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30
conjuntura
No dia 24 de fevereiro o setor sucroenergético perdeu o en-
genheiro agrônomo e professor da Esalq (Escola Superior de
Agricultura Luiz de Queiroz) Tomaz Caetano Cannavam Ripoli,
que faleceu, aos 66 anos, vítima de câncer.
Segundo o jornal Correio Popular de Campinas, mestre, ide-
alizador, empreendedor, amigo e bom pai foram algumas das
declarações e homenagens prestadas por familiares e amigos
de Ripoli.
Engenheiro Agrônomo, mestre e doutor pela Esalq, pós-dou-
torado pela University Of California Davis (Estados Unidos) e
com diversas contribuições para o universo acadêmico na área
da Engenharia Agrícola, o professor Ripoli teve ainda intensa
ligação com o jornalismo. Ele era também articulista da Gaze-
ta de Piracicaba.
Ripoli formou-se engenheiro agrônomo pela Esalq em 1970
e sempre foi apaixonado pela profissão, por política e por fo-
tografia. Desde 1968, quando ainda era aluno do terceiro ano
do curso de Engenharia Agronômica, frequentava o subsolo do
Edifício Central da Esalq, onde havia um laboratório de foto-
grafia em preto e branco e foi lá que se apaixonou pela arte. Em
1982, começou a lecionar na Esalq e, desde então, acumulou
uma coleção de 20 mil imagens realizadas tanto no local quanto
em viagens pelo País e no exterior.
A partir de 1968 começou a divulgar as atividades do Cen-
tro Acadêmico Luiz de Queiroz (Calq) no Dário de Piracicaba.
Sua aproximação com o jornalismo e com a vida esportiva pi-
racicabana ocorreu por conta de seu pai, Romeu Ítalo Ripoli,
figura conhecida na cidade e que chegou a presidir o time de
futebol XV de Novembro de Piracicaba.
Em declarações concedidas a jornalistas da Assessoria de
Comunicação da Esalq (ACOM) em outubro de 2012, Ripo-
li brincou: “Nasci em Piracicaba e sou caipiracicabano com
muito orgulho. Às vezes, eu solto um pouquinho uma palavra
meio uorrrr, né? Quando falam disso, eu digo: meu filho, isso
é personalidade, dialeto próprio, Piracicaba é uma cidade de
dialeto próprio”.
Na época, ele se preparava para lançar seu livro de foto-
grafias da Esalq (Cantos & Recantos), feito em parceria com a
filha, a publicitária Bianca Ripoli Lara. O lançamento foi em
novembro do ano passado.
Raffaella Rossetto, pesquisadora da Agência Paulista de Tec-
nologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura
e Abastecimento do Estado de São Paulo, colega de profissão e
amiga de Ripoli, afirma que a contribuição de Caetano Ripoli
ao setor sucroenergético foi inestimável. “Ripoli sempre pri-
mou por declarar suas opiniões e esta foi uma de suas grandes
contribuições. Em todos os eventos em que participou, em suas
palestras, em seu legado deixado em seus livros, nas conversas
de amigos nos botecos, ele sempre imprimiu com grande vee-
mência sua opinião. Nos fez pensar sempre. Nos fez refletir”,
relembra Raffaella.
Ela ainda conta que para o Centro de Cana do IAC, Ripoli foi
parceiro em cursos, atuando nas aulas de Mecanização, Plantio
Mecanizado e Colheita Mecanizada. “Ele era um de nós e vestia
nossa camisa. Entendia nossos objetivos e compactuava com
nosso ideal de socialização do conhecimento. Ripoli era gene-
roso. Nunca negou informações em suas aulas onde se empe-
nhava em apresentar seus conhecimentos sempre atualizados e
propunha caminhos para novos desafios. Suas opiniões, sempre
polêmicas, agitavam as plateias, nos faziam rir e pensar. Ripoli
Tomaz Caetano Cannavan Rípoli, que era
professor da Esalq/USP e engenheiro agrônomo, deixou
contribuição inestimável ao setor
31
conjuntura
era dono de um grande bom humor e muita vontade de viver.
Tive o privilégio de conviver com ele”, afirma a amiga Raffaella.
Jair Rosas da Silva, pesquisador do IAC (Instituto Agronômi-
co de Campinas), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento
do Estado de São Paulo, diz que o professor Caetano Ripoli era
simplesmente o homem que mais entendia de cana-de-açúcar
no Brasil. “Conhecia a cultura como um todo e publicou al-
guns livros abordando diversos setores da cultura, incluindo o
manejo agrícola e o setor industrial de produção dos diversos
tipos de etanol, açúcar e de energia mecânica e elétrica, in-
cluindo a tecnologia de aproveitamento de resíduos agrícolas
e industriais, sua forma de colheita e obtenção, enfardamento e
influência no meio ambiente. Aliás, isso é muito pouco falado
sobre ele”, revela Silva.
INÚMERAS CONTRIBUIÇÕES
De acordo com o professor da Esalq, Luiz Geraldo Mialhe, foi
no Planalsucar que Caetano Ripoli deu o ponta pé inicial dos
estudos com base científica na área de mecanização da colheita
de cana-de-açúcar no Brasil. “Ele desempenhou importante pa-
pel no excelente grupo de pesquisadores em mecanização agrí-
cola. Foi ele quem criou a melhor e mais completa metodologia
técnico-científica de avaliação do desempenho de colhedoras
de cana-de-açúcar.”
Já como professor do Departamento de Engenharia de Bios-
sistemas da Esalq/USP, quando começaram os questionamentos
sobre a queima de palhiço, foi Ripoli quem produziu os primei-
ros dados experimentais sobre a energia perdida nessa prática.
“Lembro-me que uma de nossas últimas discordâncias foi
exatamente sobre esse tema. Ele começou a defender a ideia de
que o palhiço deve acompanhar a matéria-prima e ser separado
na unidade industrial. Eu defendia a ideia de que o palhiço deve
ficar no campo, uma vez que a ponderação de todos os fatores
envolvidos, a meu ver, superava seus argumentos sobre a ideia
do palhiço-combustível-cogeração. Hoje, saudoso, lamento ter
perdido a oportunidade de continuar nessa boa e querida bri-
ga!”, emociona-se Mialhe.
Emocionados, os filhos Bianca, 34 anos, e Marco Ripoli,
38, disseram ao jornal Correio Popular de Campinas que o pai
foi um homem admirável. “Foi o melhor pai que eu podia ter
desejado. Tenho muito orgulho dele”, disse Bianca. Segundo
Marco, seu pai sempre teve uma posição reativa diante das
coisas e, por isso, era considerado polêmico por muitos. “Mas
ele sempre buscava o lado bom das coisas pensando no bem
das situações. Foi um grande pai e orientador. Um guia para
toda nossa família.”
“O que mais nos fará falta será seu enorme sorriso, o compa-
nheirismo, a amizade e o carinho. Ripoli, nossa eterna saudade
e nosso muito obrigado. O setor sucroenergético está em luto
e nós, teus amigos, ficamos órfãos de tua alegria e do brilho
de teus olhos azuis”, finalizou a amiga e colega de profissão
Raffaella.
Para Mialhe, Ripoli foi a mais brilhante, inusitada e como-
vente experiência de orientação e amizade. “A emoção e riqueza
das lembranças até me trava a escrita.”
ARevistaIDEANewsgostariadeprestarumasingelahomenagem
e agradecer todas as contribuições dadas pelo professor Caetano
Ripoli não só à Revista como também ao setor sucroenergético.
Rafaella Rosseto: “Caetano era generoso. Nunca negou informações
em suas aulas onde se empenhava em apresentar seus conhecimentos

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Professor Caetano Ripoli deixou contribuição inestimável ao setor sucroenergético

  • 1. 30 conjuntura No dia 24 de fevereiro o setor sucroenergético perdeu o en- genheiro agrônomo e professor da Esalq (Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz) Tomaz Caetano Cannavam Ripoli, que faleceu, aos 66 anos, vítima de câncer. Segundo o jornal Correio Popular de Campinas, mestre, ide- alizador, empreendedor, amigo e bom pai foram algumas das declarações e homenagens prestadas por familiares e amigos de Ripoli. Engenheiro Agrônomo, mestre e doutor pela Esalq, pós-dou- torado pela University Of California Davis (Estados Unidos) e com diversas contribuições para o universo acadêmico na área da Engenharia Agrícola, o professor Ripoli teve ainda intensa ligação com o jornalismo. Ele era também articulista da Gaze- ta de Piracicaba. Ripoli formou-se engenheiro agrônomo pela Esalq em 1970 e sempre foi apaixonado pela profissão, por política e por fo- tografia. Desde 1968, quando ainda era aluno do terceiro ano do curso de Engenharia Agronômica, frequentava o subsolo do Edifício Central da Esalq, onde havia um laboratório de foto- grafia em preto e branco e foi lá que se apaixonou pela arte. Em 1982, começou a lecionar na Esalq e, desde então, acumulou uma coleção de 20 mil imagens realizadas tanto no local quanto em viagens pelo País e no exterior. A partir de 1968 começou a divulgar as atividades do Cen- tro Acadêmico Luiz de Queiroz (Calq) no Dário de Piracicaba. Sua aproximação com o jornalismo e com a vida esportiva pi- racicabana ocorreu por conta de seu pai, Romeu Ítalo Ripoli, figura conhecida na cidade e que chegou a presidir o time de futebol XV de Novembro de Piracicaba. Em declarações concedidas a jornalistas da Assessoria de Comunicação da Esalq (ACOM) em outubro de 2012, Ripo- li brincou: “Nasci em Piracicaba e sou caipiracicabano com muito orgulho. Às vezes, eu solto um pouquinho uma palavra meio uorrrr, né? Quando falam disso, eu digo: meu filho, isso é personalidade, dialeto próprio, Piracicaba é uma cidade de dialeto próprio”. Na época, ele se preparava para lançar seu livro de foto- grafias da Esalq (Cantos & Recantos), feito em parceria com a filha, a publicitária Bianca Ripoli Lara. O lançamento foi em novembro do ano passado. Raffaella Rossetto, pesquisadora da Agência Paulista de Tec- nologia dos Agronegócios (APTA), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, colega de profissão e amiga de Ripoli, afirma que a contribuição de Caetano Ripoli ao setor sucroenergético foi inestimável. “Ripoli sempre pri- mou por declarar suas opiniões e esta foi uma de suas grandes contribuições. Em todos os eventos em que participou, em suas palestras, em seu legado deixado em seus livros, nas conversas de amigos nos botecos, ele sempre imprimiu com grande vee- mência sua opinião. Nos fez pensar sempre. Nos fez refletir”, relembra Raffaella. Ela ainda conta que para o Centro de Cana do IAC, Ripoli foi parceiro em cursos, atuando nas aulas de Mecanização, Plantio Mecanizado e Colheita Mecanizada. “Ele era um de nós e vestia nossa camisa. Entendia nossos objetivos e compactuava com nosso ideal de socialização do conhecimento. Ripoli era gene- roso. Nunca negou informações em suas aulas onde se empe- nhava em apresentar seus conhecimentos sempre atualizados e propunha caminhos para novos desafios. Suas opiniões, sempre polêmicas, agitavam as plateias, nos faziam rir e pensar. Ripoli Tomaz Caetano Cannavan Rípoli, que era professor da Esalq/USP e engenheiro agrônomo, deixou contribuição inestimável ao setor
  • 2. 31 conjuntura era dono de um grande bom humor e muita vontade de viver. Tive o privilégio de conviver com ele”, afirma a amiga Raffaella. Jair Rosas da Silva, pesquisador do IAC (Instituto Agronômi- co de Campinas), da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, diz que o professor Caetano Ripoli era simplesmente o homem que mais entendia de cana-de-açúcar no Brasil. “Conhecia a cultura como um todo e publicou al- guns livros abordando diversos setores da cultura, incluindo o manejo agrícola e o setor industrial de produção dos diversos tipos de etanol, açúcar e de energia mecânica e elétrica, in- cluindo a tecnologia de aproveitamento de resíduos agrícolas e industriais, sua forma de colheita e obtenção, enfardamento e influência no meio ambiente. Aliás, isso é muito pouco falado sobre ele”, revela Silva. INÚMERAS CONTRIBUIÇÕES De acordo com o professor da Esalq, Luiz Geraldo Mialhe, foi no Planalsucar que Caetano Ripoli deu o ponta pé inicial dos estudos com base científica na área de mecanização da colheita de cana-de-açúcar no Brasil. “Ele desempenhou importante pa- pel no excelente grupo de pesquisadores em mecanização agrí- cola. Foi ele quem criou a melhor e mais completa metodologia técnico-científica de avaliação do desempenho de colhedoras de cana-de-açúcar.” Já como professor do Departamento de Engenharia de Bios- sistemas da Esalq/USP, quando começaram os questionamentos sobre a queima de palhiço, foi Ripoli quem produziu os primei- ros dados experimentais sobre a energia perdida nessa prática. “Lembro-me que uma de nossas últimas discordâncias foi exatamente sobre esse tema. Ele começou a defender a ideia de que o palhiço deve acompanhar a matéria-prima e ser separado na unidade industrial. Eu defendia a ideia de que o palhiço deve ficar no campo, uma vez que a ponderação de todos os fatores envolvidos, a meu ver, superava seus argumentos sobre a ideia do palhiço-combustível-cogeração. Hoje, saudoso, lamento ter perdido a oportunidade de continuar nessa boa e querida bri- ga!”, emociona-se Mialhe. Emocionados, os filhos Bianca, 34 anos, e Marco Ripoli, 38, disseram ao jornal Correio Popular de Campinas que o pai foi um homem admirável. “Foi o melhor pai que eu podia ter desejado. Tenho muito orgulho dele”, disse Bianca. Segundo Marco, seu pai sempre teve uma posição reativa diante das coisas e, por isso, era considerado polêmico por muitos. “Mas ele sempre buscava o lado bom das coisas pensando no bem das situações. Foi um grande pai e orientador. Um guia para toda nossa família.” “O que mais nos fará falta será seu enorme sorriso, o compa- nheirismo, a amizade e o carinho. Ripoli, nossa eterna saudade e nosso muito obrigado. O setor sucroenergético está em luto e nós, teus amigos, ficamos órfãos de tua alegria e do brilho de teus olhos azuis”, finalizou a amiga e colega de profissão Raffaella. Para Mialhe, Ripoli foi a mais brilhante, inusitada e como- vente experiência de orientação e amizade. “A emoção e riqueza das lembranças até me trava a escrita.” ARevistaIDEANewsgostariadeprestarumasingelahomenagem e agradecer todas as contribuições dadas pelo professor Caetano Ripoli não só à Revista como também ao setor sucroenergético. Rafaella Rosseto: “Caetano era generoso. Nunca negou informações em suas aulas onde se empenhava em apresentar seus conhecimentos