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BORRAS DE CAFÉ – CARACTERÍSTICAS E SUA VALORIZAÇÃO
              ORGÂNICA POR VERMICOMPOSTAGEM


                         Nelson Miguel Guerreiro Lourenço1


1
 BSc em Engenharia do Ambiente (ULHT), MSc em Gestão Sustentável dos Espaços
Rurais (UALG/FCT), Formador (n.º 523366/2010).
Futuramb – Gestão Sustentável de Recursos – DCEA / CPIV, Messines de Cima, caixa-
postal 5-S, 8375-047 S. B. Messines, Portugal.


        Palavras-chave: Borra de café, resíduo orgânico, vermicompostagem.


   As borras de café são um fluxo de resíduos orgânicos proveniente da fracção dos
resíduos sólidos urbanos (RSU). Normalmente, esta tipologia de resíduos é depositada
no lixo doméstico comum (sem recuperação como matéria-prima) ou utilizada como
combustível em caldeiras, em geral na própria indústria, apresentando neste último caso,
diversos problemas a nível da emissão de poeiras e partículas, com implicação na
qualidade atmosférica. Infelizmente, todas estas metodologias não apresentam
sustentabilidade não sendo igualmente económicas, visto que, a matéria orgânica
presente na borra, necessita de ser estabilizada previamente através de processos
controlados de decomposição, de que é exemplo a vermicompostagem.
   As borras de café convencionais (Fig. 1) utilizadas para consumo doméstico e
industrial possuem elevado teor em azoto. A quantidade de azoto pode efectivamente
apresentar valores superiores a 10 % (p/p). Contrariamente, a relação C/N apresenta
baixo valor sendo uma das suas principais características (aproximadamente 11/1).




                                   Fig. 1 – Borras de café.




                                                                                      1
Em termos de decomposição controlada, as borras de café, quando adicionadas a
uma unidade de vermicompostagem, são inicialmente decompostas por bactérias e
fungos promovem a sua estabilização inicial e quebra dos vários componentes
estruturais. Posteriormente, e através de acção simbiótica com esta fauna microbiana, as
minhocas são também capazes de utilizar as borras de café como fonte de alimento,
quando adicionadas na unidade.
   Diversos estudos apontam para que o pH da borra se apresente ácido embora tal não
se verifique experimentalmente. Em dois estudos efectuados em tratamento de borras de
café moído, registaram-se valores de pH entre 4,6 e 5, tendo-se obtido em ensaios
paralelos valores entre 7,7 e 8,4. Igualmente, diversas pesquisas efectuadas indicaram
um aumento do pH a nível do solo após aplicações sucessivas de borras de café num
período entre 14 a 21 dias após a sua adição, diminuindo gradualmente após esta data.
   Devido ao seu elevado teor em azoto e reduzida gralulometria das partículas que
favorecem a compactação - aumentando as forças de coesão quando adicionada água, as
borras necessitam de ser misturadas em quantidades controladas com elementos
denominados de estruturantes, ricos em carbono (resíduos lenho-celulósicos) de que são
exemplo a biomassa florestal (aparas de pinheiro, oliveira ou eucalipto, palha, ou papel
e cartão). Estes elementos estruturantes possuem como objectivo a optimização das
características físicas do substrato uma vez que aumentam a sua porosidade e
arejamento, facilitando as trocas gasosas entre a pele da minhoca e o meio bem desta,
como a sua movimentação.
   Para além desse aspecto, a mistura com esta tipologia de materiais tem como
objectivo a inviabilização das perdas de azoto na forma amoniacal por volatilização e
lixiviação, sendo este assim utilizado para síntese celular das comunidades microbianas
ao passo que o carbono existente no elemento estruturante é utilizado como fonte de
energia. Com este processo é possível ainda a correcção do valor do pH para valores
mais próximos da neutralidade.
   O Quadro 1 faz referência a uma metodologia para estabilização utilizando-se
canteiros de vermicompostagem de volume fixo e três elementos estruturantes distintos.
De notar que a quantidade de borra de café se mantém fixa, variando-se o valor em
estruturante.


    Quadro 1 – Metodologia para estabilização da borra de café em quantidades pré-estabelecidas.

                               Quantidade
                                                Quantidade elemento
          Modalidade            borra de                                     Relação C/N
                                                  estruturante (kg)
                                café (kg)
        Borra de café +
                                   2 736                 817,7-                    25
          papel e cartão
        Borra de café +
                                   2 736                  861,3                    25
        biomassa florestal
        Borra de café +
                                   3 840                 1 127-                    25
              palha

Onde:
Borra de café - % de humidade: 70 %; % de carbono: 48%; % de azoto: 2,6%;
Papel e cartão - % de humidade: 5,2 %; % de carbono: 43%; % de azoto: 0,3%;
Biomassa florestal - % de humidade: 10 %; % de carbono: 43%; % de azoto: 0,3%;
Palha - % de humidade: 5%; % de carbono: 53%; % de azoto: 0,5%.


2
Deste modo, é de todo o interesse a valorização desta fileira através de um
tratamento sujeito a um agente biológico e sua consequente transformação em
vermicomposto, um substrato orgânico de elevado interesse agronómico.




                                                                            3

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Borras de café - características e sua valorização orgânica por vermicompostagem

  • 1. BORRAS DE CAFÉ – CARACTERÍSTICAS E SUA VALORIZAÇÃO ORGÂNICA POR VERMICOMPOSTAGEM Nelson Miguel Guerreiro Lourenço1 1 BSc em Engenharia do Ambiente (ULHT), MSc em Gestão Sustentável dos Espaços Rurais (UALG/FCT), Formador (n.º 523366/2010). Futuramb – Gestão Sustentável de Recursos – DCEA / CPIV, Messines de Cima, caixa- postal 5-S, 8375-047 S. B. Messines, Portugal. Palavras-chave: Borra de café, resíduo orgânico, vermicompostagem. As borras de café são um fluxo de resíduos orgânicos proveniente da fracção dos resíduos sólidos urbanos (RSU). Normalmente, esta tipologia de resíduos é depositada no lixo doméstico comum (sem recuperação como matéria-prima) ou utilizada como combustível em caldeiras, em geral na própria indústria, apresentando neste último caso, diversos problemas a nível da emissão de poeiras e partículas, com implicação na qualidade atmosférica. Infelizmente, todas estas metodologias não apresentam sustentabilidade não sendo igualmente económicas, visto que, a matéria orgânica presente na borra, necessita de ser estabilizada previamente através de processos controlados de decomposição, de que é exemplo a vermicompostagem. As borras de café convencionais (Fig. 1) utilizadas para consumo doméstico e industrial possuem elevado teor em azoto. A quantidade de azoto pode efectivamente apresentar valores superiores a 10 % (p/p). Contrariamente, a relação C/N apresenta baixo valor sendo uma das suas principais características (aproximadamente 11/1). Fig. 1 – Borras de café. 1
  • 2. Em termos de decomposição controlada, as borras de café, quando adicionadas a uma unidade de vermicompostagem, são inicialmente decompostas por bactérias e fungos promovem a sua estabilização inicial e quebra dos vários componentes estruturais. Posteriormente, e através de acção simbiótica com esta fauna microbiana, as minhocas são também capazes de utilizar as borras de café como fonte de alimento, quando adicionadas na unidade. Diversos estudos apontam para que o pH da borra se apresente ácido embora tal não se verifique experimentalmente. Em dois estudos efectuados em tratamento de borras de café moído, registaram-se valores de pH entre 4,6 e 5, tendo-se obtido em ensaios paralelos valores entre 7,7 e 8,4. Igualmente, diversas pesquisas efectuadas indicaram um aumento do pH a nível do solo após aplicações sucessivas de borras de café num período entre 14 a 21 dias após a sua adição, diminuindo gradualmente após esta data. Devido ao seu elevado teor em azoto e reduzida gralulometria das partículas que favorecem a compactação - aumentando as forças de coesão quando adicionada água, as borras necessitam de ser misturadas em quantidades controladas com elementos denominados de estruturantes, ricos em carbono (resíduos lenho-celulósicos) de que são exemplo a biomassa florestal (aparas de pinheiro, oliveira ou eucalipto, palha, ou papel e cartão). Estes elementos estruturantes possuem como objectivo a optimização das características físicas do substrato uma vez que aumentam a sua porosidade e arejamento, facilitando as trocas gasosas entre a pele da minhoca e o meio bem desta, como a sua movimentação. Para além desse aspecto, a mistura com esta tipologia de materiais tem como objectivo a inviabilização das perdas de azoto na forma amoniacal por volatilização e lixiviação, sendo este assim utilizado para síntese celular das comunidades microbianas ao passo que o carbono existente no elemento estruturante é utilizado como fonte de energia. Com este processo é possível ainda a correcção do valor do pH para valores mais próximos da neutralidade. O Quadro 1 faz referência a uma metodologia para estabilização utilizando-se canteiros de vermicompostagem de volume fixo e três elementos estruturantes distintos. De notar que a quantidade de borra de café se mantém fixa, variando-se o valor em estruturante. Quadro 1 – Metodologia para estabilização da borra de café em quantidades pré-estabelecidas. Quantidade Quantidade elemento Modalidade borra de Relação C/N estruturante (kg) café (kg) Borra de café + 2 736 817,7- 25 papel e cartão Borra de café + 2 736 861,3 25 biomassa florestal Borra de café + 3 840 1 127- 25 palha Onde: Borra de café - % de humidade: 70 %; % de carbono: 48%; % de azoto: 2,6%; Papel e cartão - % de humidade: 5,2 %; % de carbono: 43%; % de azoto: 0,3%; Biomassa florestal - % de humidade: 10 %; % de carbono: 43%; % de azoto: 0,3%; Palha - % de humidade: 5%; % de carbono: 53%; % de azoto: 0,5%. 2
  • 3. Deste modo, é de todo o interesse a valorização desta fileira através de um tratamento sujeito a um agente biológico e sua consequente transformação em vermicomposto, um substrato orgânico de elevado interesse agronómico. 3