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Sumário
O primeiro encontro.........................................................4
Um telefonema desaforado................................................10
O segundo encontro.........................................................15
Mudando de opinião........................................................21
Créditos........................................................................27
Sobre o autor.................................................................28
Contribua com a literatura................................................29
Oprimeiroencontro
NAQUELA FRIA TARDE DE DOMINGO, 3 de agosto de 2003, Rodrigo
pegou o 073, em direção ao Donna's Burger, na Enseada do Suá,
ontem tentaria encontrar Drielli, sua ex-colega do Centro Educa-
cional Michelangelo, para pedir ajuda da mesma para que voltas-
se a estudar lá, uma vez que foi devolvido à escola de origem, sob
a alegação de não adaptação ao ambiente escolar.
Todos os domingos, após a ir à missa na Paróquia Santa Rita,
Drielli passava naquela la comer seu X-tudo com dobro de carne,
queijo e bacon. Do lado de fora, Rodrigo, ansiosamente esperava
sua ex-colega. Quando ela saiu, o rapaz se aproximou e disse:
- Oi, Drielli, boa noite. Eu preciso falar com você.
- Rodrigo, não tenho mais nada pra falar com você. Vá embora!
- Drielli, por favor, me ouça.
- Fala o que você precisa falar e me deixe ir embora.
- Quero te pedir perdão por ter sido ingrato contigo, ao afir-
mar que foi você quem entregou as cartas ao João Roberto, na
qual pedi ajuda aos alunos. Você disse que a acusação feita por
mim foi uma facada no seu coração, depois de toda ajuda que
você me deu.
- Digo, do fundo do meu coração, que jamais vou perdoar sua
ingratidão, ainda que eu fique no leito de um hospital, entre a
vida e a morte. Depois da merda feita, é facil pedir perdão. Mude
suas atitudes, Rodrigo. Seus pedidos de perdão por mais sinceros
que pareçam ser, não vão mudar o que você fez, você não acha?
De boas intenções, o inferno está cheio. Você não valorizou a
4 | MAXWELL DOS SANTOS
oportunidade que lhe foi dada. Por tantas vezes, lhe aconselhei
pra que mudasse de atitude, e você, fez o quê: deu de ombros. É
inútil agora chorar o leite derramado.
- Tava de cabeça quente, agi por impulso, sem medir as conse-
quências. Me sentia sobre pressão, por conta da semana de pro-
vas, e não tinha estudado pras avaliações de física e matemática.
Por falta de base, não consegui entender os conteúdos.
- E daí? O Michelangelo é uma escola particular. Ana Cláudia e
Flamarion são empresários da educação. Eles querem resultados,
não desculpas. Você foi incompetente ao não conseguir entregar
os resultados esperados pela escola. Sendo assim, eles te manda-
ram pra escola de origem. Quando um empregado tem desempe-
nho abaixo do esperado, o que acontece com ele? É despedido. É a
mesma coisa que acontece quando um técnico de um clube de fu-
tebol, como o Flamengo, não entrega os resultados desejados.
Menos retórica e mais atitude, Rodrigo!
- Você, a Rafaela, a Jéssica e a Débora, ao lerem minha carta,
disseram que eu estava me vitimizando, que vocês fizeram o
máximo, e eu, o mínimo, falando aquelas coisas pro meu bem.
- Não me arrependo de nada do que disse. Reitero todas as coi-
sas que falei. Se tivesse levado a sério, não teria sido convidado a
se retirar do Michelangelo.
- Encaminhei uma carta à Ana Cláudia, na qual fiz algumas
reivindicações, como criar grupos de estudos após o horário da
aula. No entanto, João Roberto me chamou pra dizer que isso fu-
gia ao limite da ação da escola. Ainda disse que se não tivesse nin-
guém pra me ajudar, eu devia dar um jeito, jogando na minha
5 | MAXWELL DOS SANTOS
cara as notas baixas e precisava melhorá-las. O coordenador nada
propôs em termos pedagógicos pra melhorar meu rendimento es-
colar. Se os pedidos tivessem sido atendidos a contento por Ana
Cláudia, ainda estaria estudando no Michelangelo.
- A escola não tem como resolver seus problemas educacionais.
É um problema seu. Ana Cláudia não tinha obrigação de criar
grupos de estudos pra te dar reforço. Era você, ao chegar em casa,
que deveria sentar a bunda na cadeira e meter as caras nos livros
de física e matemática. Tenho certeza que é muito mais preguiça
do que dificuldade.
- Como, se tive uma péssima base do Ensino Fundamental, fei-
to em escola pública?
- Ah ,Rodrigo, esse discurso de falta de base já encheu o saco!
Vira o disco, cara! Você, como bolsista, tinha obrigação de estudar
mais que os outros, não só pra manter a bolsa, como compensar
as dificuldades alegadas em física e matemática. Além disso, a
bolsa de estudos não é um ato de caridade dos donos do Miche-
langelo. Eles fazem isso pra abater imposto de renda. O Diego,
aluno do 1º ano integral 2, bolsista, também veio de escola públi-
ca, com muitas dificuldades, mas ele correu atrás e agora tá ga-
nhando medalhas nas Olimpíadas de Matemática, Física e Quí-
mica. Qual é a sua desculpa, Rodrigo?
- Como eu poderia estudar, com a base educacional ruim? En-
trei no Michelangelo, praticamente no meio do ano, enquanto no
Tobias, o ano estava próximo do fim, ainda no ano letivo de 2002,
um ano bastante tenso, por conta das greves dos professores, em
virtude do atraso de salários de seus vencimentos. Eles paralisa-
6 |SENZA PIETÀ
ram as atividades por cinco vezes. Muitos colegas abandonaram a
escola. Se tivesse entrado no início do ano, as coisas poderiam ter
sido melhores.
- Lá vem você com suas desculpas. Cara, você tem que se aju-
dar. Quem quer, dá um jeito. Quem não quer, dá desculpa e você
vive dando desculpa pra tudo. Por essas e outras, a Ana Claudia se
cansou de você.
- Eu ainda pedi à Ana Cláudia pra adiar a prova, porque não ti-
nha condições pedagógicas e psicológicas de fazer a mesma, to-
davia fui informado que teria que apresentar atestado médico e
ainda pagar uma taxa de 20 reais por prova. Fiz normalmente as
provas de biologia, história, espanhol e química, mas na hora da
prova de geografia, tive uma discussão pesada com a Rafaela, e
com tanta raiva, acabei entregando as provas em branco. A escola
não me deu o livro de geografia. Como eu ia fazer a prova?
- Você disse que a escola não te deu o livro de geografia, como
se ela tivesse a obrigação de fornecê-lo. O Michelangelo te deu a
bolsa de estudos. Você tinha que ter corrido atrás da grana,
fazendo alguma atividade, como catar latinha ou vai dizer que
tem vergonha?
- Fui encaminhado à sala de João Roberto. Ele disse que con-
versaria com Ana Cláudia pra definir meu futuro. No dia 18 de ju-
lho, ele me informou que não estaria mais no Michelangelo no se-
gundo semestre e voltaria pra minha escola de origem, afirmando
que a experiência não deu certo, acenando uma remota possibili-
dade de retornar em 2004. O mais humilhante é que ele me
acompanhou até a porta.
7 | MAXWELL DOS SANTOS
- Bem feito pra você. Acho é pouco.
- Nas férias, mergulhado na angústia, pensando onde foi que
errei enquanto estudante do Michelangelo, juntei minhas forças e
escrevi uma carta à Ana Cláudia, onde expus minhas falhas e pedi
uma nova oportunidade pra estudar na escola. No auge da de-
pressão, frequentei a Assembleia de Deus no Itararé, pra pedir ao
Senhor, em sua infinita misericórdia, que Ele revertesse o quadro.
A carta já tá nas mãos de Ana Cláudia.
- Não adianta ir à igreja, orar a Deus e não mudar de atitude.
Entenda que você é o único responsável por seu sucesso ou fracas-
so.
- Juro por Deus que fiz o possível e até o impossível pra apro-
veitar a oportunidade dada, mas tive problemas dentro e fora de
sala de aula que pudessem imaginar a vã de filosofia de João Ro-
berto, que me praticamente me expulsou do Michelangelo, sem
que eu pudesse me despedir de vocês, como um cachorro sarnen-
to.
- Se tivesse aproveitado a chance, estudando e não se fazendo
de coitadinho, ainda estudaria conosco.
- Te peço encarecidamente que converse com Ana Cláudia pra
que reconsidere sua decisão de me enviar pra escola de origem.
Voltar àquela escola seria aceitar minha derrota, uma verdadeira
vergonha. Por favor, me ajude.
- Eu não vou interceder por você junto à Ana Cláudia porcaria
nenhuma. Tá pensando que eu sou sua moleca de recados ou uma
mensageira? Dá um tempo, Rodrigo! Aqui entre a gente, Rodrigo,
você deve ter pensado: “Vou mandar uma carta toda melosa pra
8 |SENZA PIETÀ
Drielli, que vai se derramar em lágrimas e vai implorar pra Ana
Cláudia me aceitar de novo no Michelangelo”. Se esta era a estra-
tégia, você deu com os burros n'água. Você tá redondamente en-
ganado. Ana Cláudia é uma empresária da educação, tá na razão
dela, e assino embaixo. O jogo acabou. Game over. Pelo amor de
Deus, não me procure mais, nem me dirija mais a palavra! Ao me
ver na rua, finja que não me conhece. Adeus, Rodrigo.
Após Drielli entrar no carro da mãe, Rodrigo chorou copiosa-
mente.
9 | MAXWELL DOS SANTOS
Umtelefonemadesaforado
RODRIGO ESTAVA LAVANDO OS PRATOS do café da manhã, quando o
telefone tocou. Ele foi para a sala e tirou o telefone do gancho:
- Alô, quem fala?
- Bom dia, Rodrigo. É Ana Cláudia quem tá falando.
- Bom dia, Ana Cláudia.
- Rodrigo, há uma hora, a doutora Rita de Cássia, mãe da Dri-
elli veio fazer uma queixa contra você, dizendo que você foi pro-
curá-la no Donna's Burger, pedindo sua ajuda pra voltar a estudar
no Michelangelo. Ocorre que ela tá se sentindo assediada por você
e não quer mais manter nenhum contato. A mãe dela disse que se
você continuar procurando Drielli, vai procurar a polícia.
- Isso é um absurdo! Por mim, que ela chame a Polícia Militar,
Polícia Civil, Marinha, Exército,Aeronáutica, Guarda Municipal,
Polícia federal, Polícia Rodoviária Federal, o FBI, a Scotland Yard,
a Polícia Montada do Canadá, a Liga da Justiça, os Vingadores e o
diabo a quatro.
-Você não tem a noção do perigo.
- Fui atrás da Drielli, na melhor das intenções, pra pedir que
ela intercedesse junto à senhora pra que eu voltasse a estudar no
Michelangelo, por conta do papel de liderança que ela exerceu
junto aos colegas na minha adaptação ao Michelangelo. De ne-
nhuma maneira quis assediá-la.
- De boas intenções, o inferno tá cheio. No entanto, Rodrigo,
foi como ela se sentiu.
10 | MAXWELL DOS SANTOS
- Só lamento, professora. Eu só queria reaver minha bolsa de
estudos no Michelangelo. A Drielli, após participar da eucaristia
na Paróquia Santa Rita, queria comer seu X-tudo. Fui na lancho-
nete pedir que ela conversasse com a senhora e revertesse a deci-
são. Na última sexta-feira, deixei uma carta na recepção da esco-
la, aos cuidados da senhora.
- Recebi a sua carta, na qual você dizia que estava arrependido
do que fez. Mas eu e os professores do Michelangelo não estamos
convencidos do seu arrependimento. Cavalo selado só passa uma
vez e você não soube aproveitar a oportunidade. Por que devería-
mos acreditar em você? Até quando vai continuar enganando a si
mesmo?
- Sinceramente, Ana Cláudia, eu não tô me enganando. Apenas
disse a verdade. Que culpa tenho de ter vindo da escola pública,
com baixa qualidade de ensino, greves constantes e professores
mal pagos e desmotivados? Como já dizia o saudoso antropólogo
Darcy Ribeiro: A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um proje-
to.
- Ah, Rodrigo, nem de Darcy Ribeiro eu gosto. Tenho pavor de
políticos esquerdistas. Contra fatos, não há argumentos. O seu
problema, Rodrigo, é querer terceirizar as responsabilidades.
Você devia ter estudado mais, se esforçado, metido as caras nos
livros. A Drielli e as outras meninas me contaram que te aconse-
lharam a isso, mas você deu de ombros.
- Só no fantástico mundo da senhora que o aluno é o único cul-
pado pelo seu fracasso escolar. Não acredita que o meio pode in-
fluenciar o processo de aprendizagem?
11| MAXWELL DOS SANTOS
- Não, Rodrigo. Há muitos alunos bolsistas que vieram de es-
cola pública e estudam no Michelangelo, que correram atrás e
hoje dão frutos. Já passou da hora de você parar de reclamar e to-
mar as rédeas da sua vida.
- Ana Cláudia, eu tô arrependido de tudo que eu fiz. Por favor,
me dê outra chance pra estudar no Michelangelo.
-Isso tá fora de cogitação, Rodrigo. Além disso, você foi gros-
seiro, destratou pessoas e ainda quer voltar a estudar à escola?
Ora, Rodrigo, me poupe! Sua saída pra nós foi um alívio, porque a
comunidade escolar te ajudou dentro do possível e você foi ingra-
to. Quase entrou em vias de fato com Rafaela, como se estivesse
fora de si.
- Me senti sob pressão por ter entrado no meio do ano, próxi-
mo ao período de provas. Ainda pedi à senhora pra remarcar mi-
nhas provas, porque não me sentia preparado pra fazê-las, mas a
senhora me disse que só era possível pedir remarcação de prova,
se tivesse com atestado médico e ainda pagasse uma taxa.
- Eu preciso dar um tratamento isonômico a todos os alunos.
Não seria justo eu aplicar as provas pra você em outro período, a
não ser por motivo de saúde.
- Se a senhora tivesse acatado todas as sugestões que eu colo-
quei na carta anterior, ainda estaria estudando no Michelangelo.
- Seus pedidos feitos na primeira carta eram impossíveis de
atender, uma vez que fugiam do limite de ação da escola.
- Se a escola quisesse investir em mim, teria disponibilizado,
pelo menos um professor pra me dar assistência nas matérias que
eu tenho dificuldade.
12|SENZA PIETÀ
- Mas é claro que não, Rodrigo. Você que tem que superar seus
complexos e começar a estudar por conta própria. O problema é
que você é muito preguiçoso e acomodado.
- Se a senhora pensa que sou acomodado, paciência. Só Deus
sabe o que fiz pra poder usufruir a chance que me fora dada. Por
motivos alheios à minha vontade, não pude continuar na escola.
- Coisa nenhuma. Eram fatores que estavam sob seu domínio.
Deus é uma invenção dos homens. Ele não existe. Suas escolhas
vão determinar o seu futuro. Vai fugir das suas responsabilida-
des,Rodrigo?
- Professora, admito não ter segurado a onda diante da pres-
são. No mais, eu me sinto uma vítima do sistema educacional pú-
blico, que não me deu as condições necessárias pra que eu pudes-
se aproveitar a chance oferecida.
- Como você me cansa, Rodrigo! Você é mesmo carne de pesco-
ço, hein? Continua irresponsável e não toma pra si as responsabi-
lidades. Seu futuro é duvidoso, caso persista nestas atitudes.
- Além de diretora pedagógica do colégio onde estuda a elite
econômica do Espírito Santo, a senhora tá bancando a Mãe Diná
ou o Walter Mercado, o astrólogo do ligue djá, fazendo adivinha-
ções do meu destino, que só pertence a Deus? Prevê o quê: que eu
morra assinado por dívidas de drogas, que acabe exercendo tra-
balhos braçais, como puxar carroça? Faça seu prognóstico.
- Deixe de gracinha, Rodrigo. Sou uma mulher cética. Não
acredito em previsões, horóscopo ou religiões.
- Todos são ateus até o avião cair.
- Meu caro, já cansei dos seus insultos e desaforos. Termino
13| MAXWELL DOS SANTOS
esta ligação te dando um conselho, não de educadora, mas de
amiga: pare de procurar a Drielli, senão você vai ter sérios proble-
mas, até mesmo ser apreendido e internado no ICAES. Lá, os me-
nores são maltratados. É o que você quer, Rodrigo? Imagina sua
mãe aflita, ao ver um filho no reformatório. Fora que você terá
portas fechadas pra empregos, porque as empresas não contra-
tam pessoas que foram internadas no ICAES.
- Eu não vou mais ouvir suas acusações e desaforos. Vou desli-
gar, porque tenho mais o que fazer. Passar bem, Ana Cláudia.
- Espero que tenha entendido meu recado. Adeus, Rodrigo.
14 |SENZA PIETÀ
Osegundoencontro
NO SÁBADO, 9 DE AGOSTO, RODRIGO estava na praça de alimentação
do Vitória Mall, onde comprou uma pizza média com uma garra-
fa de Fanta Uva. Ao se aproximar de uma das mesas para comer
seu lanche, deu de cara com Drielli, que disse:
- Mas que inferno, Rodrigo! Até no shopping, você me perse-
gue! Dá o fora daqui, senão eu vou chamar o segurança!
- Que culpa tenho, minha filha, da gente se encontrar? A gente
se esbarrou por uma coincidência. O shopping é uma área públi-
ca.
- Não, senhor. O shopping é uma propriedade particular.
-Propriedade particular de uso público.
- Whatever, Rodrigo. Soube que a Ana Cláudia te deu um escu-
lacho no telefone pra que você parasse de me importunar.
- Quero que ela e você se danem! Tô cagando e andando pras
duas.
- Viu como você é ingrato e cospe no prato que comeu?
- Como eu cuspi no prato que eu não comi? Foi um prato que
me tiraram, antes que eu pudesse dar as primeiras garrafadas.
- O problema é seu.
- É muito fácil julgar e apontar o dedo quando você mora
numa mansão na Mata da Praia, teve oportunidade de estudar no
Michelangelo desde a primeira série do Ensino Fundamental,
sempre teve os livros e materiais escolares comprados pelos seus
pais, tem alimentação saudável e balanceada, seus pais te dão
15| MAXWELL DOS SANTOS
mesada pra seus passeios no shopping, onde você vai ao cinema e
à praça de alimentação comer no McDonalds aquele Big Mac ca-
prichado. Amiga, saia dessa bolha aí e venha a ver o mundo real.
Pelo amor de Deus, saia da redoma!
- Pra começo de conversa, eu não sou e nunca fui sua amiga,
no máximo, colega de classe. Se tenho esse padrão de vida, é por-
que os meus pais se esforçaram por meio do trabalho e do estudo.
A bem da verdade, você está com inveja e olho grande. Que coisa
feia!
- Você diz que não é moleca de recados, mas age como se fosse,
ao defender a decisão de Ana Cláudia em me devolver à minha es-
cola de origem. Como poderia entregar os resultados esperados,
se a escola não me deu as condições necessárias pra que isso ocor-
resse?
- Dou razão a quem tem razão. Ana Cláudia está certa e você
está completamente errado.
- Reconheço que errei, pela falta de equilíbrio emocional em li-
dar com a pressão da semana de provas. Tava muito nervoso. Se
fui grosseiro com você e demais colegas do Michelangelo, peço
desculpas. O que você ganha com todo esse ressentimento?
- É tarde demais pra dizer que se arrepende do que fez. O que
está feito, está feito, não tem como voltar atrás. Não fui eu quem
me dei mal. Por falta de aviso que não foi.
- Reitero que não tinha condições de comprar o livro de geo-
grafia. Se a escola não queria comprar o livro, por que vocês não
se juntaram pra comprar o mesmo? Caso tivesse todas as condi-
ções pra estudar e não tivesse dado valor, você teria razão em jul-
16 |SENZA PIETÀ
gar. No entanto, diante da minha falta de condições financeiras e
pedagógicas, seus juízos de valor são levianos e cruéis.
- Minhas pontuações não são nada levianas.
- Na década de 90, estudei na rede pública municipal de Vitó-
ria. Naquela época, havia a determinação da Secretaria de Educa-
ção que proibia reprovar os alunos. Tudo pra fazer bonito ao Mi-
nistério da Educação e ao Banco Mundial. Os professores, mesmo
contrariados, eram obrigados a passar os alunos, ainda que eles
não soubessem ler, escrever e dominar as quatro operações.
- Os professores da escola pública, especialmente os concursa-
dos, quando entraram, sabiam dos salários baixos. Se estão insa-
tisfeitos, peçam exoneração e busquem melhores oportunidades
profissionais na iniciativa privada. É bom que dá espaço pra
quem quer dar aulas de verdade. Desculpe a expressão, mas os
professores estão cagando e andando pros alunos. Tão preocupa-
dos com seu salário na conta no fim do mês. Tem que demitir essa
cambada embora e colocar gente que gosta que faz, sem reclamar
e com sorriso no rosto.
- Os professores, há mais de sete anos, enfrentam o arrocho
salarial. Por conseguinte, eles trabalham desmotivados e dão uma
aula de qualquer jeito, o que reflete na qualidade do ensino. Vai
continuar apontando o dedo? Vai continuar fazendo juízo de valor
a meu respeito, sem ao menos conhecer a minha história e as mi-
nhas origens?
- Aponto e vou continuar apontando o dedo na sua cara, por-
que vi tudo que aconteceu, ninguém me contou, Rodrigo. Quem
não te conhece, te dá razão e fica com pena de você. Deixa de ser
17| MAXWELL DOS SANTOS
mau-caráter e cínico.
- Fui privado de fazer uma oitava série em turma, sem direito à
formatura e camisa de formandos, por conta de um projeto sofrí-
vel de rearranjamento dos alunos em grupos de trabalho. No final
do ano de 2000, autoritariamente, sem consultar a comunidade
escolar, a direção do Golbery do Couto e Silva, escola onde eu es-
tudava, aplicou uma prova-relâmpago em todos os alunos. Cons-
tatou-se que eu tinha dificuldades no raciocínio lógico-mate-
mático na escrita.
- Os outros são sempre os culpados pelos seus problemas.
- Em vez de me deixar ficar na oitava série para resolver as difi-
culdades em horário alternativo, me jogaram numa turma equi-
valente à sexta série que chamavam de Fundamental 2. Se por um
lado, pude conhecer outros colegas de outras faixas etárias, por
outro, me sentia constrangido em estudar com aqueles meninos
de sexta série. A situação ficou mais tranquila quando pude ir
para o Intermediário, equivalente à sétima série e os alunos eram
praticamente da mesma faixa etária.
- E daí?
- A cada três meses, havia uma avaliação para definir se o alu-
no permanecia no GT ou iria para um GT mais avançado. Fiz es-
sas avaliações por duas vezes. Só algum tempo depois, pude ir
para os Estudos Avançados, equivalente à oitava série, que teve só
10 alunos.
- Seus argumentos não me convencem.
- Fiz um tal de reforço, mas que era de manhã e não servia para
nada. O almoço fornecido pela escola era uma gororoba e tinha
18 |SENZA PIETÀ
gosto de comida de hospital. Às vezes conseguia o dinheiro para
pagar um PF ou almoçava na casa da Christine, minha colega de
escola. Vai continuar apontando o dedo, Drielli?
- Você é um ingrato e cospe no prato que comeu, ao criticar a
comida da escola que você estudou, paga com o dinheiro dos pa-
gadores de impostos, como os meus pais. Se achava a comida
ruim, por que não trouxe ela de casa? Agora entendi que a ingra-
tidão é uma constante em sua vida. Você não sabe agradecer
aquilo que tem. Vive reclamando que nem um velho ranheta de
80 anos. Nem meu avô, aos 71 anos, é tão ranzinza. Rodrigo, aos
16 anos, você é amargurado, tóxico e vitimista. Penso que você
precisa procurar um psicólogo pra você tratar esses complexos.
Você é uma pessoa mentalmente perturbada.
- Eu não cuspi no prato que comi. Falei que a comida fornecida
pela escola que estudava era uma porcaria e digo mil vezes mais,
se preciso for. Não disse nenhuma mentira. Para seu governo, eu
também pago impostos, toda vez que vou ao armarinho da dona
Nilma comprar um caderno de 20 matérias, ou no mercadinho do
seu Agenor, para comprar ovos.
- Vá procurar um psicólogo.
- Sim, tenho problemas psicológicos que precisam ser trata-
dos. Matilde, a psicóloga que trabalhava no posto do meu bairro,
pediu exoneração da Prefeitura de Vitória e foi trabalhar no Tri-
bunal de Justiça. Desde então, o cargo tá vago na unidade de saú-
de. Até hoje não consigo compreender porque a Ana Cláudia não
me comunicou o fato pessoalmente que eu tava sendo desligado
do Michelangelo. Aquele verme do João Roberto disse que foi es-
19 | MAXWELL DOS SANTOS
colhido pra comunicar a decisão, porque era o mais equilibrado.
Por que ela não falou comigo na decisão, delegando a terceiros a
comunicação do fato? Ela temia uma relação violenta da minha
parte? Não havia outra maneira de resolver essa questão que não
fosse me reenviar ao Tobias? A escola me viu como mero investi-
mento que não deu retorno a curto prazo. O capitalismo selvagem
imperou na educação.
- Ana Cláudia não te chamou para comunicar a decisão, por-
que tava com nojo da sua cara e não queria mais te ver. Você foi
pra ela a maior decepção que ela teve na vida, porque não entre-
gou os resultados que ela queria. Portanto, você foi convidado a se
retirar do Michelangelo e voltando para escola de origem, de onde
você não deveria ter saído. Soube de fonte segura que ainda não
se apresentou à escola. Não vai demorar muito pra alguém de-
nunciar ao Conselho Tutelar, e aí, sua mãe vai ter sérios proble-
mas.
- Eu não me apresentei nem vou me apresentar ao Tobias, por-
que tô matriculado no Theta do Centro, onde consegui bolsa inte-
gral. Lá, além do uniforme e das apostilas, ganhei uma cartela de
passe escolar para frequentar a escola.
- Volto a dizer: Dono de escola não quer desculpas, quer resul-
tados. Está em suas mãos mudar o seu destino. O conselho que
lhe dou é este: mude de atitudes ou vai penar nessa vidinha mise-
rável. Espero que você aproveite esta oportunidade e seja bem su-
cedido. Passar bem, Rodrigo.
20|SENZA PIETÀ
Mudandode opinião
NUMA TARDE DE DOMINGO, DRIELLI ligou para Rodrigo:
- Olá, Rodrigo, boa tarde. É a Drielli que tá falando.
- Oi, Drielli. Tá me ligando pra quê?
- Após pensar no que você disse, mudei de opinião em relação
a você, que tava certo, e a Maria Cláudia, errada. Se você tivesse
uma educação de qualidade, teria deslanchado no Michelangelo.
Me perdoe pelas palavras duras que disse a você. Tava com meu
ego ferido, cheia de ressentimentos. Cega pelo ódio, não conse-
guia ver mais nada ao meu redor. Como você tem sido sua vida lá
no Theta?
-Tenho gostado bastante do Theta. Lá estou fazendo monitoria
pras disciplinas de física e matemática. Após as aulas, vou com os
colegas na lan house da Gama Rosa para jogar Counter-Strike, por-
que ninguém é de ferro. É maravilhoso que você tenha mudado de
opinião e reconhecido seus erros, após nossas conversas. Da mi-
nha parte, você tá perdoada.
- O governo cobra muitos impostos dos contribuintes, mas não
vejo esse dinheiro sendo investido na educação. Por isso, a gente
vê tantas pessoas que saem da escola sem saber escrever o pró-
prio nome ou interpretar um texto simples. São os chamados
analfabetos funcionais, fadados aos subempregos e empregos de
baixa qualificação.
- Após pensar muito, cheguei à conclusão de que os políticos
não querem que as pessoas tenham uma educação de qualidade,
21| MAXWELL DOS SANTOS
porque se isso acontecer, elas começam a questionar e os políticos
podem ser derrubados. Pessoas que pensam, raciocinam e
questionam são bastante perigosos ao sistema.
- Há um mês, tive ânsia de vômito, ao ler um reportagem de
que hospitais conveniados ao SUS tão cobrando por exames e
consultas que deveriam ser de graça. São médicos e funcionários
induzindo os mais humildes ao engano. É por isso que a saúde no
Brasil está essa porcaria. Eles criam a dificuldade e vendem a fa-
cilidade. São bem malandrinhos, né? Sinto vergonha ser brasilei-
ra nessas horas.
- O posto de saúde do Bairro da Penha tá sem psicóloga.
- É lamentável ver bons profissionais, como a psicóloga do pos-
to do Bairro da Penha, que foi pro Tribunal de Justiça por conta
dos baixos salários. Amigo, você tem todo direito de não transpa-
recer alegria, de não fingir uma falsa felicidade. Conversando
com mamãe, ela disse que conhece uma psicóloga e vai ver com
ela se pode te atender de graça. Me passa seu telefone para que
ela entre em contato.
- Muito obrigado pelo carinho comigo. Pode passar meu nú-
mero para a psicóloga. Meu telefone é 3345-8033.
- Diguinho, meu bem, tenho um babado forte pra te contar: O
professor Miguel, de ciências, saiu do Michelangelo tudo por cau-
sa de uma atividade de sensibilização feita com as turmas de séti-
ma série dentro de uma caverna, num parque que agora não me
lembro o nome, pedindo que os alunos se tocassem. Duas alunas
não gostaram, e acompanhadas dos pais, foram reclamar pra Ana
Cláudia, que chamou o professor pra uma conversa e ele apresen-
22|SENZA PIETÀ
tou a carta de demissão.
- Drielli, na moral, esse professor Miguel não é flor que se
cheire. Corre à boca pequena que ele assediava as meninas do ter-
ceiro ano e pré-vestibular do Lamarck. Essa atividade de sensibi-
lização… sei não, hein? Tenho certeza que era oportunidade para
cometer alguma safadeza. Resumo da balada: esse professor é
bem safadinho.
- Eu também acho.
- Os pais dessas meninas são muito vacilões. Eles tinham que
dar parte desse professor à polícia. Esse cara tem que ser preso!
Creio que os pais não deram parte do professor Miguel à polícia,
porque são de famílias tradicionais, vira e mexe, estão nas colu-
nas sociais, e não querem exposição. Por isso, rolou a operação
abafa.
- Triste, mas é assim que funciona.
- O troféu King King ficou pra Ana Cláudia, em entrevista à
Rádio RBN, ao afirmar que o ocorrido na escola seria apurado in-
ternamente e nada teria a declarar, em respeito à privacidade das
menores e do professor.
- São os negócios, meu querido. A escola só quer preservar sua
imagem.
- Ah, se uma parada dessas ocorresse numa escola do meu
bairro, o professor seria linchado.
- João Roberto também foi pro olho da rua.
- Mentira!
- Verdade, Rodrigo. O coordenador do Fundamental 2 e Ensino
Médio, foi mandado embora do Michelangelo por justa causa, por
23| MAXWELL DOS SANTOS
conta de uma acusação gravíssima de assédio sexual contra Mi-
chelle, professora de artes e sobrinha da Ana Cláudia. Foi mexer
logo com a parente da dona? Segundo boatos, ela já não aguenta-
va mais as investidas do pedagogo. Onde se ganha o pão, não se
come a carne. Acho muito difícil que o João Roberto consiga em-
prego em outra escola particular em Vitória, talvez no Espírito
Santo, porque os donos de escolas mantêm contato uns com os
outros. Ele queimou seu filme feio.
- João Roberto é o pedagogo sem noção. Parece o Joselito Sem-
Noção do Hermes e Renato, programa de humor da MTV. Como ele
vai dar em cima da sobrinha da dona da escola que o empregava?
É ousadia demais da conta, bicho! Se a Michelle correspondesse,
beleza, mas ela tava sendo sentindo assediada. Nas aulas de artes,
percebia como a professora se sentia transtornada com a presen-
ça daquele crápula.
- Soube por alto que ele também coagia as serventes e cozi-
nheiras a manterem relações sexuais com ele, pra que o bonitão
não fizesse a caveira delas com a Ana Cláudia.
- Todo castigo pro miserável do João Roberto é pouco. Penso
que se ele for pro inferno, nem Satanás, o príncipe dos demônios,
o aceitaria. Trata-se um psicopata e predador sexual. Esse vaga-
bundo tinha que ser castrado com faca, sem anestesia, igual fa-
zem com o boi ou o porco na roça.
- Não precisa exagerar, Rodrigo.
- Lá no Theta, soube de um caso de assédio sexual. Rosiane e
Jefferson, alunos do terceiro ano, passaram o carnaval na casa de
praia do tio dela, em Manguinhos. Não se sabe como, mas a tran-
24 |SENZA PIETÀ
sa entre eles foi gravada.
- Jesus, tem misericórdia!
- As imagens foram parar na mão de Pietro Passabon.
- O cantor pop e apresentador do Pietro e VC, programa inde-
pendente de cultura na TV Cidade Sol?
- Ele mesmo.
- Caraca, que sinistro!
- Então, o apresentador começou a assediar Rosiane, sua então
vizinha de porta, pra que ela prestasse favores sexuais, caso con-
trário divulgaria o vídeo na internet. A moça recusou, alegando
que tinha nojo dele. Ai, o distinto pai de família e cidadão de bem
disse que Rosiane tinha até um dia determinado para que ela se
encontrasse com o assediador.
- O que a Rosiane fez?
- Assustada com as ameaças, Rosiane contou aos pais sobre o
ocorrido. No dia seguinte, Rosiane e seus pais foram à Delegacia
de Proteção à Criança e ao Adolescente, onde contou sobre a
chantagem do músico. Ela mostrou ao delegado seu celular as
conversas por SMS que manteve com Pietro. Falou ainda que o as-
sediador queria encontrá-la até um determinado dia. O delegado
aconselhou a Rosiane marcar um encontro na praia, onde faria o
flagrante, que seria monitorado pelos investigadores.
- Como terminou?
- Rosiane foi à Praia de Camburi. Em seguida, Pietro, que con-
vidou a moça para entrar no carro dele. Quando Rosiane entrou
no carro, os policiais apareceram e o delegado deu voz de prisão
ao cantor. Na DPCA, Pietro disse que se reservava o direito de fi-
25 | MAXWELL DOS SANTOS
car em silêncio e só falaria em juízo. No dia seguinte, Pietro foi
encontrado morto na cela. Ele tinha mais de 30 perfurações pelo
corpo. Sua camisa estava ensanguentada.
- Esperava que ele fosse preso, processado e condenado, mas
não linchado.
- Infelizmente, nas cadeias, é a lei do cão que impera, Drielli.
Os presidiários vêm os estupradores e pedófilos como párias, tan-
to que ficam em alas separadas. Na casa do vagabundo, foram
achados vários CDs, DVDs e HDs contendo imagens de crianças e
adolescentes praticando sexo explícito com o apresentador.
- Rodrigo, na sexta-feira que vem, se Deus quiser, vou embar-
car pro intercâmbio em Vancouver. Vou ficar lá até meados de
agosto do ano que vem. O que você acha da gente comer aquela
pizza maracanã de calabresa com uma Coca Cola bem geladinha
no Vitória Mall.
- Bacana. Aceito o convite.
- Não é um adeus, mas um até breve. Em 2005, vou tentar o
vestibular em três universidades importantes, mas torcendo pros
calendários não conflitarem.
- Boa sorte pra você no intercâmbio, Drielli. Vou sentir muitas
saudades.
- Eu também, amigo. A gente se vê na sexta. Um beijo.
- Outro, meu bem.
26 |SENZA PIETÀ
Créditos
Copyleft 2021 Maxwell dos Santos
Alguns direitos reservados.
+55 27 99943-3585 | +55 27 98843-2666
sanmaxwell@gmail.com
Responsabilidade Editorial, Revisão Final, Diagramação do Miolo e
Capa | Maxwell dos Santos
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP),
Ficha Catalográfica feita pelo autor
S237v Santos, Maxwell dos, 1986 –
Senza pietà [recurso eletrônico] / Maxwell dos Santos. – Vitória:
Edição do Autor, 2021.
Modo de acesso: World Wide Web
http://www.maxwelldossantos.com.br>
ISBN 978-15-26036-97-1
1. Literatura infantojuvenil. I. Título.
CDD 028.5
CDU 087.5
27 | MAXWELL DOS SANTOS
Sobre oautor
Maxwell dos Santos é brasileiro, nascido em Vitória/ES em 1986 e
mora na referida cidade. É jornalista, radialista, designer gráfico
e servidor público da Prefeitura de Cariacica desde 2017 e profes-
sor de Literatura Brasileira dos cursinhos populares Risoflora e
Atitude. É técnico em Multimídia pelo CEET Vasco Coutinho, li-
cenciando em Letras/Português pelo Instituto Federal do Espírito
Santo e em História pelo Centro Universitário Internacional, pós-
graduando em Letras: Português e Literatura pela Faculdade de
Ciências da Bahia e em Educação Especial com Ênfase em Trans-
tornos Globais do Desenvolvimento e Superdotação pela Faculda-
de de Educação Paulistana.
28 |SENZA PIETÀ
Contribuacomaliteratura
Se você gostou da obra e quer contribuir financeiramente com o
autor para que este continue escrevendo, faça um depósito de
qualquer valor nas seguintes contas:
Caixa Econômica Federal
Pix: 108.848.757-25
PagSeguro Internet S.A
Pix: ilhanoiada@yahoo.com.br
PicPay
@maxwell.santos2 | Pix:(27)99943-3585
Neon
Pix: sanmaxwell@gmail.com
29 | MAXWELL DOS SANTOS
Este livro foi composto em Alegreya, Alegreya Sans e Alegreya Sans
SC por Maxwell dos Santos, em março de 2020.
30|SENZA PIETÀ
Este conto tem o claro objetivo de debater o fracasso escolar na rede
particular de ensino e desconstruir o conceito de meritocracia, onde
o sucesso e o fracasso dependem exclusivamente do indivíduo, mas
no caso é o aluno Rodrigo, que acabara de perder a bolsa de estudos
no Michelangelo, o colégio mais caro de Vitória, onde estudam os
filhos dos donos do PIB do Espírito Santo e devolvido à escola pública
de origem, como se fosse uma experiência que deu certo.
Vindo de escola pública, com o ensino precário e constantes graves, o
adolescente não estava preparado para o altamente conteudista e
vestibulável currículo daquela escola de elite, tampouco tinha
inteligência emocional para suportar as pressões por resultados,
entrando em conflito com os alunos.
Espera-se que este opúsculo contribua com os debates sobre a
educação no Brasil.

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Senza Pietá - Conto de Maxwell dos Santos

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  • 2.
  • 3. Sumário O primeiro encontro.........................................................4 Um telefonema desaforado................................................10 O segundo encontro.........................................................15 Mudando de opinião........................................................21 Créditos........................................................................27 Sobre o autor.................................................................28 Contribua com a literatura................................................29
  • 4.
  • 5. Oprimeiroencontro NAQUELA FRIA TARDE DE DOMINGO, 3 de agosto de 2003, Rodrigo pegou o 073, em direção ao Donna's Burger, na Enseada do Suá, ontem tentaria encontrar Drielli, sua ex-colega do Centro Educa- cional Michelangelo, para pedir ajuda da mesma para que voltas- se a estudar lá, uma vez que foi devolvido à escola de origem, sob a alegação de não adaptação ao ambiente escolar. Todos os domingos, após a ir à missa na Paróquia Santa Rita, Drielli passava naquela la comer seu X-tudo com dobro de carne, queijo e bacon. Do lado de fora, Rodrigo, ansiosamente esperava sua ex-colega. Quando ela saiu, o rapaz se aproximou e disse: - Oi, Drielli, boa noite. Eu preciso falar com você. - Rodrigo, não tenho mais nada pra falar com você. Vá embora! - Drielli, por favor, me ouça. - Fala o que você precisa falar e me deixe ir embora. - Quero te pedir perdão por ter sido ingrato contigo, ao afir- mar que foi você quem entregou as cartas ao João Roberto, na qual pedi ajuda aos alunos. Você disse que a acusação feita por mim foi uma facada no seu coração, depois de toda ajuda que você me deu. - Digo, do fundo do meu coração, que jamais vou perdoar sua ingratidão, ainda que eu fique no leito de um hospital, entre a vida e a morte. Depois da merda feita, é facil pedir perdão. Mude suas atitudes, Rodrigo. Seus pedidos de perdão por mais sinceros que pareçam ser, não vão mudar o que você fez, você não acha? De boas intenções, o inferno está cheio. Você não valorizou a 4 | MAXWELL DOS SANTOS
  • 6. oportunidade que lhe foi dada. Por tantas vezes, lhe aconselhei pra que mudasse de atitude, e você, fez o quê: deu de ombros. É inútil agora chorar o leite derramado. - Tava de cabeça quente, agi por impulso, sem medir as conse- quências. Me sentia sobre pressão, por conta da semana de pro- vas, e não tinha estudado pras avaliações de física e matemática. Por falta de base, não consegui entender os conteúdos. - E daí? O Michelangelo é uma escola particular. Ana Cláudia e Flamarion são empresários da educação. Eles querem resultados, não desculpas. Você foi incompetente ao não conseguir entregar os resultados esperados pela escola. Sendo assim, eles te manda- ram pra escola de origem. Quando um empregado tem desempe- nho abaixo do esperado, o que acontece com ele? É despedido. É a mesma coisa que acontece quando um técnico de um clube de fu- tebol, como o Flamengo, não entrega os resultados desejados. Menos retórica e mais atitude, Rodrigo! - Você, a Rafaela, a Jéssica e a Débora, ao lerem minha carta, disseram que eu estava me vitimizando, que vocês fizeram o máximo, e eu, o mínimo, falando aquelas coisas pro meu bem. - Não me arrependo de nada do que disse. Reitero todas as coi- sas que falei. Se tivesse levado a sério, não teria sido convidado a se retirar do Michelangelo. - Encaminhei uma carta à Ana Cláudia, na qual fiz algumas reivindicações, como criar grupos de estudos após o horário da aula. No entanto, João Roberto me chamou pra dizer que isso fu- gia ao limite da ação da escola. Ainda disse que se não tivesse nin- guém pra me ajudar, eu devia dar um jeito, jogando na minha 5 | MAXWELL DOS SANTOS
  • 7. cara as notas baixas e precisava melhorá-las. O coordenador nada propôs em termos pedagógicos pra melhorar meu rendimento es- colar. Se os pedidos tivessem sido atendidos a contento por Ana Cláudia, ainda estaria estudando no Michelangelo. - A escola não tem como resolver seus problemas educacionais. É um problema seu. Ana Cláudia não tinha obrigação de criar grupos de estudos pra te dar reforço. Era você, ao chegar em casa, que deveria sentar a bunda na cadeira e meter as caras nos livros de física e matemática. Tenho certeza que é muito mais preguiça do que dificuldade. - Como, se tive uma péssima base do Ensino Fundamental, fei- to em escola pública? - Ah ,Rodrigo, esse discurso de falta de base já encheu o saco! Vira o disco, cara! Você, como bolsista, tinha obrigação de estudar mais que os outros, não só pra manter a bolsa, como compensar as dificuldades alegadas em física e matemática. Além disso, a bolsa de estudos não é um ato de caridade dos donos do Miche- langelo. Eles fazem isso pra abater imposto de renda. O Diego, aluno do 1º ano integral 2, bolsista, também veio de escola públi- ca, com muitas dificuldades, mas ele correu atrás e agora tá ga- nhando medalhas nas Olimpíadas de Matemática, Física e Quí- mica. Qual é a sua desculpa, Rodrigo? - Como eu poderia estudar, com a base educacional ruim? En- trei no Michelangelo, praticamente no meio do ano, enquanto no Tobias, o ano estava próximo do fim, ainda no ano letivo de 2002, um ano bastante tenso, por conta das greves dos professores, em virtude do atraso de salários de seus vencimentos. Eles paralisa- 6 |SENZA PIETÀ
  • 8. ram as atividades por cinco vezes. Muitos colegas abandonaram a escola. Se tivesse entrado no início do ano, as coisas poderiam ter sido melhores. - Lá vem você com suas desculpas. Cara, você tem que se aju- dar. Quem quer, dá um jeito. Quem não quer, dá desculpa e você vive dando desculpa pra tudo. Por essas e outras, a Ana Claudia se cansou de você. - Eu ainda pedi à Ana Cláudia pra adiar a prova, porque não ti- nha condições pedagógicas e psicológicas de fazer a mesma, to- davia fui informado que teria que apresentar atestado médico e ainda pagar uma taxa de 20 reais por prova. Fiz normalmente as provas de biologia, história, espanhol e química, mas na hora da prova de geografia, tive uma discussão pesada com a Rafaela, e com tanta raiva, acabei entregando as provas em branco. A escola não me deu o livro de geografia. Como eu ia fazer a prova? - Você disse que a escola não te deu o livro de geografia, como se ela tivesse a obrigação de fornecê-lo. O Michelangelo te deu a bolsa de estudos. Você tinha que ter corrido atrás da grana, fazendo alguma atividade, como catar latinha ou vai dizer que tem vergonha? - Fui encaminhado à sala de João Roberto. Ele disse que con- versaria com Ana Cláudia pra definir meu futuro. No dia 18 de ju- lho, ele me informou que não estaria mais no Michelangelo no se- gundo semestre e voltaria pra minha escola de origem, afirmando que a experiência não deu certo, acenando uma remota possibili- dade de retornar em 2004. O mais humilhante é que ele me acompanhou até a porta. 7 | MAXWELL DOS SANTOS
  • 9. - Bem feito pra você. Acho é pouco. - Nas férias, mergulhado na angústia, pensando onde foi que errei enquanto estudante do Michelangelo, juntei minhas forças e escrevi uma carta à Ana Cláudia, onde expus minhas falhas e pedi uma nova oportunidade pra estudar na escola. No auge da de- pressão, frequentei a Assembleia de Deus no Itararé, pra pedir ao Senhor, em sua infinita misericórdia, que Ele revertesse o quadro. A carta já tá nas mãos de Ana Cláudia. - Não adianta ir à igreja, orar a Deus e não mudar de atitude. Entenda que você é o único responsável por seu sucesso ou fracas- so. - Juro por Deus que fiz o possível e até o impossível pra apro- veitar a oportunidade dada, mas tive problemas dentro e fora de sala de aula que pudessem imaginar a vã de filosofia de João Ro- berto, que me praticamente me expulsou do Michelangelo, sem que eu pudesse me despedir de vocês, como um cachorro sarnen- to. - Se tivesse aproveitado a chance, estudando e não se fazendo de coitadinho, ainda estudaria conosco. - Te peço encarecidamente que converse com Ana Cláudia pra que reconsidere sua decisão de me enviar pra escola de origem. Voltar àquela escola seria aceitar minha derrota, uma verdadeira vergonha. Por favor, me ajude. - Eu não vou interceder por você junto à Ana Cláudia porcaria nenhuma. Tá pensando que eu sou sua moleca de recados ou uma mensageira? Dá um tempo, Rodrigo! Aqui entre a gente, Rodrigo, você deve ter pensado: “Vou mandar uma carta toda melosa pra 8 |SENZA PIETÀ
  • 10. Drielli, que vai se derramar em lágrimas e vai implorar pra Ana Cláudia me aceitar de novo no Michelangelo”. Se esta era a estra- tégia, você deu com os burros n'água. Você tá redondamente en- ganado. Ana Cláudia é uma empresária da educação, tá na razão dela, e assino embaixo. O jogo acabou. Game over. Pelo amor de Deus, não me procure mais, nem me dirija mais a palavra! Ao me ver na rua, finja que não me conhece. Adeus, Rodrigo. Após Drielli entrar no carro da mãe, Rodrigo chorou copiosa- mente. 9 | MAXWELL DOS SANTOS
  • 11. Umtelefonemadesaforado RODRIGO ESTAVA LAVANDO OS PRATOS do café da manhã, quando o telefone tocou. Ele foi para a sala e tirou o telefone do gancho: - Alô, quem fala? - Bom dia, Rodrigo. É Ana Cláudia quem tá falando. - Bom dia, Ana Cláudia. - Rodrigo, há uma hora, a doutora Rita de Cássia, mãe da Dri- elli veio fazer uma queixa contra você, dizendo que você foi pro- curá-la no Donna's Burger, pedindo sua ajuda pra voltar a estudar no Michelangelo. Ocorre que ela tá se sentindo assediada por você e não quer mais manter nenhum contato. A mãe dela disse que se você continuar procurando Drielli, vai procurar a polícia. - Isso é um absurdo! Por mim, que ela chame a Polícia Militar, Polícia Civil, Marinha, Exército,Aeronáutica, Guarda Municipal, Polícia federal, Polícia Rodoviária Federal, o FBI, a Scotland Yard, a Polícia Montada do Canadá, a Liga da Justiça, os Vingadores e o diabo a quatro. -Você não tem a noção do perigo. - Fui atrás da Drielli, na melhor das intenções, pra pedir que ela intercedesse junto à senhora pra que eu voltasse a estudar no Michelangelo, por conta do papel de liderança que ela exerceu junto aos colegas na minha adaptação ao Michelangelo. De ne- nhuma maneira quis assediá-la. - De boas intenções, o inferno tá cheio. No entanto, Rodrigo, foi como ela se sentiu. 10 | MAXWELL DOS SANTOS
  • 12. - Só lamento, professora. Eu só queria reaver minha bolsa de estudos no Michelangelo. A Drielli, após participar da eucaristia na Paróquia Santa Rita, queria comer seu X-tudo. Fui na lancho- nete pedir que ela conversasse com a senhora e revertesse a deci- são. Na última sexta-feira, deixei uma carta na recepção da esco- la, aos cuidados da senhora. - Recebi a sua carta, na qual você dizia que estava arrependido do que fez. Mas eu e os professores do Michelangelo não estamos convencidos do seu arrependimento. Cavalo selado só passa uma vez e você não soube aproveitar a oportunidade. Por que devería- mos acreditar em você? Até quando vai continuar enganando a si mesmo? - Sinceramente, Ana Cláudia, eu não tô me enganando. Apenas disse a verdade. Que culpa tenho de ter vindo da escola pública, com baixa qualidade de ensino, greves constantes e professores mal pagos e desmotivados? Como já dizia o saudoso antropólogo Darcy Ribeiro: A crise da educação no Brasil não é uma crise; é um proje- to. - Ah, Rodrigo, nem de Darcy Ribeiro eu gosto. Tenho pavor de políticos esquerdistas. Contra fatos, não há argumentos. O seu problema, Rodrigo, é querer terceirizar as responsabilidades. Você devia ter estudado mais, se esforçado, metido as caras nos livros. A Drielli e as outras meninas me contaram que te aconse- lharam a isso, mas você deu de ombros. - Só no fantástico mundo da senhora que o aluno é o único cul- pado pelo seu fracasso escolar. Não acredita que o meio pode in- fluenciar o processo de aprendizagem? 11| MAXWELL DOS SANTOS
  • 13. - Não, Rodrigo. Há muitos alunos bolsistas que vieram de es- cola pública e estudam no Michelangelo, que correram atrás e hoje dão frutos. Já passou da hora de você parar de reclamar e to- mar as rédeas da sua vida. - Ana Cláudia, eu tô arrependido de tudo que eu fiz. Por favor, me dê outra chance pra estudar no Michelangelo. -Isso tá fora de cogitação, Rodrigo. Além disso, você foi gros- seiro, destratou pessoas e ainda quer voltar a estudar à escola? Ora, Rodrigo, me poupe! Sua saída pra nós foi um alívio, porque a comunidade escolar te ajudou dentro do possível e você foi ingra- to. Quase entrou em vias de fato com Rafaela, como se estivesse fora de si. - Me senti sob pressão por ter entrado no meio do ano, próxi- mo ao período de provas. Ainda pedi à senhora pra remarcar mi- nhas provas, porque não me sentia preparado pra fazê-las, mas a senhora me disse que só era possível pedir remarcação de prova, se tivesse com atestado médico e ainda pagasse uma taxa. - Eu preciso dar um tratamento isonômico a todos os alunos. Não seria justo eu aplicar as provas pra você em outro período, a não ser por motivo de saúde. - Se a senhora tivesse acatado todas as sugestões que eu colo- quei na carta anterior, ainda estaria estudando no Michelangelo. - Seus pedidos feitos na primeira carta eram impossíveis de atender, uma vez que fugiam do limite de ação da escola. - Se a escola quisesse investir em mim, teria disponibilizado, pelo menos um professor pra me dar assistência nas matérias que eu tenho dificuldade. 12|SENZA PIETÀ
  • 14. - Mas é claro que não, Rodrigo. Você que tem que superar seus complexos e começar a estudar por conta própria. O problema é que você é muito preguiçoso e acomodado. - Se a senhora pensa que sou acomodado, paciência. Só Deus sabe o que fiz pra poder usufruir a chance que me fora dada. Por motivos alheios à minha vontade, não pude continuar na escola. - Coisa nenhuma. Eram fatores que estavam sob seu domínio. Deus é uma invenção dos homens. Ele não existe. Suas escolhas vão determinar o seu futuro. Vai fugir das suas responsabilida- des,Rodrigo? - Professora, admito não ter segurado a onda diante da pres- são. No mais, eu me sinto uma vítima do sistema educacional pú- blico, que não me deu as condições necessárias pra que eu pudes- se aproveitar a chance oferecida. - Como você me cansa, Rodrigo! Você é mesmo carne de pesco- ço, hein? Continua irresponsável e não toma pra si as responsabi- lidades. Seu futuro é duvidoso, caso persista nestas atitudes. - Além de diretora pedagógica do colégio onde estuda a elite econômica do Espírito Santo, a senhora tá bancando a Mãe Diná ou o Walter Mercado, o astrólogo do ligue djá, fazendo adivinha- ções do meu destino, que só pertence a Deus? Prevê o quê: que eu morra assinado por dívidas de drogas, que acabe exercendo tra- balhos braçais, como puxar carroça? Faça seu prognóstico. - Deixe de gracinha, Rodrigo. Sou uma mulher cética. Não acredito em previsões, horóscopo ou religiões. - Todos são ateus até o avião cair. - Meu caro, já cansei dos seus insultos e desaforos. Termino 13| MAXWELL DOS SANTOS
  • 15. esta ligação te dando um conselho, não de educadora, mas de amiga: pare de procurar a Drielli, senão você vai ter sérios proble- mas, até mesmo ser apreendido e internado no ICAES. Lá, os me- nores são maltratados. É o que você quer, Rodrigo? Imagina sua mãe aflita, ao ver um filho no reformatório. Fora que você terá portas fechadas pra empregos, porque as empresas não contra- tam pessoas que foram internadas no ICAES. - Eu não vou mais ouvir suas acusações e desaforos. Vou desli- gar, porque tenho mais o que fazer. Passar bem, Ana Cláudia. - Espero que tenha entendido meu recado. Adeus, Rodrigo. 14 |SENZA PIETÀ
  • 16. Osegundoencontro NO SÁBADO, 9 DE AGOSTO, RODRIGO estava na praça de alimentação do Vitória Mall, onde comprou uma pizza média com uma garra- fa de Fanta Uva. Ao se aproximar de uma das mesas para comer seu lanche, deu de cara com Drielli, que disse: - Mas que inferno, Rodrigo! Até no shopping, você me perse- gue! Dá o fora daqui, senão eu vou chamar o segurança! - Que culpa tenho, minha filha, da gente se encontrar? A gente se esbarrou por uma coincidência. O shopping é uma área públi- ca. - Não, senhor. O shopping é uma propriedade particular. -Propriedade particular de uso público. - Whatever, Rodrigo. Soube que a Ana Cláudia te deu um escu- lacho no telefone pra que você parasse de me importunar. - Quero que ela e você se danem! Tô cagando e andando pras duas. - Viu como você é ingrato e cospe no prato que comeu? - Como eu cuspi no prato que eu não comi? Foi um prato que me tiraram, antes que eu pudesse dar as primeiras garrafadas. - O problema é seu. - É muito fácil julgar e apontar o dedo quando você mora numa mansão na Mata da Praia, teve oportunidade de estudar no Michelangelo desde a primeira série do Ensino Fundamental, sempre teve os livros e materiais escolares comprados pelos seus pais, tem alimentação saudável e balanceada, seus pais te dão 15| MAXWELL DOS SANTOS
  • 17. mesada pra seus passeios no shopping, onde você vai ao cinema e à praça de alimentação comer no McDonalds aquele Big Mac ca- prichado. Amiga, saia dessa bolha aí e venha a ver o mundo real. Pelo amor de Deus, saia da redoma! - Pra começo de conversa, eu não sou e nunca fui sua amiga, no máximo, colega de classe. Se tenho esse padrão de vida, é por- que os meus pais se esforçaram por meio do trabalho e do estudo. A bem da verdade, você está com inveja e olho grande. Que coisa feia! - Você diz que não é moleca de recados, mas age como se fosse, ao defender a decisão de Ana Cláudia em me devolver à minha es- cola de origem. Como poderia entregar os resultados esperados, se a escola não me deu as condições necessárias pra que isso ocor- resse? - Dou razão a quem tem razão. Ana Cláudia está certa e você está completamente errado. - Reconheço que errei, pela falta de equilíbrio emocional em li- dar com a pressão da semana de provas. Tava muito nervoso. Se fui grosseiro com você e demais colegas do Michelangelo, peço desculpas. O que você ganha com todo esse ressentimento? - É tarde demais pra dizer que se arrepende do que fez. O que está feito, está feito, não tem como voltar atrás. Não fui eu quem me dei mal. Por falta de aviso que não foi. - Reitero que não tinha condições de comprar o livro de geo- grafia. Se a escola não queria comprar o livro, por que vocês não se juntaram pra comprar o mesmo? Caso tivesse todas as condi- ções pra estudar e não tivesse dado valor, você teria razão em jul- 16 |SENZA PIETÀ
  • 18. gar. No entanto, diante da minha falta de condições financeiras e pedagógicas, seus juízos de valor são levianos e cruéis. - Minhas pontuações não são nada levianas. - Na década de 90, estudei na rede pública municipal de Vitó- ria. Naquela época, havia a determinação da Secretaria de Educa- ção que proibia reprovar os alunos. Tudo pra fazer bonito ao Mi- nistério da Educação e ao Banco Mundial. Os professores, mesmo contrariados, eram obrigados a passar os alunos, ainda que eles não soubessem ler, escrever e dominar as quatro operações. - Os professores da escola pública, especialmente os concursa- dos, quando entraram, sabiam dos salários baixos. Se estão insa- tisfeitos, peçam exoneração e busquem melhores oportunidades profissionais na iniciativa privada. É bom que dá espaço pra quem quer dar aulas de verdade. Desculpe a expressão, mas os professores estão cagando e andando pros alunos. Tão preocupa- dos com seu salário na conta no fim do mês. Tem que demitir essa cambada embora e colocar gente que gosta que faz, sem reclamar e com sorriso no rosto. - Os professores, há mais de sete anos, enfrentam o arrocho salarial. Por conseguinte, eles trabalham desmotivados e dão uma aula de qualquer jeito, o que reflete na qualidade do ensino. Vai continuar apontando o dedo? Vai continuar fazendo juízo de valor a meu respeito, sem ao menos conhecer a minha história e as mi- nhas origens? - Aponto e vou continuar apontando o dedo na sua cara, por- que vi tudo que aconteceu, ninguém me contou, Rodrigo. Quem não te conhece, te dá razão e fica com pena de você. Deixa de ser 17| MAXWELL DOS SANTOS
  • 19. mau-caráter e cínico. - Fui privado de fazer uma oitava série em turma, sem direito à formatura e camisa de formandos, por conta de um projeto sofrí- vel de rearranjamento dos alunos em grupos de trabalho. No final do ano de 2000, autoritariamente, sem consultar a comunidade escolar, a direção do Golbery do Couto e Silva, escola onde eu es- tudava, aplicou uma prova-relâmpago em todos os alunos. Cons- tatou-se que eu tinha dificuldades no raciocínio lógico-mate- mático na escrita. - Os outros são sempre os culpados pelos seus problemas. - Em vez de me deixar ficar na oitava série para resolver as difi- culdades em horário alternativo, me jogaram numa turma equi- valente à sexta série que chamavam de Fundamental 2. Se por um lado, pude conhecer outros colegas de outras faixas etárias, por outro, me sentia constrangido em estudar com aqueles meninos de sexta série. A situação ficou mais tranquila quando pude ir para o Intermediário, equivalente à sétima série e os alunos eram praticamente da mesma faixa etária. - E daí? - A cada três meses, havia uma avaliação para definir se o alu- no permanecia no GT ou iria para um GT mais avançado. Fiz es- sas avaliações por duas vezes. Só algum tempo depois, pude ir para os Estudos Avançados, equivalente à oitava série, que teve só 10 alunos. - Seus argumentos não me convencem. - Fiz um tal de reforço, mas que era de manhã e não servia para nada. O almoço fornecido pela escola era uma gororoba e tinha 18 |SENZA PIETÀ
  • 20. gosto de comida de hospital. Às vezes conseguia o dinheiro para pagar um PF ou almoçava na casa da Christine, minha colega de escola. Vai continuar apontando o dedo, Drielli? - Você é um ingrato e cospe no prato que comeu, ao criticar a comida da escola que você estudou, paga com o dinheiro dos pa- gadores de impostos, como os meus pais. Se achava a comida ruim, por que não trouxe ela de casa? Agora entendi que a ingra- tidão é uma constante em sua vida. Você não sabe agradecer aquilo que tem. Vive reclamando que nem um velho ranheta de 80 anos. Nem meu avô, aos 71 anos, é tão ranzinza. Rodrigo, aos 16 anos, você é amargurado, tóxico e vitimista. Penso que você precisa procurar um psicólogo pra você tratar esses complexos. Você é uma pessoa mentalmente perturbada. - Eu não cuspi no prato que comi. Falei que a comida fornecida pela escola que estudava era uma porcaria e digo mil vezes mais, se preciso for. Não disse nenhuma mentira. Para seu governo, eu também pago impostos, toda vez que vou ao armarinho da dona Nilma comprar um caderno de 20 matérias, ou no mercadinho do seu Agenor, para comprar ovos. - Vá procurar um psicólogo. - Sim, tenho problemas psicológicos que precisam ser trata- dos. Matilde, a psicóloga que trabalhava no posto do meu bairro, pediu exoneração da Prefeitura de Vitória e foi trabalhar no Tri- bunal de Justiça. Desde então, o cargo tá vago na unidade de saú- de. Até hoje não consigo compreender porque a Ana Cláudia não me comunicou o fato pessoalmente que eu tava sendo desligado do Michelangelo. Aquele verme do João Roberto disse que foi es- 19 | MAXWELL DOS SANTOS
  • 21. colhido pra comunicar a decisão, porque era o mais equilibrado. Por que ela não falou comigo na decisão, delegando a terceiros a comunicação do fato? Ela temia uma relação violenta da minha parte? Não havia outra maneira de resolver essa questão que não fosse me reenviar ao Tobias? A escola me viu como mero investi- mento que não deu retorno a curto prazo. O capitalismo selvagem imperou na educação. - Ana Cláudia não te chamou para comunicar a decisão, por- que tava com nojo da sua cara e não queria mais te ver. Você foi pra ela a maior decepção que ela teve na vida, porque não entre- gou os resultados que ela queria. Portanto, você foi convidado a se retirar do Michelangelo e voltando para escola de origem, de onde você não deveria ter saído. Soube de fonte segura que ainda não se apresentou à escola. Não vai demorar muito pra alguém de- nunciar ao Conselho Tutelar, e aí, sua mãe vai ter sérios proble- mas. - Eu não me apresentei nem vou me apresentar ao Tobias, por- que tô matriculado no Theta do Centro, onde consegui bolsa inte- gral. Lá, além do uniforme e das apostilas, ganhei uma cartela de passe escolar para frequentar a escola. - Volto a dizer: Dono de escola não quer desculpas, quer resul- tados. Está em suas mãos mudar o seu destino. O conselho que lhe dou é este: mude de atitudes ou vai penar nessa vidinha mise- rável. Espero que você aproveite esta oportunidade e seja bem su- cedido. Passar bem, Rodrigo. 20|SENZA PIETÀ
  • 22. Mudandode opinião NUMA TARDE DE DOMINGO, DRIELLI ligou para Rodrigo: - Olá, Rodrigo, boa tarde. É a Drielli que tá falando. - Oi, Drielli. Tá me ligando pra quê? - Após pensar no que você disse, mudei de opinião em relação a você, que tava certo, e a Maria Cláudia, errada. Se você tivesse uma educação de qualidade, teria deslanchado no Michelangelo. Me perdoe pelas palavras duras que disse a você. Tava com meu ego ferido, cheia de ressentimentos. Cega pelo ódio, não conse- guia ver mais nada ao meu redor. Como você tem sido sua vida lá no Theta? -Tenho gostado bastante do Theta. Lá estou fazendo monitoria pras disciplinas de física e matemática. Após as aulas, vou com os colegas na lan house da Gama Rosa para jogar Counter-Strike, por- que ninguém é de ferro. É maravilhoso que você tenha mudado de opinião e reconhecido seus erros, após nossas conversas. Da mi- nha parte, você tá perdoada. - O governo cobra muitos impostos dos contribuintes, mas não vejo esse dinheiro sendo investido na educação. Por isso, a gente vê tantas pessoas que saem da escola sem saber escrever o pró- prio nome ou interpretar um texto simples. São os chamados analfabetos funcionais, fadados aos subempregos e empregos de baixa qualificação. - Após pensar muito, cheguei à conclusão de que os políticos não querem que as pessoas tenham uma educação de qualidade, 21| MAXWELL DOS SANTOS
  • 23. porque se isso acontecer, elas começam a questionar e os políticos podem ser derrubados. Pessoas que pensam, raciocinam e questionam são bastante perigosos ao sistema. - Há um mês, tive ânsia de vômito, ao ler um reportagem de que hospitais conveniados ao SUS tão cobrando por exames e consultas que deveriam ser de graça. São médicos e funcionários induzindo os mais humildes ao engano. É por isso que a saúde no Brasil está essa porcaria. Eles criam a dificuldade e vendem a fa- cilidade. São bem malandrinhos, né? Sinto vergonha ser brasilei- ra nessas horas. - O posto de saúde do Bairro da Penha tá sem psicóloga. - É lamentável ver bons profissionais, como a psicóloga do pos- to do Bairro da Penha, que foi pro Tribunal de Justiça por conta dos baixos salários. Amigo, você tem todo direito de não transpa- recer alegria, de não fingir uma falsa felicidade. Conversando com mamãe, ela disse que conhece uma psicóloga e vai ver com ela se pode te atender de graça. Me passa seu telefone para que ela entre em contato. - Muito obrigado pelo carinho comigo. Pode passar meu nú- mero para a psicóloga. Meu telefone é 3345-8033. - Diguinho, meu bem, tenho um babado forte pra te contar: O professor Miguel, de ciências, saiu do Michelangelo tudo por cau- sa de uma atividade de sensibilização feita com as turmas de séti- ma série dentro de uma caverna, num parque que agora não me lembro o nome, pedindo que os alunos se tocassem. Duas alunas não gostaram, e acompanhadas dos pais, foram reclamar pra Ana Cláudia, que chamou o professor pra uma conversa e ele apresen- 22|SENZA PIETÀ
  • 24. tou a carta de demissão. - Drielli, na moral, esse professor Miguel não é flor que se cheire. Corre à boca pequena que ele assediava as meninas do ter- ceiro ano e pré-vestibular do Lamarck. Essa atividade de sensibi- lização… sei não, hein? Tenho certeza que era oportunidade para cometer alguma safadeza. Resumo da balada: esse professor é bem safadinho. - Eu também acho. - Os pais dessas meninas são muito vacilões. Eles tinham que dar parte desse professor à polícia. Esse cara tem que ser preso! Creio que os pais não deram parte do professor Miguel à polícia, porque são de famílias tradicionais, vira e mexe, estão nas colu- nas sociais, e não querem exposição. Por isso, rolou a operação abafa. - Triste, mas é assim que funciona. - O troféu King King ficou pra Ana Cláudia, em entrevista à Rádio RBN, ao afirmar que o ocorrido na escola seria apurado in- ternamente e nada teria a declarar, em respeito à privacidade das menores e do professor. - São os negócios, meu querido. A escola só quer preservar sua imagem. - Ah, se uma parada dessas ocorresse numa escola do meu bairro, o professor seria linchado. - João Roberto também foi pro olho da rua. - Mentira! - Verdade, Rodrigo. O coordenador do Fundamental 2 e Ensino Médio, foi mandado embora do Michelangelo por justa causa, por 23| MAXWELL DOS SANTOS
  • 25. conta de uma acusação gravíssima de assédio sexual contra Mi- chelle, professora de artes e sobrinha da Ana Cláudia. Foi mexer logo com a parente da dona? Segundo boatos, ela já não aguenta- va mais as investidas do pedagogo. Onde se ganha o pão, não se come a carne. Acho muito difícil que o João Roberto consiga em- prego em outra escola particular em Vitória, talvez no Espírito Santo, porque os donos de escolas mantêm contato uns com os outros. Ele queimou seu filme feio. - João Roberto é o pedagogo sem noção. Parece o Joselito Sem- Noção do Hermes e Renato, programa de humor da MTV. Como ele vai dar em cima da sobrinha da dona da escola que o empregava? É ousadia demais da conta, bicho! Se a Michelle correspondesse, beleza, mas ela tava sendo sentindo assediada. Nas aulas de artes, percebia como a professora se sentia transtornada com a presen- ça daquele crápula. - Soube por alto que ele também coagia as serventes e cozi- nheiras a manterem relações sexuais com ele, pra que o bonitão não fizesse a caveira delas com a Ana Cláudia. - Todo castigo pro miserável do João Roberto é pouco. Penso que se ele for pro inferno, nem Satanás, o príncipe dos demônios, o aceitaria. Trata-se um psicopata e predador sexual. Esse vaga- bundo tinha que ser castrado com faca, sem anestesia, igual fa- zem com o boi ou o porco na roça. - Não precisa exagerar, Rodrigo. - Lá no Theta, soube de um caso de assédio sexual. Rosiane e Jefferson, alunos do terceiro ano, passaram o carnaval na casa de praia do tio dela, em Manguinhos. Não se sabe como, mas a tran- 24 |SENZA PIETÀ
  • 26. sa entre eles foi gravada. - Jesus, tem misericórdia! - As imagens foram parar na mão de Pietro Passabon. - O cantor pop e apresentador do Pietro e VC, programa inde- pendente de cultura na TV Cidade Sol? - Ele mesmo. - Caraca, que sinistro! - Então, o apresentador começou a assediar Rosiane, sua então vizinha de porta, pra que ela prestasse favores sexuais, caso con- trário divulgaria o vídeo na internet. A moça recusou, alegando que tinha nojo dele. Ai, o distinto pai de família e cidadão de bem disse que Rosiane tinha até um dia determinado para que ela se encontrasse com o assediador. - O que a Rosiane fez? - Assustada com as ameaças, Rosiane contou aos pais sobre o ocorrido. No dia seguinte, Rosiane e seus pais foram à Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente, onde contou sobre a chantagem do músico. Ela mostrou ao delegado seu celular as conversas por SMS que manteve com Pietro. Falou ainda que o as- sediador queria encontrá-la até um determinado dia. O delegado aconselhou a Rosiane marcar um encontro na praia, onde faria o flagrante, que seria monitorado pelos investigadores. - Como terminou? - Rosiane foi à Praia de Camburi. Em seguida, Pietro, que con- vidou a moça para entrar no carro dele. Quando Rosiane entrou no carro, os policiais apareceram e o delegado deu voz de prisão ao cantor. Na DPCA, Pietro disse que se reservava o direito de fi- 25 | MAXWELL DOS SANTOS
  • 27. car em silêncio e só falaria em juízo. No dia seguinte, Pietro foi encontrado morto na cela. Ele tinha mais de 30 perfurações pelo corpo. Sua camisa estava ensanguentada. - Esperava que ele fosse preso, processado e condenado, mas não linchado. - Infelizmente, nas cadeias, é a lei do cão que impera, Drielli. Os presidiários vêm os estupradores e pedófilos como párias, tan- to que ficam em alas separadas. Na casa do vagabundo, foram achados vários CDs, DVDs e HDs contendo imagens de crianças e adolescentes praticando sexo explícito com o apresentador. - Rodrigo, na sexta-feira que vem, se Deus quiser, vou embar- car pro intercâmbio em Vancouver. Vou ficar lá até meados de agosto do ano que vem. O que você acha da gente comer aquela pizza maracanã de calabresa com uma Coca Cola bem geladinha no Vitória Mall. - Bacana. Aceito o convite. - Não é um adeus, mas um até breve. Em 2005, vou tentar o vestibular em três universidades importantes, mas torcendo pros calendários não conflitarem. - Boa sorte pra você no intercâmbio, Drielli. Vou sentir muitas saudades. - Eu também, amigo. A gente se vê na sexta. Um beijo. - Outro, meu bem. 26 |SENZA PIETÀ
  • 28. Créditos Copyleft 2021 Maxwell dos Santos Alguns direitos reservados. +55 27 99943-3585 | +55 27 98843-2666 sanmaxwell@gmail.com Responsabilidade Editorial, Revisão Final, Diagramação do Miolo e Capa | Maxwell dos Santos Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP), Ficha Catalográfica feita pelo autor S237v Santos, Maxwell dos, 1986 – Senza pietà [recurso eletrônico] / Maxwell dos Santos. – Vitória: Edição do Autor, 2021. Modo de acesso: World Wide Web http://www.maxwelldossantos.com.br> ISBN 978-15-26036-97-1 1. Literatura infantojuvenil. I. Título. CDD 028.5 CDU 087.5 27 | MAXWELL DOS SANTOS
  • 29. Sobre oautor Maxwell dos Santos é brasileiro, nascido em Vitória/ES em 1986 e mora na referida cidade. É jornalista, radialista, designer gráfico e servidor público da Prefeitura de Cariacica desde 2017 e profes- sor de Literatura Brasileira dos cursinhos populares Risoflora e Atitude. É técnico em Multimídia pelo CEET Vasco Coutinho, li- cenciando em Letras/Português pelo Instituto Federal do Espírito Santo e em História pelo Centro Universitário Internacional, pós- graduando em Letras: Português e Literatura pela Faculdade de Ciências da Bahia e em Educação Especial com Ênfase em Trans- tornos Globais do Desenvolvimento e Superdotação pela Faculda- de de Educação Paulistana. 28 |SENZA PIETÀ
  • 30. Contribuacomaliteratura Se você gostou da obra e quer contribuir financeiramente com o autor para que este continue escrevendo, faça um depósito de qualquer valor nas seguintes contas: Caixa Econômica Federal Pix: 108.848.757-25 PagSeguro Internet S.A Pix: ilhanoiada@yahoo.com.br PicPay @maxwell.santos2 | Pix:(27)99943-3585 Neon Pix: sanmaxwell@gmail.com 29 | MAXWELL DOS SANTOS
  • 31. Este livro foi composto em Alegreya, Alegreya Sans e Alegreya Sans SC por Maxwell dos Santos, em março de 2020. 30|SENZA PIETÀ
  • 32. Este conto tem o claro objetivo de debater o fracasso escolar na rede particular de ensino e desconstruir o conceito de meritocracia, onde o sucesso e o fracasso dependem exclusivamente do indivíduo, mas no caso é o aluno Rodrigo, que acabara de perder a bolsa de estudos no Michelangelo, o colégio mais caro de Vitória, onde estudam os filhos dos donos do PIB do Espírito Santo e devolvido à escola pública de origem, como se fosse uma experiência que deu certo. Vindo de escola pública, com o ensino precário e constantes graves, o adolescente não estava preparado para o altamente conteudista e vestibulável currículo daquela escola de elite, tampouco tinha inteligência emocional para suportar as pressões por resultados, entrando em conflito com os alunos. Espera-se que este opúsculo contribua com os debates sobre a educação no Brasil.