1. Ostra feliz não faz pérola
O pequenino ser, motivo de breve análise por parte do escritor, e título do livro de sua
autoria, oferecesse-nos com a sua particularidade duas características metafóricas e
eminentemente humanas. A primeira evidencia a insegurança (medo). É o medo de
sofrer algo que nos faz criar modos de defesa (casca dura), evitando ou tentando
evitar aqueles que podem, de alguma maneira, nos ferir. A segunda característica é a
capacidade de produzir beleza apesar da dor.
É desse segundo aspecto que trata esse breve ensaio.
Os seres humanos, tal qual às ostras, muitas vezes extraem do sofrimento beleza
inigualável.
Vê Beethoven? – chama atenção do leitor, Rubem Alves - “como é possível que um
homem completamente surdo, no fim da vida, tenha produzido uma obra que canta a
alegria?”
Igualmente a Beethoven, outros tantos artistas tiveram seu melhor momento em
conseqüência da dor.
Conta-se que Dolores Duram, por exemplo, estava melancólica por conta de fim de
romance ao compor os versos da música: “Hoje eu quero a rosa mais linda que
houver, e a primeira estrela que vier, para enfeitar a noite do meu bem...” (A noite do
meu bem). Uma das mais belas canções da cantora e compositora que ganhou
versões em outras línguas.
Então, pode-se dizer que os momentos de angústia é motor para inspiração? - Parece
que sim!
De acordo com os Mensageiros do Alto, em resposta a Allan Kardec na questão de nº
532, os Espíritos não afastam todos os males, porquanto, há males que são
providenciais para o melhoramento do indivíduo. Contudo, amenizam as dores,
conferindo paciência e resignação. Eles, também, esclarecem que depende de nós
mesmo a superação.
Sim, somos capazes de produzir pérolas com a nossa superação; mas para isso é
preciso ter Vontade firme. É preciso suplantar a dor. Fazer, como diz Fernando
Sabino, “da queda um passo de dança, do medo uma escada”.
Referências
ALVES, Rubem. Ostra Feliz Não Faz Pérola. São Paulo: Planeta do Brasil, 2008.
SABINO, Fernando. III – O Escolhido. In: O Encontro Marcado. 79. ed. São Paulo: Record, 2005.
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 76. ed. Brasília: FEB, 2005.
Escreve o mestre Rubem Alves que, a sabedoria
natural fez com que as ostras construíssem
“casas, conchas duras, dentro das quais vivem”, e
lhe conferiu o dom de produzir pérolas em razão
da dor.
Como se sabe, a pérola é produzida pela ostra
quando algum corpo estranho invade o seu
interior, e, para se proteger, ela passa a cobrir o
corpo estranho com camadas.