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OS CICLOS DE KONDRATIEFF E AS CRISES ECONÔMICAS MUNDIAIS
Fernando Alcoforado*
O economista russo Nikolai Dimitrievitch Kondratieff apresentou no seu livro Les
grands cycles de La conjoncture (Economica, 1992) os chamados superciclos, grandes
ondas, ondas longas ou longos ciclos econômicos da economia mundial capitalista
moderna. A tese de Kondratieff é a de que os ciclos consistem em períodos alternados
de alto crescimento e períodos de crescimento relativamente lento variando de 40 a 60
anos. Kondratieff identificou 3 fases no ciclo: expansão, estagnação, recessão. Na sua
pesquisa sobre o século XIX, Kondratieff constatou em 1920 a existência de dois ciclos
(1790 a 1849 com duração de 54 anos e outro de 1850 a 1896 com duração de 46 anos).
No ciclo de 1790 a 1849, a expansão da economia mundial ocorreu até seu colapso ou
estagnação em 1815 com a queda do Império Napoleônico, quando as estruturas
políticas e econômicas do Antigo Regime foram abaladas, seguida da recessão até 1849.
De setembro de 1814 a junho de 1815, as grandes potências do big four (Inglaterra,
Prússia, Rússia e Áustria) se reuniram no Congresso de Viena buscando reconstruir a
velha ordem europeia e redesenhar o mapa político europeu. No ciclo de 1850 a 1896, a
expansão da economia mundial aconteceu até seu colapso com a Depressão de 1873, 58
anos após a crise de 1815, seguida da recessão até 1896.
Ressalte-se que a depressão de 1873 contribuiu para acirrar a competição entre as
potências imperialistas europeias que desembocou na Primeira Guerra Mundial (1914-
1918). No ciclo de 1896 a 1945, a expansão da economia mundial aconteceu de 1896
até seu colapso com a Grande Depressão de 1929, 56 anos após a crise de 1873, seguida
da recessão até 1945. A depressão mundial de 1929 contribuiu decisivamente para a
eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No esforço de expandir o ciclo de
Kondratieff para o século XX, pode-se considerar o terceiro ciclo iniciando em 1896 e
terminando em 1945 (fim da Segunda Guerra Mundial) com uma duração de 49 anos; o
quarto ciclo começando em 1945 e terminando em 1989 (queda do Muro de Berlim),
com uma duração de 44 anos, e o quinto ciclo iniciando em 1989 e terminando
provavelmente em 2029 ou 2049 com duração de 40 ou 60 anos.
No ciclo de 1945 a 1989, a expansão da economia mundial aconteceu até a Crise do
Petróleo em 1973 que abalou a economia mundial, 44 anos após a Grande Depressão de
1929, quando houve queda acentuada da lucratividade do capital, as lutas econômicas e
políticas em todos os principais países do mundo, destacando-se a rebelião popular de
maio de 1968 na França e a escalada da guerra do Vietnã, seguida de recessão até 1989.
O fim deste ciclo coincide com a queda do muro de Berlim em 1989. O ciclo
subsequente começou em 1989 com sua expansão até a recente crise mundial de 2008,
35 anos após a crise de 1973, seguida de recessão que se prevê terminando em 2029,
após 40 anos, ou 2049 após 60 anos.
Em outras palavras, o fim da atual crise geral do sistema capitalista mundial só terá um
fim nos próximos 16 ou 36 anos. Eric Hobsbawn (grande historiador britânico falecido
em 2012) afirma que outra vez, estamos diante de uma crise fundamental do capitalismo
como ocorreu em 1873 e em 1929. Os economistas de ideologia neoliberal acreditavam
que o livre mercado teria um crescimento econômico máximo, como também
proporcionaria um bem-estar máximo para o conjunto da população e que sempre
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resolveria racionalmente os problemas que cria. Parece inacreditável, hoje, mas é fato
que os economistas neoliberais acreditaram nisso durante mais de 30 anos
(HOBSBAWN, Eric. En la tercera crisis. Entrevista a Eric J. Hobsbawn. Revista “El
Viejo Topo” disponível no website <www.elviejotopo.com>, 2009).
Com a eclosão da crise em 2008, os governos dos países capitalistas centrais tiveram
que intervir como na década de 1930 do século XX, que na época não tiveram êxito
imediato, mas não sabem como salvar o sistema da débâcle econômica generalizada que
está em curso. Segundo Hobsbawn, para haver uma mudança no sentido de uma nova
economia mundial, será preciso muito tempo. Macabramente, na década de 1930 do
século XX, já havia um programa para a solução da crise: a preparação da guerra. A
crise econômica mundial que se instalou em 1929 só terminou com a eclosão da 2ª
guerra Mundial. Na atualidade, a humanidade terá que enfrentar uma nova conflagração
mundial para salvar o sistema capitalista mundial? Esta conflagração poderá começar
no Oriente Médio com a intervenção militar das potências ocidentais na Síria ou no Irã?
Nouriel Roubini afirma que o crescimento mundial está em risco após 2013. Uma
“tempestade perfeita” de aflições orçamentárias nos Estados Unidos, abrandamento
econômico na China, reestruturação da dívida europeia e estagnação no Japão podem
combinar-se para afetar a economia mundial a partir de 2013. Quanto à China, Roubini
considera que o país pode enfrentar uma “aterrissagem difícil”, dentro de dois anos
porque o investimento chinês já representa quase 50 por cento do produto interno bruto
e sessenta anos de dados mostram que panoramas de sobreinvestimento têm conduzido
sempre a aterrissagens bruscas da economia, como sucedeu na ex-União Soviética nas
décadas de 1960 e 1970 e no leste asiático na década de 1990 (BLOG DO
PEDLOWSKI. Mundo poderá viver em 2013 “tempestade global” pior que 2008,
afirma Roubini postado no website <
http://pedlowski.blogspot.com.br/2012/07/nouriel-roubini-o-unico-que-previu.html>).
À exceção da China, o PIB dos demais países do mundo apresenta declínio ou
estagnação econômica. A economia mundial caminha celeremente para a depressão
porque os Estados Unidos, União Europeia, Japão e China apresentam na atualidade
desempenho econômico que põe em xeque a recuperação da economia mundial. Além
da crise profunda que atinge a União Europeia e o Japão, os Estados Unidos não
apresentam sinais de recuperação com a alta do desemprego que lá está ocorrendo e a
China mostra sinais evidentes de desaceleração.
A crise atual é pior do que a de 1929-1933, porque é absolutamente global. O sistema
financeiro internacional já não funciona mais. Um fato indiscutível é que o Consenso de
Washington que introduziu o modelo neoliberal no mundo morreu e haverá depressão
que durará por muitos anos. Não há volta atrás para o mercado absoluto que regeu a
economia mundial nos últimos 40 anos, desde a década de 1970, segundo Hobsbawn. A
crise global que começou em 2008 é, para a economia de mercado, equivalente ao que
foi a queda do Muro de Berlim em 1989. Além disso, esta depressão pode levar,
segundo Hobsbawn, a um novo sistema mundial. Há que se redesenhar tudo em direção
ao futuro.
Tudo leva a crer que a queda no consumo dos Estados Unidos e da União Europeia, a
depressão do Japão desde a década de 1990 e a impossibilidade de a China sustentar o
crescimento da economia mundial conduzirá o sistema capitalista mundial à depressão.
Foi tomando por base os ciclos de Kondratieff que Immanuel Wallerstein expôs em sua
3
obra Unthinking social science (Cambridge: Polity Press, 1995) que a crise sistêmica
que vivenciamos atualmente na economia mundial irá até 2050 ou 2075 quando
deveremos estar vivendo em alguma nova ordem ou novas ordens, novo sistema ou
novos sistemas históricos.
*Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em
Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor
universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São
Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo,
1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do
desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento
(Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos
Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the
Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe
Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável-
Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do
Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social
(Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas,
Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet
(http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br.

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Os ciclos de kondratieff e as crises econômicas mundiais

  • 1. 1 OS CICLOS DE KONDRATIEFF E AS CRISES ECONÔMICAS MUNDIAIS Fernando Alcoforado* O economista russo Nikolai Dimitrievitch Kondratieff apresentou no seu livro Les grands cycles de La conjoncture (Economica, 1992) os chamados superciclos, grandes ondas, ondas longas ou longos ciclos econômicos da economia mundial capitalista moderna. A tese de Kondratieff é a de que os ciclos consistem em períodos alternados de alto crescimento e períodos de crescimento relativamente lento variando de 40 a 60 anos. Kondratieff identificou 3 fases no ciclo: expansão, estagnação, recessão. Na sua pesquisa sobre o século XIX, Kondratieff constatou em 1920 a existência de dois ciclos (1790 a 1849 com duração de 54 anos e outro de 1850 a 1896 com duração de 46 anos). No ciclo de 1790 a 1849, a expansão da economia mundial ocorreu até seu colapso ou estagnação em 1815 com a queda do Império Napoleônico, quando as estruturas políticas e econômicas do Antigo Regime foram abaladas, seguida da recessão até 1849. De setembro de 1814 a junho de 1815, as grandes potências do big four (Inglaterra, Prússia, Rússia e Áustria) se reuniram no Congresso de Viena buscando reconstruir a velha ordem europeia e redesenhar o mapa político europeu. No ciclo de 1850 a 1896, a expansão da economia mundial aconteceu até seu colapso com a Depressão de 1873, 58 anos após a crise de 1815, seguida da recessão até 1896. Ressalte-se que a depressão de 1873 contribuiu para acirrar a competição entre as potências imperialistas europeias que desembocou na Primeira Guerra Mundial (1914- 1918). No ciclo de 1896 a 1945, a expansão da economia mundial aconteceu de 1896 até seu colapso com a Grande Depressão de 1929, 56 anos após a crise de 1873, seguida da recessão até 1945. A depressão mundial de 1929 contribuiu decisivamente para a eclosão da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). No esforço de expandir o ciclo de Kondratieff para o século XX, pode-se considerar o terceiro ciclo iniciando em 1896 e terminando em 1945 (fim da Segunda Guerra Mundial) com uma duração de 49 anos; o quarto ciclo começando em 1945 e terminando em 1989 (queda do Muro de Berlim), com uma duração de 44 anos, e o quinto ciclo iniciando em 1989 e terminando provavelmente em 2029 ou 2049 com duração de 40 ou 60 anos. No ciclo de 1945 a 1989, a expansão da economia mundial aconteceu até a Crise do Petróleo em 1973 que abalou a economia mundial, 44 anos após a Grande Depressão de 1929, quando houve queda acentuada da lucratividade do capital, as lutas econômicas e políticas em todos os principais países do mundo, destacando-se a rebelião popular de maio de 1968 na França e a escalada da guerra do Vietnã, seguida de recessão até 1989. O fim deste ciclo coincide com a queda do muro de Berlim em 1989. O ciclo subsequente começou em 1989 com sua expansão até a recente crise mundial de 2008, 35 anos após a crise de 1973, seguida de recessão que se prevê terminando em 2029, após 40 anos, ou 2049 após 60 anos. Em outras palavras, o fim da atual crise geral do sistema capitalista mundial só terá um fim nos próximos 16 ou 36 anos. Eric Hobsbawn (grande historiador britânico falecido em 2012) afirma que outra vez, estamos diante de uma crise fundamental do capitalismo como ocorreu em 1873 e em 1929. Os economistas de ideologia neoliberal acreditavam que o livre mercado teria um crescimento econômico máximo, como também proporcionaria um bem-estar máximo para o conjunto da população e que sempre
  • 2. 2 resolveria racionalmente os problemas que cria. Parece inacreditável, hoje, mas é fato que os economistas neoliberais acreditaram nisso durante mais de 30 anos (HOBSBAWN, Eric. En la tercera crisis. Entrevista a Eric J. Hobsbawn. Revista “El Viejo Topo” disponível no website <www.elviejotopo.com>, 2009). Com a eclosão da crise em 2008, os governos dos países capitalistas centrais tiveram que intervir como na década de 1930 do século XX, que na época não tiveram êxito imediato, mas não sabem como salvar o sistema da débâcle econômica generalizada que está em curso. Segundo Hobsbawn, para haver uma mudança no sentido de uma nova economia mundial, será preciso muito tempo. Macabramente, na década de 1930 do século XX, já havia um programa para a solução da crise: a preparação da guerra. A crise econômica mundial que se instalou em 1929 só terminou com a eclosão da 2ª guerra Mundial. Na atualidade, a humanidade terá que enfrentar uma nova conflagração mundial para salvar o sistema capitalista mundial? Esta conflagração poderá começar no Oriente Médio com a intervenção militar das potências ocidentais na Síria ou no Irã? Nouriel Roubini afirma que o crescimento mundial está em risco após 2013. Uma “tempestade perfeita” de aflições orçamentárias nos Estados Unidos, abrandamento econômico na China, reestruturação da dívida europeia e estagnação no Japão podem combinar-se para afetar a economia mundial a partir de 2013. Quanto à China, Roubini considera que o país pode enfrentar uma “aterrissagem difícil”, dentro de dois anos porque o investimento chinês já representa quase 50 por cento do produto interno bruto e sessenta anos de dados mostram que panoramas de sobreinvestimento têm conduzido sempre a aterrissagens bruscas da economia, como sucedeu na ex-União Soviética nas décadas de 1960 e 1970 e no leste asiático na década de 1990 (BLOG DO PEDLOWSKI. Mundo poderá viver em 2013 “tempestade global” pior que 2008, afirma Roubini postado no website < http://pedlowski.blogspot.com.br/2012/07/nouriel-roubini-o-unico-que-previu.html>). À exceção da China, o PIB dos demais países do mundo apresenta declínio ou estagnação econômica. A economia mundial caminha celeremente para a depressão porque os Estados Unidos, União Europeia, Japão e China apresentam na atualidade desempenho econômico que põe em xeque a recuperação da economia mundial. Além da crise profunda que atinge a União Europeia e o Japão, os Estados Unidos não apresentam sinais de recuperação com a alta do desemprego que lá está ocorrendo e a China mostra sinais evidentes de desaceleração. A crise atual é pior do que a de 1929-1933, porque é absolutamente global. O sistema financeiro internacional já não funciona mais. Um fato indiscutível é que o Consenso de Washington que introduziu o modelo neoliberal no mundo morreu e haverá depressão que durará por muitos anos. Não há volta atrás para o mercado absoluto que regeu a economia mundial nos últimos 40 anos, desde a década de 1970, segundo Hobsbawn. A crise global que começou em 2008 é, para a economia de mercado, equivalente ao que foi a queda do Muro de Berlim em 1989. Além disso, esta depressão pode levar, segundo Hobsbawn, a um novo sistema mundial. Há que se redesenhar tudo em direção ao futuro. Tudo leva a crer que a queda no consumo dos Estados Unidos e da União Europeia, a depressão do Japão desde a década de 1990 e a impossibilidade de a China sustentar o crescimento da economia mundial conduzirá o sistema capitalista mundial à depressão. Foi tomando por base os ciclos de Kondratieff que Immanuel Wallerstein expôs em sua
  • 3. 3 obra Unthinking social science (Cambridge: Polity Press, 1995) que a crise sistêmica que vivenciamos atualmente na economia mundial irá até 2050 ou 2075 quando deveremos estar vivendo em alguma nova ordem ou novas ordens, novo sistema ou novos sistemas históricos. *Fernando Alcoforado, 77, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015) e As Grandes Revoluções Científicas, Econômicas e Sociais que Mudaram o Mundo (Editora CRV, Curitiba, 2016). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br.