O documento descreve a volta de Paula à sua cidade natal São Tiago do Alegre, que agora é uma cidade moderna com mudanças nos costumes. Paula conhece um casal onde a esposa é na verdade um homem, o que causa surpresa. Paula defende o direito das pessoas de viverem como quiserem.
2. Ao voltar para o interior Paula sabia que tudo
estaria diferente em sua cidade natal, pois ao
deixar sua terra muitos anos antes, São Tiago do
Alegre era coisa pouca: duas praças bem bonitas e
floridas e algumas ruas calçadas com
paralelepípedos, a igreja do padroeiro e uma igreja
presbiteriana, poucas escolas e um comercio
modesto para uma gente simples e só.
3. Aquela pequena cidade era quase uma fazenda,
porque a maioria da população trabalhava no campo,
alguns eram donos de terras e outros trabalhadores
rurais; dentro da cidade o povo que não era lavrador
se encarregava dos outros afazeres e se virava de
um jeito ou de outro para sobreviver; os fazendeiros
mandavam os filhos para fora para estudar.
4. Estudar fora era um luxo para quem podia e não para
quem queria e essa situação obrigava os menos
abonados a deixar a terra natal e ir procurar longe o
que não encontrava ali para seus filhos: cultura e
trabalho; por isso Paula levou sua gente para a
capital de seu estado, foram anos de estudo e
trabalho, mas todos se formaram.
5. Idosos e cansados Paula e seu marido voltaram
para São Tiago do Alegre, mas tomaram um susto
ao verem sua pequena e simples cidadezinha
transformada em uma cidade de porte médio com
ruas asfaltadas e limpas, com mais de vinte mil
habitantes; mas a mudança fora maior pois os
hábitos mudaram também, a simplicidade se
acabara.
6. A agora alegre e moderna São Tiago do Alegre
assumia posturas diferentes e até radicais; coisas
inaceitáveis em outros tempos, eram aceitas e
consideradas comuns e normais; as festinhas
familiares deram lugar a eventos ensurdecedores,
com os jovens dos dois sexos disputando de copo
na mão quem conseguia beber mais, ou cair
primeiro.
7. Recuperada da surpresa Paula procurou se
ambientar, passando a visitar os vizinhos, mas
na primeira visita que fez foi novamente
surpreendida com mais uma novidade,
aconteceu assim: ao tocar a campainha foi
recebida gentilmente por um bonito rapaz
moreno e convidada para entrar, já na sala ele
disse que sua esposa não estava.
8. O rapaz disse que a esposa voltaria logo, ofereceu uma
cadeira e serviu um ótimo suco de abacaxi; bem
acomodada Paula resolveu esperar pela dona da casa
e ficou por ali desfrutando da da agradavel prosa do
moço até a chegada da moça, quando ela chegou foi
outra surpresa porque era uma linda loira, muito bem
educada e carinhosa.
9. Ao ser apresentada pelo marido, a jovem agradeceu a visita
com beijinhos, Paula encantada com o casal passou a tarde
toda conversando com eles, mas quando se despediu e saiu
foi recebida com risinhos das pessoas que passavam pela
rua, sem entender ela perguntou a sua irmã que morava
perto, onde estava a graça.
10. Foi informada que aquela casal era diferente porque a
linda esposa era homem também e que seria bom aquela
visita ser a ultima, porque o povo da cidade ainda não se
acostumara a novidade; Paula se zangou e disse: se essa
comunidade é moderna o suficiente para aceitar todas as
mudanças que vi por aqui, porque esse preconceito?
11. E continuou: vou voltar lá amanhã e levar um presente
para aqueles jovens que me receberam com tanta
cortesia e carinho, vou convida-los para virem a minha
casa onde serão muito bem recebidos; quanto a você
minha irmã diga a essas pessoas que discriminação é
coisa de gente ignorante, é feio e Deus pode não gostar.
12. Depois disso Paula entendeu que o povo de
São Tiago do Alegre ainda não crescera na
medida do espaço físico de sua alegre e bonita
cidade, porque não entendia as diferenças e o
direito que as pessoas tem de fazer suas
escolhas e dispor de suas vidas a seu modo; o
ser humano está nesse mundo para ser livre e
feliz cada um de seu jeito, para isso Deus nos
deu o livre arbítrio.
13. CRÉDITOS
TEXTO DE VÓ FIA
FORMATADO POR VÓ FIA
MÚSICA-INTERMEZZO
CORTAZAR
NEPOMUCENO MG
TEXTO REGISTRADO NO EDA
12/08/08