SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 3
Baixar para ler offline
A Corrida de Sebastião




      Naquele dia, todos os animais dos arredores se tinham reunido na clareira da floresta.
      Sebastião, o coelho mais orgulhoso e mais veloz do planeta, tinha uma vez mais desafiado
um dos seus vizinhos para uma corrida. Como era ele que ganhava sempre, a aposta era: “pede-
se-o-que-se-quiser-ao-que-perder”. E, desta vez, Sebastião tinha pedido um cesto cheio de
cenouras.
      Sebastião foi deitar-se num cantinho sossegado a
saborear as cenouras. Suspirou de contente:
      — Aaah, isto é que é viver!
      — Tens a certeza do que estás a dizer? — perguntou
uma voz que vinha do fundo da terra. — Achas mesmo que
a verdadeira vida consiste em ganhar corridas, humilhando
os vizinhos? — perguntou-lhe a tartaruga.
      — Mas, Senhora Daterra, como é que eu havia de comer, beber e vestir-me se não fossem
as corridas? Além disso, a senhora não é a pessoa mais indicada para me chamar a atenção, pois
dorme dia e noite à espera que o tempo passe.
      — Estás muito enganado: ando muito mais do que tu!
      — Vamos fazer uma corrida? — perguntou Sebastião para a provocar.
      — Aceito o desafio, e proponho como prémio que se peça ao que perder aquilo que se
quiser.
     Está dito, Senhora Daterra. Até lhe dou uma hora de avanço — disse Sebastião, o grande
senhor.
      Arranjou então umas belas cenouras e uma cabaça de sumo de fruta como o que lhe
preparava Victor, o cão da quinta. Depois, convencido que ia ganhar, desatou a correr. Correu,
correu, correu… até não poder mais. Quando parou, já tinha percorrido milhares de quilómetros.
Aos seus pés estendia-se um imenso lençol de água. Na sua terra havia um riacho onde os
outros tomavam banho. Mas estão a imaginar o rei da corrida a chapinhar na água? Seria uma
vergonha!
     Mas, desta vez, tinha tanto calor e o mar estava tão lindo que Sebastião se despiu e
mergulhou na água. Sentiu que era agradável e pensou que, se calhar, devia ter tomado banho
com os outros animais. Mas, na sua terra, o riacho era tão pequenino, enquanto ali podia nadar
naquele mar imenso…
      Esperou pela Senhora Daterra, enquanto comia algumas cenouras. Esperou muito tempo
e, depois, chamou-a. Em vão. Decidiu então dormir a sesta. E Sebastião dormiu por muito
tempo.
      Quando acordou, a Senhora Daterra ainda não tinha chegado. Então gritou: — Ganhei!
      Mas, de muito longe, do outro lado das ondas, uma voz profunda respondeu-lhe: — Ttttt!
Isso agora é o que tu pensas, meu vaidoso. Já estou do outro lado!
      Sebastião não queria acreditar. A senhora Daterra já estava do outro lado do mar! Como
fazer para atravessar aquela imensidão de água? Lembrou-se então que, um dia, os gatos tinham
construído uma jangada para descerem o ribeiro. Tinha-se recusado a ajudá-los. Asneira. Reuniu
os conhecimentos de que se lembrava: ramos atados com uma corda…
      É isso! Juntou um mastro e lançou-se à água. Sebastião pôs-se a remar. Remou, remou,
remou, até chegar a terra firme. Depois, comeu as últimas cenouras e retomou a corrida. Correu,
correu, correu… até não poder mais. Atirou-se ao chão e olhou em volta. Toda aquela areia,
toda aquela luz: nunca tinha visto nada assim. Que calor! Estava morto de sede. Pegou na
cabaça: vazia! Aproximou-se de um poço e olhou lá para dentro.
      Continha uma água acastanhada, fazia impressão.
Sebastião pensou então naqueles que, na sua terra, bebiam água
dos charcos. Bbrrr! Mesmo assim, tirou um pouco de água e
encheu a cabaça. Depois, sentou-se a admirar a magnífica
paisagem e à espera da sua concorrente. Afinal, era graças a ela
que estava a descobrir todas aquelas maravilhas. Fechou os
olhos a sorrir e adormeceu. E dormiu durante muito tempo.
    Quando acordou, a Senhora Daterra ainda não estava lá.
— Não se preocupe! — gritou. — Ganhei!
       Porém, de muito longe, do outro lado do deserto, uma voz profunda respondeu-lhe: —
Ttttt! Isso é o que julgas, coelho vaidoso. Estou aqui, no país das neves eternas.
      Sebastião estava admirado: a senhora Daterra era, de facto, uma adversária de respeito!
      Nem pensar mais em adormecer! Sebastião pôs-se a caminho. Correu, correu, correu, até
não poder mais. Quando parou, tinha percorrido milhares de quilómetros. O espectáculo que
agora se lhe oferecia deixou-o sem fôlego. Nunca tinha visto nada de tão grande, tão branco…
Estava cá um frio! O que fazer para acender uma fogueira? Já nem sentia as patas. Fechou os
olhos e pensou, com toda a força, na sua casa, para se aquecer um pouco.
Pensou na sua vizinha, a raposa Josefina. Em Leão, o javali, de quem troçava muitas
vezes. Em Marcela, a linda marta que perseguia na floresta.
      Em Gastão, a garça-real, na Berta, na Susana, na Lili, e nos outros todos… Sebastião
lamentava tê-los desprezado. Sentia-se tão longe deles! E tinha tanta vontade de os abraçar que
desatou a chorar, a chorar, a chorar…




      Decidiu voltar para casa no dia seguinte. — Não quero saber da senhora Daterra: ela
acabará a corrida sozinha!
       Cavou uma lura na neve e meteu-se lá. Sentia-se feliz. A cabeça estava mais leve e, no
peito, sentia qualquer coisa que nunca tinha sentido antes e que o fazia sorrir.
      Quando Sebastião acordou, estava tudo verde! Comeu bagas, bebeu água do riacho,
encheu a cabaça e pôs-se a caminho. Quando chegou ao mar, voltou a fazer uma pequena
jangada e remou, remou, remou… Depois correu, correu, correu até mais não poder.
       Um dia, finalmente, chegou a casa. Cansado, mas feliz. Os outros animais ficaram
admirados por encontrarem um Sebastião tão mudado. Mas não disseram nada. Fizeram uma
festa. Uma grande festa. Naquela noite, Sebastião deitou-se a dormir à beira do riacho.
      — Senhora Daterra, está aí? — chamou ele.
      — Estou aqui, respondeu uma voz profunda.
      — Obrigado por esta viagem maravilhosa… — disse o coelho.
      E Sebastião adormeceu a sorrir, com sonhos que chegavam até ao céu.




                                                                              Anne-Catherine De Boel
                                                                               La course de Sébastien
                                                                         Paris, l’école des loisirs, 2002

Mais conteúdo relacionado

Destaque (9)

Actividade a maior flor do mundo
Actividade   a maior flor do mundoActividade   a maior flor do mundo
Actividade a maior flor do mundo
 
Desenho de figures and dog in front of the sun by joan miro para colorir de...
Desenho de figures and dog in front of the sun by joan miro para colorir   de...Desenho de figures and dog in front of the sun by joan miro para colorir   de...
Desenho de figures and dog in front of the sun by joan miro para colorir de...
 
Desenho de the sun embracing the lover by joan miro para colorir desenhos p...
Desenho de the sun embracing the lover by joan miro para colorir   desenhos p...Desenho de the sun embracing the lover by joan miro para colorir   desenhos p...
Desenho de the sun embracing the lover by joan miro para colorir desenhos p...
 
Anexo 5 (3ªsessão) a biografia
Anexo 5 (3ªsessão) a biografiaAnexo 5 (3ªsessão) a biografia
Anexo 5 (3ªsessão) a biografia
 
A maior flor do mundo (COR24)
A maior flor do mundo (COR24)A maior flor do mundo (COR24)
A maior flor do mundo (COR24)
 
A maior flor do mundo
 A maior flor do mundo A maior flor do mundo
A maior flor do mundo
 
A que sabe a lua
A que sabe a luaA que sabe a lua
A que sabe a lua
 
Prova de aferição areal
Prova de aferição arealProva de aferição areal
Prova de aferição areal
 
Prova de aferição de português 4º ano areal
Prova de aferição de português 4º ano arealProva de aferição de português 4º ano areal
Prova de aferição de português 4º ano areal
 

Semelhante a A corrida de sebastião

Livros jose saramago - jangada de pedra (literatura portuguesa)
Livros   jose saramago - jangada de pedra (literatura portuguesa)Livros   jose saramago - jangada de pedra (literatura portuguesa)
Livros jose saramago - jangada de pedra (literatura portuguesa)
Rita Luz
 
A historia dos_brincos_de_penas_-_final
A historia dos_brincos_de_penas_-_finalA historia dos_brincos_de_penas_-_final
A historia dos_brincos_de_penas_-_final
Celia Silva
 
Sacudindo A Terra
Sacudindo A TerraSacudindo A Terra
Sacudindo A Terra
IURD Tube
 
Sacudindo a terra
Sacudindo a terraSacudindo a terra
Sacudindo a terra
Alex Mendes
 
Sacudindo a terra
Sacudindo a terraSacudindo a terra
Sacudindo a terra
Doni Cia
 
Sacudindo A Terra
Sacudindo A TerraSacudindo A Terra
Sacudindo A Terra
JNR
 
Passeio Por Porto Belo Sc
Passeio Por Porto Belo ScPasseio Por Porto Belo Sc
Passeio Por Porto Belo Sc
Rachel V.
 
Sacudindo
SacudindoSacudindo
Sacudindo
cab3032
 
A lição do cavalo
A lição do cavaloA lição do cavalo
A lição do cavalo
elydoors
 
Sacode a poeira dê a volta por cima
Sacode a poeira dê a volta por cimaSacode a poeira dê a volta por cima
Sacode a poeira dê a volta por cima
Amadeu Wolff
 

Semelhante a A corrida de sebastião (20)

Jangada de pedra
Jangada de pedraJangada de pedra
Jangada de pedra
 
Livros jose saramago - jangada de pedra (literatura portuguesa)
Livros   jose saramago - jangada de pedra (literatura portuguesa)Livros   jose saramago - jangada de pedra (literatura portuguesa)
Livros jose saramago - jangada de pedra (literatura portuguesa)
 
à Sombra do flamboyant
à Sombra do flamboyantà Sombra do flamboyant
à Sombra do flamboyant
 
O patinho-feio(01)
O patinho-feio(01)O patinho-feio(01)
O patinho-feio(01)
 
Chico o Macaco Fujão
Chico o Macaco FujãoChico o Macaco Fujão
Chico o Macaco Fujão
 
Fábulas de monteiro lobato
Fábulas de monteiro lobatoFábulas de monteiro lobato
Fábulas de monteiro lobato
 
Trabalho do 4ºc2
Trabalho do 4ºc2Trabalho do 4ºc2
Trabalho do 4ºc2
 
Trabalho do 4ºc2
Trabalho do 4ºc2Trabalho do 4ºc2
Trabalho do 4ºc2
 
O Velho
O VelhoO Velho
O Velho
 
A historia dos_brincos_de_penas_-_final
A historia dos_brincos_de_penas_-_finalA historia dos_brincos_de_penas_-_final
A historia dos_brincos_de_penas_-_final
 
Sacudindo a terra
Sacudindo a terraSacudindo a terra
Sacudindo a terra
 
Sacudindo a terra - Slide
Sacudindo a terra - SlideSacudindo a terra - Slide
Sacudindo a terra - Slide
 
Sacudindo A Terra
Sacudindo A TerraSacudindo A Terra
Sacudindo A Terra
 
Sacudindo a terra
Sacudindo a terraSacudindo a terra
Sacudindo a terra
 
Sacudindo a terra
Sacudindo a terraSacudindo a terra
Sacudindo a terra
 
Sacudindo A Terra
Sacudindo A TerraSacudindo A Terra
Sacudindo A Terra
 
Passeio Por Porto Belo Sc
Passeio Por Porto Belo ScPasseio Por Porto Belo Sc
Passeio Por Porto Belo Sc
 
Sacudindo
SacudindoSacudindo
Sacudindo
 
A lição do cavalo
A lição do cavaloA lição do cavalo
A lição do cavalo
 
Sacode a poeira dê a volta por cima
Sacode a poeira dê a volta por cimaSacode a poeira dê a volta por cima
Sacode a poeira dê a volta por cima
 

A corrida de sebastião

  • 1. A Corrida de Sebastião Naquele dia, todos os animais dos arredores se tinham reunido na clareira da floresta. Sebastião, o coelho mais orgulhoso e mais veloz do planeta, tinha uma vez mais desafiado um dos seus vizinhos para uma corrida. Como era ele que ganhava sempre, a aposta era: “pede- se-o-que-se-quiser-ao-que-perder”. E, desta vez, Sebastião tinha pedido um cesto cheio de cenouras. Sebastião foi deitar-se num cantinho sossegado a saborear as cenouras. Suspirou de contente: — Aaah, isto é que é viver! — Tens a certeza do que estás a dizer? — perguntou uma voz que vinha do fundo da terra. — Achas mesmo que a verdadeira vida consiste em ganhar corridas, humilhando os vizinhos? — perguntou-lhe a tartaruga. — Mas, Senhora Daterra, como é que eu havia de comer, beber e vestir-me se não fossem as corridas? Além disso, a senhora não é a pessoa mais indicada para me chamar a atenção, pois dorme dia e noite à espera que o tempo passe. — Estás muito enganado: ando muito mais do que tu! — Vamos fazer uma corrida? — perguntou Sebastião para a provocar. — Aceito o desafio, e proponho como prémio que se peça ao que perder aquilo que se quiser. Está dito, Senhora Daterra. Até lhe dou uma hora de avanço — disse Sebastião, o grande senhor. Arranjou então umas belas cenouras e uma cabaça de sumo de fruta como o que lhe preparava Victor, o cão da quinta. Depois, convencido que ia ganhar, desatou a correr. Correu,
  • 2. correu, correu… até não poder mais. Quando parou, já tinha percorrido milhares de quilómetros. Aos seus pés estendia-se um imenso lençol de água. Na sua terra havia um riacho onde os outros tomavam banho. Mas estão a imaginar o rei da corrida a chapinhar na água? Seria uma vergonha! Mas, desta vez, tinha tanto calor e o mar estava tão lindo que Sebastião se despiu e mergulhou na água. Sentiu que era agradável e pensou que, se calhar, devia ter tomado banho com os outros animais. Mas, na sua terra, o riacho era tão pequenino, enquanto ali podia nadar naquele mar imenso… Esperou pela Senhora Daterra, enquanto comia algumas cenouras. Esperou muito tempo e, depois, chamou-a. Em vão. Decidiu então dormir a sesta. E Sebastião dormiu por muito tempo. Quando acordou, a Senhora Daterra ainda não tinha chegado. Então gritou: — Ganhei! Mas, de muito longe, do outro lado das ondas, uma voz profunda respondeu-lhe: — Ttttt! Isso agora é o que tu pensas, meu vaidoso. Já estou do outro lado! Sebastião não queria acreditar. A senhora Daterra já estava do outro lado do mar! Como fazer para atravessar aquela imensidão de água? Lembrou-se então que, um dia, os gatos tinham construído uma jangada para descerem o ribeiro. Tinha-se recusado a ajudá-los. Asneira. Reuniu os conhecimentos de que se lembrava: ramos atados com uma corda… É isso! Juntou um mastro e lançou-se à água. Sebastião pôs-se a remar. Remou, remou, remou, até chegar a terra firme. Depois, comeu as últimas cenouras e retomou a corrida. Correu, correu, correu… até não poder mais. Atirou-se ao chão e olhou em volta. Toda aquela areia, toda aquela luz: nunca tinha visto nada assim. Que calor! Estava morto de sede. Pegou na cabaça: vazia! Aproximou-se de um poço e olhou lá para dentro. Continha uma água acastanhada, fazia impressão. Sebastião pensou então naqueles que, na sua terra, bebiam água dos charcos. Bbrrr! Mesmo assim, tirou um pouco de água e encheu a cabaça. Depois, sentou-se a admirar a magnífica paisagem e à espera da sua concorrente. Afinal, era graças a ela que estava a descobrir todas aquelas maravilhas. Fechou os olhos a sorrir e adormeceu. E dormiu durante muito tempo. Quando acordou, a Senhora Daterra ainda não estava lá. — Não se preocupe! — gritou. — Ganhei! Porém, de muito longe, do outro lado do deserto, uma voz profunda respondeu-lhe: — Ttttt! Isso é o que julgas, coelho vaidoso. Estou aqui, no país das neves eternas. Sebastião estava admirado: a senhora Daterra era, de facto, uma adversária de respeito! Nem pensar mais em adormecer! Sebastião pôs-se a caminho. Correu, correu, correu, até não poder mais. Quando parou, tinha percorrido milhares de quilómetros. O espectáculo que agora se lhe oferecia deixou-o sem fôlego. Nunca tinha visto nada de tão grande, tão branco… Estava cá um frio! O que fazer para acender uma fogueira? Já nem sentia as patas. Fechou os olhos e pensou, com toda a força, na sua casa, para se aquecer um pouco.
  • 3. Pensou na sua vizinha, a raposa Josefina. Em Leão, o javali, de quem troçava muitas vezes. Em Marcela, a linda marta que perseguia na floresta. Em Gastão, a garça-real, na Berta, na Susana, na Lili, e nos outros todos… Sebastião lamentava tê-los desprezado. Sentia-se tão longe deles! E tinha tanta vontade de os abraçar que desatou a chorar, a chorar, a chorar… Decidiu voltar para casa no dia seguinte. — Não quero saber da senhora Daterra: ela acabará a corrida sozinha! Cavou uma lura na neve e meteu-se lá. Sentia-se feliz. A cabeça estava mais leve e, no peito, sentia qualquer coisa que nunca tinha sentido antes e que o fazia sorrir. Quando Sebastião acordou, estava tudo verde! Comeu bagas, bebeu água do riacho, encheu a cabaça e pôs-se a caminho. Quando chegou ao mar, voltou a fazer uma pequena jangada e remou, remou, remou… Depois correu, correu, correu até mais não poder. Um dia, finalmente, chegou a casa. Cansado, mas feliz. Os outros animais ficaram admirados por encontrarem um Sebastião tão mudado. Mas não disseram nada. Fizeram uma festa. Uma grande festa. Naquela noite, Sebastião deitou-se a dormir à beira do riacho. — Senhora Daterra, está aí? — chamou ele. — Estou aqui, respondeu uma voz profunda. — Obrigado por esta viagem maravilhosa… — disse o coelho. E Sebastião adormeceu a sorrir, com sonhos que chegavam até ao céu. Anne-Catherine De Boel La course de Sébastien Paris, l’école des loisirs, 2002