Le Vaucluse - Terre de cinéma, des décors que la caméra sublime
Pago meus impostos
1.
----------- CONTOS -----------
Pago
meus
impostos
-‐ Olá
bom
dia,
em
que
posso
ajudá-‐la?
-‐ Vim
rever
meus
impostos
pagos.
Pelo
que
vejo
o
valor
que
tenho
pago
mensalmente
não
está
fazendo
jus
ao
fruto
que
estou
levando.
-‐ Mas
qual
seria
a
questão
senhora,
devolução
não
é
neste
setor.
-‐ Não,
não
quero
devolver,
quero
algo
melhor,
pelo
preço
que
estou
pagando
deveria
ter
melhor
qualidade.
-‐ Ele
apresenta
algum
defeito
senhora?
-‐ Muitos,
posso
enumerá-‐los?
-‐ Pode
sim
senhora,
mas
no
setor
de
reclamações.
-‐ Mas
não
é
sobre
isso
que
vim
falar.
-‐ A
senhora
não
veio
reivindicar
o
produto?
-‐ Sim
vim.
-‐ Então
não
é
este
o
setor,
deve
seguir
a
linha
vermelha
que
te
levará
para
o
setor
de
reclamações.
-‐ Mas
veja
bem,
não
é
uma
simples
queixa,
quero
concertá-‐lo.
-‐ Pois
sim,
está
com
defeito?
-‐ Sim,
já
disse,
muitos
defeitos.
-‐ Então
quer
trocá-‐lo?
-‐ Mas
que
absurdo,
não
está
me
ouvindo
rapaz?
Torna
a
repetir
as
mesmas
coisas!
-‐ Desculpa
senhora,
vamos
começar
novamente,
a
senhora
deseja
reclamar
do
fruto?
-‐ Eu
só
quero
saber
se
estou
levando
pelo
preço
que
estou
pagando?!
-‐ Compreendo
senhora,
então
quer
rever
valores,
isso
seria
no
setor
financeiro,
siga
a
linha....
-‐ Meu
rapaz,
me
diga
uma
coisa,
tem
aqui
alguém
acima
de
você?
-‐ Sim
senhora,
tenho
um
supervisor.
1
2.
-‐ Então
por
favor,
mande
chamá-‐lo.
-‐ Um
momento
senhora.
Enquanto
esperava...
-‐ Péssimo
o
atendimento
aqui
não
é
mesmo?
-‐ Ah,
você
também
concorda?
-‐ Sim,
é
a
segunda
vez
que
venho
está
semana,
é
quase
impossível
sair
daqui
com
o
problema
resolvido.
-‐ Você
veio
por
quê?
-‐ Como
é
de
costume,
quando
fiz
18
anos
passei
a
pagar
meu
imposto
sozinha
e
logo
fiz
o
pedido
do
primeiro
fruto.
Tinha
a
estatura
baixa,
ombros
largos
e
a
cabeça
parecia
uma
azeitona,
ou
seja,
atributos
físicos
que
pouco
me
interessavam,
mas
tinha
boas
maneiras
e
muito
educado.
Pois
bem,
dei-‐lhe
a
chance
de
se
apresentar,
era
de
boa
família,
não
tinha
posses,
mas
era
trabalhador.
Porém
logo
soube
que
se
mostrava
para
outra
ao
mesmo
tempo
em
que
se
apresentava
para
mim.
Então
fiz
o
pedido
de
devolução
antes
mesmo
do
prazo
de
experiência.
E
este
me
foi
negado,
disseram
que
por
pagar
um
valor
mínimo
de
imposto
era
o
que
eu
tinha
direito
e
se
devolvesse
agora
só
poderia
experimentar
outro
aos
21
anos.
Logo
tive
que
conviver
e
soube
que
a
outra
já
havia
lhe
devolvido,
então
como
exigia
exclusividade
e
não
queria
ficar
sozinha
até
os
21
anos
eu
o
aceitei.
Ah
minha
cara,
não
sabe
os
maus
bocados
que
passei.
-‐ Não
me
diga
que
era
violento?
Porque
se
for
não
se
engane
pela
aparência,
o
meu
foi
um
dos
mais
belos
do
catálogo
e
algumas
vezes
se
mostrava
violento.
-‐ Não,
muito
pelo
contrário,
era
atencioso
mas
quem
disse
que
isso
em
excesso
é
bom.
Meloso
que
conseguiria
estragar
o
mel
com
mais
açúcar,
um
grude
e
vigiava
todos
os
meus
passos
para
saber
se
iria
troca-‐lo
aos
21,
me
sufocava.
Suas
suspeitas
não
estavam
erradas,
no
mesmo
dia
em
que
completei
21
eu
vim
até
aqui
a
fim
de
devolver
o
meloso.
E
desta
fez
me
disseram
que
além
de
pagar
pouco
o
imposto,
eu
tinha
esquecido
de
recolher
o
pagamento
do
imposto
por
mobilidade.
Ora
essa,
como
eu
devia
saber
que
precisava
recolher
imposto
para
poder
sair
com
o
dito
cujo
pelas
ruas.
Se
soubesse
não
teria
recolhido
jamais,
o
deixaria
dentro
de
casa
e
dali
só
sairia
para
trabalhar,
não
correria
o
risco
de
dividi-‐lo
com
outra.
3.
-‐ E
agora,
conseguiu
devolvê-‐lo?
-‐ Pois
então
tive
que
pagar
todo
o
imposto
atrasado
e
isso
me
fez
aguentá-‐
lo
por
mais
três
anos,
ainda
me
faltam
dois.
Mas
agora
tive
a
boa
notícia
que
meu
falecido
pai
havia
pago
parte
do
meu
imposto
dês
dos
meus
15
anos.
Vim
reivindicar
este
valor,
acho
que
consigo
quitar
a
dívida,
devolver
o
rapaz
e
ainda
sair
daqui
com
um
novo
eleito.
-‐ Puxa,
que
bom
para
você.
-‐ E
você,
porquê
está
aqui?
-‐ Meus
pais
também
pagaram
meu
imposto,
mas
foi
dês
que
nasci,
quando
passei
a
pagar
aos
18
optei
pelo
maior
recolhimento.
Podia
escolher
do
catalogo
exclusivo
luxo,
mas
me
senti
enganada,
já
troquei
três
vezes
e
ainda
assim
não
foi
o
que
parecia
ser.
-‐ Nunca
conheci
ninguém
que
tenha
escolhido
do
catalogo
luxo,
mas
da
forma
que
fala
não
tem
muita
diferença?!
-‐ Sim,
pelo
que
vejo
não
mesmo,
estes
são
recauchutados,
eram
do
simples,
mas
foram
aprendendo
com
mulheres
como
você
e
subindo
de
categoria.
O
que
seria
ótimo,
mas
vejo
que
vem
com
muitos
vícios
também
e
devem
ter
pego
igualmente
de
mulheres
como
você.
-‐ Mas
o
que
tem
mulheres
como
eu?
-‐ Veja
bem,
não
se
ofenda,
mas
o
seu
caso
é
como
o
meu:
o
seu
já
veio
de
baixo
e
alguma
mulher
o
estragou,
isso
tudo
só
se
trata
de
categorias,
ou
eles
mudam
isso,
ou
vamos
ficar
passando
de
uma
para
a
outra
sem
o
menor
critério
e
escolha.
-‐ Entendo,
mas
existe
um
cursinho,
e
as
mães
os
treinam
mas
do
que
as
mulheres.
-‐ Pois
bem
lhe
digo
que
a
culpa
volta-‐se
para
as
mães,
elas
se
esquecem
que
já
tiveram
que
escolher
um
e
como
era
difícil
e
ao
invés
de
treinarem
seus
filhos
para
serem
bem
qualificados,
elas
os
mimam
e
nós
os
corrigimos.
Um
absurdo
visto
que
entramos
em
um
circulo
vicioso.
-‐ Uma
boa
observação
a
sua,
mas
o
que
sugere?
Sabe
que
os
cursinhos
não
são
grande
coisa,
esse
rapaz
que
te
atendeu
por
exemplo,
está
em
análise
fazendo
o
curso,
deve
ter
feito
algo
muito
abominável
para
estar
aqui.
-‐ E
vejo
que
está
longe
de
melhorar.
Eu
sugiro
que
passem
a
treinar
mães,
estas
são
responsáveis
por
boa
parte
do
estrago,
então
é
nelas
que
deve
ser
corrigida
a
questão.
4.
-‐ Uma
boa
observação,
concordo
com
isso,
mas
e
você
acha
que
vão
lhe
atender?
-‐ Olha,
como
uma
boa
mulher
cidadã,
pago
meus
impostos
e
pago
caro
por
eles,
exijo
no
mínimo
que
o
fruto
me
sirva
80%,
deixo
vinte
para
as
brigas
e
desentendimentos
necessários
para
evoluir
a
relação,
como
está
previsto
em
lei.
Mas
exijo
que
me
escutem
e
que
no
mínimo
pensem
em
melhorar
a
situação
de
nós
mulheres.
Alguns
minutos
após
a
espera...
-‐ Senhora,
o
supervisor
vai
lhe
atender.
Me
acompanhe
por
favor.
-‐ Claro,
vamos.
Em
uma
sala
reservada...
-‐ Não
posso
acreditar?
É
você
mesmo?
-‐ Olá
senhora,
em
que
posso
ser
útil.
-‐ Como
assim,
me
trata
como
estranha!
Você
foi
o
meu
terceiro
fruto,
não
se
lembra?
-‐ Sinto
por
não
afirmar
senhora,
hoje
estou
aqui
para
ajudá-‐la.
Em
que
posso
ser
útil?
-‐ Olha
aqui
rapaz,
não
me
faça
de
tola,
passamos
muitos
momentos
juntos,
inclusive
foi
com
você
que
perdi
minha
virgindade.
Como
pode
não
se
lembrar
disso?
-‐ Senhora,
lhe
peço
desculpas
mas
não
posso
falar
de
nada
pessoal
aqui.
-‐ Ah,
mas
então
se
lembra
de
mim?
-‐ Não
senhora,
infelizmente
não.
-‐ Como
assim,
isso
é
uma
palhaçada,
só
pode
ser!
Quero
falar
com
o
seu
superior.
-‐ Sim
senhora,
vou
chamá-‐la.
-‐ Chamá-‐la...la?
É
uma
mulher?
-‐ Pois
sim,
ela
vem
em
instantes.
Cinco
minutos
depois...
-‐ Olá
a
senhora
quer
conversar
comigo,
em
que
posso
ajuda-‐la?
-‐ Eu
estou
tão
confusa,
que
já
não
sei
porque
entrei
aqui.
-‐ Tente
se
acalmar
que
aos
poucos
se
recorda.
-‐ Ah
isso,
se
recordar,
este
supervisor
diz
que
não
se
lembra
de
mim,
mas
foi
meu
fruto,
como
pode
não
lembrar?
-‐ A
senhora
tem
certeza
que
é
ele?
-‐ Sim,
claro
que
tenho.
5.
-‐ Senhora,
o
que
vou
lhe
contar
é
algo
que
poucas
sabem
e
só
em
alguns
casos
como
esse
que
raramente
acontece.
Quando
há
devoluções,
nós
os
mandamos
para
outros
estados
e
em
alguns
casos
de
intercambio
para
outros
países.
Justamente
para
que
isso
não
ocorra,
afinal
nenhuma
mulher
quer
se
deparar
com
seu
ex-‐fruto
pela
rua,
andando
com
outra.
-‐ Então
como
ele
está
aqui
e
pior,
como
não
se
lembra
de
mim?
Pago
meu
imposto,
tenho
direito
de
saber.
-‐ Justamente,
quando
é
feita
a
devolução
o
indivíduo
é
levado
para
a
câmara
do
esquecimento,
passa
alguns
dias
lá
dentro
e
quando
sai
está
pronto
para
novo
treinamento
para
que
posteriormente
ele
retorne
ao
catálogo
de
acordo
com
a
sua
evolução
neste
período
de
quarentena.
-‐ Está
querendo
me
dizer
que
apagam
a
memória
deles?
-‐ Isso
mesmo,
peço
somente
que
seja
discreta
quanto
a
informação,
pois
poucas
sabem
disso.
-‐ E
isso
é
legal?
Porque
me
sinto
desconfortável
em
saber
que
parte
da
minha
vida
foi
apagada.
-‐ Com
todo
respeito
senhora,
sua
vida
está
em
você
e
nas
histórias
que
resolveu
guardar
em
sua
memória,
sendo
assim,
são
importantes
para
a
senhora.
No
caso
deles
seria
desconfortável
que
estes
indivíduos
conservassem
a
memória
de
todas
as
mulheres
que
lhes
usaram,
imagine
as
comparações
e
manias,
vícios
que
teriam
herdado
da
relação
passada.
Isso
é
feito
para
assegurar
que
todas
as
mulheres
tem
direito
de
ter
seu
homem
de
acordo
com
o
imposto
pago
sem
que
tenham
o
infortúnio
de
ex-‐mulheres
rondando
suas
vidas
como
um
fantasma.
-‐ Mas
então
se
apagam
sua
memória
e
os
colocam
treinados
novamente
no
catálogo,
porque
apresentam
tantos
defeitos
ainda?
-‐ Bem,
isso
é
algo
que
ainda
estamos
desenvolvendo,
pois
este
sistema
apaga
apenas
uma
memória
por
vez,
como
uma
memória
seletiva,
onde
escolhemos
apagar
seus
relacionamentos
anteriores.
No
caso
de
pequenos
defeitos,
a
sugestão
é
que
experimente
ao
máximo
antes
que
resolva
parar
de
pagar
seu
imposto.
Assim
vai
encontrar
mais
fácil
um
que
te
sirva
os
80%
que
a
lei
exige.
-‐ E
o
que
as
mães
ensinam?
-‐ Sobre
isso
não
temos
jurisdição
senhora.
-‐ Não
há
nada
que
possa
ser
feito
em
relação
as
mães,
um
treinamento
pré
parto
por
exemplo,
no
caso
do
bebê
ser
menino?!
6.
-‐ Entendo
senhora,
mas
realmente
sobre
as
mães
nada
podemos
fazer;
é
um
terreno
ainda
não
explorado
onde
há
muitas
controversas.
O
que
posso
sugerir
é
que
se
pretende
ser
mãe,
lembre-‐se
que
já
foi
mulher
de
um
fruto
e
que
amanhã
seu
filho
será
de
outra.
-‐ Faz
sentido,
mas...
Voltando
ao
problema,
quando
saio
daqui
fico
esperançosa
com
a
nova
escolha,
mas
logo
que
chega
e
o
relacionamento
se
desenrola
percebo
que
não
vai
superar
os
50%.
-‐ Ninguém
falou
que
seria
fácil,
sua
mãe
ou
alguma
mulher
que
lhe
orientou
na
vida
deve
ter
lhe
falado
sobre
isso.
O
mais
importante
é
que
experimente,
afinal
quem
tem
o
poder
na
mão
da
escolha
somos
nós,
quem
paga
o
imposto
no
valor
que
deseja
a
relação
somos
nós,
então
há
de
encontrar
um
próximo
que
lhe
agrada.
-‐ Concordo,
vou
para
casa
agora.
Talvez
deva
pensar
melhor
sobre
o
rapaz
que
está
comigo
agora,
ou
sobre
minha
mãe,
ou
melhor,
a
mãe
dele
ou
como
serei
como
mãe...
-‐ Como
queira
senhora,
precisando
é
só
nos
procurar.
Até
logo!
-‐ Até!
Desceu
as
escadas
entontecida
e
seguiu
para
a
saída.
-‐ E
então,
conseguiu
resolver
seu
problema,
fez
a
sugestão?
-‐ Mais
ou
menos,
ficou
tudo
ainda
um
pouco
no
ar...preciso
clarear
meus
pensamentos.
E
você?
-‐ Sim,
hoje
consegui,
está
tudo
certo.
Devolvi
o
fruto
e
passei
para
outro
catálogo
e
fiz
minha
nova
escolha.
Foi
mesmo
como
falou,
ele
acabou
de
ser
recauchutado
e
agora
é
supervisor
aí
da
prefeitura.
-‐ Como?
Supervisor?
Mas
então....
-‐ Então???
-‐ No
fim
dá
na
mesma,
nós
mulheres
sempre
guardamos
um
segredo
uma
da
outra
e
assim
vamos
tentando
achar
o
certo
em
meio
a
escuridão
porque
nenhuma
de
nós
tem
coragem
de
ascender
a
luz.
-‐ Moça,
eu
não
sei
do
que
fala,
mas
hoje
saio
daqui
satisfeita,
paguei
meu
imposto
direitinho,
escolhi
meu
fruto
na
hora
e
logo
mais
vou
recebe-‐lo
em
casa.
Não
poderia
ser
um
dia
melhor,
o
que
mais
posso
querer?
-‐ É,
tem
razão,
o
que
mais
mulheres
como
nós
queremos?
Autora:
Cássia
Xavier
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para quais quer fins.