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Criadores tentam transformá-lo no cavalo nobre que foi um dia

Cavalo Lusitano: Terra de puro sangue
28.09.2010 - 12:07 Por Paulo Moura

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      O Campino tem pêlo castanho-escuro, 27 anos e uma vida plena. Filho do Maravilha, nasceu aqui mesmo, na Herdade de Muge, da Casa
      Cadaval, galopou pelo mundo e voltou, para este estábulo onde é mantido com gratidão, apesar da idade, ao lado do Burundi, outro garanhão
      do seu tempo.




                                                                      (Miguel Manso)

O Campino tem tudo o que um Puro Sangue Lusitano deve ter: porte, funcionalidade, beleza, docilidade, coragem e carácter. Ainda jovem, foi vendido ao
toureiro David Ribeiro Telles, que o treinou e usou na lide tauromáquica. Foi o início de uma carreira brilhante. Na arena, emocionou um brasileiro,
António de Toledo Mendes Pereira, proprietário da Fazenda Barra do Tietê, em Castilho, que o comprou.

Toni Pereira era filho de fazendeiros e apaixonado por cavalos. Fazia criação e ganhara muitos prémios, já antes dos anos 70. Trabalhava com puros-
sangues ingleses e árabes até que, em 1971, veio a Portugal ver uma corrida de touros. Assistiu ao desempenho do Broquel, um cavalo branco e imponente
pertencente à Coudelaria Nacional, e decidiu que o queria levar para o Brasil. O Broquel já tinha sido recusado a um aristocrata austríaco, por estar
prometido ao rei de Marrocos. Mas Toni Pereira era já na altura um homem poderoso. Conseguiu uma audiência com Marcelo Caetano e convenceu o
Presidente do Conselho a autorizar a venda do cavalo.

Foi assim que se iniciou a linhagem de puros-sangues Lusitanos no Brasil. Toni Pereira criaria, em 1992, uma marca brasileira de cavalos lusitanos, a Top,
para a qual se empenhou em importar garanhões portugueses. O Campino foi um deles.

No Brasil, foi treinado para actividades mais sofisticadas do que o toureio: a dressage, modalidade olímpica criada pelos aristocratas europeus do
Renascimento, também conhecida por "ballet equestre".

Os cavalos lusitanos não foram educados para estas finesses. Mas o Campino, habituado às touradas, adaptou-se facilmente. Ganhou muitos prémios, e
fecundou muitas éguas, que deram à luz outros tantos campeões. Campino foi mesmo o Puro Sangue Lusitano que mais prémios ganhou no Brasil.

Um dia, no ano de 2002, quando o Campino já era demasiado velho para competições, Teresa Álvares Pereira de Shoenborn-Wiesentheid, condessa de
Cadaval, encontrou Toni Pereira e, entre vários temas de conversa, perguntou-lhe pelo cavalo que ela própria, anos atrás, adorava montar. "Que é feito do
Campino?"

Toni deve ter percebido o afecto antigo nos olhos caleidoscópicos de Teresa, e respondeu-lhe apenas: "Quere-o?" A condessa queria, e o Campino foi
mandado regressar. Já não tem idade para nenhuma das actividades que o tornaram famoso, excepto uma. Menos encorpado, de pelagem grisalha e
expressão grave, o Campino ainda está apto para a reprodução. Enquanto for vivo, mantém intacto o seu património mais valioso: os genes.

Não se pode dizer o mesmo do seu colega de estábulo, o Burundi, que na realidade já não serve para nada. Mas na Casa Cadaval não se abatem velhos
heróis. Tal como o Campino, o Burundi tem direito a uma velhice tranquila, ainda que já não consiga cobrir uma égua, e portanto só dê prejuízo.




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Cavalo Lusitano: Terra de puro sangue - Sociedade - PUBLICO.PT                                                                               Page 2 of 8



A vida sexual do Campino, diga-se de passagem, também já só ocorre por via da inseminação artificial. A dele e a de toda a população equina da herdade,
desde há quatro anos. É "mais seguro, mais saudável e mais higiénico", explica Miguel Bliebernicht, 32 anos, veterinário. O sémen é tratado com
antibióticos e a inseminação é feita em condições ideais.

Miguel tem uma clínica dentro da herdade. É um centro de reprodução chamado Embriovet, onde trabalha ele, outro veterinário e um enfermeiro. Vendem
sémen para fora e alugam barrigas de égua (éguas de aluguer, não reprodutoras - uma prática cada vez mais usada). Tem a seu cargo a reprodução dos
cavalos e também todos os cuidados médicos, não só dos animais da casa, mas também de outras quintas da região. Estabeleceu um acordo com Teresa,
usando as instalações da propriedade, à qual presta vários serviços.

"Foi a ida dos cavalos para o Brasil que obrigou a raça a mudar", explica Miguel. "Foram os brasileiros que nos fizeram olhar para o cavalo como um
produto de luxo. Eles quiseram vir buscar as raízes portuguesas, para criarem um produto mais versátil."Até então, há cerca de 30 anos, o puro-sangue
lusitano era usado nas touradas, mas era visto, antes de mais, como um animal de trabalho. Tinha a sua função nos campos, como montada dos campinos
que guardavam o gado, ou para puxar carroças. Não era merecedor de muito respeito nem atenção.

"O cavalo era o último a entrar nas pastagens", conta Miguel. Primeiro pastavam as vacas e outros animais. Por fim, quando já pouco restava, soltavam no
campo os cavalos, que são capazes de pastar rente ao solo. A ração a que tinham direito era pobre. Mas não precisavam de mais. "Mas assim que passámos
a considerar os cavalos produto de luxo demos-lhes outras oportunidades, e eles começaram a crescer", diz o veterinário.

Apurar a raça

Ser o primeiro a entrar nas pastagens foi um dos factores a fazerem o cavalo crescer dez ou 20 centímetros, em média, embora ninguém queira arriscar
medidas exactas, assunto sensível na definição dos padrões da raça. O outro factor foram as manobras genéticas.

É a especialidade de Miguel Bliebernicht. Ele estabelece os planos de cruzamentos e os critérios de selecção de machos e fêmeas reprodutores. O objectivo
é o apuramento da raça, pelo que é fundamental escolher as melhores éguas e os melhores garanhões. Quem não for excepcional, está proibido de se
reproduzir.

Um macho de excelentes famílias e algumas provas dadas pode beneficiar (é este o termo) uma égua de boa linhagem. Mas é só à experiência. Para que
possa beneficiar dez, ou mesmo 40 ou 50 éguas, o candidato tem não só de ganhar prémios e obter muitos pontos nos concursos hípicos, mas também ter
filhos que já ganharam prémios e pontos. Então sim, um garanhão pode beneficiar às dezenas por ano, e até, numa fase mais avançada da vida, ser
dispensado de todas as tarefas menos essa.

E o que é preciso para se conseguir esse (invejável ou não) estatuto? Beleza é fundamental. Mas não chega. É preciso carreira. Obra feita. Características
de mobilidade, de inteligência, força, resistência. Muitas coisas, mas principalmente uma característica algo etérea, algo subjectiva e dificilmente
quantificável: essa marca essencial e indefinível que é o carácter. Um puro-sangue lusitano tem de ter carácter. É isso que, acima de tudo, o define, lhe dá
valor. Um cavalo destes pode ser vendido por 5 mil euros ou 250 mil, dependendo de muitos factores, que se podem resumir num: carácter. E só aos quatro
ou cinco anos se começa a perceber se um cavalo tem carácter.

Mas o que é isso? O que é o carácter de um cavalo? Até mesmo Miguel Bliebernicht, cuja função é sintetizar essa característica em laboratório, tem
dificuldade em defini-la. Tenta pela negativa: Um cavalo sem carácter é um "cavalo que tenta proteger-se, que tem medo". Ou seja, não se entrega
totalmente ao seu cavaleiro, tem reservas. Ou pensamentos privados, eventualmente inconfessáveis. Uma agenda escondida. Não abre o jogo. Pode ser
tentado a assumir um comportamento cauteloso, dissimulado, ou mesmo hipócrita. Em suma, um cavalo em quem não se pode confiar completamente.

O Puro Sangue Lusitano não é assim. Ou não o deve ser. E para que isso seja verdade todos os métodos são bons, incluindo o treino intensivo e a
eliminação dos genes do mau carácter através de uma política reprodutora do mais puro nazismo equino.

"O nosso objectivo é criar atletas de dressage", diz Miguel. "Têm de ser atletas e ter carácter. E ter pelagem castanha." A cor é uma das marcas distintivas
dos cavalos da Casa de Cadaval. Ser atleta tem a ver com as aptidões físicas. O carácter...

Por vezes, os criadores de cavalos falam dos seus produtos como quem descreve vinhos. É como se falassem de notas, sabores, aromas, em combinações
únicas e surpreendentes. Tal como um vinho pode ser frutado, robusto, nacarado, denso, encorpado, redondo, macio, complexo, um Puro-Sangue Lusitano
é corajoso, dócil, sensível, inteligente, sofredor, ardente, generoso. E ainda mais esta nota, fundamental para aferir da pureza da raça Lusitana: tem de saber
ler o pensamento do cavaleiro.Tudo isto faz do Lusitano o cavalo ideal para a tourada, como antes tinha sido para a guerra. É tido por mais corajoso do que
o puro-sangue árabe, ou mesmo o inglês, que são mais adequados para a corrida. E é também conhecido pelo seu nível de inteligência, acima da média.
Aprende facilmente os mais complicados exercícios, que executa com destreza, principalmente em espaços pequenos, como uma arena. Não tem medo do
touro bravo, obedece confiantemente a todas as ordens do cavaleiro, a quem é fiel até ao fim. É capaz de correr quilómetros, ferido de morte, até deixar o
cavaleiro a salvo. Outras raças podem ser mais ardentes, mas nenhuma é tão generosa e sofredora.

"Os cavalos ingleses, alemães ou holandeses têm demasiado sangue", explica Miguel. "São óptimos na corrida, mas mais difíceis para uma utilização de
lazer." Um Lusitano adapta-se às situações. Se lhe apresentarem um cavaleiro inexperiente, ele tenta ser compreensivo, interpretando as suas ordens
desajeitadas. Se lhe colocarem na sela uma criança, ele torna-se dócil e manso, cheio de cuidados.

É um cavalo polivalente, o que o torna competitivo nos vários mercados de hoje, desde que aperfeiçoado no sentido das respectivas especialidades. E as
mais rentáveis não são a tourada ou a condução de gado. Pelo menos não é nessas que é preciso brilhar. Na dressage, sim. Se um cavalo ganha prémios
nessa disciplina, traz prestígio para a raça em geral, um pouco como uma marca de automóveis que investe na Fórmula 1, com o objectivo de vender mais
utilitários, ou uma griffe de roupa que se exibe na alta-costura, para vender pronto-a-vestir.

"Era um cavalo para lidar touros, para puxar carroças e para a vida agrícola. Como isso acabou, tivemos de lhe arranjar outra profissão", explica Miguel,
admitindo que é ainda para aquelas actividades que a maioria dos cavalos é vendida.

Vigor híbrido

O apuramento da raça na Casa Cadaval tem portanto como meta as modalidades olímpicas. Mas mantendo as características originais do Puro Sangue
Lusitano. A base das suas linhagens são os cavalos da Coudelaria de Alter Real, apurados segundo critérios próprios e rigorosamente controlados. Cruzam-
se características, para obter produtos melhorados, mas os machos utilizados são sempre originários da Casa Cadaval. Podem já ter sido vendidos, e estar
actualmente em França, Espanha ou Brasil. Mas estão autorizados ainda assim a ceder o seu sémen. Sangue exterior não entra na família, para garantir a
concentração de características. "Mas temos de fechar até um certo ponto, e depois abrir", explica Miguel, referindo-se aos perigos da excessiva
consanguinidade. A redução do círculo reprodutor a uma dimensão muito pequena pode provocar o surgimento de caracteres recessivos. Ou seja,
"características indesejáveis em alguns produtos".

É necessário manter algumas linhas afastadas durante várias gerações, para as cruzar quando for necessário. Esse "cruzamento de progenitores de linhas
boas e afastadas dá geralmente origem a um produto melhor do que os progenitores. É o chamado vigor híbrido".




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Cavalo Lusitano: Terra de puro sangue - Sociedade - PUBLICO.PT                                                                               Page 3 of 8



Mas esse efeito perde-se nas gerações seguintes. É preciso tomar muitas precauções, para que a raça não degenere, ou surjam "produtos" um tanto
desmiolados, ou de fraco carácter. Tudo, incluindo a vida amorosa dos puros-sangues, é calculado com absoluto rigor, explica Miguel, admitindo porém
que "a genética é uma ciência imprevisível".

O Bingo, filho do Campino, está, comandado por um tratador, a fazer uma demonstração das suas capacidades para o grupo de jornalistas que veio visitar a
Herdade de Muge. Teresa, a condessa, está a assistir mas não resiste mais: salta para o picadeiro, calças de ganga e boné, pingalim na mão, e faz o Bingo
correr, dar saltos e fazer piruetas.É um dos seus cavalos preferidos, como foi o Tuísca, ou o Campino, quando ela tinha 30 anos. No escritório da Casa
Cadaval, de que é administradora e (com a família) proprietária, Teresa tem os Stud Books do Cavalo Lusitano, onde estão inscritos todos os exemplares da
raça, desde as origens, e as árvores genealógicas de todos os seus cavalos. São uns rolos de papel com vários metros de comprimento, onde constam os
nomes de todos os ascendentes de cada cavalo que vive ou viveu na herdade. Os mais antigos são garanhões como o Regedor, ou o Vagabundo, que
nasceram nos anos de 1920.

Nessa época, no entanto, os critérios de selecção eram muito diferentes dos de hoje. Juntavam-se éguas para trilhar o trigo, os cavalos eram usados para
puxar carroças com carga. Apurar a raça, nessa altura, significava escolher os mais fortes, os mais mansos e os que conseguiam melhor andamento.

Eram esses cavalos de trabalho que Teresa montava, desde criança, quando vinha passar férias à herdade. Nasceu na Alemanha, numa quinta da Baviera, a
200 quilómetros de Munique, e só em 1982 veio viver para a herdade da família no Ribatejo. Mas todos os anos passava aqui o Verão.

A propriedade tem mais de 5 mil hectares e é cultivada com vinha, sobreiros (produziu 160 mil arrobas de cortiça nos últimos nove anos) e uma variedade
de produtos, desde o tomate ao alho francês. Em tempos, era o arroz a dominar as actividades agrícolas da quinta. Mas o carácter sazonal da actividade e a
natureza pantanosa dos campos que exigia tornaram preferíveis outras culturas. "Na época do arroz, vinham ranchos de 400 trabalhadores para aqui",
recorda Filipe Shoenborn, irmão de Teresa. Ficavam alojados na propriedade, e, no resto do ano, trabalhavam noutras culturas, ou regressavam às suas
terras. Alguns fixaram-se aqui. A família Cadaval cedeu casas. A própria povoação de Muge estava dentro da herdade, e foi cedida para habitação de
trabalhadores.

As preocupações sociais da família eram de tal forma reconhecidas que, com o 25 de Abril de 1974, nem a quinta nem nenhuma das instalações da Casa de
Cadaval foi ocupada ou expropriada.

A veneração das populações locais pela família vem daí, dessa solidariedade que sempre existiu, e não da reverência devida a membros da aristocracia,
considera Teresa. Da mesma forma, os cavalos, tanto quanto se lembra, também nunca foram um sinal de estatuto ou de nobreza. "Toda a gente tinha
cavalos. Eram usados para o trabalho. As pessoas, em vez de conduzirem jipes, andavam a cavalo. E os cavalos que eu montava eram os dos guardas."

Hoje, só faz sentido falar de nobreza a respeito de cavalos neste sentido: eles, os cavalos, têm de ser nobres. É isto que pensa Teresa, a condessa.

"A nossa bicicleta"

A imensa Herdade de Muge está nas mãos da Casa de Cadaval desde o século XVII, quando Maria de Faro, filha dos condes de Odemira (a quem pertencia
a herdade), se casou com D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.º duque de Cadaval.

Teresa é filha de Graziela Álvares Pereira de Melo, que era filha da marquesa Olga de Cadaval, e do conde alemão Karl von Shoenborg-Wiesentheid.
Herdou da mãe o título de marquesa, e do pai o de condessa, mas vê essa circunstância mais como uma responsabilidade do que um privilégio.

Teresa mudou-se, com parte da família, para Portugal, por já não ser possível, depois da revolução, gerir a propriedade a partir da Alemanha, e passou a
administrar toda a empresa desde 1998, com a morte da mãe.

Hoje, além da cortiça e da vinha, continua a fazer do cavalo lusitano uma das actividades principais da herdade. Não é a mais rentável, mas é uma marca de
cultura.Para Teresa, essa importância do cavalo não podia ser mais natural. "Era a nossa bicicleta", recorda. Ela e os irmãos andavam a cavalo desde muito
cedo. Aos três anos já montava um pónei. Aos oito, um garanhão adulto. Começou com um cavalo velho, o Bonito, que gostava de crianças. Depois,
lembra-se do Gavião, do Império, do Girassol. "Quando estava cá, andava a cavalo de manhã à noite." Aos 12 anos, teve lições de equitação. "Não havia
computadores nem telemóveis. Os cavalos eram o melhor divertimento que tínhamos."

Sempre houve cavalos na quinta. Havia-os muito antes de Teresa nascer, antes de esta terra ser a herdade de Muge, seguramente antes da própria
nacionalidade portuguesa. Provavelmente antes de os árabes e dos romanos aqui terem estado. Teresa diz que foi encontrado, na quinta, um dente de cavalo
com cinco mil anos. A datação foi estabelecida por especialistas, que depois pasmaram quando o compararam com o dente de um cavalo actual: era quase
igual.

Haveria então cavalos da raça Lusitana neste preciso lugar, há cinco mil anos? Os historiadores acreditam que é possível. Seria um antepassado da raça
Sorraia (ainda existente), que é por sua vez antepassada do Lusitano. Nas grutas do Escoural, no Alentejo, há gravuras de cavalos muito semelhantes ao
actual Lusitano, e muito diferentes dos garranos primitivos das montanhas que surgem nas pinturas das grutas de Lascaux e Altamira. Em Escoural, existe
uma gravura, que terá perto de 17 mil anos, de uma égua protegendo um poldro. A égua tem a cabeça fina e comprida, levemente convexa, tal como o que
distingue de outras raças os actuais lusitanos.

De acordo com estes vestígios, alguns historiadores acreditam que o cavalo moderno teve aqui origem. Autores gregos e romanos da Antiguidade sugerem
que a lenda do centauro, um ser metade homem, metade cavalo, nasceu também na região do estuário do Tejo, onde autores árabes do tempo da conquista
muçulmana referem a crença de que, aqui, as éguas eram fecundadas pelo vento, tal era a velocidade e leveza dos seus filhos.

Sabe-se que na Antiguidade, enquanto o homem já domesticava o cavalo na Península Ibérica, fazia-o também na Mesopotâmia e no Egipto, seleccionando
uma raça que daria origem ao chamado Puro Sangue Árabe. Que, por sua vez, milénios mais tarde, cruzado com o Puro Sangue Ibérico, faria nascer o Puro
Sangue Inglês.

Mas acontece que em todas as representações existentes na Assíria ou nos túmulos dos faraós, o cavalo surge atrelado a carros, ou como animal de carga, e
nunca montado pelo homem, pelo menos numa situação de combate, como é o caso nas gravuras ibéricas da época... mesolítica. Ou seja, segundo autores
como Ruy d"Andrade, um dos mais importantes estudiosos da história do cavalo Ibérico, a arte da equitação nasceu também aqui, em terras não muito
distantes das planícies do Tejo onde hoje se cria o Cavalo Lusitano e se realizam corridas de touros a cavalo.

Nas histórias da Ilíada, os gregos não combatiam montados a cavalo. Homero, aliás, escreveu que os melhores cavalos de Aquiles, Balio e Xanto,
provinham das "margens do rio Oceano", que tudo indica serem as costas lusas do Atlântico. E Xenofonte, no século IV a.C., refere-se a cavaleiros ibéricos
que combatiam na Grécia, como mercenários. Eram, garante o autor do mais antigo tratado de equitação, invencíveis.

De qualquer forma, sejam estas teorias rigorosas ou demasiado contaminadas de patriotismo, o certo é que o cavalo Lusitano, ou Ibérico, desempenhou um
papel decisivo na guerra contra os romanos, os mouros e entre Portugal e os outros reinos ibéricos.

O Puro Sangue Lusitano participou activamente nas guerras de criação e consolidação da nacionalidade, e foi levado para a África e a América, a partir dos
Descobrimentos, dando origem a variadas raças locais, desde os cavalos de paso da América Latina aos dos cowboys do Oeste dos EUA.Nas cortes do




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Renascimento em Itália, e depois nas dos restantes países europeus, surgiu a arte equestre de Alta Escola, para cujos exercícios subtis o Cavalo Lusitano
tinha especial aptidão. "A prova de que o nosso cavalo tem alma nobre é que sempre foi requisitado em todas as cortes da Europa", diz a condessa de
Cadaval.

E continuou a sê-lo, num apuramento e prestígio crescentes, até ao grande descalabro, no tempo das campanhas napoleónicas. A época das elegantes e
aristocráticas batalhas campais extinguiu-se, desde a Revolução Francesa. O cavalo Ibérico perderia também a sua razão de ser e o seu glamour.

Morreram tantos cavalos nas campanhas de Napoleão, que o imperador foi obrigado a arrebanhar mais montadas, onde quer que as encontrasse. Em
Portugal, na invasão de 1807, comandada por Jean-Andoche Junot, foram roubados 800 cavalos de Alter Real e do Picadeiro Real. Napoleão admirava o
cavalo árabe, mas os que tinha não eram suficientes. Usou os ibéricos, que foram morrendo pelas estepes geladas da Rússia, e promoveu o cruzamento de
puros-sangues árabes com ibéricos e cavalos de sangue franceses, dando origem ao Puro Sangue Inglês, que assumiria desde então a liderança europeia dos
cavalos de sangue.

O que restou dos cavalos ibéricos foi cruzado com garranos e outras raças pequenas das montanhas, para criar animais úteis no trabalho agrícola. O Cavalo
Lusitano parecia condenado para sempre.

Já no século XX, porém, dois homens se empenharam em recuperar, se necessário recriar o que foi o Cavalo Lusitano: Ruy d"Andrade e Manuel Veiga. O
primeiro iniciou a pesquisa das características da raça e a busca, por toda a Europa, dos exemplares vivos que mais se assemelhassem a esse modelo
virtualmente perdido. O segundo, Manuel Tavares da Veiga, sobrinho-neto de Rafael José da Cunha, herdou a herdade da família, a Quinta da Broa onde
decidiu reiniciar uma linhagem dos puros-sangues lusitanos. Seleccionou, em Portugal, Andaluzia e outras regiões da península, éguas e garanhões de
características bem marcadas e inaugurou uma sub-raça dentro da raça Lusitana, que é por sua vez uma divisão no seio do cavalo Ibérico: os cavalos Veiga.

Uma base pura

"Os nossos cavalos são dóceis, sofredores, generosos e ardentes", diz José Veiga Maltez, co-proprietário, com o irmão João Veiga Maltez, das quintas de
São Salvador, Gameira e Cardiga, que pertenceram ao bisavô, Manuel Veiga. As éguas Veiga deram origem à maioria dos cavalos Lusitanos hoje
existentes no país, e à quase totalidade dos que foram vendidos para o estrangeiro.

"A base tem de ser pura", explica José Veiga Maltez, que é também presidente da Câmara da Golegã, eleito pelo PS. "O Cavalo Lusitano é um cluster na
economia da região. E é um embaixador português no estrangeiro. É hoje importante na Europa e na América. É um cavalo de grande versatilidade e que
tem um grande potencial para desenvolver, pelo que será ainda mais importante no futuro, nos mercados nacional e estrangeiro. E as famílias responsáveis
por essa disseminação fora do país são as Veiga e a Andrade."

Jeannette Jenny, uma austríaca de 34 anos que veio para Portugal treinar cavalos e ensinar equitação, concorda. "O Lusitano mudou muito nos últimos dez
anos. Está maior, e com mais aptidão para concorrer com cavalos alemães ou holandeses em competições de dressage e outras", diz ela, acariciando o
imponente garanhão que trouxe, para uma demonstração aos jornalistas. "Ok, acabou, vamos para casa", diz ela ao puro-sangue.

Nove da noite na Herdade de Santa Marta. Está a começar a Primeira Gala do Puro Sangue Lusitano, organizada pela Associação do Puro Sangue Lusitano
(APSL) e pela Região de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo. Cá fora, sob fortes holofotes, um grupo de puros-sangues montados por cavaleiros em trajes
tradicionais faz exercícios ao som da música. Dançam, primeiro com um fado, depois uma peça clássica."Esta é a história dos filhos do vento", ouve-se nos
altifalantes. "Nas margens do Tejo, o vento criou o cavalo Lusitano, para ser montado por um deus." Cavalos brancos, castanhos e negros, de longas caudas
e crinas, empinam-se nas patas traseiras, ao som de uma valsa.

Lá dentro, a Gala começa com um fandango. Criadores, representantes das várias associações, jornalistas e convidados estrangeiros colaboram na grande
acção de divulgação do Puro Sangue Lusitano. "É um cavalo versátil e corajoso, um cavalo de guerra", diz à Pública João Ralão Duarte, secretário-geral da
APSL. "Dantes, o nosso cavalo era um complemento da actividade agrícola. Agora não. Há um crescimento no desporto, e deixou de ser exclusivamente de
toureio. É já uma das raças mais representadas nas competições de dressage. E também é usada em saltos e corrida. Há associações de cavalo lusitano em
vários países. O nosso maior mercado é o Brasil, mas o espanhol também é importante. Há lusitanos a tourear nas arenas de Espanha."

Para se desenvolver, o lusitano, na opinião de Ralão Duarte, só precisa agora de um pouco mais de coragem da parte dos criadores. "Até aqui, eles não
arriscavam muito. Vendiam os cavalos muito cedo, antes de os treinarem adequadamente."

A APSL é o organismo que instituiu e mantém o Stud Book , que controla a evolução e pureza da raça e representa 400 criadores em Portugal. A maioria
desses criadores são pequenas empresas, não casas gigantescas e com pergaminhos como a de Cadaval ou Veiga. Enquanto decorre a Gala, algures a umas
dezenas de quilómetros daqui, numa ilha deserta no meio do Tejo, vivem cerca de 70 cavalos em estado selvagem. São jovens machos pertencentes às duas
coudelarias do Estado, a Nacional e a de Alter. Com cerca de três meses de idade, são levados para o mouchão do Salgueiral, também conhecido como
potril da Azambuja, uma ilha fluvial com uma área de cerca de 54 hectares, e aí deixados em liberdade até terem três ou quatro anos. Um tratador vai à ilha
uma vez por dia, para deixar alimentos. À parte isso, os cavalos não vêem ninguém, não têm de obedecer, não aprendem nada. É uma espécie de formação
de adolescente, em liberdade selvagem.

Mais tarde serão treinados e entrarão no circuito comercial dos puros-sangues. Mas nunca esquecerão o mundo bravio da juventude. É esse o objectivo
deste estranho método. Sozinhos na ilha, eles organizam-se espontaneamente em pequenos grupos, distribuem territórios, elegem os seus chefes. Dir-se-ia
que aprendem a conhecer-se a si próprios, antes de assumirem as suas funções no mundo humano. Lentamente, dia após dia, noite após noite, na ilha
aluvial onde os únicos ruídos são o rumorejar do rio e o chilrear de aves nas folhas dos salgueiros, vão absorvendo a terra. A terra que os define, lhes dá o
nome. Pura terra lusitana.

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  • 2. Cavalo Lusitano: Terra de puro sangue - Sociedade - PUBLICO.PT Page 2 of 8 A vida sexual do Campino, diga-se de passagem, também já só ocorre por via da inseminação artificial. A dele e a de toda a população equina da herdade, desde há quatro anos. É "mais seguro, mais saudável e mais higiénico", explica Miguel Bliebernicht, 32 anos, veterinário. O sémen é tratado com antibióticos e a inseminação é feita em condições ideais. Miguel tem uma clínica dentro da herdade. É um centro de reprodução chamado Embriovet, onde trabalha ele, outro veterinário e um enfermeiro. Vendem sémen para fora e alugam barrigas de égua (éguas de aluguer, não reprodutoras - uma prática cada vez mais usada). Tem a seu cargo a reprodução dos cavalos e também todos os cuidados médicos, não só dos animais da casa, mas também de outras quintas da região. Estabeleceu um acordo com Teresa, usando as instalações da propriedade, à qual presta vários serviços. "Foi a ida dos cavalos para o Brasil que obrigou a raça a mudar", explica Miguel. "Foram os brasileiros que nos fizeram olhar para o cavalo como um produto de luxo. Eles quiseram vir buscar as raízes portuguesas, para criarem um produto mais versátil."Até então, há cerca de 30 anos, o puro-sangue lusitano era usado nas touradas, mas era visto, antes de mais, como um animal de trabalho. Tinha a sua função nos campos, como montada dos campinos que guardavam o gado, ou para puxar carroças. Não era merecedor de muito respeito nem atenção. "O cavalo era o último a entrar nas pastagens", conta Miguel. Primeiro pastavam as vacas e outros animais. Por fim, quando já pouco restava, soltavam no campo os cavalos, que são capazes de pastar rente ao solo. A ração a que tinham direito era pobre. Mas não precisavam de mais. "Mas assim que passámos a considerar os cavalos produto de luxo demos-lhes outras oportunidades, e eles começaram a crescer", diz o veterinário. Apurar a raça Ser o primeiro a entrar nas pastagens foi um dos factores a fazerem o cavalo crescer dez ou 20 centímetros, em média, embora ninguém queira arriscar medidas exactas, assunto sensível na definição dos padrões da raça. O outro factor foram as manobras genéticas. É a especialidade de Miguel Bliebernicht. Ele estabelece os planos de cruzamentos e os critérios de selecção de machos e fêmeas reprodutores. O objectivo é o apuramento da raça, pelo que é fundamental escolher as melhores éguas e os melhores garanhões. Quem não for excepcional, está proibido de se reproduzir. Um macho de excelentes famílias e algumas provas dadas pode beneficiar (é este o termo) uma égua de boa linhagem. Mas é só à experiência. Para que possa beneficiar dez, ou mesmo 40 ou 50 éguas, o candidato tem não só de ganhar prémios e obter muitos pontos nos concursos hípicos, mas também ter filhos que já ganharam prémios e pontos. Então sim, um garanhão pode beneficiar às dezenas por ano, e até, numa fase mais avançada da vida, ser dispensado de todas as tarefas menos essa. E o que é preciso para se conseguir esse (invejável ou não) estatuto? Beleza é fundamental. Mas não chega. É preciso carreira. Obra feita. Características de mobilidade, de inteligência, força, resistência. Muitas coisas, mas principalmente uma característica algo etérea, algo subjectiva e dificilmente quantificável: essa marca essencial e indefinível que é o carácter. Um puro-sangue lusitano tem de ter carácter. É isso que, acima de tudo, o define, lhe dá valor. Um cavalo destes pode ser vendido por 5 mil euros ou 250 mil, dependendo de muitos factores, que se podem resumir num: carácter. E só aos quatro ou cinco anos se começa a perceber se um cavalo tem carácter. Mas o que é isso? O que é o carácter de um cavalo? Até mesmo Miguel Bliebernicht, cuja função é sintetizar essa característica em laboratório, tem dificuldade em defini-la. Tenta pela negativa: Um cavalo sem carácter é um "cavalo que tenta proteger-se, que tem medo". Ou seja, não se entrega totalmente ao seu cavaleiro, tem reservas. Ou pensamentos privados, eventualmente inconfessáveis. Uma agenda escondida. Não abre o jogo. Pode ser tentado a assumir um comportamento cauteloso, dissimulado, ou mesmo hipócrita. Em suma, um cavalo em quem não se pode confiar completamente. O Puro Sangue Lusitano não é assim. Ou não o deve ser. E para que isso seja verdade todos os métodos são bons, incluindo o treino intensivo e a eliminação dos genes do mau carácter através de uma política reprodutora do mais puro nazismo equino. "O nosso objectivo é criar atletas de dressage", diz Miguel. "Têm de ser atletas e ter carácter. E ter pelagem castanha." A cor é uma das marcas distintivas dos cavalos da Casa de Cadaval. Ser atleta tem a ver com as aptidões físicas. O carácter... Por vezes, os criadores de cavalos falam dos seus produtos como quem descreve vinhos. É como se falassem de notas, sabores, aromas, em combinações únicas e surpreendentes. Tal como um vinho pode ser frutado, robusto, nacarado, denso, encorpado, redondo, macio, complexo, um Puro-Sangue Lusitano é corajoso, dócil, sensível, inteligente, sofredor, ardente, generoso. E ainda mais esta nota, fundamental para aferir da pureza da raça Lusitana: tem de saber ler o pensamento do cavaleiro.Tudo isto faz do Lusitano o cavalo ideal para a tourada, como antes tinha sido para a guerra. É tido por mais corajoso do que o puro-sangue árabe, ou mesmo o inglês, que são mais adequados para a corrida. E é também conhecido pelo seu nível de inteligência, acima da média. Aprende facilmente os mais complicados exercícios, que executa com destreza, principalmente em espaços pequenos, como uma arena. Não tem medo do touro bravo, obedece confiantemente a todas as ordens do cavaleiro, a quem é fiel até ao fim. É capaz de correr quilómetros, ferido de morte, até deixar o cavaleiro a salvo. Outras raças podem ser mais ardentes, mas nenhuma é tão generosa e sofredora. "Os cavalos ingleses, alemães ou holandeses têm demasiado sangue", explica Miguel. "São óptimos na corrida, mas mais difíceis para uma utilização de lazer." Um Lusitano adapta-se às situações. Se lhe apresentarem um cavaleiro inexperiente, ele tenta ser compreensivo, interpretando as suas ordens desajeitadas. Se lhe colocarem na sela uma criança, ele torna-se dócil e manso, cheio de cuidados. É um cavalo polivalente, o que o torna competitivo nos vários mercados de hoje, desde que aperfeiçoado no sentido das respectivas especialidades. E as mais rentáveis não são a tourada ou a condução de gado. Pelo menos não é nessas que é preciso brilhar. Na dressage, sim. Se um cavalo ganha prémios nessa disciplina, traz prestígio para a raça em geral, um pouco como uma marca de automóveis que investe na Fórmula 1, com o objectivo de vender mais utilitários, ou uma griffe de roupa que se exibe na alta-costura, para vender pronto-a-vestir. "Era um cavalo para lidar touros, para puxar carroças e para a vida agrícola. Como isso acabou, tivemos de lhe arranjar outra profissão", explica Miguel, admitindo que é ainda para aquelas actividades que a maioria dos cavalos é vendida. Vigor híbrido O apuramento da raça na Casa Cadaval tem portanto como meta as modalidades olímpicas. Mas mantendo as características originais do Puro Sangue Lusitano. A base das suas linhagens são os cavalos da Coudelaria de Alter Real, apurados segundo critérios próprios e rigorosamente controlados. Cruzam- se características, para obter produtos melhorados, mas os machos utilizados são sempre originários da Casa Cadaval. Podem já ter sido vendidos, e estar actualmente em França, Espanha ou Brasil. Mas estão autorizados ainda assim a ceder o seu sémen. Sangue exterior não entra na família, para garantir a concentração de características. "Mas temos de fechar até um certo ponto, e depois abrir", explica Miguel, referindo-se aos perigos da excessiva consanguinidade. A redução do círculo reprodutor a uma dimensão muito pequena pode provocar o surgimento de caracteres recessivos. Ou seja, "características indesejáveis em alguns produtos". É necessário manter algumas linhas afastadas durante várias gerações, para as cruzar quando for necessário. Esse "cruzamento de progenitores de linhas boas e afastadas dá geralmente origem a um produto melhor do que os progenitores. É o chamado vigor híbrido". http://www.publico.pt/Sociedade/cavalo-lusitano-terra-de-puro-sangue_1458328?all=1 28-09-2010
  • 3. Cavalo Lusitano: Terra de puro sangue - Sociedade - PUBLICO.PT Page 3 of 8 Mas esse efeito perde-se nas gerações seguintes. É preciso tomar muitas precauções, para que a raça não degenere, ou surjam "produtos" um tanto desmiolados, ou de fraco carácter. Tudo, incluindo a vida amorosa dos puros-sangues, é calculado com absoluto rigor, explica Miguel, admitindo porém que "a genética é uma ciência imprevisível". O Bingo, filho do Campino, está, comandado por um tratador, a fazer uma demonstração das suas capacidades para o grupo de jornalistas que veio visitar a Herdade de Muge. Teresa, a condessa, está a assistir mas não resiste mais: salta para o picadeiro, calças de ganga e boné, pingalim na mão, e faz o Bingo correr, dar saltos e fazer piruetas.É um dos seus cavalos preferidos, como foi o Tuísca, ou o Campino, quando ela tinha 30 anos. No escritório da Casa Cadaval, de que é administradora e (com a família) proprietária, Teresa tem os Stud Books do Cavalo Lusitano, onde estão inscritos todos os exemplares da raça, desde as origens, e as árvores genealógicas de todos os seus cavalos. São uns rolos de papel com vários metros de comprimento, onde constam os nomes de todos os ascendentes de cada cavalo que vive ou viveu na herdade. Os mais antigos são garanhões como o Regedor, ou o Vagabundo, que nasceram nos anos de 1920. Nessa época, no entanto, os critérios de selecção eram muito diferentes dos de hoje. Juntavam-se éguas para trilhar o trigo, os cavalos eram usados para puxar carroças com carga. Apurar a raça, nessa altura, significava escolher os mais fortes, os mais mansos e os que conseguiam melhor andamento. Eram esses cavalos de trabalho que Teresa montava, desde criança, quando vinha passar férias à herdade. Nasceu na Alemanha, numa quinta da Baviera, a 200 quilómetros de Munique, e só em 1982 veio viver para a herdade da família no Ribatejo. Mas todos os anos passava aqui o Verão. A propriedade tem mais de 5 mil hectares e é cultivada com vinha, sobreiros (produziu 160 mil arrobas de cortiça nos últimos nove anos) e uma variedade de produtos, desde o tomate ao alho francês. Em tempos, era o arroz a dominar as actividades agrícolas da quinta. Mas o carácter sazonal da actividade e a natureza pantanosa dos campos que exigia tornaram preferíveis outras culturas. "Na época do arroz, vinham ranchos de 400 trabalhadores para aqui", recorda Filipe Shoenborn, irmão de Teresa. Ficavam alojados na propriedade, e, no resto do ano, trabalhavam noutras culturas, ou regressavam às suas terras. Alguns fixaram-se aqui. A família Cadaval cedeu casas. A própria povoação de Muge estava dentro da herdade, e foi cedida para habitação de trabalhadores. As preocupações sociais da família eram de tal forma reconhecidas que, com o 25 de Abril de 1974, nem a quinta nem nenhuma das instalações da Casa de Cadaval foi ocupada ou expropriada. A veneração das populações locais pela família vem daí, dessa solidariedade que sempre existiu, e não da reverência devida a membros da aristocracia, considera Teresa. Da mesma forma, os cavalos, tanto quanto se lembra, também nunca foram um sinal de estatuto ou de nobreza. "Toda a gente tinha cavalos. Eram usados para o trabalho. As pessoas, em vez de conduzirem jipes, andavam a cavalo. E os cavalos que eu montava eram os dos guardas." Hoje, só faz sentido falar de nobreza a respeito de cavalos neste sentido: eles, os cavalos, têm de ser nobres. É isto que pensa Teresa, a condessa. "A nossa bicicleta" A imensa Herdade de Muge está nas mãos da Casa de Cadaval desde o século XVII, quando Maria de Faro, filha dos condes de Odemira (a quem pertencia a herdade), se casou com D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.º duque de Cadaval. Teresa é filha de Graziela Álvares Pereira de Melo, que era filha da marquesa Olga de Cadaval, e do conde alemão Karl von Shoenborg-Wiesentheid. Herdou da mãe o título de marquesa, e do pai o de condessa, mas vê essa circunstância mais como uma responsabilidade do que um privilégio. Teresa mudou-se, com parte da família, para Portugal, por já não ser possível, depois da revolução, gerir a propriedade a partir da Alemanha, e passou a administrar toda a empresa desde 1998, com a morte da mãe. Hoje, além da cortiça e da vinha, continua a fazer do cavalo lusitano uma das actividades principais da herdade. Não é a mais rentável, mas é uma marca de cultura.Para Teresa, essa importância do cavalo não podia ser mais natural. "Era a nossa bicicleta", recorda. Ela e os irmãos andavam a cavalo desde muito cedo. Aos três anos já montava um pónei. Aos oito, um garanhão adulto. Começou com um cavalo velho, o Bonito, que gostava de crianças. Depois, lembra-se do Gavião, do Império, do Girassol. "Quando estava cá, andava a cavalo de manhã à noite." Aos 12 anos, teve lições de equitação. "Não havia computadores nem telemóveis. Os cavalos eram o melhor divertimento que tínhamos." Sempre houve cavalos na quinta. Havia-os muito antes de Teresa nascer, antes de esta terra ser a herdade de Muge, seguramente antes da própria nacionalidade portuguesa. Provavelmente antes de os árabes e dos romanos aqui terem estado. Teresa diz que foi encontrado, na quinta, um dente de cavalo com cinco mil anos. A datação foi estabelecida por especialistas, que depois pasmaram quando o compararam com o dente de um cavalo actual: era quase igual. Haveria então cavalos da raça Lusitana neste preciso lugar, há cinco mil anos? Os historiadores acreditam que é possível. Seria um antepassado da raça Sorraia (ainda existente), que é por sua vez antepassada do Lusitano. Nas grutas do Escoural, no Alentejo, há gravuras de cavalos muito semelhantes ao actual Lusitano, e muito diferentes dos garranos primitivos das montanhas que surgem nas pinturas das grutas de Lascaux e Altamira. Em Escoural, existe uma gravura, que terá perto de 17 mil anos, de uma égua protegendo um poldro. A égua tem a cabeça fina e comprida, levemente convexa, tal como o que distingue de outras raças os actuais lusitanos. De acordo com estes vestígios, alguns historiadores acreditam que o cavalo moderno teve aqui origem. Autores gregos e romanos da Antiguidade sugerem que a lenda do centauro, um ser metade homem, metade cavalo, nasceu também na região do estuário do Tejo, onde autores árabes do tempo da conquista muçulmana referem a crença de que, aqui, as éguas eram fecundadas pelo vento, tal era a velocidade e leveza dos seus filhos. Sabe-se que na Antiguidade, enquanto o homem já domesticava o cavalo na Península Ibérica, fazia-o também na Mesopotâmia e no Egipto, seleccionando uma raça que daria origem ao chamado Puro Sangue Árabe. Que, por sua vez, milénios mais tarde, cruzado com o Puro Sangue Ibérico, faria nascer o Puro Sangue Inglês. Mas acontece que em todas as representações existentes na Assíria ou nos túmulos dos faraós, o cavalo surge atrelado a carros, ou como animal de carga, e nunca montado pelo homem, pelo menos numa situação de combate, como é o caso nas gravuras ibéricas da época... mesolítica. Ou seja, segundo autores como Ruy d"Andrade, um dos mais importantes estudiosos da história do cavalo Ibérico, a arte da equitação nasceu também aqui, em terras não muito distantes das planícies do Tejo onde hoje se cria o Cavalo Lusitano e se realizam corridas de touros a cavalo. Nas histórias da Ilíada, os gregos não combatiam montados a cavalo. Homero, aliás, escreveu que os melhores cavalos de Aquiles, Balio e Xanto, provinham das "margens do rio Oceano", que tudo indica serem as costas lusas do Atlântico. E Xenofonte, no século IV a.C., refere-se a cavaleiros ibéricos que combatiam na Grécia, como mercenários. Eram, garante o autor do mais antigo tratado de equitação, invencíveis. De qualquer forma, sejam estas teorias rigorosas ou demasiado contaminadas de patriotismo, o certo é que o cavalo Lusitano, ou Ibérico, desempenhou um papel decisivo na guerra contra os romanos, os mouros e entre Portugal e os outros reinos ibéricos. O Puro Sangue Lusitano participou activamente nas guerras de criação e consolidação da nacionalidade, e foi levado para a África e a América, a partir dos Descobrimentos, dando origem a variadas raças locais, desde os cavalos de paso da América Latina aos dos cowboys do Oeste dos EUA.Nas cortes do http://www.publico.pt/Sociedade/cavalo-lusitano-terra-de-puro-sangue_1458328?all=1 28-09-2010
  • 4. Cavalo Lusitano: Terra de puro sangue - Sociedade - PUBLICO.PT Page 4 of 8 Renascimento em Itália, e depois nas dos restantes países europeus, surgiu a arte equestre de Alta Escola, para cujos exercícios subtis o Cavalo Lusitano tinha especial aptidão. "A prova de que o nosso cavalo tem alma nobre é que sempre foi requisitado em todas as cortes da Europa", diz a condessa de Cadaval. E continuou a sê-lo, num apuramento e prestígio crescentes, até ao grande descalabro, no tempo das campanhas napoleónicas. A época das elegantes e aristocráticas batalhas campais extinguiu-se, desde a Revolução Francesa. O cavalo Ibérico perderia também a sua razão de ser e o seu glamour. Morreram tantos cavalos nas campanhas de Napoleão, que o imperador foi obrigado a arrebanhar mais montadas, onde quer que as encontrasse. Em Portugal, na invasão de 1807, comandada por Jean-Andoche Junot, foram roubados 800 cavalos de Alter Real e do Picadeiro Real. Napoleão admirava o cavalo árabe, mas os que tinha não eram suficientes. Usou os ibéricos, que foram morrendo pelas estepes geladas da Rússia, e promoveu o cruzamento de puros-sangues árabes com ibéricos e cavalos de sangue franceses, dando origem ao Puro Sangue Inglês, que assumiria desde então a liderança europeia dos cavalos de sangue. O que restou dos cavalos ibéricos foi cruzado com garranos e outras raças pequenas das montanhas, para criar animais úteis no trabalho agrícola. O Cavalo Lusitano parecia condenado para sempre. Já no século XX, porém, dois homens se empenharam em recuperar, se necessário recriar o que foi o Cavalo Lusitano: Ruy d"Andrade e Manuel Veiga. O primeiro iniciou a pesquisa das características da raça e a busca, por toda a Europa, dos exemplares vivos que mais se assemelhassem a esse modelo virtualmente perdido. O segundo, Manuel Tavares da Veiga, sobrinho-neto de Rafael José da Cunha, herdou a herdade da família, a Quinta da Broa onde decidiu reiniciar uma linhagem dos puros-sangues lusitanos. Seleccionou, em Portugal, Andaluzia e outras regiões da península, éguas e garanhões de características bem marcadas e inaugurou uma sub-raça dentro da raça Lusitana, que é por sua vez uma divisão no seio do cavalo Ibérico: os cavalos Veiga. Uma base pura "Os nossos cavalos são dóceis, sofredores, generosos e ardentes", diz José Veiga Maltez, co-proprietário, com o irmão João Veiga Maltez, das quintas de São Salvador, Gameira e Cardiga, que pertenceram ao bisavô, Manuel Veiga. As éguas Veiga deram origem à maioria dos cavalos Lusitanos hoje existentes no país, e à quase totalidade dos que foram vendidos para o estrangeiro. "A base tem de ser pura", explica José Veiga Maltez, que é também presidente da Câmara da Golegã, eleito pelo PS. "O Cavalo Lusitano é um cluster na economia da região. E é um embaixador português no estrangeiro. É hoje importante na Europa e na América. É um cavalo de grande versatilidade e que tem um grande potencial para desenvolver, pelo que será ainda mais importante no futuro, nos mercados nacional e estrangeiro. E as famílias responsáveis por essa disseminação fora do país são as Veiga e a Andrade." Jeannette Jenny, uma austríaca de 34 anos que veio para Portugal treinar cavalos e ensinar equitação, concorda. "O Lusitano mudou muito nos últimos dez anos. Está maior, e com mais aptidão para concorrer com cavalos alemães ou holandeses em competições de dressage e outras", diz ela, acariciando o imponente garanhão que trouxe, para uma demonstração aos jornalistas. "Ok, acabou, vamos para casa", diz ela ao puro-sangue. Nove da noite na Herdade de Santa Marta. Está a começar a Primeira Gala do Puro Sangue Lusitano, organizada pela Associação do Puro Sangue Lusitano (APSL) e pela Região de Turismo de Lisboa e Vale do Tejo. Cá fora, sob fortes holofotes, um grupo de puros-sangues montados por cavaleiros em trajes tradicionais faz exercícios ao som da música. Dançam, primeiro com um fado, depois uma peça clássica."Esta é a história dos filhos do vento", ouve-se nos altifalantes. "Nas margens do Tejo, o vento criou o cavalo Lusitano, para ser montado por um deus." Cavalos brancos, castanhos e negros, de longas caudas e crinas, empinam-se nas patas traseiras, ao som de uma valsa. Lá dentro, a Gala começa com um fandango. Criadores, representantes das várias associações, jornalistas e convidados estrangeiros colaboram na grande acção de divulgação do Puro Sangue Lusitano. "É um cavalo versátil e corajoso, um cavalo de guerra", diz à Pública João Ralão Duarte, secretário-geral da APSL. "Dantes, o nosso cavalo era um complemento da actividade agrícola. Agora não. Há um crescimento no desporto, e deixou de ser exclusivamente de toureio. É já uma das raças mais representadas nas competições de dressage. E também é usada em saltos e corrida. Há associações de cavalo lusitano em vários países. O nosso maior mercado é o Brasil, mas o espanhol também é importante. Há lusitanos a tourear nas arenas de Espanha." Para se desenvolver, o lusitano, na opinião de Ralão Duarte, só precisa agora de um pouco mais de coragem da parte dos criadores. "Até aqui, eles não arriscavam muito. Vendiam os cavalos muito cedo, antes de os treinarem adequadamente." A APSL é o organismo que instituiu e mantém o Stud Book , que controla a evolução e pureza da raça e representa 400 criadores em Portugal. A maioria desses criadores são pequenas empresas, não casas gigantescas e com pergaminhos como a de Cadaval ou Veiga. Enquanto decorre a Gala, algures a umas dezenas de quilómetros daqui, numa ilha deserta no meio do Tejo, vivem cerca de 70 cavalos em estado selvagem. São jovens machos pertencentes às duas coudelarias do Estado, a Nacional e a de Alter. Com cerca de três meses de idade, são levados para o mouchão do Salgueiral, também conhecido como potril da Azambuja, uma ilha fluvial com uma área de cerca de 54 hectares, e aí deixados em liberdade até terem três ou quatro anos. Um tratador vai à ilha uma vez por dia, para deixar alimentos. À parte isso, os cavalos não vêem ninguém, não têm de obedecer, não aprendem nada. É uma espécie de formação de adolescente, em liberdade selvagem. Mais tarde serão treinados e entrarão no circuito comercial dos puros-sangues. Mas nunca esquecerão o mundo bravio da juventude. É esse o objectivo deste estranho método. Sozinhos na ilha, eles organizam-se espontaneamente em pequenos grupos, distribuem territórios, elegem os seus chefes. Dir-se-ia que aprendem a conhecer-se a si próprios, antes de assumirem as suas funções no mundo humano. Lentamente, dia após dia, noite após noite, na ilha aluvial onde os únicos ruídos são o rumorejar do rio e o chilrear de aves nas folhas dos salgueiros, vão absorvendo a terra. A terra que os define, lhes dá o nome. Pura terra lusitana. Corrigir Provedor do Leitor Feedback Diminuir Aumentar 0 4 retweet share 985 leitores 0 comentários SIGA-NOS http://www.publico.pt/Sociedade/cavalo-lusitano-terra-de-puro-sangue_1458328?all=1 28-09-2010
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