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EXPEDIENTE
Presidentes:                                        Membros:
Clovis Eduardo Pinto Ludovice                       Abib Salim Cury
Cláudio Galdiano Cury                               Cláudio Galdiano Cury
Diretoria Executiva:                                Clovis Eduardo Pinto Ludovice
Dr. Clovis Galdiano Cury                            Clovis Galdiano Cury
Fabrissa Oliveira Ludovice de Sousa                 Fabrissa Oliveira Ludovice de Sousa
Chancelaria:                                        Fernanda de Oliveira Ludovice Garcia
Prof. Dr. Abib Salim Cury                           Frederico de Oliveira Ludovice
Dr. Clovis Eduardo Pinto Ludovice                   Neuza Galdiano Cury
Reitoria:                                           Consultor Jurídico:
Prof.a Dr.a Rosalinda Chedian Pimentel              Inocêncio Agostinho Teixeira Batista Pinheiro
Prof. M.e Arnaldo Nicolella Filho                   Órgãos de Apoio:
Prof.a Dr.a Kátia Jorge Ciuff                       Dr. Vicente de Paula Silveira
Prof.a M.a Elisabete Ferro Sousa Touso              Carmem Lígia Jacinto Rodrigues Alves
Secretária:
Prof.a Magda Maria Mondine




Revista MODA & CULTURA:
                                                    Estagiárias:
Conselho Editorial                                  Fernanda Cristina Lopes
                                                    Gabriela Silva Bambil
Presidente:                                         Natália Maria Ricci Maia
Prof. Orlando Cabrera
Integrantes:                                        Colaboradores:
Prof.a Cacilda Gléria Carneiro                      Editora Unifran
Prof. Esp. Fabrício Coelho Malta
Prof.a Fernanda Fontanetti Gomes                    Os artigos assinados são de responsabilidade
Prof. Gustavo Henrique Gyrao de Paula Lopes         exclusiva de seus autores, eximindo a revista
Prof.a Iolanda Lúcia de Carvalho Paixão Serra       MODA & CULTURA de toda e qualquer opinião e
Prof. a Laura Teika Lopes Miranda Meirelles         conceitos neles expressos.
Junqueira
Prof. M.e Lucas Miranda Pinheiro                    Correspondência, informações e colaborações
Prof. M.e Lucas Antônio de Araújo                   devem ser encaminhadas para:
Prof. Esp. Orlando Aparecido Cabrera                Design Moda Estilismo
Prof. Reginaldo Antônio da Silva                    Av. Dr. Armando Salles Oliveira, 201
Prof. Rodrigo Lopes Vilaça                          Parque Universitário
                                                    Franca | SP - Cep 14404-600
Jornalista Responsável:                             PABX 16 3711 8888
Prof.a Andréa Berzotti - MTB 27973                  www.unifran.br
Fotografia:                                         email: orlandoac@unifran.br
Prof. Alexandre Milito Neto
Projeto Gráfico:                                    Agradecimentos:
Prof. Esp. Fabrício Coelho Malta                    Gabriela Silva Bambil, Natália Maria Ricci Maia
Revisão de texto:                                   Fernanda Cristina Lopes, Alexandre Milito Neto,
Prof.a Andréa Berzotti - MTB 27973                  Maxwell Souza Alves, Fabio Pacheco

                                                3
EDITORIAL




“DE UMA ETERNA JUVENTUDE, A MODA
ACOMPANHA O TEMPO E PERPETUA-SE
ATRAVÉS DELE. ELA É O ESPELHO OU
REFLEXO DA ALMA DE UMA ÉPOCA.”
                                 YVES SAINT LAURENT




                              Moda. Moda. Moda. Incansáveis buscas
                      por respostas. Este é o dia a dia de nós profissio-
                      nais que trabalhamos com uma área que está di-
                      retamente conectada com a mudança.
                              Parece fácil. A moda mescla atitude, valo-
                      res, cultura, tecnologia, comportamento. Capta o
                      espírito do tempo e toda a linguagem de uma
                      época e transforma em produtos que irão atender
                      o mercado. Entender um mundo em constante evo-
                      lução e seus sujeitos mutantes é apaixonante, po-
                      rém, inquietante. Criar, reconstruir, transformar são
                      palavras que fazem parte do cotidiano do profis-
                      sional de Moda. Este é o nosso trabalho. Sempre
                      que fechamos um ciclo damos início a um novinho
                      em folha. Um continuum de buscas por novas in-
                      formações e constantes pausas para reflexões.
                              A proposta desta segunda edição da revis-
                      ta MODA&CULTURA surge dessa necessidade de
                      partilhar aquilo que vem sendo discutido por nós,
                      docentes do Curso de Moda, no âmbito acadê-
                      mico, e abrir espaço para que surjam, assim, no-
                      vos questionamentos. É o que move a Moda.

                                      Prof.a Fernanda Fontanetti Gomes

                  4
A moda brasileira ganhou o mundo. A
    valorização do profissional da área se refle-
    tiu no mercado de trabalho. Hoje, o setor
    busca profissionalização, favorecendo quem
    possui formação superior. As oportunidades
    são muitas em um setor que movimenta
    R$ 60 milhões, cresce 20% ao ano e empre-
    ga mais de 1,5 milhão de pessoas.
           Optando pela UNIFRAN, o estudan-
    te de moda tem a vantagem de viver a reali-
    dade de um polo internacional do setor
    calçadista, o que amplia as oportunidades
    de emprego ainda durante o curso. Com
    aulas teóricas e práticas, é preciso disposi-
    ção e criatividade para aproveitar discipli-
    nas em história da moda, do design e da
    arte, desenho de moda, computação gráfi-
    ca, tecnologia têxtil, modelagem, estilo e pro-
    dução de moda, organização de eventos,
    gestão empresarial, marketing em moda, la-
    boratório de criatividade, planejamento e
    desenvolvimento de produto.
           Com uma formação ampla e a possi-
    bilidade de atuar de forma experimental em
    diferentes áreas de moda, o profissional sai
    da UNIFRAN em condições de exercer fun-
    ções de consultor de moda, stylist, produtor
    de moda, estilista, figurinista, modelista, de-
    senhista, gerente de produto de moda, ilus-
    trador, gestor de empresas de confecção,
    organizador de eventos de moda, editor de
    moda e marketing de moda.
           Desde o 1º ano o aluno pode estagiar
    no núcleo do curso de Moda, em atividades
    relacionadas à revista MODA&CULTURA, a
    pesquisa de tendências e mercado de moda
    e aos eventos do curso. Com isso, pretende-
    se facilitar e ao mesmo tempo valorizar o
    estágio acadêmico como atividade pedagó-
    gica, visando proporcionar ao aluno oportu-
    nidade de verificar ou aplicar teorias apren-
    didas, no conteúdo das diversas disciplinas,
    para, desse modo, conseguir um real apro-
    veitamento nos seus estudos.
           A parceria teoria/prática é capaz de
    formar cidadãos e profissionais competen-
    tes, aptos para um trabalho digno do papel
    que desempenharão na sociedade.
           Que o aluno, de Moda, aprenda a
    aprender e a construir com as ferramentas
    aqui oferecidas. É o que se pretende.




5
SUMÁRIO

A relevância da reflexão estética: contribuições de Hegel e Ortega y Gasset................................7

Os bastidores da moda.....................................................................................................10
Elementos essenciais na interação do produto ou serviço com o consumidor................................12

Antígona, Medeia e Lisístrata: a mulher grega vista pela ótica teatral.........................................21




                                                                Capa

                                                                Fotografia: Alexandre Milito Neto
                                                                Direção de arte: Fernanda Fontanetti
                                                                Maquiagem e cabelo: Orlando Cabrera
                                                                Modelo: Emanuelle Guidugli Favaretto
                                                                Tratamento de imagem: Fabrício Coelho Malta


                                                            6
A RELEVÂNCIA DA
         REFLEXÃO ESTÉTICA:
        CONTRIBUIÇÕES DE HEGEL E
        ORTEGA Y GASSET
                                          O objetivo do presente        nal, por exemplo, em um livro de teoria, mas que
                                 artigo será apontar, de uma            seu lugar dentre os aspectos de qualquer coisa
                                 maneira geral e simples, as            possui muito mais destaque àquilo que está relaci-
                                 concepções e reflexões estéti-         onado à aparência, à beleza, ao sentimento e à
                                 cas de dois pensadores funda-          imaginação.
                                 mentais para a história da filo-                Estética possui algumas definições mais
                                 sofia e distintos um do outro          recorrentes e todas têm alguma relação entre si,
                                 no que se refere à visão de            mas o fato de as definições variarem nos diz que
                                 mundo: o alemão Hegel e o              não é simples definir o que é estética. Essa dificul-
                                 espanhol Ortega y Gasset.              dade pode ser em parte atribuída à dificuldade
                                 Antes de adentrarmos às con-           que temos de refletir acerca de aspectos que es-
Prof. Lucas Antônio de Araú-     siderações dos dois autores            tão vinculados justamente à dimensão humana em
jo, mestre em História pela      acerca da estética se faz ne-          que se situa a estética, ou seja, à dimensão dos
Faculdade de História, Direi-
to e Serviço Social/UNESP        cessária uma introdução ao             sentimentos, do belo e da imaginação. É a mes-
(2008). Professor no curso de    tema que dê conta, ao menos            ma dificuldade da crítica artística de forma geral,
Design Moda e Estilismo da       de maneira geral, da varieda-          a discussão de se atribuir valor a algo que está
Universidade de Franca, na       de de possibilidades de se re-         intimamente ligado ao gosto, à preferência.
disciplina de Estética e Histó-
ria da Arte e do Design.         fletir sobre a estética, bem                   É na reflexão estética que nos perguntamos:
                                 como de analisar suas carac-           é possível a beleza universal, como acreditavam
                                 terísticas e demonstrar a rele-        os clássicos, os artistas renascentistas e barrocos?
                                 vância do tema.                        A crença em uma beleza universal, mesmo que
                    De início é importante salientar que o que          ilusória, é fundamental para uma arte profunda-
          se relaciona à estética está, como nos aponta Mora            mente elaborada e desenvolvida tecnicamente
          (2001, p. 231), vinculado à forma, à disposição               como eram a renascentista e a barroca? O gosto
          dos elementos. Assim sendo, podemos concluir que              é totalmente relativo? É possível apontar o mau
          praticamente tudo possui uma dimensão estética,               gosto estético? O que o define?
          que o conteúdo possui uma forma e a estética                          São questões difíceis de ser respondidas,
          está, primeiramente, ligada a essa forma.                     mas que, de maneira alguma, aqueles que se
                    Esta dimensão estética se mostra muito mais         dedicam aos ramos característicos da estética, da
          relevante em áreas da atividade e criação huma-               busca do belo, que se relacionam ao gosto e ao
          nas que lidam com as sensações e os sentimentos               sentimento, como as artes em geral, a arquitetura,
          (veremos adiante como a estética está intimamen-              a moda, o design, devem em algum momento en-
          te vinculada à dimensão dos sentimentos, da sen-              carar, sabendo que dificilmente encontrarão a res-
          sação e da ideia de beleza). Isto não quer dizer,             posta absoluta.
          obviamente, que a estética não seja parte rele-                       Para se situar melhor na reflexão estética,
          vante de outros aspectos mais relacionados àquilo             campo onde tais questões são debatidas, é muito
          que poderíamos denominar de dimensão racio-                   importante um conhecimento mínimo do que se


                                                                    7
discutiu até agora a respeito, algo que só a leitura       de eminentemente humana, em uma atividade
dos filósofos e pensadores que se debruçaram               puramente espiritual, vendo o homem como estra-
sobre o tema pode trazer. Tal conhecimento abre            nho à natureza e à matéria, mas dependente de-
possibilidades e capacidades de percepção, re-             las, por serem instrumentos, para realizar a obra
flexão e criação estéticas de uma maneira nova e           de arte:
embasada, que possui a noção do que se produ-
ziu e pensou acerca daquilo a que se propõe rea-                            O movimento espiritual aliena-se na
lizar. Não é difícil percebermos que se trata de                            matéria sensível, mergulha naquilo que
uma limitação recorrente nos dias atuais nos ra-                            lhe é estranho (a matéria) – para retornar
mos comuns à reflexão e realização estética. Não                            a si mesmo, reconhecendo-se como ou-
                                                                            tro (2006, p. 40).
devemos nos conformar a esse estado de coisas.
        Cada autor que se debruçou sobre o tema
acabou empregando uma noção específica de
                                                                  O filósofo dividirá a estética, entendida
estética. Para o influente filósofo grego Platão,
                                                           como filosofia da arte, em três estágios ou perío-
por exemplo, a estética estava condicionada à
                                                           dos fundamentais:
ética, ou seja, o que era belo deveria necessaria-
                                                                  a) a primeira fase da estética hegeliana é
mente ser bom, ser correto. Através de suas refle-
                                                           a simbólica. Ela está intimamente ligada às pri-
xões podemos nos perguntar: é possível que algo
                                                           meiras formas religiosas das primeiras civilizações.
ruim ou errado seja belo?
                                                           Seria um estágio rudimentar na tentativa do ho-
        Os dois pensadores que este artigo se pro-
                                                           mem de impor o conceito às coisas do mundo. A
põe a apresentar possuem concepções diferentes
                                                           matéria bruta é talhada de forma a lembrar, a
entre si e em relação à concepção de Platão.
                                                           marcar a presença do espírito. O símbolo não
        O espanhol Ortega y Gasset é considera-
                                                           consegue por excelência resolver a tarefa a que
do um dos maiores filósofos do século XX e se
                                                           se propõe. Um templo é o exemplo utilizado pelo
dedicou à reflexão estética em seu livro Adão no
                                                           autor.
paraíso e outros ensaios de estética (2002). Para
                                                                  b) o segundo estágio é o clássico. Na arte
o autor a arte é uma interpretação da vida que
                                                           clássica o homem deixa o símbolo de lado e pas-
“disputa com a realidade”. Uma explicação ocor-
                                                           sa a representar a si mesmo. A figura humana passa
rida entre o homem e o mundo, uma operação
espiritual tão fundamental quanto a religião e a
ciência. Diante da experiência artística de um tem-
po ou de um povo ele irá se perguntar a qual
exigência do povo ou do espírito sua arte satisfez.
A história da arte seria uma história do sentimento
tal qual a história da religião.
        A arte expressa os profundos sentimentos e
anseios do homem, o que realmente tem valor para
o artista e para seu público. Ela seria “a fabrica-
ção de formas que nos fazem sentir a vitalidade
orgânica, uma expansão virtual de energias e uma
liberação imaginária”.
        Para Hegel, a arte reflete de alguma forma
o que seria o desenvolvimento da história e do
homem. Ele não levará de forma alguma em con-
sideração o belo natural; para ele a beleza deve           Figura 1 - Mosteiro de Melk. Século XVIII, Áustria
ser uma atividade do espírito e onde vislumbre-
mos o homem. A estética se vincula, então, para
o filósofo, estritamente à arte. A arte é atividade
do homem para o homem. As formas artísticas                a ser exaltada e adorada. A beleza já encarada
representam a caminhada do espírito também rumo            como algo que está no próprio homem. Vejamos
à sua liberdade, que é a plena consciência de si           um exemplo:
mesmo para Hegel.                                                 c) o romantismo será apontado por Hegel
        A descrição de Rosenfield nos mostra como          como a terceira fase e irá se caracterizar como
Hegel transforma a arte, mais do que uma ativida-          um idealismo radical, no sentido de que ostenta


                                                       8
ao menos tivesse tal ilusão. Hegel citará como
                                                         exemplos do desenvolvimento espiritual propicia-
                                                         do pelo romantismo escritores como Dante e
                                                         Goethe; o primeiro, autor da Divina Comédia; o
                                                         segundo, de Fausto. O romantismo seria a liberta-
                                                         ção do espírito e a sua preparação para o retor-
                                                         no ao absoluto.
                                                                Através dos exemplos apontados podemos
                                                         vislumbrar a relevância estética para o ser huma-
                                                         no em geral. Não são poucas as vezes que esta
                                                         dimensão estética – da arte, da beleza, da forma
                                                         em geral – é encarada como secundária em rela-
Figura 2 - Discóbolo, 450 a.C., Grécia.                  ção à dimensão racional, ou ao conteúdo, e esta
                                                         abordagem teve como objetivo apontar, ainda que
                                                         de maneira breve, a sua profundidade e capaci-
                                                         dade de refletir os anseios e estados de espírito,
desprezo em relação à matéria e às forças que            de ser um importante meio de compreender os
sempre tolheram o espírito. É como se o herói gre-       anseios, os sentimentos e os valores dos homens
go não precisasse mais enfrentar a tragédia, ou          de uma época ou lugar, assim como os nossos.




                                                         REFERÊNCIAS

                                                         HEGEL, G. F. Curso de Estética: o belo na arte.
                                                         São Paulo: Martins Fontes, 2001.

                                                         MORA, J. F. Dicionário de Filosofia. Tradução:
                                                         Roberto Leal e Álvaro Cabral. 4. ed. São Paulo:
                                                         Martins Fontes, 2001.

                                                         ORTEGA Y GASSET, J. Adão no Paraíso e outros
                                                         ensaios de Estética. Tradução: Ricardo Araújo. São
                                                         Paulo: Cortez, 2002.

                                                         PAREYSON, L. Os problemas da Estética.Tradução:
                                                         Maria Helena Nery Garcez. 3. ed. São Paulo:
                                                         Martins Fontes, 1997.

                                                         ROSENFIELD, K. H. Estética. Rio de Janeiro: Jorge
                                                         Zahar, 2006.


                                                     9
OS BASTIDORES
              DA MODA


                                         A Moda enquanto elemen-             muito pelo contrário, ele os exige, mas são essas
                                 to constitutivo na comunicação do           características intangíveis, repleta de significado,
                                 indivíduo sinaliza através do ves-          esta possibilidade de transformar-se naquela pes-
                                 tuário aspectos importantes com             soa que não se é(ou se pensa que não se é?).
                                 relação às diversas posições e                       O consumidor da atualidade compra os
                                 papéis desempenhados pelos su-              produtos não tanto pelo aspecto funcional, mas
                                 jeitos. O lado mais intrigante da           pelo que este pode comunicar. A Moda nos possi-
                                 relação entre os indivíduos, os pro-        bilita isto, já que é possível utilizar do próprio cor-
                                 dutos e as marcas está no fato de           po como suporte para as múltiplas significações.
                                 utilizarmos dos discursos criados                    Segundo Feghali (2008, p. 44), a vesti-
                                 pelas marcas como se fossem o               menta é uma chave mestra que abre as portas do
Prof. a Fernanda Fontanetti      nosso         próprio discurso.             indivíduo, revela nossas crenças essenciais, inte-
Gomes, especialista em
Marketing e Vendas, pela
                                 Apropriamo-nos de tais narrativas           resses, atitudes e características da nossa perso-
Universidade de Franca,          para criar ou expressar nossa pró-          nalidade, como autoconceito, a intensidade da
UNIFRAN (2006). Professora       pria identidade.                            emoção, o grau de dogmatismo, os processos
no curso de Design Moda e                                                    cognitivos, a criatividade, nosso relacionamento
Estilismo da Universidade de
                                      Para Miranda (2008,                    interpessoal, incluindo o grau de ascendência, o
Franca, nas disciplinas de
Métodos e Técnicas em          p.110), A marca de moda é um                  nível de interiorização ou de exteriorização, e a
Pesquisa em Moda, Planeja-     espelho às avessas, reflete para o            necessidade de aceitação social.
mento e Organização de         outro o jeito de ser, sentir e pen-                    O vestuário passa a ser o passaporte prin-
Eventos de Moda, Psicologia
                               sar dos indivíduos. O conflito en-            cipal para integrar-se em um determinado grupo e
do Consumidor de Moda,
Teoria da Informação e         tre o eu individual e o eu social             ao mesmo tempo elemento principal de diferenci-
Semiótica e Vitrine e Produção busca equilíbrio através desta for-           ação/ individuação. Reconhecemos nas pessoas
de Moda.                       mas de comunicação.                           crenças e valores que são veiculados através do
                                      O vestuário auxilia o indiví-          uso das marcas ou produtos. Estes servem como
              duo a entrar e sair nos diversos papéis que este               sinalizadores e meio de expressão das diversas
              desempenha no convívio social e até acaba se                   tribos.
              tornando um apoio para reforçar características                         O vestuário também possibilita mostrar o
              que julgamos ausentes na própria identidade.                   lado individual, onde os sujeitos constroem as pró-
                      Para Miranda (2008, p. 111), a vida é o                prias formas de expressão de identidade. O cor-
              palco e a marca de moda oferece figurinos, sen-                po aparece como uma tela em branco onde se-
              do assim possível participar de outros mundos e                rão pintadas as diversas facetas que gostaríamos
              voltar para os anteriores sem ameaça de punição.               de apresentar. Através de cada look são criados
              Assim, volta-se para a premissa de onde se partiu              depoimentos de si mesmo.
              para o desenvolvimento deste estudo: a moda é                           Segundo Miranda (2008, p. 60), atual-
              essencialmente simbólica. É certo que o indivíduo              mente, o vestuário de moda é considerado a ex-
              não esquece os aspectos funcionais da roupa,                   pressão de valores individuais e sociais predomi-


                                                                        10
nantes em período de tempo determinado. É visto            mais sentido queremos morrer.
como forma de expressão da perso-nalidade, ex-                    A roupa está entre o corpo e o mundo.
tensão visível e tangível da identidade dos senti-         Esta possibilita criar também um distanciamento.
mentos individuais. É forma de comunicação não-            Serve como barreira, o sujeito se esconde atrás
verbalizada, estabelecida por meio de impressões           de sua capa protetora ou usa de uma máscara
causadas pela aparência pessoal de cada um.                que lhe possibilite participar sem se envolver ou
        Em alguns casos essa relação entre as es-          ser reconhecido. O cenário da atualidade reflete
colhas do vestuário e aquilo que projetamos para           isto: uma multidão solitária que busca conexões
os outros constrói-se de forma inconsciente. A apa-        e emoções nas experiências de compra, assim
rência não condiz com a essência do sujeito. É             como as mágicas imaginárias vendidas pelas
neste ponto que podemos perceber algo interes-             marcas.
sante: a roupa pode se transformar em meio de                     Quando olhamos para a Moda olhamos
ocultar ou reforçar aspectos que julgamos pouco            para a sociedade com todos os seus valores, cren-
desenvolvidos em nossa identidade. O fato de usar          ças, tecnologias, etc.
tal tipo de peça ou marca faz com que se fortale-                 Para Mesquita (2004, p.97), ”a Moda
çam estas características até então consideradas           absorve e reflete os fluxos do mundo”.
inadequadas ou inexistentes pelo sujeito.                         A moda reflete o espírito do tempo... Cada
        Conforme Miranda (2008, p.112), o en-              vez mais buscamos através dos produtos de Moda
tendimento do aspecto simbólico e a identifica-            preencher nossos vazios existenciais. Em um mun-
ção dos significados a serem atribuídos à marca            do tão diversificado, globalizado e massificado,
em consonância com o interesse do público-alvo             queremos fazer parte de tudo isso, mas também
são guias básicos para as campanhas publicitári-           queremos fazer a diferença. Em outras situações
as de sucesso. Como seres humanos, nós somos               só queremos nos ausentar. Era dos paradoxos
“ máquina de significação”, pois as pessoas atri-          contemporâneos!!! Pensar em Moda é pensar em
buem significado a tudo. Nós vivemos para signi-           toda essa complexidade da sociedade da atua-
ficar, para fazer sentido. Quando a vida não tem           lidade.




                                                           REFERÊNCIAS

                                                           ERNER, G. Vítimas da moda? São Paulo:
                                                           Editora Senac, 2005.

                                                           FEGHALI, M. K. et al. O ciclo da moda.
                                                           Rio de Janeiro: Editora Senac Rio, 2008.

                                                           MESQUITA, C. Moda contemporânea: quatro
                                                           ou cinco conexões possíveis. São Paulo: Editora
                                                           Anhembi Morumbi, 2004.

                                                           MIRANDA, A. P. Consumo de moda - a relação
                                                           pessoa-objeto. São Paulo: Estação das Letras e
                                                           Cores, 2008.

                                                      11
ELEMENTOS
            ESSENCIAIS NA
            INTERAÇÃO DO
            PRODUTO OU SERVIÇO
            COM O CONSUMIDOR
                                RESUMO                                      competitivo e para enfrentar sua demanda, o pro-
                                        O presente trabalho tem             fissional deve estar preparado, deter o conheci-
                                como objetivo apresentar a impor-           mento de todo o processo ao qual o produto é
                                tância da embalagem e suas prin-            submetido, com objetivo de criar no consumidor o
                                cipais funções mercadológicas e             "desejo" de sua aquisição.
                                ferramentais exercidas nos dias atu-                Promover a imagem desejada, seja ela uma
                                ais. A marca é o maior patrimônio           marca, um produto, uma pessoa pública, uma ins-
                                que a empresa possui e a ela se             tituição, empresa, etc., é um desafio para todo
                                faz necessário dedicar toda a aten-         profissional que deseja maximizar os lucros de sua
                                ção. Neste cenário o design de              empresa. Conhecimentos sobre a identidade visu-
                                embalagem tem uma contribuição              al do produto, design gráfico e embalagem são
Prof. Fabrício Coelho Malta,    significativa, por criar formas de          imprescindíveis para obter sucesso.
especialista em Design          interagir com o consumidor, pro-
Multimídia, pela Universidade
de Franca, UNIFRAN (2002).      mover um contato direto e favore-           O VAREJO
Professor no curso de Design    cer a apresentação, memorização                     Com o final da Segunda Guerra Mundial
Moda e Estilismo da             e fidelização do produto, pois se           (1937-1945), os países envolvidos no conflito
Universidade de Franca, nas     faz presente desde a forma estru-
disciplinas de Informática
                                                                            deixaram seus esforços de produção de armamen-
Básica, Computação Gráfica      tural e gráfica da embalagem                tos e direcionaram sua capacidade produtiva para
I, II e III.                    como componente técnico, até                a fabricação em massa de bens de consumo para
                                chegar à pesquisa e promoção,               a população. Essa capacidade inicialmente de-
                                cujo principal objetivo é o de              terminava a produção. O consumidor passou a
               disponibilizar o produto aos consumidores de for-            ter papel determinante nas vendas e na produ-
               ma competitiva.                                              ção, como usuário final do produto, direcionando
                                                                            as tomadas de decisões da indústria, o que signi-
            INTRODUÇÃO                                                      fica dizer que a produção foi cada vez mais de-
                   Pela facilidade de acesso às informações e               terminada pelo desejo de consumo e não mais
            a imensa oferta do mercado, pesquisas apontam                   prioritariamente pela capacidade de produção.
            que os consumidores estão cada vez mais exigen-
            tes, buscando preços melhores e mais qualidade                               No Brasil, o varejo é tal qual se conhe-
            na hora das compras.                                                         ce hoje; iniciou-se no final do século XIX,
                   O comércio apresenta-se cada vez mais                                 com o início da industrialização e o



                                                                       12
surgimento dos meios e vias de transpor-         sumidor final visando sempre a sua fidelidade. O
                te. Os historiadores citam o Visconde de         varejo tem importância fundamental no con-
                Mauá como um dos primeiros e mais                texto mercadológico e econômico ao movimen-
                importantes varejistas, além de ser res-         tar milhões de reais diariamente, criar empre-
                ponsável por fundações de bancos, cons-
                                                                 gos e fazer a economia girar.
                trução de estradas de ferro, estaleiros,
                indústrias e investimentos importantes em               A definição de varejo mais utilizada é
                companhias de iluminação a gás, no Rio           da American Marketing Association, segun-
                de Janeiro (LAS CASAS; GARCIA, 2007,             do a qual o varejo é definido como uma uni-
                p. 22).                                          dade de negócios que compra mercadorias
                                                                 de fabricantes, atacadistas e outros distribui-
       Em decorrência da globalização o cená-                    dores e as vende diretamente a consumidores
rio do varejo está cada vez mais competitivo, pas-               finais e, eventualmente, a outros consumido-
sando a utilizar várias estratégias focadas no con-              res (Tabela 1).



Tabela 1 - Demonstração das principais funções do varejo




                                                            13
A IDENTIDADE VISUAL DO PRODUTO                                consumidores atribuir responsabilidade a um de-
        Toda representação visual de um nome,                 terminado fabricante ou distribuidor. Podemos di-
grafismo, número ou ideia sob apurada forma,                  zer que as marcas assumem significados distintos
entende-se que possua uma identidade visual. As               para os consumidores identificando, satisfazendo
padronizações dos elementos representativos de                suas necessidades e simplificando as decisões de
uma empresa irão formalizar a personalidade vi-               produto. Uma espécie de vínculo é criada entre a
sual, visando estabelecer um nível apropriado de              marca e o consumidor, compartilhando confiança
comunicação.                                                  e fidelidade por parte do consumidor acompa-
        Entre os principais elementos institucionais          nhada de um acordo explícito de que a marca se
que compõem uma identidade visual, abordare-                  comportará de certa maneira e lhe proverá utilida-
mos logotipo, marca, design e embalagem.                      de e benefícios por meio do funcionamento con-
        Logotipo é a representação visual e basi-             sistente do produto ou serviço, além de promo-
camente gráfica da marca, podendo ser definido                ções e preço.
como a imagem da palavra.                                             As marcas representam uma realidade com
        O propósito do logotipo deve basear-se                grande valor econômico para as empresas. Um
em sua relevância cultural (carga simbólica), na              diferencial competitivo e muito utilizado nos dias
conexão com aquilo que representa (possibilida-               atuais, são as extensões de linha. A empresa in-
de de diálogo e relacionamento com o produto                  veste em uma marca por acreditar que seu suces-
ou empresa) e ter forte impacto social (PEREZ,                so será transferido para novos produtos, dentro
2004, p. 53).                                                 da mesma categoria ou em categorias relaciona-
        Segundo a American Marketing Association              das. Uma marca existente pode ser aplicada a
(AMA), marca é um nome, termo, símbolo, dese-                 um novo produto ou serviço da mesma categoria
nho ou uma combinação desses elementos que                    (Figura 1) ou diferente (Figura 2) da marca princi-
deve identificar os bens ou serviços de um forne-             pal, porém com qualidade e preço inferiores ou
cedor ou grupo de fornecedores e diferenciá-los               superiores a ela.
dos da concorrência.                                                  Cegarra e Merunka (1993, p. 53) trazem
        Em outra direção reflexiva, Jong (1991, p.            uma definição de extensão de marca:
168) define símbolo como “el medio más esencial
por el que la empresa se manifiesta visualmente”                              L’extension de marque est l’utilisation d’um
(um símbolo é o meio mais essencial pelo qual a                               nom de marque déjà connu sur un produit
empresa se manifesta visualmente). (Tradução nos-                             qui présent une différence de nature
                                                                              (caractéristiques physiques) ET de
sa).
                                                                              fonction (valeur d´usage, bénéfices
        Para Perez e Bairon (2002, p. 65), marca                              consommateurs) significative par rapport
é “a distinção final de um produto ou empresa e                               aux produits d´origine. [A extensão de
que traduz de forma marcante e decisiva o valor                               marca é a utilização de um nome de
de uso para o comprador. É um sinal distintivo”.                              marca já conhecido para um produto que
        Na visão de Randazzo (1996, p. 24), “a                                apresenta uma diferença significativa de
marca é ao mesmo tempo uma entidade física e                                  natureza (características físicas) e de fun-
perceptual”.                                                                  ção (valor de uso benefícios aos consu-
        Uma nova concepção foi aplicada, segun-                               midores) em relação aos produtos de
                                                                              origem]. (Tradução nossa).
do Perez, (2004, p.10):

              A marca é uma conexão simbólica e
              afetiva estabelecida entre uma organi-
              zação, sua oferta material, intangível e
              aspiracional e as pessoas para as quais
              se destina.

       Nesse contexto, atribui-se à marca a repre-
sentação gráfica e visual de formas e tipos confe-
ridos ao nome com intuito representativo de valo-
res, que serão reconhecidos a partir da ordem
que os consumidores a reconheçam como tal. Para
                                                              Figura 1 - Linha nova de sorvetes (Heaven) como exemplo de
os consumidores, as marcas realizam funções im-               extensão de marca consagrada no mercado (Nestlé)
portantes: identificam o fornecedor e permitem aos            Fonte: www.mundodomarketing.com.br/images/materias


                                                         14
Figura 2 - Exemplo de extensão de marca para linhas diferentes de produtos: leite condensado em bisnaga para consumo
individual; doce de leite em pasta em lata; leite em pó (matinais), biscoitos recheados com cobertura, alimentos processados para
bebês e bombons de chocolate em embalagem para presentear
Fonte: Ilustração do autor



       Conceitos que favorecem o emprego da                        utilizados. Alicerçados no conceito que ocupa a
extensão de linha:                                                 posição central desta síntese, esses elementos
                                                                   constituem a base sobre a qual as palavras e as
• produtos que permitem múltiplas apresentações                    imagens podem ser organizadas de modo a ser
ou tipos de embalagem;                                             obtido um layout de real valor.
• produtos que admitem variantes de forma,                                          Conceito, que em sua forma mais simples
tamanho, padrão e cor;                                                              é sinônimo de ideia, ganhou na
• existência de marcas fortes;                                                      propaganda uma conotação muito mais
• linha de produção flexível.                                                       ampla. Por um lado, ele sugere a análise
                                                                                    e compreensão do produto e do
                                                                                    problema, a relação do produto com os
         A extensão de linha segue a tendência de                                   objetivos de venda e de mercado, o
transformação progressiva dos hábitos de consumo                                    desenvolvimento de um título e a
ou utilização de segmentos, posicionando a marca                                    combinação de palavras e imagens,
de forma enérgica e diversificada na mente do                                       persuasivas e confiáveis (HURLBURT,
consumidor. Essa estratégia é mais eficaz quando                                    1986, p. 97).
se antecipa à concorrência concretizando posição,
por meio de inovações que tornem a compra do                              As formas e o design são elementos
produto mais prática e proporcionem maior                          essenciais na construção da identidade estética
contentamento ao consumidor.                                       que se deseja para um produto ou embalagem,
                                                                   capaz de transmitir efeitos e sensações aos
DESIGN GRÁFICO                                                     consumidores aos quais elas se destinam. As
       Segundo Azevedo (2006, p. 9),“a palavra                     principais dimensões a serem consideradas ao
design vem do inglês e quer dizer projetar, compor                 planejarmos determinada estratégia estética para
visualmente ou colocar em prática um plano                         uma identidade visual são:
intencional”.
       Uma aplicação ordenada que seguida de                       • formas angulares — possuem uma associação a
pesquisa associada a um vasto conhecimento                         tensão, dureza e masculinidade; contrário os
adquirido, constitui a síntese dos elementos a serem               arredondamentos evocam harmonia e feminilidade.


                                                              15
Distinções que podem ser aplicadas nas linhas retas                   Quanto à utilização das formas relaciona-
captadas para uma referência masculina e linhas                 das ao tamanho deve levar em consideração os
curvas femininas;                                               padrões culturais e regionais, podendo ser inter-
• simetria — compõe o ideal clássico de equilíbrio              pretados sob diferentes conceitos.
e harmonia aplicado à arte, criando ordem e
aliviando a tensão; foi um recurso utilizado ao                               O poder das formas em uma estratégia
                                                                              estética é extraordinário; ele está direta-
longo da história em diferentes campos do
                                                                              mente relacionado com a distinção que
conhecimento. Lessa (1995, p. 76) nos diz que                                 a forma pode proporcionar. Essa identi-
simetria “é uma correspondência em grandeza,                                  ficação, por sua vez, relaciona-se com
forma e posição relativa de partes ou elementos                               a amplitude exclusiva da forma com a
situados em lados opostos de uma linha ou                                     empresa ou a marca e a qualidade per-
distribuídos em volta de um centro”. A assimetria                             cebida inerente a ela (PEREZ, 2004, p.
tem efeito oposto, e em algumas situações cria                                63).
uma ligeira tensão, favorece um diferencial e salva
de uma monotonia;                                                      O design está ligado diretamente às pers-
                                                                pectivas da comunicação de produtos e marcas,
• proporção — refere-se à visualização pertinente
                                                                ou seja, é capaz de criar emoções e experiências
entre partes de um todo que causa um sentimento
                                                                sensoriais e facilitar conexões afetivas com os
estético de equilíbrio harmonioso aos olhos do
                                                                consumidores com a finalidade de motivar ven-
observador, podendo ser aplicada em vários
                                                                das.
contextos gráficos;
• dimensão do tamanho — permite a indivi-                       EMBALAGEM
dualidade de algumas formas; sendo formas                               A palavra embalagem origina-se do fran-
grandes, largas ou compridas subentendem-se                     cês emballage e está relacionada com balle ou
força e peso; quanto às formas pequenas, curtas                 bale, todos de “bola”, a forma primitiva de enro-
ou finas, estas remetem a fragilidade e delicadeza.             lar ou enfardar algum objeto ou mercadoria.
Como exemplo podemos citar a linha de                                   A embalagem é um item que está presente
embalagem do Gel Studio da L’Oréal de                           na vida do ser humano desde os tempos mais
inspiração mondriana: com suas formas largas e                  longínquos, ajudando nas mais variadas e cres-
angulares, o design desses produtos tenciona                    centes necessidades da sociedade e evoluindo
força, energia e eficácia (veja Figura 3).                      no decorrer dos tempos em níveis técnicos e
                                                                conceituais. Utilizada inicialmente para agrupar
                                                                e conter os alimentos, a embalagem proporciona-
                                                                va o transporte e armazenamento desses produ-
                                                                tos. As primeiras embalagens eram identificadas
                                                                exclusivamente por suas formas: a exemplo do
                                                                formato do jarro, propunha-se que o conteúdo fosse
                                                                vinho ou azeite. Essa linguagem permanece até
                                                                os dias atuais como forma eficaz de agregar e
                                                                criar personalidade a um produto.
                                                                        Com o advento de novas tecnologias e o
                                                                desenvolvimento das cidades, a embalagem ad-
                                                                quiriu novas utilidades, uma vez que passou a ser
                                                                ornamentada com rótulos coloridos e imagens atra-
                                                                entes, e fez surgir a primeira função mercadológica
                                                                da embalagem: tornar os produtos mais atrativos
                                                                e, consequentemente, vender mais.
                                                                        A embalagem constitui-se como uma ponte
                                                                interligando o objeto e o sujeito ao qual se
                                                                direciona; é o primeiro elemento de contato, es-
                                                                pecialmente para os produtos de consumo ofere-
                                                                cidos em autosserviço. Ao passo que se faz de
Figura 3 - Design da embalagem com inspiração mondriana.        grande importância ressaltar quanto à área física
Fonte: www.lorealparis.pt/Catalog                               da embalagem devemos explorar todo seu poten-


                                                           16
cial, como objetos semióticos, são portadores de           desejos, transferindo confiança de seus compo-
informações, ou seja, um veículo de mensagens.             nentes e agregando valor ao produto.
        Segundo Perez (2004, p. 66), a embala-                     Uma das associações mais fortes que os
gem na perspectiva promocional deve causar im-             consumidores têm com a marca está relacionada
pacto para que possa ser vista e diferenciada,             com a aparência e o formato da embalagem. A
mas também tem de criar uma conexão emocio-                partir do momento em que a aquisição foi realiza-
nal com as pessoas, a fim de que possa ser apre-           da esta embalagem irá comunicar e fortalecer um
ciada, desejada.                                           vínculo com o consumidor, pois com ele estará em
        A esse contexto, a amplitude e ação da             contato direto por tempo indeterminado.
embalagem, atribui-se uma característica antes
identificada apenas pela marca, a de conexão               Dados de Mercado
afetiva com o consumidor.
        Como propósito semiótico a embalagem                        Receita líquida de vendas
deve ostentar algumas funções essenciais:
                                                                  Conforme estudo realizado pelo IBRE / FGV
• distinção: a embalagem precisa diferenciar-se            para a ABRE, a produção física da embalagem
da de seus concorrentes;                                   decresceu 0,61% em relação ao ano anterior,
• percepção: atrair rapidamente a atenção do               porém, a indústria de embalagens teve faturamento
consumidor;                                                de R$ 36,6 bilhões em 2008, R$ 3 bilhões supe-
                                                           rior ao ano de 2007.
• afinidade: transmitir semelhanças do produto para
o consumidor, convertendo-se em um desejo de
compra;
• atração: a embalagem precisa encantar através
de seu design e mensagem;
• comunicação: capacidade de transmitir com ni-
tidez informações úteis aos consumidores.                  Tabela 2 - Faturamento da indústria de embalagem

        Alguns produtos encontram na embala-
                                                                                                                           (R$ mil)
gem a única forma de comunicar-se com o                                            (R$ mil)

consumidor, a exemplo dos cigarros, cuja
publicidade nos meios de massa, na maior
parte dos países, está proibida.
        Nessa circunstância a embalagem
aproxima-se do consumidor assumindo a fun-
ção de afinidade associada ao estilo de vida
e não a uma realidade concreta, sendo ne-
cessários uma ótima visibilidade, boa
legibilidade das informações e um grande
apelo emocional.                                           Fonte: IBGE/Pesquisa Industrial Anual (PIA) - Empresa Elaboração: FGV
                                                           Disponível em:<http://www.abre.org.br/centro_dados.php>
Os propósitos básicos e os benefícios da embala-           Nota: Empresas com 30 empregados ou mais.
                                                           * Dados estimados.
gem

        Identificação da marca transmite confian-
ça, comunicação direta e fidelização do consumi-
dor. O processo de venda através da embalagem                       Valor bruto da produção
se faz na exposição no ponto-de-venda visando
atrair e conquistar o consumidor, informando de                   O valor da produção nacional de
forma direta e objetiva o que é o produto, o que           embalagem é representado na Figura 4 pela
ele faz e a quem ele será encaminhado.                     receita de cada segmento da indústria, em que
        A embalagem deverá comunicar ao consu-             mais da metade da receita total das indústrias de
midor de forma clara os atributos complementares           embalagem é representada pelos segmentos do
do produto, atendendo às necessidades e aos                plástico e papelão ondulado/papel cartão.


                                                      17
Figura 4 - Gráfico representativo do valor da produção nacional de embalagem por receita
                    de cada segmento da indústria
                    Fonte: IBGE - PIA - Empresa (UL) - 2006 - Elaboração: FGV -
                    Disponível em: <http://www.abre.org.br/centro_dados.php>


DESIGN DE EMBALAGEM                                         de suas ferramentas. Utilizando a embalagem
        Com a proliferação das marcas a propa-              como ferramenta de marketing é possível verificar
ganda está cada vez mais dispendiosa. Nos últi-             um instrumento poderoso de ação institucional e
mos anos o design de embalagem tem se tornado               mercadológica, que produz possibilidades de
mais importante dentro do panorama merca-                   agregar informações de utilidade para o consumi-
dológico, tomando parte no desenvolvimento e no             dor, como anunciar promoção de outros produtos
lançamento de novos produtos.                               da empresa, uma propaganda sem custo de divul-
        O profissional de design atua na aplica-            gação; promoções conjugadas “leve 3 e pague
ção de técnicas, com o intuito de cumprir os obje-          2”; cupons de desconto; embalagens utilitárias;
tivos de marketing para a marca, realizando uma             campanhas institucionais; Internet.
distribuição hierárquica dos elementos, tais como:
forma, imagens, ilustrações, cores, logotipo,               Comunicação interativa
tipologia e outros elementos gráficos que devem
predominar na sua composição. Algumas informa-                      A comunicação caminha em direção à
ções devem ter sua aplicação em destaque con-               interatividade, o principal veículo responsável é a
forme a legislação determina, assim como tabelas            Internet, grandes são as abordagens adotadas
nutricionais para produtos alimentícios.                    pelas empresas para atrair a atenção do consumi-
        Após apuração dos elementos necessários             dor. Citar todas as possibilidades como ferramen-
para a composição da embalagem, inicia-se a                 ta na comunicação ultrapassa a finalidade deste
organização para a diagramação, atribuindo por              artigo, portanto enfatizarei duas ferramentas on-
ordem de importância e função, dando destaque               line decisivas para a construção da marca: sites e
ao item que indique ao consumidor sua importân-             anúncios interativos:
cia, conforme resultado apurado na pesquisa. Os
demais elementos deverão ser aplicados de forma             • sites – as principais vantagens na divulgação e
a dar apoio ao item central, evitando competir e            exibição na Internet são os baixos custos, as gran-
reduzir sua eficácia na comunicação.                        des possibilidades de informações, nível de deta-
                                                            lhe dos produtos ou ser viços e grau de
A embalagem como ferramenta de marketing                    customização que ela proporciona. Desfrutando
                                                            sua natureza interativa, é possível fornecer meios
       A embalagem, por criar um canal direto de            aos clientes para escolher as informações de mar-
comunicação com o consumidor, pode conduzir a               ca relevantes às suas necessidades e desejos. Ins-
ações e custos bem inferiores. Nesse cenário de-            tituir uma comunicação interativa favorece uma
vemos congregar a embalagem ao plano de                     sólida construção de relacionamento.
marketing e comunicação da empresa como uma                 • anúncios interativos – existem diversas vantagens

                                                       18
essenciais à propaganda na Internet, podendo ser               informações obtidas por meio de formas e
monitorada através de softwares capazes de                     elementos gráficos. Criar diferenciais na intenção
rastrear quais anúncios levaram às vendas. Os                  de interagir com o consumidor é o princípio para
anúncios não são intrusivos, portanto não interrom-            estreitar relações, a fim de concretizar a aquisição
pem os consumidores. A comunicação deve ser                    de um produto ou serviço.
focada, de forma a atingir apenas os clientes mais                     No âmbito geral da comunicação novas
promissores e obter acesso às informações dese-                mídias alternativas são designadas com a
jadas.                                                         finalidade de despertar, informar ou criar desejos
                                                               de consumo. Entretanto, neste universo
              De fato, cada vez mais os anúncios na            globalizado, informações podem ser difundidas
              Internet estão se aproximando dos for-           em curto espaço de tempo, onde a Internet está
              matos tradicionais da propaganda. A              consolidada como uma grande mídia interativa.
              BMW criou uma série de filmes especi-            O papel do design neste panorama compreende
              ais para Internet usando diretores conhe-
                                                               uma gama de possibilidades.
              cidos como Guy Ritchie e atores como
              Madona. Já a Ford e a General Motors                     Dos elementos que compreendem a
              criaram videogames on-line para promo-           identidade visual da empresa, a embalagem com
              ver seus carros. Por exemplo, o jogo da          a qual temos contato no dia a dia é o único objeto
              Ford para seu modelo Escape, um veícu-           capaz de ocasionar uma comunicação direta e
              lo utilitário esportivo pequeno, permitia        objetiva com o consumidor final, fazendo-se
              que as pessoas dirigissem o carro em             necessário um estudo minucioso para seu
              uma corrida na Lua. Elas podiam tam-             desenvolvimento e em cujo cenário o design
              bém enviar o jogo por e-mail para seus           desempenha papel de suprema importância.
              amigos, a fim de desafiá-los a bater a
              pontuação que haviam alcançado
              (VRANICA, 2001, p. B11).
              (Tradução nossa).




A relação da embalagem com a Internet                          REFERÊNCIAS

        De modo geral, independentemente de sua                ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMBALAGEM.
composição, forma ou tamanho, todas as                         Disponível em: <http://www.abre.org.br/
embalagens trabalham focalizadas em um único                   centro_dados.php>. Acesso em: 20 nov. 2009.
objetivo: saber onde está o consumidor e, por
consequência, quais são as suas necessidades e                 AZEVEDO, W. O que é design. 3. ed. São Paulo:
como atraí-lo ao ponto-de-venda. Nesse contexto,               Brasiliense, 2006.
a embalagem se consolida como um item de
grande competitividade que atende aos anseios                  CEGARRA, J.; MERUNKA. Les extensions de
dos consumidores e cria uma comunicação clara                  marque. Concepts et modeles: recherche ET
e transparente.                                                applications marketing. Paris: PUF, 1993.
        Através da Internet as empresas passaram
a interagir por meio da linguagem da rede, criando             CRUSZYNSKI, A.C. Design gráfico: do invisível
portais e sites, possibilitando ao consumidor um               ao ilegível. São Paulo: Rosaria, 2008.
contato maior com o produto e aumentando sua
experiência com a marca. A empresa passa a                     HURLBURT, A. Layout: o design da página
conhecer melhor seus consumidores, descobrindo                 impressa. São Paulo: Nobel, 1986.
seus gostos, preferências e interesses, com ações
para que possam se expressar e interagir.                      JONG, Cees de. (Org.) Manual de imagem
                                                               corporativa. Barcelona: Gustavo Gili, 1991.
CONCLUSÃO
       O contato visual corresponde ao principal               KELLER, K. L.; MACHADO M. Gestão estratégica
elemento de interação do consumidor com o                      de marcas. Tradução de Arlete Simille Marques.
produto. Levando-se em consideração o que foi                  São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. Título do
analisado, esta leitura é estabelecida através das             original: Strategic brand management.


                                                          19
LAS CASAS, A. L.; GARCIA, M. T. Estratégias de
marketing para varejo. São Paulo: Novatec, 2007.

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visuais para marcas de sucesso: um guia sobre o
marketing das marcas e como representar
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VRANICA, Suzanne. GM is joinning online
videogame ware. Wall Street Journal, 26 jul.
2001, p. B11.




                                                   20
ANTÍGONA, MEDEIA E
          LISÍSTRATA:
         A MULHER GREGA VISTA PELA
         ÓTICA TEATRAL
                               INTRODUÇÃO
                                       Este trabalho visa mostrar         lher e de seu papel na sociedade, seja ela na
                               a mulher grega em aspectos                 Antiguidade ou na atualidade.
                               diversos da sua vida social,                       Abordaremos aqui a mulher nas tragédias
                               cultural, política e religiosa, nas        Medeia, de Eurípides, e Antígona, de Sófocles; e
                               numerosas propostas do Teatro              nas comédias Lisístrata e A Revolução das Mulhe-
                               Grego Clássico, como por                   res, de Aristófanes.
                               exemplo, a influência dos deu-                     Nos mitos de Medeia e Antígona, as mu-
                               ses mitológicos nas decisões e             lheres que dão nome aos textos são o foco princi-
                               na vida dos gregos, seus dra-              pal de toda a tragédia, onde todos os aconteci-
                               mas pessoais e psicológicos, o             mentos trágicos giram em torno de suas atitudes,
Monique de Cássia Lopes,       destino como algo sempre in-               decisões e vontades. Já nas comédias de Lisístrata
especialista em História pela  certo e totalmente dependente              e A Revolução das Mulheres, a figura feminina é
Universidade de Franca,
                               da vontade dos deuses, etc.                abordada de uma forma, onde o foco dos acon-
UNIFRAN (2010).
                               Tendo como referência os gran-             tecimentos é a forma como as mulheres lidam com
                               des dramaturgos da época, que              a sociedade e o modo de vida dos gregos, seja
                               tinham como objetivo em suas               na guerra, na política ou até mesmo em suas ca-
                               obras não apenas um entreteni-             sas com seus esposos e filhos. Assim, de uma for-
                               mento aleatório, mas sim a bus-            ma muito irônica, Aristófanes retrata a mulher como
                               ca por um maior entendimento               algo importante para a moral e a política gregas.
                               social e político da sociedade,                    Antes de apontar as particularidades dos
                               das guerras, da religião, de               textos, faremos uma reflexão breve sobre o que a
                               seus mitos e da figura feminina            historiografia, num modo geral, nos traz da mu-
                               na Grécia Antiga.                          lher grega e seu papel na sociedade da época.
                                        Dentro desse contexto,                    Sendo assim, ela nos mostra, em termos
                               e segundo a ênfase dada pelo               gerais, que a mulher grega é vista como um ser
                               Teatro aos mais diversos temas             que se doa ou que deve se doar incondicional-
Prof. Anderson Luis Venâncio,  da época, é que se propõe uma              mente e ao máximo a seu esposo e filhos, livran-
doutorando em História pela    reflexão, atual, sobre a figura            do-se de todos seus desejos e vontades, que ficam
Faculdade de História, Direito feminina na Grécia Antiga em               impotentes diante da posição familiar de mãe e
e Ser viço Social da
                               seus aspectos mais diversos,               esposa.
Universidade Estadual Pau-
lista, UNESP (2010). Professor numa era em que a soberania                        Com exceção das espartanas, que apre-
nos cursos de História,        masculina era nítida diante da             sentavam mais autonomia que as mulheres
Geografia, Comunicação         figura da mulher, e mesmo de-              atenienses, devido ao fato de receberem treina-
Social e Design Gráfico da
                               pois de séculos e de várias dis-           mento militar no caso de ocorrer um conflito, e por
Universidade de Franca.
                               cussões sobre este assunto, ele            terem acesso à política e a algumas atividades
                               ainda é repleto de tabus e po-             sociais, tinham uma educação militar e não volta-
            lêmicas causadas pela má compreensão da mu-                   da só para o casamento, filhos e maridos. As

                                                                     21
mulheres gregas tinham uma liberdade bem restri-                   A maior liberdade que as mulheres gregas
ta na vida fora de casa; no entanto, na vida den-         possuíam estava ligada ao campo religioso. Na
tro de casa, elas que comandavam. Cuidavam                maioria das vezes eram nomeadas sacerdotisas,
da casa e dos filhos, o trabalho doméstico nem            e, devido a isso, recebiam até mesmo grandes
sempre era feito por elas, algumas mulheres pos-          honras, podiam ser adoradas e tomar parte em
suíam escravos.                                           rituais religiosos e festivais.
        Essas mulheres poderiam ser livres ou es-                  E é a partir desse raciocínio que começare-
cravas, cidadãs ou metecas (na Grécia Antiga os           mos nossa discussão.
metecos eram os estrangeiros. Não tinham nenhum
direito político nem podiam se casar com os cida-         1- Sófocles e a Tragédia de Antígona
dãos da Grécia. Eles se dedicavam ao comércio
e à atividade manufatureira); podiam pertencer a                 Sófocles procurava mostrar em suas tragé-
uma classe superior ou a uma inferior, e mesmo            dias que a vontade do homem está acima da von-
com essas diferenças, elas tinham algo em comum:          tade das leis. Buscando um maior entendimento
nenhuma mulher apresentava direitos políticos,            com os atores e as suas personagens, Sófocles
sendo sempre controladas por um homem em qual-            mostra com Antígona que, a partir do momento
quer fase de suas vidas.                                  em que o homem passa a agir por sua vontade,
        Ao se casarem, passavam de propriedade            por mais errado e contra a lei que seja, ele age
do pai para propriedade do marido, e se ficas-            por si mesmo, pelo homem, que busca se apartar
sem solteiras, viveriam sempre em submissão ao            da vontade dos deuses para assim cumprir as suas
pai, além de que o fato de não se casarem era             leis.
considerado um ato de desonra para a família,
uma vez que a mulher era vista como uma despe-                          “Sim, porque não foi Júpiter que a pro-
sa a mais para o pai durante todo o resto de sua                        mulgou; e a Justiça, a deusa que habita
vida.                                                                   com as divindades subterrâneas, jamais
                                                                        estabeleceu tal decreto entre os huma-
        Quando criança, a mulher era ensinada
                                                                        nos; nem eu creio que teu édito tenha
pela mãe a fazer os serviços domésticos e a como                        força bastante para conferir a um mortal
governar a casa; era a sua preparação para o                            o poder de infringir as leis divinas, que
casamento. Um pouco mais crescida, aprendia a                           nunca foram escritas, mas são
ficar sempre linda e atraente e, depois dos quinze                      irrevogáveis; não existem a partir de
anos, o pai lhe arranjava um casamento de con-                          ontem, ou de hoje; são eternas, sim! e
veniência, geralmente com um homem bem mais                             ninguém sabe desde quando vigoram! -
velho e que se interessava em casar muito mais                          Tais decretos, eu, que não temo o poder
pela beleza e juventude da menina e por ela pos-                        de homem algum, posso violar sem que
                                                                        por isso me venham a punir os deuses!
suir um bom dote, do que por amor.
                                                                        Que vou morrer, eu bem sei: é inevitá-
        Ao se casar, sua maior obrigação era a de                       vel; e morreria mesmo sem a tua procla-
ser mãe, de preferência de meninos, que herdari-                        mação. E, se morrer antes do meu tem-
am as propriedades da família. No caso das fi-                          po, isso será, para mim, uma vantagem,
lhas, elas só herdariam alguma coisa no caso de                         devo dizê-lo! Quem vive, como eu, no
não haver nenhum herdeiro homem; mesmo assim                            meio de tão lutuosas desgraças, que
ela teria de se casar com um homem escolhido                            perde com a morte? Assim, a sorte que
pelo pai, para, dessa forma, tomar conta do                             me reservas é um mal que não se deve
patrimônio da família.                                                  levar em conta; muito mais grave teria
                                                                        sido admitir que o filho de minha mãe
        As mulheres de classes inferiores também
                                                                        jazesse sem sepultura; tudo o mais me é
tinham a mesma educação das mulheres de clas-                           indiferente! Se te parece que cometi um
ses superiores, para um dia poderem trabalhar nas                       ato de demência, talvez mais louco seja
casas de famílias ricas.                                                quem me acusa de loucura!” (Antígona,
        Sendo pobre ou rica, o que se esperava                          13-4).
da mulher grega era que cumprisse todas as tare-
fas às quais eram destinadas e que tivessem sem-                 Nesse trecho de Antígona, ela é mostrada
pre um comportamento correto e formal perante a           por Sófocles como uma guerreira, que ao ir con-
sociedade. Sendo assim, rica ou pobre, a mulher           tra a palavra do rei se torna uma criminosa e até
grega viveu como a mulher que a história retrata          mesmo uma louca para o tirano. São dois extre-
de forma submissa e diferenciada, por ser mulher.         mos, a vontade do rei Creonte e a coragem de


                                                     22
Antígona, que ao seguir a tradição grega se torna                          bém a ti, meu irmão querido!
inimiga de um território que é de domínio de outro                         Quando morrestes, eu, com minhas pró-
homem. No entanto, a tragédia não existiria sem                            prias mãos, cuidei de vossos corpos,
a opressão feita pelo rei, e Antígona se mostra                            sobre eles fiz libações fúnebres; e hoje,
                                                                           Polinice, porque dei sepultura a teus res-
com muita determinação e coragem para realizar
                                                                           tos mortais, eis a minha recompensa!
os preceitos que mandam as tradições gregas.                               Creio, porém, que no parecer dos ho-
        A heroína de Sófocles enfrenta a tirania de                        mens sensatos, eu fiz bem. Com efeito,
Creonte com muita firmeza e determinação e, mes-                           nunca, por um filho, se fosse mãe, ou
mo ciente das consequências que seus atos lhe                              pelo marido, se algum dia lamentasse a
trarão, ela entrega toda a sua vida em honra de                            morte de um esposo, eu realizaria seme-
seu irmão, cumprindo apenas o seu dever.                                   lhante tarefa, contrariando a proibição
        Ao ir contra Creonte, Antígona mostra que                          pública! E por que razão assim penso?
jamais se submeterá à vontade do tirano, mesmo                             Porque eu poderia ter outro esposo, mor-
                                                                           to o primeiro, ou outros filhos, se perdes-
a lei estando do seu lado.
                                                                           se o meu: mas, uma vez mortos meu pai
        Aquela mulher até então retratada pela                             e minha mãe, nunca mais teria outro ir-
historiografia, submissa e com uma educação vol-                           mão! Eis aí por que te prestei estas hon-
tada para o casamento, abre espaço para a mu-                              ras, e por que, na opinião de Creonte,
lher guerreira e corajosa, que quer apenas fazer o                         pratiquei um crime, um ato incrível, meu
que deve ser feito perante a Lei dos deuses e não                          querido irmão. E agora sou arrastada,
a Lei dos homens.                                                          virgem ainda, para morrer, sem que hou-
        O seu dever está em prestar honras fúne-                           vesse sentido os prazeres do amor e os
bres ao seu irmão morto, jamais Antígona se sub-                           da maternidade. Abandonada por meus
                                                                           amigos, caminho, viva ainda, para a
mete a ir contra a vontade da tradição, onde a
                                                                           mansão dos mortos. Deuses imortais, a
busca por ela é o desenrolar de toda a tragédia,                           qual de vossas leis eu desobedeci?
na qual o destino de Antígona é decidido nas                               Mas... de que me serve implorar aos
primeiras páginas do texto.                                                deuses? Que auxílio deles posso rece-
        Essa é a tragédia do mito de Antígona, o                           ber, se foi por minha piedade que atraí
desenvolver de uma história de coragem e respei-                           sobre mim o castigo reservado aos
to que essa mulher mostra perante o que ela acre-                          ímpios? Se tais coisas merecem a apro-
dita; é a mulher que para defender os seus interes-                        vação dos deuses, reconheço que sofro
ses não mede consequências, mas vai até as últi-                           por minha culpa; mas se provém de meus
                                                                           inimigos, eu não lhes desejo um suplício
mas instâncias para defender aquilo em que acre-
                                                                           mais cruel do que o que vou padecer!”
dita.                                                                      (Antígona, 29)
        Antígona é a mulher que o teatro nos traz
para uma visão contemporânea, como a mulher                          E é assim, com fé e com amor, que Antígona
que defende seus interesses, não se importando                traça o seu destino, que é de suma importância
com as consequências. São mães, irmãs, avós que,              para as tragédias gregas.
ao agirem com seus instintos “animais” de defen-
derem suas “crias”, vão até o extremo de suas                 2- Eurípides e o mito de Medeia
forças, ao extremo do que acreditam, do que bus-
cam como sendo o bem e o seu dever como                               O crime de Medeia é o desenvolver de um
mulher.                                                       processo que vai num crescendo de implacável
        Ela deixa de ser o sexo frágil para, assim,           violência desde o princípio da tragédia. Logo no
se tornar a heroína de sua história.                          começo do texto, quando a ama traz as caracte-
                                                              rísticas de sua senhora, depois de abandonada e
              “Antígona                                       traída pelo homem a quem tudo sacrificara, com-
              Ó túmulo, ó leito nupcial, eterna prisão        preendemos, assim, que a sua reação vai ser terrí-
              da subterrânea estância, para onde ca-
                                                              vel. E, a partir do momento em que Medeia entra
              minho, para juntar-me aos meus, visto
              que a quase todos já Perséfone recebeu          em cena, no primeiro episódio, até o momento
              entre os mortos! Seja eu a última que           em que a deixa, já no final da peça, assistimos
              desço ao Hades antes do termo natural           aos seus monólogos,onde se destrói toda a sua
              de meus dias... Lá, ao menos, tenho es-         alma, presa entre a sede de vingança e o amor
              perança de que minha chegada agra-              maternal. Assim a protagonista domina todo o
              dará a meu pai, a minha mãe, e tam-             drama, com as suas alternâncias de amor e ódio,


                                                         23
as suas atitudes de fúria ou até de submissão.                               bem-estar e a companhia dos amigos. E
       É um ser humano agitado por uma paixão                                eu, sozinha, sem pátria, sou ultrajada
incontrolável. Ao chegar ao final da tragédia,                               pelo marido, raptada duma terra bárba-
porém a figura de Medeia retira-se do palco no                               ra, sem ter mãe, nem irmão, nem paren-
                                                                             te, para me acolher desta desgraça.
carro do Sol, como se fosse uma divindade.
                                                                             Apenas isto de vós quero obter: se algu-
       No começo Medeia é tida como vítima de                                ma solução ou processo eu encontrar
uma situação triste, mas ela foi capaz de lutar e                            para fazer pagar ao meu marido a pena
buscar sua vingança como um herói clássico.                                  deste ultraje, guardai silêncio. Aliás,
                                                                             cheia de medo é a mulher, e vil perante
             “Medeia                                                         a força e à vista do ferro. Mas quando
             Saí de casa, ó mulheres de Corinto, para                        no leito a ofensa sentir, não há aí outro
             que nada me censureis. Porque eu sei                            espírito que penda mais para o
             que muitos dentre os mortais são arro-                          sangue”(Medeia, 11).
             gantes, uns longe da vista, outros à por-
             ta de casa; outros, atravessando a vida                    Esse trecho resume o sentimento que Me-
             com passo tranquilo, hostil fama ganha-           deia transmite a peça toda. Com muito desespero
             ram de vileza. Porque não há justiça aos          e confusa, ela busca uma explicação para enten-
             olhos dos mortais, se alguém antes de             der tudo o que Jasão fez para ela, mesmo depois
             bem conhecer o íntimo do homem, o                 de todo o amor e dedicação dados a ele.
             odeia só de o ver, sem ter sido ofendi-
                                                                        A situação triste de Medeia a coloca como
             do. Força é que o estrangeiro se adapte
                                                               esposa abandonada, mãe de duas crianças, em
             à nação; tampouco louvo do cidadão
             que é acerbo para os outros, por falta
                                                               situação de exílio e mulher estrangeira. Medeia
             de sensibilidade.                                 representa a mulher envolvida em circunstâncias
             Sobre mim este feito inesperado se aba-           tristes, saiu da casa de seus pais muito jovem para
             teu, que a minha alma destruiu. Fiquei            acompanhar o seu marido. O momento em que a
             perdida e tenho de abandonar as gra-              protagonista discursa para o coro que representa
             ças desta vida para morrer, amigas.               as mulheres de Corinto, ela expõe uma tradição
             Aquele que era tudo para mim (ele bem             na qual todas se reconheceriam, pois desde muito
             o sabe) no pior dos homens se tornou - o          jovens eram destinadas à subordinação, à autori-
             meu esposo.                                       dade masculina. O responsável pela família pro-
             De quanto há aí dotado de alma e de               videnciava o seu casamento, para o qual era pre-
             razão, somos nós, mulheres, a mais                ciso um dote com o objetivo de comprar um mari-
             mísera criatura. Nós, que primeiro temos          do, e cabia à jovem aceitá-lo como senhor com
             de comprar, à força de riqueza, um
                                                               total controle sobre a sua pessoa.
             marido e de tomar um déspota do nosso
                                                                        O autor nos mostra uma mulher, cujo com-
             corpo - dói mais ainda um mal do que o
             outro. E nisso vai o maior risco, se o to-        portamento integra o espaço do desvio ao pa-
             mamos bom ou mau. Pois a separação                drão estabelecido e esperado pelo homem gre-
             para a mulher é inglória, e não pode              go.
             repudiar o marido.                                         O padrão correto de uma vida regrada em
             Entrada numa raça e em lei novas, tem             relação ao comportamento feminino foi construído
             de ser adivinha, sem ter aprendido em             pelo homem grego, onde o mesmo esperava que
             casa, de como deve tratar o companhei-            ela caminhasse de acordo com o modelo chama-
             ro de leito. E quando o conseguimos com           do de mélissa, que propunha uma mulher submis-
             os nossos esforços, invejável é a vida            sa, silenciosa e passiva, ao contrário do compor-
             com um esposo que não leva o jugo à               tamento proposto aos homens: dominante, ativo,
             força; de outro modo antes a morte. O             agressivo e agente de decisão.
             homem, quando o enfadam os da casa,
                                                                        Ao expor seu drama, a tragédia nos mos-
             saindo, liberta o coração do desgosto.
                                                               tra bem o que a historiografia nos traz das mulhe-
             Para nós, força é que contemplemos uma
             só pessoa. Dizem: como nós vivemos em
                                                               res da Grécia Clássica, mulheres sem voz ativa
             casa uma vida sem risco, e ele a com-             numa sociedade dita democrática.
             bater com a lança. Insensatos! Como eu                     A partir disso o drama se desenrola de for-
             preferiria mil vezes estar na linha de            ma que, ao fim da tragédia, Medeia faz com que
             batalha a ser uma só vez mãe!                     toda a desgraça seja fruto de um amor egoísta e
             Mas a vós e a mim não serve a mesma               doentio.
             argumentação. Vós tendes aqui a vossa                           “Medeia
             cidade e a casa paterna, a posse do                             Amigas, decidida está a minha ação:


                                                          24
matar os filhos o mais depressa que pu-                  A revolução das mulheres é uma sátira às
              der e evadir-me desta terra, não vá acon-        teorias de certos filósofos da época, principalmente
              tecer que, ficando eu ociosa, abandone           os chamados de sofistas, que se transformariam
              as crianças, para serem mortas com mão           em República, de Platão.
              mais hostil. É absoluta a necessidade de
                                                                       Lideradas por Valentina, que recorda muito
              as matar, e, já que é forçoso, matá-las-
              emos nós, nós que as geramos. Mas                a figura de Lisístrata por sua coragem, as mulheres
              vamos, arma-te, coração. Por que hesi-           de Atenas decidem tomar conta do poder, pois
              tamos e não executamos os males terrí-           estão cansadas da incapacidade dos homens.
              veis, mas necessários? Anda, ó minha             Impõem uma nova constituição, com base na co-
              desventurada mão, empunha a espada,              munidade dos bens, tendo em vista a eliminação
              empunha-a, move-te para a meta dolo-             do “pobre”.
              rosa da vida, não te deixes dominar pela                 Inspiradas na ideia de que há semelhan-
              cobardia, nem pela lembrança dos teus            ças entre a direção da coisa pública e a do lar,
              filhos, de como eles te são caros, de
                                                               as mulheres governarão a cidade com a mesma
              como os geraste. Mas por este breve dia,
              ao menos, olvida, que depois os chora-           eficiência com que cuidam de suas casas, para
              rás. Porque, mesmo matando-os, eles te           satisfação de todos. Não haverá mais ricos de
              são sempre caros e eu – que desgraça-            um lado e pobres do outro. Atenas seria como
              da mulher que eu sou!” (Medeia, 43).             uma única habitação na qual cada um poderá
                                                               obter o necessário à sua subsistência, graças a
        Sendo assim, a tragédia de Medeia nos                  reformas de base como a comunidade de bens e
deixa em dúvida da forma como ela agiu; no en-                 de mulheres.
tanto, nas tragédias nenhuma opção resta ao pro-                       Aristófanes mostra a mulher por um prisma
tagonista a não ser a tragédia.                                muito irônico e político, valorizando seu papel na
                                                               sociedade a partir de seus dotes de esposas, do-
3- Aristófanes e a mulher cômica de Lisístrata e A             nas de casa e mães.
revolução das mulheres                                                 A mulher em seu texto é vista como a hero-
                                                               ína da comédia que salvará a vida de todos. Ao
         Cansadas de uma guerra que já durava                  contrário da tragédia, em que a mulher é a causa-
20 anos, as mulheres de Atenas, de Esparta, de                 dora de toda a desgraça que assombra o texto,
Beócia e de Corinto (cidades gregas mais atingi-               nas comédias a mulher é vista como a peça que
das pela guerra), chefiadas pela ateniense                     dará a solução para o que a sociedade tanto
Lisístrata, decidiram pôr fim a ela usando de uma              necessita. Aristófanes vai contra a tradição grega
tática pouco aceita: uma greve de sexo.                        ao colocar a mulher em um papel importante pe-
         A peça de Aristófanes foi uma tentativa real          rante o que espera a sociedade.
de acabar com uma guerra. Na época em que
foi apresentada (411 a.C.), Atenas atravessava                 CONCLUSÃO
um período difícil de sua história. Aristófanes se
fez porta-voz de todas as esposas e mães gregas                       A mulher retratada de forma poética reúne
e, por intermédio de Lisístrata, lançou um apelo               todos os sentimentos, vontades, sonhos e conflitos
em favor da paz, não somente aos atenienses,                   presentes nas mulheres gregas da antiguidade.
mas a todos os gregos. Infelizmente a mensagem                        Afirmar certas coisas não é possível, porém
de Aristófanes não foi ouvida e a guerra conti-                as fontes que nos são apresentadas deixam clara
nuou, arruinando a Grécia, e as guerras continua-              a posição social da mulher na Antiguidade Clás-
ram, mutilando o mundo.                                        sica.
         Embora Lisístrata seja a mais simples das                     Não só na Antiguidade, mas em todo o
comédias de Aristófanes, pela elevação dos senti-              decorrer da história, a mulher é vista com os olhos
mentos que transmite a heroína, pela delicadeza                preconceituosos de uma sociedade machista que
das intenções do autor e por suas próprias quali-              ainda nos assola, que ainda faz com que a mu-
dades como texto teatral, ela merece a fama que                lher perca o seu prestígio. Um raciocínio um tanto
até hoje lhe faz parte em todas as plateias civiliza-          feminista, mas a realidade da mulher ainda se res-
das. Vinte e quatro séculos de guerras a tornaram              tringe a isso, não em sua maioria, mas em uma
cada vez mais atual e não diminuíram em nada o                 minoria que faz a diferença.
brilho da comédia e mesmo a espiritualidade que                       Mulheres que tiveram sua criação voltada
há por trás do irônico argumento de Aristófanes.               para o casamento, filhos e marido não estavam


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presentes somente na Grécia Antiga; elas ainda
hoje sofrem com a realidade que lhes tira a opor-
tunidade de sonhar e buscar o melhor.
       Mesmo que sejam apontadas nas tragédi-
as discutidas como as causadoras de todo o pro-
blema, as mulheres mostram coragem, determina-
ção e fé, qualidades que revelam seres guerreiros
que buscam seu espaço na sociedade, em vez de
se contentarem com o que delas se espera social-
mente.
       Sejam elas Medeias, Antígonas, Lisístratas
e muitas outras mulheres que buscam uma “revolu-
ção”, elas têm de lutar sempre e buscar seus ide-
ais; cada qual com suas características e particu-
laridades, devem sempre buscar o que acreditam,
senão serão sempre e apenas mulheres. Enfim, a
proposta é que sejam as protagonistas de seu “te-
atro clássico”.




REFERÊNCIAS

ARISTÓFANES. A revolução das mulheres. Rio de
Janeiro: Civilização Brasileira,1995

EURÍPIDES, 480-406 a.C. Medeia, Hipólito e as
troianas. Rio de Janeiro: Zahar, 1991

LESKY, A. A tragédia grega. São Paulo:
Perspectiva, 1971

SÓFOCLES. Antígona. Tradução de Maria Helena
Rocha. Brasília: UNB, 1977.




                                                     26
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  • 1. 1
  • 2. 2
  • 3. EXPEDIENTE Presidentes: Membros: Clovis Eduardo Pinto Ludovice Abib Salim Cury Cláudio Galdiano Cury Cláudio Galdiano Cury Diretoria Executiva: Clovis Eduardo Pinto Ludovice Dr. Clovis Galdiano Cury Clovis Galdiano Cury Fabrissa Oliveira Ludovice de Sousa Fabrissa Oliveira Ludovice de Sousa Chancelaria: Fernanda de Oliveira Ludovice Garcia Prof. Dr. Abib Salim Cury Frederico de Oliveira Ludovice Dr. Clovis Eduardo Pinto Ludovice Neuza Galdiano Cury Reitoria: Consultor Jurídico: Prof.a Dr.a Rosalinda Chedian Pimentel Inocêncio Agostinho Teixeira Batista Pinheiro Prof. M.e Arnaldo Nicolella Filho Órgãos de Apoio: Prof.a Dr.a Kátia Jorge Ciuff Dr. Vicente de Paula Silveira Prof.a M.a Elisabete Ferro Sousa Touso Carmem Lígia Jacinto Rodrigues Alves Secretária: Prof.a Magda Maria Mondine Revista MODA & CULTURA: Estagiárias: Conselho Editorial Fernanda Cristina Lopes Gabriela Silva Bambil Presidente: Natália Maria Ricci Maia Prof. Orlando Cabrera Integrantes: Colaboradores: Prof.a Cacilda Gléria Carneiro Editora Unifran Prof. Esp. Fabrício Coelho Malta Prof.a Fernanda Fontanetti Gomes Os artigos assinados são de responsabilidade Prof. Gustavo Henrique Gyrao de Paula Lopes exclusiva de seus autores, eximindo a revista Prof.a Iolanda Lúcia de Carvalho Paixão Serra MODA & CULTURA de toda e qualquer opinião e Prof. a Laura Teika Lopes Miranda Meirelles conceitos neles expressos. Junqueira Prof. M.e Lucas Miranda Pinheiro Correspondência, informações e colaborações Prof. M.e Lucas Antônio de Araújo devem ser encaminhadas para: Prof. Esp. Orlando Aparecido Cabrera Design Moda Estilismo Prof. Reginaldo Antônio da Silva Av. Dr. Armando Salles Oliveira, 201 Prof. Rodrigo Lopes Vilaça Parque Universitário Franca | SP - Cep 14404-600 Jornalista Responsável: PABX 16 3711 8888 Prof.a Andréa Berzotti - MTB 27973 www.unifran.br Fotografia: email: orlandoac@unifran.br Prof. Alexandre Milito Neto Projeto Gráfico: Agradecimentos: Prof. Esp. Fabrício Coelho Malta Gabriela Silva Bambil, Natália Maria Ricci Maia Revisão de texto: Fernanda Cristina Lopes, Alexandre Milito Neto, Prof.a Andréa Berzotti - MTB 27973 Maxwell Souza Alves, Fabio Pacheco 3
  • 4. EDITORIAL “DE UMA ETERNA JUVENTUDE, A MODA ACOMPANHA O TEMPO E PERPETUA-SE ATRAVÉS DELE. ELA É O ESPELHO OU REFLEXO DA ALMA DE UMA ÉPOCA.” YVES SAINT LAURENT Moda. Moda. Moda. Incansáveis buscas por respostas. Este é o dia a dia de nós profissio- nais que trabalhamos com uma área que está di- retamente conectada com a mudança. Parece fácil. A moda mescla atitude, valo- res, cultura, tecnologia, comportamento. Capta o espírito do tempo e toda a linguagem de uma época e transforma em produtos que irão atender o mercado. Entender um mundo em constante evo- lução e seus sujeitos mutantes é apaixonante, po- rém, inquietante. Criar, reconstruir, transformar são palavras que fazem parte do cotidiano do profis- sional de Moda. Este é o nosso trabalho. Sempre que fechamos um ciclo damos início a um novinho em folha. Um continuum de buscas por novas in- formações e constantes pausas para reflexões. A proposta desta segunda edição da revis- ta MODA&CULTURA surge dessa necessidade de partilhar aquilo que vem sendo discutido por nós, docentes do Curso de Moda, no âmbito acadê- mico, e abrir espaço para que surjam, assim, no- vos questionamentos. É o que move a Moda. Prof.a Fernanda Fontanetti Gomes 4
  • 5. A moda brasileira ganhou o mundo. A valorização do profissional da área se refle- tiu no mercado de trabalho. Hoje, o setor busca profissionalização, favorecendo quem possui formação superior. As oportunidades são muitas em um setor que movimenta R$ 60 milhões, cresce 20% ao ano e empre- ga mais de 1,5 milhão de pessoas. Optando pela UNIFRAN, o estudan- te de moda tem a vantagem de viver a reali- dade de um polo internacional do setor calçadista, o que amplia as oportunidades de emprego ainda durante o curso. Com aulas teóricas e práticas, é preciso disposi- ção e criatividade para aproveitar discipli- nas em história da moda, do design e da arte, desenho de moda, computação gráfi- ca, tecnologia têxtil, modelagem, estilo e pro- dução de moda, organização de eventos, gestão empresarial, marketing em moda, la- boratório de criatividade, planejamento e desenvolvimento de produto. Com uma formação ampla e a possi- bilidade de atuar de forma experimental em diferentes áreas de moda, o profissional sai da UNIFRAN em condições de exercer fun- ções de consultor de moda, stylist, produtor de moda, estilista, figurinista, modelista, de- senhista, gerente de produto de moda, ilus- trador, gestor de empresas de confecção, organizador de eventos de moda, editor de moda e marketing de moda. Desde o 1º ano o aluno pode estagiar no núcleo do curso de Moda, em atividades relacionadas à revista MODA&CULTURA, a pesquisa de tendências e mercado de moda e aos eventos do curso. Com isso, pretende- se facilitar e ao mesmo tempo valorizar o estágio acadêmico como atividade pedagó- gica, visando proporcionar ao aluno oportu- nidade de verificar ou aplicar teorias apren- didas, no conteúdo das diversas disciplinas, para, desse modo, conseguir um real apro- veitamento nos seus estudos. A parceria teoria/prática é capaz de formar cidadãos e profissionais competen- tes, aptos para um trabalho digno do papel que desempenharão na sociedade. Que o aluno, de Moda, aprenda a aprender e a construir com as ferramentas aqui oferecidas. É o que se pretende. 5
  • 6. SUMÁRIO A relevância da reflexão estética: contribuições de Hegel e Ortega y Gasset................................7 Os bastidores da moda.....................................................................................................10 Elementos essenciais na interação do produto ou serviço com o consumidor................................12 Antígona, Medeia e Lisístrata: a mulher grega vista pela ótica teatral.........................................21 Capa Fotografia: Alexandre Milito Neto Direção de arte: Fernanda Fontanetti Maquiagem e cabelo: Orlando Cabrera Modelo: Emanuelle Guidugli Favaretto Tratamento de imagem: Fabrício Coelho Malta 6
  • 7. A RELEVÂNCIA DA REFLEXÃO ESTÉTICA: CONTRIBUIÇÕES DE HEGEL E ORTEGA Y GASSET O objetivo do presente nal, por exemplo, em um livro de teoria, mas que artigo será apontar, de uma seu lugar dentre os aspectos de qualquer coisa maneira geral e simples, as possui muito mais destaque àquilo que está relaci- concepções e reflexões estéti- onado à aparência, à beleza, ao sentimento e à cas de dois pensadores funda- imaginação. mentais para a história da filo- Estética possui algumas definições mais sofia e distintos um do outro recorrentes e todas têm alguma relação entre si, no que se refere à visão de mas o fato de as definições variarem nos diz que mundo: o alemão Hegel e o não é simples definir o que é estética. Essa dificul- espanhol Ortega y Gasset. dade pode ser em parte atribuída à dificuldade Antes de adentrarmos às con- que temos de refletir acerca de aspectos que es- Prof. Lucas Antônio de Araú- siderações dos dois autores tão vinculados justamente à dimensão humana em jo, mestre em História pela acerca da estética se faz ne- que se situa a estética, ou seja, à dimensão dos Faculdade de História, Direi- to e Serviço Social/UNESP cessária uma introdução ao sentimentos, do belo e da imaginação. É a mes- (2008). Professor no curso de tema que dê conta, ao menos ma dificuldade da crítica artística de forma geral, Design Moda e Estilismo da de maneira geral, da varieda- a discussão de se atribuir valor a algo que está Universidade de Franca, na de de possibilidades de se re- intimamente ligado ao gosto, à preferência. disciplina de Estética e Histó- ria da Arte e do Design. fletir sobre a estética, bem É na reflexão estética que nos perguntamos: como de analisar suas carac- é possível a beleza universal, como acreditavam terísticas e demonstrar a rele- os clássicos, os artistas renascentistas e barrocos? vância do tema. A crença em uma beleza universal, mesmo que De início é importante salientar que o que ilusória, é fundamental para uma arte profunda- se relaciona à estética está, como nos aponta Mora mente elaborada e desenvolvida tecnicamente (2001, p. 231), vinculado à forma, à disposição como eram a renascentista e a barroca? O gosto dos elementos. Assim sendo, podemos concluir que é totalmente relativo? É possível apontar o mau praticamente tudo possui uma dimensão estética, gosto estético? O que o define? que o conteúdo possui uma forma e a estética São questões difíceis de ser respondidas, está, primeiramente, ligada a essa forma. mas que, de maneira alguma, aqueles que se Esta dimensão estética se mostra muito mais dedicam aos ramos característicos da estética, da relevante em áreas da atividade e criação huma- busca do belo, que se relacionam ao gosto e ao nas que lidam com as sensações e os sentimentos sentimento, como as artes em geral, a arquitetura, (veremos adiante como a estética está intimamen- a moda, o design, devem em algum momento en- te vinculada à dimensão dos sentimentos, da sen- carar, sabendo que dificilmente encontrarão a res- sação e da ideia de beleza). Isto não quer dizer, posta absoluta. obviamente, que a estética não seja parte rele- Para se situar melhor na reflexão estética, vante de outros aspectos mais relacionados àquilo campo onde tais questões são debatidas, é muito que poderíamos denominar de dimensão racio- importante um conhecimento mínimo do que se 7
  • 8. discutiu até agora a respeito, algo que só a leitura de eminentemente humana, em uma atividade dos filósofos e pensadores que se debruçaram puramente espiritual, vendo o homem como estra- sobre o tema pode trazer. Tal conhecimento abre nho à natureza e à matéria, mas dependente de- possibilidades e capacidades de percepção, re- las, por serem instrumentos, para realizar a obra flexão e criação estéticas de uma maneira nova e de arte: embasada, que possui a noção do que se produ- ziu e pensou acerca daquilo a que se propõe rea- O movimento espiritual aliena-se na lizar. Não é difícil percebermos que se trata de matéria sensível, mergulha naquilo que uma limitação recorrente nos dias atuais nos ra- lhe é estranho (a matéria) – para retornar mos comuns à reflexão e realização estética. Não a si mesmo, reconhecendo-se como ou- tro (2006, p. 40). devemos nos conformar a esse estado de coisas. Cada autor que se debruçou sobre o tema acabou empregando uma noção específica de O filósofo dividirá a estética, entendida estética. Para o influente filósofo grego Platão, como filosofia da arte, em três estágios ou perío- por exemplo, a estética estava condicionada à dos fundamentais: ética, ou seja, o que era belo deveria necessaria- a) a primeira fase da estética hegeliana é mente ser bom, ser correto. Através de suas refle- a simbólica. Ela está intimamente ligada às pri- xões podemos nos perguntar: é possível que algo meiras formas religiosas das primeiras civilizações. ruim ou errado seja belo? Seria um estágio rudimentar na tentativa do ho- Os dois pensadores que este artigo se pro- mem de impor o conceito às coisas do mundo. A põe a apresentar possuem concepções diferentes matéria bruta é talhada de forma a lembrar, a entre si e em relação à concepção de Platão. marcar a presença do espírito. O símbolo não O espanhol Ortega y Gasset é considera- consegue por excelência resolver a tarefa a que do um dos maiores filósofos do século XX e se se propõe. Um templo é o exemplo utilizado pelo dedicou à reflexão estética em seu livro Adão no autor. paraíso e outros ensaios de estética (2002). Para b) o segundo estágio é o clássico. Na arte o autor a arte é uma interpretação da vida que clássica o homem deixa o símbolo de lado e pas- “disputa com a realidade”. Uma explicação ocor- sa a representar a si mesmo. A figura humana passa rida entre o homem e o mundo, uma operação espiritual tão fundamental quanto a religião e a ciência. Diante da experiência artística de um tem- po ou de um povo ele irá se perguntar a qual exigência do povo ou do espírito sua arte satisfez. A história da arte seria uma história do sentimento tal qual a história da religião. A arte expressa os profundos sentimentos e anseios do homem, o que realmente tem valor para o artista e para seu público. Ela seria “a fabrica- ção de formas que nos fazem sentir a vitalidade orgânica, uma expansão virtual de energias e uma liberação imaginária”. Para Hegel, a arte reflete de alguma forma o que seria o desenvolvimento da história e do homem. Ele não levará de forma alguma em con- sideração o belo natural; para ele a beleza deve Figura 1 - Mosteiro de Melk. Século XVIII, Áustria ser uma atividade do espírito e onde vislumbre- mos o homem. A estética se vincula, então, para o filósofo, estritamente à arte. A arte é atividade do homem para o homem. As formas artísticas a ser exaltada e adorada. A beleza já encarada representam a caminhada do espírito também rumo como algo que está no próprio homem. Vejamos à sua liberdade, que é a plena consciência de si um exemplo: mesmo para Hegel. c) o romantismo será apontado por Hegel A descrição de Rosenfield nos mostra como como a terceira fase e irá se caracterizar como Hegel transforma a arte, mais do que uma ativida- um idealismo radical, no sentido de que ostenta 8
  • 9. ao menos tivesse tal ilusão. Hegel citará como exemplos do desenvolvimento espiritual propicia- do pelo romantismo escritores como Dante e Goethe; o primeiro, autor da Divina Comédia; o segundo, de Fausto. O romantismo seria a liberta- ção do espírito e a sua preparação para o retor- no ao absoluto. Através dos exemplos apontados podemos vislumbrar a relevância estética para o ser huma- no em geral. Não são poucas as vezes que esta dimensão estética – da arte, da beleza, da forma em geral – é encarada como secundária em rela- Figura 2 - Discóbolo, 450 a.C., Grécia. ção à dimensão racional, ou ao conteúdo, e esta abordagem teve como objetivo apontar, ainda que de maneira breve, a sua profundidade e capaci- dade de refletir os anseios e estados de espírito, desprezo em relação à matéria e às forças que de ser um importante meio de compreender os sempre tolheram o espírito. É como se o herói gre- anseios, os sentimentos e os valores dos homens go não precisasse mais enfrentar a tragédia, ou de uma época ou lugar, assim como os nossos. REFERÊNCIAS HEGEL, G. F. Curso de Estética: o belo na arte. São Paulo: Martins Fontes, 2001. MORA, J. F. Dicionário de Filosofia. Tradução: Roberto Leal e Álvaro Cabral. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. ORTEGA Y GASSET, J. Adão no Paraíso e outros ensaios de Estética. Tradução: Ricardo Araújo. São Paulo: Cortez, 2002. PAREYSON, L. Os problemas da Estética.Tradução: Maria Helena Nery Garcez. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997. ROSENFIELD, K. H. Estética. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. 9
  • 10. OS BASTIDORES DA MODA A Moda enquanto elemen- muito pelo contrário, ele os exige, mas são essas to constitutivo na comunicação do características intangíveis, repleta de significado, indivíduo sinaliza através do ves- esta possibilidade de transformar-se naquela pes- tuário aspectos importantes com soa que não se é(ou se pensa que não se é?). relação às diversas posições e O consumidor da atualidade compra os papéis desempenhados pelos su- produtos não tanto pelo aspecto funcional, mas jeitos. O lado mais intrigante da pelo que este pode comunicar. A Moda nos possi- relação entre os indivíduos, os pro- bilita isto, já que é possível utilizar do próprio cor- dutos e as marcas está no fato de po como suporte para as múltiplas significações. utilizarmos dos discursos criados Segundo Feghali (2008, p. 44), a vesti- pelas marcas como se fossem o menta é uma chave mestra que abre as portas do Prof. a Fernanda Fontanetti nosso próprio discurso. indivíduo, revela nossas crenças essenciais, inte- Gomes, especialista em Marketing e Vendas, pela Apropriamo-nos de tais narrativas resses, atitudes e características da nossa perso- Universidade de Franca, para criar ou expressar nossa pró- nalidade, como autoconceito, a intensidade da UNIFRAN (2006). Professora pria identidade. emoção, o grau de dogmatismo, os processos no curso de Design Moda e cognitivos, a criatividade, nosso relacionamento Estilismo da Universidade de Para Miranda (2008, interpessoal, incluindo o grau de ascendência, o Franca, nas disciplinas de Métodos e Técnicas em p.110), A marca de moda é um nível de interiorização ou de exteriorização, e a Pesquisa em Moda, Planeja- espelho às avessas, reflete para o necessidade de aceitação social. mento e Organização de outro o jeito de ser, sentir e pen- O vestuário passa a ser o passaporte prin- Eventos de Moda, Psicologia sar dos indivíduos. O conflito en- cipal para integrar-se em um determinado grupo e do Consumidor de Moda, Teoria da Informação e tre o eu individual e o eu social ao mesmo tempo elemento principal de diferenci- Semiótica e Vitrine e Produção busca equilíbrio através desta for- ação/ individuação. Reconhecemos nas pessoas de Moda. mas de comunicação. crenças e valores que são veiculados através do O vestuário auxilia o indiví- uso das marcas ou produtos. Estes servem como duo a entrar e sair nos diversos papéis que este sinalizadores e meio de expressão das diversas desempenha no convívio social e até acaba se tribos. tornando um apoio para reforçar características O vestuário também possibilita mostrar o que julgamos ausentes na própria identidade. lado individual, onde os sujeitos constroem as pró- Para Miranda (2008, p. 111), a vida é o prias formas de expressão de identidade. O cor- palco e a marca de moda oferece figurinos, sen- po aparece como uma tela em branco onde se- do assim possível participar de outros mundos e rão pintadas as diversas facetas que gostaríamos voltar para os anteriores sem ameaça de punição. de apresentar. Através de cada look são criados Assim, volta-se para a premissa de onde se partiu depoimentos de si mesmo. para o desenvolvimento deste estudo: a moda é Segundo Miranda (2008, p. 60), atual- essencialmente simbólica. É certo que o indivíduo mente, o vestuário de moda é considerado a ex- não esquece os aspectos funcionais da roupa, pressão de valores individuais e sociais predomi- 10
  • 11. nantes em período de tempo determinado. É visto mais sentido queremos morrer. como forma de expressão da perso-nalidade, ex- A roupa está entre o corpo e o mundo. tensão visível e tangível da identidade dos senti- Esta possibilita criar também um distanciamento. mentos individuais. É forma de comunicação não- Serve como barreira, o sujeito se esconde atrás verbalizada, estabelecida por meio de impressões de sua capa protetora ou usa de uma máscara causadas pela aparência pessoal de cada um. que lhe possibilite participar sem se envolver ou Em alguns casos essa relação entre as es- ser reconhecido. O cenário da atualidade reflete colhas do vestuário e aquilo que projetamos para isto: uma multidão solitária que busca conexões os outros constrói-se de forma inconsciente. A apa- e emoções nas experiências de compra, assim rência não condiz com a essência do sujeito. É como as mágicas imaginárias vendidas pelas neste ponto que podemos perceber algo interes- marcas. sante: a roupa pode se transformar em meio de Quando olhamos para a Moda olhamos ocultar ou reforçar aspectos que julgamos pouco para a sociedade com todos os seus valores, cren- desenvolvidos em nossa identidade. O fato de usar ças, tecnologias, etc. tal tipo de peça ou marca faz com que se fortale- Para Mesquita (2004, p.97), ”a Moda çam estas características até então consideradas absorve e reflete os fluxos do mundo”. inadequadas ou inexistentes pelo sujeito. A moda reflete o espírito do tempo... Cada Conforme Miranda (2008, p.112), o en- vez mais buscamos através dos produtos de Moda tendimento do aspecto simbólico e a identifica- preencher nossos vazios existenciais. Em um mun- ção dos significados a serem atribuídos à marca do tão diversificado, globalizado e massificado, em consonância com o interesse do público-alvo queremos fazer parte de tudo isso, mas também são guias básicos para as campanhas publicitári- queremos fazer a diferença. Em outras situações as de sucesso. Como seres humanos, nós somos só queremos nos ausentar. Era dos paradoxos “ máquina de significação”, pois as pessoas atri- contemporâneos!!! Pensar em Moda é pensar em buem significado a tudo. Nós vivemos para signi- toda essa complexidade da sociedade da atua- ficar, para fazer sentido. Quando a vida não tem lidade. REFERÊNCIAS ERNER, G. Vítimas da moda? São Paulo: Editora Senac, 2005. FEGHALI, M. K. et al. O ciclo da moda. Rio de Janeiro: Editora Senac Rio, 2008. MESQUITA, C. Moda contemporânea: quatro ou cinco conexões possíveis. São Paulo: Editora Anhembi Morumbi, 2004. MIRANDA, A. P. Consumo de moda - a relação pessoa-objeto. São Paulo: Estação das Letras e Cores, 2008. 11
  • 12. ELEMENTOS ESSENCIAIS NA INTERAÇÃO DO PRODUTO OU SERVIÇO COM O CONSUMIDOR RESUMO competitivo e para enfrentar sua demanda, o pro- O presente trabalho tem fissional deve estar preparado, deter o conheci- como objetivo apresentar a impor- mento de todo o processo ao qual o produto é tância da embalagem e suas prin- submetido, com objetivo de criar no consumidor o cipais funções mercadológicas e "desejo" de sua aquisição. ferramentais exercidas nos dias atu- Promover a imagem desejada, seja ela uma ais. A marca é o maior patrimônio marca, um produto, uma pessoa pública, uma ins- que a empresa possui e a ela se tituição, empresa, etc., é um desafio para todo faz necessário dedicar toda a aten- profissional que deseja maximizar os lucros de sua ção. Neste cenário o design de empresa. Conhecimentos sobre a identidade visu- embalagem tem uma contribuição al do produto, design gráfico e embalagem são Prof. Fabrício Coelho Malta, significativa, por criar formas de imprescindíveis para obter sucesso. especialista em Design interagir com o consumidor, pro- Multimídia, pela Universidade de Franca, UNIFRAN (2002). mover um contato direto e favore- O VAREJO Professor no curso de Design cer a apresentação, memorização Com o final da Segunda Guerra Mundial Moda e Estilismo da e fidelização do produto, pois se (1937-1945), os países envolvidos no conflito Universidade de Franca, nas faz presente desde a forma estru- disciplinas de Informática deixaram seus esforços de produção de armamen- Básica, Computação Gráfica tural e gráfica da embalagem tos e direcionaram sua capacidade produtiva para I, II e III. como componente técnico, até a fabricação em massa de bens de consumo para chegar à pesquisa e promoção, a população. Essa capacidade inicialmente de- cujo principal objetivo é o de terminava a produção. O consumidor passou a disponibilizar o produto aos consumidores de for- ter papel determinante nas vendas e na produ- ma competitiva. ção, como usuário final do produto, direcionando as tomadas de decisões da indústria, o que signi- INTRODUÇÃO fica dizer que a produção foi cada vez mais de- Pela facilidade de acesso às informações e terminada pelo desejo de consumo e não mais a imensa oferta do mercado, pesquisas apontam prioritariamente pela capacidade de produção. que os consumidores estão cada vez mais exigen- tes, buscando preços melhores e mais qualidade No Brasil, o varejo é tal qual se conhe- na hora das compras. ce hoje; iniciou-se no final do século XIX, O comércio apresenta-se cada vez mais com o início da industrialização e o 12
  • 13. surgimento dos meios e vias de transpor- sumidor final visando sempre a sua fidelidade. O te. Os historiadores citam o Visconde de varejo tem importância fundamental no con- Mauá como um dos primeiros e mais texto mercadológico e econômico ao movimen- importantes varejistas, além de ser res- tar milhões de reais diariamente, criar empre- ponsável por fundações de bancos, cons- gos e fazer a economia girar. trução de estradas de ferro, estaleiros, indústrias e investimentos importantes em A definição de varejo mais utilizada é companhias de iluminação a gás, no Rio da American Marketing Association, segun- de Janeiro (LAS CASAS; GARCIA, 2007, do a qual o varejo é definido como uma uni- p. 22). dade de negócios que compra mercadorias de fabricantes, atacadistas e outros distribui- Em decorrência da globalização o cená- dores e as vende diretamente a consumidores rio do varejo está cada vez mais competitivo, pas- finais e, eventualmente, a outros consumido- sando a utilizar várias estratégias focadas no con- res (Tabela 1). Tabela 1 - Demonstração das principais funções do varejo 13
  • 14. A IDENTIDADE VISUAL DO PRODUTO consumidores atribuir responsabilidade a um de- Toda representação visual de um nome, terminado fabricante ou distribuidor. Podemos di- grafismo, número ou ideia sob apurada forma, zer que as marcas assumem significados distintos entende-se que possua uma identidade visual. As para os consumidores identificando, satisfazendo padronizações dos elementos representativos de suas necessidades e simplificando as decisões de uma empresa irão formalizar a personalidade vi- produto. Uma espécie de vínculo é criada entre a sual, visando estabelecer um nível apropriado de marca e o consumidor, compartilhando confiança comunicação. e fidelidade por parte do consumidor acompa- Entre os principais elementos institucionais nhada de um acordo explícito de que a marca se que compõem uma identidade visual, abordare- comportará de certa maneira e lhe proverá utilida- mos logotipo, marca, design e embalagem. de e benefícios por meio do funcionamento con- Logotipo é a representação visual e basi- sistente do produto ou serviço, além de promo- camente gráfica da marca, podendo ser definido ções e preço. como a imagem da palavra. As marcas representam uma realidade com O propósito do logotipo deve basear-se grande valor econômico para as empresas. Um em sua relevância cultural (carga simbólica), na diferencial competitivo e muito utilizado nos dias conexão com aquilo que representa (possibilida- atuais, são as extensões de linha. A empresa in- de de diálogo e relacionamento com o produto veste em uma marca por acreditar que seu suces- ou empresa) e ter forte impacto social (PEREZ, so será transferido para novos produtos, dentro 2004, p. 53). da mesma categoria ou em categorias relaciona- Segundo a American Marketing Association das. Uma marca existente pode ser aplicada a (AMA), marca é um nome, termo, símbolo, dese- um novo produto ou serviço da mesma categoria nho ou uma combinação desses elementos que (Figura 1) ou diferente (Figura 2) da marca princi- deve identificar os bens ou serviços de um forne- pal, porém com qualidade e preço inferiores ou cedor ou grupo de fornecedores e diferenciá-los superiores a ela. dos da concorrência. Cegarra e Merunka (1993, p. 53) trazem Em outra direção reflexiva, Jong (1991, p. uma definição de extensão de marca: 168) define símbolo como “el medio más esencial por el que la empresa se manifiesta visualmente” L’extension de marque est l’utilisation d’um (um símbolo é o meio mais essencial pelo qual a nom de marque déjà connu sur un produit empresa se manifesta visualmente). (Tradução nos- qui présent une différence de nature (caractéristiques physiques) ET de sa). fonction (valeur d´usage, bénéfices Para Perez e Bairon (2002, p. 65), marca consommateurs) significative par rapport é “a distinção final de um produto ou empresa e aux produits d´origine. [A extensão de que traduz de forma marcante e decisiva o valor marca é a utilização de um nome de de uso para o comprador. É um sinal distintivo”. marca já conhecido para um produto que Na visão de Randazzo (1996, p. 24), “a apresenta uma diferença significativa de marca é ao mesmo tempo uma entidade física e natureza (características físicas) e de fun- perceptual”. ção (valor de uso benefícios aos consu- Uma nova concepção foi aplicada, segun- midores) em relação aos produtos de origem]. (Tradução nossa). do Perez, (2004, p.10): A marca é uma conexão simbólica e afetiva estabelecida entre uma organi- zação, sua oferta material, intangível e aspiracional e as pessoas para as quais se destina. Nesse contexto, atribui-se à marca a repre- sentação gráfica e visual de formas e tipos confe- ridos ao nome com intuito representativo de valo- res, que serão reconhecidos a partir da ordem que os consumidores a reconheçam como tal. Para Figura 1 - Linha nova de sorvetes (Heaven) como exemplo de os consumidores, as marcas realizam funções im- extensão de marca consagrada no mercado (Nestlé) portantes: identificam o fornecedor e permitem aos Fonte: www.mundodomarketing.com.br/images/materias 14
  • 15. Figura 2 - Exemplo de extensão de marca para linhas diferentes de produtos: leite condensado em bisnaga para consumo individual; doce de leite em pasta em lata; leite em pó (matinais), biscoitos recheados com cobertura, alimentos processados para bebês e bombons de chocolate em embalagem para presentear Fonte: Ilustração do autor Conceitos que favorecem o emprego da utilizados. Alicerçados no conceito que ocupa a extensão de linha: posição central desta síntese, esses elementos constituem a base sobre a qual as palavras e as • produtos que permitem múltiplas apresentações imagens podem ser organizadas de modo a ser ou tipos de embalagem; obtido um layout de real valor. • produtos que admitem variantes de forma, Conceito, que em sua forma mais simples tamanho, padrão e cor; é sinônimo de ideia, ganhou na • existência de marcas fortes; propaganda uma conotação muito mais • linha de produção flexível. ampla. Por um lado, ele sugere a análise e compreensão do produto e do problema, a relação do produto com os A extensão de linha segue a tendência de objetivos de venda e de mercado, o transformação progressiva dos hábitos de consumo desenvolvimento de um título e a ou utilização de segmentos, posicionando a marca combinação de palavras e imagens, de forma enérgica e diversificada na mente do persuasivas e confiáveis (HURLBURT, consumidor. Essa estratégia é mais eficaz quando 1986, p. 97). se antecipa à concorrência concretizando posição, por meio de inovações que tornem a compra do As formas e o design são elementos produto mais prática e proporcionem maior essenciais na construção da identidade estética contentamento ao consumidor. que se deseja para um produto ou embalagem, capaz de transmitir efeitos e sensações aos DESIGN GRÁFICO consumidores aos quais elas se destinam. As Segundo Azevedo (2006, p. 9),“a palavra principais dimensões a serem consideradas ao design vem do inglês e quer dizer projetar, compor planejarmos determinada estratégia estética para visualmente ou colocar em prática um plano uma identidade visual são: intencional”. Uma aplicação ordenada que seguida de • formas angulares — possuem uma associação a pesquisa associada a um vasto conhecimento tensão, dureza e masculinidade; contrário os adquirido, constitui a síntese dos elementos a serem arredondamentos evocam harmonia e feminilidade. 15
  • 16. Distinções que podem ser aplicadas nas linhas retas Quanto à utilização das formas relaciona- captadas para uma referência masculina e linhas das ao tamanho deve levar em consideração os curvas femininas; padrões culturais e regionais, podendo ser inter- • simetria — compõe o ideal clássico de equilíbrio pretados sob diferentes conceitos. e harmonia aplicado à arte, criando ordem e aliviando a tensão; foi um recurso utilizado ao O poder das formas em uma estratégia estética é extraordinário; ele está direta- longo da história em diferentes campos do mente relacionado com a distinção que conhecimento. Lessa (1995, p. 76) nos diz que a forma pode proporcionar. Essa identi- simetria “é uma correspondência em grandeza, ficação, por sua vez, relaciona-se com forma e posição relativa de partes ou elementos a amplitude exclusiva da forma com a situados em lados opostos de uma linha ou empresa ou a marca e a qualidade per- distribuídos em volta de um centro”. A assimetria cebida inerente a ela (PEREZ, 2004, p. tem efeito oposto, e em algumas situações cria 63). uma ligeira tensão, favorece um diferencial e salva de uma monotonia; O design está ligado diretamente às pers- pectivas da comunicação de produtos e marcas, • proporção — refere-se à visualização pertinente ou seja, é capaz de criar emoções e experiências entre partes de um todo que causa um sentimento sensoriais e facilitar conexões afetivas com os estético de equilíbrio harmonioso aos olhos do consumidores com a finalidade de motivar ven- observador, podendo ser aplicada em vários das. contextos gráficos; • dimensão do tamanho — permite a indivi- EMBALAGEM dualidade de algumas formas; sendo formas A palavra embalagem origina-se do fran- grandes, largas ou compridas subentendem-se cês emballage e está relacionada com balle ou força e peso; quanto às formas pequenas, curtas bale, todos de “bola”, a forma primitiva de enro- ou finas, estas remetem a fragilidade e delicadeza. lar ou enfardar algum objeto ou mercadoria. Como exemplo podemos citar a linha de A embalagem é um item que está presente embalagem do Gel Studio da L’Oréal de na vida do ser humano desde os tempos mais inspiração mondriana: com suas formas largas e longínquos, ajudando nas mais variadas e cres- angulares, o design desses produtos tenciona centes necessidades da sociedade e evoluindo força, energia e eficácia (veja Figura 3). no decorrer dos tempos em níveis técnicos e conceituais. Utilizada inicialmente para agrupar e conter os alimentos, a embalagem proporciona- va o transporte e armazenamento desses produ- tos. As primeiras embalagens eram identificadas exclusivamente por suas formas: a exemplo do formato do jarro, propunha-se que o conteúdo fosse vinho ou azeite. Essa linguagem permanece até os dias atuais como forma eficaz de agregar e criar personalidade a um produto. Com o advento de novas tecnologias e o desenvolvimento das cidades, a embalagem ad- quiriu novas utilidades, uma vez que passou a ser ornamentada com rótulos coloridos e imagens atra- entes, e fez surgir a primeira função mercadológica da embalagem: tornar os produtos mais atrativos e, consequentemente, vender mais. A embalagem constitui-se como uma ponte interligando o objeto e o sujeito ao qual se direciona; é o primeiro elemento de contato, es- pecialmente para os produtos de consumo ofere- cidos em autosserviço. Ao passo que se faz de Figura 3 - Design da embalagem com inspiração mondriana. grande importância ressaltar quanto à área física Fonte: www.lorealparis.pt/Catalog da embalagem devemos explorar todo seu poten- 16
  • 17. cial, como objetos semióticos, são portadores de desejos, transferindo confiança de seus compo- informações, ou seja, um veículo de mensagens. nentes e agregando valor ao produto. Segundo Perez (2004, p. 66), a embala- Uma das associações mais fortes que os gem na perspectiva promocional deve causar im- consumidores têm com a marca está relacionada pacto para que possa ser vista e diferenciada, com a aparência e o formato da embalagem. A mas também tem de criar uma conexão emocio- partir do momento em que a aquisição foi realiza- nal com as pessoas, a fim de que possa ser apre- da esta embalagem irá comunicar e fortalecer um ciada, desejada. vínculo com o consumidor, pois com ele estará em A esse contexto, a amplitude e ação da contato direto por tempo indeterminado. embalagem, atribui-se uma característica antes identificada apenas pela marca, a de conexão Dados de Mercado afetiva com o consumidor. Como propósito semiótico a embalagem Receita líquida de vendas deve ostentar algumas funções essenciais: Conforme estudo realizado pelo IBRE / FGV • distinção: a embalagem precisa diferenciar-se para a ABRE, a produção física da embalagem da de seus concorrentes; decresceu 0,61% em relação ao ano anterior, • percepção: atrair rapidamente a atenção do porém, a indústria de embalagens teve faturamento consumidor; de R$ 36,6 bilhões em 2008, R$ 3 bilhões supe- rior ao ano de 2007. • afinidade: transmitir semelhanças do produto para o consumidor, convertendo-se em um desejo de compra; • atração: a embalagem precisa encantar através de seu design e mensagem; • comunicação: capacidade de transmitir com ni- tidez informações úteis aos consumidores. Tabela 2 - Faturamento da indústria de embalagem Alguns produtos encontram na embala- (R$ mil) gem a única forma de comunicar-se com o (R$ mil) consumidor, a exemplo dos cigarros, cuja publicidade nos meios de massa, na maior parte dos países, está proibida. Nessa circunstância a embalagem aproxima-se do consumidor assumindo a fun- ção de afinidade associada ao estilo de vida e não a uma realidade concreta, sendo ne- cessários uma ótima visibilidade, boa legibilidade das informações e um grande apelo emocional. Fonte: IBGE/Pesquisa Industrial Anual (PIA) - Empresa Elaboração: FGV Disponível em:<http://www.abre.org.br/centro_dados.php> Os propósitos básicos e os benefícios da embala- Nota: Empresas com 30 empregados ou mais. * Dados estimados. gem Identificação da marca transmite confian- ça, comunicação direta e fidelização do consumi- dor. O processo de venda através da embalagem Valor bruto da produção se faz na exposição no ponto-de-venda visando atrair e conquistar o consumidor, informando de O valor da produção nacional de forma direta e objetiva o que é o produto, o que embalagem é representado na Figura 4 pela ele faz e a quem ele será encaminhado. receita de cada segmento da indústria, em que A embalagem deverá comunicar ao consu- mais da metade da receita total das indústrias de midor de forma clara os atributos complementares embalagem é representada pelos segmentos do do produto, atendendo às necessidades e aos plástico e papelão ondulado/papel cartão. 17
  • 18. Figura 4 - Gráfico representativo do valor da produção nacional de embalagem por receita de cada segmento da indústria Fonte: IBGE - PIA - Empresa (UL) - 2006 - Elaboração: FGV - Disponível em: <http://www.abre.org.br/centro_dados.php> DESIGN DE EMBALAGEM de suas ferramentas. Utilizando a embalagem Com a proliferação das marcas a propa- como ferramenta de marketing é possível verificar ganda está cada vez mais dispendiosa. Nos últi- um instrumento poderoso de ação institucional e mos anos o design de embalagem tem se tornado mercadológica, que produz possibilidades de mais importante dentro do panorama merca- agregar informações de utilidade para o consumi- dológico, tomando parte no desenvolvimento e no dor, como anunciar promoção de outros produtos lançamento de novos produtos. da empresa, uma propaganda sem custo de divul- O profissional de design atua na aplica- gação; promoções conjugadas “leve 3 e pague ção de técnicas, com o intuito de cumprir os obje- 2”; cupons de desconto; embalagens utilitárias; tivos de marketing para a marca, realizando uma campanhas institucionais; Internet. distribuição hierárquica dos elementos, tais como: forma, imagens, ilustrações, cores, logotipo, Comunicação interativa tipologia e outros elementos gráficos que devem predominar na sua composição. Algumas informa- A comunicação caminha em direção à ções devem ter sua aplicação em destaque con- interatividade, o principal veículo responsável é a forme a legislação determina, assim como tabelas Internet, grandes são as abordagens adotadas nutricionais para produtos alimentícios. pelas empresas para atrair a atenção do consumi- Após apuração dos elementos necessários dor. Citar todas as possibilidades como ferramen- para a composição da embalagem, inicia-se a ta na comunicação ultrapassa a finalidade deste organização para a diagramação, atribuindo por artigo, portanto enfatizarei duas ferramentas on- ordem de importância e função, dando destaque line decisivas para a construção da marca: sites e ao item que indique ao consumidor sua importân- anúncios interativos: cia, conforme resultado apurado na pesquisa. Os demais elementos deverão ser aplicados de forma • sites – as principais vantagens na divulgação e a dar apoio ao item central, evitando competir e exibição na Internet são os baixos custos, as gran- reduzir sua eficácia na comunicação. des possibilidades de informações, nível de deta- lhe dos produtos ou ser viços e grau de A embalagem como ferramenta de marketing customização que ela proporciona. Desfrutando sua natureza interativa, é possível fornecer meios A embalagem, por criar um canal direto de aos clientes para escolher as informações de mar- comunicação com o consumidor, pode conduzir a ca relevantes às suas necessidades e desejos. Ins- ações e custos bem inferiores. Nesse cenário de- tituir uma comunicação interativa favorece uma vemos congregar a embalagem ao plano de sólida construção de relacionamento. marketing e comunicação da empresa como uma • anúncios interativos – existem diversas vantagens 18
  • 19. essenciais à propaganda na Internet, podendo ser informações obtidas por meio de formas e monitorada através de softwares capazes de elementos gráficos. Criar diferenciais na intenção rastrear quais anúncios levaram às vendas. Os de interagir com o consumidor é o princípio para anúncios não são intrusivos, portanto não interrom- estreitar relações, a fim de concretizar a aquisição pem os consumidores. A comunicação deve ser de um produto ou serviço. focada, de forma a atingir apenas os clientes mais No âmbito geral da comunicação novas promissores e obter acesso às informações dese- mídias alternativas são designadas com a jadas. finalidade de despertar, informar ou criar desejos de consumo. Entretanto, neste universo De fato, cada vez mais os anúncios na globalizado, informações podem ser difundidas Internet estão se aproximando dos for- em curto espaço de tempo, onde a Internet está matos tradicionais da propaganda. A consolidada como uma grande mídia interativa. BMW criou uma série de filmes especi- O papel do design neste panorama compreende ais para Internet usando diretores conhe- uma gama de possibilidades. cidos como Guy Ritchie e atores como Madona. Já a Ford e a General Motors Dos elementos que compreendem a criaram videogames on-line para promo- identidade visual da empresa, a embalagem com ver seus carros. Por exemplo, o jogo da a qual temos contato no dia a dia é o único objeto Ford para seu modelo Escape, um veícu- capaz de ocasionar uma comunicação direta e lo utilitário esportivo pequeno, permitia objetiva com o consumidor final, fazendo-se que as pessoas dirigissem o carro em necessário um estudo minucioso para seu uma corrida na Lua. Elas podiam tam- desenvolvimento e em cujo cenário o design bém enviar o jogo por e-mail para seus desempenha papel de suprema importância. amigos, a fim de desafiá-los a bater a pontuação que haviam alcançado (VRANICA, 2001, p. B11). (Tradução nossa). A relação da embalagem com a Internet REFERÊNCIAS De modo geral, independentemente de sua ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE EMBALAGEM. composição, forma ou tamanho, todas as Disponível em: <http://www.abre.org.br/ embalagens trabalham focalizadas em um único centro_dados.php>. Acesso em: 20 nov. 2009. objetivo: saber onde está o consumidor e, por consequência, quais são as suas necessidades e AZEVEDO, W. O que é design. 3. ed. São Paulo: como atraí-lo ao ponto-de-venda. Nesse contexto, Brasiliense, 2006. a embalagem se consolida como um item de grande competitividade que atende aos anseios CEGARRA, J.; MERUNKA. Les extensions de dos consumidores e cria uma comunicação clara marque. Concepts et modeles: recherche ET e transparente. applications marketing. Paris: PUF, 1993. Através da Internet as empresas passaram a interagir por meio da linguagem da rede, criando CRUSZYNSKI, A.C. Design gráfico: do invisível portais e sites, possibilitando ao consumidor um ao ilegível. São Paulo: Rosaria, 2008. contato maior com o produto e aumentando sua experiência com a marca. A empresa passa a HURLBURT, A. Layout: o design da página conhecer melhor seus consumidores, descobrindo impressa. São Paulo: Nobel, 1986. seus gostos, preferências e interesses, com ações para que possam se expressar e interagir. JONG, Cees de. (Org.) Manual de imagem corporativa. Barcelona: Gustavo Gili, 1991. CONCLUSÃO O contato visual corresponde ao principal KELLER, K. L.; MACHADO M. Gestão estratégica elemento de interação do consumidor com o de marcas. Tradução de Arlete Simille Marques. produto. Levando-se em consideração o que foi São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2006. Título do analisado, esta leitura é estabelecida através das original: Strategic brand management. 19
  • 20. LAS CASAS, A. L.; GARCIA, M. T. Estratégias de marketing para varejo. São Paulo: Novatec, 2007. LESSA, W. D. Dois estudos de comunicação visual. Rio de Janeiro: UFRJ, 1995. MESTRINER, F. Design de embalagem: curso básico. São Paulo: Makron Books, 2001. _____________. Design de embalagem: curso avançado. 2. ed. São Paulo: Prentice Hall, 2005. _____________. Gestão estratégica de emba- lagem. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2007. NIEMEYER, C. Marketing no design gráfico. 3. ed. Rio de Janeiro: 2AB, 2002. PEREZ, C.; BAIRON, S. Comunicação e marketing: teoria da comunicação e novas tecnologias. São Paulo: Futura, 2002. PEREZ, C. Signos da marca: expressividade e sensorialidade. São Paulo: Thomson, 2004. RANDAZZO, S. A criação de mitos na publicidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1996. STRUNCK, G. L. T. L. Como criar identidades visuais para marcas de sucesso: um guia sobre o marketing das marcas e como representar graficamente seus valores. Rio de Janeiro: Rio Books, 2001. VRANICA, Suzanne. GM is joinning online videogame ware. Wall Street Journal, 26 jul. 2001, p. B11. 20
  • 21. ANTÍGONA, MEDEIA E LISÍSTRATA: A MULHER GREGA VISTA PELA ÓTICA TEATRAL INTRODUÇÃO Este trabalho visa mostrar lher e de seu papel na sociedade, seja ela na a mulher grega em aspectos Antiguidade ou na atualidade. diversos da sua vida social, Abordaremos aqui a mulher nas tragédias cultural, política e religiosa, nas Medeia, de Eurípides, e Antígona, de Sófocles; e numerosas propostas do Teatro nas comédias Lisístrata e A Revolução das Mulhe- Grego Clássico, como por res, de Aristófanes. exemplo, a influência dos deu- Nos mitos de Medeia e Antígona, as mu- ses mitológicos nas decisões e lheres que dão nome aos textos são o foco princi- na vida dos gregos, seus dra- pal de toda a tragédia, onde todos os aconteci- mas pessoais e psicológicos, o mentos trágicos giram em torno de suas atitudes, Monique de Cássia Lopes, destino como algo sempre in- decisões e vontades. Já nas comédias de Lisístrata especialista em História pela certo e totalmente dependente e A Revolução das Mulheres, a figura feminina é Universidade de Franca, da vontade dos deuses, etc. abordada de uma forma, onde o foco dos acon- UNIFRAN (2010). Tendo como referência os gran- tecimentos é a forma como as mulheres lidam com des dramaturgos da época, que a sociedade e o modo de vida dos gregos, seja tinham como objetivo em suas na guerra, na política ou até mesmo em suas ca- obras não apenas um entreteni- sas com seus esposos e filhos. Assim, de uma for- mento aleatório, mas sim a bus- ma muito irônica, Aristófanes retrata a mulher como ca por um maior entendimento algo importante para a moral e a política gregas. social e político da sociedade, Antes de apontar as particularidades dos das guerras, da religião, de textos, faremos uma reflexão breve sobre o que a seus mitos e da figura feminina historiografia, num modo geral, nos traz da mu- na Grécia Antiga. lher grega e seu papel na sociedade da época. Dentro desse contexto, Sendo assim, ela nos mostra, em termos e segundo a ênfase dada pelo gerais, que a mulher grega é vista como um ser Teatro aos mais diversos temas que se doa ou que deve se doar incondicional- Prof. Anderson Luis Venâncio, da época, é que se propõe uma mente e ao máximo a seu esposo e filhos, livran- doutorando em História pela reflexão, atual, sobre a figura do-se de todos seus desejos e vontades, que ficam Faculdade de História, Direito feminina na Grécia Antiga em impotentes diante da posição familiar de mãe e e Ser viço Social da seus aspectos mais diversos, esposa. Universidade Estadual Pau- lista, UNESP (2010). Professor numa era em que a soberania Com exceção das espartanas, que apre- nos cursos de História, masculina era nítida diante da sentavam mais autonomia que as mulheres Geografia, Comunicação figura da mulher, e mesmo de- atenienses, devido ao fato de receberem treina- Social e Design Gráfico da pois de séculos e de várias dis- mento militar no caso de ocorrer um conflito, e por Universidade de Franca. cussões sobre este assunto, ele terem acesso à política e a algumas atividades ainda é repleto de tabus e po- sociais, tinham uma educação militar e não volta- lêmicas causadas pela má compreensão da mu- da só para o casamento, filhos e maridos. As 21
  • 22. mulheres gregas tinham uma liberdade bem restri- A maior liberdade que as mulheres gregas ta na vida fora de casa; no entanto, na vida den- possuíam estava ligada ao campo religioso. Na tro de casa, elas que comandavam. Cuidavam maioria das vezes eram nomeadas sacerdotisas, da casa e dos filhos, o trabalho doméstico nem e, devido a isso, recebiam até mesmo grandes sempre era feito por elas, algumas mulheres pos- honras, podiam ser adoradas e tomar parte em suíam escravos. rituais religiosos e festivais. Essas mulheres poderiam ser livres ou es- E é a partir desse raciocínio que começare- cravas, cidadãs ou metecas (na Grécia Antiga os mos nossa discussão. metecos eram os estrangeiros. Não tinham nenhum direito político nem podiam se casar com os cida- 1- Sófocles e a Tragédia de Antígona dãos da Grécia. Eles se dedicavam ao comércio e à atividade manufatureira); podiam pertencer a Sófocles procurava mostrar em suas tragé- uma classe superior ou a uma inferior, e mesmo dias que a vontade do homem está acima da von- com essas diferenças, elas tinham algo em comum: tade das leis. Buscando um maior entendimento nenhuma mulher apresentava direitos políticos, com os atores e as suas personagens, Sófocles sendo sempre controladas por um homem em qual- mostra com Antígona que, a partir do momento quer fase de suas vidas. em que o homem passa a agir por sua vontade, Ao se casarem, passavam de propriedade por mais errado e contra a lei que seja, ele age do pai para propriedade do marido, e se ficas- por si mesmo, pelo homem, que busca se apartar sem solteiras, viveriam sempre em submissão ao da vontade dos deuses para assim cumprir as suas pai, além de que o fato de não se casarem era leis. considerado um ato de desonra para a família, uma vez que a mulher era vista como uma despe- “Sim, porque não foi Júpiter que a pro- sa a mais para o pai durante todo o resto de sua mulgou; e a Justiça, a deusa que habita vida. com as divindades subterrâneas, jamais estabeleceu tal decreto entre os huma- Quando criança, a mulher era ensinada nos; nem eu creio que teu édito tenha pela mãe a fazer os serviços domésticos e a como força bastante para conferir a um mortal governar a casa; era a sua preparação para o o poder de infringir as leis divinas, que casamento. Um pouco mais crescida, aprendia a nunca foram escritas, mas são ficar sempre linda e atraente e, depois dos quinze irrevogáveis; não existem a partir de anos, o pai lhe arranjava um casamento de con- ontem, ou de hoje; são eternas, sim! e veniência, geralmente com um homem bem mais ninguém sabe desde quando vigoram! - velho e que se interessava em casar muito mais Tais decretos, eu, que não temo o poder pela beleza e juventude da menina e por ela pos- de homem algum, posso violar sem que por isso me venham a punir os deuses! suir um bom dote, do que por amor. Que vou morrer, eu bem sei: é inevitá- Ao se casar, sua maior obrigação era a de vel; e morreria mesmo sem a tua procla- ser mãe, de preferência de meninos, que herdari- mação. E, se morrer antes do meu tem- am as propriedades da família. No caso das fi- po, isso será, para mim, uma vantagem, lhas, elas só herdariam alguma coisa no caso de devo dizê-lo! Quem vive, como eu, no não haver nenhum herdeiro homem; mesmo assim meio de tão lutuosas desgraças, que ela teria de se casar com um homem escolhido perde com a morte? Assim, a sorte que pelo pai, para, dessa forma, tomar conta do me reservas é um mal que não se deve patrimônio da família. levar em conta; muito mais grave teria sido admitir que o filho de minha mãe As mulheres de classes inferiores também jazesse sem sepultura; tudo o mais me é tinham a mesma educação das mulheres de clas- indiferente! Se te parece que cometi um ses superiores, para um dia poderem trabalhar nas ato de demência, talvez mais louco seja casas de famílias ricas. quem me acusa de loucura!” (Antígona, Sendo pobre ou rica, o que se esperava 13-4). da mulher grega era que cumprisse todas as tare- fas às quais eram destinadas e que tivessem sem- Nesse trecho de Antígona, ela é mostrada pre um comportamento correto e formal perante a por Sófocles como uma guerreira, que ao ir con- sociedade. Sendo assim, rica ou pobre, a mulher tra a palavra do rei se torna uma criminosa e até grega viveu como a mulher que a história retrata mesmo uma louca para o tirano. São dois extre- de forma submissa e diferenciada, por ser mulher. mos, a vontade do rei Creonte e a coragem de 22
  • 23. Antígona, que ao seguir a tradição grega se torna bém a ti, meu irmão querido! inimiga de um território que é de domínio de outro Quando morrestes, eu, com minhas pró- homem. No entanto, a tragédia não existiria sem prias mãos, cuidei de vossos corpos, a opressão feita pelo rei, e Antígona se mostra sobre eles fiz libações fúnebres; e hoje, Polinice, porque dei sepultura a teus res- com muita determinação e coragem para realizar tos mortais, eis a minha recompensa! os preceitos que mandam as tradições gregas. Creio, porém, que no parecer dos ho- A heroína de Sófocles enfrenta a tirania de mens sensatos, eu fiz bem. Com efeito, Creonte com muita firmeza e determinação e, mes- nunca, por um filho, se fosse mãe, ou mo ciente das consequências que seus atos lhe pelo marido, se algum dia lamentasse a trarão, ela entrega toda a sua vida em honra de morte de um esposo, eu realizaria seme- seu irmão, cumprindo apenas o seu dever. lhante tarefa, contrariando a proibição Ao ir contra Creonte, Antígona mostra que pública! E por que razão assim penso? jamais se submeterá à vontade do tirano, mesmo Porque eu poderia ter outro esposo, mor- to o primeiro, ou outros filhos, se perdes- a lei estando do seu lado. se o meu: mas, uma vez mortos meu pai Aquela mulher até então retratada pela e minha mãe, nunca mais teria outro ir- historiografia, submissa e com uma educação vol- mão! Eis aí por que te prestei estas hon- tada para o casamento, abre espaço para a mu- ras, e por que, na opinião de Creonte, lher guerreira e corajosa, que quer apenas fazer o pratiquei um crime, um ato incrível, meu que deve ser feito perante a Lei dos deuses e não querido irmão. E agora sou arrastada, a Lei dos homens. virgem ainda, para morrer, sem que hou- O seu dever está em prestar honras fúne- vesse sentido os prazeres do amor e os bres ao seu irmão morto, jamais Antígona se sub- da maternidade. Abandonada por meus amigos, caminho, viva ainda, para a mete a ir contra a vontade da tradição, onde a mansão dos mortos. Deuses imortais, a busca por ela é o desenrolar de toda a tragédia, qual de vossas leis eu desobedeci? na qual o destino de Antígona é decidido nas Mas... de que me serve implorar aos primeiras páginas do texto. deuses? Que auxílio deles posso rece- Essa é a tragédia do mito de Antígona, o ber, se foi por minha piedade que atraí desenvolver de uma história de coragem e respei- sobre mim o castigo reservado aos to que essa mulher mostra perante o que ela acre- ímpios? Se tais coisas merecem a apro- dita; é a mulher que para defender os seus interes- vação dos deuses, reconheço que sofro ses não mede consequências, mas vai até as últi- por minha culpa; mas se provém de meus inimigos, eu não lhes desejo um suplício mas instâncias para defender aquilo em que acre- mais cruel do que o que vou padecer!” dita. (Antígona, 29) Antígona é a mulher que o teatro nos traz para uma visão contemporânea, como a mulher E é assim, com fé e com amor, que Antígona que defende seus interesses, não se importando traça o seu destino, que é de suma importância com as consequências. São mães, irmãs, avós que, para as tragédias gregas. ao agirem com seus instintos “animais” de defen- derem suas “crias”, vão até o extremo de suas 2- Eurípides e o mito de Medeia forças, ao extremo do que acreditam, do que bus- cam como sendo o bem e o seu dever como O crime de Medeia é o desenvolver de um mulher. processo que vai num crescendo de implacável Ela deixa de ser o sexo frágil para, assim, violência desde o princípio da tragédia. Logo no se tornar a heroína de sua história. começo do texto, quando a ama traz as caracte- rísticas de sua senhora, depois de abandonada e “Antígona traída pelo homem a quem tudo sacrificara, com- Ó túmulo, ó leito nupcial, eterna prisão preendemos, assim, que a sua reação vai ser terrí- da subterrânea estância, para onde ca- vel. E, a partir do momento em que Medeia entra minho, para juntar-me aos meus, visto que a quase todos já Perséfone recebeu em cena, no primeiro episódio, até o momento entre os mortos! Seja eu a última que em que a deixa, já no final da peça, assistimos desço ao Hades antes do termo natural aos seus monólogos,onde se destrói toda a sua de meus dias... Lá, ao menos, tenho es- alma, presa entre a sede de vingança e o amor perança de que minha chegada agra- maternal. Assim a protagonista domina todo o dará a meu pai, a minha mãe, e tam- drama, com as suas alternâncias de amor e ódio, 23
  • 24. as suas atitudes de fúria ou até de submissão. bem-estar e a companhia dos amigos. E É um ser humano agitado por uma paixão eu, sozinha, sem pátria, sou ultrajada incontrolável. Ao chegar ao final da tragédia, pelo marido, raptada duma terra bárba- porém a figura de Medeia retira-se do palco no ra, sem ter mãe, nem irmão, nem paren- te, para me acolher desta desgraça. carro do Sol, como se fosse uma divindade. Apenas isto de vós quero obter: se algu- No começo Medeia é tida como vítima de ma solução ou processo eu encontrar uma situação triste, mas ela foi capaz de lutar e para fazer pagar ao meu marido a pena buscar sua vingança como um herói clássico. deste ultraje, guardai silêncio. Aliás, cheia de medo é a mulher, e vil perante “Medeia a força e à vista do ferro. Mas quando Saí de casa, ó mulheres de Corinto, para no leito a ofensa sentir, não há aí outro que nada me censureis. Porque eu sei espírito que penda mais para o que muitos dentre os mortais são arro- sangue”(Medeia, 11). gantes, uns longe da vista, outros à por- ta de casa; outros, atravessando a vida Esse trecho resume o sentimento que Me- com passo tranquilo, hostil fama ganha- deia transmite a peça toda. Com muito desespero ram de vileza. Porque não há justiça aos e confusa, ela busca uma explicação para enten- olhos dos mortais, se alguém antes de der tudo o que Jasão fez para ela, mesmo depois bem conhecer o íntimo do homem, o de todo o amor e dedicação dados a ele. odeia só de o ver, sem ter sido ofendi- A situação triste de Medeia a coloca como do. Força é que o estrangeiro se adapte esposa abandonada, mãe de duas crianças, em à nação; tampouco louvo do cidadão que é acerbo para os outros, por falta situação de exílio e mulher estrangeira. Medeia de sensibilidade. representa a mulher envolvida em circunstâncias Sobre mim este feito inesperado se aba- tristes, saiu da casa de seus pais muito jovem para teu, que a minha alma destruiu. Fiquei acompanhar o seu marido. O momento em que a perdida e tenho de abandonar as gra- protagonista discursa para o coro que representa ças desta vida para morrer, amigas. as mulheres de Corinto, ela expõe uma tradição Aquele que era tudo para mim (ele bem na qual todas se reconheceriam, pois desde muito o sabe) no pior dos homens se tornou - o jovens eram destinadas à subordinação, à autori- meu esposo. dade masculina. O responsável pela família pro- De quanto há aí dotado de alma e de videnciava o seu casamento, para o qual era pre- razão, somos nós, mulheres, a mais ciso um dote com o objetivo de comprar um mari- mísera criatura. Nós, que primeiro temos do, e cabia à jovem aceitá-lo como senhor com de comprar, à força de riqueza, um total controle sobre a sua pessoa. marido e de tomar um déspota do nosso O autor nos mostra uma mulher, cujo com- corpo - dói mais ainda um mal do que o outro. E nisso vai o maior risco, se o to- portamento integra o espaço do desvio ao pa- mamos bom ou mau. Pois a separação drão estabelecido e esperado pelo homem gre- para a mulher é inglória, e não pode go. repudiar o marido. O padrão correto de uma vida regrada em Entrada numa raça e em lei novas, tem relação ao comportamento feminino foi construído de ser adivinha, sem ter aprendido em pelo homem grego, onde o mesmo esperava que casa, de como deve tratar o companhei- ela caminhasse de acordo com o modelo chama- ro de leito. E quando o conseguimos com do de mélissa, que propunha uma mulher submis- os nossos esforços, invejável é a vida sa, silenciosa e passiva, ao contrário do compor- com um esposo que não leva o jugo à tamento proposto aos homens: dominante, ativo, força; de outro modo antes a morte. O agressivo e agente de decisão. homem, quando o enfadam os da casa, Ao expor seu drama, a tragédia nos mos- saindo, liberta o coração do desgosto. tra bem o que a historiografia nos traz das mulhe- Para nós, força é que contemplemos uma só pessoa. Dizem: como nós vivemos em res da Grécia Clássica, mulheres sem voz ativa casa uma vida sem risco, e ele a com- numa sociedade dita democrática. bater com a lança. Insensatos! Como eu A partir disso o drama se desenrola de for- preferiria mil vezes estar na linha de ma que, ao fim da tragédia, Medeia faz com que batalha a ser uma só vez mãe! toda a desgraça seja fruto de um amor egoísta e Mas a vós e a mim não serve a mesma doentio. argumentação. Vós tendes aqui a vossa “Medeia cidade e a casa paterna, a posse do Amigas, decidida está a minha ação: 24
  • 25. matar os filhos o mais depressa que pu- A revolução das mulheres é uma sátira às der e evadir-me desta terra, não vá acon- teorias de certos filósofos da época, principalmente tecer que, ficando eu ociosa, abandone os chamados de sofistas, que se transformariam as crianças, para serem mortas com mão em República, de Platão. mais hostil. É absoluta a necessidade de Lideradas por Valentina, que recorda muito as matar, e, já que é forçoso, matá-las- emos nós, nós que as geramos. Mas a figura de Lisístrata por sua coragem, as mulheres vamos, arma-te, coração. Por que hesi- de Atenas decidem tomar conta do poder, pois tamos e não executamos os males terrí- estão cansadas da incapacidade dos homens. veis, mas necessários? Anda, ó minha Impõem uma nova constituição, com base na co- desventurada mão, empunha a espada, munidade dos bens, tendo em vista a eliminação empunha-a, move-te para a meta dolo- do “pobre”. rosa da vida, não te deixes dominar pela Inspiradas na ideia de que há semelhan- cobardia, nem pela lembrança dos teus ças entre a direção da coisa pública e a do lar, filhos, de como eles te são caros, de as mulheres governarão a cidade com a mesma como os geraste. Mas por este breve dia, ao menos, olvida, que depois os chora- eficiência com que cuidam de suas casas, para rás. Porque, mesmo matando-os, eles te satisfação de todos. Não haverá mais ricos de são sempre caros e eu – que desgraça- um lado e pobres do outro. Atenas seria como da mulher que eu sou!” (Medeia, 43). uma única habitação na qual cada um poderá obter o necessário à sua subsistência, graças a Sendo assim, a tragédia de Medeia nos reformas de base como a comunidade de bens e deixa em dúvida da forma como ela agiu; no en- de mulheres. tanto, nas tragédias nenhuma opção resta ao pro- Aristófanes mostra a mulher por um prisma tagonista a não ser a tragédia. muito irônico e político, valorizando seu papel na sociedade a partir de seus dotes de esposas, do- 3- Aristófanes e a mulher cômica de Lisístrata e A nas de casa e mães. revolução das mulheres A mulher em seu texto é vista como a hero- ína da comédia que salvará a vida de todos. Ao Cansadas de uma guerra que já durava contrário da tragédia, em que a mulher é a causa- 20 anos, as mulheres de Atenas, de Esparta, de dora de toda a desgraça que assombra o texto, Beócia e de Corinto (cidades gregas mais atingi- nas comédias a mulher é vista como a peça que das pela guerra), chefiadas pela ateniense dará a solução para o que a sociedade tanto Lisístrata, decidiram pôr fim a ela usando de uma necessita. Aristófanes vai contra a tradição grega tática pouco aceita: uma greve de sexo. ao colocar a mulher em um papel importante pe- A peça de Aristófanes foi uma tentativa real rante o que espera a sociedade. de acabar com uma guerra. Na época em que foi apresentada (411 a.C.), Atenas atravessava CONCLUSÃO um período difícil de sua história. Aristófanes se fez porta-voz de todas as esposas e mães gregas A mulher retratada de forma poética reúne e, por intermédio de Lisístrata, lançou um apelo todos os sentimentos, vontades, sonhos e conflitos em favor da paz, não somente aos atenienses, presentes nas mulheres gregas da antiguidade. mas a todos os gregos. Infelizmente a mensagem Afirmar certas coisas não é possível, porém de Aristófanes não foi ouvida e a guerra conti- as fontes que nos são apresentadas deixam clara nuou, arruinando a Grécia, e as guerras continua- a posição social da mulher na Antiguidade Clás- ram, mutilando o mundo. sica. Embora Lisístrata seja a mais simples das Não só na Antiguidade, mas em todo o comédias de Aristófanes, pela elevação dos senti- decorrer da história, a mulher é vista com os olhos mentos que transmite a heroína, pela delicadeza preconceituosos de uma sociedade machista que das intenções do autor e por suas próprias quali- ainda nos assola, que ainda faz com que a mu- dades como texto teatral, ela merece a fama que lher perca o seu prestígio. Um raciocínio um tanto até hoje lhe faz parte em todas as plateias civiliza- feminista, mas a realidade da mulher ainda se res- das. Vinte e quatro séculos de guerras a tornaram tringe a isso, não em sua maioria, mas em uma cada vez mais atual e não diminuíram em nada o minoria que faz a diferença. brilho da comédia e mesmo a espiritualidade que Mulheres que tiveram sua criação voltada há por trás do irônico argumento de Aristófanes. para o casamento, filhos e marido não estavam 25
  • 26. presentes somente na Grécia Antiga; elas ainda hoje sofrem com a realidade que lhes tira a opor- tunidade de sonhar e buscar o melhor. Mesmo que sejam apontadas nas tragédi- as discutidas como as causadoras de todo o pro- blema, as mulheres mostram coragem, determina- ção e fé, qualidades que revelam seres guerreiros que buscam seu espaço na sociedade, em vez de se contentarem com o que delas se espera social- mente. Sejam elas Medeias, Antígonas, Lisístratas e muitas outras mulheres que buscam uma “revolu- ção”, elas têm de lutar sempre e buscar seus ide- ais; cada qual com suas características e particu- laridades, devem sempre buscar o que acreditam, senão serão sempre e apenas mulheres. Enfim, a proposta é que sejam as protagonistas de seu “te- atro clássico”. REFERÊNCIAS ARISTÓFANES. A revolução das mulheres. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,1995 EURÍPIDES, 480-406 a.C. Medeia, Hipólito e as troianas. Rio de Janeiro: Zahar, 1991 LESKY, A. A tragédia grega. São Paulo: Perspectiva, 1971 SÓFOCLES. Antígona. Tradução de Maria Helena Rocha. Brasília: UNB, 1977. 26
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