Este texto descreve Roberto da Silva, um homem que promove cultura em Magé através de um festival anual de MPB e de sua organização UPCM. Apesar de ter poucos recursos, Roberto mantém o festival e espalha cultura pela cidade com seu trabalho dedicado. O texto o admira por seu caráter e por promover a arte e os talentos locais em vez de buscar ganhos pessoais.
1. Texto
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A GRANDEZA DE UM CERTO ROBERTO
Roberto da Silva. É o nome simples de uma pessoa mais simples que o próprio
nome. Simples e admirável. Leva sobre os ombros o peso de uma entidade cultural
que só funciona porque ele, de condição econômica modesta, faz funcionar. Aliás,
diria que o Roberto é uma entidade. Não uma pessoa. Graças a ele, a cidade de
Magé tem, por exemplo, a tradição de um festival anual de MPB, que não é um
festival qualquer: Sempre muito concorrido e com público admirável, o evento já
revelou grandes talentos, como a cantora e compositora Lana Rodrigues, que hoje é
sucesso em todo o Rio e já tem um cd com músicas de qualidade apreciadas por
críticos exigentes.
Roberto realiza o seu festival com pequenos patrocínios: Comerciantes que já
conhecem sua índole, sempre colaboram; quando não o fazem com valores em
espécie, doam prêmios: Violões, troféus e outros brindes. Políticos? Não; embora
seja um político verdadeiro, e filiado a um partido, Roberto rejeita os políticos comuns
e suas "bondades" pontuais com interesses que o escravizariam, talvez inchando os
festivais, mas esvaziando-os de qualidade, autonomia, imparcialidade e beleza.
Advogado competente, mas que sempre deu mais valor à arte e à cultura, em um
todo, ele abriu mão da ascenção social que era certa, se unisse o ofício às jogatinas
partidárias deste e de qualquer outro município, para se manter com o mínimo
possível e revelar talentos. Trabalhar em prol da cultura e fazer pelo outro,
esquecendo a si próprio.
Também sem compensações financeiras, Roberto espalha cultura pelas ondas do
rádio, provoca movimentos populares via UPCM (Unidos Pela Cultura de Magé), e há
anos cobra das autoridades mageenses o empenho por um bom cinema e um teatro
no município. Luta inglória, voz sumida na multidão, mas ele não desiste. Acredita no
sonho, tenta contagiar os munícipes, utiliza os seus conhecimentos advocatícios
nessa questão e conserva a mesma expressão serena, quase ingênua, de quem
sabe que a sua goteira um dia fura essa ardósia.
Vejo com respeito e reverência esse homem raquítico, levemente corcunda e de
rosto simplório, que circula praticamente invisível pelas ruas da cidade. Quase
ninguém sabe que ele é um gigante. Uma celebridade fora dos padrões formais de
uma sociedade malcheirosa. Roberto é tudo o que falta no poder politico de cada
cidade, estado e país; no poder paralelo de cada grupo socioeconômico; na
consciência de cada cidadão que vaga sem atinar para o seu valor, seus direitos e
deveres.
Admiro a poucos, como admiro o "da Silva". Esse homem além de qualquer
sobrenome que se impõe aos fracos de caráter; pobres de alma e podres de bens,
influências e cargos. Entre as pessoas que conheço e já conheci nestes 49 anos de
vida, eis uma das poucas que mandariam qualquer "celebridade" às favas, mesmo
sabendo que uma possível obediência lhe renderia bens materiais, fama, prestígio e
poder.
Robertro pertence a um grupo de seres especiais: O grupo dos Zózimos (Duval); dos
Sebastiões (Alfredo dos Santos); dos Fernandos (Tadeu); das Neuzas (Carion); dos
Mattas (Freire)... de outros que fogem a minha memória injusta. Você não os
conhece? Azar o seu. Não faz ideia do quanto já perdeu e continua perdendo.
Demétrio Sena
Enviado por Demétrio Sena em 29/09/2009
Reeditado em 08/09/2010
Código do texto: T1838280