SOCIAL REVOLUTIONS, THEIR TRIGGERS FACTORS AND CURRENT BRAZIL
CAUSAS DO APAGÃO NO AMAPÁ
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CAUSAS DO APAGÃO NO AMAPÁ
Fernando Alcoforado*
Incompetência dos gestores do sistema elétrico do Amapá e do governo federal (Ministério
de Minas e Energia e ANEEL- Agência Nacional de Energia Elétrica) e irresponsabilidade
da empresa privatizada responsável pelo suprimento de eletricidade do Amapá que, para não
afetar seus lucros, não investiu em transformadores de reserva e geradores de emergência são
as causas do apagão no Amapá.
Cerca de 90% da população do Amapá está sem energia elétrica desde o dia 3 de novembro
passado após um incêndio na mais importante subestação do estado, que fica na Zona Norte
de Macapá e alimenta 13 das 16 cidades do estado. Só os municípios de Oiapoque, no extremo
Norte, Laranjal do Jari e Vitória do Jari, no extremo Sul, têm energia, pois são alimentados
por sistemas isolados. O que causou o apagão elétrico? Na noite de 3 de novembro, ocorreu
uma tempestade em Macapá que desencadeou um raio que causou uma explosão seguida de
incêndio que comprometeu os três transformadores de uma subestação. O fogo danificou um
transformador que depois atingiu os outros dois.
Um dos transformadores que estava em manutenção teve condições de ser recuperado e supre
eletricidade para cerca de 70% dos locais atingidos. Os outros dois transformadores
precisarão ser trocados. A queda de energia afetou também o sistema de abastecimento de
água do Amapá. Falta água encanada, água mineral e gelo. Além da falta de energia, os
serviços de internet e de telefonia também foram atingidos. Mesmo com o retorno parcial da
eletricidade, a comunicação ainda segue precária. Caixas eletrônicos e máquinas de cartão,
que precisam de carregamento elétrico, também pararam de funcionar, o que faz com que as
pessoas não consigam fazer compras. Bombas de postos de gasolina também pararam de
funcionar sem energia. Só ficaram operantes os postos que têm gerador próprio.
Este apagão no Amapá evidencia a fragilidade do sistema elétrico nacional que não garante a
segurança no suprimento de eletricidade do País. Trata-se de um absurdo que o defeito em
um ou mais transformadores de uma subestação leve ao apagão que se registra no momento
no Amapá. Para tornar seguro o sistema elétrico do Amapá, as soluções seriam duas: 1)
aumentar a capacidade das subestações com a instalação de transformadores de reserva e de
sistema de proteção duplo; e, 2) descentralizar o suprimento de energia elétrica com fontes
descentralizadas de energia com a instalação de geradores de emergência operados a diesel e
sistemas de energia eólica e solar. No Amapá, não havia nem transformadores de reserva,
nem geradores de emergência, nem sistemas de energia eólica e solar. Este apagão resultou
de duas causas: 1) incompetência dos gestores do sistema elétrico do Amapá e do governo
federal (Ministério de Minas e Energia e ANEEL- Agência Nacional de Energia Elétrica); e,
2) a irresponsabilidade da empresa privatizada responsável pelo suprimento de eletricidade
do Amapá que, para não afetar seus lucros, não investiu em transformadores de reserva e
geradores e sistemas de energia eólica e solar de emergência.
O governo Bolsonaro é responsável, também, pelo apagão no Amapá porque deveria investir
na interligação deste estado ao sistema interligado nacional com a construção de linhas de
transmissão e sistemas de produção redundantes, que funcionariam como uma espécie de
"reserva" ao sistema interligado existente, sobretudo em suas áreas mais vulneráveis para
evitar problemas como o ocorrido no Amapá. Operar o SIN (Sistema Interligado Nacional)
com o máximo de confiabilidade ou segurança e ao menor custo é uma responsabilidade do
governo federal que faltou no caso do Amapá. Sem a adoção deste conjunto de soluções, o
Brasil estará ameaçado de sofrer novos “apagões” como o do Amapá.
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* Fernando Alcoforado, 80, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional
pela Universidade de Barcelona, ex- Subsecretário de Energia do Estado da Bahia, condecorado com a
Medalha do Mérito da Engenharia do Sistema CONFEA/CREA, membro da Academia Baiana de
Educação, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento
empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor de 14 livros entre os
quais Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora
CRV, Curitiba, 2015.