Fábio sofreu um acidente em 2006 que o deixou tetraplégico. Após ter sua história contada no jornal, recebeu ajuda para fazer tratamento nos EUA que melhorou sua independência. Agora ele planeja voltar a trabalhar e dar menos trabalho à família.
Reabilitação nos EUA deu nova esperança a jovem tetraplégico após acidente
1. CMYK
30 • Cidades • Brasília, quarta-feira, 27 de julho de 2011 • CORREIO BRAZILIENSE
Gustavo Moreno/CB/D.A Press
Fábio: “Hoje me
sinto mais confiante,
mais disposto e
até mais forte”
Depois de o Correio contar sua história, rapaz tetraplégico viajou aos Estados Unidos para se submeter a
tratamento especializado. Cinco anos após o acidente, ele refaz planos e comemora as pequenas conquistas
E Fábio
reinventou
» MARCELO ABREU
a vida...
ESPECIAL PARA O CORREIO
Ficou ali por quatro longos meses, para
reabilitação. “Eles me ensinaram a vi-
Para completar a quantia, a mãe ven-
deu o carro e juntou com as econo-
Matérias do Correio
mobilizaram ajuda
A mãe intervém: “Isso é respeito”.
De volta a Brasília há uma semana,
ver numa cadeira de rodas”, conta. QR code mias da família, que havia cortado to- ao apartamento alugado onde a família
á histórias que são construí- No meio desse processo, a mãe de das as despesas. mora no Sudoeste, Fábio continua na
H das com tanta determinação
que chegam a doer emocional
e fisicamente. Esta é uma de-
las. Um mergulho malsucedido numa
piscina alterou para sempre os rumos
Fábio, Solange Grando, que contava à
época 40 anos, saudável, sem histórico
de doença e que deixara tudo para cui-
dar dele integralmente, sentiu-se mal.
Desmaiou no quarto onde o filho só
Superação
Dezembro de 2010. Fábio, o pai, a
mãe e o irmão caçula embarcaram pa-
sua cadeira de rodas. Qual o saldo da
viagem? “Voltei mais independente.
Hoje, faço algumas coisas sozinho. Sin-
to meu abdômen e os meus músculos,
o que me dá mais equilíbrio. Consigo
da vida. Fez o personagem desta repor- mexia o pescoço. Nem gritar Fábio pô- ra os Estados Unidos. Alugaram um passar da cama para a cadeira com
tagem rever valores, reconstruir etapas de. “Só ouvi o baque dela no chão.” pequeno apartamento em Vista, a mais facilidade.” E comenta: “Alguns
e refazer todos os sonhos. E refazer so- Uma enfermeira passava no local. So- 70km de San Diego. E lá começa a se- amigos me viram na cadeira e ficaram
nhos é, provavelmente, a parte mais di- correu-a. Solange foi levada ao Institu- gunda parte desta história. Fábio par- meio decepcionados. Pensaram que eu
fícil da história de cada um. Fábio to do Coração (Incor-DF). Sofrera sete tiu em busca de qualquer indepen- voltaria andando. Eu sempre soube
Grando ganhou uma segunda chance. paradas cardíacas. Fez cateterismo. Para conferir o vídeo de Fábio, dência. Mesmo que fosse apenas se vi- que isso não ia ser possível, mas hoje
E agarrou-se a ela com intensidade Causa do infarto? Os médicos apontam fotografe o QR code acima com o rar na cama nas madrugadas, sem ter me sinto mais confiante, mais disposto
maior que a força de suas pernas e de o estresse em que se encontrava. Resis- software leitor de código de barras que acordar o pai. e até mais forte”, alegra-se. Fábio segui-
do seu celular e acesse o conteúdo
seus braços. Cada movimento hoje é tiu milagrosamente, sem sequelas. So- multimídia. Caso você não tenha o Os seis meses nos Estados Unidos rá com os exercícios de fisioterapia nu-
comemorado como tombo de bebê breviveu para cuidar de Fábio.“Se eu ti- programa, envie um SMS com as viraram sete. A mãe e o irmão ficaram ma academia no Núcleo Bandeirante.
que começa a engatinhar. vesse tido o infarto em casa ou na rua, letras QR para o número 50035. com ele em San Diego. O pai voltou, É lá que foi inaugurada, há poucos dias,
Em fevereiro de 2010, o Correio provavelmente não teria sobrevivido. Você receberá um link para fazer para tocar o comércio da família. A fi- uma filial do ProjectWalk no DF.
o download gratuito do software.
contou, com exclusividade, o drama Só me salvei porque estava dentro do O custo do SMS é de R$ 0,31 +
sioterapia foi intensa — três vezes por A proprietária, Karen Sakayo, 23
de Fábio. Quatro anos antes, aos 21, hospital e fui socorrida imediatamen- impostos. Só é preciso baixar o semana, durante três horas a cada dia. anos, ficou paraplégica depois de cair
ele ficara tetraplégico, depois de pular te”, resigna-se. software uma vez. O Correio não “Era muito pesado. No começo, eu ia à durante uma apresentação circense da
de ponta. Era Copa do Mundo. Brasil e cobra nada pelo conteúdo, mas, a tarde para o Project, mas, no dia se- lira (“bambolê suspenso”), de uma al-
Austrália faziam a segunda partida. A Dependência cada vez que você o acessar, estará
navegando na internet e pagará pelo
guinte, dormia a manhã toda, de tão tura de 6 metros, quando a corda se
reunião era na casa de um amigo, no tráfego de dados à sua operadora. cansado”, lembra. rompeu. Ela foi paciente do Project nos
Lago Sul. A partida prosseguia. Fábio Passaram-se os anos. Em 2008, sen- Na fisioterapia americana, Fábio Estados Unidos e trouxe a técnica para
resolveu entrar na piscina. A festa es- tado numa cadeira de rodas, todo andou, em esteiras preparadas. Era Brasília. Os fisioterapeutas que lá tra-
tava apenas começando. “Só me lem- imobilizado, o rapaz tetraplégico for- como se tivesse engatinhando. Foi a balham foram treinados em San Diego.
bro do barulho da minha cabeça no mou-se em jornalismo. Chegou em- pai, proprietário de um pequeno self- melhor sensação dos últimos cinco É lá que Fábio seguirá suas atividades.
fundo.” A água ficou escura. Era o san- purrado pelos amigos. A vida precisa- service no Sudoeste, não teria como anos. “Aqui, ficava em pé com talas. E assim poderá tocar seus novos proje-
gue dele que jorrava. va seguir, mesmo daquela forma, mes- arrumar a quantia. Lá, fiquei sem talas, no simulador de tos. Com gosto de vida, ele diz: “Quero
Os amigos chamaram o Corpo de mo mexendo apenas a cabeça. Ele sa- Depois que a história de Fábio foi caminhada.” E mais um aprendizado: voltar a trabalhar. Posso fazer alguma
Bombeiros. Imobilizado, Fábio foi leva- bia disso. “Passei a ser dependente de contada pelo Correio, a ajuda veio de “Precisei preparar o pensamento. coisa com jornalismo de internet. Que-
do para o Hospital de Base (HBDF). Lá, tudo. Meu pai, há quatro anos, todas todos os lados. “Teve gente que fez de- Meu cérebro desaprendeu a andar. Ti- ro dar cada vez menos trabalho à mi-
encontrou os pais, desesperados. Sou- as madrugadas, acorda para me mu- pósito de R$ 1 e de R$ 5 mil”, conta Fá- nha que ter concentração total”. E nha família”. O pai, Éder Grando, 48
be que havia tido uma lesão medular. dar de posição na cama. Isso não é jus- bio. “Um comerciante chegou aqui em brinca: “Saía de lá com mais dor de anos, ouve. Emociona-se em silêncio. A
Esperou por quatro dias para fazer to com ele”, disse ao Correio, em feve- casa com um envelope e havia dentro cabeça do que nas pernas”. mãe serve um copo com água para o fi-
uma cirurgia. Não conseguiu. Uma fe- reiro do ano passado. dele 8 mil euros”, lembra, ainda emo- Nos sete meses nos Estados Uni- lho. E também se comove.
rida enorme (escara) se alastrava pelas Fábio queria chegar a San Diego, cionada, a mãe. Ele ainda disse por que dos, Fábio deparou-se com um país A vida e os sonhos de Fábio seguem.
costas. De lá, seguiu para o Hospital Sa- nos Estados Unidos. Lá, soube que ha- guardava o dinheiro: “Era para uma preparado para receber e conviver Ele quer mais. E tem direito de querer
rah do Aparelho Locomotor, na Asa Sul, via um tratamento de fisioterapia ex- eventual doença na minha família”. com gente que tem pernas e braços mais. Um pulo numa piscina modifi-
para tentar, finalmente, ser operado. clusivamente para pacientes com le- Os amigos se mobilizaram na cam- emprestados. “Tô em cadeira de rodas cou rumos. Alterou todos os sentidos.
Lá, no Sarah, a certeza que lhe inva- são medular. Era o Project Walk — ba- panha Bora, Fabito! . Teve festival de há cinco anos. Lá, pela primeira vez, Mas ele os reinventou. A vida é sempre
diu a alma: ficara tetraplégico. O mun- seado na repetição dos exercícios, em tortas, artistas da cidade se juntaram não precisei empinar minha cadeira uma grande reinvenção. E esse talvez
do desabou. Era a pior notícia que ou- aparelhos desenvolvidos para cada ti- para shows beneficentes, vendas de pra nada. Todos os lugares são adapta- seja o segredo de viver. Hoje, quarta-
vira nos seus 21 anos de vida. Esperou po de lesão. Mas era caro chegar ali. camisetas. Em 11 meses, a família dos. As vagas para deficientes são res- feira, 27de julho, ele tem tudo para es-
por 22 dias pela cirurgia. Colocaram- Ano passado, pelos seis meses (tempo contabilizou R$ 80 mil. “Se não fosse peitadas sem discussão. Nos bancos, a tar mais certo disso. Completa 27 anos.
lhe quatro parafusos no pescoço e uma mínimo de tratamento), ele teria que essa ajuda, nunca teria chegado lá. adaptação é tão grande que os cadei- Uma vida inteira o espera pela frente.
placa de titânio para fixar a vértebra. desembolsar U$ 55 mil (R$ 110 mil). O Sou grato a todas as pessoas”, diz ele. rantes nem precisam de fila especial.” Parabéns, Fabito!
Conheça mais//Fábio conta suas histórias no blog: fabiogrando.blogspot.com
CMYK