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Helena não sabia como conseguira sobreviver. Havia saído do esconderijo onde
estivera aprisionada durante uma década. Ela havia escapado; não havia sido morta,
nem havia entrado em estado de depressão. Estava viva, e o mais importante: tinha
uma missão a cumprir, para honrar aqueles a quem amava, e prometera vingança.
“Uma mentira repetida mil vezes acaba tornando-se verdade”
-Joseph Goebbels
CAPÍTULO UM
Já é noite quando Elena decide escapar do dormitório e seguir em direção ao quintal para ir
visitar o irmão. Ela está aprisionada há exatamente sete anos, dois dias e cinco meses no lugar
denominado “Canteiro”. O Canteiro é o lugar onde Mathews, o cientista aparentemente
psicopata, esconde jovens de dez a dezoito anos para realizar experimentos. “Ele não é de todo
ruim”, repete Elena para todos os novatos que adentram no lugar. Mas não é a verdade.
Mathews era o pior tipo de psicopata que alguém poderia querer em seu seriado. Era alto,
gordo, com apenas alguns fios grisalhos de cabelo, além de ser recoberto de tatuagens,
fumante, e alcoólatra. Se passava por agente de modelos para seduzir pais e parentes, com a
promessa de tornar as suas vidas melhores. Era persuasivo e inteligente, manipulava a todos
facilmente, além de manter uma aparência extremamente “boazinha”. Queria se assemelhar aos
grandes homens da história, como Hitler, Mussolini, Napoleão e Alexandre, só que a sua
dominação seria diferente. Transformaria homens em robôs, em guerreiros armados. Não se
importava com choros, tortura, ou qualquer forma de tratamento. Atirava em qualquer um que
lhe contrariasse, e apenas poderia ser amansado por sua esposa, Catarina, que vivia em
constante ameaça de vida. O destino dessa mulher ainda era incerto, porém, quase todas as
noites era possível ouvir os socos e gritos de uma mulher desesperada, em busca de uma saída.
A vida n’O Canteiro não era diferente. Havia duas alas na mansão localizada em uma região fora
do mapa na cidade de São Paulo. Não era interior nem nenhuma área parecida, era fora do
mapa, e por dedução, ficava perto de uma estrada, já que o barulho de carros e outros
automóveis prevaleciam durante metade do dia. A ala masculina ficava no lado oeste da
mansão. Elena já havia entrado lá para visitar seu irmão mais novo, Jhone, e levá-lo a comida
que havia escondido do seu jantar. Eles haviam sido levados juntos, ela com nove anos, e ele,
cinco. Foi a época mais difícil de suas vida. Achando que seria apenas fotografada, ela e o irmão
foram sequestrados e roubados dos pais. As lembranças lhes foram arrancadas, e Jhone não
chega a se lembrar de seus pais, menos Elena, que todas as noites lhe conta histórias sobre a
vida na pequena cidade em que moravam, e como eram felizes. A ala feminina ficava no lado
leste da mansão, onde dormiam as moças e as crianças. Elena odiava aquilo, a crueldade com
que tratavam as crianças. Em sua opinião, aquelas pessoas que trabalhavam para Mathews não
eram gente, e sim, monstros. Os odiava com todas as suas forças, e havia jurado para si mesma
que um dia sairia dali, e tiraria todas as crianças e jovens. E que mataria Mathews, pela honra de
todos aqueles a quem ele já havia matado. Era uma promessa.
CAPÍTULO DOIS
A rotina começava cedo n’O Canteiro. As garotas limpavam e cozinhavam, os rapazes
trabalhavam concertando computadores e reformando a mansão. Elena, Rebeca e Andressa
estão arrumando as camas de seu dormitório. Todas chegaram ao mesmo tempo no lugar,
então, eram refúgio umas para as outras. Elena era de estatura média, cabelos pretos
encaracolados, porém não crespos, com olhos azul-céu, pele branca, e um sorriso contagiante.
Era a mais firme do grupo. Prometera a si mesma que voltaria para casa, e que devolveria cada
criança para a sua família. Rebeca era loira, olhos castanhos, pele branca como mármore,

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  • 2. “Uma mentira repetida mil vezes acaba tornando-se verdade” -Joseph Goebbels
  • 3. CAPÍTULO UM Já é noite quando Elena decide escapar do dormitório e seguir em direção ao quintal para ir visitar o irmão. Ela está aprisionada há exatamente sete anos, dois dias e cinco meses no lugar denominado “Canteiro”. O Canteiro é o lugar onde Mathews, o cientista aparentemente psicopata, esconde jovens de dez a dezoito anos para realizar experimentos. “Ele não é de todo ruim”, repete Elena para todos os novatos que adentram no lugar. Mas não é a verdade. Mathews era o pior tipo de psicopata que alguém poderia querer em seu seriado. Era alto, gordo, com apenas alguns fios grisalhos de cabelo, além de ser recoberto de tatuagens, fumante, e alcoólatra. Se passava por agente de modelos para seduzir pais e parentes, com a promessa de tornar as suas vidas melhores. Era persuasivo e inteligente, manipulava a todos facilmente, além de manter uma aparência extremamente “boazinha”. Queria se assemelhar aos grandes homens da história, como Hitler, Mussolini, Napoleão e Alexandre, só que a sua dominação seria diferente. Transformaria homens em robôs, em guerreiros armados. Não se importava com choros, tortura, ou qualquer forma de tratamento. Atirava em qualquer um que lhe contrariasse, e apenas poderia ser amansado por sua esposa, Catarina, que vivia em constante ameaça de vida. O destino dessa mulher ainda era incerto, porém, quase todas as noites era possível ouvir os socos e gritos de uma mulher desesperada, em busca de uma saída. A vida n’O Canteiro não era diferente. Havia duas alas na mansão localizada em uma região fora do mapa na cidade de São Paulo. Não era interior nem nenhuma área parecida, era fora do mapa, e por dedução, ficava perto de uma estrada, já que o barulho de carros e outros automóveis prevaleciam durante metade do dia. A ala masculina ficava no lado oeste da mansão. Elena já havia entrado lá para visitar seu irmão mais novo, Jhone, e levá-lo a comida que havia escondido do seu jantar. Eles haviam sido levados juntos, ela com nove anos, e ele, cinco. Foi a época mais difícil de suas vida. Achando que seria apenas fotografada, ela e o irmão foram sequestrados e roubados dos pais. As lembranças lhes foram arrancadas, e Jhone não chega a se lembrar de seus pais, menos Elena, que todas as noites lhe conta histórias sobre a vida na pequena cidade em que moravam, e como eram felizes. A ala feminina ficava no lado leste da mansão, onde dormiam as moças e as crianças. Elena odiava aquilo, a crueldade com que tratavam as crianças. Em sua opinião, aquelas pessoas que trabalhavam para Mathews não eram gente, e sim, monstros. Os odiava com todas as suas forças, e havia jurado para si mesma que um dia sairia dali, e tiraria todas as crianças e jovens. E que mataria Mathews, pela honra de todos aqueles a quem ele já havia matado. Era uma promessa.
  • 4. CAPÍTULO DOIS A rotina começava cedo n’O Canteiro. As garotas limpavam e cozinhavam, os rapazes trabalhavam concertando computadores e reformando a mansão. Elena, Rebeca e Andressa estão arrumando as camas de seu dormitório. Todas chegaram ao mesmo tempo no lugar, então, eram refúgio umas para as outras. Elena era de estatura média, cabelos pretos encaracolados, porém não crespos, com olhos azul-céu, pele branca, e um sorriso contagiante. Era a mais firme do grupo. Prometera a si mesma que voltaria para casa, e que devolveria cada criança para a sua família. Rebeca era loira, olhos castanhos, pele branca como mármore,