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Abril 2010 Número 2
     Janeiro 2010 Número 0Ano 1
                            Edição1




                 ECO da Voz di Paz
cu

           
                                                       Boletim Informativo
                                                        Boletim Informativo




                                      MULHER E PAZ
                                Um tributo à Mulher Guineense




                                                                 Editorial         Pág.2

                                                                 O que são os
                                                                 ERD?              Pág.2
         Artigos de interesse especial:                          Imagens do        Pág.7
                                                                 Quotidiano
         • ACTIVIDADES VOZ DI PAZ….………..…………….p.3                Feminino
          
                                                                 Homenagem a       Pág.11
         • AS MULHERES DA MINHA TERRA…………......p.5               Figuras de Paz:
                                                                 Djariatu Baldé
                                                                                   Pág.12
         • MULHERES PELA PAZ ‐ ENTREVISTAS.………..p.8              Eco da Voz di
                                                                 paz I DI NÓS
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                                                                 ECO da Voz di Paz     Boletim Informativo


                                                  O que são os ERD - Espaços
               EDITORIAL
        «Mulher é Paz»                            Regionais de Diálogo? Fafali Koudawo
Certas associações de palavras são, à
primeira vista, tão evidentes que soam           O conceito Espaço Regional de
como um pleonasmo. Mulher e a paz                Diálogo (ERD) foi desenvolvido      O ERD é uma estrutura
entram nesta categoria. Associar as              como     uma    inovação   nos      regional, criada no âmbito
duas palavras levanta o eco de uma               processos sociais implemen-         da Voz di Paz.
repetição. O efeito é similar para               tados depois da guerra de 7 de      - É um elo de ligação entre
mulher e vida. Pois, a mulher dá a               Junho (1998). É uma das             a estrutura central da Voz
vida.                                            maiores inovações no domínio
No entanto, nem sempre foi assim na                                                  di Paz e as populações;
                                                 da consolidação da paz na           - Funciona como uma
mentalidade popular, nem na história
                                                 Guiné-Bissau. O seu surgimento      estrutura flexível, gozando
da humanidade. Em muitas culturas a
mulher aparece como um pomo de
                                                 é fruto de uma reflexão sobre       de uma larga capacidade de
discórdia. Assim, na mitologia grega a           as vias e os meios para melhor      iniciativa;
bela Helena é a causa da guerra entre            enraizar a paz, tornando-a          - É constituído por um
Gregos e Troianos. Nas lendas da                 propriedade das populações na       núcleo de personalidades
Europa do norte, as valkyries,                   base.                               criteriosamente escolhidas,
mulheres em cavalos com asas,                                                        em      função      da  sua
decidem quem vai morrer no campo da              A emergência deste conceito         capacidade de servir de
batalha.     Quanto     às     fabulosas         leva em conta a especificidade
Amazonas, cujo território a lenda                                                    missionários abnegados da
                                                 da sociedade guineense e a          paz,      encarregues    de
coloca nos confins do Mar Negro, elas
                                                 necessidade     de     promover     alargar, sem restrição nem
teriam edificado uma sociedade
baseada na arte da guerra feita por
                                                 espaços de intercâmbio regular,     exclusão, o espaço de
mulheres que iam até privar-se de uma            susceptíveis de contribuir para     diálogo a todas as esferas
mama direita, cortada para melhor                diminuir as tensões recorrentes     sociais e geográficas da
permitir manejar o arco, e excluíam o            cuja     acumulação      origina    região e do país;
casamento e mesmo os homens válidos              frequentes surtos de violência.     - É o motor da apropriação
da sua companhia.                                Trata-se, portanto, de espaços      das       iniciativas    de
Mas as lendas e a história estão                 de construção da paz na base        consolidação da paz no
também repletas de figuras femininas             através do diálogo inclusivo, da
evocadoras de sacrifícios para a paz.                                                âmbito da Voz di Paz e obra
                                                 troca de experiências, do           para o enraizamento local
Para escolher, desta vez um exemplo,             convívio na diversidade, da
em África, apraz apontar a figura da                                                 de um processo inclusivo de
Abla Poku, princesa Baulé* que, por
                                                 coligação das forças positivas      diálogo nacional.
amor ao seu povo que fugia à guerra,             locais a favor de objectivos
foi capaz de sacrificar o seu filho para         pacíficos.
abrir através do tumultuoso rio Comoé
o caminho da salvação e paz noutra               Assim, o espaço regional de         Os ERD são constituídos por
margem.                                          diálogo é o instrumento de uma      individualidades      criteriosa-
Esta capacidade de dar a vida e                  pedagogia da paz fundada na         mente      seleccionadas      em
sacrificar-se pela paz aparece como              estimulação de uma consciência      função da sua capacidade de
um traço singular da mulher. Ela                 da necessária “pacificação” das     ser agentes e catalizadores de
confirma que apesar de lendas                                                        dinâmicas        locais        de
                                                 relações       locais       como
belicistas pregadas pelos homens às                                                  enraizamento da paz.
mulheres, a expressão mulher e paz é
                                                 antecâmara      do    desenvolvi-
mesmo um pleonasmo. Então, porque                mento económico e social. Para
                                                 o efeito, o espaço regional de      As funções dos ERD são
não dizer simplesmente, mulher é paz?
                                                 dialogo é chamado a valorizar,      definidas por um quadro de
* Baulé, etnia do grupo Akan no sul da Côte      desenvolver     e   a    difundir   referência     consensualmente
d’Ivoire. O seu nome faria referência ao
                                                 ferramentas e abordagens de         elaborado e adoptado. O
sacrifício do filho da princesa Abla Poku que
teria dito: “Bauli” isto é “Morreu a criança”.   transformação de conflitos.         quadro de referência clarifica
                                                                                     a natureza do ERD, define o
             Fafali Koudawo                      Desde 2007, a Voz di Paz criou      perfil dos seus membros e
                                                 um total de 10 ERD, uma ou          detalha as funções específicas
           Director de Pesquisa                  duas por região administrativa      articuláveis com as tarefas
               «Voz di Paz»                                                          gerais das estruturas centrais
                                                 em função das especificidades
                                                 geográficas e sociais.              da Voz di Paz.
ECO da Voz di Paz      Boletim Informativo
                                                                                                       Página 3



   Actividades Voz di Paz – Abril 2010                                                     
O mês de Abril foi                                                              - A 13 de Abril, o tema foi: “Má
colocado sob o signo da                                                         governação        e     conflitos:
formação e reforço de                                                           desequilíbrios do poder que
                                                                                geram       conflitos”;     Aqui,
parcerias.                                                                      analisou-se aspectos tais como o
                                                                                difícil equilíbrio a nível das
- No início do mês, a Voz di Paz                                                instituições; a fraca cultura
apoiou a concretização de uma                                                   institucional; a tendência à
iniciativa salutar visando mudar                                                personalização do poder; o
as mentalidades no Sector de                 João XXIII em Bissau, a Voz di     fraco respeito pelos princípios
Nhacra, que tem uma imagem                   Paz apoiou uma formação em         de limitação do poder inerentes
execrável como ninho de roubos               matéria de gestão de conflitos,    à democracia e a fraca tradição
e violências. A iniciativa foi               organizada    pela     Comissão    de descentralização;
baptizada como “Voz di Paz luta              interdiocesana justiça, paz,
contra o roubo, violência e                  direitos humanos e desenvol-       - A 20 de Abril o tema foi “Más
delinquência juvenil».                       vimento.     Fafali     Koudawo    políticas e conflitos: enfraque-
Os membros do Espaço regional                orientou um atelier interactivo    cimento     das     Instituições”,
de Dialogo de Oio estiveram                  sobre as causas de conflitos, os   destacando o enraizamento do
nesta promoção da cultura de                 tipos de conflitos, e os modos     poder pessoal, a instabilidade
paz que contou com uma                       de resolução de conflitos.         política e institucional, a
palestra     do    Prof.    Fafali                                              instrumentalização das insti-
Koudawo intitulada “Práticas                 - A parceria com a Assembleia      tuições para fins políticos, entre
nefastas, conflitos e paz”.                  Nacional Popular na organização    outros.
Um dos momentos altos desta                  da     Conferência     nacional:
iniciativa foi a luta tradicional            “Caminhos da reconciliação, paz    - A 27 de Abril foi produzida
que congregou os melhores                    e desenvolvimento” traduziu-se     uma emissão sobre o tema da
lutadores balantas da região. O              ao    longo   do    mês     pela   corrupção,   sua    definição,
resultado saudado por todos foi              participação nos preparativos      formas, tipos e agentes de
a ausência total de violência ao             deste que será um grande           corrupção como factores de
longo de manifestações e                     acontecimento nacional.            conflitos.
competições, que em termos
gerais têm sido nos últimos anos              Emissões Radiofónicas do mês      Actividades   com      espaços
lugares de ajustes de contas                 de Abril de 2010                   regionais de diálogo – Abril de
entre     grupos     de    jovens                                               2010
temerários        adeptos      da            Durante o mês de Abril de 2010,
violência.                                   a Voz di Paz, em parceria com a    Durante o mês de Abril, a
                                             Rádio Sol Mansi, produziu          equipa de Voz di Paz esteve nas
- A Voz di Paz apoiou também                 programas radiofónicos sobre a     regiões de Bafatá e Gabú, para
uma     iniciativa  do   Espaço              má governação e os conflitos.      encontros de trabalho com os
Regional de Diálogo da região                Assim:                             espaços regionais de diálogo,
de Cacheu em parceria com a                  - A 06 de Abril, o tema da         com os seguintes objectivos:
associação da juventude local.               emissão foi: “Más práticas         - Apresentar informações sobre
Intensas actividades culturais               políticas: fraudes eleitorais e    as mutações institucionais na
tiveram lugar nos dias 16, 17 e              conflitos em África”; A emissão    Voz di Paz; a nova estrutura e
18 de Abril na cidade de                     salientou a falta de confiança     seu funcionamento, os membros
Canchungo onde entre outros                  nos princípios democráticos, o     etc.
préstimos da Voz di Paz,                     apego ao poder, a instrumen-       - Assistir à programação das
Manuela M. Mendes deu uma                    talização do poder, e as           actividades     dos     espaços
palestra sobre os “Fundamentos               modalidades de fraude, tanto       regionais de diálogo para o
da cidadania e paz”.                         no processo eleitoral como na      restante ano de 2010.
                                             proclamação dos resultados;        Os ERD de leste tiveram os
- No dia 24 de Abril, no liceu                                                  seguintes programas:
Página 4                                             ECO da Voz di Paz        Boletim Informativo




  Programa do ERD de Gabú
 1.     Realização de um torneio
 transfronteiriço de Paz em Pirada
 previsto para o mês de Maio de
 2010;

 2.    Encontro de luta livre em
 Setembro de 2010 em Sonaco;

 3.     Provas    de    ciclismo   e
 atletismo , previstas para o mês de
 Novembro 2010 em Pitche;
                                               Sede da ONG Mers Bodjer e do ERD de Biombo
 4.     Realização de um programa
 radiofónico intitulado “Djumbai de
 Paz”, em associação com duas
 rádios comunitários na cidade de
 Gabú no dia 24 de Setembro de
 2010.




                                       Membro ERD de Mansoa
                                         Co-organizadora do
                                       Kussundé sem violência,
                                             Março 2010

Programa do ERD de Bafatá
1.     Realização de um encontro
desportivo transfronteiriço em
Cambadju com a participação de
Salquenhe;      o      tema     de
sensibilização serão as crianças
talibés e a fronteira, no dia 1 de
Junho de 2010.

2.     Encontro     de    danças
tradicionais e canções de paz de
diferentes grupos étnicos em
Bambadinca no dia 13 de
Novembro de 2010.

3.     Realização de actividades
desportivas de confraternização
entre agricultores, criadores de
gado, pescadores e pais e
encarregados de educação em
Bafatá no dia 11 de Dezembro de
2010.
                                                         Sessão de trabalho do ERD da Região de Cacheu
ECO da Voz di Paz             Boletim Informativo
                                                                                                             Página 5



                                          «AS MULHERES DA MINHA TERRA»*
                                                                             Joacine Katar Moreira

                                                 Pretende-se neste álbum de          pelas dificuldades que têm
                                                 Histórias de Vida, a apresentação   impedido o regresso dos filhos à
                                                 individual      de       mulheres   Guiné. É ela também, a
                                                 guineenses, numa procura de         provocadora      de     nostalgia
                                                 conhecimento e valorização das      sofrida,   da    exaltação    do
                                                 diversas      experiências      e   passado quando comparado com
                                                 percursos,    entendidos    como    o presente...e vice-versa.
                                                 fontes de aprendizagem e de
                 Pano Preto                      inspiração.                         O segundo pano, pano di pinti,
                                                                                     que embora não seja tradição
                                                 A singularidade de cada mulher,     de todas as culturas guineenses,
                                                 permite-nos chegar ao colectivo,    pode ser simbolicamente visto
                                                 fazendo uso das micro-histórias     como o pano Real da Guiné,
                                                 para a construção de Histórias de   porque o pano di pinti é o pano
                                                 Vida de Mulheres da Guiné.          do bambaram, onde as mães
                                                                                     trazem os filhos às costas,
                                                 É com prazer que escrevo este       sendo assim o pano da união e
                                                 Prefácio, sendo eu uma dessas       da maternidade.
                 Pano de Pinti
                                                 mulheres        e        sendo,
                                                 principalmente, o resultado das     Com padrões normalmente de
                                                 suas vidas.                         cor neutra (os padrões e as
                                                                                     cores dependem do tipo de
                                                 Como        muitas      mulheres    cerimónias), este pano é
                                                 entrevistadas, a minha vida         marcado pelo simbolismo, pela
                                                 contém episódios de migração,       força e pela tradição. Força da
                                                 da separação e do reencontro.       Mulher Grande e esperança da
                                                 Reencontro com os meus e            Padida. Este pano é o pano do
                                                 reencontro com a Guiné. Com         regresso à Guiné, pois aqui se
                                                 base nas experiências e vivências   enquadram      as    cerimónias
                  Pano Legos                     destas mulheres, de forma           tradicionais que levam muitas
     Fotografias IMVF (Sandra Oliveira)          simbólica, podemos dizer que as     migrantes a regressar ao país
                                                 mulheres guineenses vivem com       natal, para não ferir os
                                                 pelo menos três panos ao longo      antepassados e para proteger e
                                                 das suas vidas:                     iluminar o caminho dos seus
Sou filha de Elsa Katar Madi e de                                                    descendentes.
Quinzinho Moreira. Neta de Nonó                          - O pano preto, o pano
Barbosa, enfermeira, e da                        di pinti e o legós.                 Por fim o pano legós, apelador
falecida Queta Vieira. Queta de                                                      dos sentidos, alegre e por vezes
Aliu Katar Madi. Nonó, Nonó de                   O pano preto, como cantou Zé        brejeiro. O legós representa o
Nána, Nána de Farim, que vivia                   Carlos Schwarz (mindjeris di        quotidiano e o social. Ele é
em Belém.                                        pano preto), é o pano do pranto     prazer e comunicação, vaidade
                                                 e da dor, dor de corpo e dor da     e feminilidade. O legós é festa
Assim se apresentam as mulheres                  alma, derivado de partidas,         e gargalhada. É o pano com o
da Guiné, país em que, mais                      separações, do abandono pelos       qual comunicamos na diáspora,
significativo do que o «quem                     companheiros e da despedida e       que vestimos quando nos
somos» é o «de quem somos»,                      ausência dos familiares.            queremos sentir próximos di
pois a identificação colectiva é                                                     tera.
mais importante que a individual.                É sofrimento causado pelo           O     deambular,     os    corpos
Isto não retira a individualidade a              desespero, pela carência de bens    apertados,       coloridos      e
cada um, apenas acrescenta                       e a procura quotidiana de           adornados pelo legós são a
história     à    sua    existência              alternativas. Esta dor é também     chama ardente da sedução e da
enquanto tal.                                    causada pela instabilidade e        africanidade.
Página 6                                                         ECO da Voz di Paz          Boletim Informativo



Os três panos em conjunto        assim como é o mosaico étnico
simbolizam a vida e as suas      da    Guiné-Bissau.     Mulheres
diferentes fases. Assim como     papéis, manjacas, fulas, bijagós,
as fases da vida podem-se        mancanhas, entre outras, que                    “De longe
fundir e confundir, os panos     são sobretudo guineenses – pois                  entre as
também podem usados juntos       a miscigenação tocou a todas - e                 sete colinas
e de várias maneiras.            acima de tudo mulheres.                         vejo-te
                                                                                 mulher-grande
                                                                                 sofredora
A capacidade de substituição     Joacine Katar Moreira
                                                                                 e meiga
dos panos e a sua utilização     Consultora do Projecto «Rostos
                                                                                 Imagino-te
«psicológica» em determinadas    Invisíveis» do IMVF e Investigadora
                                                                                 suave
situações pode significar a                                                      como quem
                                 *Prefácio do Livro Storias di Mindjeris,
garantia de sobrevivência para   edição do IMVF e de Joacine Katar
                                                                                 diz amor”
muitas mulheres.                 Moreira, realizado no âmbito do                 (Tony Tcheka,
                                 Projecto “Rostos Invisíveis”, uma               2008, Guiné)
As mulheres da Guiné são         iniciativa IMVF, NEP/CES e IPAD.
sobreviventes natas do jogo
                                                                                 Maria Leonor Barbosa (Nonó), enfermeira
da vida. São «engenheiras»                                                         In Storias de Mindjeris/ Fotografia de Neni Glock
por natureza, aquelas que se
formaram na procura de
soluções quotidianas para os
desafios dos tempos.                                                                             “Só Mulher,
Mas também podem ser                                                                             tão Mulher”
ameaçadoras, sabotadoras e
vingativas. Mulheres de sangue                                                         Mulher da Guiné
quente e língua de faca. Que
tudo fazem para proteger os                                                            Sorriso suspicaz
seus, como mães leoas,
perante o inimigo.                 Histórias de Vida de Mulheres da                    Paz e sossego em
                                    Guiné-Bissau. Autoria da ONGD
A migração poucas vezes           Portuguesa IMVF e de Joacine Katar                   corpo fêmea
                                                Moreira
trouxe     paz     à   mulher
guineense. Normalmente o                                                               Na hora do Kufentu
destino das migrantes é                       
apimentado por mais desafios,
                                                                                       No rufar dos macaréus
quer        pessoais,    quer
                                     Projecto «Rostos Invisíveis»                      Na kasabi
profissionais. Mas aquilo que
mais pesa na migração, para as    Coordenado pelo IMVF (Ana Isabel
                                  Castanheira), este projecto visou
                                                                                       Libertas amor
nossas mulheres, é a educação
e acompanhamento dos filhos       contribuir para uma melhor integração da
                                  abordagem de género nas políticas de                 E orquestras
noutros contextos que não o
                                  cooperação, enquanto catalisador do
seu original. Num espaço          desenvolvimento e erradicação da                     Sinfónicas risadas
aonde elas também se tentam       pobreza O objectivo específico foi
adaptar.                          sensibilizar e informar, numa perspectiva            - És mulher crescendo
                                  de género, para os múltiplos papéis,
Porquê um álbum de histórias      mecanismos e causas associadas às                    De mansinho
de     vida    de     mulheres    práticas violentas no Brasil e Guiné-
guineenses?     Porque     são    Bissau.                                              Só mulher
histórias de valência, de         Pretendeu-se com o álbum Storias di
sobrevivência e de esperança.
                                  Mindjeris prestar uma homenagem à                    Tão mulher!
                                  Mulher      Guineense,        através     do
                                  reconhecimento e divulgação das suas
De      guineenses     porque     histórias de vida: as dificuldades sentidas;     Tony Tcheka
procuramos     mulheres    de     os desejos; o que as preocupa e o que as         in Guiné, Sabura que dói, 2008
cultura e experiência diversa,    motiva.
ECO da Voz di Paz      B l ti   I f   ti
                                                                                                           Página 7


   IMAGENS DO QUOTIDIANO FEMININO




     Buscando a água – bem essencial do quotidiano
                                                                 Carregando água para as necessidades do dia




    Cuidando dos filhos e outras crianças
                                                        Gerindo e cuidando da sua casa e dinamizando a
                                                                         sua Tabanka




         Cozinhando para alimentar a sua gente, e
                         não só…
                                                                   Produção e comércio: produtoras de óleo de
                                                                                    palma




          Trabalhando para a Paz: Mulher
         arbitrando a luta no Kussundé               Participando activamente na vida social e cultural:
                                                                Djidia (cantora tradicional)
Página 8
                                                                       ECO da Voz di Paz      Boletim Informativo
                                                                                                                    Página 11


     MULHERES PELA PAZ- Entrevistas
As Vozes que se seguem são vozes femininas, de gente determinada, a quem o              ter a família que eu tive, que me
facto de nascer mulher africana, neste caso guineense, não comprometeu a                incutiu os valores do trabalho. Para
formação, o sucesso e a liberdade, num continente muito marcado pela                    mim tudo o que nós somos é fruto do
desigualdade. Filomena Mascarenhas Tipote, Manuela Mendes e Nazaré Baticam
                                                                                        nosso esforço duma maneira ou de
responderam por escrito a 8 questões sobre a importância e a responsabilidade
de se ser Mulher e da contribuição das mulheres para a Paz.                             outra e que na vida nada se dá de
                                                                                        graça e de bandeja.

                                                                                        4 Eu gostaria de desempenhar o
               QUESTÕES:                                                                papel de um cidadão que vai dando
 1 - Como evoluiu a situação da mulher
                                                                                        seu contributo dia após dia para que
 na Guiné, da independência aos nossos                                                  este país mude e avance.
 dias?
                                                                                        5 Quando estou em casa é dela que
  2 - Quais são os desafios e as exigências
 que se colocam à mulher guineense                                                      eu ocupo e o mesmo me acontece
 hoje?                                                                                  quando estou no trabalho. É verdade
                                                                                        que a actividade profissional acaba
 3 - Atendendo ao seu percurso, como se           Investigadora da Voz di Paz, Bissau
                                                                                        roubando mais tempo sobretudo
 caracteriza enquanto mulher?
                                                                                        quando viajo para o interior do país.
                                                  Filomena M. Tipote
  4 - Que papel gostaria de desempenhar
 na sociedade?                                «Sou sortuda e orgulhosa, por             6 Não gostaria de ser pessimista,
 5 - Como faz para conciliar a vida           ter a família que eu tive, que            mas o meu raciocínio e o que vejo
                                                                                        dia-a-dia me leva a uma triste
 profissional com a vida familiar?               me incutiu os valores do               perspectiva, por uma simples razão:
 6 - Como perspectiva o lugar da mulher                 trabalho»                       hoje existe uma tendência de
 na sociedade guineense nas próximas                                                    conseguir tudo sem qualquer esforço
 décadas?                                     alianças duvidosas. Todos esses           e somos nós mesmas a julgarmos de
                                              factores acabam por limitar o             legítimo este facto que o homem
 7 - Gostaria de fazer tributo a alguma
 mulher? Por que motivos?
                                              acesso à participação política das        tem o dever de nos dar. Em
                                              mulheres e em consequência a              consequência, esta maneira de ver e
 8 - Que contributo especial a mulher         lugares de decisão.                       levar a vida leva-nos a uma maior
 pode dar para a paz na Guiné-Bissau?         Já no aspecto social existe uma           dependência dos homens e quando é
                                              inversão de valores na medida que         assim, nos roubam a nossa dignidade
                                              assistimos cada vez ao aumento de         e até a nossa própria alma.
1 A situação da mulher na Guiné
                                              número de mulheres como chefes
não tem sido das melhores, à
                                              de família.
semelhança da própria situação do                                                       7 Faço tributo à minha própria mãe,
país e das pessoas que nela se                                                          não por ela ser minha mãe, mas sim,
encontram. Após a Independência,
                                              2 Os desafios são muitos e a todos        por que é uma mulher que eu
                                              os níveis. Cada vez mais assistimos       conheci sempre a trabalhar e nunca
dado a um discurso de emancipação
                                              a uma maior concorrência em tudo,         parou de trabalhar. Não teve
e de igualdade do partido único
                                              pelo que nós mulheres, dado o             instruções académicas mas foi
havia mulheres nas esferas de
                                              nível em que estamos, isto é, em          sempre uma mulher independente e
decisão,      nomeadamente      no
                                              tudo na última posição, se a um           com boas intenções para com os
parlamento       e      postos  de
                                              homem é exigido salto em 2                outros.
administração      local.   Com  a
                                              degraus para a mulher deverão ser
abertura política e o processo
                                              4 degraus de forma a satisfazer as
democrático de alternância de                                                           8 O contributo especial da mulher é,
                                              exigências e a superar os precon-
poder, onde perder tem muitas                                                           em primeiro lugar de educar os
                                              ceitos que existem em relação à
implicações como é a percepção                                                          filhos com os valores de paz, dizer a
                                              mesma.      Isto  só  é    possível
dos partidos, o número de mulheres                                                      verdade, não pegar nos pertences
                                              apostando numa educação caseira
na esfera de decisão tende a                                                            dos outros e o valor ao trabalho.
                                              que não inferiorize a mulher, mas
diminuir cada vez mais, tendo em                                                        Em segundo ser mais interventiva na
                                              que lhe dá auto-estima e uma
conta os aspectos de conquista de                                                       busca duma paz duradoura na Guiné-
                                              formação sólida, não de ir buscar
poder que requerem o uso de tudo                                                        -Bissau usando de suas redes quer
                                              um papel mais sim o saber.
aquilo que moralmente não seja                                                          formais como informais, sobretudo
correcto como insultos, calúnias,                                                       rejeitar a atitude de fuga”Nha boca
dinheiros ilícitos para campanha,             3 A primeira coisa que eu digo é          ka sta la”.
                                              que sou sortuda e orgulhosa, por
ECO da Voz di Paz        Boletim Informativo
                                                                                                             Página 9

    Manuela Mendes                       «As mulheres na Guiné actualmente são
                                             a força, os pilares das famílias»
                                             exemplar da cidadania. A cidadania      manhã até à tarde para poder
                                             na Guiné está em crise. Só um           conciliar o meu trabalho com as
                                             trabalho árduo da mulher pode           leccionações que levo a cabo na
                                             ajudar a restaurar esse valor. A Voz    formação,    quiçá,  dos   meus
                                             di Paz está a trabalhar nisso           substitutos.
                                             também. Os mais novos já não
                                             sabem quais são as boas maneiras        6 No pináculo efectivo da direcção
                                             de uma boa convivência, a               deste país. Ou seja no lugar
   Investigadora da Voz di Paz, Bissau
                                             delinquência juvenil está cada vez      cimeiro das decisões, pois até lá
1 A situação da mulher na Guiné na           mais saliente e preocupante, em         os homens já estarão conscien-
verdade evoluiu bastante. Da                 fim, há uma degradação galopante        cializados de que devem ceder,
independência aos nossos dias                dos valores sociais. Por isso, devem    não entrar em guerra com as
muita coisa aconteceu. A mulher              merecer a atenção de todos,             mulheres por causa do poder e de
conseguiu a sua emancipação,                 jogando a mulher um papel               outros lugares de decisão que não
embora parcial. Muitas ainda                 preponderante.                          implicam     necessariamente     o
permanecem        em     casa    sem         A par disto está o contínuo             poder. Não estou a dizer com isso
trabalhar porque os maridos não              processo da materialização do           que dêem lugar às mulheres, que
querem,      não      gostam      que        princípio da igualdade. Deve-se         lhes façam favor, que sintam
trabalhem!         Muitas       ainda        investir com qualidade e critérios      pena, não. Elas têm que lutar,
choramingam nos cantos, porque os            tudo o que faz.                         conquistar com muito labor esse
maridos decidem mandar os filhos                                                     espaço. O que está a acontecer na
para a mendigação no Senegal ou              3 Sou activa e “quase” realizada.       realidade guineense é que as
noutras localidades fora do país             Digo quase realizada porque             mulheres é que são verdadeiras
com o intuito de aprenderem o                enquanto mãe (com 4 filhos), estou      donas de casa; sobre elas está
Corão, sem serem tidas nem                   satisfeita. Na área laboral, não        todo o peso da família, são elas
achadas. Mas, algumas já ousam               tenho nada a queixar. Tenho             que se angustiam mais com todos
contrariar trabalhando, rejeitando           contribuído para o meu país na          os dissabores que este país traz,
os casamentos precoces, etc.                 justa medida em que o faria um          em todos os níveis. Elas é que
As mulheres filiadas em algumas              genuíno filho da pátria. Ainda          patenteiam       atitudes/decisões
formações políticas já não se                penso dar mais.                         sensatas.
contentam      com      os    lugares
suplentes nas listas de candidaturas         4 Gostaria de desempenhar um            7 Quero prestar tributo não a uma
para o Parlamento. As mulheres na            papel de       apaziguadora, como       mas, a muitas que se contentam
Guiné actualmente são a força, os            tenho tentado. Um papel activo          com o pouco do resto que os
pilares das famílias; são elas que,          que sirva aos guineenses em geral e     maridos lhes trazem. Gostaria de
com a crise mundial presente,                à minha família em particular.          apelá-las para se erguerem. Ficar
suportam todas as despesas do lar,                                                   em casa sem trabalhar porque o
a maioria com as suas actividades            5 Sacrifico um pouco de cada parte      marido não quer ou não gosta, não
informais. Contudo, é bom dizer              da vida familiar e profissional. Mas,   é solução e nem deve constituir
que muita coisa ainda falta por              falando sinceramente, o meu             um modo de vida cómodo.
fazer. A emancipação total é um              trabalho acaba por ganhar mais em
processo assim como a observância            detrimento da vida minha familiar,      8 A mulher deve reforçar a
de todos os princípios que                   pois passo todo o dia no trabalho,      educação dos filhos. Uma vez que
erradicam a discriminação e o                chego à casa muito tarde. Saio de       ainda não detém as rédeas do
machismo                                     lá muito cedo e só volto às 19H00.      poder, deve organizar-se no
                                             Mas nos momentos em que                 sentido de fazer os companheiros
2 Hoje a mulher guineense                    permaneço em casa aproveito o           desenvolverem      acções      que
enfrenta grandes dificuldades. As            máximo para compensar, sobretudo        perenizem a paz; que convidem o
dificuldades são de variáveis níveis.        para com os mais pequenos, dando        investimento estrangeiro, por fim,
A nível económico, laboral, social,          à família os miminhos que só uma        que direccionem o país para o
etc. Enquanto profissional, mãe,             mãe pode dar.                           desenvolvimento. Não esqueçamos
esposa e individualidade activa em           Apraz-me fazer este sacrifício          que o desenvolvimento condiciona
todas as questões actuais, deve se           porque estou convicta que estou a       a paz. Devem apoiar no máximo os
empenhar ainda mais para educar              contribuir para um país melhor. Por     trabalhos que a Voz di Paz está a
os mais novos e a todos os que               isso não hesito em abandonar o          desenvolver no país e além
precisam     para   um     exercício         meu filhote de apenas 4 meses de        fronteira.
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                                                               ECO da Voz di Paz     Boletim Informativo

  Nazaré Baticam              «A mulher como mãe, poderá orientar os seus
                                    filhos para a paz na Guiné-Bissau»

1 Acho que a situação da mulher na        sentido na vida; uma mulher que não
Guiné-Bissau da independência aos         dá ouvidos, quando quer fazer uma
nossos dias evoluiu de uma forma          boa iniciativa; sou uma mulher com
contínua e positiva. Logo depois da       iniciativas positivas, que luta pelos
independência, não se falava da           direitos das mulheres em geral e em
participação de mulher na política,       particular das mulheres guineenses;
ou seja a mulher guineense não            uma mulher cheia de força de
participava    na    política,  não       vontade, que gosta de sacrificar-se
desempenhava um papel importante          para conquistar tudo, mas também
no estado. Para quem é guineense          humilde, carinhosa, que dá força a
sabe que a discriminação da mulher        quem precisa, que ama o próximo,              Presidente da Associação de
                                                                                        Mulheres Guineenses, Lisboa
começa no próprio lar familiar.           que tem sempre vontade de ajudar os
Porque a mulher não podia trabalhar       outros,      social,    comunicativa,
                                                                                 como estar dentro da sua própria
naquela altura, tinha obrigação de        simpática, que gosta de aprender com
                                                                                 casa, seja nas piores condições, na
ficar em casa para desempenhar            os outros e que gosta de todos.
                                                                                 pobreza ou na riqueza, na tristeza
todas as tarefas domésticas, e casos                                             ou na alegria é sempre a sua casa,
de mulheres que não tinham sequer         4 O que gostaria de desempenhar na nunca poderá rejeitá-la. Tem que
direito de frequentar a escola.           sociedade, é defender todas as unir as suas forças e pedir as forças
Actualmente a mulher já trabalha, já      mulheres em geral e em particular as de outras pessoas que querem o
participa activamente na política e       mulheres guineenses, contra todo o bem dos guineenses para procurar a
até já ocupa papel importante no          tipo de discriminação na sociedade paz e o bem-estar.
estado.                                   em que vivem.                          Eu enquanto mulher acho que a
                                                                                 Guiné-Bissau está rejeitada pelos
2 Hoje em dia a mulher guineense já       5 É muito difícil conciliar a vida próprios guineenses, o que é muito
se esforça para participar na vida        profissional com a vida familiar, eu triste e muito grave.
política; A mulher guineense hoje já      tento equilibrar as duas coisas, No meu ponto de vista, como
consegue dar a cara, para contar as       embora às vezes ache que dou mais mulher guineense, acho que nunca
suas situações e reivindicar os seus      atenção a minha vida profissional. Há podemos abandonar a Guiné-Bissau
direitos na sociedade em que vive;        momentos em que sinto que – é o país onde todos nós nascemos
Já consegue participar activamente        abandonei a minha família. Só que e crescemos, seja como for é
nas      iniciativas     (conferências,   tive sorte na vida, porque tenho um sempre nosso e nunca deixará de
debates, colóquios) que dizem             marido que me compreende muito ser.
respeitos às mulheres.                    nessas situações.                      Em 2º lugar: a mulher como mãe,
Exigem-se direitos iguais entre                                                  poderá orientar os seus filhos para a
homens e mulheres - igualdade de          6 Nas próximas décadas, acho que o paz na Guiné-Bissau sim. Se a
género. Já se reivindica contra a         lugar da mulher na sociedade mulher se colocasse numa posição
violência doméstica contra a mulher       guineense irá mudar para melhor e chave na Guiné-Bissau, poderá
e contra o género feminino e a            daqui a 20, 30 anos, a mulher conquistar a paz para todos os
eliminação total das práticas da          guineense irá conquistar a sociedade guineenses. Para tal deve continuar
Mutilação Genital feminina na Guiné-      no seu todo.                           a lutar para o lugar chave na
Bissau;                                                                          sociedade guineense, só assim é que
Luta-se contra a desigualdade              7 Por um lado, acho que a mulher a mulher como mãe de todos os
salarial entre homens e mulheres –        precisa de conhecer os seus direitos e guineenses, poderá orientar os seus
(trabalho igual, salário igual);          deveres, enquanto mulher e mãe na filhos, para um caminho de paz,
É importante a eliminação de todo o       sociedade. Por outro lado, queria que sucessos,          felicidades        e
tipo de discriminação contra a            a mulher guineense se colocasse na tranquilidade na Guiné-Bissau para
mulher      guineense;     Desenvolver    posição chave, pois só assim poderá sempre.
brevemente acções de formações na         conduzir o mundo para felicidades.     Tenho plena certeza que vamos
Guiné-Bissau,        para        homens                                          conseguir conquistar a paz na
guineenses na área de igualdade de        8 O contributo especial que a mulher Guiné-Bissau          sim,        porque
género.                                   pode dar para a paz na Guiné-Bissau, merecemos ser felizes.
                                          é o seguinte: Em 1º lugar: a mulher
3 Eu sou uma mulher que sabe o que        tem que tomar a Guiné-Bissau como a
quer da vida; que se esforça a todo o     sua casa, a sua propriedade privada.
custo para conseguir o que faz            Não há nada mais bonito neste mundo
ECO da oz di az Boletim Informativo
ECO da VVoz di PPaz Boletim Informativo                                                                   Página 11


            HOMENAGEM A FIGURAS DE PAZ

Djari              , Jovem e excepcional mulher das causas justas…
                                                                                              Fafali Koudawo

Ao longo de três anos de
actividades ao serviço da paz, a
Voz di Paz fez muitos amigos, e
infelizmente    perdeu    muitos
                                                                                      Djaricunda jamais será
também.                                                                                     como antes

Os primeiros amigos da Voz di Paz                                                     «Et rose, elle a vécu ce que
foram os membros dos Espaços                                                          vivent les roses, l’espace
Regionais de Diálogo (ERD). Estes                                                     d’un matin.»
embaixadores da paz criterio-                                                         Esta frase do poeta francês
samente escolhidos em todas as                                                        Victor Hugo, lamentando a
regiões tecem com a Voz di Paz                                                        morte prematura da sua
uma rede cujas ramificações vão                                                       querida filha, desaparecida
dos mais humildes aos mais                                                            em plena força da juventude,
influentes dos cidadãos, dos mais                                                     recorda estranhamente a vida
jovens aos mais velhos. Imbuídos                                                      de Djariatu Baldé. Tal como
de ideais de paz os membros dos                                                       uma rosa delicada, ela “viveu
ERD são o elo de ligação da Voz di                                                    o tempo que vivem as rosas, o
Paz com as comunidades de base.                                                       espaço de uma manhã”. Pois,
                                          Djari na 1ª Reunião geral dos membros dos
Promovem ao longo do ano                                                              flor mais procurada e amada,
                                              espaços regionais de diálogo (ERC)
iniciativas de resolução de                                                           a rosa sempre vive o seu es-
conflitos, actividades culturais e                                                    plendor durante um tempo
desportivas de aproximação dos                                                        muito curto.
cidadãos, etc. Assim, 10 ERD,                                                         A saudade incomensurável que
integrados por cerca de 100                                                           deixa Djari será dificilmente
pessoas ao todo promovem ao                                                           compensada no coração de
longo do ano a cultura de paz na                                                      todos aqueles que conheceram
base.                                                                                 esta     jovem     excepcional,
                                                                                      sorridente,      nunca     com
Infelizmente, pouco depois do                                                         excesso, atenciosa, jamais
arranque das actividades, o ERD                                                       com exagero, amável sem
de Mansaba-Farim na região de                                                         forçar a sinceridade da sua
Oio perdeu uma jovem e                tornar a pessoa central de todas                natureza,       amiga      sem
promissora pessoa. Djariatu Balde     as actividades: rádio, patri-                   vulgaridade,     aplicada    no
animadora de Kafo, a maior            mónio, formação, transformação                  trabalho sem pretensão, útil,
federação camponesa da Guiné-         de produtos, etc. Ela era central               com uma delicada discrição.
Bissau e jornalista da Rádio          não por expansão açambarcadora,                 Os germes da amizade que ela
Comunitária Voz di Djalicunda         mas simplesmente porque era a                   semeou nas pessoas mais
morreu        inexplicada       e     alma do Centro. Contactada para                 humildes como nas mais
repentinamente a 1 de Abril de        integrar o ERD da Voz di Paz, ela               distintas darão frutos que
2008, deixando uma imensa             mostrou uma total entrega e                     continuarão a sua obra tão
saudade em todos os que algum         abnegação ao serviço da causa da                simples, tão intensa, tão útil à
dia a conheceram.                     Paz, fazendo uma natural ligação                humanidade, pois útil para as
                                      entre     as   suas   actividades               mulheres e os homens mais
Recrutada aos 20 anos por Sambu       profissionais, a sua maneira de                 humildes.
Seck no Centro de Formação            estar em sociedade e a sua paixão               Adeus, Filha. Para todos,
Camponesa       de     Djalicunda,    pelas causas justas.                            Djaricunda jamais será o
Djariatu Baldé alargou em 7 anos,                                                     mesmo.
o campo dos préstimos e               Morreu de repente deixando um
responsabilidades ao ponto de se      vazio enorme nas nossas almas.
ECO da Voz di Paz       Boletim Informativo


               ECO da Voz di Paz I DI NÓS!




   Membros ERD Quinará, Guiné-Bissau            Membro do ERD de Tombali, Guiné-Bissau
                                                                                             Membro do ERD de Quinará, Guiné-Bissau




Membros ERD de Quinará e Tombali, Guiné-
                Bissau                                                                           Membro do ERD Tombali, Guiné-Bissau




                                               Membros ERD de Quinará e Subgrupo de Bolama       Grupo do ERD Quinará, Guiné-Bissau
  Membro do ERD de Tombali, Guiné-Bissau



                                                           Escreva para a
                                                          ECO da Voz di Paz        envie-nos
                                                  os seus artigos, notícias, sugestões,
                                               comentários e fotografias diversas para o
                                               correio electrónico vozdipaz@gmail.com
                                               Contamos com a sua participação!



     FICHA TÉCNICA: Eco da Voz di Paz – Boletim Informativo Proprietário: Voz di Paz - Iniciativa para a
     Consolidação da Paz Coordenador: Fafali Koudawo Editora: Joacine Katar Moreira;
     Redactores: Fafali Koudawo; Joacine Katar Moreira; Concepção gráfica e fotocomposição: Joacine Katar
     Moreira Número: 2 Data: Abril 2010 Local: Guiné-Bissau Periodicidade: Mensal - versão electrónica;
     bimestral - versão impressa Tiragem: 1500 exemplares

                                                     Parceiro: Interpeace
                                Financiado pelo Governo da Finlândia

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Ec oda vozdipazn2

  • 1. Abril 2010 Número 2 Janeiro 2010 Número 0Ano 1 Edição1 ECO da Voz di Paz cu     Boletim Informativo Boletim Informativo MULHER E PAZ Um tributo à Mulher Guineense Editorial Pág.2 O que são os ERD? Pág.2 Artigos de interesse especial: Imagens do Pág.7 Quotidiano • ACTIVIDADES VOZ DI PAZ….………..…………….p.3  Feminino   Homenagem a Pág.11 • AS MULHERES DA MINHA TERRA…………......p.5  Figuras de Paz:   Djariatu Baldé Pág.12 • MULHERES PELA PAZ ‐ ENTREVISTAS.………..p.8  Eco da Voz di paz I DI NÓS
  • 2. Página 2 ECO da Voz di Paz Boletim Informativo O que são os ERD - Espaços EDITORIAL «Mulher é Paz» Regionais de Diálogo? Fafali Koudawo Certas associações de palavras são, à primeira vista, tão evidentes que soam O conceito Espaço Regional de como um pleonasmo. Mulher e a paz Diálogo (ERD) foi desenvolvido O ERD é uma estrutura entram nesta categoria. Associar as como uma inovação nos regional, criada no âmbito duas palavras levanta o eco de uma processos sociais implemen- da Voz di Paz. repetição. O efeito é similar para tados depois da guerra de 7 de - É um elo de ligação entre mulher e vida. Pois, a mulher dá a Junho (1998). É uma das a estrutura central da Voz vida. maiores inovações no domínio No entanto, nem sempre foi assim na di Paz e as populações; da consolidação da paz na - Funciona como uma mentalidade popular, nem na história Guiné-Bissau. O seu surgimento estrutura flexível, gozando da humanidade. Em muitas culturas a mulher aparece como um pomo de é fruto de uma reflexão sobre de uma larga capacidade de discórdia. Assim, na mitologia grega a as vias e os meios para melhor iniciativa; bela Helena é a causa da guerra entre enraizar a paz, tornando-a - É constituído por um Gregos e Troianos. Nas lendas da propriedade das populações na núcleo de personalidades Europa do norte, as valkyries, base. criteriosamente escolhidas, mulheres em cavalos com asas, em função da sua decidem quem vai morrer no campo da A emergência deste conceito capacidade de servir de batalha. Quanto às fabulosas leva em conta a especificidade Amazonas, cujo território a lenda missionários abnegados da da sociedade guineense e a paz, encarregues de coloca nos confins do Mar Negro, elas necessidade de promover alargar, sem restrição nem teriam edificado uma sociedade baseada na arte da guerra feita por espaços de intercâmbio regular, exclusão, o espaço de mulheres que iam até privar-se de uma susceptíveis de contribuir para diálogo a todas as esferas mama direita, cortada para melhor diminuir as tensões recorrentes sociais e geográficas da permitir manejar o arco, e excluíam o cuja acumulação origina região e do país; casamento e mesmo os homens válidos frequentes surtos de violência. - É o motor da apropriação da sua companhia. Trata-se, portanto, de espaços das iniciativas de Mas as lendas e a história estão de construção da paz na base consolidação da paz no também repletas de figuras femininas através do diálogo inclusivo, da evocadoras de sacrifícios para a paz. âmbito da Voz di Paz e obra troca de experiências, do para o enraizamento local Para escolher, desta vez um exemplo, convívio na diversidade, da em África, apraz apontar a figura da de um processo inclusivo de Abla Poku, princesa Baulé* que, por coligação das forças positivas diálogo nacional. amor ao seu povo que fugia à guerra, locais a favor de objectivos foi capaz de sacrificar o seu filho para pacíficos. abrir através do tumultuoso rio Comoé o caminho da salvação e paz noutra Assim, o espaço regional de Os ERD são constituídos por margem. diálogo é o instrumento de uma individualidades criteriosa- Esta capacidade de dar a vida e pedagogia da paz fundada na mente seleccionadas em sacrificar-se pela paz aparece como estimulação de uma consciência função da sua capacidade de um traço singular da mulher. Ela da necessária “pacificação” das ser agentes e catalizadores de confirma que apesar de lendas dinâmicas locais de relações locais como belicistas pregadas pelos homens às enraizamento da paz. mulheres, a expressão mulher e paz é antecâmara do desenvolvi- mesmo um pleonasmo. Então, porque mento económico e social. Para o efeito, o espaço regional de As funções dos ERD são não dizer simplesmente, mulher é paz? dialogo é chamado a valorizar, definidas por um quadro de * Baulé, etnia do grupo Akan no sul da Côte desenvolver e a difundir referência consensualmente d’Ivoire. O seu nome faria referência ao ferramentas e abordagens de elaborado e adoptado. O sacrifício do filho da princesa Abla Poku que teria dito: “Bauli” isto é “Morreu a criança”. transformação de conflitos. quadro de referência clarifica a natureza do ERD, define o Fafali Koudawo Desde 2007, a Voz di Paz criou perfil dos seus membros e um total de 10 ERD, uma ou detalha as funções específicas Director de Pesquisa duas por região administrativa articuláveis com as tarefas «Voz di Paz» gerais das estruturas centrais em função das especificidades geográficas e sociais. da Voz di Paz.
  • 3. ECO da Voz di Paz Boletim Informativo Página 3 Actividades Voz di Paz – Abril 2010   O mês de Abril foi - A 13 de Abril, o tema foi: “Má colocado sob o signo da governação e conflitos: formação e reforço de desequilíbrios do poder que geram conflitos”; Aqui, parcerias. analisou-se aspectos tais como o difícil equilíbrio a nível das - No início do mês, a Voz di Paz instituições; a fraca cultura apoiou a concretização de uma institucional; a tendência à iniciativa salutar visando mudar personalização do poder; o as mentalidades no Sector de João XXIII em Bissau, a Voz di fraco respeito pelos princípios Nhacra, que tem uma imagem Paz apoiou uma formação em de limitação do poder inerentes execrável como ninho de roubos matéria de gestão de conflitos, à democracia e a fraca tradição e violências. A iniciativa foi organizada pela Comissão de descentralização; baptizada como “Voz di Paz luta interdiocesana justiça, paz, contra o roubo, violência e direitos humanos e desenvol- - A 20 de Abril o tema foi “Más delinquência juvenil». vimento. Fafali Koudawo políticas e conflitos: enfraque- Os membros do Espaço regional orientou um atelier interactivo cimento das Instituições”, de Dialogo de Oio estiveram sobre as causas de conflitos, os destacando o enraizamento do nesta promoção da cultura de tipos de conflitos, e os modos poder pessoal, a instabilidade paz que contou com uma de resolução de conflitos. política e institucional, a palestra do Prof. Fafali instrumentalização das insti- Koudawo intitulada “Práticas - A parceria com a Assembleia tuições para fins políticos, entre nefastas, conflitos e paz”. Nacional Popular na organização outros. Um dos momentos altos desta da Conferência nacional: iniciativa foi a luta tradicional “Caminhos da reconciliação, paz - A 27 de Abril foi produzida que congregou os melhores e desenvolvimento” traduziu-se uma emissão sobre o tema da lutadores balantas da região. O ao longo do mês pela corrupção, sua definição, resultado saudado por todos foi participação nos preparativos formas, tipos e agentes de a ausência total de violência ao deste que será um grande corrupção como factores de longo de manifestações e acontecimento nacional. conflitos. competições, que em termos gerais têm sido nos últimos anos Emissões Radiofónicas do mês Actividades com espaços lugares de ajustes de contas de Abril de 2010 regionais de diálogo – Abril de entre grupos de jovens 2010 temerários adeptos da Durante o mês de Abril de 2010, violência. a Voz di Paz, em parceria com a Durante o mês de Abril, a Rádio Sol Mansi, produziu equipa de Voz di Paz esteve nas - A Voz di Paz apoiou também programas radiofónicos sobre a regiões de Bafatá e Gabú, para uma iniciativa do Espaço má governação e os conflitos. encontros de trabalho com os Regional de Diálogo da região Assim: espaços regionais de diálogo, de Cacheu em parceria com a - A 06 de Abril, o tema da com os seguintes objectivos: associação da juventude local. emissão foi: “Más práticas - Apresentar informações sobre Intensas actividades culturais políticas: fraudes eleitorais e as mutações institucionais na tiveram lugar nos dias 16, 17 e conflitos em África”; A emissão Voz di Paz; a nova estrutura e 18 de Abril na cidade de salientou a falta de confiança seu funcionamento, os membros Canchungo onde entre outros nos princípios democráticos, o etc. préstimos da Voz di Paz, apego ao poder, a instrumen- - Assistir à programação das Manuela M. Mendes deu uma talização do poder, e as actividades dos espaços palestra sobre os “Fundamentos modalidades de fraude, tanto regionais de diálogo para o da cidadania e paz”. no processo eleitoral como na restante ano de 2010. proclamação dos resultados; Os ERD de leste tiveram os - No dia 24 de Abril, no liceu seguintes programas:
  • 4. Página 4 ECO da Voz di Paz Boletim Informativo Programa do ERD de Gabú 1. Realização de um torneio transfronteiriço de Paz em Pirada previsto para o mês de Maio de 2010; 2. Encontro de luta livre em Setembro de 2010 em Sonaco; 3. Provas de ciclismo e atletismo , previstas para o mês de Novembro 2010 em Pitche; Sede da ONG Mers Bodjer e do ERD de Biombo 4. Realização de um programa radiofónico intitulado “Djumbai de Paz”, em associação com duas rádios comunitários na cidade de Gabú no dia 24 de Setembro de 2010.       Membro ERD de Mansoa Co-organizadora do Kussundé sem violência, Março 2010 Programa do ERD de Bafatá 1. Realização de um encontro desportivo transfronteiriço em Cambadju com a participação de Salquenhe; o tema de sensibilização serão as crianças talibés e a fronteira, no dia 1 de Junho de 2010. 2. Encontro de danças tradicionais e canções de paz de diferentes grupos étnicos em Bambadinca no dia 13 de Novembro de 2010. 3. Realização de actividades desportivas de confraternização entre agricultores, criadores de gado, pescadores e pais e encarregados de educação em Bafatá no dia 11 de Dezembro de 2010. Sessão de trabalho do ERD da Região de Cacheu
  • 5. ECO da Voz di Paz Boletim Informativo Página 5 «AS MULHERES DA MINHA TERRA»* Joacine Katar Moreira Pretende-se neste álbum de pelas dificuldades que têm Histórias de Vida, a apresentação impedido o regresso dos filhos à individual de mulheres Guiné. É ela também, a guineenses, numa procura de provocadora de nostalgia conhecimento e valorização das sofrida, da exaltação do diversas experiências e passado quando comparado com percursos, entendidos como o presente...e vice-versa. fontes de aprendizagem e de Pano Preto inspiração. O segundo pano, pano di pinti, que embora não seja tradição A singularidade de cada mulher, de todas as culturas guineenses, permite-nos chegar ao colectivo, pode ser simbolicamente visto fazendo uso das micro-histórias como o pano Real da Guiné, para a construção de Histórias de porque o pano di pinti é o pano Vida de Mulheres da Guiné. do bambaram, onde as mães trazem os filhos às costas, É com prazer que escrevo este sendo assim o pano da união e Prefácio, sendo eu uma dessas da maternidade. Pano de Pinti mulheres e sendo, principalmente, o resultado das Com padrões normalmente de suas vidas. cor neutra (os padrões e as cores dependem do tipo de Como muitas mulheres cerimónias), este pano é entrevistadas, a minha vida marcado pelo simbolismo, pela contém episódios de migração, força e pela tradição. Força da da separação e do reencontro. Mulher Grande e esperança da Reencontro com os meus e Padida. Este pano é o pano do reencontro com a Guiné. Com regresso à Guiné, pois aqui se base nas experiências e vivências enquadram as cerimónias Pano Legos destas mulheres, de forma tradicionais que levam muitas Fotografias IMVF (Sandra Oliveira) simbólica, podemos dizer que as migrantes a regressar ao país mulheres guineenses vivem com natal, para não ferir os       pelo menos três panos ao longo antepassados e para proteger e das suas vidas: iluminar o caminho dos seus Sou filha de Elsa Katar Madi e de descendentes. Quinzinho Moreira. Neta de Nonó - O pano preto, o pano Barbosa, enfermeira, e da di pinti e o legós. Por fim o pano legós, apelador falecida Queta Vieira. Queta de dos sentidos, alegre e por vezes Aliu Katar Madi. Nonó, Nonó de O pano preto, como cantou Zé brejeiro. O legós representa o Nána, Nána de Farim, que vivia Carlos Schwarz (mindjeris di quotidiano e o social. Ele é em Belém. pano preto), é o pano do pranto prazer e comunicação, vaidade e da dor, dor de corpo e dor da e feminilidade. O legós é festa Assim se apresentam as mulheres alma, derivado de partidas, e gargalhada. É o pano com o da Guiné, país em que, mais separações, do abandono pelos qual comunicamos na diáspora, significativo do que o «quem companheiros e da despedida e que vestimos quando nos somos» é o «de quem somos», ausência dos familiares. queremos sentir próximos di pois a identificação colectiva é tera. mais importante que a individual. É sofrimento causado pelo O deambular, os corpos Isto não retira a individualidade a desespero, pela carência de bens apertados, coloridos e cada um, apenas acrescenta e a procura quotidiana de adornados pelo legós são a história à sua existência alternativas. Esta dor é também chama ardente da sedução e da enquanto tal. causada pela instabilidade e africanidade.
  • 6. Página 6 ECO da Voz di Paz Boletim Informativo Os três panos em conjunto assim como é o mosaico étnico simbolizam a vida e as suas da Guiné-Bissau. Mulheres diferentes fases. Assim como papéis, manjacas, fulas, bijagós, as fases da vida podem-se mancanhas, entre outras, que “De longe fundir e confundir, os panos são sobretudo guineenses – pois entre as também podem usados juntos a miscigenação tocou a todas - e sete colinas e de várias maneiras. acima de tudo mulheres. vejo-te mulher-grande sofredora A capacidade de substituição Joacine Katar Moreira e meiga dos panos e a sua utilização Consultora do Projecto «Rostos Imagino-te «psicológica» em determinadas Invisíveis» do IMVF e Investigadora suave situações pode significar a como quem *Prefácio do Livro Storias di Mindjeris, garantia de sobrevivência para edição do IMVF e de Joacine Katar diz amor” muitas mulheres. Moreira, realizado no âmbito do (Tony Tcheka, Projecto “Rostos Invisíveis”, uma 2008, Guiné) As mulheres da Guiné são iniciativa IMVF, NEP/CES e IPAD. sobreviventes natas do jogo Maria Leonor Barbosa (Nonó), enfermeira da vida. São «engenheiras» In Storias de Mindjeris/ Fotografia de Neni Glock por natureza, aquelas que se formaram na procura de soluções quotidianas para os desafios dos tempos. “Só Mulher, Mas também podem ser tão Mulher” ameaçadoras, sabotadoras e vingativas. Mulheres de sangue Mulher da Guiné quente e língua de faca. Que tudo fazem para proteger os Sorriso suspicaz seus, como mães leoas, perante o inimigo. Histórias de Vida de Mulheres da Paz e sossego em Guiné-Bissau. Autoria da ONGD A migração poucas vezes Portuguesa IMVF e de Joacine Katar corpo fêmea Moreira trouxe paz à mulher guineense. Normalmente o Na hora do Kufentu destino das migrantes é   apimentado por mais desafios, No rufar dos macaréus quer pessoais, quer Projecto «Rostos Invisíveis» Na kasabi profissionais. Mas aquilo que mais pesa na migração, para as Coordenado pelo IMVF (Ana Isabel Castanheira), este projecto visou Libertas amor nossas mulheres, é a educação e acompanhamento dos filhos contribuir para uma melhor integração da abordagem de género nas políticas de E orquestras noutros contextos que não o cooperação, enquanto catalisador do seu original. Num espaço desenvolvimento e erradicação da Sinfónicas risadas aonde elas também se tentam pobreza O objectivo específico foi adaptar. sensibilizar e informar, numa perspectiva - És mulher crescendo de género, para os múltiplos papéis, Porquê um álbum de histórias mecanismos e causas associadas às De mansinho de vida de mulheres práticas violentas no Brasil e Guiné- guineenses? Porque são Bissau. Só mulher histórias de valência, de Pretendeu-se com o álbum Storias di sobrevivência e de esperança. Mindjeris prestar uma homenagem à Tão mulher! Mulher Guineense, através do reconhecimento e divulgação das suas De guineenses porque histórias de vida: as dificuldades sentidas; Tony Tcheka procuramos mulheres de os desejos; o que as preocupa e o que as in Guiné, Sabura que dói, 2008 cultura e experiência diversa, motiva.
  • 7. ECO da Voz di Paz B l ti I f ti Página 7 IMAGENS DO QUOTIDIANO FEMININO Buscando a água – bem essencial do quotidiano Carregando água para as necessidades do dia Cuidando dos filhos e outras crianças Gerindo e cuidando da sua casa e dinamizando a sua Tabanka Cozinhando para alimentar a sua gente, e não só… Produção e comércio: produtoras de óleo de palma Trabalhando para a Paz: Mulher arbitrando a luta no Kussundé Participando activamente na vida social e cultural: Djidia (cantora tradicional)
  • 8. Página 8 ECO da Voz di Paz Boletim Informativo Página 11 MULHERES PELA PAZ- Entrevistas As Vozes que se seguem são vozes femininas, de gente determinada, a quem o ter a família que eu tive, que me facto de nascer mulher africana, neste caso guineense, não comprometeu a incutiu os valores do trabalho. Para formação, o sucesso e a liberdade, num continente muito marcado pela mim tudo o que nós somos é fruto do desigualdade. Filomena Mascarenhas Tipote, Manuela Mendes e Nazaré Baticam nosso esforço duma maneira ou de responderam por escrito a 8 questões sobre a importância e a responsabilidade de se ser Mulher e da contribuição das mulheres para a Paz. outra e que na vida nada se dá de graça e de bandeja. 4 Eu gostaria de desempenhar o QUESTÕES: papel de um cidadão que vai dando 1 - Como evoluiu a situação da mulher seu contributo dia após dia para que na Guiné, da independência aos nossos este país mude e avance. dias? 5 Quando estou em casa é dela que 2 - Quais são os desafios e as exigências que se colocam à mulher guineense eu ocupo e o mesmo me acontece hoje? quando estou no trabalho. É verdade que a actividade profissional acaba 3 - Atendendo ao seu percurso, como se Investigadora da Voz di Paz, Bissau roubando mais tempo sobretudo caracteriza enquanto mulher? quando viajo para o interior do país. Filomena M. Tipote 4 - Que papel gostaria de desempenhar na sociedade? «Sou sortuda e orgulhosa, por 6 Não gostaria de ser pessimista, 5 - Como faz para conciliar a vida ter a família que eu tive, que mas o meu raciocínio e o que vejo dia-a-dia me leva a uma triste profissional com a vida familiar? me incutiu os valores do perspectiva, por uma simples razão: 6 - Como perspectiva o lugar da mulher trabalho» hoje existe uma tendência de na sociedade guineense nas próximas conseguir tudo sem qualquer esforço décadas? alianças duvidosas. Todos esses e somos nós mesmas a julgarmos de factores acabam por limitar o legítimo este facto que o homem 7 - Gostaria de fazer tributo a alguma mulher? Por que motivos? acesso à participação política das tem o dever de nos dar. Em mulheres e em consequência a consequência, esta maneira de ver e 8 - Que contributo especial a mulher lugares de decisão. levar a vida leva-nos a uma maior pode dar para a paz na Guiné-Bissau? Já no aspecto social existe uma dependência dos homens e quando é inversão de valores na medida que assim, nos roubam a nossa dignidade assistimos cada vez ao aumento de e até a nossa própria alma. 1 A situação da mulher na Guiné número de mulheres como chefes não tem sido das melhores, à de família. semelhança da própria situação do 7 Faço tributo à minha própria mãe, país e das pessoas que nela se não por ela ser minha mãe, mas sim, encontram. Após a Independência, 2 Os desafios são muitos e a todos por que é uma mulher que eu os níveis. Cada vez mais assistimos conheci sempre a trabalhar e nunca dado a um discurso de emancipação a uma maior concorrência em tudo, parou de trabalhar. Não teve e de igualdade do partido único pelo que nós mulheres, dado o instruções académicas mas foi havia mulheres nas esferas de nível em que estamos, isto é, em sempre uma mulher independente e decisão, nomeadamente no tudo na última posição, se a um com boas intenções para com os parlamento e postos de homem é exigido salto em 2 outros. administração local. Com a degraus para a mulher deverão ser abertura política e o processo 4 degraus de forma a satisfazer as democrático de alternância de 8 O contributo especial da mulher é, exigências e a superar os precon- poder, onde perder tem muitas em primeiro lugar de educar os ceitos que existem em relação à implicações como é a percepção filhos com os valores de paz, dizer a mesma. Isto só é possível dos partidos, o número de mulheres verdade, não pegar nos pertences apostando numa educação caseira na esfera de decisão tende a dos outros e o valor ao trabalho. que não inferiorize a mulher, mas diminuir cada vez mais, tendo em Em segundo ser mais interventiva na que lhe dá auto-estima e uma conta os aspectos de conquista de busca duma paz duradoura na Guiné- formação sólida, não de ir buscar poder que requerem o uso de tudo -Bissau usando de suas redes quer um papel mais sim o saber. aquilo que moralmente não seja formais como informais, sobretudo correcto como insultos, calúnias, rejeitar a atitude de fuga”Nha boca dinheiros ilícitos para campanha, 3 A primeira coisa que eu digo é ka sta la”. que sou sortuda e orgulhosa, por
  • 9. ECO da Voz di Paz Boletim Informativo Página 9 Manuela Mendes «As mulheres na Guiné actualmente são a força, os pilares das famílias» exemplar da cidadania. A cidadania manhã até à tarde para poder na Guiné está em crise. Só um conciliar o meu trabalho com as trabalho árduo da mulher pode leccionações que levo a cabo na ajudar a restaurar esse valor. A Voz formação, quiçá, dos meus di Paz está a trabalhar nisso substitutos. também. Os mais novos já não sabem quais são as boas maneiras 6 No pináculo efectivo da direcção de uma boa convivência, a deste país. Ou seja no lugar Investigadora da Voz di Paz, Bissau delinquência juvenil está cada vez cimeiro das decisões, pois até lá 1 A situação da mulher na Guiné na mais saliente e preocupante, em os homens já estarão conscien- verdade evoluiu bastante. Da fim, há uma degradação galopante cializados de que devem ceder, independência aos nossos dias dos valores sociais. Por isso, devem não entrar em guerra com as muita coisa aconteceu. A mulher merecer a atenção de todos, mulheres por causa do poder e de conseguiu a sua emancipação, jogando a mulher um papel outros lugares de decisão que não embora parcial. Muitas ainda preponderante. implicam necessariamente o permanecem em casa sem A par disto está o contínuo poder. Não estou a dizer com isso trabalhar porque os maridos não processo da materialização do que dêem lugar às mulheres, que querem, não gostam que princípio da igualdade. Deve-se lhes façam favor, que sintam trabalhem! Muitas ainda investir com qualidade e critérios pena, não. Elas têm que lutar, choramingam nos cantos, porque os tudo o que faz. conquistar com muito labor esse maridos decidem mandar os filhos espaço. O que está a acontecer na para a mendigação no Senegal ou 3 Sou activa e “quase” realizada. realidade guineense é que as noutras localidades fora do país Digo quase realizada porque mulheres é que são verdadeiras com o intuito de aprenderem o enquanto mãe (com 4 filhos), estou donas de casa; sobre elas está Corão, sem serem tidas nem satisfeita. Na área laboral, não todo o peso da família, são elas achadas. Mas, algumas já ousam tenho nada a queixar. Tenho que se angustiam mais com todos contrariar trabalhando, rejeitando contribuído para o meu país na os dissabores que este país traz, os casamentos precoces, etc. justa medida em que o faria um em todos os níveis. Elas é que As mulheres filiadas em algumas genuíno filho da pátria. Ainda patenteiam atitudes/decisões formações políticas já não se penso dar mais. sensatas. contentam com os lugares suplentes nas listas de candidaturas 4 Gostaria de desempenhar um 7 Quero prestar tributo não a uma para o Parlamento. As mulheres na papel de apaziguadora, como mas, a muitas que se contentam Guiné actualmente são a força, os tenho tentado. Um papel activo com o pouco do resto que os pilares das famílias; são elas que, que sirva aos guineenses em geral e maridos lhes trazem. Gostaria de com a crise mundial presente, à minha família em particular. apelá-las para se erguerem. Ficar suportam todas as despesas do lar, em casa sem trabalhar porque o a maioria com as suas actividades 5 Sacrifico um pouco de cada parte marido não quer ou não gosta, não informais. Contudo, é bom dizer da vida familiar e profissional. Mas, é solução e nem deve constituir que muita coisa ainda falta por falando sinceramente, o meu um modo de vida cómodo. fazer. A emancipação total é um trabalho acaba por ganhar mais em processo assim como a observância detrimento da vida minha familiar, 8 A mulher deve reforçar a de todos os princípios que pois passo todo o dia no trabalho, educação dos filhos. Uma vez que erradicam a discriminação e o chego à casa muito tarde. Saio de ainda não detém as rédeas do machismo lá muito cedo e só volto às 19H00. poder, deve organizar-se no Mas nos momentos em que sentido de fazer os companheiros 2 Hoje a mulher guineense permaneço em casa aproveito o desenvolverem acções que enfrenta grandes dificuldades. As máximo para compensar, sobretudo perenizem a paz; que convidem o dificuldades são de variáveis níveis. para com os mais pequenos, dando investimento estrangeiro, por fim, A nível económico, laboral, social, à família os miminhos que só uma que direccionem o país para o etc. Enquanto profissional, mãe, mãe pode dar. desenvolvimento. Não esqueçamos esposa e individualidade activa em Apraz-me fazer este sacrifício que o desenvolvimento condiciona todas as questões actuais, deve se porque estou convicta que estou a a paz. Devem apoiar no máximo os empenhar ainda mais para educar contribuir para um país melhor. Por trabalhos que a Voz di Paz está a os mais novos e a todos os que isso não hesito em abandonar o desenvolver no país e além precisam para um exercício meu filhote de apenas 4 meses de fronteira.
  • 10. Página 10 ECO da Voz di Paz Boletim Informativo Nazaré Baticam «A mulher como mãe, poderá orientar os seus filhos para a paz na Guiné-Bissau» 1 Acho que a situação da mulher na sentido na vida; uma mulher que não Guiné-Bissau da independência aos dá ouvidos, quando quer fazer uma nossos dias evoluiu de uma forma boa iniciativa; sou uma mulher com contínua e positiva. Logo depois da iniciativas positivas, que luta pelos independência, não se falava da direitos das mulheres em geral e em participação de mulher na política, particular das mulheres guineenses; ou seja a mulher guineense não uma mulher cheia de força de participava na política, não vontade, que gosta de sacrificar-se desempenhava um papel importante para conquistar tudo, mas também no estado. Para quem é guineense humilde, carinhosa, que dá força a sabe que a discriminação da mulher quem precisa, que ama o próximo, Presidente da Associação de Mulheres Guineenses, Lisboa começa no próprio lar familiar. que tem sempre vontade de ajudar os Porque a mulher não podia trabalhar outros, social, comunicativa, como estar dentro da sua própria naquela altura, tinha obrigação de simpática, que gosta de aprender com casa, seja nas piores condições, na ficar em casa para desempenhar os outros e que gosta de todos. pobreza ou na riqueza, na tristeza todas as tarefas domésticas, e casos ou na alegria é sempre a sua casa, de mulheres que não tinham sequer 4 O que gostaria de desempenhar na nunca poderá rejeitá-la. Tem que direito de frequentar a escola. sociedade, é defender todas as unir as suas forças e pedir as forças Actualmente a mulher já trabalha, já mulheres em geral e em particular as de outras pessoas que querem o participa activamente na política e mulheres guineenses, contra todo o bem dos guineenses para procurar a até já ocupa papel importante no tipo de discriminação na sociedade paz e o bem-estar. estado. em que vivem. Eu enquanto mulher acho que a Guiné-Bissau está rejeitada pelos 2 Hoje em dia a mulher guineense já 5 É muito difícil conciliar a vida próprios guineenses, o que é muito se esforça para participar na vida profissional com a vida familiar, eu triste e muito grave. política; A mulher guineense hoje já tento equilibrar as duas coisas, No meu ponto de vista, como consegue dar a cara, para contar as embora às vezes ache que dou mais mulher guineense, acho que nunca suas situações e reivindicar os seus atenção a minha vida profissional. Há podemos abandonar a Guiné-Bissau direitos na sociedade em que vive; momentos em que sinto que – é o país onde todos nós nascemos Já consegue participar activamente abandonei a minha família. Só que e crescemos, seja como for é nas iniciativas (conferências, tive sorte na vida, porque tenho um sempre nosso e nunca deixará de debates, colóquios) que dizem marido que me compreende muito ser. respeitos às mulheres. nessas situações. Em 2º lugar: a mulher como mãe, Exigem-se direitos iguais entre poderá orientar os seus filhos para a homens e mulheres - igualdade de 6 Nas próximas décadas, acho que o paz na Guiné-Bissau sim. Se a género. Já se reivindica contra a lugar da mulher na sociedade mulher se colocasse numa posição violência doméstica contra a mulher guineense irá mudar para melhor e chave na Guiné-Bissau, poderá e contra o género feminino e a daqui a 20, 30 anos, a mulher conquistar a paz para todos os eliminação total das práticas da guineense irá conquistar a sociedade guineenses. Para tal deve continuar Mutilação Genital feminina na Guiné- no seu todo. a lutar para o lugar chave na Bissau; sociedade guineense, só assim é que Luta-se contra a desigualdade 7 Por um lado, acho que a mulher a mulher como mãe de todos os salarial entre homens e mulheres – precisa de conhecer os seus direitos e guineenses, poderá orientar os seus (trabalho igual, salário igual); deveres, enquanto mulher e mãe na filhos, para um caminho de paz, É importante a eliminação de todo o sociedade. Por outro lado, queria que sucessos, felicidades e tipo de discriminação contra a a mulher guineense se colocasse na tranquilidade na Guiné-Bissau para mulher guineense; Desenvolver posição chave, pois só assim poderá sempre. brevemente acções de formações na conduzir o mundo para felicidades. Tenho plena certeza que vamos Guiné-Bissau, para homens conseguir conquistar a paz na guineenses na área de igualdade de 8 O contributo especial que a mulher Guiné-Bissau sim, porque género. pode dar para a paz na Guiné-Bissau, merecemos ser felizes. é o seguinte: Em 1º lugar: a mulher 3 Eu sou uma mulher que sabe o que tem que tomar a Guiné-Bissau como a quer da vida; que se esforça a todo o sua casa, a sua propriedade privada. custo para conseguir o que faz Não há nada mais bonito neste mundo
  • 11. ECO da oz di az Boletim Informativo ECO da VVoz di PPaz Boletim Informativo Página 11 HOMENAGEM A FIGURAS DE PAZ Djari , Jovem e excepcional mulher das causas justas… Fafali Koudawo Ao longo de três anos de actividades ao serviço da paz, a Voz di Paz fez muitos amigos, e infelizmente perdeu muitos Djaricunda jamais será também. como antes Os primeiros amigos da Voz di Paz «Et rose, elle a vécu ce que foram os membros dos Espaços vivent les roses, l’espace Regionais de Diálogo (ERD). Estes d’un matin.» embaixadores da paz criterio- Esta frase do poeta francês samente escolhidos em todas as Victor Hugo, lamentando a regiões tecem com a Voz di Paz morte prematura da sua uma rede cujas ramificações vão querida filha, desaparecida dos mais humildes aos mais em plena força da juventude, influentes dos cidadãos, dos mais recorda estranhamente a vida jovens aos mais velhos. Imbuídos de Djariatu Baldé. Tal como de ideais de paz os membros dos uma rosa delicada, ela “viveu ERD são o elo de ligação da Voz di o tempo que vivem as rosas, o Paz com as comunidades de base. espaço de uma manhã”. Pois, Djari na 1ª Reunião geral dos membros dos Promovem ao longo do ano flor mais procurada e amada, espaços regionais de diálogo (ERC) iniciativas de resolução de a rosa sempre vive o seu es- conflitos, actividades culturais e plendor durante um tempo desportivas de aproximação dos muito curto. cidadãos, etc. Assim, 10 ERD, A saudade incomensurável que integrados por cerca de 100 deixa Djari será dificilmente pessoas ao todo promovem ao compensada no coração de longo do ano a cultura de paz na todos aqueles que conheceram base. esta jovem excepcional, sorridente, nunca com Infelizmente, pouco depois do excesso, atenciosa, jamais arranque das actividades, o ERD com exagero, amável sem de Mansaba-Farim na região de forçar a sinceridade da sua Oio perdeu uma jovem e tornar a pessoa central de todas natureza, amiga sem promissora pessoa. Djariatu Balde as actividades: rádio, patri- vulgaridade, aplicada no animadora de Kafo, a maior mónio, formação, transformação trabalho sem pretensão, útil, federação camponesa da Guiné- de produtos, etc. Ela era central com uma delicada discrição. Bissau e jornalista da Rádio não por expansão açambarcadora, Os germes da amizade que ela Comunitária Voz di Djalicunda mas simplesmente porque era a semeou nas pessoas mais morreu inexplicada e alma do Centro. Contactada para humildes como nas mais repentinamente a 1 de Abril de integrar o ERD da Voz di Paz, ela distintas darão frutos que 2008, deixando uma imensa mostrou uma total entrega e continuarão a sua obra tão saudade em todos os que algum abnegação ao serviço da causa da simples, tão intensa, tão útil à dia a conheceram. Paz, fazendo uma natural ligação humanidade, pois útil para as entre as suas actividades mulheres e os homens mais Recrutada aos 20 anos por Sambu profissionais, a sua maneira de humildes. Seck no Centro de Formação estar em sociedade e a sua paixão Adeus, Filha. Para todos, Camponesa de Djalicunda, pelas causas justas. Djaricunda jamais será o Djariatu Baldé alargou em 7 anos, mesmo. o campo dos préstimos e Morreu de repente deixando um responsabilidades ao ponto de se vazio enorme nas nossas almas.
  • 12. ECO da Voz di Paz Boletim Informativo ECO da Voz di Paz I DI NÓS! Membros ERD Quinará, Guiné-Bissau Membro do ERD de Tombali, Guiné-Bissau Membro do ERD de Quinará, Guiné-Bissau Membros ERD de Quinará e Tombali, Guiné- Bissau Membro do ERD Tombali, Guiné-Bissau Membros ERD de Quinará e Subgrupo de Bolama Grupo do ERD Quinará, Guiné-Bissau Membro do ERD de Tombali, Guiné-Bissau Escreva para a       ECO da Voz di Paz envie-nos os seus artigos, notícias, sugestões, comentários e fotografias diversas para o correio electrónico vozdipaz@gmail.com Contamos com a sua participação! FICHA TÉCNICA: Eco da Voz di Paz – Boletim Informativo Proprietário: Voz di Paz - Iniciativa para a Consolidação da Paz Coordenador: Fafali Koudawo Editora: Joacine Katar Moreira; Redactores: Fafali Koudawo; Joacine Katar Moreira; Concepção gráfica e fotocomposição: Joacine Katar Moreira Número: 2 Data: Abril 2010 Local: Guiné-Bissau Periodicidade: Mensal - versão electrónica; bimestral - versão impressa Tiragem: 1500 exemplares Parceiro: Interpeace Financiado pelo Governo da Finlândia