exclusões, certamente recheados de críticas e poucas sugestões das próprias Universidades. Como outro momento importante ref<.-ente às mudanças curriculares, posso citar o Parecer 776/97, cujas criticas formuladas po1r KUNZ et al. (1998) demonstram sua pouca aceitação devido à sua caracteristica muito rigida. Estes autores criticam os atuais curriculos14 em alguns aspectos: .F estas mudanças apresentam uma carga horália de disciplinas obrigatórias excessiva; .F o tempo para a realização e conclusão do curso é muito longo; ../ os currículos não consideram a dinâmica do mercado de trabalho, mais competitivo e mutável, entre outros. A idéia de centralizar as propostas e as reformas curriculares não é aceita por muitos autores. Estes argumentam que o currículo faz parte de um todo, de wn contexto, e é impossível isolá-lo dos individuas envolvidos. Creio que as discussões e mudanças cwriculares, tanto da Licenciatura como do Bacharelado, não se esgotam por aqui Penso que esta situação é interessante e necessária para o próprio avanço da àrea, O que não poderia se perder de vista é o papel que o profissional desempenhará na sociedade em que ele está inserido, bem como da qualidade de seus semços. 3 - Comissão de Especialistas de Ensino em Educação Física (COESP-EF) Recentemente, em 1999, a COESP-EF {1999), a Comissão de Especialistas de Ensino em Educação Física, lançou uma "Proposta de Diretrizes Curriculares para o Curso de Graduação em Educação Física. Esta proposta surgiu em consideração às críticas e sugestões manifestadas pelos representantes de Institui<;ões de Ensino Superior (IES) em Educação Física (Parecer n°. 776/97). 'i>areoorn". 776f97:L 30
  • 40. Em resposta às criticas, os Conselheiros tomaram algumas decisões como assegurar liberdade das IES em estabelecer a carga horária para a conclusão dos cursos e especificidade das unidades de estudo, incentivar a formação geral e abertura para diferentes tipos de aprofundamento em um mesmo curso, estimular e aproveitar, como créditos acadêmicos, práticas de estudos independentes e encorajar o reconhecimento de conhecimentos, habilidades e competências adquiridas fora do ambiente escolar, inclusive as experiências profissionaisjulgadas relevantes para a área de formação. Com base nessas criticas, os Conselheiros da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CESICNE) decidiram que as novas diretrizes curriculares deveriam observar os seguintes princípios15 : .F assegurar liberdade às instituições na composição da carga horária para conclusão dos cursos e na especialização das unidades de estudo; .F incentivar uma sólida formação geral e pemtitir tipos diferenciados de aprofundamento em um mesmo curso; .F evitar a fixação de conteúdos específicos com cargas horárias pré-detertuínadas; .F evitar o prolongamento desnecessário para a conclusão do curso; ./' estimular e aproveitar, como créditos acadêmicos, práticas de estudos independentes. entre outros. Assim, esta relativa nautonomia" na estrutura dos currículos poderia facilitar o ajuste e a adequação de cada um deles às necessidades de sua instituição, seus alunos e sua região. De acordo com este documento, o profissional receberia o titulo de Graduado em Educação Física e teria a possibilidade de aprofundamento. O curriculo, como um todo, visaria um profissional que fosse capaz de intervir no contexto específico e histórico-cultural com base em conhecimentos técnico~ científicos e culturais. Esses conhecimentos seriam obtidos por meio de ensino, pesquisa e extensão. Este profissional seria preparado para organizar, planejar, adntinistrar, avaliar e atuar em todo o âmbito da cultura do movimento. Os curriculos teriam duas partes: (I) Conhecimento identificador da área (formação bàsica e 1 ~ Lançado no Edital nc. 4197 no Diini.o Oficialda União (12.12.97 -seção 3 - p.261720), logo após a publicaçã9 do pan:cer n~. 776197_ 31
  • 41. fmmação específica) e (2) conhecimento identificador do tipo de aprofundamento. A critica recaia sobre a excessiva 1igidez dos currículos dos cursos superiores formulados na vigência da legislação revogada pela Lei n'. 9394, de dezembro de 1996. A rigidez deste currlculo estava presente no excesso de disciplinas obrigatórias, tempo demasiadamente longo para conclusão do curso, não se levando em consideração a dinâmica do mercado de trabalho e o processo de formação continnada. O objetivo desta nova proposta é corrigir e aprimorar a Resolução no. 03/87. Entretaoto, o fato de oferecer tamanha liberdade na definição do tempo para conclusão nos levaria a pensar que algnmas institnições se utilizariam desta abertura para dirninnir seus custos. Outro aspecto, seria a necessidade de se criar ou ampliar os Cursos para atender a Comunidede, que são poucos, principalmente nas lnstitnições privadas. No que se refere aos ítens ~·estimular e aproveitar como créditos acadêmicos as práticas de estudos independentes" e "reconhecimento de conhecimentos, habilidades e competências adquiridas fora do ambiente escolar", é importante que sejam bem definidas as carateristicas, os critérios de avaliação e avaliadores do reconhecimento desses estudos, conhecimentos, babilidedes e competências. Aqui, vemos claramente uma abertura para que cada IES da área de Educação Física adapte seu currlculo de modo a capacitar o futllto profissional em diversas áreas de atuação e características regionais. o que poderia ser considerado como um avanço da área A nova proposta permite um regresso daqueles que já obtiveram a Graduação, mas buscam conhecimento em outras linhas de aprofundamento. Enquanto atualização e re- colocação do profissional no mercado de trabalho, essa proposta seria extremamente positiva. Apenas com a ressalva de que também seria importante estabelecer critérios para a aceitação desses profissionais como, por exemplo, a característica do Curso em que estes se graduaram. Embom a área de Educação Física esteja passando por uma série de reformulações, sem definições concretas de sua estrutura curricular e o papel de cada profissional que se forma, é curioso observar como vem crescendo o número de escolas de Educação Física no Brasil. BARROS (1998) relatou que, no início dos anos 70, havia 10 escolas de Educação 32
  • 42. Física e ao final desse perindo, já eram 90 escolas. Hoje, ele calcula que sejam aproximadamente 11O escolas, sendo sua maior concentração na região sudeste. Surpreendentemente, dados mais recentes revelam a existência de 220 escolas no Brasil, das quais aproximadamente 113 estão instaladas no estado de São Paulo (CASTELLANI, 2001). BARROS (1998) apenas lamenta que, infelizmente, não se pnde perceber a qualidade e adequação das propostas curriculares crescerem na mesma velocidade, bem como do número de professores preparados para o magistério superior. Em outra publicação, BARROS (2000) diz que a regulamentação deverá estimular o desenvolvimento profissional e a melboria do padrão de qualidade de seus serviços para que a sociedade seja atendida condignamente. Ainda seria prematuro discutir esta última questão, uma vez que a regulamentação da Educação Física ocorreu há pouco tempo e não há dados reais que relacionem este acontecimento com a melboria da qualidade dos serviços prestados pelos profissionais desta área. A COESP-EF está discutindo uma nova Proposta de Diretrizes Curriculares para os Cursos de Educação Física que deverá ser laoçada em agosto deste ano. 4- A Formação na área do Esporte Podemos observar que a mudança da Licenciatura para o Bacharelado em Educação Física trouxe questionamentos quanto à sua necessidade e adequação à área e à sociedade. Uma outra "divisão" da Educação Física, o Bacharelado em Esporte, levantou outras questões e incertezas que podemos constatar a seguir. A criação do Bacharelado em Esporte, proposta defendida por OLIVEIRA (1988), visava ampliar o mercado de trabalho que, segundo o autor. não poderia mais ser atendido pelo profissioual de Educação Física. BARROS (1996) também defende a necessidade dos profissionais que prestam 33
  • 43. serviços no campo da Educação Física e do Esporte definirem um espaço próprio para serem melhor identificados e garantirem sua credibilidade na sociedade. Mas ele discute e afirma que existe uma problemática na orgrurização profissional em nossa área. Acrescenta, ainda, que hoje existem muitas oportunidades de trabalho na área, resultante da abertura do espectro de atuação da Educação Física para além das escolas, expandindo-se nos aspectos do movimento, exercícios fisicos, esportes e suas inter·relações. Assim, diversos serviços exigidos pela sociedade evoluíram de tal forma que requerem uma preparação especializada e de longa duração, até que o indivíduo possa prestá-los satisfatoriamente. Essa preparação específica seria normalmente obtida num Curso de Graduação que, para BARROS (1996), tem como um de seus principais objetivos preparar profissionais para o mercado de trabalho. Em se tratando do curso de Bacharelado em Esporte, podemos perceber que, em razão da sua recente criação (1992), este ainda carece de uma estrutura curricular que atenda realmente às expectativas dos alunos e à demanda social. Desde a sua implantação em algumas escolas de Educação Fisica (USP, UNICAMP, UNESP e UEL), o seu principai objetivo tem sido o de suprir o mercado do Esporte e áreas afins com profissionais qualificados para atenderem às demandas da sociedade. Muitos estudiosos vêem o Esporte como uma área promissora (TUBINO, 1994) e que, num futuro próximo, tenderá a crescer em demanda por serviços e, conseqüentemente, buscando profissionais cada vez mais qualificados para atender este mercado de trabalho. Apesar da prevísão de uma demanda maior, ainda não houve muita mobilização, principalmente das instituições privadas, em I>COmpanhar esta tendência, o que poderia causar certa swpresa. Isto pode ser confirmado ao analisar a f.~strutura curricular destes cursos, muitos ainda atrelados ao modelo antigo da USP do Curso de Licenciatura em Educação Física Teríamos, então, algumas poucas alternativas, como Cursos de Graduação, para aqueles que pretendessem exercer essa profissão como os Cursos de Bacharelado em Esporte oferecido pela USP em São Paulo, Treimnne1oto Esportivo pela UNICAMP em Campinas e Concentração em Esportes pela UNESP de Rio Claro, Cursos de Educação Continuada da 34
  • 44. Universidade do Esporte e, mais recentemente, o Curso de Ciências do Esporte pela UEL de Londrina No caso do Curso de Bacharelado em Esporte da USP, a estrutma curricular apresenta-se da seguinte forma: .. ~ ~ ~· ~ ~ ]li ~ Quadro IT - Estrutura Curricular do Curso de Bacharelado em Esporte da EEFEUSP (1999} 35
  • 45. Este Curso da EEFEUSP tem como proposta capacitar os futuros profissionais a atuarem na área esportiva como administração, técnica, marketing, jornalismo, preparação fisica, gerenciamento, entre outros. Para q;oem deseja um aprofundamento em alguma modalidade esportiva, existe a opção do Treinamento. Uma investigação empírica, feita entre os alunos que se matricularam na disciplina de Treinamento em GA da EEFEUSP, revelou que muitos mantêm a expectativa de se tornar um técnico de alto nivel e esperam que esta discipl!ina forneça os subsídios necessários para isso. A experiência como docente da disc:iplina de Treinamento em GA, desde 1996, permitiu levantar algumas questões e reflexi>es, tanto de caráter pessoal como de caráter coletivo, a respeito deste Curso, que são: J por ser pioneiro nesse tipo de curso, ainda há uma carência de docentes preparados satisfatoriamente para miuistrar algumas das disciplinas específicas à àrea do esporte; o que existe atualmente é uma adaptação dos docentes de àreas afins para as disciplinas do curso; J a existência da dúvida em se abordar ou não os aspectos pedagógicos das modalidades esportivas, com a argumentação de que caberia ao curso aberdar as questões técnicas e táticas das modalidades; mas a minha experiência pessoal me mostrou que muitos alunos não têm experiência e/ou conhecimento satisfatório para avançar nos aspectos específicos da modalidade; J a disciplina de Treinamento em nma modalidade esportiva, de caràter optativo, parece não oferecer os subsídios necessários para uma a1uação como técnico de alto níveUcompetitivo. Então, como este aspecto poderia ser contemplado nos Cursos?; J a opção de modalidades esportivas oferecida no curso ainda é pequena. Por exemplo, ainda não oferecemos para a Ginástica Rítmica, o Tênis, o Futebol de Salão, entre outras modalidades que também têm destaque internacional; J não há uma integração direta, por meio de encontros ou intercâmbios, dos futuros profissionais do esporte com o mercado de trabalho; " a existência de uma "disputa11 pelo espaço de trabalho entre o Bacharel em Educação Fisica e em Esporte, uma vez que até a criação desu' segundo, era o graduado em Educação Física 36
  • 46. que prestava serviços na área do Esporte; nem mesmo o mercado de trabalho sabe como enqnadrar este novo profissional porque, além dos licenciados em Educação Física, ainda existia a admíssão de ex-atletas para exercerem o papel de técnicos; J os alunos. ao ingressarem na EEFEUSP, parecem não sabem diferenciar os objetivos e as possibilidades de atuação do Bacharel em Educação Física e do Bacharel em Esporte, o que tem causado muito desconforto para os futuros profissionais. Com o intuito de formar um profissional específico para atender ao mercado da área do Esporte, outras Universidades também criaram seus Cursos diferenciados do Bacharelado em Educação Física, como mostro a seguir. O estudo e a disseminação do conhecimento observado nas últimas décadas sobre o "fenômeno esporte" associado ao grande interesse da sociedade moderna pela sua prática, levou o Centro de Educação Física e Desportes da Universidade Estadwl de Londrina a optar pela criação de um novo curso na área: o Bacharelado em Ciência do Esporte, criado pela resolnção CEPE e CA 01/98 (UEL, 1999). O curso da UEL surge com a intenção de oferecer aos futuros profissionais urna sólida formação universitária voltada à orientação e ao acompanhamento de programas de exercícios fisicos direcionados à promoção da saúde e à pràtica de esportes (comunítàrio, formação de atletas e alto rendimento), na tentativa de atender à diversidade do mercado de trabalho na área da Educação Física Segondo informações obtidas pelo site da UEL e do material fornecido pela própria Universidade, a preparação do Bacharel em Ciência do Esporte é voltada ao planejamento, à execução. ao acompanhamento e à avaliação de exercícios físicos e da prática esportiva para urna clientela formada por jovens, adultos e idosos em Clubes, Associações, Academias, Condomínios, Colônia de Férias, Atividades em Hotéis, Atividades em Empresas, Escolas Particulares, Empregos Públicos em órgãos Municipais, Centros de Reabilitação e Condicionamento Físico. O Bacharel em Ciência do Esporte deverá atuar de forma plena na área esportiva como 37
  • 47. técnico, preparador fisico e dirigente esportivo. É ele, também, que estará habilitado a atuar nas academias e centros de condicionamento fisíco, supervisionando o desenvolvimento de programas de exercícios fisicos voltados à promoção da saúde. Outra opção de trabalho para este profissional é atuar na reabilitação de deficiências fisicas mediante a orientação de prática esportiva. Com a duração minima de 4 anos, em periodo integral, as disciplinas que comporão a estrutura cnrricnlar deste curso está apresentada no Quadro ll!. Tél;cicas de A DISCIIPLINAS Fisiol Pslool · Filcooiia Soei<> Antropologia Comuni eMarketing Administta e Legislação Esportiva Ética e Conduta Profissional o e Treinamento em Modalidades E N o Atividades ti.cas P Es Na o Bebês Naw :ra Gestanres Na 11. a 3•Idade Na io Portadores de Necessidades Esp;.ciais E Futsal Judô """"""'Tênis Voleibol Fmebcl Ginástica Olím ica Masculina Ginástica Ollin ·ca Feminina GinásticaR.itmica Portadores de Necessidades Quadro m -Estrutura Curricular do Curso de Ciências do Esporte da UEL (1999). Estão incluídos no curso 68 horas de estágio, sob a supervisão de professores. em clubes e instituições relacionadas ao esporte que estejam de acordo com os seus interesses. Para a conclusão do curso, os alunos deverão desenvolver um trabalho científico 38
  • 48. (monografia). Além do corpo docente, deverá haver a participação dos treinadores de equipes com representatividade estadual, nacional e internacional para o desenvolvimento das disciplinas do Curso. A idéia de UEL de unir o Curso ao mercado de trabalho, trazendo técnicos e atletas de destaque, é interessaote. Penso que os técnicos poderiam atuar nas disciplinas desde que tivessem qualificação para isso e que seus nomes não fossem utilizados como chamariz. A FEF-UNICAMP proporcwna o título de Bacharel em Educação Física, na modalidade Treinamento em Esporte, cujo profissional poderá atuar como Técnico em Esportes de modalidades cursadas ou como Administrador Esportivo ou, ainda, em Assessoria Técnica Esportiva Este curso é composto de 200 créditos, equivalentes a 3.000 horas. Além do Nécleo comum, o aluno deve cumprir as seguintes determinações: 39
  • 49. CUMPRIRAS DISCIPLINAS OBRIGATÓRIAS: T:reínamento em Biolnecânica do Movimento em Esporte! Estudos Psiool · ·oos do Sallde Coletiva e PerfunnanceHUillllll8 I TreinamentoemE de TreinaJZllmto em Es DISCIPIJNAS ELETIVAS- ,. :ZO cridff4ts -~ Artes Marciais Alktimw """""""""Gínâstiea Ritmiea Futebol de C N• o VoJ.cibol OS eridiÚI3 denne: · 'onado:s em Treinamentoe Jrtl! I em: "Artes Marciais -Atletismo - )3as( ebol__, - Ginástica Rltmíca .Vll -Futebol de Cam -Natação - V(lleibol 'os S 'sionados em Treinamento II em: " Artes Marciais -Atletism(l """"''-Handebol - Ginástica Ritt:nica -a -""""'"' de -N• -Voleibol Quadro IV- Estrutura curricular do Treinamento em Modalidade GA (UNICAMP, 2001). Da mesma forma, a UNESP de Rio Claro oferece o Bacharelado em Educação Física com opção por Área de Esportes. O curso é composto de 194 créditos, o equivalente a 2.910 horas. Para quem opta por esta área, além de cumprir os créditos do Bacharelado em Educação Física,. também terá de cursar as seguintes disciplinas: 40
  • 50. Es1udos. Avançados emHandebol, A11etismo. Basquerebol, Capoeil.'a, FuteOOl eFutebol de Salão, GinãsticaArtistica GRD,Judõ,N~. Vole!OOI (escolha duas .f..~) Trabalho de Formatura Quadro V ~ Disciplinas optativas para Concentração em Esportes do Curso de Bacharelado em Educação Física (UNESP, 2000; BARROS, 1995). Em Curitiba, foi criada a "Universidade Livre do Esporte oo Poraná'', declarada de utilidade pública pela Lei Estadual n & ordm; 12099, em 23 de março de 1998. Foi constituída sob a forma de sociedade civil, sem fins lucrativos, com autonomia juridica, administrativa e f:manceira e com plena gestão de seus bens e recursos, de interesse coletivo e de caráter educacional, desportivo e social. Ela está voltada para a formação, aperfeiçoamento e desenvolvimento de estudantes, atletas, professores, técnicos e público em geral, oferecendo cursos de educação continuada para aqueles envolvidos com o desporto em todas as suas fonnas de manifestação (UNNERSIDADE DO ESPORTE, 1998). Seus 12 sócios fundadores participam da sua manutenção. São eles: (1) Instituto de Desenvolvimento Educacional do Paraná- FUNDEPAR (2) Banco Real (3) Petrobrás (4) Universidade Tuiuti do Paraná (5) Pontificia Universidade Católica do Paraná- PUC- PR (6) Universidade do Norte do Paraná- UNOPAR (7) Companbia de Desenvolvimento de Curitiba - CIC (8) Companbia Paranaense de Energia Elétrica- COPEL (9) Secretaria de Estado da Educação - SEED (1O) Secretaria de Esporte e Turismo - PARANÁ ESPORTE (li) Associação Paranaense das Instimições de Ensino Superior Público - APIESP (12) Sistema FIEP/SESI/SENAI A ~~universidade do Esporte" tem como principais objetivos: ~ promover a busca de novos talentos em todas as manifestações do esporte, estimulando a participação ativa de atletas expoentes da commtidade; 41
  • 51. ./ valorizar os esportes olímpicos e incentivar a criatividade e sistematização científica, tanto no plano individual como coletivo; J possibilitar que a iniciativa privada participe do desenvolvimento sncial da comnnidade por meio de parcerias com o setor público; J incrementar e desenvolver novas tecnologias que possibilitem a qualificação dos interessados, quer seja mediante a exigência presencial quer seja à distância; J propor a realização de estudos e pesquosas em àreas que subsidiem a temàtica de aperfeiçoamento e desenvolvimento do esport<o e do lazer; J avaliar os resultados de qualificação e os impactos de melhoria do ensino e da pràtica desportiva; ./ promover encontros ou seminários a partir da identificação de necessidades; J executar cursos profissionalizantes, de ext<:nsão e especialização na àrea de esportes, em parceria com instituições de ensino e empresas privadas. A Universidade do Esporte, entendendo o Esporte como um direito de todos, procura atuar em três manifestações: (a) o Esporte Educação; (b) o Esporte Participativo voltado à Populaçii<> em geral; (c) <> Esporte Performance voltado ao Desportista. Atualmente, está em andamento o Curso "Técnico em Administração para o Esporte", com habilitação específica em Administração Esportiva, Marketing no Esporte e Recreação e Lazer. O curso está estruturado da seguinte fonna: L Núcleo bàsico para as três habilitações, com duração de 300 horas, distribuído em cinco módulos: (a) Introdução ao Esporte; (b) Gestão Administrativa; (c) Gestão Organizacional; 42
  • 52. (d) Empreendedorismo; (e) Infonnática Instrumental. 2. Habilitações Especificas (citadas anteriormente) com duração de 300 horas cada uma. 3. Estágio Supervisionado com duração de 200 horas. Embora a iniciativa desta instituição tenha méritos, é importante observar que a formação especifica na área do Esporte ainda não inclui a de técnicos de modalidades, o que acredito que ocorrerá em um futuro breve. Com as mudanças curriculares, acreditei que mais escolas de Educação Física criariam os Cursos na área esportiva. Pelo que pude constatar, poucas seguiram este caminho. A necessidade de transfonnação, não só dos Cursos de Educação Física, de suas disciplinas e carga horária, mas de tudo um grupo que faz parte dele, ou seja, do corpo doceote, do corpo oniversitário (reitores, diretores, coordenadores, eotre outros) e o seu conceito dentro da sociedade era emergente. Entretanto, lançar um "curso novo" com a intenção de arrebanhar um maior número de pessoas, como muitas instituições particulares têm feito, leva à formação de "novos profissionais'', mas sem qualidade. Isso causaria apenas novas dicotomias para a mesma formação, o que puderia vir a detorpar ainda mais esta profissão. Sabemos que a sociedade não diferencia o técnico de futebol~ que obteve a sua formação com base única e exclusíva na experiência como jogador, daquele técnico que dedicou anos de estudo para a sua formação, muitas vezes atribuindo maior valor ao primeiro. Com isso. não quero defender uma ou outra formação, ou dizer que uma seja mais adequada que a outra, ou ainda que exista um currículo ideal para cada curso, seja ele Licenciatura ou Bacharelado em Edncação Física, Bacharelado em Esporte ou similar. O que defendo neste estudo é uma fonnação que se aproxime mais da realidade a ser enfrentada pelos futuros profissionais, uma vez que uma única estrutura curricular não atende~ e nem 43