O documento descreve 7 erros que indicam que a "ficha de Dilma Roussef no Dops" publicada pelo jornal Folha de São Paulo é provavelmente uma fraude, incluindo a perfeição do alinhamento e dos cantos, inconsistências nos caracteres datilografados, e evidência de que a ficha foi criada digitalmente em vez de ser escaneada de um documento físico. Apesar disso, o jornal se recusa a reconhecer a falsificação.
EFEITOS DOS CUSTOS TRANSACIONAIS NA IMPLEMENTAÇÃO DE UM PROGRAMA DE GOVERNO
7 erros na ficha da ministra Dilma
1. 7 ERROS NA “FICHA” DA MINISTRA
É possível afirmar sem sombra de dúvida que a “ficha de Dilma Roussef no Dops” publicada com destaque na capa da
Folha de São Paulo no início de abril é provavelmente a fraude mais grosseira avalizada por um jornal de grande porte
na história recente do Brasil. Apesar disso, a Folha se nega a reconhecer a farsa. Por André Borges Lopes
A edição de domingo 05/04/2009 do jornal Fo- autenticidade, pelas informações hoje disponíveis, não oposição ultra-direita, que fazem apologia da di-
lha de São Paulo trouxe na capa e no miolo do pode ser assegurada - bem como não pode ser descar- tadura militar e feroz oposição ao governo Lula.
uma reprodução da ficha abaixo ilustrando ma- tada. (...) Ao classificar a origem de cada documento, Na sua versão mais difundida é uma imagem di-
téria com o título “Grupo de Dilma planejou o jornal cometeu um erro técnico: incluiu a reprodu- gital JPEG com 596 X 784 pixels, supostamente
sequestro de Delfim Netto”. A legenda da ficha ção digital da ficha em papel amarelo em uma pasta escaneada de um velho documento de papel.
não deixava dúvidas sobre a origem do docu- de nome “Arquivo de SP”, quando era originária de
mento: Ficha de Dilma Roussef no Dops. e-mail enviado à repórter por uma fonte. (...) Pesqui- Mas – ao contrário do que insiste em afirmar a
sadores acadêmicos, opositores da ditadura e ex-agentes Folha de São Paulo – até mesmo uma análise
Diante dos protestos da ministra e das negativas
de segurança, se dividem. Há quem identifique indícios superficial demonstra que se trata de uma frau-
por parte dos responsáveis pela guarda dos ar-
de fraude e quem aponte sinais de autenticidade da fi- de grosseira. Como veremos abaixo, um estudo
quivos oficiais do Dops, a Folha fez uma “semi-
retratação” em nova matéria – publicada no dia cha. Apenas parte dos acervos dos velhos Dops está nos um pouco mais aprofundado comprova cabal-
25/04 – na qual alegava que havia cometido dois arquivos públicos. Muitos documentos foram desviados mente que a ficha foi inteiramente fabricada
erros. O primeiro erro foi afirmar na Primeira Pági- por funcionários e hoje constituem arquivos privados. em software de edição de imagens em compu-
na que a origem da ficha era o “arquivo [do] Dops”. (os destaques em vermelho são meus). tador. Ou seja: não há, e nunca houve, qualquer
Na verdade, o jornal recebeu a imagem por e-mail. O A ficha enviada por e-mail à reporter circulava há possibilidade de que ela pudesse ser considerada
segundo erro foi tratar como autêntica uma ficha cuja alguns meses em conhecidos sites de grupos de autêntica. Veja o porquê na próxima página.
2 pixels = 0,5 mm 2 pixels = 0,5 mm
1 2 3
4
5
7
6
3 pixels
0,75 mm
2. irregular das máquinas de escrever manuais. Já o apresentaria tamanha similaridade no desenho,
número 00237 (supostamente impresso por tipo- na estrutura e no alinhamento das letras, que são
grafia na ficha) tem aparência muito menos níti- absolutamente idênticos. Para completar, as três
2 pixels = 0,5 mm 2 pixels = 0,5 mm da, com bordas irregulares e difusas – num padrão palavras apresentam exatamente a mesma distân-
muito mais coerente com o que se costuma obter cia das linhas da pauta: 3 pixels ou 0,75 mm. Qual-
no escaneamento de impressos físicos. Há uma quer pessoa que já tenha datilografado um texto
posssibilidade razoável de que esse número efeti- sobre linhas pautadas sabe da impossibilidade de
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vamente esteja no papel de fundo, já que é o único se obter esse resultado.
UM ALINHAMENTO IMPROVÁVEL elemento realista de todo o conjunto.
A primeira coisa que chama atenção
na pretensa “ficha policial” da ministra
Dilma é a perfeição do alinhamento das
linhas pretas impressas no formulário e o da foto-
grafia 3 X 4, colada dentro dos limites de um retân-
gulo. Primeiro porque as linhas são extremamente
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nítidas, têm exatos 2 pixels de espessura em todo
o contorno da foto e estão perfeitamente parale- EVIDÊNCIA DO CARIMBO DIGITAL
las com as bordas da imagem escaneada (ou seja, a
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Carimbos são feitos de borracha flexível
exatos 0º e 90º de inclinação) – o que é absoluta- e caracterizam-se por produzir uma im- O DERRADEIRO FURO DA FARSA
mente improvável de ocorrer em um documento pressão distorcida e irregular, sendo co- Para encerrar, um detalhe sutil: o papel
físico digitalizado por escaner. Segundo, porque a mum o surgimento de falhas e borrões em virtude da suposta “ficha” tem formato pouco
foto foi encaixada dentro do retângulo com preci- do entintamento e aplicação por impacto manual. usual para uma ficha de arquivo, aparen-
são de robô japonês: as bordas da imagem mantêm Não é o caso do carimbo acima, que consegue a tando mais serem duas páginas de uma caderneta
uma distância uniforme de exatos 2 pixels (cerca proeza de gravar no papel duas letras A da pala- aberta. O pequeno furo irregular que surge no en-
de 0,5 mm) do fio de contorno na parte esquer- vra CAPTURADO que aparecem na imagem com contro das folhas (aparentemente fruto de desgas-
da, direita e superior do quadro, aproximando-se exatamente a mesma estrutura de pixels, ape- te do papel) permite eliminar a possibilidade de
apenas na parte inferior. O que é impossível de ter nas com algumas alterações na tonalidade, pro- duas imagens ter sido escaneadas da frente e do
sido feito manualmente num tempo em que não vavelmente aplicadas digitalmente para disfarçar verso da ficha, e reunidas digitalmente num só ar-
havia sequer uma boa cola em bastão para facilitar essa uniformidade. quivo. Além disso, é curioso notar que o desgaste
o trabalho. do papel não comprometeu o desenho das letras
datilografadas na sua adjacência, que segue nítido
e regular.
CONCLUSÃO
Qualquer umas das sete evidências apontadas aci-
ma bastaria para – isoladamente – caracterizar essa
suposta ficha como grosseiramente fraudulenta.
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Não há nenhuma possibilidade de que essa ima-
CANTOS MAIS QUE PERFEITOS gem possa ter sido obtida a partir da digitalização
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No período em que a ficha teria sido su- – por qualquer meio – de uma ficha física em papel.
postamente confeccionada (final da dé- ALINHAMENTO DE LINHA E PIXEL Na realidade, só há uma maneira de produzir uma
cada de 1960 ou início dos anos 1970), Já é extremamente improvável que um imagem com essas características: construindo-a
esse tipo de impresso era normalmente produzido impresso tipográfico dos anos 1960 possa em um programa de edição de imagens bitmap
em impressoras tipográficas. Pela própria caracte- ser formado por uma pauta de linhas tão (como o Adobe Photoshop, Corel Photo Paint ou
rística do sistema de construção manual de linhas regulares e perfeitamente alinhadas como as dessa similares) com deliberada intenção de simular um
em tipografia, dificilmente se encontra cantos suposta ficha do Dops. Mas é completamente im- documento antigo. Uma busca rápida na internet
perfeitamente regulares e contínuos – como são possível que, no momento da captura, as linhas da traz dúzias de sites de “clip-art” que oferecem ima-
todos os cantos da ficha analisada. Mesmo que pauta se encaixem com absoluta perfeição sobre gens de papéis envelhecidos similares à da ficha
houvesse sido impressa com uso de um clichê ti- os sensores CCD do escaner, gerando esse padrão analisada. Há também algumas dezenas de fontes
pográfico ou em offset (o que é bastante imprová- regular no qual as linhas ocupam exatamente um tipográficas digitais que simulam as letras de má-
vel) as técnicas de arte-finalização usadas na época único pixel e o espaço entre elas tem sempre 22 pi- quinas de escrever.
difilmente produziriam um resultado tão per- xels de espessura. Como comparação, na imagem
feito. E nenhum escaner capturaria os cantos de da direita vemos um detalhe do resultado real da Na realidade, a ficha analisada surpreende pela ab-
forma tão regular, independente da resolução em- captura das pautas de um caderno em escaner. soluta precariedade da falsificação. Trata-se evi-
pregada. Apenas como comparação, na imagem dentemente de uma manipulação grosseira para
da direita vemos como se apresenta uma captura circulação nas comunidades menos exigentes e
feita por escaner das linhas e cantos um impresso criteriosas da internet, a fazer companhia aos tex-
similar produzido em tipografia. tos apócrifos de Jorge Luis Borges e Gabriel Garcia
Marques. Apenas como exemplo, uma ficha falsa
que fosse produzida em papel e depois escaneada
3 pixels
0,75 mm exigiria análise muito mais sofisticada e difícil de
ser feita para ser desmascarada.
Absolutamente surpreendente, no entanto, é o
fato de um jornal do porte e da importância da
Folha de São Paulo não apenas se prestar à legi-
timação de uma fraude grosseira, como seguir
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insistindo na tese insustentável de que a auten-
CARACTERES INCONSISTENTES ticidade dessa imagem não pode ser descartada.
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No canto superior direito da ficha apa- Qualquer estagiário do setor de arte do jornal der-
rece mais uma evidência do carater frau- OS ASSALTOS GÊMEOS DA FICHA ruba essa canhestra desculpa da redação.
dulento da imagem. Enquanto as letras Nem mesmo os lendários Irmãos Metra-
impressas em corpo pequeno (nas palavras artigo lha conseguiriam produzir três assaltos André Borges Lopes é bacharel em História pela USP,
e Alcunha) têm bordas perfeitamente delineadas e tão idênticos entre si como os que apa- consultor especializado em tecnologia de artes gráficas na
espessura uniforme de 1 pixel, algumas das letras recem nesse detalhe da ficha. Um texto supos- Bytes & Types e professor das disciplinas Captura Digital,
datilografadas apresentam borrões e manchas, tamente datilografado em máquina de escrever Tratamento de Imagem e Gerenciamento da Cor do curso
aplicados digitalmente para simular a aparência manual sobre papel cartão em nenhuma hipótese superior de Fotografia do Centro Universitário Senac.