O documento descreve a jornada acadêmica e profissional de um graduado em ciência da computação, desde os primeiros desafios na faculdade até se tornar um pesquisador visitante e professor 10 anos depois. Ele discute as opções de estudar, trabalhar ou empreender após a graduação e como aproveitou oportunidades ao longo do caminho com o apoio de livros, professores, estágios e projetos. No final, conclui que valeu a pena persistir nos estudos.
Gestão da Tecnologia da Informação (04/03/2014): Status Report do TCC
Escolha após a graduação: estudar, trabalhar ou empreender
1. estudar, trabalhar ou empreender:
a timeline do graduado em
computação
Felipe Alencar Lopes
@felipealencarlopes
2. Quem sou eu
+10 anos de experiência
como desenvolvedor web
Vendedor de loja de surfe
(2008)
Bacharel em Sistemas de
Informação no IFAL (2013)
Desenvolvedor Web na
Indra (2013)
Mestre em Ciência da
Computação pela UFPE
(2015)
Pesquisador Visitante no
Instituto de Tecnologia de
Karlsruhe (2017)
Professor no IFAL (2018)
Doutorando em Ciência da
Computação pela UFPE
(2019)
Boa tarde, meu nome é Felipe, eu sou professor do Instituto Federal de alagoas. Desde já eu queria agradecer ao convite do Elisio. Pra participar desse evento irado. Do lado de tantas feras, profissionais aí que me inspiraram e inspiram até hoje na nossa luta diária de aprendizado e crescimento profissional.
Bessa ali, até hoje lembro de quando a gente viajou pra um evento e ele me ajudou financeiramente mesmo a participar das coisas.
Mas como ainda não sou do calibre de algumas feras que estão por aí, me permitam me apresentar:
Não me orgulho de falar essas coisas, isso só significa que eu tô ficando velho. Mas vamos lá: eu comecei a trabalhar com desenvolvimento de sites aos 14 anos e de lá pra cá muita coisa aconteceu, inclusive a gente parou de usar o frontpage né?! Nesse caminho eu já trabalhei como vendedor de loja de surf, fiz faculdade, atuei como desenvolvedor em uma multinacional e aí resolvi ir pra área acadêmica, fazendo mestrado lá no centro de informática da universidade federal de Pernambuco, fiz freela pra algumas startups, entrei no doutorado e fui selecionado para atuar como pesquisador no instituto de tecnologia de karlsruhe, na Alemanha. Atualmente, ministro aulas nos cursos de computação do campus Arapiraca do instituto federal de alagoas e finalizo meu doutorado em computação também no centro de informática da UFPE.
Mas essa foi só a parte formal... Além disso, eu sou peladeiro, surfista e babá.Em 2004, aos 14 anos, por problemas familiares, eu me mudei de Maceió para a Praia do Francês. Meu pai havia se envolvido com drogas, se tornou dependente químico e, minha mãe com medo das dívidas com traficantes, decidiu fugir comigo e minha irmã. Financeiramente falando, foi uma época difícil que perdemos tudo, mas que me deu tudo que preciso hoje também, e é basicamente sobre isso que essa palestra fala hoje, independente do caminho que você siga na área de computação que é:...
Alguns ou algumas de vocês estão aí começando a faculdade, outros já na metade ou terminando. Alguns nem devem ter feito uma faculdade de computação, mas estão na área pensando sobre o próximo passo. E, por experiência própria, sei que geralmente três perguntas principais já passaram, passam ou vão passar pela nossa cabeça:
Eu deveria me dedicar aos estudos, fazer um concurso e conseguir estabilidade? Continuar na área acadêmica?
Eu deveria me dedicar à minha carreira, conseguir um bom emprego e bom salário?
Eu deveria abrir minha própria empresa de tecnologia, fazer meus horários e ficar rico?
O fato é que a resposta para o sucesso dessas decisões vai depender da sua resiliência, do quanto você vai resistir às dificuldades e desafios do caminho que você escolher.
Além de refletir sobre essa escolha dos três principais caminhos da nossa área. Basicamente eu estou aqui por Dois motivos: o primeiro é que assim como vocês eu também e fiz (e me faço) perguntas sobre qual caminho seguir todos os dias. O segundo é pra compartilhar com vocês minha perspectiva e quais foram as minhas motivações e a minha experiência durante a fase de freelancer, durante a graduação e os caminhos que me levaram até o doutorado e a fazer pesquisa na Alemanha.
Era um garoto comum, comecei a graduação com 17 pra 18 anos.
Antes de iniciar a graduação, pra não ficar liso e assistindo sessão da tarde, eu comecei a trabalhar como vendedor de uma loja de surfe. E se alguém me dissesse ali que em alguns anos eu iria viajar pra 10 países e estar na Alemanha fazendo pesquisa, eu daria risada, meia-volta e diria que tinha roupa pra dobrar.
Era um garoto comum, comecei a graduação com 17 pra 18 anos.
Antes de iniciar a graduação, pra não ficar liso e assistindo sessão da tarde, eu comecei a trabalhar como vendedor de uma loja de surfe. E se alguém me dissesse ali que em alguns anos eu iria viajar pra 10 países e estar na Alemanha fazendo pesquisa, eu daria risada, meia-volta e diria que tinha roupa pra dobrar. E só depois eu vim descobrir o porquê de ter passado por essa experiência.
Quando entrei no curso ainda não tinha muita noção do que ia ver, apesar de ter desenvolvido alguns sites antes, e até pesquisei sobre e tentava escrever alguns códigos em php, mas sem a mínima noção de como aprender a programar seria tão importante pra mim.
E algumas perguntas vão surgindo durante o curso: Por que eu estou aqui? Onde quero ou posso chegar? É só o diploma?
Ou: “Legal essas telas pretas, mas em qual período faço o concorrente do google?”
Surgem as primeiras dúvidas. Em diversos momentos da graduação, hesitei, cheguei a achar que não ia conseguir aprender algoritmos (listas de exercícios que pareciam impossíveis), depois pensei que não ia conseguir aprender estrutura de dados, compiladores. E claro, sempre surgia aquela pergunta: como é que eu vou ganhar dinheiro com isso?
Isaac Newton in 1675: "If I have seen further it is by standing on the shoulders of Giants."
Palestra do Daniel Fireman (10 anos atrás), por exemplo, palestra inspiradora que me fez pensar que um dia eu gostaria de estar ali, com a oportunidade de inspirar outras pessoas da mesma forma que aquela palestra me inspirou, professores da coordenação (todo suporte, paciência e dedicação). Chefes. Amigos. Siga os manuais.
Aceitei cada desafio. Abriu a seleção para monitoria em redes (não tinha nem pago a disciplina ainda e minha área era programação), participei. Da monitoria em redes fui chamado para estagiar com desenvolvimento no próprio IFAL. Foi no estágio que tive a oportunidade do desenvolvimento do sistema para o congresso norte-nordeste de pesquisa e inovação e, atentem para esse detalhe, conheci o professor que viria a ser meu orientador do mestrado. E do estágio surgiu a oportunidade de trabalhar no meu primeiro projeto de grande porte (distribuído nacionalmente), no projeto SIGAA.
Sempre que possível participei dos eventos na área, colaborei com os colegas em projetos, participei de grupo de usuários de determinada tecnologia, organização de viagens.
Foi nesses eventos que pude conhecer pessoalmente o Rasmus Lerdof, criador do PHP e o Ryan Ozimek, criador do Joomla!.
Ainda que não houvesse ganhos financeiros, participar em grupos de usuário de uma certa tecnologia também era um desafio pra mim mesmo, pra me manter motivado, mas que trouxe benefícios como: vagas de emprego, cursos, interação, networking.
Nesses desafios, obviamente:
Passei por perrengues, organização de eventos, sem dinheiro pra ficar em hotel, café da manhã era luxo. Lidar com pessoas não é fácil, problema com alunos nas viagens.
Essa é a hora de ser o estagiário, de errar, de definir projetos com escopo muito grande nas disciplinas.
É a hora de tomar decisões arriscadas:
Não se limite ao que o professor passa em sala de aula. Vá além. Não precisa pular de paraquedas. Mas não fique no raso. Eu gosto do pensamento do professor Clóvis de Barros Filho: “Você tem brio? Sabe o que é brio?” É você sair ali do básico, os caras construíram interpretador, compilador, IDE. Você só precisa usar.
Aprender inglês é fundamental se você almeja grandes coisas.
Escrever bem também é fundamental e uma atividade que você vai fazer frequentemente.
Discuta ideias com seus amigos, registre essas ideias, tente implementá-las, erre. Faz parte!
Alguns de vocês estão aí começando a faculdade, outros já na metade ou terminando. Alguns nem devem ter feito uma faculdade de computação, mas estão na área pensando sobre o próximo passo. E, por experiência própria, sei que geralmente três perguntas principais já passaram, passam ou vão passar pela nossa cabeça:
Eu deveria me dedicar aos estudos, fazer um concurso e conseguir estabilidade? Continuar na área acadêmica?
Eu deveria me dedicar à minha carreira, conseguir um bom emprego e bom salário?
Eu deveria abrir minha própria empresa de tecnologia, fazer meus horários e ficar rico?
O fato é que a resposta para o sucesso dessas decisões vai depender da sua resiliência, do quanto você vai resistir aos desafios do caminho que você escolher.
Caminhada para a praça dos palmares;
Problemas familiares vão acontecer;
Estudante não tem dinheiro;
Ônibus do estudante quebrava;
Lanche era pastel do fumaça;
E mesmo quando tudo parecia dar certo, veio a decisão sobre continuar num trabalho ou voltar a ser estudante, ganhando menos e gastando mais (mudança de cidade).
Caminhada para a praça dos palmares;
Problemas familiares vão acontecer;
Estudante não tem dinheiro;
Ônibus do estudante quebrava;
Lanche era pastel do fumaça;
E mesmo quando tudo parecia dar certo, veio a decisão sobre continuar num trabalho ou voltar a ser estudante, ganhando menos e gastando mais (mudança de cidade).
A gente começa a pensar que a vida de graduando é assim
Mas na verdade ela é assim
Chega a época do TCC, e nesse período, no meu caso, eu já estava trabalhando numa fábrica de software, e surgiu a oportunidade de fazer mestrado lá no centro de informática da UPFE. O engraçado desse período é que o convite para o mestrado foi de um professor que eu havia passado uns perrengues lá na época do estágio, quando saía 11 da noite resolvendo bronca de um sistema, sem hora extra e ganhando a fortuna de 400 reais por mês.
Só pra fazer o mestrado, eu tinha que concluir o TCC e pra conseguir a bolsa do mestrado eu não poderia ter vínculo empregatício. Então foi meio que um tiro no escuro. Tive que pedir demissão, fazer o TCC em tempo recorde e mudar de cidade pra ganhar menos e gastar mais. Em resumo: assobiando e chupando cana.
Você não consegue conectar os pontos olhando para a frente, você só os conecta olhando para trás (Steve Jobs).
Qualquer ação dessa vai requerer a mesma dedicação, abdicação e espírito empreendedor (seja para a sua carreira, para os seus estudos ou pra sua empresa).
E pra saber se você está no caminho certo, é só olhar no espelho e ver se sua cara tá mais ou menos assim, refletindo a adrenalina que sentimos quando estamos diante de uma grande oportunidade de crecsimento profissional e pessoal
Os nomes mais populares da computação mundial (lê-se Bill Gates, Mark Zuckerberg e Steve Jobs, por exemplo) até ingressaram na faculdade, mas não chegaram a concluí-la devido à opção de empreender. Estes nomes mostraram que cursar ou não cursar uma faculdade não é garantia de sucesso ou fracasso para ninguém, mas isso não quer dizer que eles não estudaram. Existe um buraco enorme entre fazer uma faculdade e estudar, buscar conhecimento sobre uma área da computação que seja interessante para o perfil de quem busca.
A visão errada que a faculdade dá à muitas pessoas é, geralmente, reflexo de estudantes que estão na faculdade apenas para ganhar o diploma. E isso também se estende à Pós-Graduação em computação. Apesar disso, o fato é que estar em um ambiente acadêmico possibilita um aprendizado e troca de conhecimento muito grande, e isso não pode ser desconsiderado. Vale lembrar que essa possibilidade só será aproveitada caso ocorra a busca real por este aprendizado.A academia permite muitas possibilidades, uma delas é a oportunidade de trabalhar diretamente com inovação. Desenvolver tecnologias que só serão utilizadas num futuro breve pode ser gratificante e também um diferencial competitivo.
A palavra trabalho vem do latim, tripalium, um instrumento de tortura com três (tri) pedaços de madeira (palum), mas ultimamente o trabalho vem ganhando um significado mais nobre. É comum ver pessoas trocando de empresa, mesmo ganhando menos, visando um trabalho que seja mais gratificante.
Apesar de ainda ser o caminho mais seguido na área de computação, hoje percebe-se que os egressos de faculdades e os autodidatas avaliam melhor o local em que irão trabalhar. Neste caminho é preciso lembrar que existem diferenças, por exemplo, entre trabalhar para uma grande corporação e ser contratado por aquela startup menos engessada.
Antes de ignorar este caminho na carreira, é recomendável conhecê-lo, assim como na academia, grande parte do network de um profissional de computação é construído durante o contrato de trabalho em determinada empresa.
Apesar de saber que, no sentido real da palavra, empreender se aplica aos outros dois caminhos, hoje vemos esta ação muito ligada à criação de startups.
O ato de empreender muitas vezes é difícil, mas para aqueles que tem uma boa ideia ou um bom produto, é um ótimo meio de desenvolver habilidades, além de permitir realizar projetos de maior impacto, e, consequentemente, maior retorno (seja este financeiro ou não, dependendo da finalidade da startup).
Um ponto comum entre estes caminhos é a dedicação, nenhum deles é mais ou menos fácil que outro. A dedicação e o foco fazem a diferença para obter o sucesso em qualquer situação. Por isso coloquei a palavra empreender em itálico no primeiro parágrafo. Muitas vezes o estudante ou profissional de computação pensa que empreender é só desenvolver um bom app que será o novo Mark Zuckerberg. Esta é claramente uma ideia equivocada. Devido a isso que o ato de empreender requer o desenvolvimento de habilidades cruciais para o sucesso do empreendedor.
Minha escolha, obviamente, depois daquele drama todo, foi voltar pra academia ao ser selecionado na seleção do mestrado. Comecei minha nova jornada no centro de informática da ufpe, e isso me permitiu realizar a apresentação da minha pesquisa em eventos internacionais, conhecer culturas diferentes e trocar experiências com outros pesquisadores.
E aí com a possibilidade de apresentar a pesquisa em conferências internacionais, numa dessas viagens eu fui pra Istambul na Turquia. Era a minha segunda viagem internacional e foi justamente na época de alguns ataques terroristas que estavam acontecendo por lá. Daí, como não poderia deixar de ser pra o nordestino broco, na imigração o oficial me perguntou minha profissão e o que eu iria fazer lá. Com o inglês travado, acabei falando que era “professor”, quando deveria ter dito “teacher”, já que “professor” p/ os europeus e norte americanos já é um professor com bastante tempo de experiência em universidade e etc. Por esse erro acabei indo pra uma salinha onde eles ficaram me entrevistando por 1 hora até terem certeza de que eu não era terrorista.
O “engraçado” dessa história foi que uma semana depois que peguei o avião de volta pro Brasil, o aeroporto de onde eu saí, foi explodido por um ataque terrorista. Tenso.
Com o desempenho do mestrado, pude iniciar o doutorado e continuar minha pesquisa. Acabei sendo selecionado para uma vaga de pesquisador no instituto de tecnologia de karlsruhe, que possui o 26º melhor departamento de ciência da computação do mundo e já esteve entre as 100 melhores universidades do mundo. A colaboração nas pesquisas me permitiu conhecer, nos últimos 2 anos mais de 10 países.
Uma experiência única, de poder levar o nome do Brasil pra fora em alto nível, networking de ouro, cultura da Alemanha de valorizar a pesquisa
Uma experiência única, de poder levar o nome do Brasil pra fora em alto nível, networking de ouro, cultura da Alemanha de valorizar a pesquisa
Mas claro que tive que aguentar muita piada sobre o 7x1.
Atualmente, além de atuar como professor lá no IFAL, eu estou no meu último ano do doutorado, pesquisando sobre redes definidas por software integradas com técnicas de modelagem e aprendizagem de máquina. Minha tese foca no oferecimento de modelos em tempo de execução para estas redes.
Estou em dois projetos de pesquisa. O primeiro é o P4Sec, voltado para a área de segurança em redes com planos de dados programáveis, visando identificar ataques na rede, antes que eles cheguem aos servidores. Nesse projeto, além da UFPE, da UFRGS e da UnB, também colaboram a universidade da Califórnia (san diego) e a universidade do texas.
O segundo projeto é o SWAMP, um projeto voltar para integrar internet das coisas e aprendizagem de máquina no conceito de agricultura inteligente. A gente tem investigado como técnicas de aprendizagem de máquina podem predizer a necessidade de água de terminadas plantações. Além disso, pretendemos utilizar drones para nos ajudar a identificar quais áreas destas plantações estão precisando de água.
O segundo projeto é o SWAMP, um projeto voltar para integrar internet das coisas e aprendizagem de máquina no conceito de agricultura inteligente. A gente tem investigado como técnicas de aprendizagem de máquina podem predizer a necessidade de água de terminadas plantações. Além disso, pretendemos utilizar drones para nos ajudar a identificar quais áreas destas plantações estão precisando de água.
E o que posso dizer depois de tudo, mesmo depois dos perrengues e dificuldades, é que valeu a pena. E vale muito a pena, acreditar em cada sonho, ajudar e ser ajudado pelas pessoas, buscar o máximo de conhecimento possível, mesmo com toda dificuldade que surgir. Buscar ser o melhor que a gente pode ser.
E o que posso dizer depois de tudo, mesmo depois dos perrengues e dificuldades, é que valeu a pena. E vale muito a pena se dedicar, independente do caminho escolhido. Em todos eles você poderá sentir gratidão, e o quanto é gratificante atingir cada objetivo, acreditar em cada sonho, ajudar e ser ajudado pelas pessoas, buscar o máximo de conhecimento possível, mesmo com toda dificuldade que surgir. Buscar ser o melhor que a gente pode ser.