1) A revista Veja publicou na capa que um casal foi culpado pela morte de uma menina, antes da conclusão da investigação policial.
2) A reportagem usou imagens e ilustrações para retratar o casal como culpados, com opinião parcial da revista.
3) Publicar a culpa de alguém antes do julgamento viola princípios éticos do jornalismo de ser imparcial e respeitar a presunção de inocência.
1. Blog Fazer Direito – Ivan Regis Milmann Imprensa VS. Ética Fonte: Equipe Matéria Primahttp://www.jornalmateriaprima.jex.com.br/critica/+veja+atropela+justica+e+sentencia+casalA revista Veja, na edição de 23 de abril deste ano, publicou na capa, em letras maiúsculas, a seguinte informação:
FORAM ELES
. Passando por cima de todos os fundamentos do jornalismo, a publicação teve a intenção de causar impacto com a sentença. No entanto, obviamente para se proteger de eventuais processos por calúnia, tratou de publicar em letras minúsculas, pouco acima da afirmação bombástica, a seguinte frase:
Para a polícia, não há mais dúvidas sobre a morte de Isabella
. Nas páginas internas, a revista lançou sua opinião de forma mascarada.Também a imagem da capa dá ar de culpados ao casal Alexandre Nardoni (pai de Isabella) e Anna Carolina Jatobá (mulher dele). O casal, até o dia da publicação da reportagem de Veja, ainda não havia sido indiciado pela polícia. Hoje ambos presos. Na reportagem, o título´,
Frios e Dissimulados
, também foi grafado em letras maiúsculas.O que mais marca nessa edição de Veja são às imagens usadas para ilustrar a reportagem e, em especial, a imagem da capa que revela somente olhares cuja expressão pode, num primeiro instante, denotar frieza. Porém, deixando a emotividade de lado, o que se pode ver ali também são olhares de perplexidade
de quem ainda não entendeu o que e por que aquilo tudo está acontecendo.Na reportagem sobre a perícia, as imagens escolhidas apresentam o casal como dois verdadeiros bandidos, escoltados pela polícia a todo instante. Soma-se ao circo de horrores, a mãe da menina, Ana Carolina Oliveira, chorando e fotos de Isabella sorrindo. Veja também utilizou o recurso da ilustração para relatar tudo o que supostamente aconteceu no dia da morte da garota.O tempo todo está presente a opinião de
Veja
sobre esse caso. Mas vendo pelo fator cronológico, a publicação se baseou em uma perícia feita no apartamento do casal. Para chegar à conclusão da culpa de Nardoni e sua mulher, seria necessário, no mínimo, aguardar a conclusão do inquérito e o encaminhamento da denúncia à Justiça.O desfecho dessa história ainda está longe de ocorrer, mas já se pode avaliar o que aconteceria caso a Justiça concluísse ter havido erro na apuração do crime, e não houvesse provas suficientes para levar o caso a júri. Como ficaria a reputação da revista que marcou a sua opinião na reportagem?É de lei e não custa nada repetir: em seu artigo quarto, o Código de Ética do Jornalista determina que este deve ter o compromisso com a verdade e a forma como publica a notícia e que o jornalismo de qualidade deve ser imparcial. Vale lembrar também, embora algumas publicações insistam em ignorar, que somente quem pode imputar culpabilidade a alguém ainda é a Justiça.Imagem/veja.abril.com.br/idade/exclusivo/230408/imagens/capa380.jpg