O Instituto Biológico auxilia museus no combate a pragas urbanas através da elaboração de laudos técnicos, treinamento de funcionários e orientação na redação de editais. O trabalho é realizado gratuitamente para instituições como o Museu Afro Brasil e a Cinemateca Brasileira. As pragas mais comuns incluem cupins, brocas e traças, que podem danificar acervos e estruturas.
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Instituto Biológico auxilia museus no combate a pragas urbanas
1. Diário Oficial Poder Executivo - Seção IIV – São Paulo, 127 (85) terça-feira, 9 de maio de 2017
cervos e edificações de museus e
prédios históricos estão sob risco
constante de pragas urbanas,
tais como cupins, brocas, traças,
ratos e baratas. Os danos podem
atingir livros, quadros, roupas e
tapetes. Nos prédios, os insetos
causam problemas na fiação elé-
trica e na estrutura, podendo até
provocar incêndios.
Entre as instituições atendidas pelo bió-
logo estão: Museu Afro Brasil, Museu de
Arte Sacra de São Paulo (MAS-SP), Arquivo
Público do Estado de São Paulo, Cinemateca
Brasileira, Museu de Pesca, Museu do Café
e igrejas históricas de Ouro Preto (MG).
O trabalho nessas instituições é realiza-
do de forma gratuita, a partir de solicita-
ção da entidade. “Fazemos laudos técnicos
Instituto Biológico auxilia museus
no combate a pragas urbanas
Órgão elabora laudos,
dá treinamento e orienta
na redação de editais
de contratação de
empresas controladoras
A
As instituições adotam cui-
dados para combater o perigo,
mas a falta de orientação técni-
ca adequada muitas vezes leva
a equívocos. O alerta é do bió-
logo Francisco Zorzenon, pes-
quisador do Instituto Biológico
(IB), unidade da Agência Paulista
de Tecnologia dos Agronegócios
(Apta), que integra a Secretaria
de Agricultura e Abastecimento
do Estado.
Pragas urbanas são organis-
mos que causam dano econômico,
ligado direta ou indiretamente ao
homem, seus alimentos e seus per-
tences. “O conceito de pragas ur-
banas vai além do fator econômi-
co, pois são considerados também
aspectos sociais e emocionais, rela-
cionados à saúde humana”, explica
o pesquisador.
O IB é a única instituição brasileira que
faz o diagnóstico e propõe soluções para o
combate a essas pragas em museus públicos
e privados. Cerca de 50 museus e edifica-
ções históricas ou culturais do País já tive-
ram o auxílio dos pesquisadores do IB, re-
lata Zorzenon, que é o diretor técnico da Uni-
dade Laboratorial de Referência em Pragas
Urbanas do IB.
que identificam as pragas e indicam qual o
melhor controle”, informa Zorzenon.
Os principais fatores para o aparecimento
e o desenvolvimento de pragas urbanas são
conhecidos como os “quatro As”: água, ali-
mento, abrigo e acesso. Encontrando esses
elementos, as pragas podem instalar-se e
causar, além de desconforto, prejuízos.
Editais – Um dos problemas centrais
diz respeito à elaboração dos editais para
a contratação de empresas especializadas
em combater a praga. “Geralmente, os edi-
tais são feitos pelo pessoal da área jurídica
ou administrativa, e não da parte técnica. A
questão é que se o edital não especificar exa-
tamente o necessário, com a dosagem ade-
quada, a empresa vencedora pelo menor
preço pode até cumprir o previsto em con-
trato, mas isso não significa que o problema
será resolvido”, adverte.
Em alguns casos, a contratada não tem
sequer o conhecimento técnico exigido.
Zorzenon cita o caso de um museu, de fora
do Estado de São Paulo, em que foi feito,
num item do acervo, o chamado expurgo
(processo em que se envolve uma peça e
aplica-se gás). No entanto, a empresa uti-
lizou fosfina, produto agrícola proibido em
áreas urbanas, por ser muito tóxico. “Além
de essa utilização não ser permitida, a fosfi-
na reage com metais. A peça tinha partes de
ouro, que ficaram escuras”, diz.
Os pesquisadores do IB também dão
cursos nos locais. A intenção é fazer o trei-
namento nos 500 museus do Estado de
São Paulo, com uma divisão em turmas
por região. “Estamos lidando com pinturas,
livros, mobiliário de valor histórico e cultu-
ral. Se não for feito um controle adequado,
essas peças podem se perder, e é um bem
inestimável”, afirma o especialista.
Árvores – Além da estrutura dos
museus, os pesquisadores vistoriam as
áreas externas dos espaços, como os jar-
dins. “Às vezes, as árvores podem estar
infestadas por cupins e, se eles não forem
diagnosticados e eliminados, podem ata-
car o edifício e o acervo, além de aumen-
tarem o risco de tombamento precoce da
árvore”, explica Zorzenon.
Com o propósito de investigar a presen-
ça de cupins nas árvores, os pesquisadores
utilizam um aparelho chamado boroscópio,
que é introduzido no tronco. O equipamento
contém uma microcâmera, com a qual é pos-
sível enxergar o inseto no interior da árvore.
Para a prevenção de problemas nos
museus, e em geral, Zorzenon diz que, dos
“quatro As”, talvez o principal seja o aces-
so. “Não podemos facilitar a entrada das
pragas”, justifica. Ele dá o exemplo de um
museu que apresentou problemas de traças
nas gravuras que expõe. “Como as traças
chegaram? Verificamos que foram trazidos
livros de outros locais, transportados em
caixas de papelão, e as traças estavam nas
caixas. Uma vez que entraram, os outros
‘As’ estavam lá”, afirma.
Cláudio Soares
Imprensa Oficial – Conteúdo Editorial
A estratégia básica de controle das
pragas urbanas, em museus ou em qual-
quer local, é identificar o espécime que
está presente e conhecer a sua biologia,
para encontrar a solução adequada. Há
mais de 20 anos, o Instituto Biológico
(IB) realiza pesquisas com cupins, brocas,
formigas, baratas, roedores, traças, perce-
vejos-de-cama e carrapatos, entre outros.
Algumas espécies são facilmente de-
tectáveis, pois deixam resíduos, rastros e
danos aparentes. Outras, somente um espe-
cialista pode detectar e identificar com
segurança. Para cada situação, há um pro-
cedimento e um produto a ser utilizado.
A broca, por exemplo, é um besouro
que faz um furo na madeira, no interior
do qual nascem larvas que irão se alimen-
Cada caso é um caso
tar da madeira, formando galerias. As fezes
que elas liberam são o característico pó de
broca. “É um inseto gregário, não interage
com outro. Cada furinho é uma broca que
tem vida própria, e as galerias não têm
ligação”, diz o pesquisador do IB-Apta
Francisco Zorzenon. Diferentemente é a
situação do cupim-de-madeira-seca, que
também deposita fezes, semelhantes à
areia, mas é um inseto social. Existem cas-
tas, com soldados e soldadas, operários e
operárias, reis e rainhas.
Depois de identificada a infestação, o
passo seguinte é o controle ou tratamen-
to. O IB presta informação sobre como
proceder em todas as etapas do reconhe-
cimento até a melhor maneira de contro-
lar, atendendo cidadãos em geral, indús-
tria, comércio, controladores de pragas,
museus, etc. O trabalho de consultas e
laudos para a população é feito mediante
o pagamento de pequenas taxas.
SERVIÇO
O contato com a Unidade Laboratorial
de Referência em Pragas Urbanas do IB
pode ser feito pelo e-mail zorzenon@
biologico.sp.gov.br
ARQUIVOPESSOALFRANCISCOJOSÉZORZENON
Equipamento – Zorzenon
e o boroscópio, que contém
uma microcâmera, com a
qual é possível enxergar o
inseto no interior do tronco
FRANCISCOJOSÉZORZENON
FRANCISCOJOSÉZORZENON
Traças – Podem provocar danos em livros, quadros, roupas, etc. Perdas – Livro danificado por cupim subterrâneo
Cupim-de-madeira-seca – Fezes parece areia
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terça-feira, 9 de maio de 2017 às 02:16:17.