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Sistemas de Produção:
conceitos e definições no
contexto agrícola
ISSN 2176-2937
Setembro, 2012
Soja
335
CGPE
10035
Documentos 335
Marcelo Hiroshi Hirakuri
Henrique Debiasi
Sergio de Oliveira Procópio
Julio Cezar Franchini
Cesar de Castro
Autores
Sistemas de Produção:
conceitos e definições
no contexto agrícola
Embrapa Soja
Londrina, PR
2012
ISSN 2176-2937
Setembro, 2012
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
Embrapa Soja
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
Marcelo Hiroshi Hirakuri
Cientista da Computação e Administrador, M.Sc.
Analista da Embrapa Soja, Londrina/PR
hirakuri@cnpso.embrapa.br
Henrique Debiasi
Engenheiro Agrônomo, Dr.
Pesquisador da Embrapa Soja, Londrina/PR
debiasi@cnpso.embrapa.br
Sergio de Oliveira Procópio
Engenheiro Agrônomo, Dr.
Pesquisador da Embrapa Soja, Londrina/PR
procopio@cnpso.embrapa.br
Autores
Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na:
Embrapa Soja
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Comitê de Publicações da Unidade
Presidente: José Renato Bouças Farias
Secretário-Executivo: Regina Maria Villas Bôas de Campos Leite
Membros: Alvadi Antonio Balbinot Junior, Claudine Dinali Santos Seixas, Claudio Guilherme
Portela de Carvalho, Décio Luiz Gazzoni, Francismar Correa Marcelino-Guimarães, Marcelo
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Supervisão editorial: Vanessa Fuzinatto Dall´Agnol
Normalização bibliográfica: Ademir Benedito Alves de Lima
Fotos da capa: Julio Cezar Franchini, Manoel Carlos Bassoi, Ronaldo Ronan Rufino/Arquivo
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1a
edição
Versão On-line (2012)
Todos os direitos reservados
A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte,
constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610).
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
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© Embrapa 2012
Sistemas de produção: conceitos e definições no contexto agrícola /
Marcelo Hiroshi Hirakuri, Henrique Debiasi, Sergio de Oliveira Procópio,
Julio Cezar Franchini, Cesar de Castro. – Londrina: Embrapa Soja, 2012.
24 p. (Documentos/ Embrapa Soja, ISSN : 2176-2937 ; n.335).
1.Sistema de produção. I.Título. II.Série.
CDD: 338.162 (21.ed).
Apresentação
A demanda crescente de alimentos e energia, associada à necessidade
de preservação ambiental e à disponibilidade limitada de terras para a
expansão da área cultivada, tem exigido da pesquisa o aprimoramento e o
desenvolvimento continuado de conhecimentos e tecnologias que resul-
tem no aumento da produtividade e na racionalização do uso de insumos,
dos recursos ambientais e dos meios de produção, de forma a garantir a
sustentabilidade econômica, ambiental e social da agricultura brasileira. O
caminho para vencer esse desafio passa pela realização de ações inte-
gradas de pesquisa com enfoque interdisciplinar e sistêmico, buscando o
desenvolvimento e o aperfeiçoamento de sistemas de produção.
Para tanto, o correto entendimento dos conceitos de sistemas é o requisi-
to básico para viabilizar a aplicação do enfoque sistêmico nos projetos de
pesquisa e de transferência de tecnologia. Diante disso, este documento
representa uma maneira de organizar e hierarquizar, em escala geográfica,
um conjunto de informações com as diferentes noções sobre sistemas
no contexto da agricultura. Esta publicação traz ainda exemplos práticos
associados a diferentes conceitos de sistemas aplicados à agropecuária,
no intuito de facilitar a compreensão dos mesmos.
Assim, a Embrapa Soja, mais uma vez, espera estar cumprindo sua
missão e considera que as informações apresentadas neste documento
contribuirão para a utilização correta dos diversos conceitos de siste-
mas no âmbito da agricultura e, dessa forma, servirão como base para
a pesquisa e transferência de tecnologia em sistemas de produção.
José Renato Bouças Farias
Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento
da Embrapa Soja
Julio Cezar Franchini
Engenheiro Agrônomo, Dr.
Pesquisador da Embrapa Soja, Londrina/PR
franchin@cnpso.embrapa.br
Cesar de Castro
Engenheiro Agrônomo, Dr.
Pesquisador da Embrapa Soja, Londrina/PR
ccastro@cnpso.embrapa.br
Sumário
Sistemas de Produção: conceitos e definições
no contexto agrícola
1. Introdução............................................................... 9
2. Definições e exemplificações
de sistemas............................................................... 12
2.1. Sistema de cultivo............................................................ 12
2.2. Sistema de produção........................................................ 13
2.3. Sistema agrícola............................................................... 19
2.4. Bioma............................................................................. 22
3. Considerações finais............................................... 23
Referências............................................................................ 24
Sistemas de Produção:
conceitos e definições
no contexto agrícola
Marcelo Hiroshi Hirakuri
Henrique Debiasi
Sergio de Oliveira Procópio
Julio Cezar Franchini
Cesar de Castro
1. Introdução
A Teoria Geral de Sistemas (TGS) tem por objetivo a formulação de
teorias e a construção de conceitos para aplicação em estudos empí-
ricos de diversas ciências. Tal teoria afirma que as propriedades dos
sistemas não podem ser descritas significativa e completamente a
partir de seus elementos separados, sendo essencialmente totalizan-
te (Bertalanffy, 1973). Nesse contexto, um sistema é definido
como a combinação de partes interligadas formando um todo organi-
zado ou complexo (Chiavenato, 1993).
Em um esquema hierárquico de composição, o conjunto de sistemas
representa o supersistema, enquanto os subsistemas dizem respeito
às partes integradas que formam os sistemas. Os supersistemas estão
inseridos dentro de um hipersistema, conforme indicado na Figura 1.
Ao utilizar a TGS no contexto agropecuário, a definição de sistemas
pode ser padronizada por meio de escala geográfica, da seguinte forma:
unidade produtiva (talhão, gleba, lavoura, etc); estabelecimento ou pro-
priedade rural; microrregião e/ou mesorregião (Figura 2). A partir dessa
padronização e, utilizando Loomis & Connor (1992) como referência,
10 11
Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola
esta publicação tem como objetivo organizar, padronizar e ampliar os
conceitos de “sistemas” em contextos agrícolas do Brasil. Para fins de
melhor entendimento, todas as definições apresentadas estão associa-
das com exemplos que traduzem a realidade de diversas regiões agríco-
las do país.
Paraná: Mesorregiões
Mapas de Biomas do Brasil
Mesorregião: Norte
Central Paranaense
Microrregião: Londrina
Município: Londrina
Fazenda Santa Terezinha
Talhão
Figura 2. Representação da TGS no contexto agropecuário em escala geográfica.
Nota: O território brasileiro comporta seis biomas: Pampa, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal,
Caatinga e Amazônico (IBGE, 2004). O Estado do Paraná, localizado em sua maior parte no
bioma Mata Atlântica, é composto por dez mesorregiões: noroeste, centro ocidental, norte
central, norte pioneiro, centro oriental, oeste, sudoeste, centro sul, sudeste e metropolitana de
Curitiba. A mesorregião norte central paranaense é subdividida nas seguintes microrregiões:
Astorga, Porecatu, Floraí, Maringá, Apucarana, Londrina, Faxinal e Ivaiporã. A microrregião de
Londrina engloba os municípios de Cambé, Ibiporã, Londrina, Pitangueiras, Rolândia e Tama-
rana. O talhão (23° 11› de latitude Sul, e 51° 11› de longitude Oeste) demarcado dentro da
Fazenda Santa Terezinha, situada no município de Londrina/PR, é utilizado com o sistema de
rotação soja-trigo; soja-aveia; milho-aveia.
Supersistema
Sistema A
Sistema B
Sistema C
Subsistema A2
Subsistema A1
Subsistema A3 Subsistema A4
Subsistema B2
Subsistema B1
Subsistema B3
Subsistema C2
Subsistema C1
Subsistema C3 Subsistema C4
Hipersistema
Figura 1. Representação da hierarquia estabelecida com base na teoria geral dos sistemas
(TGS). Adaptado de Chiavenato (1993).
12 13
Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola
2. Definições e exemplificações
de sistemas
Com uma tipologia baseada em escala geográfica, padronizou-se as
seguintes definições de sistemas no cenário agropecuário:
• sistema de cultivo, que indica o subsistema;
• sistema de produção, que representa o sistema propriamente dito;
• sistema agrícola, que diz respeito ao supersistema;
• bioma, referente ao hipersistema.
2.1. Sistema de cultivo
O sistema de cultivo refere-se às práticas comuns de manejo asso-
ciadas a uma determinada espécie vegetal, visando sua produção a
partir da combinação lógica e ordenada de um conjunto de atividades e
operações. No caso da produção animal, esse processo é chamado de
sistema de criação. O fluxograma abaixo (Figura 3) ilustra etapas que
geralmente compõe um sistema de cultivo de soja, complementadas
pelas atividades de planejamento e de pós-colheita.
2.2. Sistema de produção
O sistema de produção é composto pelo conjunto de sistemas de
cultivo e/ou de criação no âmbito de uma propriedade rural, definidos
a partir dos fatores de produção (terra, capital e mão-de-obra) e interli-
gados por um processo de gestão. A partir dos conceitos de interação
e complexidade, base da TGS (Bertalanffy, 1973; Chiavenato,
1993), os sistemas de produção foram classificados pela complexidade
e pelo grau de interação entre os sistemas de cultivo e/ou de criação,
que formam tais sistemas de produção. Em relação a sua complexida-
de, os sistemas de produção podem ser classificados como:
a) Sistema em monocultura ou produção isolada: ocorre quando, em
uma determinada área, a produção vegetal ou animal se dá de forma
isolada em um período específico, que normalmente é categorizado por
um ano agrícola. Como exemplo de monocultura, tem-se o cultivo de
soja intercalado por períodos de pousio, durante vários anos, na mes-
ma gleba. Na propriedade rural exemplificada na Figura 4, existem dois
sistemas de cultivo na safra em monocultura: soja na gleba 1 e milho
na gleba 2.
Semeadura e adubação
• Sementes
• Tratamento de sementes
• Inoculação
• Adubação de base
•
Planejamento
• Capital
• Mão-de-obra
• Insumos
• Seleção da área
Manejo da área
• Calagem
• Gessagem
• Dessecação
Controle fitossanitário
• Plantas daninhas
• Insetos-praga
• Doenças
Colheita
• Colheita
• Transporte externo
Pós-colheita
• Secagem
• Armazenagem
• Transporte
Figura 3. Fluxograma resumido de etapas de um sistema de cultivo de soja (blocos em
azul). Blocos em laranja representam atividades complementares.
Pousio
Soja
Pousio
Milho
Pousio
Soja
Pousio
Milho
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Pousio
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Pousio
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Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6
Gleba 1
Gleba 2
Figura 4. Exemplo de sistema em monocultura ou produção isolada em duas glebas com-
ponentes de uma propriedade rural.
b) Sistema em sucessão de culturas: ocorre quando se tem a repetição
sazonal de uma sequência de duas espécies vegetais no mesmo espaço
produtivo, por vários anos. Por exemplo, em uma determinada gleba,
pode ser adotado um sistema de sucessão soja-trigo, sendo o cultivo
da soja na primavera/verão e do trigo no outono/inverno, por vários
14 15
Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola
anos. Na mesma propriedade em outra gleba a sucessão utilizada pode
ser de soja na primavera/verão e milho no outono/inverno (Figura 5).
d) Sistema em consorciação de culturas ou policultivo: ocorre quando
duas ou mais culturas ocupam a mesma área agrícola em um mesmo
período de tempo. Como exemplo, o produtor pode adotar um sistema
consorciado com o feijão cultivado nas entrelinhas do milho (Figura 7),
mais comum em áreas de agricultura familiar. Ressalta-se que sistemas
consorciados podem estar inseridos em sistemas de sucessão (item b)
ou rotação (item c) de culturas.
Trigo
Soja
Milho
Soja
Trigo
Soja
Milho
Soja
Trigo
Soja
Milho
Soja
Trigo
Soja
Milho
Soja
Trigo
Soja
Milho
Soja
Trigo
Soja
Milho
Soja
Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6
Gleba 1
Gleba 2
Figura 5. Exemplo de sistema de sucessão trigo/soja (Gleba 1) e de milho/soja (Gleba 2)
em uma propriedade rural.
c) Sistema em rotação de culturas: ocorre por meio da alternância ordena-
da, cíclica (temporal) e sazonal de diferentes espécies vegetais em um es-
paço produtivo específico. Por exemplo, em uma gleba podem ser adota-
dos durante seis anos, três ciclos de um sistema de rotação de culturas de
dois anos, em que, no primeiro ano tem-se soja na primavera/verão e trigo
no outono/inverno, enquanto no segundo ano tem-se milho na primavera/
verão e aveia ou girassol no outono/inverno (Figura 6). Ilustra-se, desse
modo, que na rotação de culturas, em uma determinada estação, ocorre
alternância de espécies vegetais nos diferentes anos.
Trigo
Soja
Aveia
Milho
Aveia
Milho
Trigo
Soja
Trigo
Soja
Girassol
Milho
Girassol
Milho
Trigo
Soja
Trigo
Soja
Aveia
Milho
Aveia
Milho
Trigo
Soja
Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6
Gleba 1
Gleba 2
1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo
Figura 6. Exemplo de sistema de rotação de culturas trigo-soja (ano 1) e aveia ou
girassol-milho (ano 2), em duas glebas componentes de uma propriedade rural.
Figura 7. Sistema de consorciação entre milho e feijão no Estado de Sergipe.
Antonio
Carlos
Barreto
e) Sistema em integração: ocorre quando sistemas de cultivo/criação
de diferentes finalidades (agricultura ou lavoura, pecuária e floresta)
são integrados entre si, em uma mesma gleba, com o intuito de ma-
ximizar o uso da área e dos meios de produção, e ainda diversificar a
renda. Nesse contexto, destacam-se quatro possíveis tipos de sistemas
integrados:
16 17
Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola
• lavoura-pecuária
(Ex.: milho e braquiária ou girassol e braquiária – Figura 8). Nesses
exemplos, é importante frisar que, caso a braquiária não seja utilizada para
pastejo, e sim para outros fins, como por exemplo, a formação de palhada
no sistema plantio direto (SPD), esse sistema de produção não se caracteriza
como integração e sim como consórcio (item d);
• lavoura-floresta
(Ex.: soja nas entrelinhas do eucalipto – Figura 9);
• pecuária-floresta
(Ex.: gado sobre pastagem em reflorestamento de eucalipto – Figura 10);
• lavoura-pecuária-floresta
(Ex.: cultivo de milho seguido de pastagem com entrada de bovinos em
área de eucalipto).
Figura 8. Sistema de integração lavoura-pecuária, com o cultivo de braquiária nas entre-
linhas do girassol, para pastejo após a colheita da oleaginosa.
Figura 9. Sistema de integração lavoura-floresta, com o cultivo de soja nas entrelinhas do
eucalipto.
Figura 10. Sistema de integração pecuária-floresta, com o cultivo de braquiária para
pastejo nas entrelinhas do eucalipto.
Alexandre
Magno
Brighenti
Julio
Cezar
Franchini
Julio
Cezar
Franchini
18 19
Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola
Em relação ao grau de interação entre os sistemas de cultivo e/ou
de criação (subsistemas) que formam um determinado sistema de
produção, este pode didaticamente ser classificado em:
Ausência de interação: ocorre quando os diferentes sistemas de cul-
tivo e/ou de criação são conduzidos de forma isolada, não havendo
nenhum tipo de interação espacial (sucessão, rotação, consorciação
ou integração) entre os mesmos, ou de aporte de resíduos ou produ-
tos gerados entre os sistemas de cultivo ou de criação. Por exemplo,
na primavera/verão o produtor pode cultivar soja em determinada
área e milho em outra, sem haver qualquer interação entre as cul-
turas (Figura 4). Em outra situação, pode haver produção animal
em uma área e de grãos em outra, sem que haja o fornecimento de
grãos, partes vegetativas ou de restos da lavoura para a alimentação
animal, ou de resíduos gerados na produção animal, como o ester-
co e água de lavagem, para a fertilização da lavoura. É importante
ressaltar que, do ponto de vista da TGS, os subsistemas estão in-
terligados pelo processo de gestão, podendo compartilhar insumos,
máquinas e mão-obra.
Interação entre sistemas de cultivo/criação conduzidos em diferen-
tes áreas físicas: ocorre quando se dá a interação entre sistemas de
cultivo ou destes com os sistemas de criação, que estejam loca-
lizados em diferentes áreas do estabelecimento rural. Em relação
aos resíduos da produção animal, o esterco produzido em uma área
pode ser utilizado como fertilizante em outra gleba da propriedade,
ocupada por lavoura ou por pastagem. Por sua vez, os produtos/re-
síduos da produção vegetal de uma gleba podem ser utilizados para
a alimentação animal (Ex.: milho produzido para silagem; grãos fora
das especificações e restos de processamentos da produção agrícola
utilizados para a pecuária de corte e/ou leiteira). Este tipo de intera-
ção pode ser considerado de baixo sinergismo.
Interação entre sistemas de cultivo/criação conduzidos em um
mesmo espaço físico: ocorre quando se dá a interação entre siste-
mas de cultivo ou destes com os sistemas de criação, que estejam
localizados na mesma gleba ou talhão da propriedade, ou seja,
é proveniente de sistemas de sucessão, rotação, consorciação ou
integração. Nesse tipo de interação, uma espécie é influenciada
direta ou indiretamente por outra espécie. Exemplos: 1) o nitrogênio
oriundo da fixação biológica pelo cultivo anterior de uma espécie
leguminosa, liberado no solo pela decomposição dos seus resíduos,
e absorvido por outra cultura implantada na sequência; 2) a redu-
ção da incidência de mofo-branco na cultura do feijão cultivado em
sucessão ou rotação com a braquiária; 3) a redução da população
de nematoides no solo em sistema de rotação ou sucessão da soja
com espécies do gênero Crotalaria. Este tipo de interação pode ser
considerado de alto sinergismo.
2.3. Sistema agrícola
O sistema agrícola refere-se à organização regional dos diversos
sistemas de produção vegetal e/ou animal, que considera as peculia-
ridades e similaridades desses diferentes sistemas. Essa organização
deve permitir a construção de modelos e arranjos produtivos que
descrevam da forma mais acurada possível, os sistemas de produ-
ção predominantes na região. Exemplos:
• sistema de sucessão soja – milho/trigo em SPD na região de Londrina-
PR;
• sistema de sucessão soja – milho/sorgo em SPD na região de Rio Verde-
GO;
• sistema de rotação soja-trigo (ano 1); soja-aveia ou nabo forrageiro (ano
2); milho-nabo forrageiro-trigo (ano 3); e soja-aveia (ano 4), em SPD
na região de Passo Fundo-RS.
• sistema de sucessão soja – milho/algodão em SPD na região de Sapezal-
MT;
• sistema de sucessão soja – girassol/sorgo em SPD na região de Campo
Novo do Parecis-MT;
20 21
Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola
• sistema de integração arroz irrigado-azevém para pastejo, na região de
Pelotas-RS.
• sistema de sucessão de cana-de-açúcar com cultivo de amendoim
durante o período de reforma do canavial na região de Sertãozinho-SP.
• sistema de sucessão de cana-de-açúcar com cultivo de Crotalaria
spectabilis durante o período de reforma do canavial na região de
Coruripe-AL.
A utilização dos conceitos advindos da TGS no contexto agrícola,
baseada na escala geográfica, é exemplificada pelo esquema da Fi-
gura 11, o qual se refere à região de Londrina-PR. É possível obser-
var que o sistema agrícola da região é composto predominantemente
por um sistema de produção envolvendo o cultivo de soja no verão e
de milho ou trigo no outono/inverno, em sucessão de culturas.
As práticas de manejo visando à produção de soja, milho e trigo,
que definem os respectivos sistemas de cultivo, são semelhantes
quando se comparam diferentes sistemas de produção praticados
nas propriedades da região, apresentando aspectos comuns como o
alto grau de mecanização das operações, o uso do SPD, da aduba-
ção química e do controle químico de plantas daninhas, pragas e do-
enças, entre outros, refletindo assim um elevado nível tecnológico.
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Figura 11. Composição predominante (sistemas de cultivo e sistemas de produção) do
sistema agrícola característico da região de Londrina/PR.
Nota: A linha contínua delimita o sistema agrícola (região). As linhas tracejadas delimitam os sistemas
de produção nas propriedades agrícolas, conduzidos em sucessão (linhas tracejadas pretas) ou
rotação (linhas tracejadas verdes). As linhas pontilhadas representam as glebas ocupadas pelos
sistemas de cultivo de soja, milho, trigo ou aveia. M/S = cultivo de milho no outono-inverno e soja
no verão; T/S = cultivo de trigo no outono-inverno e soja no verão; A/M = cultivo de aveia no
outono-inverno e milho no verão.
22 23
Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola
2.4. Bioma
O bioma se refere o espaço físico onde os sistemas agrícolas estão in-
seridos (Figura 12). É importante salientar que o bioma não representa
um conjunto de sistemas agrícolas. Entende-se por bioma um conjunto
de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de
vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições
geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que
resulta em uma diversidade biológica própria (IBGE, 2004). Ressalta-
-se que as características geoclimáticas de cada bioma influenciam
significativamente na conformação dos sistemas agrícolas, podendo
limitar determinados sistemas de cultivo ou de criação. Por exemplo,
dificilmente será possível a realização de duas safras de culturas anuais
em um mesmo ano agrícola em sucessão no Bioma Caatinga, sem a
utilização criteriosa da irrigação.
3. Considerações finais
A partir da teoria geral de sistemas (TGS), foi possível criar uma
tipologia de organizações agrícolas em sistemas, geograficamente
hierarquizada, partindo das práticas de manejo adotadas na lavoura/
criação (sistemas de cultivo/criação) dentro da gleba, passando pela
combinação dos sistemas de cultivo/criação na propriedade (siste-
mas de produção) e chegando à escala regional (organização dos
sistemas de produção em sistemas agrícolas). Essa hierarquização
encontra-se inserida dentro de um determinado bioma, cujas carac-
terísticas geoclimáticas influenciam na definição e estruturação dos
sistemas.
O entendimento dos conceitos de sistemas no contexto agrícola é
pertinente e de fundamental importância para a avaliação da sus-
tentabilidade da produção agrícola. Isso porque permitirá analisar as
interações existentes entre sistemas de cultivo, sistemas de produ-
ção e sistemas agrícolas, de tal forma que seja possível identificar
e criar parâmetros e indicadores para a caracterização e avaliação
das possíveis vulnerabilidades e potencialidades associadas a esses
subsistemas, sistemas e supersistemas.
Outra questão importante é que a organização e hierarquização dos
conceitos de sistemas na agricultura constituem-se no ponto de par-
tida para a aplicação do enfoque sistêmico nas ações de pesquisa e
de transferência de tecnologia.
Assim, a organização desses conceitos permitirá o planejamento
de estratégias mais eficientes para o aumento da sustentabilida-
de e competitividade da agricultura brasileira, apoiadas no melhor
direcionamento dos esforços de Pesquisa & Desenvolvimento e de
Transferência de Tecnologias, bem como na proposição de políticas
públicas.
Figura 12. Lavoura de soja no bioma amazônico, em Sinop-MT.
Julio
Cezar
Franchini
24
Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola
Referências
BERTALANFFY, L. V. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes,
1973. 351p.
CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 4.ed. São
Paulo: Makron Books, 1993. 920p.
IBGE. Mapa de biomas do Brasil – Primeira aproximação. 2004.
Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Cartas_e_Mapas/Mapas_Murais/
biomas pdf.zip>. Acesso em: 29 de ago. 2012.
LOOMIS, R. S.; CONNOR, D. J. Crop ecology-productivity and manage-
ment in agricultural systems. Cambridge: Cambridge University Press,
1992. 538p.

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  • 1. Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola ISSN 2176-2937 Setembro, 2012 Soja 335 CGPE 10035
  • 2. Documentos 335 Marcelo Hiroshi Hirakuri Henrique Debiasi Sergio de Oliveira Procópio Julio Cezar Franchini Cesar de Castro Autores Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Embrapa Soja Londrina, PR 2012 ISSN 2176-2937 Setembro, 2012 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária Embrapa Soja Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento
  • 3. Marcelo Hiroshi Hirakuri Cientista da Computação e Administrador, M.Sc. Analista da Embrapa Soja, Londrina/PR hirakuri@cnpso.embrapa.br Henrique Debiasi Engenheiro Agrônomo, Dr. Pesquisador da Embrapa Soja, Londrina/PR debiasi@cnpso.embrapa.br Sergio de Oliveira Procópio Engenheiro Agrônomo, Dr. Pesquisador da Embrapa Soja, Londrina/PR procopio@cnpso.embrapa.br Autores Exemplares desta publicação podem ser adquiridos na: Embrapa Soja Endereço: Rod. Carlos João Strass, s/n, acesso Orlando Amaral, CEP 86001-970, C.Postal 231, Distrito da Warta, Londrina, PR. Fone: (43) 3371 6000 Fax: (43) 33716100 E-mail: sac@cnpso.embrapa.br Comitê de Publicações da Unidade Presidente: José Renato Bouças Farias Secretário-Executivo: Regina Maria Villas Bôas de Campos Leite Membros: Alvadi Antonio Balbinot Junior, Claudine Dinali Santos Seixas, Claudio Guilherme Portela de Carvalho, Décio Luiz Gazzoni, Francismar Correa Marcelino-Guimarães, Marcelo Alvares de Oliveira, Maria Cristina Neves de Oliveira e Norman Neumaier Supervisão editorial: Vanessa Fuzinatto Dall´Agnol Normalização bibliográfica: Ademir Benedito Alves de Lima Fotos da capa: Julio Cezar Franchini, Manoel Carlos Bassoi, Ronaldo Ronan Rufino/Arquivo Embrapa Soja Editoração eletrônica: Vanessa Fuzinatto Dall´Agnol 1a edição Versão On-line (2012) Todos os direitos reservados A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação dos direitos autorais (Lei no 9.610). Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Embrapa Soja © Embrapa 2012 Sistemas de produção: conceitos e definições no contexto agrícola / Marcelo Hiroshi Hirakuri, Henrique Debiasi, Sergio de Oliveira Procópio, Julio Cezar Franchini, Cesar de Castro. – Londrina: Embrapa Soja, 2012. 24 p. (Documentos/ Embrapa Soja, ISSN : 2176-2937 ; n.335). 1.Sistema de produção. I.Título. II.Série. CDD: 338.162 (21.ed).
  • 4. Apresentação A demanda crescente de alimentos e energia, associada à necessidade de preservação ambiental e à disponibilidade limitada de terras para a expansão da área cultivada, tem exigido da pesquisa o aprimoramento e o desenvolvimento continuado de conhecimentos e tecnologias que resul- tem no aumento da produtividade e na racionalização do uso de insumos, dos recursos ambientais e dos meios de produção, de forma a garantir a sustentabilidade econômica, ambiental e social da agricultura brasileira. O caminho para vencer esse desafio passa pela realização de ações inte- gradas de pesquisa com enfoque interdisciplinar e sistêmico, buscando o desenvolvimento e o aperfeiçoamento de sistemas de produção. Para tanto, o correto entendimento dos conceitos de sistemas é o requisi- to básico para viabilizar a aplicação do enfoque sistêmico nos projetos de pesquisa e de transferência de tecnologia. Diante disso, este documento representa uma maneira de organizar e hierarquizar, em escala geográfica, um conjunto de informações com as diferentes noções sobre sistemas no contexto da agricultura. Esta publicação traz ainda exemplos práticos associados a diferentes conceitos de sistemas aplicados à agropecuária, no intuito de facilitar a compreensão dos mesmos. Assim, a Embrapa Soja, mais uma vez, espera estar cumprindo sua missão e considera que as informações apresentadas neste documento contribuirão para a utilização correta dos diversos conceitos de siste- mas no âmbito da agricultura e, dessa forma, servirão como base para a pesquisa e transferência de tecnologia em sistemas de produção. José Renato Bouças Farias Chefe Adjunto de Pesquisa e Desenvolvimento da Embrapa Soja Julio Cezar Franchini Engenheiro Agrônomo, Dr. Pesquisador da Embrapa Soja, Londrina/PR franchin@cnpso.embrapa.br Cesar de Castro Engenheiro Agrônomo, Dr. Pesquisador da Embrapa Soja, Londrina/PR ccastro@cnpso.embrapa.br
  • 5. Sumário Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola 1. Introdução............................................................... 9 2. Definições e exemplificações de sistemas............................................................... 12 2.1. Sistema de cultivo............................................................ 12 2.2. Sistema de produção........................................................ 13 2.3. Sistema agrícola............................................................... 19 2.4. Bioma............................................................................. 22 3. Considerações finais............................................... 23 Referências............................................................................ 24
  • 6. Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Marcelo Hiroshi Hirakuri Henrique Debiasi Sergio de Oliveira Procópio Julio Cezar Franchini Cesar de Castro 1. Introdução A Teoria Geral de Sistemas (TGS) tem por objetivo a formulação de teorias e a construção de conceitos para aplicação em estudos empí- ricos de diversas ciências. Tal teoria afirma que as propriedades dos sistemas não podem ser descritas significativa e completamente a partir de seus elementos separados, sendo essencialmente totalizan- te (Bertalanffy, 1973). Nesse contexto, um sistema é definido como a combinação de partes interligadas formando um todo organi- zado ou complexo (Chiavenato, 1993). Em um esquema hierárquico de composição, o conjunto de sistemas representa o supersistema, enquanto os subsistemas dizem respeito às partes integradas que formam os sistemas. Os supersistemas estão inseridos dentro de um hipersistema, conforme indicado na Figura 1. Ao utilizar a TGS no contexto agropecuário, a definição de sistemas pode ser padronizada por meio de escala geográfica, da seguinte forma: unidade produtiva (talhão, gleba, lavoura, etc); estabelecimento ou pro- priedade rural; microrregião e/ou mesorregião (Figura 2). A partir dessa padronização e, utilizando Loomis & Connor (1992) como referência,
  • 7. 10 11 Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola esta publicação tem como objetivo organizar, padronizar e ampliar os conceitos de “sistemas” em contextos agrícolas do Brasil. Para fins de melhor entendimento, todas as definições apresentadas estão associa- das com exemplos que traduzem a realidade de diversas regiões agríco- las do país. Paraná: Mesorregiões Mapas de Biomas do Brasil Mesorregião: Norte Central Paranaense Microrregião: Londrina Município: Londrina Fazenda Santa Terezinha Talhão Figura 2. Representação da TGS no contexto agropecuário em escala geográfica. Nota: O território brasileiro comporta seis biomas: Pampa, Mata Atlântica, Cerrado, Pantanal, Caatinga e Amazônico (IBGE, 2004). O Estado do Paraná, localizado em sua maior parte no bioma Mata Atlântica, é composto por dez mesorregiões: noroeste, centro ocidental, norte central, norte pioneiro, centro oriental, oeste, sudoeste, centro sul, sudeste e metropolitana de Curitiba. A mesorregião norte central paranaense é subdividida nas seguintes microrregiões: Astorga, Porecatu, Floraí, Maringá, Apucarana, Londrina, Faxinal e Ivaiporã. A microrregião de Londrina engloba os municípios de Cambé, Ibiporã, Londrina, Pitangueiras, Rolândia e Tama- rana. O talhão (23° 11› de latitude Sul, e 51° 11› de longitude Oeste) demarcado dentro da Fazenda Santa Terezinha, situada no município de Londrina/PR, é utilizado com o sistema de rotação soja-trigo; soja-aveia; milho-aveia. Supersistema Sistema A Sistema B Sistema C Subsistema A2 Subsistema A1 Subsistema A3 Subsistema A4 Subsistema B2 Subsistema B1 Subsistema B3 Subsistema C2 Subsistema C1 Subsistema C3 Subsistema C4 Hipersistema Figura 1. Representação da hierarquia estabelecida com base na teoria geral dos sistemas (TGS). Adaptado de Chiavenato (1993).
  • 8. 12 13 Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola 2. Definições e exemplificações de sistemas Com uma tipologia baseada em escala geográfica, padronizou-se as seguintes definições de sistemas no cenário agropecuário: • sistema de cultivo, que indica o subsistema; • sistema de produção, que representa o sistema propriamente dito; • sistema agrícola, que diz respeito ao supersistema; • bioma, referente ao hipersistema. 2.1. Sistema de cultivo O sistema de cultivo refere-se às práticas comuns de manejo asso- ciadas a uma determinada espécie vegetal, visando sua produção a partir da combinação lógica e ordenada de um conjunto de atividades e operações. No caso da produção animal, esse processo é chamado de sistema de criação. O fluxograma abaixo (Figura 3) ilustra etapas que geralmente compõe um sistema de cultivo de soja, complementadas pelas atividades de planejamento e de pós-colheita. 2.2. Sistema de produção O sistema de produção é composto pelo conjunto de sistemas de cultivo e/ou de criação no âmbito de uma propriedade rural, definidos a partir dos fatores de produção (terra, capital e mão-de-obra) e interli- gados por um processo de gestão. A partir dos conceitos de interação e complexidade, base da TGS (Bertalanffy, 1973; Chiavenato, 1993), os sistemas de produção foram classificados pela complexidade e pelo grau de interação entre os sistemas de cultivo e/ou de criação, que formam tais sistemas de produção. Em relação a sua complexida- de, os sistemas de produção podem ser classificados como: a) Sistema em monocultura ou produção isolada: ocorre quando, em uma determinada área, a produção vegetal ou animal se dá de forma isolada em um período específico, que normalmente é categorizado por um ano agrícola. Como exemplo de monocultura, tem-se o cultivo de soja intercalado por períodos de pousio, durante vários anos, na mes- ma gleba. Na propriedade rural exemplificada na Figura 4, existem dois sistemas de cultivo na safra em monocultura: soja na gleba 1 e milho na gleba 2. Semeadura e adubação • Sementes • Tratamento de sementes • Inoculação • Adubação de base • Planejamento • Capital • Mão-de-obra • Insumos • Seleção da área Manejo da área • Calagem • Gessagem • Dessecação Controle fitossanitário • Plantas daninhas • Insetos-praga • Doenças Colheita • Colheita • Transporte externo Pós-colheita • Secagem • Armazenagem • Transporte Figura 3. Fluxograma resumido de etapas de um sistema de cultivo de soja (blocos em azul). Blocos em laranja representam atividades complementares. Pousio Soja Pousio Milho Pousio Soja Pousio Milho Pousio Soja Pousio Milho Pousio Soja Pousio Milho Pousio Soja Pousio Milho Pousio Soja Pousio Milho Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Gleba 1 Gleba 2 Figura 4. Exemplo de sistema em monocultura ou produção isolada em duas glebas com- ponentes de uma propriedade rural. b) Sistema em sucessão de culturas: ocorre quando se tem a repetição sazonal de uma sequência de duas espécies vegetais no mesmo espaço produtivo, por vários anos. Por exemplo, em uma determinada gleba, pode ser adotado um sistema de sucessão soja-trigo, sendo o cultivo da soja na primavera/verão e do trigo no outono/inverno, por vários
  • 9. 14 15 Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola anos. Na mesma propriedade em outra gleba a sucessão utilizada pode ser de soja na primavera/verão e milho no outono/inverno (Figura 5). d) Sistema em consorciação de culturas ou policultivo: ocorre quando duas ou mais culturas ocupam a mesma área agrícola em um mesmo período de tempo. Como exemplo, o produtor pode adotar um sistema consorciado com o feijão cultivado nas entrelinhas do milho (Figura 7), mais comum em áreas de agricultura familiar. Ressalta-se que sistemas consorciados podem estar inseridos em sistemas de sucessão (item b) ou rotação (item c) de culturas. Trigo Soja Milho Soja Trigo Soja Milho Soja Trigo Soja Milho Soja Trigo Soja Milho Soja Trigo Soja Milho Soja Trigo Soja Milho Soja Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Gleba 1 Gleba 2 Figura 5. Exemplo de sistema de sucessão trigo/soja (Gleba 1) e de milho/soja (Gleba 2) em uma propriedade rural. c) Sistema em rotação de culturas: ocorre por meio da alternância ordena- da, cíclica (temporal) e sazonal de diferentes espécies vegetais em um es- paço produtivo específico. Por exemplo, em uma gleba podem ser adota- dos durante seis anos, três ciclos de um sistema de rotação de culturas de dois anos, em que, no primeiro ano tem-se soja na primavera/verão e trigo no outono/inverno, enquanto no segundo ano tem-se milho na primavera/ verão e aveia ou girassol no outono/inverno (Figura 6). Ilustra-se, desse modo, que na rotação de culturas, em uma determinada estação, ocorre alternância de espécies vegetais nos diferentes anos. Trigo Soja Aveia Milho Aveia Milho Trigo Soja Trigo Soja Girassol Milho Girassol Milho Trigo Soja Trigo Soja Aveia Milho Aveia Milho Trigo Soja Ano 1 Ano 2 Ano 3 Ano 4 Ano 5 Ano 6 Gleba 1 Gleba 2 1º ciclo 2º ciclo 3º ciclo Figura 6. Exemplo de sistema de rotação de culturas trigo-soja (ano 1) e aveia ou girassol-milho (ano 2), em duas glebas componentes de uma propriedade rural. Figura 7. Sistema de consorciação entre milho e feijão no Estado de Sergipe. Antonio Carlos Barreto e) Sistema em integração: ocorre quando sistemas de cultivo/criação de diferentes finalidades (agricultura ou lavoura, pecuária e floresta) são integrados entre si, em uma mesma gleba, com o intuito de ma- ximizar o uso da área e dos meios de produção, e ainda diversificar a renda. Nesse contexto, destacam-se quatro possíveis tipos de sistemas integrados:
  • 10. 16 17 Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola • lavoura-pecuária (Ex.: milho e braquiária ou girassol e braquiária – Figura 8). Nesses exemplos, é importante frisar que, caso a braquiária não seja utilizada para pastejo, e sim para outros fins, como por exemplo, a formação de palhada no sistema plantio direto (SPD), esse sistema de produção não se caracteriza como integração e sim como consórcio (item d); • lavoura-floresta (Ex.: soja nas entrelinhas do eucalipto – Figura 9); • pecuária-floresta (Ex.: gado sobre pastagem em reflorestamento de eucalipto – Figura 10); • lavoura-pecuária-floresta (Ex.: cultivo de milho seguido de pastagem com entrada de bovinos em área de eucalipto). Figura 8. Sistema de integração lavoura-pecuária, com o cultivo de braquiária nas entre- linhas do girassol, para pastejo após a colheita da oleaginosa. Figura 9. Sistema de integração lavoura-floresta, com o cultivo de soja nas entrelinhas do eucalipto. Figura 10. Sistema de integração pecuária-floresta, com o cultivo de braquiária para pastejo nas entrelinhas do eucalipto. Alexandre Magno Brighenti Julio Cezar Franchini Julio Cezar Franchini
  • 11. 18 19 Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Em relação ao grau de interação entre os sistemas de cultivo e/ou de criação (subsistemas) que formam um determinado sistema de produção, este pode didaticamente ser classificado em: Ausência de interação: ocorre quando os diferentes sistemas de cul- tivo e/ou de criação são conduzidos de forma isolada, não havendo nenhum tipo de interação espacial (sucessão, rotação, consorciação ou integração) entre os mesmos, ou de aporte de resíduos ou produ- tos gerados entre os sistemas de cultivo ou de criação. Por exemplo, na primavera/verão o produtor pode cultivar soja em determinada área e milho em outra, sem haver qualquer interação entre as cul- turas (Figura 4). Em outra situação, pode haver produção animal em uma área e de grãos em outra, sem que haja o fornecimento de grãos, partes vegetativas ou de restos da lavoura para a alimentação animal, ou de resíduos gerados na produção animal, como o ester- co e água de lavagem, para a fertilização da lavoura. É importante ressaltar que, do ponto de vista da TGS, os subsistemas estão in- terligados pelo processo de gestão, podendo compartilhar insumos, máquinas e mão-obra. Interação entre sistemas de cultivo/criação conduzidos em diferen- tes áreas físicas: ocorre quando se dá a interação entre sistemas de cultivo ou destes com os sistemas de criação, que estejam loca- lizados em diferentes áreas do estabelecimento rural. Em relação aos resíduos da produção animal, o esterco produzido em uma área pode ser utilizado como fertilizante em outra gleba da propriedade, ocupada por lavoura ou por pastagem. Por sua vez, os produtos/re- síduos da produção vegetal de uma gleba podem ser utilizados para a alimentação animal (Ex.: milho produzido para silagem; grãos fora das especificações e restos de processamentos da produção agrícola utilizados para a pecuária de corte e/ou leiteira). Este tipo de intera- ção pode ser considerado de baixo sinergismo. Interação entre sistemas de cultivo/criação conduzidos em um mesmo espaço físico: ocorre quando se dá a interação entre siste- mas de cultivo ou destes com os sistemas de criação, que estejam localizados na mesma gleba ou talhão da propriedade, ou seja, é proveniente de sistemas de sucessão, rotação, consorciação ou integração. Nesse tipo de interação, uma espécie é influenciada direta ou indiretamente por outra espécie. Exemplos: 1) o nitrogênio oriundo da fixação biológica pelo cultivo anterior de uma espécie leguminosa, liberado no solo pela decomposição dos seus resíduos, e absorvido por outra cultura implantada na sequência; 2) a redu- ção da incidência de mofo-branco na cultura do feijão cultivado em sucessão ou rotação com a braquiária; 3) a redução da população de nematoides no solo em sistema de rotação ou sucessão da soja com espécies do gênero Crotalaria. Este tipo de interação pode ser considerado de alto sinergismo. 2.3. Sistema agrícola O sistema agrícola refere-se à organização regional dos diversos sistemas de produção vegetal e/ou animal, que considera as peculia- ridades e similaridades desses diferentes sistemas. Essa organização deve permitir a construção de modelos e arranjos produtivos que descrevam da forma mais acurada possível, os sistemas de produ- ção predominantes na região. Exemplos: • sistema de sucessão soja – milho/trigo em SPD na região de Londrina- PR; • sistema de sucessão soja – milho/sorgo em SPD na região de Rio Verde- GO; • sistema de rotação soja-trigo (ano 1); soja-aveia ou nabo forrageiro (ano 2); milho-nabo forrageiro-trigo (ano 3); e soja-aveia (ano 4), em SPD na região de Passo Fundo-RS. • sistema de sucessão soja – milho/algodão em SPD na região de Sapezal- MT; • sistema de sucessão soja – girassol/sorgo em SPD na região de Campo Novo do Parecis-MT;
  • 12. 20 21 Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola • sistema de integração arroz irrigado-azevém para pastejo, na região de Pelotas-RS. • sistema de sucessão de cana-de-açúcar com cultivo de amendoim durante o período de reforma do canavial na região de Sertãozinho-SP. • sistema de sucessão de cana-de-açúcar com cultivo de Crotalaria spectabilis durante o período de reforma do canavial na região de Coruripe-AL. A utilização dos conceitos advindos da TGS no contexto agrícola, baseada na escala geográfica, é exemplificada pelo esquema da Fi- gura 11, o qual se refere à região de Londrina-PR. É possível obser- var que o sistema agrícola da região é composto predominantemente por um sistema de produção envolvendo o cultivo de soja no verão e de milho ou trigo no outono/inverno, em sucessão de culturas. As práticas de manejo visando à produção de soja, milho e trigo, que definem os respectivos sistemas de cultivo, são semelhantes quando se comparam diferentes sistemas de produção praticados nas propriedades da região, apresentando aspectos comuns como o alto grau de mecanização das operações, o uso do SPD, da aduba- ção química e do controle químico de plantas daninhas, pragas e do- enças, entre outros, refletindo assim um elevado nível tecnológico. M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S T/S A/M M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S T/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S T/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S T/S T/S M/S T/S M/S T/M M/S M/S M/S M/S M/S M/S A/M T/S T/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S T/S T/S M/S M/S M/S M/S M/S M/S Figura 11. Composição predominante (sistemas de cultivo e sistemas de produção) do sistema agrícola característico da região de Londrina/PR. Nota: A linha contínua delimita o sistema agrícola (região). As linhas tracejadas delimitam os sistemas de produção nas propriedades agrícolas, conduzidos em sucessão (linhas tracejadas pretas) ou rotação (linhas tracejadas verdes). As linhas pontilhadas representam as glebas ocupadas pelos sistemas de cultivo de soja, milho, trigo ou aveia. M/S = cultivo de milho no outono-inverno e soja no verão; T/S = cultivo de trigo no outono-inverno e soja no verão; A/M = cultivo de aveia no outono-inverno e milho no verão.
  • 13. 22 23 Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola 2.4. Bioma O bioma se refere o espaço físico onde os sistemas agrícolas estão in- seridos (Figura 12). É importante salientar que o bioma não representa um conjunto de sistemas agrícolas. Entende-se por bioma um conjunto de vida (vegetal e animal) constituído pelo agrupamento de tipos de vegetação contíguos e identificáveis em escala regional, com condições geoclimáticas similares e história compartilhada de mudanças, o que resulta em uma diversidade biológica própria (IBGE, 2004). Ressalta- -se que as características geoclimáticas de cada bioma influenciam significativamente na conformação dos sistemas agrícolas, podendo limitar determinados sistemas de cultivo ou de criação. Por exemplo, dificilmente será possível a realização de duas safras de culturas anuais em um mesmo ano agrícola em sucessão no Bioma Caatinga, sem a utilização criteriosa da irrigação. 3. Considerações finais A partir da teoria geral de sistemas (TGS), foi possível criar uma tipologia de organizações agrícolas em sistemas, geograficamente hierarquizada, partindo das práticas de manejo adotadas na lavoura/ criação (sistemas de cultivo/criação) dentro da gleba, passando pela combinação dos sistemas de cultivo/criação na propriedade (siste- mas de produção) e chegando à escala regional (organização dos sistemas de produção em sistemas agrícolas). Essa hierarquização encontra-se inserida dentro de um determinado bioma, cujas carac- terísticas geoclimáticas influenciam na definição e estruturação dos sistemas. O entendimento dos conceitos de sistemas no contexto agrícola é pertinente e de fundamental importância para a avaliação da sus- tentabilidade da produção agrícola. Isso porque permitirá analisar as interações existentes entre sistemas de cultivo, sistemas de produ- ção e sistemas agrícolas, de tal forma que seja possível identificar e criar parâmetros e indicadores para a caracterização e avaliação das possíveis vulnerabilidades e potencialidades associadas a esses subsistemas, sistemas e supersistemas. Outra questão importante é que a organização e hierarquização dos conceitos de sistemas na agricultura constituem-se no ponto de par- tida para a aplicação do enfoque sistêmico nas ações de pesquisa e de transferência de tecnologia. Assim, a organização desses conceitos permitirá o planejamento de estratégias mais eficientes para o aumento da sustentabilida- de e competitividade da agricultura brasileira, apoiadas no melhor direcionamento dos esforços de Pesquisa & Desenvolvimento e de Transferência de Tecnologias, bem como na proposição de políticas públicas. Figura 12. Lavoura de soja no bioma amazônico, em Sinop-MT. Julio Cezar Franchini
  • 14. 24 Sistemas de Produção: conceitos e definições no contexto agrícola Referências BERTALANFFY, L. V. Teoria geral dos sistemas. Petrópolis: Vozes, 1973. 351p. CHIAVENATO, I. Introdução à teoria geral da administração. 4.ed. São Paulo: Makron Books, 1993. 920p. IBGE. Mapa de biomas do Brasil – Primeira aproximação. 2004. Disponível em: <ftp://ftp.ibge.gov.br/Cartas_e_Mapas/Mapas_Murais/ biomas pdf.zip>. Acesso em: 29 de ago. 2012. LOOMIS, R. S.; CONNOR, D. J. Crop ecology-productivity and manage- ment in agricultural systems. Cambridge: Cambridge University Press, 1992. 538p.