Este documento descreve uma viagem ao longo do rio Kwanza na província de Kwanza Norte em Angola. A viagem começa na cidade do Dondo, passando por Massangano, onde se encontram monumentos históricos como a Fortaleza de Massangano e a Igreja de Nossa Senhora da Vitória. A paisagem ao longo do rio é descrita como tranquila e relaxante. Brevemente descreve a história da região e as atividades econômicas como a agricultura e pesca.
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Dondo
Um dia no
Texto e fotografia Sílvia Norte
Deixe-se levar pelas águas doces
do Kwanza Norte
A fresca brisa do rio, com o intenso verde das margens fluviais,
Vista da Fortaleza de Massangano.
uma pitada de história e muita simplicidade: eis o cenário ideal
para quem procura o descanso.
Viaje até ao Dondo e conheça os seus arredores. A cidade do ainda recordar as antigas viagens de de Catete. A viagem é um mosaico de pai- não se deixe ficar pelo pequeno embar-
Dondo é a sede municipal de Kambambe, um dos dez municípios solavancos e sacudidelas por entre os sagens secas que alternam com os típi- cadouro agitado e alegre e entre num
que constituem a província do Kwanza Norte. Esta província, a buracos de uma decrépita estrada de alca- cos embondeiros e com o capim verde na dos barcos. Se viajar em grupo, poderá
noroeste do País, limitada pelo Uíge a norte, pelo Bengo a oeste trão intercalada por troços de terra batida época das chuvas, pequenas aldeias que mesmo tentar alugar um e deixe-se levar
e a sudoeste, pelo Kwanza Sul a sul e por Malange a este, conta que mais parecia um puzzle inacabado. as crianças sinalizam, a brincar na berma até Massangano, uma das comunidades
com uma superfície de 24 110 km2 e com uma população que Nessa época, os passageiros frequentes da estrada, e mercados de fruta e horta- nas margens do rio Kwanza.
se estima em cerca de 350 000 habitantes. O Dondo situa-se deste trajecto Luanda-Dondo eram os liças frescas cujas cores e aroma convi-
a cerca de 170 quilómetros de Luanda e a 80 quilómetros de camionistas que corriam as estradas do dam a uma paragem e porque não a um O passeio por entre a orla fluvial é muito
N’Dalatando, capital da província, constituindo a segunda cidade norte do País, levando a várias paragens os «clic» da máquina fotográfica. Os tons e bonito e relaxante, convidando a momen-
mais próxima da capital do País, depois de Caxito. produtos exportados, saídos do porto de as formas dos símbolos chineses também tos de harmonia e descontracção. O barco
Luanda ou, mais frequentemente, produ- presentes nesta zona do País, onde se desliza calmamente pelas tranquilas águas
O município de Kambambe, entre os rios Kwanza e Lucala, tem tos hortícolas e frutícolas para serem ven- concentram alguns complexos de empre- do rio, à medida que se intensifica o verde
características propícias à agricultura e à pesca artesanal, as duas didos na capital. Os menos afortunados, sas e trabalhadores desta nacionalidade, das suas margens e se alarga o seu caudal,
actividades dominantes desta região. Mas a cidade do Dondo é vítimas de algum furo ou avaria mecânica, são indícios da amálgama cultural que esta fazendo-me sentir cada vez mais peque-
ainda dotada de um centro industrial onde se situam as instala- esperavam, dormiam e voltavam a espe- região começa a viver, passo a passo. nina, mas também mais próxima (quase
ções da cervejeira Eka, a fábrica de vinhos e licores Vinelo e o rar dias e noites a fio por uma peça que que parte) da natureza. Em determinados
complexo hidroeléctrico de Kambambe. lhes pusesse o motor em funcionamento, A entrada no Dondo, rodeada de terrenos pontos, esse verde é interceptado por anti-
pelo menos até à paragem mais próxima, secos com pouca vegetação, pode ficar gas mansões, muitas já em ruínas, mas
ou por alguém entendido no assunto que aquém das expectativas. No entanto, cujos rasgos deixam perceber que terão
De olhos postos na paisagem os pudesse ajudar. A sombra, debaixo ganha força o ditado e aqui realmente as sido verdadeiras quintas e moradias de
do camião, passava, então, a ser a sua aparências enganam. Depois de percorrer enormes dimensões, com janelas e gran-
Ao sair de Luanda, deixo Viana e vou progressivamente (que outra segunda casa e, às vezes, a primeira para as principais ruas desta pequena cidade des varandas sob o olhar atento do rio,
coisa a paisagem não permite) esquecendo o trânsito, as buzinas muitos destes senhores da estrada. e quase sem me aperceber, o meu olhar escadarias de perder de vista, tudo com
dos condutores nervosos, o stress da capital, para dar lugar à encontra as tranquilas margens do rio um toque colonialista. Noutros pontos, a
tranquilidade e à grandiosidade que se estende pelo horizonte. Uma viagem outrora longa e cansativa, mas Kwanza, muito perto do centro da cidade. natureza confunde-se com a discrição das
que hoje se faz em cerca de hora e meia. Aquele caudal de água doce confere uma actuais aldeias, com as suas cubatas e,
O solo, de um cor de laranja torrado e decorado com elegan- Com a ligeireza de quem vagueia por uma verdadeira frescura e sensação de sere- tantas vezes, o habitual jango, ponto de
tes embondeiros, presentes ao longo de quase todo o per- estrada recentemente alcatroada, vou cru- nidade à cidade e a todos aqueles que encontro da comunidade por excelência e
Pesca artesanal no rio Kwanza. curso por uma estrada recentemente reconstruída, permite zando a província do Bengo e o município por ali passam. Exactamente por isso, especialmente dos mais velhos.
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