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MOURARIA




                                                              CUMPLIAasCIDADE S de BAIRRO | 2013
                                                                    | LISBOA | 22 | JANEIRO
DE QUE SE FALA QUANDO SE DIZ QUE É UM BAIRRO?


                          Marluci Menezes – marluci@lnec.pt
Pré-contextos de uma reflexão


     “Lisboa são seus bairros” …
  O “entrar” na pesquisa da realidade urbana lisboeta (princípio dos anos 90):

  • Dois estudos em bairros degradados: Casal Ventoso e Quinta da
    Casquilha (Menezes et. al, 1992; Machado et. al, 1992).

  Evidenciação de alguns aspectos relacionados com os modos de apropriação
  e organização social do espaço:

  • As múltiplas influências que o modelo físico de arranjo espacial, o grau
    de abertura ou fechamento socio-urbanístico dos contextos, as relações
    entre espaço exterior e interior, as práticas e a visibilidade dos grupos
    em presença, exercem sobre as configurações socio-espaciais e sobre a
    construção de uma ideia de «bairro».
Pressupostos de uma reflexão


       “De facto, não nos interessa saber unicamente como uma determinada
       sociedade se organizou no sentido de encontrar satisfação para as suas
       necessidades materiais e espirituais; queremos também saber como ela
        reflecte sobre essas mesmas necessidades, isto é, não nos basta saber
                     como vive, queremos saber como pensa e sente”

                                    Jorge DIAS (1961)
                 Estudos de Antropologia; vol. I, Temas Portugueses, Lisboa




MM - NESO/LNEC
Pré-contextos de uma reflexão
    Bairro: um espaço vivido …
•   Conhecer Lisboa, a partir dos seus bairros, foi uma intenção desde que passei a viver em
    Lisboa.
•   Fui morar num destes bairros – Madragoa – , pois outras realidades residenciais não eram
    propriamente aquilo que, até então, considerava como sendo a alma lisboeta.
•   Paralelamente iniciei um processo de tese de mestrado, tendo a Madragoa se constituído o
    contexto socio-espacial de estudo.
•   Realizei um estudo antropológico sobre o espaço social do bairro observando os aspectos
    socio-espaciais que, a partir da relação casa, rua e bairro, mais eram valorizados pelos
    moradores na construção de uma ideia de bairro.




                                  Fonte: Menezes, 2002
Pré-contextos de uma reflexão


   Um bricolage do quotidiano
• Os resultados do estudo permitiram observar que,
  paralelamente à afirmação e preservação da
  identidade socio-espacial – onde as imagens
  passadas, as presentes e as perspectivas futuras eram
  constantemente postas em relação –, dava-se uma
  mudança nos valores socioculturais locais de
  organização e arranjo do espaço.
• Tal permitiu inferir sobre a existência de um processo
  constante de reformulação socio-espacial que
  enriquecia o campo das significações imaginárias do
  bairro.
Pré-contextos de uma reflexão
   Bairro – casa – rua … Um pretexto de estudo para compreender a cidade
• Finalizado o estudo na Madragoa, quis conhecer como a relação entre
  determinados símbolos urbanos, valores socioculturais, arranjo formal do espaço,
  representações, práticas e as experiências dos indivíduos se articulavam com os
  processos de reformulação socio-espacial e o campo de significações imaginárias
  da cidade.
• Visava aprofundar o estudo da relação entre casa - rua - bairro no sentido de
  analisar como essa relação contribuía para a reconfiguração da imagem da ideia
  de bairro.
• Com o interesse em alargar os horizontes socio-espaciais, considerou-se oportuno
  estudar um outro bairro que não a Madragoa.
Pré-contextos de uma reflexão
   Bairro – casa – rua … Um pretexto de estudo para compreender a cidade
• Os trabalhos de Firmino da Costa (1999) – sobre Alfama – e Graça Í. Cordeiro
  (1997) – sobre a Bica –, foram referências incontornáveis que, não esgotando novas
  perspectivas de abordagem, mostraram que, apesar da idealização e mesmo
  mitificação dos bairros típicos de Lisboa, os seus universos socioculturais ainda
  eram relativamente desconhecidos.
• Considerei que um eventual contributo poderia ser no sentido de enriquecer o
  conhecimento desses contextos, analisando e interpretando o quotidiano de um
  outro bairro que não Alfama, Bica ou Madragoa.
• Quanto mais caminhava pelos bairros populares da cidade, quanto mais sobre eles
  lia, um bairro, sobre todos os outros mostrou-se particularmente expressivo.
• Com muita «má fama», poucos estudos de carácter sociológico, muita mistura
  social e cultural, muito destruído nos anos quarenta, misto de atração e repulsa, a
  Mouraria mostrava-se um desafio …
Bairro da Mouraria | Lisboa
Gravura de Lisboa |Fins sec. XVI: Demarcação aproximada do bº da Mouraria
Carta de Lisboa – 1650 (J. Tinoco): Demarcação aproximada do bº da Mouraria
Ponto de partida de um estudo antropológico na Mouraria

   A partir da relação entre a casa e a rua, quais são os aspectos
   socioculturais que atualizam a ideia de bairro?
• A Mouraria revelou-se como um contexto particularmente interessante para
  analisar os processos de reformulação socio-espacial e perceber como tais
  reformulações se repercutiam na imagem identitária do bairro.
• Inocentemente julguei que a Mouraria poderia ser um interessante contraponto
  com as informações de que já dispunha relativamente ao bairro da Madragoa.
• Consoante as leituras feitas sobre o bairro, e as primeiras investidas em terreno de
  pesquisa, dei-me conta que a motivação de partida teria de ser enquadrada num
  outro tipo de problemática:
   Como é que as metáforas que fazem menção ao bairro projetam
   imagens culturais e urbanas que ao mesmo tempo que viabilizam a
   sua emblematização podem segregá-lo e marginalizá-lo?
BAIRRO
Mouraria como objeto de estudo
1. A partir da história urbana e social do bairro:
• Reflexão sobre a dualidade da invenção do bairro como contexto segregado para os
  «mouros vencidos» e como contexto «tradicional» e «típico».
2. A partir dos mitos ligados ao bairro:
• Severa e Martim Moniz: mitos de fundação do bairro?
3. A partir dos processos de estigmatização e de emblematização:
• Assinala-se que algumas dinâmicas que suportam os continuados processos de
  estigmatização territorial e de emblematização, enquadrando uma perspectiva
  continuada de reconstrução da realidade simbólica e da imagem urbana do bairro.
4. A partir da análise socio-demográfica e habitacional:
• Assinala-se como que a complexidade e a multidimensionalidade do espaço local
  ultrapassam as dimensões colocadas por quadros estatísticos de caracterização e
  descrição.
Fonte: Menezes, 2004, 2012
Fonte: Menezes, 2004, 2012
A Mouraria a partir da Severa
           MUNDO DO VÍCIO                                                             MUNDO DA VIRTUOSIDADE
     Pobreza / Miséria / Doença                                                  Riqueza / Boas condições de vida /
                                                                                              Saúde
                                         OPOSIÇÃO E INTERSECÇÃO ENTRE ESPAÇOS
                                                   SOCIAIS DISTINTOS



        Baixo estatuto social                                                       Médio / Alto estatuto social

                                                   Ambiguidade




Mulheres nas tascas, tabernas, à porta    Encontro nos espaços públicos da      Mulheres na casa / Mães de família
            / Prostitutas                              cidade

      Homens vadios e fadistas                   Fortes e destemidos              Homens elegantes e cavaleiros
          Pobreza no trajar                Recursos aos acessórios da moda               Riqueza no trajar
                                          (lenços, brincos, capotes, chapéus,
                                                          etc.)

      Submissão às autoridades                     Insubordinação                           Autoridade
          Risco / Liberdade                           Aventura                  Compromissos sociais / Acomodação
  Menos esperança de vida (Severa        Média esperança de vida (Conde de            Mais esperança de vida
   morre aos 26 anos de idade)           Vimioso morre aos 47 anos de idade)
                                                 Fonte: Menezes, 2004
BAIRRO
Mouraria como objeto de estudo
5. A percepção dos limites e fronteiras do bairro:
•   A inserção do território da Mouraria na paisagem urbana.
•   Como os indivíduos se pronunciam relativamente à extensão do território do bairro e quais
    são as referências sociais, topográficas, arquitectónicas e simbólicas que são utilizadas como
    meios de orientação no espaço (importou as noções de multilocalidade e multivocalidade).
•   Como os limites e os referenciais de orientação são mais dependentes das relações sociais
    de que de factores de ordem geográfica e urbanística, desse modo inferindo a importância
    das lógicas duais, ambíguas e ambivalentes na forma como o espaço é apropriado e
    percebido.




                                        Fonte: Menezes, 2004
Elementos de síntese da identificação do lugar Mouraria na paisagem urbana
SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E   Situado no lado Oriental da cidade entre as colinas da Graça e Colina do Castelo (vertentes Norte e Poente).
ADMINISTRATIVA DO
TERRITÓRIO DO BAIRRO    Sem delimitações precisas, de extensão irregular e elástica, podendo estender-se pelo território administrativo de várias
                        freguesias ou restringir-se a determinadas áreas.
                        Administrativamente não existe bairro ou local de nome Mouraria.

                        Com uma área central localizada no interior da freguesia do Socorro.
                        O território do bairro insere-se numa área de intervenção e reabilitação urbana.
ORGANIZAÇÃO DO          Malha urbana de consolidação pré-pombalina, com influência dos períodos seguintes.
ESPAÇO URBANO
                        Próximo de importantes eixos viários. Acessibilidades locais condicionadas e deficitárias devido à situação de declive, malha
                        urbana apertada e densidade construtiva; existência de transportes públicos na envolvência urbana.
                        Do ponto de vista urbanístico, o bairro encontra-se relativamente fechado para o exterior.
                        Área com predomínio da actividade residencial e comercial.
INDÍCIOS GEOGRÁFICOS,   Identificação por aproximação do território do bairro a partir das colinas do Castelo, da Graça, do Monte e de Sant’Ana.
URBANOS E SOCIAIS
                        Indícios assinalados no território: edifícios (Coleginho, Centro Comercial da Mouraria, Edifício Amparo, Capela de N.ª Sr.ª da
                        Saúde); rede do metropolitano (estação do Martim Moniz); toponímia local.
                        Indícios sociais: práticas específicas de uso e apropriação do espaço público urbano; concentração local de um comércio grossista
                        controlado por indianos, chineses, portugueses e africanos.
CONTEXTO DE             A organização física do território, as práticas ligadas à actividade residencial e comercial, as características socioculturais e
INTERACÇÃO SOCIAL
                        económicas da população, a espessura das redes sociais, familiares e dos laços de vizinhança, os modos de habitar, viver e
                        experimentar a rua, os modos de vinculação, experimentação e representação do contexto local, o envolvimento em
                        determinadas actividades associativas, a reiteração e intensidade das interacções quotidianas, os modos e as formas de
                        apropriação e reprodução da historicidade local, a influência e os modos de inserção das instituições supralocais, a rivalidade
                        interbairrista, a expressividade e continuidade de determinadas formas culturais e simbólicas como a procissão, as festas, o arraial
                        e a marcha popular, tornam pertinente a consideração de que a Mouraria é um «quadro de interacção» com força para se
                        reproduzir, a par das suas permanências e transformações, como um lugar na cidade (Cordeiro e Costa: 1999).


                                                                Fonte: Menezes, 2004
A plasticidade da extensão do território do bairro
                                               «ISTO TUDO» «ESTE BOCADINHO»
       TERRITÓRIO DE GRANDE DIMENSÃO, IMPRECISO IRREGULAR E TERRITÓRIO DE PEQUENA DIMENSÃO, COM MAIS REGULARIDADES NA
                                                   AMBÍGUO SUA DEMARCAÇÃO
  SOBREPOSIÇÃO/      RECONFIGURAÇÕES      CONTINUIDADE      CENTRO / «CORAÇÃO DO            ESPAÇO SEGMENTADO
CORRESPONDÊNCIA                                                    BAIRRO»
                                                                                     PONTOS NODAIS      DOIS CENTROS
COM TERRITÓRIO DA
                                                                                                         SIMBÓLICOS
FREG. DO SOCORRO



LÓGICAS SIMBÓLICAS      DESTACAM-SE         A PARTIR DE CERTAS        VINCULAÇÃO E       VENDA E CONSUMO          CENTRO
     SEPARA             DESTRUIÇÃO         FORMAS CULTURAIS E        SENTIMENTO DE          DE DROGA           RESIDENCIAL/
                        URBANÍSTICA             SIMBÓLICAS              PERTENÇA            COMÉRCIO DE        «CORAÇÃO DO
     AGRUPA
                                             FESTAS E RITUAIS     VALIDAÇÃO SIMBÓLICA     REVENDA / PONTO        BAIRRO»
     MESCLA           REDEFINIÇÃO DOS
                        LIMITES DAS                                                       DE ENCONTRO DE        CENTRO DO
    CONFUNDE                                                        DESVALORIZAÇÃO
                        FREGUESIAS                                                            DISTINTOS         COMÉRCIO
                                                                       SIMBÓLICA
                                                                                             INDIVÍDUOS
                      SUBSTITUIÇÃO DO
                     TECIDO DESTRUÍDO                                                    CENTRO COMERCIAL
                                                                                           DA MOURARIA
                       ALTERAÇÃO DAS
                      DINÂMICAS LOCAIS
                        REABILITAÇÃO
                          URBANA
                      TRANSFORMAÇÃO
                      CONTINUADA DAS
                                                                                            ESPAÇOS INTERCALARES AMBÍGUOS,
                     DINÂMICAS SOCIAIS E
                                                                                                INTERSTICIAIS E LIMINARES
                         URBANAS
                                                                                          CONSTITUIÇÃO DE ESTRATÉGIAS SOCIO-
                                                                                            SIMBÓLICAS DE DEMARCAÇÃO E
                                                                                                      DISTINÇÃO
           RELAÇÕES AMBÍGUAS E/OU AMBIVALENTES                       LÓGICAS SIMBÓLICAS E ESPACIAIS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO


                                                   Fonte: Menezes, 2004
Da plasticidade do lugar à especificidade da gramática social do espaço
                      Linguagens e formas de orientação no espaço

Em cima / em
baixo                              Distinção entre «centro» e «arredores»


Longe / perto        Conotação topográfica de menos valor simbólico que conotação social


Dentro / fora          Complexa lógica de ordenação e hierarquização social do espaço



Frente / Atrás   Reforço de um processo de segregação         Visibilidade ou resguardo socio-
                             socio-espacial                                espacial



                 Relações ambíguas e/ou ambivalentes          Lógicas simbólicas e espaciais de
                                                                     inclusão e exclusão



                                       Fonte: Menezes, 2004
Mouraria como objeto de estudo

6. A partir das práticas de uso e apropriação do espaço público:
• Captar como a experiência fenomenológica do lugar participa do processo de
  construção de imagens identitárias do bairro.
• Descrição das microgeografias quotidianas de uso e apropriação do espaço público.
• A visibilidade das práticas quotidianas associadas aos ritmos que lhe conferem
  vida, estimulam a criação de metáforas que se reflectem como imagens do bairro.
• Reflexão sobre as transformações temporárias do espaço público nas situações
  extraordinárias.
Ex. Microgeografias quotidianas de uso e apropriação do espaço público




                            Fonte: Menezes, 2004, 2010; Magnani, 2000
Quartier du Mouraria
Mouraria sec. XXI
Mouraria como objeto de estudo

7. A partir das representações, visões e tipos de experiências que sustentam
determinadas imagens culturais e urbanas da Mouraria na atualidade:
• Captar como os de «dentro» (tidos como os “filhos do bairro”) refletem o bairro.
• Captar como os de «fora» refletem o bairro.
• «Dentro» e «fora» como noções recíprocas que se influenciam mutuamente.
• Demonstrar como através da relação entre os de «dentro» e os de «fora», entre o
  tempo de «antes» e o de «agora», novos elementos são introduzidos no processo
  de construção de imagens identitárias, enquanto outros se reproduzem de forma
  continuada.
• Ampliação do campo das significações imaginárias do bairro, onde a Mouraria
  tanto pode ser evocada como um bairro típico e tradicional, multicultural e
  multiétnico, como um contexto repleto de liminaridades sociais e espaciais.
Mouraria como objeto de estudo

7. A partir das representações, visões e tipos de experiências que sustentam
determinadas imagens culturais e urbanas da Mouraria na atualidade:
• Captar como os de «dentro» (tidos como os “filhos do bairro”) refletem o bairro.
• Captar como os de «fora» refletem o bairro.
• «Dentro» e «fora» como noções recíprocas que se influenciam mutuamente.
• Demonstrar como através da relação entre os de «dentro» e os de «fora», entre o
  tempo de «antes» e o de «agora», novos elementos são introduzidos no processo
  de construção de imagens identitárias, enquanto outros se reproduzem de forma
  continuada.
• Ampliação do campo das significações imaginárias do bairro, onde a Mouraria
  tanto pode ser evocada como um bairro típico e tradicional, multicultural e
  multiétnico, como um contexto repleto de liminaridades sociais e espaciais.
Das intervenções nas «imagens» do bairro Mouraria …
Mouraria como objeto de reabilitação
urbana
• É em meados dos anos 80 do séc. XX que se dá inicio, em Lisboa, uma política de
  reabilitação urbana.

•   Os bairros de Alfama e da Mouraria serão os primeiros onde se constituem
    gabinetes técnicos locais de reabilitação urbana.
A atualidade da Mouraria como
objeto de reabilitação urbana

• Programa Ação Mouraria (Câmara
  Municipal de Lisboa - CML).
• “Intervenção de maior visibilidade e
  indutora de novos comportamentos”
  ---» “requalificação do espaço
  público”
• Atividades programadas: “dimensão
  identitária e de integração” a partir
  ---» Ação Corredor Intercultural.
• Foi desenvolvido um Plano de
  Desenvolvimento Comunitário para
  apoiar o Programa.
Mas como que a intervenção em espaço público altera comportamentos?


   Princípios | Programa Ação Mouraria
   • Percurso turístico-cultural
   • Espaços de lazer
   • Educação para as boas práticas de conviabilidade pública
   • Corredor intercultural

   Iniciativas | Já implementadas
   • Intervenção pontual em micros espaços públicos locais (próxima do
     conceito “acupuntura urbana”
   • Renovação de edifícios tidos como “estrutura identitária” (para
     lazer ou equipamento de apoio social)
   • Intervenção em EPU de maior dimensão (Largo do Intendente,
     Praça do Martim Moniz: Mercado de Fusão)

MM - NESO/LNEC
Ex. A intervenção na Praça do Martim Moniz

  Princípios | Cf. Responsável pela empresa
  passou a gerir a Praça

  O que ali se pretende é que …
  • “Além das marcas reconhecidas, no
    mercado vão entrar também pequenos
    negócios dos bairros envolventes e que
    ajudarão a divulgar as culturas que tornam
    a Mouraria um sítio pleno de diversidade”
                                                 “Urbanalização” do território?
  Sendo que …
                                                 Um “triunfo absoluto do comum”
  • “Não é tanto a ideia do mercado do           por contraposição à minimização
    artesanato, mas de uma galeria de            da presença da complexidade e
    negócios” (in Dinheiro Vivo, 11.05.2012)     das diferenças (Muños: 2004)?

  .
Mas como é que a “educação para as boas práticas de convivialidade
em espaço público” resolve as contradições locais?

  A prolífera imaginação urbana – enquanto reflexão política-técnica sobre o que a
  “cidade deve ser” (Gorelik, 2004) – permite considerar que agora “há vida na
  Mouraria”, como se antes não houvesse …


  .




          Fonte: Arquivo Fotográfico CML
Das metáforas às imagens identitárias de um BAIRRO
MÁ FAMA E TIPICIDADE       COMPLICADO /             MULTICULTURALIDADE /         CULTURAL
                          CONTRADITÓRIO               MULTIETNICIDADE

        Vício                Insalubridade          Lenda de Martim Moniz          Culturas
       Miséria            Falta de civilização       Centro Comercial (da           Todos
    Tempestuoso                  Crime               Mouraria e do Martim      Práticas antigas
     Prostituição         Desordem pública                  Moniz)           Património material
  Descaracterizado              Marginal                 Mistura social      Património imaterial
        Fado                  Ilegalidades            Convívio multiétnico    Gastronomia árabe
       Fadista                   Gueto                      Mundos           Gastronomia galega
      Bairrismo            Vale dos vencidos           Mundo português          Internacional
       Antigo                     Texas                 ESPAÇO PLURAL
  Festas populares            Chaga Social                  Outros
       Marcha                 Insegurança                Cosmopolita
      Procissão               Prostituição              Outra geografia
  Pitoresco (ruas e           Sem-abrigo             Fragrâncias e Odores
      edifícios)       Sem papeis / Imigrantes               Cores
                         Toxicodependentes /               Paladares
                               Traficantes
                        Degradação do parque
                                edificado
                          Precariedade social
                                Sujidade

                                     Fonte: Menezes, 2004, 2012
Das metáforas às imagens identitárias de um BAIRRO



    Quando iniciei o trabalho na Mouraria muitos me disseram coisas como:
•   “Bairro ? Qual bairro”
•   “A Mouraria deixou de existir nos anos 40 ….”
    E, nos dias de hoje, pergunto-me: bairro, qual bairro?
    Mas, a prolífera imaginação urbana ….
•   Continua por contribuir para a continuidade da Mouraria …
•   Para além dos tantos fazedores de imagem identitárias de bairros …., julga-se,
    contudo, que resta estudar as imagens que a «academia» tem vindo a produzir
    sobre o bairro …
Bibliografia citada
COSTA, A. Firmino da (1999). Sociedade de Bairro; Celta Editora, Oeiras
CORDEIRO, Graça I. (1997). Um Lugar na Cidade – Quotidiano, Memória e Representação no Bairro da Bica;
Publicações Dom Quixote, Lisboa
DIAS, Jorge (1961) - Estudos de Antropologia; vol. I, Temas Portugueses, Lisboa
GORELIK, Adrián (2004). Imaginarios urbanos e imaginación urbana. Para un recorrido por los lugares comunes de
los estudios culturales urbanos. Bifurcaciones.
MACHADO, P.; LUTAS CRAVEIRO, J.; MENEZES, M. (1992). Contributos para o estudo de um Bairro Degradado da
Cidade de Lisboa - análise socio-ecológica da Quinta da Casquilha, ITECS 10, LNEC: Lisboa.
MAGNANI, José G. Cantor (2000). “Quando o campo é a cidade: fazendo antropologia na metrópole”; in MAGNANI,
José G. Cantor, TORRES, Lilian de Lucca (org.), Na Metrópole – Textos de Antropologia Urbana; 2ª ed., EDUSP, São
Paulo, pp. 12-53
MENEZES, M. (2012). Debatendo mitos, representações e Convicções acerca da invenção de um bairro lisboeta. In
Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), Número temático: Imigração,
Diversidade e convivência Cultural, pp. 69-95.
MENEZES, M. (2004). Mouraria, retalhos de um imaginário: significados urbanos de um bairro de Lisboa. Celta
Editora: Oeiras.
MENEZES, M. (2010). Ser urbano em espaço público: Captar a (in)visibilidade das práticas de (in)sustentabilidade
urbana. In Gomes, M.F.; Barbosa, M. J. Cidade e Sustentabilidade: Mecanismos de Controle e Resistência. Terra
Vermelha: Rio de Janeiro, pp. 41-58.
MENEZES, M.; REBELO, M. e CRAVEIRO, J. (1992). Bairro Casal Ventoso - elementos para uma caracterização socio-
ecológica, ITECS 17, LNEC: Lisboa.

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Coloquio cumplicidades bairro, apresentação Marluci Menezes

  • 1. MOURARIA CUMPLIAasCIDADE S de BAIRRO | 2013 | LISBOA | 22 | JANEIRO DE QUE SE FALA QUANDO SE DIZ QUE É UM BAIRRO? Marluci Menezes – marluci@lnec.pt
  • 2. Pré-contextos de uma reflexão “Lisboa são seus bairros” … O “entrar” na pesquisa da realidade urbana lisboeta (princípio dos anos 90): • Dois estudos em bairros degradados: Casal Ventoso e Quinta da Casquilha (Menezes et. al, 1992; Machado et. al, 1992). Evidenciação de alguns aspectos relacionados com os modos de apropriação e organização social do espaço: • As múltiplas influências que o modelo físico de arranjo espacial, o grau de abertura ou fechamento socio-urbanístico dos contextos, as relações entre espaço exterior e interior, as práticas e a visibilidade dos grupos em presença, exercem sobre as configurações socio-espaciais e sobre a construção de uma ideia de «bairro».
  • 3. Pressupostos de uma reflexão “De facto, não nos interessa saber unicamente como uma determinada sociedade se organizou no sentido de encontrar satisfação para as suas necessidades materiais e espirituais; queremos também saber como ela reflecte sobre essas mesmas necessidades, isto é, não nos basta saber como vive, queremos saber como pensa e sente” Jorge DIAS (1961) Estudos de Antropologia; vol. I, Temas Portugueses, Lisboa MM - NESO/LNEC
  • 4. Pré-contextos de uma reflexão Bairro: um espaço vivido … • Conhecer Lisboa, a partir dos seus bairros, foi uma intenção desde que passei a viver em Lisboa. • Fui morar num destes bairros – Madragoa – , pois outras realidades residenciais não eram propriamente aquilo que, até então, considerava como sendo a alma lisboeta. • Paralelamente iniciei um processo de tese de mestrado, tendo a Madragoa se constituído o contexto socio-espacial de estudo. • Realizei um estudo antropológico sobre o espaço social do bairro observando os aspectos socio-espaciais que, a partir da relação casa, rua e bairro, mais eram valorizados pelos moradores na construção de uma ideia de bairro. Fonte: Menezes, 2002
  • 5. Pré-contextos de uma reflexão Um bricolage do quotidiano • Os resultados do estudo permitiram observar que, paralelamente à afirmação e preservação da identidade socio-espacial – onde as imagens passadas, as presentes e as perspectivas futuras eram constantemente postas em relação –, dava-se uma mudança nos valores socioculturais locais de organização e arranjo do espaço. • Tal permitiu inferir sobre a existência de um processo constante de reformulação socio-espacial que enriquecia o campo das significações imaginárias do bairro.
  • 6. Pré-contextos de uma reflexão Bairro – casa – rua … Um pretexto de estudo para compreender a cidade • Finalizado o estudo na Madragoa, quis conhecer como a relação entre determinados símbolos urbanos, valores socioculturais, arranjo formal do espaço, representações, práticas e as experiências dos indivíduos se articulavam com os processos de reformulação socio-espacial e o campo de significações imaginárias da cidade. • Visava aprofundar o estudo da relação entre casa - rua - bairro no sentido de analisar como essa relação contribuía para a reconfiguração da imagem da ideia de bairro. • Com o interesse em alargar os horizontes socio-espaciais, considerou-se oportuno estudar um outro bairro que não a Madragoa.
  • 7. Pré-contextos de uma reflexão Bairro – casa – rua … Um pretexto de estudo para compreender a cidade • Os trabalhos de Firmino da Costa (1999) – sobre Alfama – e Graça Í. Cordeiro (1997) – sobre a Bica –, foram referências incontornáveis que, não esgotando novas perspectivas de abordagem, mostraram que, apesar da idealização e mesmo mitificação dos bairros típicos de Lisboa, os seus universos socioculturais ainda eram relativamente desconhecidos. • Considerei que um eventual contributo poderia ser no sentido de enriquecer o conhecimento desses contextos, analisando e interpretando o quotidiano de um outro bairro que não Alfama, Bica ou Madragoa. • Quanto mais caminhava pelos bairros populares da cidade, quanto mais sobre eles lia, um bairro, sobre todos os outros mostrou-se particularmente expressivo. • Com muita «má fama», poucos estudos de carácter sociológico, muita mistura social e cultural, muito destruído nos anos quarenta, misto de atração e repulsa, a Mouraria mostrava-se um desafio …
  • 9. Gravura de Lisboa |Fins sec. XVI: Demarcação aproximada do bº da Mouraria
  • 10. Carta de Lisboa – 1650 (J. Tinoco): Demarcação aproximada do bº da Mouraria
  • 11. Ponto de partida de um estudo antropológico na Mouraria A partir da relação entre a casa e a rua, quais são os aspectos socioculturais que atualizam a ideia de bairro? • A Mouraria revelou-se como um contexto particularmente interessante para analisar os processos de reformulação socio-espacial e perceber como tais reformulações se repercutiam na imagem identitária do bairro. • Inocentemente julguei que a Mouraria poderia ser um interessante contraponto com as informações de que já dispunha relativamente ao bairro da Madragoa. • Consoante as leituras feitas sobre o bairro, e as primeiras investidas em terreno de pesquisa, dei-me conta que a motivação de partida teria de ser enquadrada num outro tipo de problemática: Como é que as metáforas que fazem menção ao bairro projetam imagens culturais e urbanas que ao mesmo tempo que viabilizam a sua emblematização podem segregá-lo e marginalizá-lo?
  • 12. BAIRRO Mouraria como objeto de estudo 1. A partir da história urbana e social do bairro: • Reflexão sobre a dualidade da invenção do bairro como contexto segregado para os «mouros vencidos» e como contexto «tradicional» e «típico». 2. A partir dos mitos ligados ao bairro: • Severa e Martim Moniz: mitos de fundação do bairro? 3. A partir dos processos de estigmatização e de emblematização: • Assinala-se que algumas dinâmicas que suportam os continuados processos de estigmatização territorial e de emblematização, enquadrando uma perspectiva continuada de reconstrução da realidade simbólica e da imagem urbana do bairro. 4. A partir da análise socio-demográfica e habitacional: • Assinala-se como que a complexidade e a multidimensionalidade do espaço local ultrapassam as dimensões colocadas por quadros estatísticos de caracterização e descrição.
  • 15. A Mouraria a partir da Severa MUNDO DO VÍCIO MUNDO DA VIRTUOSIDADE Pobreza / Miséria / Doença Riqueza / Boas condições de vida / Saúde OPOSIÇÃO E INTERSECÇÃO ENTRE ESPAÇOS SOCIAIS DISTINTOS Baixo estatuto social Médio / Alto estatuto social Ambiguidade Mulheres nas tascas, tabernas, à porta Encontro nos espaços públicos da Mulheres na casa / Mães de família / Prostitutas cidade Homens vadios e fadistas Fortes e destemidos Homens elegantes e cavaleiros Pobreza no trajar Recursos aos acessórios da moda Riqueza no trajar (lenços, brincos, capotes, chapéus, etc.) Submissão às autoridades Insubordinação Autoridade Risco / Liberdade Aventura Compromissos sociais / Acomodação Menos esperança de vida (Severa Média esperança de vida (Conde de Mais esperança de vida morre aos 26 anos de idade) Vimioso morre aos 47 anos de idade) Fonte: Menezes, 2004
  • 16. BAIRRO Mouraria como objeto de estudo 5. A percepção dos limites e fronteiras do bairro: • A inserção do território da Mouraria na paisagem urbana. • Como os indivíduos se pronunciam relativamente à extensão do território do bairro e quais são as referências sociais, topográficas, arquitectónicas e simbólicas que são utilizadas como meios de orientação no espaço (importou as noções de multilocalidade e multivocalidade). • Como os limites e os referenciais de orientação são mais dependentes das relações sociais de que de factores de ordem geográfica e urbanística, desse modo inferindo a importância das lógicas duais, ambíguas e ambivalentes na forma como o espaço é apropriado e percebido. Fonte: Menezes, 2004
  • 17. Elementos de síntese da identificação do lugar Mouraria na paisagem urbana SITUAÇÃO GEOGRÁFICA E Situado no lado Oriental da cidade entre as colinas da Graça e Colina do Castelo (vertentes Norte e Poente). ADMINISTRATIVA DO TERRITÓRIO DO BAIRRO Sem delimitações precisas, de extensão irregular e elástica, podendo estender-se pelo território administrativo de várias freguesias ou restringir-se a determinadas áreas. Administrativamente não existe bairro ou local de nome Mouraria. Com uma área central localizada no interior da freguesia do Socorro. O território do bairro insere-se numa área de intervenção e reabilitação urbana. ORGANIZAÇÃO DO Malha urbana de consolidação pré-pombalina, com influência dos períodos seguintes. ESPAÇO URBANO Próximo de importantes eixos viários. Acessibilidades locais condicionadas e deficitárias devido à situação de declive, malha urbana apertada e densidade construtiva; existência de transportes públicos na envolvência urbana. Do ponto de vista urbanístico, o bairro encontra-se relativamente fechado para o exterior. Área com predomínio da actividade residencial e comercial. INDÍCIOS GEOGRÁFICOS, Identificação por aproximação do território do bairro a partir das colinas do Castelo, da Graça, do Monte e de Sant’Ana. URBANOS E SOCIAIS Indícios assinalados no território: edifícios (Coleginho, Centro Comercial da Mouraria, Edifício Amparo, Capela de N.ª Sr.ª da Saúde); rede do metropolitano (estação do Martim Moniz); toponímia local. Indícios sociais: práticas específicas de uso e apropriação do espaço público urbano; concentração local de um comércio grossista controlado por indianos, chineses, portugueses e africanos. CONTEXTO DE A organização física do território, as práticas ligadas à actividade residencial e comercial, as características socioculturais e INTERACÇÃO SOCIAL económicas da população, a espessura das redes sociais, familiares e dos laços de vizinhança, os modos de habitar, viver e experimentar a rua, os modos de vinculação, experimentação e representação do contexto local, o envolvimento em determinadas actividades associativas, a reiteração e intensidade das interacções quotidianas, os modos e as formas de apropriação e reprodução da historicidade local, a influência e os modos de inserção das instituições supralocais, a rivalidade interbairrista, a expressividade e continuidade de determinadas formas culturais e simbólicas como a procissão, as festas, o arraial e a marcha popular, tornam pertinente a consideração de que a Mouraria é um «quadro de interacção» com força para se reproduzir, a par das suas permanências e transformações, como um lugar na cidade (Cordeiro e Costa: 1999). Fonte: Menezes, 2004
  • 18. A plasticidade da extensão do território do bairro «ISTO TUDO» «ESTE BOCADINHO» TERRITÓRIO DE GRANDE DIMENSÃO, IMPRECISO IRREGULAR E TERRITÓRIO DE PEQUENA DIMENSÃO, COM MAIS REGULARIDADES NA AMBÍGUO SUA DEMARCAÇÃO SOBREPOSIÇÃO/ RECONFIGURAÇÕES CONTINUIDADE CENTRO / «CORAÇÃO DO ESPAÇO SEGMENTADO CORRESPONDÊNCIA BAIRRO» PONTOS NODAIS DOIS CENTROS COM TERRITÓRIO DA SIMBÓLICOS FREG. DO SOCORRO LÓGICAS SIMBÓLICAS DESTACAM-SE A PARTIR DE CERTAS VINCULAÇÃO E VENDA E CONSUMO CENTRO SEPARA DESTRUIÇÃO FORMAS CULTURAIS E SENTIMENTO DE DE DROGA RESIDENCIAL/ URBANÍSTICA SIMBÓLICAS PERTENÇA COMÉRCIO DE «CORAÇÃO DO AGRUPA FESTAS E RITUAIS VALIDAÇÃO SIMBÓLICA REVENDA / PONTO BAIRRO» MESCLA REDEFINIÇÃO DOS LIMITES DAS DE ENCONTRO DE CENTRO DO CONFUNDE DESVALORIZAÇÃO FREGUESIAS DISTINTOS COMÉRCIO SIMBÓLICA INDIVÍDUOS SUBSTITUIÇÃO DO TECIDO DESTRUÍDO CENTRO COMERCIAL DA MOURARIA ALTERAÇÃO DAS DINÂMICAS LOCAIS REABILITAÇÃO URBANA TRANSFORMAÇÃO CONTINUADA DAS ESPAÇOS INTERCALARES AMBÍGUOS, DINÂMICAS SOCIAIS E INTERSTICIAIS E LIMINARES URBANAS CONSTITUIÇÃO DE ESTRATÉGIAS SOCIO- SIMBÓLICAS DE DEMARCAÇÃO E DISTINÇÃO RELAÇÕES AMBÍGUAS E/OU AMBIVALENTES LÓGICAS SIMBÓLICAS E ESPACIAIS DE INCLUSÃO E EXCLUSÃO Fonte: Menezes, 2004
  • 19. Da plasticidade do lugar à especificidade da gramática social do espaço Linguagens e formas de orientação no espaço Em cima / em baixo Distinção entre «centro» e «arredores» Longe / perto Conotação topográfica de menos valor simbólico que conotação social Dentro / fora Complexa lógica de ordenação e hierarquização social do espaço Frente / Atrás Reforço de um processo de segregação Visibilidade ou resguardo socio- socio-espacial espacial Relações ambíguas e/ou ambivalentes Lógicas simbólicas e espaciais de inclusão e exclusão Fonte: Menezes, 2004
  • 20. Mouraria como objeto de estudo 6. A partir das práticas de uso e apropriação do espaço público: • Captar como a experiência fenomenológica do lugar participa do processo de construção de imagens identitárias do bairro. • Descrição das microgeografias quotidianas de uso e apropriação do espaço público. • A visibilidade das práticas quotidianas associadas aos ritmos que lhe conferem vida, estimulam a criação de metáforas que se reflectem como imagens do bairro. • Reflexão sobre as transformações temporárias do espaço público nas situações extraordinárias.
  • 21. Ex. Microgeografias quotidianas de uso e apropriação do espaço público Fonte: Menezes, 2004, 2010; Magnani, 2000
  • 23. Mouraria como objeto de estudo 7. A partir das representações, visões e tipos de experiências que sustentam determinadas imagens culturais e urbanas da Mouraria na atualidade: • Captar como os de «dentro» (tidos como os “filhos do bairro”) refletem o bairro. • Captar como os de «fora» refletem o bairro. • «Dentro» e «fora» como noções recíprocas que se influenciam mutuamente. • Demonstrar como através da relação entre os de «dentro» e os de «fora», entre o tempo de «antes» e o de «agora», novos elementos são introduzidos no processo de construção de imagens identitárias, enquanto outros se reproduzem de forma continuada. • Ampliação do campo das significações imaginárias do bairro, onde a Mouraria tanto pode ser evocada como um bairro típico e tradicional, multicultural e multiétnico, como um contexto repleto de liminaridades sociais e espaciais.
  • 24. Mouraria como objeto de estudo 7. A partir das representações, visões e tipos de experiências que sustentam determinadas imagens culturais e urbanas da Mouraria na atualidade: • Captar como os de «dentro» (tidos como os “filhos do bairro”) refletem o bairro. • Captar como os de «fora» refletem o bairro. • «Dentro» e «fora» como noções recíprocas que se influenciam mutuamente. • Demonstrar como através da relação entre os de «dentro» e os de «fora», entre o tempo de «antes» e o de «agora», novos elementos são introduzidos no processo de construção de imagens identitárias, enquanto outros se reproduzem de forma continuada. • Ampliação do campo das significações imaginárias do bairro, onde a Mouraria tanto pode ser evocada como um bairro típico e tradicional, multicultural e multiétnico, como um contexto repleto de liminaridades sociais e espaciais.
  • 25.
  • 26. Das intervenções nas «imagens» do bairro Mouraria … Mouraria como objeto de reabilitação urbana • É em meados dos anos 80 do séc. XX que se dá inicio, em Lisboa, uma política de reabilitação urbana. • Os bairros de Alfama e da Mouraria serão os primeiros onde se constituem gabinetes técnicos locais de reabilitação urbana.
  • 27. A atualidade da Mouraria como objeto de reabilitação urbana • Programa Ação Mouraria (Câmara Municipal de Lisboa - CML). • “Intervenção de maior visibilidade e indutora de novos comportamentos” ---» “requalificação do espaço público” • Atividades programadas: “dimensão identitária e de integração” a partir ---» Ação Corredor Intercultural. • Foi desenvolvido um Plano de Desenvolvimento Comunitário para apoiar o Programa.
  • 28. Mas como que a intervenção em espaço público altera comportamentos? Princípios | Programa Ação Mouraria • Percurso turístico-cultural • Espaços de lazer • Educação para as boas práticas de conviabilidade pública • Corredor intercultural Iniciativas | Já implementadas • Intervenção pontual em micros espaços públicos locais (próxima do conceito “acupuntura urbana” • Renovação de edifícios tidos como “estrutura identitária” (para lazer ou equipamento de apoio social) • Intervenção em EPU de maior dimensão (Largo do Intendente, Praça do Martim Moniz: Mercado de Fusão) MM - NESO/LNEC
  • 29. Ex. A intervenção na Praça do Martim Moniz Princípios | Cf. Responsável pela empresa passou a gerir a Praça O que ali se pretende é que … • “Além das marcas reconhecidas, no mercado vão entrar também pequenos negócios dos bairros envolventes e que ajudarão a divulgar as culturas que tornam a Mouraria um sítio pleno de diversidade” “Urbanalização” do território? Sendo que … Um “triunfo absoluto do comum” • “Não é tanto a ideia do mercado do por contraposição à minimização artesanato, mas de uma galeria de da presença da complexidade e negócios” (in Dinheiro Vivo, 11.05.2012) das diferenças (Muños: 2004)? .
  • 30. Mas como é que a “educação para as boas práticas de convivialidade em espaço público” resolve as contradições locais? A prolífera imaginação urbana – enquanto reflexão política-técnica sobre o que a “cidade deve ser” (Gorelik, 2004) – permite considerar que agora “há vida na Mouraria”, como se antes não houvesse … . Fonte: Arquivo Fotográfico CML
  • 31. Das metáforas às imagens identitárias de um BAIRRO MÁ FAMA E TIPICIDADE COMPLICADO / MULTICULTURALIDADE / CULTURAL CONTRADITÓRIO MULTIETNICIDADE Vício Insalubridade Lenda de Martim Moniz Culturas Miséria Falta de civilização Centro Comercial (da Todos Tempestuoso Crime Mouraria e do Martim Práticas antigas Prostituição Desordem pública Moniz) Património material Descaracterizado Marginal Mistura social Património imaterial Fado Ilegalidades Convívio multiétnico Gastronomia árabe Fadista Gueto Mundos Gastronomia galega Bairrismo Vale dos vencidos Mundo português Internacional Antigo Texas ESPAÇO PLURAL Festas populares Chaga Social Outros Marcha Insegurança Cosmopolita Procissão Prostituição Outra geografia Pitoresco (ruas e Sem-abrigo Fragrâncias e Odores edifícios) Sem papeis / Imigrantes Cores Toxicodependentes / Paladares Traficantes Degradação do parque edificado Precariedade social Sujidade Fonte: Menezes, 2004, 2012
  • 32. Das metáforas às imagens identitárias de um BAIRRO Quando iniciei o trabalho na Mouraria muitos me disseram coisas como: • “Bairro ? Qual bairro” • “A Mouraria deixou de existir nos anos 40 ….” E, nos dias de hoje, pergunto-me: bairro, qual bairro? Mas, a prolífera imaginação urbana …. • Continua por contribuir para a continuidade da Mouraria … • Para além dos tantos fazedores de imagem identitárias de bairros …., julga-se, contudo, que resta estudar as imagens que a «academia» tem vindo a produzir sobre o bairro …
  • 33. Bibliografia citada COSTA, A. Firmino da (1999). Sociedade de Bairro; Celta Editora, Oeiras CORDEIRO, Graça I. (1997). Um Lugar na Cidade – Quotidiano, Memória e Representação no Bairro da Bica; Publicações Dom Quixote, Lisboa DIAS, Jorge (1961) - Estudos de Antropologia; vol. I, Temas Portugueses, Lisboa GORELIK, Adrián (2004). Imaginarios urbanos e imaginación urbana. Para un recorrido por los lugares comunes de los estudios culturales urbanos. Bifurcaciones. MACHADO, P.; LUTAS CRAVEIRO, J.; MENEZES, M. (1992). Contributos para o estudo de um Bairro Degradado da Cidade de Lisboa - análise socio-ecológica da Quinta da Casquilha, ITECS 10, LNEC: Lisboa. MAGNANI, José G. Cantor (2000). “Quando o campo é a cidade: fazendo antropologia na metrópole”; in MAGNANI, José G. Cantor, TORRES, Lilian de Lucca (org.), Na Metrópole – Textos de Antropologia Urbana; 2ª ed., EDUSP, São Paulo, pp. 12-53 MENEZES, M. (2012). Debatendo mitos, representações e Convicções acerca da invenção de um bairro lisboeta. In Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), Número temático: Imigração, Diversidade e convivência Cultural, pp. 69-95. MENEZES, M. (2004). Mouraria, retalhos de um imaginário: significados urbanos de um bairro de Lisboa. Celta Editora: Oeiras. MENEZES, M. (2010). Ser urbano em espaço público: Captar a (in)visibilidade das práticas de (in)sustentabilidade urbana. In Gomes, M.F.; Barbosa, M. J. Cidade e Sustentabilidade: Mecanismos de Controle e Resistência. Terra Vermelha: Rio de Janeiro, pp. 41-58. MENEZES, M.; REBELO, M. e CRAVEIRO, J. (1992). Bairro Casal Ventoso - elementos para uma caracterização socio- ecológica, ITECS 17, LNEC: Lisboa.