O texto descreve os netos como heranças que caem do céu sem que se mereça, e como amores novos que vêm preencher o lugar deixado pelos filhos adultos. Os netos trazem alegrias da mocidade perdida e o direito de amá-los com extravagância.
6. Todos dizem isso,
embora
você, pessoalmente,
ainda não as tenha
descoberto,
mas acredita.
7. Todavia, também
obscuramente,
sente que,
às vezes, lhe dá aquela
nostalgia da mocidade.
8. Do tumulto da
presença infantil
ao seu redor.
Meu Deus, para
onde foram as
suas crianças?
9. Naqueles adultos cheios de
problemas
que hoje são os filhos,
que têm sogro e
sogra, cônjuge,
emprego, apartamento e
prestações,
você não encontra de modo
algum
as suas crianças perdidas.
10. Sem dores, sem choros.
Aquela criancinha da qual
você morria de
saudades, chega. Símbolo ou
penhor da mocidade perdida.
Pois aquela criancinha, longe
de ser um estranho,
é um Filho seu que lhe é
devolvido.
11. E o espantoso é
que todos lhe
reconhecem
o seu direito de
o amar com
extravagância.
12. Ao
contrário, causaria
espanto, decepção, se
você não o acolhesse
imediatamente com
todo aquele amor
recalcado que há
anos se
acumulava, desdenha
do, no seu coração.
13. Sim, tenho certeza de
que a vida nos dá
netos para nos
compensar de todas
as perdas trazidas
pela velhice.
14. São amores novos,
profundos e felizes,
que vêm ocupar aquele
lugar
vazio, nostálgico, deix
ado pelos arroubos
juvenis.
15. É quando vai embalar
o menino e ele,
tonto de sono, abre o
olho e diz:
"Vó ", que seu coração
estala de felicidade,
como pão no forno!
Rachel de Queiroz
16. Texto :Rachel de Queiroz - Jornalista e escritora
Nasceu em Fortaleza aos 17/11/1910
Faleceu no R.de Janeiro em o1/11/2003
Formatação : NC 16/09/2008
A todos que já são avós!
E àqueles que, se Deus permitir, também
serão avós!