Este documento resume uma revisão bibliográfica sobre como a soldagem gera tensões residuais e distorções em estruturas navais e suas implicações. A soldagem aplica calor de forma não uniforme durante a fabricação, gerando tensões residuais e distorções que podem comprometer a integridade estrutural e aumentar os custos. As tensões residuais influenciam a capacidade de carga, vida útil e podem causar falhas. Controle e minimização das tensões e distorções são importantes para a indústria naval competitiva.
Patologias na construção civil detalhes construtivos fissuras na alvenaria
Influência da Soldagem em Tensões Residuais em Estruturas Navais
1. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA SOBRE A INFLUÊNCIA DA SOLDAGEM NA GERAÇÃO
DE TENSÕES RESIDUAIS E DISTORÇÕES EM ESTRUTURAS SOLDADAS NA
INDÚSTRIA NAVAL
Eliane Correia Nascimento Souza* [eliane.cns@hotmail.com]
Bárbara Rodrigues Durão* [barbara_durao@hotmail.com]
Josimar Martins Garuzzi* [jmgaruzzi@gmail.com]
Orientador: Harerton Oliveira Dourado* [harerton@fsjb.edu.br]
FAACZ - Faculdades Integradas de Aracruz
www.faacz.com.br
RESUMO: A soldagem é uma das principais técnicas executadas durante a fabricação de uma
embarcação, no entanto essa atividade aplica grande quantidade de calor de maneira não uniforme
sendo considerado o processo com maior índice de geração de tensões residuais e distorções em
estruturas navais. As distorções constituem uma das principais dificuldades na construção naval. O
estado de tensões influência na determinação da capacidade de carga e vida útil das estruturas. Para
atender qualitativamente o crescimento do setor naval, é primordial o investimento em tecnologias e
aprimoramento no entendimento das implicações geradas na utilização dos processos construtivos,
durante a fabricação das embarcações. Neste trabalho de revisão bibliográfica são relatadas as
principais causas geradoras de tensões residuais e distorções, seus efeitos e algumas técnicas
adotadas para alívio de tensões, controle e minimização das imperfeições.
Palavra-chave: Tensões residuais de soldagem.
2. 1. Introdução
A recuperação da indústria naval e offshore são influenciadas especialmente pelo setor de
petróleo e gás natural. No Brasil expectativas geradas principalmente na exploração e produção do
petróleo offshore, descoberto nas reservas do pré-sal, preveem a fabricação de novos navios-sonda,
navios petroleiros, plataformas de produção e navios de apoio, reaquecendo o setor naval (SINAVAL,
2012). Entretanto, para que está indústria se torne mais competitiva é imprescindível o aprimoramento
tecnológico dos processos produtivos e maior entendimento das implicações originadas no uso dos
processos, que são fonte geradora de tensões residuais e distorções durante a fabricação.
A soldagem é uma das principais técnicas utilizadas nos estaleiros, no entanto essa
atividade aplica grande quantidade de calor de maneira não uniforme, sendo considerado o
processo com maior índice de geração de tensões residuais e distorções em estruturas navais
(GUROVA, 2006). Os painéis enrijecidos são estruturas básicas na construção de navios - cerca de
50% do aço usado na indústria naval é plicado na fabricação dessas estruturas (MELO, 2006). Os
painéis são obtidos pela união entre chapas de aço e são enrijecidos com a soldagem de reforços
transversais e longitudinais (PICANÇO, 2010). Os processos empregados na confecção dos painéis
inserem diferentes níveis de tensões residuais; estes índices são distintos e variam de acordo com
características mecânicas, físicas, e químicas do material, aliadas às particularidades de cada processo
aplicado à peça.
Segundo Gurova e Amaral (2006), as tensões geradas produzem distorções que se revelam
como imperfeições de fabricação constituindo uma das principais dificuldades para construção naval e
offshore. Durante a etapa de montagem por blocos, o tempo gasto com retrabalho para ajustar
imperfeições e atribuir acomodação completa representa cerca de 30% do tempo total para fabricar
uma embarcação. As distorções, além de gerar atraso nas datas de conclusão, aumentam o custo final
do empreendimento e podem contribuir no aparecimento de sérios danos estruturais como falha por
fadiga, disposição à fratura frágil e formação de trincas.
Examinar o estado de tensões presente nas estruturas é uma medida importante para
determinação da capacidade de carga e vida útil da estrutura, além de possibilitar ações de correção
durante a fabricação e favorecer o controle da integridade do material e planejamento da manutenção
(GUROVA, 2006).
O grau de tensões residuais e distorções presentes em uma estrutura podem ser amenizados
adotando medidas na fase de elaboração do projeto, durante e após o término da soldagem.
3. 2. Metodologia
Para realização desta pesquisa utilizou-se o processo de levantamento bibliográfico. Durante
a elaboração foram examinados livros, artigos, dissertações, sites que tratam do tema e também
literaturas que tratam de assuntos correlatos. Constituíram-se dados de estudos, contextos escolhidos
que datam de 1982 até o ano de 2012.
Diversos conceitos relatados na obra intitulada – “Engenharia de Soldagem e Aplicações” de
Okumura e Taniguchi, datada de 1982, são amplamente utilizados por vários autores para realização
de suas pesquisas, o que motivou contemplar bibliografias de relevância a partir desta data.
A pesquisa esta essencialmente dividida em quatro partes que notificam a significância do
tema:
• Geração de tensões residuais;
• Efeitos das tensões em componentes soldados, incluindo as distorções;
• Métodos para medição das tensões residuais
• Técnicas para alívio de tensões residuais e controle de deformações.
3. Geração de tensões residuais durante á soldagem
Pode-se definir tensão residual como tensões internas existentes em um corpo, estando
este, livre de quaisquer forças externas ou gradientes térmicos (FBTS, 2003). As tensões são
comumente classificadas em três tipos: tensão residual tipo I, tensão residual tipo II e tensão residual
tipo III. Todavia, quando se fala de tensões residuais são geralmente apreciadas apenas as tensões
residuais do Tipo I (AMANTE, 2006; VIEIRA SOARES, 1998).
As tensões residuais na soldagem são tensões internas, em equilíbrio, que
permanecem no material após a execução da operação de soldagem. Estas
tensões são geradas por escoamentos parciais localizados, que ocorrem
durante o ciclo térmico da soldagem podendo ser trativas ou compressivas,
dependendo da região considerada (zona fundida, zona afetada
termicamente, material de base) e de alguns fatores tais como aporte
térmico, pré-aquecimento, grau de restrição da junta, quantidade de passes
de solda, velocidade de soldagem, etc. (MARQUEZE, 2002).
4. O valor máximo em módulo que as tensões residuais podem alcançar é o próprio limite de
escoamento do material. Valores de tensões acima do limite de escoamento ocasionarão deformações
plásticas e ocorrerá uma redistribuição das tensões residuais (LU, 1996, apud NUNES, 2008).
A presença de tensões residuais em componentes de engenharia pode alterar
consideravelmente características do material como capacidade de resistir a carregamentos,
resistência à fratura e vida em fadiga. As tensões residuais juntam-se à tensão de carregamento em
serviço, imposta ao equipamento, podendo acrescentar ou diminuir o valor efetivamente aplicado à
peça em função da natureza trativa ou compressiva das tensões residuais (VIEIRA SOARES, 1998).
Tensões residuais trativas podem ser perigosas quando tensões aplicadas ao componente
também forem trativas; a soma das tensões trativas pode contribuir para a iniciação e o crescimento de
trincas de fadiga. Já as tensões residuais compressivas se opõem à direção de carregamento trativo -
neste caso, a tensão residual compressiva amortiza o nível de tensão aplicada e inibe a iniciação e a
propagação de trincas (VIEIRA SOARES, 1998). Da mesma forma, se a peça apresentar tensão
residual compressiva e o carregamento de serviço também for compressivo, o valor da tensão
compressiva será acrescido.
A figura 1 apresenta uma estrutura com tensões residuais compressivas nasuperfície e
trativas no núcleo. A carga atuante de trabalho é trativa, na redistribuição de tensões o efeito é trativo,
porém o valor da tensão sofreu considerável redução (COSME SOARES, 2003).
Figura 1- Superposição de um estado de tensões residuais e de um estado de tensões atuantes.
Fonte: Cosme Soares, 2003.
De acordo com Stefen (2008) os principais efeitos produzidos pela soldagem são regidos por
três aspectos termo-mecânicos: contração de áreas que foram desigualmente aquecidas e plastificadas
durante a soldagem; resfriamento superficial mais elevado em relação ao restante da espessura;
transformação de fase com distintas propriedades termomecânicas para cada fase do material.
5. A contração no resfriamento de áreas diferentemente aquecidas e plastificadas durante a
soldagem é a principal fonte de tensão residual. A intensidade de tensões também está relacionada ao
grau de restrição na direção considerada. Não dispondo de rigidez suficiente, as peças se deformam
tendendo aliviar o nível das tensões residuais. As deformações são proporcionais à extensão da zona
plastificada.
Resfriamento superficial mais elevado em relaçãoao restante da espessura faz com que
apareçam tensões residuais. Isso ocorre, pois além da diferença de temperatura nas orientações
longitudinais e transversais, também existirá outro gradiente térmico na espessura da peça soldada,
assim o resfriamento acontece de forma não homogênea ao longo da profundidade.
As transformações de fases que ocorrem na soldagem geram tensões devido à ampliação de
volume que ocorre durante a transformação da austenita para ferrita, bainita, perlita ou martensita. De
tal modo, em uma junta soldada a região da zona afetada termicamente (ZAT), que passa por
transformações microestruturais, apresentará tendência a expandi-se, porém ficará impedida pelo
restante do material mais frio e não transformado. Esses efeitos geram tensões residuais de
compressão na região transformada.
3.1 Efeitos das tensões residuais em componentes soldados
A soldagem é uma técnica amplamente utilizada na fabricação de uma embarcação e
independente do processo de soldagem utilizado, a soldagem a arco elétrico aplica grande quantidade
de calor de maneira não uniforme, podendo gerar tensões residuais e distorções ao final do processo
de soldagem, além de promover alterações metalúrgicas e influenciar na resistência mecânica.
Os principais efeitos das tensões residuais em componentes soldados são: flambagem,
fratura frágil, falha por fadiga e formação de trincas em solda. Modenesi (2008) relata sobre estes
efeitos.
Segundo Modenesi componentes estruturais submetidos a cargas de compressão podem
falhar por flambagem, particularmente quando possuírem um comprimento muito maior que as
dimensões transversais ou estiverem submetidos á cargas fora de centro. Essa circunstância advém da
deflexão lateral do componente submetido à compressão. Quando o valor crítico é atingido ocorre à
falha instável do componente, geralmente, esse fato acontece com uma carga menor que o limite de
escoamento do material.
6. Figura 2 – Flambagem de uma coluna. Fonte Modenesi – Efeitos mecânicos ciclo térmico, 2008.
Falha por Fadigaé um tipo comum de falha em componentes mecânicos submetidos a
tensões que mudam com o tempo. A falha se inicia com uma trinca que pode estar presente no
material por efeito de processos de fabricação ou pode surgir ao longo do tempo em regiões sujeitas a
concentrações de tensões. A fratura por fadiga, geralmente, acontece pelo crescimento de trincas
devido a tensões de tração variáveis, comumente de magnitude inferior ao limite de escoamento.
A fratura frágil é caracterizada pelo rompimento de materiais com pouca ou nenhuma
deformação plástica. O evento pode ocorrer com níveis de tensão relativamente baixos, inferiores ao
limite de escoamento do material ou da tensão de trabalho, de forma inesperada e rápida. A ocorrência
é favorecida pela existência de determinados fatores como: concentradores de tensão (trincas,
inclusões, falta de fusão), baixa temperatura, elevada taxa de deformação, microestrutura com baixa
tenacidade, granulação grosseira ou com precipitados. Devido a estes fatores, em vários casos,
componentes soldados precisam ser tratados termicamente para alívio de tensões residuais e/ou refino
da estrutura.
Constantemente, trincas são desenvolvidas em soldas, onde as fissuras podem ser
associadas a solicitações, ou seja, tensões mecânicas de tração e a incapacidade do material
acomodar estas solicitações deformando-se plasticamente. A fragilização da zona fundida e de regiões
adjacentes pode ocorrer durante e após a soldagem por vários motivos, tais como: formação de filme
líquido em contornos de grão a elevada temperatura, presença de hidrogênio dissolvido no material,
crescimento de grão, precipitações, etc.
7. 3.2 Distorções
As distorções, também designadas imperfeições geométricas, são alterações de forma e
dimensão que ocorrem em componentes submetidos a determinados procedimentos construtivos. No
processo de soldagem as distorções são resultantes da aplicação não uniforme de calor. O gradiente
de temperatura propicia as tensões térmicas, pois os fenômenos de expansão térmica e contração
ficam restringidos pelas áreas pouco aquecidas e consequentemente acontecem deformações
plásticas (MODENESI, 2011; OKUMURA, 1982).
Entre os fatores que influenciam nas distorções residuais pode-se mencionar: insumo de
calor, o processo de soldagem, temperatura inicial da chapa, espessura e geometria da junta, número
de passes de solda, sequência de soldagem, projeto da junta, tensões internas, propriedades do metal
de base e presença de dispositivos restritivos (OKUMURA, 1982; GUIMARÃES SOARES, 2006). As
distorções são comunmente classificadas em seis categorias: contração longitudinal, contração
transversal, distorção angular, distorção rotacional, distorção de flambagem e distorção de flexão
(MASUBUCHI, 1980 apud AMARAL, 2004).
Figura 3 – Tipos de distorções. Fonte: Amante, 2006.
As imperfeições mais frequentemente encontradas na construção naval e offshore são a
distorção de flambagem e a distorção angular. Entre os efeitos gerados pelas distorções pode-se
mencionar o desalinhamento de componentes estruturais, grande quantidade de retrabalho para
correção das imperfeições, aumento de custos, redução da eficiência de produção, imprecisão do
produto final e detrimento de resistência estrutural (STEFEN, 2004).
8. 3.3 Métodos para medição das tensões residuais
Existem diversas técnicas para medir tensões residuais e a escolha da técnica adequada deve levar
em consideração características do material como: isotropia, composição química, homogeneidade,
geometria e espessura do material. Também são observados aspectos relacionados ao método de
medição escolhido como complexibilidade e custo total na utilização, aplicabilidade ao campo, intervenção
destrutiva ou não destrutiva (COSME SOARES, 2003).
O uso das técnicas produz benefícios, pois o conhecimento da distribuição e magnitude das tensões
possibilita fazer estimativas sobre a resistência estrutural, visto que as tensões e às distorções residuais
constituem um sério problema na construção naval (AMANTE, 2006).
Gurova (2006) e Cosme Soares (2003) relatam que os métodos para determinação de
tensões residuais podem ser classificados em dois grupos:
• Métodos destrutivos: se distinguem por realizar medições com aplicação de destruição parcial
ou total da peça;
• Métodos não destrutivos: não retira material da peça e não altera a integridade ou
funcionamento da estrutura analisada.
Entre os métodos destrutivos pode-se destacar a técnica do furo cego, a remoção de
camadas e o seccionamento. Há exemplo de métodos não destrutivos destacam-se a técnica de ultra-
som, difração de raio-X e técnicas magnéticas.
Cada técnica possui suas particularidades, vantagens e restrições, cabe ao analista de
tensão eleger o método adequado para uma aplicação correta (COSME SOARES, 2003).
9. 3.4 Alívio de tensões residuais e controle de deformações
3.4.1 Alívio de tensões residuais
O grau de tensões residuais presentes em uma junta soldada pode ser amenizado adotando-
se procedimentos na fase de elaboração do projeto, durante e após o término da soldagem.
A redução da quantidade de calor fornecido à junta e a diminuição da quantidade de metal
depositado podem contribuir para amortizar os níveis de tensões. A redução de volume depositado
pode ser obtida adequando o formato do chanfro: normalmente reduz-se o ângulo do chanfro ou adota-
se chanfro simétrico para evitar a deposição excessiva de material. A diminuição no volume de metal
depositado resultará em subtração do calor transferido à peça e por seguinte em diminuição dos
coeficientes de tensão residual e de distorção da junta (MODENESI, 2008).
[a] [b]
Figura 4 – [a] - Ângulo do chanfro (𝜶𝜶) e ângulo do bisel (𝜷𝜷), (S) nariz. [b] – Chanfro simétrico. Fonte: (ambas)
Modenesi - Terminologia usual de soldagem e símbolos de soldagem, 2008.
Usar solda intermitente, quando possível, também é uma maneira de minimizar a quantidade
de metal de solda depositado. O uso dessa técnica para soldar reforços, reduz o volume de metal de
solda em até 75% sem comprometer a eficiência da rigidez proporcionada (FBTS, 2003). Adotar outras
medidas como, diminuir a abertura de raiz desde que a solda possa ser executada satisfatoriamente, e
optar por chanfros tipo J ou tipo U também contribuem na redução do volume de metal depositado.
Após a soldagem as tensões residuais podem ser aliviadas por métodos térmicos ou mecânicos, sendo
o tratamento térmico de recozimento muito utilizado (MODENESI, 2008).
Figura 5 - Soldagem intermitente numa junta em T. Fonte: Acesita- Práticas de Soldagem em Aço Inox, 1999.
10. 3.4.2 Controle das deformações
As deformações decorrentes do processo de soldagem depreciam a precisão e a aparência
dos componentes soldados, além de influenciar na redução da resistência estrutural. A remoção
dessas distorções é bastante onerosa, tanto em termos de tempo na execução da tarefa como em mão
de obra capacitada. Dessa forma é preferível adotar medidas que reduzam ou impeçam as distorções a
executar correções após soldagem (OKUMURA, 1982).
Modenesi (2008), FBTS (2003) e outros relatam diversas medidas que podem ser
empregadas para reduzir a distorção em soldagem. Estas técnicas podem ser administradas em
distintas fases: durante a elaboração do projeto, durante e após a soldagem.
3.4.2.1 Medidas preventivas adotadas no projeto de estruturas soldadas
Posicionar as soldas próximas à linha neutra ajuda a reduzir as distorções, quanto mais
próxima do eixo neutro encontrar-se a solda, menor é o efeito “braço de alavanca” das forças de
contração para puxar o perfil fora de seu alinhamento.
.
Figura 6 - Exemplos de posicionamento de solda. Fonte: (www.iem.unifei.edu.br)
Conforme mencionado anteriormente usar chanfros simétricos com menor ângulo de chanfro
e chanfros tipo J, U e duplo V, promovem uma diminuição do volume de material de solda, propiciando
a redução de calor alienado na peça de modo a contribuir na redução das tensões residuais e por
seguinte das distorções.
Figura 7- Redução da quantidade de distorção angular por redução do volume do metal de solda depositado.
Fonte: (www.iem.unifei.edu.br)
11. 3.4.2.2 Técnicas preventivas de fabricação
Adotar sequências de soldagem também contribui na distribuição do metal de solda em
pontos distintos da montagem, de modo que a contração num ponto se contraponha as forças de
contração de soldas já executadas. O balanceamento proporciona um equilíbrio de esforços que tende
minimizar a deformação após soldagem, principalmente a distorção angular. A combinação de mais de
um soldador iniciando a soldagem no mesmo ponto e seguindo em direções opostas, também pode ser
uma possibilidade para reduzir as distorções (MODENESI, 2008).
(a) (b)
Figura 8- Junta de topo - chanfro simétrico com múltiplos passes. (a) Sequência de soldagem realizada de
forma incorreta com presença de distorção angular. (b) Solda balanceada livre de distorções. Fonte:
(www.iem.unifei.edu.br)
Outra técnica utilizada para diminuir as distorções é a soldagem com passe a ré. Neste
método, trechos do cordão de solda são executados em sentido oposto ao da progressão da soldagem,
de forma que cada trecho termine no início do anterior formando um único cordão (FBTS, 2003). A
figura 9 apresenta a evolução do cordão de solda com uso da soldagem com passe a ré; geralmente a
técnica é aplicada com passe simples.
Figura 9 - Soldagem com passe a ré. Fonte: Acesita- Orientações Práticas de Soldagem em Aço Inox, 1999.
Usar restrições também é uma técnica bastante usada. As restrições são dispositivos
utilizados com objetivo de reduzir as distorções residuais, mantendo a peça na posição correta, sob-
restrição, minimizando a movimentação enquanto se realiza a solda. Esse método deve ser usado com
atenção, pois o uso de restrições reduz as imperfeições, porém o grau de restrição da estrutura, na
12. direção considerada, pode elevar o nível de tensões residuais e ocasionar trincas. Normalmente a
restrição é total na direção longitudinal do cordão de solda (GUROVA, 2006).
Os dispositivos auxiliares de fixação e montagem não devem ser removidos por impacto. A
figura (10-A e 10 - B) apresentam alguns desses dispositivos.
(a) (b)
Figura 10 – (a) Grampo fixado por parafuso. (b) Dispositivo dorso a dorso aplicado em soldagem de peças idênticas
e soldado uma contra outra. Fonte: Acesita- Orientações Práticas de Soldagem em Aço Inox, 1999.
Algumas técnicas aplicam a pré-deformação na estrutura para garantir a precisão
dimensional. A pré-deformação necessária para que a contração puxe a chapa no alinhamento pode
ser determinada por soldas experimentais
Outro método usado para controlar as distorções é o pré- encurvamento das peças. Esta
técnica oferece um bom exemplo do uso de forças mecânicas opostas para interagir com a deformação
resultante da soldagem. O topo da solda que conterá o maior volume de metal de solda é esticado ao
encurvar as chapas; após a soldagem, quando os grampos são retirados, as chapas retornam à forma
plana, ocasionando o alívio das tensões de contração longitudinal, endireitando-se e diminuindo seu
comprimento (FBTS, 2003).
Figura 11- Pré-encurvamento de chapas. Fonte: Acesita- Práticas de Soldagem em Aço Inox, 1999.
O método de enrijecimento de juntas soldadas (reforços) tem por objetivo fortalecer as
chapas aumentando a resistência dos painéis aos esforços exigidos em trabalho (PICANÇO, 2010).
Existem diversas técnicas para aplicação desses reforços, uma das mais conhecidas é o método de
Joint Rigidity Method (JRM). Trata-se de método para determinar as sequências ótimas de soldagem
13. de forma a minimizar as distorções. O procedimento consiste essencialmente em iniciar a soldagem
dos enrijecedores a partir do ponto mais rígido do painel a ser soldado, ou seja, do centro para a
extremidade, balanceando as forças de contração da solda (TSAI E CHENG, 2003 apud PICANÇO
2010).
3.4.3 Correção das distorções residuais após soldagem
A remoção de distorções residuais de soldagem consiste basicamente em alongar áreas
contraídas e contrair as regiões alongadas (OKUMURA, 1982). Os procedimentos de remoção são
classificados em dois grupos: métodos mecânicos e métodos térmicos.
Os métodos térmicos envolvem a remoção da distorção utilizando aquecimentos localizados.
A remoção a frio consiste no uso de técnicas mecânicas que empregam equipamentos como prensas
(compressão), calandras ou martelamento para remover a distorção(www.iem.unifei.edu.br).
(a) (b)
Figura 12 - Aplicação do método térmico para correção de distorções: (a) Aquecimento localizado para corrigir
distorção.(b) Aquecimento em linha para corrigir distorção angular numa solda de filete.
Fonte: (www.iem.unifei.edu.br)
Figura 12 - Uso da prensa para corrigir encurvamento em uma junta em T.
Fonte: (www.iem.unifei.edu.br)
14. 4. Conclusão
O presente trabalho apresentou uma revisão bibliográfica sobre a influência da soldagem na
geração de tensões residuais e distorções em estruturas soldadas na indústria naval. As apreciações
feitas demonstram como são minuciosos os mecanismos de geração de tensão e a significância de
suas consequências na indústria naval, principalmente nos itens relacionados a danos estruturais e
dispêndio de tempo com retrabalho para corrigir imperfeições.
Autores relatam a importância da soldagem na etapa produtiva de um navio, e também o fato
deste processo ser o principal gerador de tensões residuais e distorções na indústria naval.
Diversos métodos para medição das tensões, alívio de tensões e controle de deformações
são mencionados pelos autores. O objetivo dessas técnicas é reduzir uma das principais dificuldades
do setor que são as distorções. Entretanto para que propósitos sejam alcançados é necessária maior
compreensão dos efeitos dos processos produtivos aplicados durante a fabricação, associado a
tecnologias que apliquem menor quantidade de calor.
15. 3 Referências Bibliográficas
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Congresso Brasileiro de Petróleo e Gás, 2004.
• S. E. G. Melo, R. Y.Qassim“Simulação da Soldagem de Painéis Planos”, 21º Congresso
Nacional de Transporte Aquaviário, Construção Naval e Offshore, 2006.
• Gurova, Tetyana; Quaranta, Francisco; Stefen, Segen. “Monitoramento do estado das tensões
residuais durante fabricação de navios”, 21º Congresso Nacional de Transporte Aquaviário,
Construção Naval e Offshore, 2006.
• Picanço, M. L. G. “A robótica na indústria naval”: Trabalho de Conclusão de Curso - Faculdade
de Engenharia Mecânica do Instituto Tecnológico na Universidade Federal do Pará, Belém,
2010.
• Marqueze. C. M. “Análise por ultrassom da textura dos materiais e tensões residuais em juntas
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• Nunes, R. M. “Análise de tensões residuais no processo de trefilação combinada do aço AISI
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• Rodrigues, L. D. “Medição de tensões residuais em tubos visando a determinação de esforços
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Científico da PUC- Rio, Rio de Janeiro, 2007.
• Soares, Vieira, M. C. B. “influência das tensões residuais no comportamento em fadiga e
fratura de ligas metálicas”: Tese (Doutorado em Ciências na Área de Reatores Nucleares de
Potência e Tecnologia do Combustível Nuclear) - Instituto de PesquisasEnergéticas e
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• Soares, Cosme, A. C. “Avaliação dos efeitos da plasticidade na medição de tensões residuais
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Científico da PUC-Rio, Rio de Janeiro, 2003.
• Cofinõ, R. C.“Análise das tensões residuais em uma junta soldada em condição overmatch”:
Trabalho de Conclusão de Curso - Centro Universitário da FEI, São Bernardo do Campo, 2010.
• Soares, Guimarães, H. C. “Estudo de sequência de soldagem para redução e eliminação de
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Belo Horizonte, 2006.
16. • Okumura, T; Taniguchi, C. “Engenharia de soldagem e aplicações”. Rio de Janeiro: S.A,1982.
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Disponível em: http://www.sinaval.org.br/. Acessado em: 27 de agost. 2012.
• Modenesi, P. J; Marques, P. V; Santos, D. B. “Efeitos mecânicos do ciclo térmico”. Disponível
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http://www.iem.unifei.edu.br/professores/edmilson/Distortion35.pdf. Acessado em 10 out. 2012.