1. 21Domingo, 27 de novembro de 2011
MORARBEMMORARBEM
O GLOBO ● MORAR BEM ● PÁGINA 21 - Edição: 27/11/2011 - Impresso: 26/11/2011 — 00: 07 h AZUL MAGENTA AMARELO PRETO
Casa de tijolo e violão
Despojada
e autêntica:
Paulão Sete
Cordas
aposta numa
decoração que
é a sua cara
Isabel Kopschitz
isabel.kopschitz@oglobo.com.br
A
utêntica e despojada. Assim é a
casa do músico Paulão Sete
Cordas, em Santa Teresa. Com
90 anos de construção, o imó-
vel passou por uma reforma de
oito meses, recentemente. Morando no
local há dois anos, o violonista contou
ao GLOBO que procurou preservar ao
máximo as feições originais da cons-
trução. Ele se orgulha de ter raspado
algumas paredes, para deixar os tijo-
linhos aparentes, além de ter mantido o
piso de taco, na sala e nos quartos, e o
piso frio vermelho da copa.
Entre um chorinho e outro — de-
dilhados com maestria num violão de
sete cordas e num de seis — Paulão
explicouasimplicidadedadecoraçãoese
definiu como “uma pessoa minimalista”.
— Não gosto de exageros, de ex-
cessos, em nenhuma área da minha vida.
Tudo o que tenho é porque preciso e uso
— afirma o premiado músico, que é
produtor e arranjador de várias per-
sonalidades do samba e da MPB.
A casa de
Paulão — e
d o f i l h o ,
João Pedro,
de 27 anos
— é peculiar.
Tem três an-
dares, mas a
entrada é pe-
lo terceiro,
onde ficam os quartos. Depois de descer
o primeiro lance de escadas, se chega à
sala, no mesmo andar da copa e da
cozinha. Mais um lance de escadas e é a
vez de se entrar na área de serviço, que
fica ao lado de um pequeno quarto e de
uma área verde: árvores como pitan-
gueira e jasmin-manga, a “menina dos
olhos” do músico, completam o cenário.
Com o sorriso aberto, embora tímido,
ele conta que os cômodos preferidos são
a sala e a copa, onde gosta de “bater um
papo e jogar biriba”. Encostados na
parede de tijolinhos da sala, e dispostos
em cases, nas duas laterais do sofá azul
listrado, figuram nada menos que 19
violões, legado dos 37
anos de carreira.
A maior parte dos ob-
jetos decorativos da casa
foi trazida por ele de via-
gens pelo Brasil — de Pa-
raty à Amazônia. Outros
são presentes de amigos,
como é o caso de um
xequerê (instrumento
que consiste numa peça
envolta numa malha de
contas), dado pelo “que-
rido amigo Chacal”.
— É aqui que passo mui-
tas horas brincando de to-
car — diz Paulão, sentado
no sofá, empunhando o
violão de sete cordas. —
Muitas vezes, meu filho
(Ramon, violonista) fica
aqui comigo, tocando.
Apaixonado por plan-
tas, Paulão mantém diver-
sos vasinhos com espé-
cies na bancada ao lado da
mesa da copa. Para ver
melhor as árvores do jar-
dim, os pássaros que as
visitam e o Cristo Reden-
tor, ele abriu mais a janela
da sala e usou blíndex:
— A vista daqui é muito
boa, queria aproveitar.
Entre os objetos de de-
coração que o músico
mais preza está uma gra-
vura de autoria do fale-
cido compositor e artista
plástico Guilherme de Bri-
to, de quem era muito amigo. Pendurado
em uma parede logo na entrada da casa,
o quadro exibe Nelson Cavaquinho, sam-
bista que foi “um mestre” para Paulão,
desde o início de sua carreira.
— Tenho muito carinho por este qua-
dro, que ganhei da mulher do Guilherme
— conta. — Ele retrata muito bem o
Nelson, figura que sempre surpreendia.
Acostumado à boemia, o músico de 53
anos diz que sua casa tem a cara dele.
— Tem que ser o melhor lugar pos-
sível. Tem que ganhar da rua. Senão, a
gente não volta — arremata, rindo. ■
. E M C A S A .
NA SALA
de tijolinhos,
que fica no
segundo
andar, a
coleção
de violões
A COPA,
um dos
cômodos
preferidos:
“É bom para
bater um papo,
jogar biriba”
O GLOBO NA INTERNET
VÍDEO Confira vídeo em que
o músico mostra sua casa
oglobo.com.br/economia/morarbem BANHEIRO MANTÉM o estilo rústico: tijolos aparentes e madeira
A GRAVURA,
de autoria do músico e artista
plástico falecido Guilherme de
Brito, exibe Nelson Cavaquinho
O ESPELHO,
da artista plástica Rosane Torres,
tem moldura com notas musicais.
O pequeno aparador é presente
de João Callado, neto de Antônio
PAULÃO EM
sua sala: “A
casa da gente
tem que ser
muito melhor
que a rua”
Fotos de Guito Moreto
“ A casa tem que
ganhar da rua.
Senão, a gente
não volta”