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A dor é uma sensação surpreendente, o seu corpo parece
explodir às vezes, arde tanto que sofremos por algum tempo, o
corpo fica suado, as pernas bambas, e uma fraqueza extrema.
     É isso que estou sentindo nesse momento. Tentar levantar é
um caso possível, mas não aconselhável. Consegui abrir os olhos
há poucos minutos, mas sinto o sangue escorrer pelo meu rosto e
passar ao lado dos meus olhos, minhas costas estão molhadas, e
minhas pernas também, mas não é suor, é um liquido viscoso, é
sangue muito sangue.
     A escuridão impera totalmente, eu vejo o teto que é feito de
enormes pedras azuladas, pedras encaixadas que exprimiam ter
séculos de idade de tanto musgo e tons estranhos, mas talvez seja
por minha visão meio turva.
     Bom, estou caído aqui tem algum tempo, mas agora estou me
recuperando aos poucos, começo a olhar em volta, e vejo que é
uma cela, estou preso como um pássaro, tento erguer o corpo
mais é em vão, meu corpo não responde. Minhas feridas são
grandes nas costas e nas pernas.
      Eu ergo meus braços e encosto-me a meu peito e também
percebo-o molhado. Apanhei muito e cheguei a desmaiar, foram
chibatadas, marretadas, e um material fino e elástico que onde
atingia minha pele parecia que ia rasgando. Pelo que percebo
olhando meio de lado para baixo, em direção as minhas pernas,
que estão viradas para fora da cela. Estou com uma camisa
amarela, uma calça com o mesmo pano fino.
       Tento levantar minha perna e o susto. Uma bola de ferro
preso a uma corrente em meu pé esquerdo.
      Olho com dificuldade e o sangue continua a escorre e até a
pegar nos meus olhos, vejo um corredor muito pouco iluminado, e
olhando aqui aos lados, outras celas, e cada cela onde consigo
enxergar vejo presos, mas realmente está muito complicado
enxergar. Esse lugar fede, essas roupas e o ambiente também.
    Estava com a cabeça meio inclinada, mas desabo com tudo ao
chão onde eu estava, e sem condições. Estou muito ferido para
tentar qualquer movimento. Continuo olhando para o teto, vejo
gotas de água, goteiras em vários pontos.

                               5
Mas o que faço aqui? Por que estou preso como um bandido?
Por que me maltratam tanto? Pois sou uma pessoa trabalhadora e
que respeita tão bem ao próximo!
    A resposta para tudo isso foi porque eu fui muito estúpido.
    Bom, você deve estar se perguntando quem sou eu? E por que
reclamo tanto dessa situação constrangedora?
    Meu nome é Gilbert Drumou...
      E eu não deveria estar aqui, não sei quem realmente deveria
estar aqui, mas eu deixei um pequeno voto de esperança que logo
esse sofrimento vai acabar e minha inocência vai ser revelada
daqui a muito pouco tempo, pois é o que almejo.
    Eu sinto que vai chegar mais rápido do que posso imaginar.




                    PAPEL MISTERIOSO
CAPÍTULO UM




    Não enxergo direito, esta tudo embaçado mais percebo o local
abafado, estou deitado de costas para o chão, sofrendo de dor
ainda das chibatadas, do maltrato ao meu corpo, eu havia
apanhado muito a pouco tempo, minhas costas não param de
arder, parecia que meu corpo estava ensopado de álcool,
penetrando assim em minhas feridas e são cortes profundos
abertos em minhas costas, e em grande parte do meu corpo, assim
que eu me sinto.
      Pelo que me lembro cheguei aqui acorrentado faz algumas
horas, me trouxeram com uma venda em meus olhos e não vi para
onde estavam me levando, apenas tiraram ela de meu rosto
quando eu estava pendurado por uma corrente, rasgaram minha
                               6
camisa e minha calça e me espancaram, acordei já sem conseguir
andar e totalmente destruído por dentro, dentro de minha alma.
Dane-se! Estou parado aqui no chão mesmo, não me pergunte às
horas, não faço idéia.
      De repente ouço um barulho lá longe, acho que no fim do
corredor e são chaves balançando até parece meu pai quando
chegava escondido em casa na madrugada pra mamãe não saber.
Na verdade era meu pai adotivo, um bêbado que eu odeio, nunca
o dedurei, mas meu ódio por aquele homem é extremo, meu pai
de sangue mesmo eu nunca conheci.
    Pois é, queria que desta vez aqui deitado fosse meu padrasto, o
senhor José Drumou, mesmo vindo me dar uma bronca, tentar me
dar lições de moral. Mas se fosse ele mesmo depois do esporo ou
depois de tentar me transformar em algo que eu já sou, ele
dissesse: “Vamos embora desse lugar meu menino”.
       Pois bem! Pensar assim não é ruim, vai que é mesmo esse
cidadão? O barulho de chaves foi aumentando, e eu olhando para
as grades com muita dificuldade de tanta dor nas costas e no corpo
todo. As feridas me incomodavam.
    E olhando para a outra cela, dava para perceber quem chegava.
Meu corpo ainda não respondia, mas eu via uma bota preta
grande, e uma calça azul escura caminhando pra frente de minha
cela.
       Quando em frente às grades da cela onde eu estava, vi um
guarda vestido da mesma forma como os homens que estavam na
delegacia, só que esse não tinha nenhuma medalha no peito, usava
uma camisa azul escura do mesmo tom da calça, eu não enxergava
seu rosto por causa do escuro mais ele usava um chapéu estranho.
Parecia um chapéu de piloto, meio cheio, e com uma pequena aba
preta. Era um Kep militar, azul escuro.
      Na verdade usava uma roupa diferente de todos os policiais
que eu já vi na minha vida. E ele começa a bater a chave nas
grades fazendo um pequeno barulho insuportável dizendo:
      — Muito bem filho, esta na hora do seu banho de sol, já está
por horas ai, e foi o único criminoso com pena alta que não
conversou direito com o coronel. Desde quando chegaste nessa
sua humilde residência nova.
    Para mim foram poucos minutos, será que eu sonhei todo esse
tempo? — pensei.
      Bem acho que não, então o guarda, que por sinal com a cara
muito fechada, “branquelo” com a barba mal feita e magrelo com
                                7
uma tatuagem no pescoço (tatuagem de um peixe segurando uma
espada).
     Muito estranho por sinal, então ele me ajudou a levantar e com
o corpo doendo consegui me levantar. Quando eu estava de pé ele
me mandou segui-lo, bem podia ser mesmo, pois eu não conhecia
quase nada nessa maldita prisão, entrei há pouco tempo pelo que
me recordo, e nunca havia tomado um banho de sol na prisão,
como seria isso? — pensei.
      Caminhava muito devagar, minhas pernas e braços estavam
ensanguentados, e também a roupa que eu usava.
       Puxado pelo guarda, direcionei o olhar para fora da cela e
tremendo vi que era um corredor não muito comprido, mas
antigo, parecia que tinha mil anos, paredes feitas com pedras
empilhadas, completamente azuis bem escuras, cheia de musgos,
goteiras em vários pontos e pelo corredor varias celas, e por sinal
um preso em cada uma delas pelo que eu pude notar.
      Então o guarda foi indo devagar na frente eu atrás, a gente
andava muito devagar, lógico ele estava acompanhando meus
passos, e não me obrigava a andar rápido, e não tinha ameaçado
me bater como todos os outros que conheci desde ontem.
     Eu estava andando quase caindo, a bola de ferro não estava no
meu pé, pois o guarda já à tinha destrancado. A única coisa que me
prendia era uma algema em meus pulsos, e andando calmamente
então parei, pois minhas pernas doíam. O guarda continuou a
andar na minha frente devagar e não percebeu que eu havia
parado, e ali descansando e respirando fundo, entretanto não era a
caminhada pequena que me cansava, mas sim devido aos
ferimentos que eram por todo o corpo.
     Olhei para o lado e vi uma cela escura, mas bem lá no canto da
parede dava para se notar que tinha um cidadão por ali, olhei
atentamente e vi que era um homem gordo, gigantesco, estava
sentado no chão lá no fundo da cela, e eu não via suas pernas. É
um homem careca e com um olhar de poucos amigos, eu não
tinha medo daquele cara mais teria se ele quisesse bater em mim, e
como eu sabia que isso não iria ocorrer, fiquei ali só olhando para
ele, enquanto minhas pernas tremiam devido aos ferimentos.
     Bem, no caso não dava pra ver ele direito, e nem se ele estava
olhando para mim, pois ele estava no meio do escuro naquela cela,
e eu reparava nele, e uma sombra cobria seu rosto.
       De repente eu não vi, mas pressenti uma coisa voando em
minha direção, eu estava muito zonzo, e nem vi mesmo, mas veio
                                8
alguma coisa que alguém jogou, e jogou daquela cela que eu estava
olhando, vi quando passou pelas grades, similar à uma lata.
Quando pensei nisso ela acertou bem em minha testa e parecia que
tinha pedras de tão pesada, mas não caí, não foi assim tão forte, só
me desequilibrei todo. Não doeu tanto, mas passando os segundos
começou a latejar e a doer muito.
     Minha cabeça doía por causa da pancada, e as dores de cabeça
do espancamento que eu tive horas atrás ajudavam.
     A cabeça estava doendo muito depois daquela latada na testa,
olhei para o chão e vi que era uma lata mesmo, mas o que me
deixava curioso era que tinha um papel dentro.
      Olhei para a cela de novo, e o cidadão gordo estava com a
mão apontada para mim, pois o que eu deduzi naquele momento
que tinha sido ele, havia arremessado a lata em mim, tinha uma
sombra na cela, e cobria metade do seu rosto, mas dava pra ver
claramente que ele estava com o braço esticado.
      Não dava pra enxergar a cara do cidadão, ele continuava da
mesma forma, lá no fundo da cela, minha visão já não estava
muito boa, mas eu olhava para ele e percebia que ele sorria. Varias
coisas passaram em minha mente naquele momento, então pensei:
     — Aquilo era um bilhete, uma forma inteligente de passar um
bilhete, tacando a lata em mim.
      Não sei se foi obra do destino, ele lançou a lata quando eu
estava parado alguns segundos, será que era para mim? Eu estava
em duvida, mas ao mesmo tempo não podia ter.
     Rapidamente pisei da ponta do papel que estava saindo da lata
e por sorte, o papel era pequeno e uma ponta ficou entre meu
dedão e o outro dedo apontador do pé, olhei para frente e vi que o
policial estava andando quase chegando ao fim do corredor e
parou, e começou a se virar para trás, percebendo isso comecei a
andar do mesmo ritmo que eu estava. Arrastando o papel na sola
do meu pé preso à ponta aos meus dedos, e torcendo pelo papel
não se soltar, e continuei a andar cabes baixo, sobre aquele piso
estranho, pedras maiores que as outras, com o mesmo material da
parede, locais molhados, goteiras. Olhei pra frente andando
devagar, e vi que o policial estava olhando para mim, ele tinha se
virado mesmo e me esperando alcançá-lo, ele não olhava para
meus pés, somente em meu rosto, expressando: “vamos logo seu
merda” — pensei.
    Ao chegar ao fim do corredor pediu para que eu fosse à frente,
e eu muito assustado que ele não vice o papel no meu pé. Passei
                                 9
por ele sem olhar para o seu rosto, e logo vi uma escadaria bem
alta. Um corredor muito curto apenas com a escada e uma
escuridão extrema acima.
      Comecei a pensar. — Droga preciso esconder esse papel, não
posso contar com a sorte, mas preciso dela, e se o papel se soltar
dos meus dedos, não terei outra oportunidade de vê-lo!
       Comecei a subir as escadas devagar, segurando o papel com
força nos dedos do pé, torcendo a todo o momento pra que ele
não se desprendesse dos meus dedos, com o guarda logo atrás
continuei a subir, a escada parecia não ter fim, subia e subia, era
altíssima, acho que naquele momento tinha subido uns cinco
andares de escada, eu não sabia ao certo, apenas subia em meio à
escuridão, e o guarda atrás de mim com uma enorme luz de
lanterna.
       A prisão parecia um castelo antigo, de tão velhas as paredes
feitas de pedras, enquanto subia, ouvi um forte barulho de chuva,
e quando olhei pro lado, havia uma janela com grades.
       Caia uma chuva fortíssima. Olhando para fora no momento
em que eu caminhava, eu via apenas uma enorme parede de terra a
metros da janela, era só isso que eu via. O barulho e a chuva eram
enormes e não se ouvia nada. Enxergava a parede de terra através
da luz da lua, então eu percebi que se atravessasse aquela janela eu
estaria livre daquele lugar. Entretanto o que me incomodava eram
aquelas barras de ferro, todas oxidadas e bem grossas, impossível
para um ser humano as arrebentar.
       Nunca na vida tinha visto uma tempestade assim, eu estava
andando e passei por aquela janela, nos poucos segundos que olhei
lá fora enquanto subia a escada, já estava totalmente encharcado, e
dizendo: — Que lugar estranho.
       Eu continuava a subir com a pele toda dolorida em vários
pontos, quase no corpo inteiro, e por dentro eu estava fraco. A
água que entrava por aquela janela havia me deixado ensopado, a
água escorria com vontade em meu rosto. Porém não sei por que a
dor havia aliviado com essa água gelada.
      Olhei para trás enquanto andava e vi que o guarda estava da
mesma maneira, e eu disse: — Então senhor guarda que tipo de
banho de sol é esse?
      O guarda não deu muita satisfação, pois lembrou o que disse
para Gilbert.
     — Desculpe-me. Disse-me que iria levar-me lá fora para tomar
um banho de sol.
                                10
Entretanto o guarda respondeu sem jeito: — Pensei que estava
fazendo sol, desculpe-me, é à força do hábito, quando chamamos
os presos para tomar banho de sol, eu me referia a sair da cela.
Mesmo que esteja chovendo um dilúvio ou esteja à noite.
     Que homem estranho, ele falava como se não pretendesse me
magoar, maltratar ou até me ofender, com essa primeira passagem
pela policia foi o único que me tratou de tal forma até agora.
      Logo pensei que tinha coisa no afeto desse soldado, logo eu
um homem amigo das pessoas, que nunca fez mal a uma mosca.
Estou aqui subindo essas escadas, todo arrebentado e sem
condições, mas resisto até o fim, enganado por um guarda, mas
isso é normal, no fim nenhum deles quer a nossa segurança. Mas
não me importava, não sabia pra onde ele estava me levando.
    Meu objetivo era chegar ao topo das escadas, pois eu tinha um
plano, e tinha que dar certo, precisava ler o que estava naquele
papel em meus pés, o papel estava molhado, uma janela em
contato com a chuva, com essa eu não esperava.
    — Que droga — eu disse em um tom baixo.
     A escada não acabava, mas o guarda não me apresava, Parecia
que eu já tinha subido dezessete andares e havíamos passamos por
apenas uma janela. Na verdade... Não sei por que imagino coisas
assim, isso foi outra coisa menos mal, iria danificar mais ainda o
papel que eu ainda não vi, e da forma que eu andava com os dedos
presos e devagar quase arrastando, eu o estava danificando muito,
mas era a única alternativa, meus braços estavam presos por uma
algema, se eu pegasse com a mão, o guarda ia ver. Mas logo avistei
o fim da escada.
       Uma porta de comprimento menor, mas com uma grande
altura e arredondada em cima, sem nenhuma porta, apenas a
abertura, e uma grande escuridão através dela.
    — Droga — retornei a dizer no mesmo tom.
      Estava muito nervoso, mas eu via aquela chance a única de
conseguir ler o que estava escrito no bendito papel, talvez um
plano de fuga? Bom, o que mais se pode esperar de outro preso, e
ainda mais se eu nem conheço.
        Talvez possa ser o telefone de alguma menina bonita?
Comecei a rir baixo imaginando, para o guarda não notar, mas não
pude disfarçar, o guarda que estava caminhando, subindo as
escadas atrás de mim me perguntou por que eu estava rindo, eu só
disse que tinha se lembrado de uma coisa engraçada.

                               11
Depois de ter dito isso, vi que só faltavam mais dois degraus e
a escada tinha acabado, eu já começava a enxergar por trás da
abertura, outro corredor gigantesco, mas com varias entradas, em
varias direções e mais celas. Um lugar que parecia estar
abandonado. Era mesmo antigo.
       E eu parei, e comecei a pensar se ia dar certo aquele meu
plano, naquele momento o guarda diz de uma forma arrogante: —
Por que parou? Vamos?
       Eu tinha que contar com a sorte naquele momento, muita
sorte. Bem, eu continuei a andar e estava com o pé no penúltimo
degrau e ia pisar no ultimo, já tínhamos subido vinte andares, eu
não sabia se tinha sido isso, entretanto se eu fosse um profeta,
diria coisas mais interessantes. Bem, então coloquei meu plano em
ação, disse em voz alta: — O que é aquilo lá em cima? — disse
isso sem levantar a cabeça, bem, eu não vi o guarda se tinha
olhado para cima pra ver, e se acreditou no que eu tinha dito. Não
sabia se ele era tão trouxa, podia pensar que fosse uma aranha das
cavernas. Entretanto, eu sabia de uma coisa, eu precisava contar
com a sorte, e ele tinha que olhar pra cima.
     Eu estava de costas e precisava que não me segurassem se eu
caísse. Se ele me visse caindo de costas em sua direção iria me
segurar.
      Então pisei em falso de propósito, e despenquei das escadas
rolando, por sorte o guarda tinha olhado para cima, e quando
olhou pra frente eu já estava rolando nas escadas, só deu tempo
dele encostar-se à parede se desviando, então eu despenquei na
escada, rolei mais ou menos vinte andares pra baixo, gritando,
porque as dores eram insuportáveis demais.
       Quando parei lá no andar onde estava preso, de costas no
chão e com as pernas sobre as escadas. Sentia-me totalmente
quebrado, não podendo me levantar, totalmente machucado,
sangrando muito no nariz, entretanto eu sabia que tinha que ser
rápido, o guarda estava lá em cima ainda, mas eu sabia que ele
estava descendo depressa.
      Não conseguia levantar a mão direita, mas com calma e um
pouco devagar eu consegui esticar o braço até o pé, já que eu
estava com algemas os meus dois braços foram juntos, estava com
muito medo de o papel ter se perdido na queda, mas segurei firme
o papel no dedo, minha certeza e confiança era essa, então eu
estiquei o pé na direção da minha mão, gemendo, quase
desmaiando, coloquei a mão sobre o pé.
                                12
O papel estava lá, o peguei rapidamente e joguei em minha
cueca, em seguida estava muito fraco, me joguei com tudo no
chão, poucos segundos eu conseguia ouvir os passos de alguém
correndo, descendo as escadas, e era só falar, o guarda já estava de
volta, eu não conseguia vê-lo direito, minha vista estava meio
embaçada, e me deitar de novo ao chão só me fazia sentir mais
dores. Entretanto eu enxergava a tatuagem em seu pescoço, ele
com a cara ardendo de raiva, balançando a cabeça para os lados
fazendo gestos, como se eu tivesse fazendo algo estúpido. Em
seguida ele disse para que eu levantasse, e ainda disse que não
precisava fazer isso.
     — Fazer o que senhor? Tentar me matar? — perguntei
— Por que eu faria uma coisa dessas se sou um homem inocente e
incriminado injustamente? — tornei a perguntar.
      O guarda ficou calado, puxou meu braço, e me colocou nas
costas, eu podia ouvir todos os presos daquele andar rindo, pois os
idiotas sempre riem da desgraça dos outros, mas eu não me
importava, tinha conseguido por o papel em segurança, enquanto
o guarda me carregava para cima de novo, eu com os olhos
fechados só ouvia os risos se distanciando, então eu desmaiei, nos
ombros do guarda.
       As dores, mesmo não querendo, maltratavam meu corpo, e
minha respiração estava muito ruim. Quando recobri a consciência
estava todo enfaixado, e não sentia muitas dores, eu estava sentado
em uma sala de espera. Vi varias outras cadeiras vazias ao meu
lado, cadeiras de madeira, madeiras que pareciam moradias de
cupim. Aquele lugar era muito antigo eu não tinha mais duvida
pela aparência das paredes, como foram construídas e até mesmo
pelo material.
      Uma porta no outro lado em um corredor vazio, olhei para
minha frente na parede do corredor, avistei uma faixa e estava
escrito as seguintes palavras.
        “Haverá um dia em que os bandidos entenderam que o que fizeram
estava errado e iram se redimir, e entenderam que pra se viver bem, vão ter
que estar bem”
     Essa frase em mim despertou vários sentidos, que a vida pode
ser bela se todos se entenderem, e deixar de fazer crimes, e
viveram mais, e muitos mais sentidos, mais todos voltados a
bandidos miseráveis... Mas no fundo estava chateado que o
mundo estava me injustiçando, uma pessoa honesta que se tratava
de mim.
                                   13
Mas então me lembrei de uma coisa que me dava forças.
     Minha irmã mais nova dizendo que iria arrumar uma maneira
de provar minha inocência, que era apenas para aguardar. E isso me
deixava feliz, mesmo com tantas feriadas me destruindo por
dentro e por fora.
     Nesse momento a porta que estava do lado esquerdo se abriu,
e um senhor de idade apareceu, com uniforme da policia, mas que
por sinal parecia ser muito importante. Usava um uniforme
diferente do outro guarda, um uniforme azul bem mais claro, tanto
nos trajes quando no chapéu que também parecia ser de piloto.
Um tipo Kep. Tinha muitas medalhas em seu peito e um símbolo
estranho e dourado no chapéu.
     — Que coisa garoto, a gente tem ordem de bater nos nossos
presos para assim dar a lição que os pais não tiveram coragem,
para eles não entrarem no crime, mas você eles pegaram pesado
cara, esta todo enfaixado, e todo acabado — ele disse me
encarando, olhei pra ele e disse:
      — Não jovem, apenas caí daquela escadaria que dá aceso as
celas imundas.
    E pudera, eu estava bastante enfaixado, sangue escorrendo por
todas as partes, a boca inchada e olhos roxos.
    Aquele senhor ficou um pouco pensativo e disse:
       — Nossa, aquela escada tão alta, que sorte você não ter
morrido garoto.
    — Nada senhor — falei.
    Naquele instante falei em voz baixa:
     — Quem me dera morrer logo, isso sairia mais vantajoso, do
que ficar preso por oitenta anos, que condenação miserável.
      O senhor de idade havia ouvido o que Gilbert tinha dito, e
ficou meio sem saber o que dizer, e disse:
     — Garoto. Não pense assim, a vida é bela pra muitos e não
muito pra outros, mas fique sabendo que todos têm direito de
viver bem, entre aqui.
      Gilbert se levantou com cuidado e entrou na sala, e avistou
uma mesa com duas cadeiras, o senhor lhe pediu para se sentar, a
mesa tinha muitos papeis.
    A sala tinha essa mesa ao meio, algumas prateleiras, armários, e
em volta da sala batia uma janela de fora a fora, em trezentos e
sessenta graus. Fora a parede que estava alinhada com a porta
onde Gilbert havia entrado, a sala era redonda e a mesma
construção antiga. Só que modificada.
                                14
Tirando o fato que existia uma porta por onde Gilbert havia
entrado, a sala, os corredores daquele lugar da prisão, eram todos
feitos de pedras, e estava tão antigo aquele lugar que as paredes
eram meio esverdeadas de musgo, e o que se percebia era que
aquele lugar era muito mais que antigo. Então de tanto olhar com
dificuldade Gilbert pensou e disse a si mesmo: — Sim, esse lugar é
muito antigo, essa construção, Mas chega de tentar desvendar o
que é!
       Olhando pela janela gigantesca, uma vidraça que rodeava a
sala, e as paredes tinham grande parte de vidro. Era uma janela que
tinha vista plena. Olhando de longe eu percebia que estava
chovendo bastante, mas podia se notar que eu e aquele velho
estávamos no ultima andar. Eu olhava em volta na janela, e dava
para se ver a ilha em sua totabilidade, me sentia uma coruja.
Finalmente percebi que eu estava em uma torre, percebendo
também que estava realmente em uma ilha, lá fora havia um
mar. E percebendo mais, eu estava realmente em um castelo.
       Castelo gigantesco, e uma floresta enorme a muitos
metros do castelo, e ali era a parte mais alta do castelo. Eu
estava na sala do responsável pelos presos, e por toda a força
policial que os detém, atrás da mesa estava o retrato daquele
senhor que era o responsável, o mandante por toda aquela
enorme prisão chamada Calim, eu há frente do comandante
daquela prisão, o Coronel. Eu olhava pra ele, mas ele só
estava sentado meio cabes baixo, e pensativo.




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Preso em uma cela misteriosa

  • 1. A dor é uma sensação surpreendente, o seu corpo parece explodir às vezes, arde tanto que sofremos por algum tempo, o corpo fica suado, as pernas bambas, e uma fraqueza extrema. É isso que estou sentindo nesse momento. Tentar levantar é um caso possível, mas não aconselhável. Consegui abrir os olhos há poucos minutos, mas sinto o sangue escorrer pelo meu rosto e passar ao lado dos meus olhos, minhas costas estão molhadas, e minhas pernas também, mas não é suor, é um liquido viscoso, é sangue muito sangue. A escuridão impera totalmente, eu vejo o teto que é feito de enormes pedras azuladas, pedras encaixadas que exprimiam ter séculos de idade de tanto musgo e tons estranhos, mas talvez seja por minha visão meio turva. Bom, estou caído aqui tem algum tempo, mas agora estou me recuperando aos poucos, começo a olhar em volta, e vejo que é uma cela, estou preso como um pássaro, tento erguer o corpo mais é em vão, meu corpo não responde. Minhas feridas são grandes nas costas e nas pernas. Eu ergo meus braços e encosto-me a meu peito e também percebo-o molhado. Apanhei muito e cheguei a desmaiar, foram chibatadas, marretadas, e um material fino e elástico que onde atingia minha pele parecia que ia rasgando. Pelo que percebo olhando meio de lado para baixo, em direção as minhas pernas, que estão viradas para fora da cela. Estou com uma camisa amarela, uma calça com o mesmo pano fino. Tento levantar minha perna e o susto. Uma bola de ferro preso a uma corrente em meu pé esquerdo. Olho com dificuldade e o sangue continua a escorre e até a pegar nos meus olhos, vejo um corredor muito pouco iluminado, e olhando aqui aos lados, outras celas, e cada cela onde consigo enxergar vejo presos, mas realmente está muito complicado enxergar. Esse lugar fede, essas roupas e o ambiente também. Estava com a cabeça meio inclinada, mas desabo com tudo ao chão onde eu estava, e sem condições. Estou muito ferido para tentar qualquer movimento. Continuo olhando para o teto, vejo gotas de água, goteiras em vários pontos. 5
  • 2. Mas o que faço aqui? Por que estou preso como um bandido? Por que me maltratam tanto? Pois sou uma pessoa trabalhadora e que respeita tão bem ao próximo! A resposta para tudo isso foi porque eu fui muito estúpido. Bom, você deve estar se perguntando quem sou eu? E por que reclamo tanto dessa situação constrangedora? Meu nome é Gilbert Drumou... E eu não deveria estar aqui, não sei quem realmente deveria estar aqui, mas eu deixei um pequeno voto de esperança que logo esse sofrimento vai acabar e minha inocência vai ser revelada daqui a muito pouco tempo, pois é o que almejo. Eu sinto que vai chegar mais rápido do que posso imaginar. PAPEL MISTERIOSO CAPÍTULO UM Não enxergo direito, esta tudo embaçado mais percebo o local abafado, estou deitado de costas para o chão, sofrendo de dor ainda das chibatadas, do maltrato ao meu corpo, eu havia apanhado muito a pouco tempo, minhas costas não param de arder, parecia que meu corpo estava ensopado de álcool, penetrando assim em minhas feridas e são cortes profundos abertos em minhas costas, e em grande parte do meu corpo, assim que eu me sinto. Pelo que me lembro cheguei aqui acorrentado faz algumas horas, me trouxeram com uma venda em meus olhos e não vi para onde estavam me levando, apenas tiraram ela de meu rosto quando eu estava pendurado por uma corrente, rasgaram minha 6
  • 3. camisa e minha calça e me espancaram, acordei já sem conseguir andar e totalmente destruído por dentro, dentro de minha alma. Dane-se! Estou parado aqui no chão mesmo, não me pergunte às horas, não faço idéia. De repente ouço um barulho lá longe, acho que no fim do corredor e são chaves balançando até parece meu pai quando chegava escondido em casa na madrugada pra mamãe não saber. Na verdade era meu pai adotivo, um bêbado que eu odeio, nunca o dedurei, mas meu ódio por aquele homem é extremo, meu pai de sangue mesmo eu nunca conheci. Pois é, queria que desta vez aqui deitado fosse meu padrasto, o senhor José Drumou, mesmo vindo me dar uma bronca, tentar me dar lições de moral. Mas se fosse ele mesmo depois do esporo ou depois de tentar me transformar em algo que eu já sou, ele dissesse: “Vamos embora desse lugar meu menino”. Pois bem! Pensar assim não é ruim, vai que é mesmo esse cidadão? O barulho de chaves foi aumentando, e eu olhando para as grades com muita dificuldade de tanta dor nas costas e no corpo todo. As feridas me incomodavam. E olhando para a outra cela, dava para perceber quem chegava. Meu corpo ainda não respondia, mas eu via uma bota preta grande, e uma calça azul escura caminhando pra frente de minha cela. Quando em frente às grades da cela onde eu estava, vi um guarda vestido da mesma forma como os homens que estavam na delegacia, só que esse não tinha nenhuma medalha no peito, usava uma camisa azul escura do mesmo tom da calça, eu não enxergava seu rosto por causa do escuro mais ele usava um chapéu estranho. Parecia um chapéu de piloto, meio cheio, e com uma pequena aba preta. Era um Kep militar, azul escuro. Na verdade usava uma roupa diferente de todos os policiais que eu já vi na minha vida. E ele começa a bater a chave nas grades fazendo um pequeno barulho insuportável dizendo: — Muito bem filho, esta na hora do seu banho de sol, já está por horas ai, e foi o único criminoso com pena alta que não conversou direito com o coronel. Desde quando chegaste nessa sua humilde residência nova. Para mim foram poucos minutos, será que eu sonhei todo esse tempo? — pensei. Bem acho que não, então o guarda, que por sinal com a cara muito fechada, “branquelo” com a barba mal feita e magrelo com 7
  • 4. uma tatuagem no pescoço (tatuagem de um peixe segurando uma espada). Muito estranho por sinal, então ele me ajudou a levantar e com o corpo doendo consegui me levantar. Quando eu estava de pé ele me mandou segui-lo, bem podia ser mesmo, pois eu não conhecia quase nada nessa maldita prisão, entrei há pouco tempo pelo que me recordo, e nunca havia tomado um banho de sol na prisão, como seria isso? — pensei. Caminhava muito devagar, minhas pernas e braços estavam ensanguentados, e também a roupa que eu usava. Puxado pelo guarda, direcionei o olhar para fora da cela e tremendo vi que era um corredor não muito comprido, mas antigo, parecia que tinha mil anos, paredes feitas com pedras empilhadas, completamente azuis bem escuras, cheia de musgos, goteiras em vários pontos e pelo corredor varias celas, e por sinal um preso em cada uma delas pelo que eu pude notar. Então o guarda foi indo devagar na frente eu atrás, a gente andava muito devagar, lógico ele estava acompanhando meus passos, e não me obrigava a andar rápido, e não tinha ameaçado me bater como todos os outros que conheci desde ontem. Eu estava andando quase caindo, a bola de ferro não estava no meu pé, pois o guarda já à tinha destrancado. A única coisa que me prendia era uma algema em meus pulsos, e andando calmamente então parei, pois minhas pernas doíam. O guarda continuou a andar na minha frente devagar e não percebeu que eu havia parado, e ali descansando e respirando fundo, entretanto não era a caminhada pequena que me cansava, mas sim devido aos ferimentos que eram por todo o corpo. Olhei para o lado e vi uma cela escura, mas bem lá no canto da parede dava para se notar que tinha um cidadão por ali, olhei atentamente e vi que era um homem gordo, gigantesco, estava sentado no chão lá no fundo da cela, e eu não via suas pernas. É um homem careca e com um olhar de poucos amigos, eu não tinha medo daquele cara mais teria se ele quisesse bater em mim, e como eu sabia que isso não iria ocorrer, fiquei ali só olhando para ele, enquanto minhas pernas tremiam devido aos ferimentos. Bem, no caso não dava pra ver ele direito, e nem se ele estava olhando para mim, pois ele estava no meio do escuro naquela cela, e eu reparava nele, e uma sombra cobria seu rosto. De repente eu não vi, mas pressenti uma coisa voando em minha direção, eu estava muito zonzo, e nem vi mesmo, mas veio 8
  • 5. alguma coisa que alguém jogou, e jogou daquela cela que eu estava olhando, vi quando passou pelas grades, similar à uma lata. Quando pensei nisso ela acertou bem em minha testa e parecia que tinha pedras de tão pesada, mas não caí, não foi assim tão forte, só me desequilibrei todo. Não doeu tanto, mas passando os segundos começou a latejar e a doer muito. Minha cabeça doía por causa da pancada, e as dores de cabeça do espancamento que eu tive horas atrás ajudavam. A cabeça estava doendo muito depois daquela latada na testa, olhei para o chão e vi que era uma lata mesmo, mas o que me deixava curioso era que tinha um papel dentro. Olhei para a cela de novo, e o cidadão gordo estava com a mão apontada para mim, pois o que eu deduzi naquele momento que tinha sido ele, havia arremessado a lata em mim, tinha uma sombra na cela, e cobria metade do seu rosto, mas dava pra ver claramente que ele estava com o braço esticado. Não dava pra enxergar a cara do cidadão, ele continuava da mesma forma, lá no fundo da cela, minha visão já não estava muito boa, mas eu olhava para ele e percebia que ele sorria. Varias coisas passaram em minha mente naquele momento, então pensei: — Aquilo era um bilhete, uma forma inteligente de passar um bilhete, tacando a lata em mim. Não sei se foi obra do destino, ele lançou a lata quando eu estava parado alguns segundos, será que era para mim? Eu estava em duvida, mas ao mesmo tempo não podia ter. Rapidamente pisei da ponta do papel que estava saindo da lata e por sorte, o papel era pequeno e uma ponta ficou entre meu dedão e o outro dedo apontador do pé, olhei para frente e vi que o policial estava andando quase chegando ao fim do corredor e parou, e começou a se virar para trás, percebendo isso comecei a andar do mesmo ritmo que eu estava. Arrastando o papel na sola do meu pé preso à ponta aos meus dedos, e torcendo pelo papel não se soltar, e continuei a andar cabes baixo, sobre aquele piso estranho, pedras maiores que as outras, com o mesmo material da parede, locais molhados, goteiras. Olhei pra frente andando devagar, e vi que o policial estava olhando para mim, ele tinha se virado mesmo e me esperando alcançá-lo, ele não olhava para meus pés, somente em meu rosto, expressando: “vamos logo seu merda” — pensei. Ao chegar ao fim do corredor pediu para que eu fosse à frente, e eu muito assustado que ele não vice o papel no meu pé. Passei 9
  • 6. por ele sem olhar para o seu rosto, e logo vi uma escadaria bem alta. Um corredor muito curto apenas com a escada e uma escuridão extrema acima. Comecei a pensar. — Droga preciso esconder esse papel, não posso contar com a sorte, mas preciso dela, e se o papel se soltar dos meus dedos, não terei outra oportunidade de vê-lo! Comecei a subir as escadas devagar, segurando o papel com força nos dedos do pé, torcendo a todo o momento pra que ele não se desprendesse dos meus dedos, com o guarda logo atrás continuei a subir, a escada parecia não ter fim, subia e subia, era altíssima, acho que naquele momento tinha subido uns cinco andares de escada, eu não sabia ao certo, apenas subia em meio à escuridão, e o guarda atrás de mim com uma enorme luz de lanterna. A prisão parecia um castelo antigo, de tão velhas as paredes feitas de pedras, enquanto subia, ouvi um forte barulho de chuva, e quando olhei pro lado, havia uma janela com grades. Caia uma chuva fortíssima. Olhando para fora no momento em que eu caminhava, eu via apenas uma enorme parede de terra a metros da janela, era só isso que eu via. O barulho e a chuva eram enormes e não se ouvia nada. Enxergava a parede de terra através da luz da lua, então eu percebi que se atravessasse aquela janela eu estaria livre daquele lugar. Entretanto o que me incomodava eram aquelas barras de ferro, todas oxidadas e bem grossas, impossível para um ser humano as arrebentar. Nunca na vida tinha visto uma tempestade assim, eu estava andando e passei por aquela janela, nos poucos segundos que olhei lá fora enquanto subia a escada, já estava totalmente encharcado, e dizendo: — Que lugar estranho. Eu continuava a subir com a pele toda dolorida em vários pontos, quase no corpo inteiro, e por dentro eu estava fraco. A água que entrava por aquela janela havia me deixado ensopado, a água escorria com vontade em meu rosto. Porém não sei por que a dor havia aliviado com essa água gelada. Olhei para trás enquanto andava e vi que o guarda estava da mesma maneira, e eu disse: — Então senhor guarda que tipo de banho de sol é esse? O guarda não deu muita satisfação, pois lembrou o que disse para Gilbert. — Desculpe-me. Disse-me que iria levar-me lá fora para tomar um banho de sol. 10
  • 7. Entretanto o guarda respondeu sem jeito: — Pensei que estava fazendo sol, desculpe-me, é à força do hábito, quando chamamos os presos para tomar banho de sol, eu me referia a sair da cela. Mesmo que esteja chovendo um dilúvio ou esteja à noite. Que homem estranho, ele falava como se não pretendesse me magoar, maltratar ou até me ofender, com essa primeira passagem pela policia foi o único que me tratou de tal forma até agora. Logo pensei que tinha coisa no afeto desse soldado, logo eu um homem amigo das pessoas, que nunca fez mal a uma mosca. Estou aqui subindo essas escadas, todo arrebentado e sem condições, mas resisto até o fim, enganado por um guarda, mas isso é normal, no fim nenhum deles quer a nossa segurança. Mas não me importava, não sabia pra onde ele estava me levando. Meu objetivo era chegar ao topo das escadas, pois eu tinha um plano, e tinha que dar certo, precisava ler o que estava naquele papel em meus pés, o papel estava molhado, uma janela em contato com a chuva, com essa eu não esperava. — Que droga — eu disse em um tom baixo. A escada não acabava, mas o guarda não me apresava, Parecia que eu já tinha subido dezessete andares e havíamos passamos por apenas uma janela. Na verdade... Não sei por que imagino coisas assim, isso foi outra coisa menos mal, iria danificar mais ainda o papel que eu ainda não vi, e da forma que eu andava com os dedos presos e devagar quase arrastando, eu o estava danificando muito, mas era a única alternativa, meus braços estavam presos por uma algema, se eu pegasse com a mão, o guarda ia ver. Mas logo avistei o fim da escada. Uma porta de comprimento menor, mas com uma grande altura e arredondada em cima, sem nenhuma porta, apenas a abertura, e uma grande escuridão através dela. — Droga — retornei a dizer no mesmo tom. Estava muito nervoso, mas eu via aquela chance a única de conseguir ler o que estava escrito no bendito papel, talvez um plano de fuga? Bom, o que mais se pode esperar de outro preso, e ainda mais se eu nem conheço. Talvez possa ser o telefone de alguma menina bonita? Comecei a rir baixo imaginando, para o guarda não notar, mas não pude disfarçar, o guarda que estava caminhando, subindo as escadas atrás de mim me perguntou por que eu estava rindo, eu só disse que tinha se lembrado de uma coisa engraçada. 11
  • 8. Depois de ter dito isso, vi que só faltavam mais dois degraus e a escada tinha acabado, eu já começava a enxergar por trás da abertura, outro corredor gigantesco, mas com varias entradas, em varias direções e mais celas. Um lugar que parecia estar abandonado. Era mesmo antigo. E eu parei, e comecei a pensar se ia dar certo aquele meu plano, naquele momento o guarda diz de uma forma arrogante: — Por que parou? Vamos? Eu tinha que contar com a sorte naquele momento, muita sorte. Bem, eu continuei a andar e estava com o pé no penúltimo degrau e ia pisar no ultimo, já tínhamos subido vinte andares, eu não sabia se tinha sido isso, entretanto se eu fosse um profeta, diria coisas mais interessantes. Bem, então coloquei meu plano em ação, disse em voz alta: — O que é aquilo lá em cima? — disse isso sem levantar a cabeça, bem, eu não vi o guarda se tinha olhado para cima pra ver, e se acreditou no que eu tinha dito. Não sabia se ele era tão trouxa, podia pensar que fosse uma aranha das cavernas. Entretanto, eu sabia de uma coisa, eu precisava contar com a sorte, e ele tinha que olhar pra cima. Eu estava de costas e precisava que não me segurassem se eu caísse. Se ele me visse caindo de costas em sua direção iria me segurar. Então pisei em falso de propósito, e despenquei das escadas rolando, por sorte o guarda tinha olhado para cima, e quando olhou pra frente eu já estava rolando nas escadas, só deu tempo dele encostar-se à parede se desviando, então eu despenquei na escada, rolei mais ou menos vinte andares pra baixo, gritando, porque as dores eram insuportáveis demais. Quando parei lá no andar onde estava preso, de costas no chão e com as pernas sobre as escadas. Sentia-me totalmente quebrado, não podendo me levantar, totalmente machucado, sangrando muito no nariz, entretanto eu sabia que tinha que ser rápido, o guarda estava lá em cima ainda, mas eu sabia que ele estava descendo depressa. Não conseguia levantar a mão direita, mas com calma e um pouco devagar eu consegui esticar o braço até o pé, já que eu estava com algemas os meus dois braços foram juntos, estava com muito medo de o papel ter se perdido na queda, mas segurei firme o papel no dedo, minha certeza e confiança era essa, então eu estiquei o pé na direção da minha mão, gemendo, quase desmaiando, coloquei a mão sobre o pé. 12
  • 9. O papel estava lá, o peguei rapidamente e joguei em minha cueca, em seguida estava muito fraco, me joguei com tudo no chão, poucos segundos eu conseguia ouvir os passos de alguém correndo, descendo as escadas, e era só falar, o guarda já estava de volta, eu não conseguia vê-lo direito, minha vista estava meio embaçada, e me deitar de novo ao chão só me fazia sentir mais dores. Entretanto eu enxergava a tatuagem em seu pescoço, ele com a cara ardendo de raiva, balançando a cabeça para os lados fazendo gestos, como se eu tivesse fazendo algo estúpido. Em seguida ele disse para que eu levantasse, e ainda disse que não precisava fazer isso. — Fazer o que senhor? Tentar me matar? — perguntei — Por que eu faria uma coisa dessas se sou um homem inocente e incriminado injustamente? — tornei a perguntar. O guarda ficou calado, puxou meu braço, e me colocou nas costas, eu podia ouvir todos os presos daquele andar rindo, pois os idiotas sempre riem da desgraça dos outros, mas eu não me importava, tinha conseguido por o papel em segurança, enquanto o guarda me carregava para cima de novo, eu com os olhos fechados só ouvia os risos se distanciando, então eu desmaiei, nos ombros do guarda. As dores, mesmo não querendo, maltratavam meu corpo, e minha respiração estava muito ruim. Quando recobri a consciência estava todo enfaixado, e não sentia muitas dores, eu estava sentado em uma sala de espera. Vi varias outras cadeiras vazias ao meu lado, cadeiras de madeira, madeiras que pareciam moradias de cupim. Aquele lugar era muito antigo eu não tinha mais duvida pela aparência das paredes, como foram construídas e até mesmo pelo material. Uma porta no outro lado em um corredor vazio, olhei para minha frente na parede do corredor, avistei uma faixa e estava escrito as seguintes palavras. “Haverá um dia em que os bandidos entenderam que o que fizeram estava errado e iram se redimir, e entenderam que pra se viver bem, vão ter que estar bem” Essa frase em mim despertou vários sentidos, que a vida pode ser bela se todos se entenderem, e deixar de fazer crimes, e viveram mais, e muitos mais sentidos, mais todos voltados a bandidos miseráveis... Mas no fundo estava chateado que o mundo estava me injustiçando, uma pessoa honesta que se tratava de mim. 13
  • 10. Mas então me lembrei de uma coisa que me dava forças. Minha irmã mais nova dizendo que iria arrumar uma maneira de provar minha inocência, que era apenas para aguardar. E isso me deixava feliz, mesmo com tantas feriadas me destruindo por dentro e por fora. Nesse momento a porta que estava do lado esquerdo se abriu, e um senhor de idade apareceu, com uniforme da policia, mas que por sinal parecia ser muito importante. Usava um uniforme diferente do outro guarda, um uniforme azul bem mais claro, tanto nos trajes quando no chapéu que também parecia ser de piloto. Um tipo Kep. Tinha muitas medalhas em seu peito e um símbolo estranho e dourado no chapéu. — Que coisa garoto, a gente tem ordem de bater nos nossos presos para assim dar a lição que os pais não tiveram coragem, para eles não entrarem no crime, mas você eles pegaram pesado cara, esta todo enfaixado, e todo acabado — ele disse me encarando, olhei pra ele e disse: — Não jovem, apenas caí daquela escadaria que dá aceso as celas imundas. E pudera, eu estava bastante enfaixado, sangue escorrendo por todas as partes, a boca inchada e olhos roxos. Aquele senhor ficou um pouco pensativo e disse: — Nossa, aquela escada tão alta, que sorte você não ter morrido garoto. — Nada senhor — falei. Naquele instante falei em voz baixa: — Quem me dera morrer logo, isso sairia mais vantajoso, do que ficar preso por oitenta anos, que condenação miserável. O senhor de idade havia ouvido o que Gilbert tinha dito, e ficou meio sem saber o que dizer, e disse: — Garoto. Não pense assim, a vida é bela pra muitos e não muito pra outros, mas fique sabendo que todos têm direito de viver bem, entre aqui. Gilbert se levantou com cuidado e entrou na sala, e avistou uma mesa com duas cadeiras, o senhor lhe pediu para se sentar, a mesa tinha muitos papeis. A sala tinha essa mesa ao meio, algumas prateleiras, armários, e em volta da sala batia uma janela de fora a fora, em trezentos e sessenta graus. Fora a parede que estava alinhada com a porta onde Gilbert havia entrado, a sala era redonda e a mesma construção antiga. Só que modificada. 14
  • 11. Tirando o fato que existia uma porta por onde Gilbert havia entrado, a sala, os corredores daquele lugar da prisão, eram todos feitos de pedras, e estava tão antigo aquele lugar que as paredes eram meio esverdeadas de musgo, e o que se percebia era que aquele lugar era muito mais que antigo. Então de tanto olhar com dificuldade Gilbert pensou e disse a si mesmo: — Sim, esse lugar é muito antigo, essa construção, Mas chega de tentar desvendar o que é! Olhando pela janela gigantesca, uma vidraça que rodeava a sala, e as paredes tinham grande parte de vidro. Era uma janela que tinha vista plena. Olhando de longe eu percebia que estava chovendo bastante, mas podia se notar que eu e aquele velho estávamos no ultima andar. Eu olhava em volta na janela, e dava para se ver a ilha em sua totabilidade, me sentia uma coruja. Finalmente percebi que eu estava em uma torre, percebendo também que estava realmente em uma ilha, lá fora havia um mar. E percebendo mais, eu estava realmente em um castelo. Castelo gigantesco, e uma floresta enorme a muitos metros do castelo, e ali era a parte mais alta do castelo. Eu estava na sala do responsável pelos presos, e por toda a força policial que os detém, atrás da mesa estava o retrato daquele senhor que era o responsável, o mandante por toda aquela enorme prisão chamada Calim, eu há frente do comandante daquela prisão, o Coronel. Eu olhava pra ele, mas ele só estava sentado meio cabes baixo, e pensativo. 15