1) O documento analisa o peso do fator ambiental na decisão de compra de motociclos de 125cc, especificamente a influência da redução de emissões de CO2 na disposição de pagar pelas características do veículo.
2) A pesquisa mostra que a característica mais valorizada pelos compradores é a poupança de combustível, seguida por fiabilidade e segurança. Contudo, a análise estatística revela que a estética e redução de CO2 têm maior influência no preço final.
3) O
1. Avaliação do factor ambiental na compra de motociclos 125 c.c.
Por António Fernandes, Marc Barros, João Rodrigues, Gonçalo Lopes1
A componente ambiental associada aos motociclos de cilindrada 125 c.c.,
relacionada com a redução de consumo de combustível e consequente quebra de
emissões de gases com efeito de estufa, é ainda menosprezada. Este aspecto
poderia ser mais valorizado, desde logo na formulação de políticas e incentivos
conducentes ao aumento das vendas destas motos, contribuindo ainda para a
melhoria da mobilidade urbana.
O estudo visou determinar quais as variáveis que mais peso têm na
formação do preço final das motos 125 c.c., recorrendo a um método de avaliação
designado método dos preços hedónicos. Este visa tratar o valor de um
determinado bem como sendo derivado de um conjunto de características que
afectam a utilidade do mesmo bem e, consequentemente, o seu preço (Pearce,
1990, citado por Brandli, Pandolfo, Becker, Kurek e Brandli, 2006).
A necessidade de atribuir um valor monetário aos bens ambientais surge
sobretudo a partir do momento em que as sociedades tomam consciência dos
danos causados pelas actividades económicas e sociais, as quais geram
externalidades negativas de forte impacto ambiental.
Assim, no sentido de corrigir, evitar ou prevenir a ocorrência destas
externalidades, a avaliação ou valoração ambiental visa fornecer uma consistência
de base económica à formulação de políticas de cariz ambiental. Ou seja,
determinar o valor económico de um recurso ambiental é estimar o valor
monetário deste em relação aos outros bens e serviços disponíveis na economia
(Motta, 1998, citado por Brandli, Pandolfo, Becker, Kurek e Brandli, 2006).
Acresce que a entrada em vigor da Lei nº 78/2009, vulgarmente designada
por “Lei das 125”, teve na sua génese a intenção de melhoria da qualidade do
ambiente urbano. Um estudo do Instituto Superior Técnico de 2005 revelava que,
caso 10% dos automobilistas da Área Metropolitana de Lisboa (AML) trocasse
automóvel por motociclos, a redução das emissões de CO2 seria superior a 54 mil
toneladas anuais. Segundo o Censos 2001, a AML possui a maior taxa de
motorização do país, com 309 veículos para cada mil habitantes. Estima-se que
diariamente entrem e saiam da cidade cerca de 500 mil automóveis.
Ao mesmo tempo, reduzir-se-ia o consumo de 17 mil toneladas de
combustível, com a consequente poupança na importação de produtos petrolíferos
na ordem dos seis milhões de euros (a preços de 2005). Finalmente, seria libertada
uma área de 96 hectares (equivalente a 96 campos de futebol) no tecido urbano,
hoje impermeabilizada e ocupada com zonas de parqueamento, a qual poderia ser
convertida em espaços verdes e jardins.
Enquadramento e dados
O propósito deste estudo é analisar qual o peso do factor ambiental na
decisão de compra de motociclos 125 c.c.. Mais concretamente, pretende-se
averiguar que influência tem a redução de emissões de CO2 na disposição a pagar
1
Estudo realizado no âmbito do Mestrado em Economia e Gestão do Ambiente da Faculdade de
Economia da Universidade do Porto. Um agradecimento especial ao nosso colega Ângelo
Barroso, cuja colaboração foi inestimável.
1
2. (DAP) das diversas variáveis propostas aos compradores. Para tanto, foi elaborado
e colocado um questionário junto de várias comunidades internautas, as quais
despontaram como importantes centros de partilha de experiências, opiniões,
organização de passeios, entre outros, no seio do “fenómeno das 125c.c.”. O
inquérito foi colocado nas comunidades Clube PCX Portugal
(http://pcxportugal.livre-forum.com), Clube das Maxiscooters do Norte
(http://www.clubemaxiscootersdonorte.com) e Fórum 125
(http://www.f125cc.com).
As questões colocadas visaram especificar determinados componentes que
conferem utilidade ao bem, sendo solicitado que fosse atribuído um valor que
cada inquirido estaria disposto a pagar para usufruir dessa utilidade. Foi ainda
requerido que cada inquirido atribuísse um valor total ao motociclo, não sendo
pedido que este fosse obrigatoriamente coincidente com a soma das diferentes
parcelas. As questões colocadas foram as seguintes:
1 - No valor total da moto, que elemento mais pesou na decisão de compra?
Os elementos optativos (variáveis) eram: poupança de combustível; mobilidade;
estética; redução de emissões de CO2; fiabilidade e segurança. Destes, os
inquiridos podiam seleccionar apenas um.
2 - Atribua um preço final à mota que comprou/deseja comprar?
3- Quanto estaria disposto a pagar por cada um destes atributos, em euros?
3.1. - Poupança de combustível
3.2. - Mobilidade
3.3. - Estética
3.4. - Redução de emissões de CO2
3.5. - Fiabilidade e segurança
Análise e conclusão
Foram obtidas 40 respostas. Destas, foram excluídas nove,
correspondentes a respostas cuja soma total das variáveis excedia em 50% (em
valor absoluto) o valor total atribuído à moto; porque foi considerado que tais
respostas correspondiam a opiniões que não seriam fiáveis. Os resultados obtidos
foram os seguintes (amostra final de 31 respostas):
2
3. Pre ço C ombustíve l Mobilidade Esté tica Re d. C O 2 Fiabilidade
1800 500 400 200 200 500
2000 750 150 300 50 750
2000 200 300 500 0 100
2400 1000 700 200 100 800
2450 700 450 350 250 700
2500 500 500 500 100 900
2500 600 500 250 150 1000
2500 500 500 250 250 1000
2500 600 600 200 100 1000
2500 1000 0 500 0 750
2580 200 1000 200 180 1000
2600 600 500 250 0 1300
2600 600 0 0 0 2000
2600 300 300 300 300 500
2650 700 200 450 150 1000
2750 500 500 500 250 1000
2800 1000 200 500 600 500
2900 400 400 200 400 1500
3000 250 100 100 250 2200
3300 660 660 660 660 660
3500 1000 500 250 250 1500
3500 1000 500 500 500 1000
3650 800 650 650 650 900
4000 500 500 300 200 2000
4200 600 800 1200 600 1000
4400 1500 500 1000 300 1500
4500 1500 1000 1000 500 1000
4500 1000 750 250 1000 1500
5000 500 500 500 500 3000
6000 1500 1000 1000 500 2000
6000 2000 1500 1000 500 1000
Médias obtidas
3231,612903 756,7741935 521,2903226 453,5483871 306,1290323 1147,096774
Tabela 1: Amostra considerada na regressão. Valores em euros. Elaboração própria.
Da leitura superficial das preferências iniciais pelos inquiridos (ver Anexo
I) resulta que o elemento mais valorizado no que concerne aos motociclos 125 c.c.
é a poupança de combustível (22 respostas), seguido de fiabilidade e segurança
(14 respostas), estética (três respostas) e mobilidade (uma resposta).
Nenhum dos inquiridos manifestou preferência pelo elemento redução de
emissões de CO2. No entanto, considerando os valores médios de cada uma das
variáveis, as variáveis mais valorizadas foram fiabilidade e segurança (1147,10
euros), seguida de poupança de combustível (756,77 euros), mobilidade (521,30
euros), estética (453,54 euros) e redução de CO2 (306,13 euros).
O valor médio do preço final atribuído ao motociclo é de 3231,61 euros.
Verifica-se assim a subaditividade do somatório das médias das várias variáveis
(3184,83 euros) face ao valor médio final.
A análise empírica e econométrica dos dados socorreu-se de uma
adaptação do Método dos Preços Hedónicos: recolheu-se informação sobre a DAP
3
4. dos indivíduos na compra de motociclos de cilindrada 125c.c., resultando num
preço final decomposto nas várias características do veículo (estética, segurança,
mobilidade, poupança de combustível e redução de emissões de CO2)2.
Obteve-se um ajustamento medido pelo R quadrado ajustado no valor de
94,4%, isto é, 94,4% da variação da variável dependente (preço) é explicada pelas
variáveis do modelo. Considerando a dimensão da amostra face ao número de
variáveis consideradas no modelo, não surpreende que o R quadrado apresente
valores generosos.
A variável que mais influencia a variação do preço é a estética, sendo que
a segunda variável com maior influência no preço final é a redução de CO2.
Verifica-se assim um contraste em relação às preferências iniciais manifestadas
pelos inquiridos quanto ao elemento que mais valorizam na moto.
2
O modelo econométrico e os resultados estão disponíveis ‘online’ no Fórum 125 c.c., Clube das
Maxiscooters do Norte e Forum PCX Portugal. Igualmente disponíveis estão os resultados do
inquérito realizado e outros dados pertinentes de análise.
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