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ODEIO SABIÁS

        Um pecado capital: não creio na diferença entre o pássaro-
preto e o sabiá. Aquele, pelo menos, que todos os dias vem desfilar
seu peito pleno de livre-vontade sob minha janela, é negro como
nunca. Por mais gritante que seja seu ameno pousar sobre o galho
seco, e, aqui, somente nós (eu e ele) temos consciência desta
verdade, sua real intenção é camuflar-se.
        Esconde-se dos que sabem de sua perversidade e vigia-
nos, vigia-nos como enganos. Estou, por isso, sempre à espreita.
Um descuido, um segundo desatento, e sibila pelos ares suas setas
agudas, cortantes.Nestespesares,pronto!,acabam-seminhas horas.
        Às vezes, quando em trégua, chegamos mesmo a discutir
nossas atitudes. Apertei-lhe as mãos, semana passada, controlando
uma ânsia sádica que corria todo meu corpo. Cheguei mesmo a
dizer-lhe que os pássaros mordem. Ele, mal disfarçando as cores e
o contentamento, confinllou tninha40pinião:"Sorrimos!"
        Odeio os sabiás. Não por egoísmo, não por solidão. Ai
daqueles que se enlaçam em seus diminutivos e passam a elogiá-
los: olhinhos, asinhas... são estas as armas dos malditos.
Desconhecem as suas anuadilhas? São estes ignaros as maiores
vítimas! É o meu caso,e, a cada queda da tarde, lá vem meu
tonuento, pousar na árvore morta da frente e rir de meu único
diminutivo, meu caminho.
        Não posso ter dó, e não tenho. Apenas espero que o ar não
me negue fonuas. Assim, tranqüilo, passo as mãos na carabina
que se desenha em minha frente, faço uma mira de mentira (mas
de verdade), e disparo certeiro, na cabeça. O coitado cai de seu
disfarce no mesmo instante em que uma ingênua senhora taxa-me
de covarde.
        Não sei o que fazer em horas de apuro. Como estas são
constantes, apenas rumino. Aqui, penso na cumplicidade do ar
que me entregou uma arma de fogo e não umamáquina fotográfica.
Esboço uma tardia fotografia do corpinho inerte. Poderia tê-lo
espantado com um cIic?Adiantaria prendê-lo numa câmera? Sei
lá.

       Confesso, não queria ter matado o passarinho.
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