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RESENHA
Aluno: Benilton de Oliveira Almeida de Andrade
Curso: Ciências Econômicas
Disciplina: Laboratório de Interpretação de Texto
Texto: VIANA, Ana Luiza d'Avila et al. Economia e saúde. In: Clínica Médica [2ed.
ampl. rev.]. Manole, 2016.
Os autores abordam a relação entre economia e saúde, apresentam que esta pode
ser estudada a partir de diferentes abordagens. Neste sentido, apresentam que a economia
pode ser aplicada para analisar a complexidade dos custos relacionados aos meios
necessários para alcança-la, assim como os processos e tecnologias médicas utilizados na
escolha de um tratamento ou na organização de um serviço de saúde.
Deste modo, a Economia da Saúde se insere em um campo de investigação da
disciplina “Economia e Saúde”. Estuda a formação das sociedades modernas, a
constituição e o papel das instituições e os modernos sistemas de proteção social. Foi
desenvolvida a partir da década de 1960 e impulsionada pela crise dos modernos sistemas
de proteção social. Momento em que o método econômico passou a ser decisivo para o
controle do déficit público, no entanto pouco se falava sobre o estado de saúde da
população ou dos gastos em saúde sobre o desenvolvimento econômico. Inicialmente, um
dos grandes entraves enfrentados foi a contradição entre a abordagem econômica e a ética
médica, pois na deontologia médica o interesse individual deve prevalecer sobre o
coletivo.
Para os economistas, compradores e vendedores representam as unidades
econômicas individuais. O mercado é o local do encontro, da interação e das trocas entre
compradores e vendedores, ou seja, da configuração da oferta e demanda (ou procura) de
bens e serviços. A oferta é definida como a quantidade de um bem ou serviço que os
produtores desejam vender por unidade de tempo, ao passo que a demanda expressa a
quantidade que os compradores desejam adquirir no mercado. A elasticidade é o conceito
que permite quantificar os impactos na quantidade ofertada/demandada de um produto
em virtude de mudanças nos fatores que influenciam sua oferta e demanda. Em mercados
competitivos, as curvas de oferta e demanda mostram a quantidade que será ofertada pelos
vendedores e as quantidades que serão demandadas pelos compradores em função dos
preços. No entanto, a partir do que propõe Kenneth Arrow, os autores demonstram como
a demanda da saúde se diferencia dos diferentes setores da economia.
Sendo assim, a natureza da demanda individual por serviços de saúde é irregular
e imprevisível. Pois, a necessidade de saúde ocorre, em geral, em uma circunstância
excepcional, diante de uma doença ou agravo, dificultando escolhas racionais por parte
do consumidor (paciente ou usuário). Assim, a demanda por produtos e serviços de saúde
pode ser fortemente estimulada pela atuação dos profissionais de saúde, sobretudo os
médicos, e o paciente não possui controle sobre essa importante variável, que determina
o quanto ele irá consumir de medicamentos, exames diagnósticos e procedimentos.
A teoria econômica associa a necessidade de regulação com a existência de falhas
que podem afetar a eficiência do mercado e o bem-estar da sociedade, tendo em vista que
os conflitos decorrentes do comportamento e dos interesses desses atores tendem a afetar
negativamente o adequado funcionamento desse mercado. Na relação entre as operadoras
de planos de saúde e os usuários podem ocorrer várias falhas, uma delas é a seleção
adversa a partir de uma análise imprecisa do risco oferecido pelo usuário, assim como a
possível alteração do mesmo. Outra questão é o risco moral, que se relaciona com a
assimetria de informação prestada aos diferentes usuários, pois a partir dos diagnósticos
oferecidos os operadores podem ser estimulados a consumir uma quantidade maior de
produtos e serviços. Em relação aos prestadores de serviço, apresenta falhas em função
da incorporação de novas tecnologias e no que se refere a indução de demanda feita pelo
prestador de serviço em sua relação com os usuários. Diante disto, os autores afirmam
que o mercado de serviços de atenção à saúde não é capaz de ofertar adequadamente à
população planos de assistência médica, de modo que se torna necessária a atuação do
Estado no sentido de regular as práticas e as falhas existentes nesse mercado.
A partir da análise do financiamento e sistemas de saúde os autores demonstram
como os usuários podem ter acesso aos serviços de saúde de três formas distintas: 1)
sistemas nacionais de saúde; 2) modelo de seguro social; 3) acesso pelo próprio mercado.
Mas, há também casos onde há a prevalência de sistemas mistos. É o caso do Brasil, onde
convivem dois subsistemas de saúde: o Sistema Único de Saúde (SUS), público e pelo
sistema de saúde suplementar, privado.
A partir do valor total gasto com saúde por cada Estado, há a avaliação econômica
em saúde que se produz a partir dos resultados alcançados por um conjunto de recursos
que foram mobilizados para esta finalidade. É uma das ferramentas mais utilizadas para
determinar a eficiência das intervenções de saúde e a principal justificativa para a
realização desse tipo de estudo é a reconhecida escassez dos recursos disponíveis. Dois
pontos principais caracterizam a análise econômica: 1) primeiro, ela lida tanto com as
entradas (inputs) como com os resultados produzidos (outputs); 2) em segundo lugar, a
análise econômica está preocupada em si mesma com escolhas, em função da escassez de
recursos.
Por fim, os autores demonstram como os sistemas nacionais de saúde inserem-se
em contextos socioeconômicos e políticos específicos. Ou seja, os sistemas de saúde
conformam as economias modernas e, reciprocamente, foram desenvolvidos por elas.
Concorreram para a formação da democracia política e foram também formados por ela.
Por isso, a política de saúde comporta três dimensões complexas: 1) A dimensão da saúde
como proteção social; 2) A dimensão industrial da saúde; 3) A dimensão política da saúde.
Sendo assim, é importante compreender como a acumulação de capital em saúde se traduz
pela formação de grandes indústrias transnacionais, que conformam um complexo
industrial. E, como nas sociedades contemporâneas o bem-estar é fruto tanto do
desenvolvimento econômico quanto do desenvolvimento social.
Desta forma, a melhoria das condições de saúde não depende só do êxito das
políticas de saúde, mas também da combinação entre desenvolvimento econômico e
social, e da compatibilização entre economia de mercado, democracia e bem estar
coletivo. Está condicionada à forma como são conduzidas as diferentes políticas públicas
responsáveis pela garantia de condições mínimas de bem-estar para a população. A partir
disto, é possível compreender como o a desigualdade que se reproduz no sistema de saúde
brasileiro se relaciona com o modo como o mesmo foi concebido. Foi em um período de
crise, seguido da adoção de políticas de cunho liberal, que impuseram barreiras e limites
para a efetiva implantação de um sistema mais universal, redistributivisto e igualitário.
Por consequência, ainda hoje o SUS carece de uma integração com as políticas de
crescimento e de desenvolvimento nacional.

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VIANA, Ana Luiza d'Avila et al. Economia e saúde. In: Clínica Médica [2ed. ampl. rev.]. Manole, 2016.

  • 1. RESENHA Aluno: Benilton de Oliveira Almeida de Andrade Curso: Ciências Econômicas Disciplina: Laboratório de Interpretação de Texto Texto: VIANA, Ana Luiza d'Avila et al. Economia e saúde. In: Clínica Médica [2ed. ampl. rev.]. Manole, 2016. Os autores abordam a relação entre economia e saúde, apresentam que esta pode ser estudada a partir de diferentes abordagens. Neste sentido, apresentam que a economia pode ser aplicada para analisar a complexidade dos custos relacionados aos meios necessários para alcança-la, assim como os processos e tecnologias médicas utilizados na escolha de um tratamento ou na organização de um serviço de saúde. Deste modo, a Economia da Saúde se insere em um campo de investigação da disciplina “Economia e Saúde”. Estuda a formação das sociedades modernas, a constituição e o papel das instituições e os modernos sistemas de proteção social. Foi desenvolvida a partir da década de 1960 e impulsionada pela crise dos modernos sistemas de proteção social. Momento em que o método econômico passou a ser decisivo para o controle do déficit público, no entanto pouco se falava sobre o estado de saúde da população ou dos gastos em saúde sobre o desenvolvimento econômico. Inicialmente, um dos grandes entraves enfrentados foi a contradição entre a abordagem econômica e a ética médica, pois na deontologia médica o interesse individual deve prevalecer sobre o coletivo. Para os economistas, compradores e vendedores representam as unidades econômicas individuais. O mercado é o local do encontro, da interação e das trocas entre compradores e vendedores, ou seja, da configuração da oferta e demanda (ou procura) de bens e serviços. A oferta é definida como a quantidade de um bem ou serviço que os produtores desejam vender por unidade de tempo, ao passo que a demanda expressa a quantidade que os compradores desejam adquirir no mercado. A elasticidade é o conceito que permite quantificar os impactos na quantidade ofertada/demandada de um produto
  • 2. em virtude de mudanças nos fatores que influenciam sua oferta e demanda. Em mercados competitivos, as curvas de oferta e demanda mostram a quantidade que será ofertada pelos vendedores e as quantidades que serão demandadas pelos compradores em função dos preços. No entanto, a partir do que propõe Kenneth Arrow, os autores demonstram como a demanda da saúde se diferencia dos diferentes setores da economia. Sendo assim, a natureza da demanda individual por serviços de saúde é irregular e imprevisível. Pois, a necessidade de saúde ocorre, em geral, em uma circunstância excepcional, diante de uma doença ou agravo, dificultando escolhas racionais por parte do consumidor (paciente ou usuário). Assim, a demanda por produtos e serviços de saúde pode ser fortemente estimulada pela atuação dos profissionais de saúde, sobretudo os médicos, e o paciente não possui controle sobre essa importante variável, que determina o quanto ele irá consumir de medicamentos, exames diagnósticos e procedimentos. A teoria econômica associa a necessidade de regulação com a existência de falhas que podem afetar a eficiência do mercado e o bem-estar da sociedade, tendo em vista que os conflitos decorrentes do comportamento e dos interesses desses atores tendem a afetar negativamente o adequado funcionamento desse mercado. Na relação entre as operadoras de planos de saúde e os usuários podem ocorrer várias falhas, uma delas é a seleção adversa a partir de uma análise imprecisa do risco oferecido pelo usuário, assim como a possível alteração do mesmo. Outra questão é o risco moral, que se relaciona com a assimetria de informação prestada aos diferentes usuários, pois a partir dos diagnósticos oferecidos os operadores podem ser estimulados a consumir uma quantidade maior de produtos e serviços. Em relação aos prestadores de serviço, apresenta falhas em função da incorporação de novas tecnologias e no que se refere a indução de demanda feita pelo prestador de serviço em sua relação com os usuários. Diante disto, os autores afirmam que o mercado de serviços de atenção à saúde não é capaz de ofertar adequadamente à população planos de assistência médica, de modo que se torna necessária a atuação do Estado no sentido de regular as práticas e as falhas existentes nesse mercado. A partir da análise do financiamento e sistemas de saúde os autores demonstram como os usuários podem ter acesso aos serviços de saúde de três formas distintas: 1) sistemas nacionais de saúde; 2) modelo de seguro social; 3) acesso pelo próprio mercado. Mas, há também casos onde há a prevalência de sistemas mistos. É o caso do Brasil, onde convivem dois subsistemas de saúde: o Sistema Único de Saúde (SUS), público e pelo sistema de saúde suplementar, privado.
  • 3. A partir do valor total gasto com saúde por cada Estado, há a avaliação econômica em saúde que se produz a partir dos resultados alcançados por um conjunto de recursos que foram mobilizados para esta finalidade. É uma das ferramentas mais utilizadas para determinar a eficiência das intervenções de saúde e a principal justificativa para a realização desse tipo de estudo é a reconhecida escassez dos recursos disponíveis. Dois pontos principais caracterizam a análise econômica: 1) primeiro, ela lida tanto com as entradas (inputs) como com os resultados produzidos (outputs); 2) em segundo lugar, a análise econômica está preocupada em si mesma com escolhas, em função da escassez de recursos. Por fim, os autores demonstram como os sistemas nacionais de saúde inserem-se em contextos socioeconômicos e políticos específicos. Ou seja, os sistemas de saúde conformam as economias modernas e, reciprocamente, foram desenvolvidos por elas. Concorreram para a formação da democracia política e foram também formados por ela. Por isso, a política de saúde comporta três dimensões complexas: 1) A dimensão da saúde como proteção social; 2) A dimensão industrial da saúde; 3) A dimensão política da saúde. Sendo assim, é importante compreender como a acumulação de capital em saúde se traduz pela formação de grandes indústrias transnacionais, que conformam um complexo industrial. E, como nas sociedades contemporâneas o bem-estar é fruto tanto do desenvolvimento econômico quanto do desenvolvimento social. Desta forma, a melhoria das condições de saúde não depende só do êxito das políticas de saúde, mas também da combinação entre desenvolvimento econômico e social, e da compatibilização entre economia de mercado, democracia e bem estar coletivo. Está condicionada à forma como são conduzidas as diferentes políticas públicas responsáveis pela garantia de condições mínimas de bem-estar para a população. A partir disto, é possível compreender como o a desigualdade que se reproduz no sistema de saúde brasileiro se relaciona com o modo como o mesmo foi concebido. Foi em um período de crise, seguido da adoção de políticas de cunho liberal, que impuseram barreiras e limites para a efetiva implantação de um sistema mais universal, redistributivisto e igualitário. Por consequência, ainda hoje o SUS carece de uma integração com as políticas de crescimento e de desenvolvimento nacional.