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"Os países do BRTCS devem se.r abertos e inclusivos,
realizando ativamente diálogos e intercâmbios com
outros países e organizações íoternaclo;nais, aumentando
a representatividade e a influência elo grupo."
Xi Jinping
"Cada um aos nossos paises tem Sl!Ja próprÜl via de
desenvo vimento, seu próprio modelo de crescimento
econômico, história e cultura ricas. E é nesta
diversidade, na .convergência de diferentes tradições,
que está a 'força dos BRICS."
Wladmir Putin
"Acredito que alcançamos hoje um nivel no qual
devemos ter ainda mais ambição. Devemos nos
concentrar em outros mecanismos mais tangív.eis,
fazendo que com que BRICS seja uma plataforma de
impacto. Temos de conceber o futuro não só de nossos
países, mas também do mundo como um todo."
Narendra Mocli
I'ATROC[N IO
REALI ZAÇÃ O
FEDERAÇÃO DE CÃMARAS
DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA
DA AMÉRICA DO SUL
G OV ERNO FEDERAL
- - - ----
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . .
1. O IMPACTO DO BRICS SOBRE A POLÍTICA
INTERNACIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
WlLUAMS GONÇALVES
2. ENERGIA E O BRICS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
DARC COSTA
3. BRlCS: UM NOVO FUNDO MONETÁRLO
E UM NOVO BANCO DE DESENVOLVIMENTO ...... 33
PAULO NOGUEiRA BAT!STAJR.
4. O BRASIL E OS BRlCS . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3~
CARLOS Lt::SSA
S. ENERGIA NUCLEAR NOS BRLCS ............ ... 50
CARLOS FEU ALVIM E
LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES
6. O liriAGlNÁRIO NO BRAS[L E BRICS . . . . . . . . . . . . 83
MARIA HERNANDEZ
7. BRICS E A NOVA ORDEM MUNDIAL MULTIPOLAR .... L06
St:VERINO CABRAL
8. BRIC(S): DE ACRÔNIMO A REAUDADE? .......... 115
CARLOS/. PRIMO BR/G1
9. O PATRIMÔNIO, NOVO INDICADOR
DE RIQUEZA PARA O BRICS . . . . . ........... 128
.JOS(·: CAR LOS ALBANO DO AMARANTE
1O. CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO
NA COOPERAÇÃO ENTRE OS BRICS-
UM NOVO PARADIGMA .. . ........... ..... 141
JONATHAN TENNENBAUM
11. A COOPERAÇÃO EM SAÚDE NO BRICS:
UMA PERSPECTIVA ECONÔMICA E
POLÍTICA BRASILEIRA .................... 165
R/Pil/EI. 1'/DULA
12. BRJCS, MERCOSUL E URASlL ................. 184
SAMU I~J. PIN IIEmO GUIM/l~Al~S
AUTORES. . . . . . . . . . . . 200
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . 205
VII CÚPULA DO BRICS- DECLARAÇÃO DE UFÁ . . 217
UFÁ, RÚSSIA, 9 DE JULHO DE 2015
TABELAS ............................ 247
APRESENTAÇÃO
Estt: livro L' o resulrado da busc1 que realizanws de visõês diVl'rs~b sobn;• ,
parril'ipa~;i'io do nosso p~11 · ttu bloco dos p~11ses qul' constituem o 13Rtl'~. P,u-.1
ranro, n:unimos diversos renomados pen·adore~ que viver11:iam ~l discus~.tu
d~1 insen,:i'io inrern~H:ion~1l do Br~tsil. A partir de su~1s diferentes experi2nct,ts
como acadêmicos e operadores de políric1 internacional, logr~tmos formar um
quadro de amplas dimensões sobre esse extraordinário grupo de Estados.
Nosso propósito foi dar ao leitor uma presença multifacerada elos diver-
sos aspectos desse novo processo geopolítico, que revelam duas caracterís-
ticas de extrema relevância. Uma, estabelecer por objetivo a criação de uma
ordem internacional fundada na mulripolaridade. Outra, o lugar do Brasil
como protagonista desse processo, ao lado da RCtssi3, c!J Índia, da China e
d~1 África do Sul.
Temos também a pretensão de preencher um vazio existenre n;.~ discus-
são sobre as relações inrernacionais e sobre a inser.;ão inrernacion:..tl Jo llrasil .
Por meio dos diferenres enfoques e pomos de vtsra dos organizadores e dos
aurores convidados, propomos aos no sos leitores ir :.tlém do senso .:omurn t·
refletir sobre os desafios e as oporrunidades que a presença do Brasil no BRICS
ofere ·e par:~ a esrrurur:~ção de uma ordem inrern~Kiunal capaz de gcr;.~r soll-
chriedade enrre os povos.
Os org~tlllzadurt' .
ENERGIA NUCLEAR
NOS BRICS
CARlOS FEU AlVIM
ElEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES
RESUMO
f: inequívoca a importância estratégica de o Brasil se manter ativo na explo-
raç:io dos usos pacíficos da energia nuclea r, ex pandindo seu domínio tecnoló-
gico c ca pacidade industrial insta lada nos di versos seto res associados, como
produção de radioisótopos para medicina c ind C1stria, produção de combustí-
vel nuclea r, propulsão nuclea r nava l e geração elétrica nuclear. Para isso, a
cooperação dentro dos BRICS desponta como uma excelente oport unidade.
INTRODUÇÃO
Um aspecto pouco discutido so bre os BRICS é o fa ro de todos os cinco países
ter uma indC1stria nuclea r desenvolvida. Esse aspecm comum é po11 co explo-
rado nas discussões sobre as relações internas e externas do grupo com 0
resto elo munclo.
, A geração cl_étrica nuclea r faz parte da matriz energética de Brasil, Rússia,
lnd1a, Ch111a e Africa do Sul com diferentes graus ele comribuição. Somado, 0
parq_ue de geração nuclea r elo BRfCS monta a 86 usinas em operação (2 no
Brasil, 34 na RC1ssia, 27 na China, 2 1 na Índia e 2 na África do Sul ), o que
representa 20% do parque mundial. O grupo rambém tem 40 usinas em cons-
trução (1 no Brasil, 24 na China, 6 na Índia e 9 na RC1ssia), o que representa
60% das usinas a entra r em operação ao longo des ta década . Em tc: rm os
de geração líq uida, em 20 14 o Brasil produziu 15.385 CXI.h de eletricidade
nuclea r (2,86% do total de geraçiio IJacional), n Rl"1ssi<l, 169.049 GW.h
50
( lil,57%), a fndia, 33.232 GXI.h (3,53%), ~China, L30.5il0 GW.h (2,39%) t:
a Africl do Sul, l4.749 CW.h (6,_0%) 1
•
O projl'tu l' consrrução das usinas russas s:lo roralml'nte :lLLrócron~s.
O parque nuclear chinês se iniciou tambem de forma aut6crone, porém a
Jlina passou a adorar na década de l990 a política de adquirir usinas de
uurros patses, induinJu a Rússia, mas também EUA e Fran~~a, e promover
transferência de tecnologia que lhe permitisse desenvolvê-las localmente. A políri-
c..:a teve sucesso e hoje seu parque i~1 indu i usinas de projeto e construção local.
A grande maioria das usinas indianas rambém é de projero e constrw,:ão na-
cional, mas lerivam de uma transferência de tecnologia inicial do Canada em
1963. Só recentemente a Índia adquiriu usinas no exrerior, inicialmente da
Rússia, e tem negoci:1do a compra de outras com outros países fora do grupo.
As usinas brasileiras e sul-africanas foram adquiridas de países for:1 Jo
gruro: EUA e Alemanha no caso cio Brasil, rrança no caso da África do
Sul. Esses países remaram uma polírica de transferência de tecnologia com
Alemanha e Fr~1nça, respectivamente, similar àquela adorada pela Chin~1,
porém sem sucesso, dependendo hoje da impurraç:1o de tecnologia para
expansão de seus p~Hques.
A Rúss ia é hoje o maior exportador de usinas nude~ues nu mundo,
com ll projeros em andamento no exterior'. A China dever~í em breve
rorn~u-se também importante ator nesse mercado, no passado dominado
pelos EUA e Europa, j~1 tendo concluído a venda de um projeto aurocrone
para u Paquistão.
Em ro::rn1os de recut·sos de urânio razoa velmenre assegurados (Reasonably
Assured Ressources- l{A.R) e inferidos (< L30USD/kgU), os BR!CS somam
23% dos recursos globais (Brasil 5%, Rússia 9%, China 3% e África do Sul
6%)". Entreranro, o Brasil teve apenas 1/3 ele seu território prospeccaclo aré
o momenro. As caracrerísrica::. geológicas do país -cujas áreas de formação
pre-cambriana, propícias à ocorrência de urânio, rêm exrensão quase idênrica
às mesmas áreas na Australia, país que detêm a maior reserva (24% cios
recursos RAR e inferidos globais) - bzem crer que um esforço cle pesquisa
nacional poderia alterar em rnuiro o quadro atual'.
A China também rem significativa parre de seu território ainda ~em pros-
pecção adequada e est<l fazendo esforços nesse senrido.
~ IAFA l'owcr ltcac·ror lnfnrntanon Sprern, hrrp://www.iaea.org/pns/, <:on,ulcaJo em 0~/05/20 15.
Arornstnl)"<"Xpon, hrcp://www.;1tomsrroyexpon.ru/wp;,/wc:ITtkunne.:r/a>eft·ngl, C:<Hl>Ltlr.1du en1
ll~/05/2.0 I S.
(, llllrNilll1 2.014: RF::.OLIRl E'>, I'RODUC f"IOI'. ANll DEMAND, l'.l.A No. 710'1, V lll:ll>
l.lll ~. di,pLliiiVd c1n hrrp://www.oc.:d-tte;t.or!lfndd/pub,/20 14/720'! ·ur.IIIJUJJJ20 1-l.pdf,
c:othtdr;~du c·m ll~/05/20 I.
7 Ptn.'~, h: rn~utJo Robcrro tkndt'!-1, ur~1nio no Br~t"il: gt.·olu~i:.I, jo.tltd;,t~ l' ~h.:UI"I"l'lh..'l~l"'- H. tu de
J;tnt:tru: Vitrina, 2.012, dtspuntvd t•m hrrps://www.;K•l•knti;1.~du/7H2H2.4Wllr'Y..l 1"',.,litl!l 110
llr;tsil (;,·ologt;t J.ttilLts ,. lk!lrr"',,( 1%Arm·t,._, çoJt,ulrado em OX/OS/20 I.
~I
A Rúss ia mua no mercado inrermH.:iorwl como fomeccdor de serviços de
convers~io, cnriquccirnenro e fabricação de elementos contbusttveis. i China
depende de intportnc,:õcs de urânio para produzir o curnb usttvl'i para seus
reatores, mns n conversão, cnriquecill1L'nrO e Ltbricac,:ão ele elemL'n tus com-
bustív<.:is são feitos loc;tltnente. A Índia rambem tkpertde de imporr~11;ues de
urânio c t:nriquecimen to, mas faz a conversão l' fabrica os elt:tttt•nros contbus-
tíveis locnllllente. Nore-se que a lll<tior pane do 1X1l't]LIC indíanu de usinas usa
uni nio natural, niio n:quercntlo enriquecimento. A Afric~1 do Sul produz o
ur<lnio, faz a conversão e fabrica elenKntos combusrtvcis para suas usinas
localtnenre, mas o enriquecimento é feito no exrerior.
Ainda na época do aparrheicl, a África elo Sul desenvolveu um processo
(Helikon VortexH) ele enriquecimento aerodinâmico semelhante ao jet-nozzle
que seria transferido ao Brasil denrro do Programa ele Cooperação Brasil-
-Alemanha elos anos serenra'1
• A África do Sul obteve uma quanridade de urâ-
nio alramenre enriquecido, que se supõe suficienre para confeccionar cerca de
dez bombas. Esse material permanece de posse do governo sul-africa no ctn
in s t~l la ções de Pelind::tba. A origem desse urânio enriquecido (: oficialmente
atribuída ao enriquecimento no próprio país 1
".
O Brasil rambém produz urânio e fabrica os ele mentos combustíveis
localmente, mas importa os serviços de conversão c enriq uecimento, esre
Cdr im o parcialmente, na medida em que a capacidade de produção nacio-
nal é insuficiente.
Todos os cinco países operam rearorcs de pesquisa e de produção de
raclioisóropos para usos médicos e industriais, também produzindo o
comb ustível para esses reatores, e fazem amplo uso elas diversas aplicações
nuclea res não energéticas. Rt."1ssia e África elo Sul são também exporwdo res
de radioisóropos.
As Marinhas de Rússia, China e Índia projetam, constroem c operam sub-
marinos dt: propulsão nuclea r. A Índia se iniciou no seror alugando unidades
ele origem russa, mas recentemente lançou ao mar sua primeira unidade de
projeto e construção nacional. O Brasil desenvolve de forma autóctone um
programa para obtenção desses navios, que se enconrra em esdgio avançado.
Rú ss ia e China são estados nuclearmente armados de juris, isro é, ele
acordo com o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). A Índia também
I kli kon C!ITl'X 'cparanon proccss, disponíveiL·m hrrp:l/en.wikipcc.lia.or!oVwiki/Helikon_'OITL'X_
sep~rnrion_proccs,, cons ulr:~Jo Clll 26/0'i/20 I 'i.
Urnniu m cnnchmcnr by jcr ncnzlc scpnrario11 proce>s in rhc Gcnnan-Brazil coopcrntion prugr:un,
di>po11ívl'l c1n hrt p://www.i.tca.urgiinis/collccrion/NCl.CollccriunSrorc/_l'u bl id22/063/22063 j 82.
pdf, co11;,ulrado em 26/05/20 I S.
IO Consta qnc foi produzido nn Usina Y, que foi dcsmumada, mas cxisrem cspcculaçôcs sobr,·
52
se esse· urânio não rcria ungem em llwrcriniL·nriquccido prcvinmcnre nos EU/; igualmcmc Sl'
especula sobre a dcrc,;ç;io d;l ex plo,:Jo d,· um arrcfnro que leria sid1> realizada co•n n cuopcraç;io
israclen,c, mas dcpoinlcnlo' sohr,· ,L lmw n>I" '''IIÍda 110 dc"'rlll d1· l<:~ l:~h :ll'l dão co11r:1 dt• qnL' d:1
11111)1:,1 foi 1HiiÍ1:1d.1,
pussui artn•h nucleares, rn~1 · n~u t' membro Ju TNt>, St' ttLlo utn est•H.Iu
nuckarmt'lHt' armadu de /;teto. A África du Sul ju foi tantbem utll e~r~tdo
nuck,trtHL'nrt' nrrnadu de f;tcto, purem teria abandou~1do as ~lrrn•ts na ~f.ltH:a
do 1rc>sidente De Klerk para evitar qut: com a tnlllbnc,:a de rt:girm•L asSUII:lO
tk 1.'lson Mandela upresrdência do p~1ís u novo n:gime di'ipll'it'SW de amt~l
ntt:l t to nuck-tr.
O Br~1siln:'I1Unciou us amus nucleares pel~1 Constrtutç:lu de l':J88 t:' pustL'-
riormenre, em l999, aderiu ao lNP como esrado n:lo nuckartnl'llte ~Hlll<ldu.
Os BRlCS, portanto, constituem um grupo dt· países nuckanm·nre desen-
volvidos. incluem a Rússia, que comparte' com os EUA a lidemnça mundial
no setor, e a China, que muiro ern breve deverá se ombrear a esses dois países.
A Índia rt'm um ~1lro grau de avanço no ·eror, pouco inferior .1 Rússia e China.
Brasil e África do Sul, por su~1 vez, fazem parte da vanguarda do setor no
mundo, ainda que num patamar inferior aos outros três pan:t'iros.
O faro de rodos os BRlCS ter uma indt.'istria mtclear desenvolvida, ~tind.t
que em diferenres graus, abre um amplo leque de possibilidades de coopl'ra-
·:lo e sint>rgi•1s que explur•tm as complemenr~uidades entre os patses e que
pudern reforçar ~1 cumperitividade do grupo com um rodo.
Nure-se aqui qut' o Brasil ~ u unicu paí~ do grupo que n.:iu possur nem
nunca possuiu armas nuclec1re~. lnreres~~~ muito a nosso pa1s m~uun sua opç:lo
constilllcional pelo uso exclusivamente pacílicu da t.:nergia nuck~tr. lssu lltc
Jú um carúrer único junro aos parceiros do BRlC~, qut> se rdlcre numa auw-
ridade moral e ética que pude ser explorada politicamente' t.:m diversas siru.t-
ções, como por exemplo na necessária reforma elo Conselho de Segurunça
da ONU e na arbitragem de crises nucleares internacionais. Essa "vantagem
competitiva " ~ muiro mais valiosa do que a posse de armas nudear<:!S que, ao
tina! das conras, são feiras p.ua num:a ~er usadas.
Entretanto, uma an~1lisc t>quilibrada 11
mostra Jt> forma inequívoGl a illl-
portô.ncia estr~Hegica de o Brasil se manter arivo na exploração dos usos pact-
ficos (b energia nuclear, expandindo seu domínio tecnológico e capacidade
industrial iusralada nos diversos serores associados, como produção de radio-
isótOpos para medicina e indústria, produc,:iio ele combustível nuclear, propul-
são nuclear naval e geração elétrica nuclear. Para isso, a cooperação dentro
dos BRICS desponta como uma excelente oportunitbde.
Discutiremos ~1 seguir as características da indCt~tria nucle~H de cada um
desses p~tíses e em seguida analisaremos como as sinergias poderiam ser- ex-
ploradas nas suas relações inrernas e externas.
I t S1lv:1, Carlus Augusro FcLJ Alvim dJ c Gu1mJdcs, L.con:HTt du> S:1m'•~. A' J~1 lrl,llurc' cc:,>numl.l'
c .1 ,·ncrgw nuclcJr: rdle~1in p:Hct o fLLwru du ~r;hd, RcVL>[,I Hm,lcir.l de l'LtncJ;llltcnro t'
Ur,·amemo fUli'O, Hr:~síli,t, y,,l I, JH>l, lllll, pJg' ~'i 'N, d"pu1t1vd L'IIJimp://www.;t"'''''tl'.<>l'f
hrlindn.phr/rhpo/vol I llllllH'I'll·l 20 l 1/, "'""ulr:tdo t'llt OH/OS/!.0 I 'i.
CRESCIMENTO ECONÔMICO EDEMANDA
DE ENERGIA ELÉTRICA NOS BRICS
Os BRICS têm sido responsáveis por boa parte da expansão econômica
mundial. A crise do final da primeira década deste século reduziu ainda
mais o papel dos países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento
Econômico (OCDE) no crescimento mundial. A OCDE reúne a quase totali-
dade de países desenvolvidos e os poucos países em desenvolvimento que dela
fazem parte (México, Chile e Turquia) não invalidam considerar seus dados
como representativos dos países ricos.
A Tabela 1 compara a evolução do PIB dos BRICS com o da OCDE, o
resto do mundo (OUTROS) e o Mundo nos últimos 10 anos. A Figura 1 com-
para a evolução do PIB dos BRICS com o da OCDE e o resto do mundo
(Outros). Pode-se observar que os BRICS têm sido responsáveis por boa parte
do crescimento mundial. Nos últimos dez anos da amostra, foram responsá-
veis por quase 50% do crescimento da economia global. A participação dos
BRICS no PIB mundial passou de 16% para 28% entre 1990 e 2011. Já a
participação da OCDE caiu de 62% para 49% entre 1990 e 2011.
COMPARAÇÃO DO PIB PPP DOS BRICS COM A OCDE,
OS OUTROS E O MUNDO DE 2001 A 201 O(US$ Bl)
OECD 38.098 45.246 49,00% 7.148 24%
BRICS 12.145 26.018 28% 13.873 114%
OUTROS 13.390 22.023 24% 8.362 64%
MUNDO 63.634 93.287 100% 29.653 47%
19%
7,9%
5,1%
3,90%
Embora existam pontos em comum entre os BRICS, a dinâmica de cresci-
mento dos países que o constituem está longe de ser homogênea, mas a visão
de conjunto apresenta algumas vantagens na medida que sugere as oportuni-
dades existentes e fornecem o contexto em que se inserem os países. No con-
junto, a economia dos BRICS tem crescido significativamente mais rápido que
as economias da OCDE. Isso contribuiu para uma distribuição menos desi-
gual de riquezas entre esses países e a OCDE.
'i4
EVOLUÇÃO DO PIB DOS BRICS, OCDE E OUTROS PAÍSES DA
ECONOMIA MUNDIAL EM PARIDADE DE PODER DE COMPRA (PPC).
DADOS INDICADORES DO BANCO MUNDIAL12
50
45 OCDE
,....
...... 40o
N
v; 35Vl
::> 30..."O
BRICSo 25
'"'..::: OUTROS,-;:i
20~
u 15
~
~
10
5
o
1990 1995 2000 2005 2010
Na Tabela 2 são mostradas as taxas centradas para alguns anos seleciona-
dos. Na Figura 2, mostram-se as taxas centradas (crescimento médio entre o
ano anterior e o seguinte) para os grupos de países. Com efeito, os países
OCDE ainda reúnem 49% da produção mundial para apenas 18% da popu-
lação mundial. Já os BRICS reúnem 28% da riqueza produzida para 42% da
população mundial.
TAXAS CENTRADAS PARA 1995 A 2011
OCDE 2,9% 2,7% 3,0% 2,5% 1,6%
BRICS 5,2% 7,9% 9,2% 8,2%
OUTROS 4,2% 2,3% 6,5% 5,0%
MUNDO 3,6% 3,5% 5,1% 4,6% 3,6%
12 World Development lndicators, disponível em htrp://dara.worlclbank.orglclata-caralog/world-
clevelopment-inclicarors, consultado em 26/05/2015.
WhbtJfj
TAXA DE CRESCIMENTO ANUAL DE GRUPOS DE PAÍSES
(ENTREANOS ADJACENTES)
"'@
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~
"'.§
Vl
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"'"'"'
~
12%
10%
8%
6%
4%
0%
-2%
-4%
BRICS
OUTROS
MUNDO
OCDE
Em termos de energia como um todo e de energia elétrica em particular,
a participação dos BRICS é ainda mais significativa. Com efeito, é caracte-
rística de países em desenvolvimento possuir uma intensidade energética
maior por trabalhar com produtos de menor valor agregado e por ser menos
eficientes no uso da energia. Países como China e Índia em especial têm
concentrado, seu desenvolvimento em atividades industriais, enquanto os
países desenvolvidos têm se especializado no setor de serviços menos inten-
sivo no uso da energia.
É de se esperar que esses países emergentes revertam paulatinamente a
situação. A evolução da razão energia/PIE em PPC pode ser acompanhada
na Figura 3.
Pode-se observar que o conteúdo energético da produção, em moeda cons-
tante, tem sido reduzido ao longo elos anos tanto nos países da OCDE como
nos BRICS. O conteúdo energético que era quase o dobro (+ 100%) em 1990
agora é cerca ele 50% superior. A diferença entre as intensidades ainda é
maior quando é calculada com o PIB convertido pelo câmbio comercial13.
13 O uso de um ou outro coeficiente depende elo tipo ele aná lise a ser feito: qua ndo se trata
56
ele produtos que se destinam a exportação ou sofrem concorrência externa, como prod utos
industriais ou commodities, o câ mbio nominal é mais recomendável; para coeficientes associados
ao conjunto da economia, existe um consenso de que o va lor de paridade pelo poder ele compra
é a melhor referência.
ENERG IA EM Q UILOS EQU IVALENTES DE PETRÓLEO
POR DÓLAR PPC DE 2011
0,35
0,3
u 0,25I!:.
I!:.
.... 0,2 -....o
<'I
"' 0,15Vl
t2I!:.
~ 0,1
0,05
o
1990 1992 1994 1996 1998 2000
BRICS
MUNDO
OCDE
Mesmo assim, o consumo de energia dos BRICS já se aproxima elo consu-
mo da OCDE, o que torna a evolução do consumo desses países muito rele-
vante para o mercado energético. Na Figura 4, mostra-se a evolução do con-
sumo energético, expresso em milhão ele toneladas equivalentes de petróleo.
CONSUMO DE ENERG IA POR GRUPOS DE PAÍSES,
COM DESTAQUE PARA A APROXIMAÇÃO DO CONSUMO
DOS BRICS AO CONSUMO DA OCDE
6000
l T
"' .--r ~ OCDE
'.:1
"' 5000"'@ BRICS> ....·sO'
4000"'o
"';'é
b 3000 OUTROS
"'c..
"'"' 2000...
"'
"'o
'"' 1000
~
o
1990 1995 2000 2005 2010
57
l<ll i111. NOS llRICS
Pode-se deduzir do gráfico ela Figura 4 que o consumo energético elos
BRICS já representa 36% do consumo mundial (27% em 1990) e o consumo
ela OCDE passou de 53% em 1990 para 42% elo total. N os últimos dez
anos elo período mostrado (200112011 ) o consumo ela OCDE permaneceu
praticamente estagnado, já o consumo elos BRICS aum ento u cerca de
80% e esses países foram responsáveis por 72% elo aumento elo consumo
verificado em dez anos.
O conteúdo ele eletricidade por produto tem dois fatores qu e atuam no
sentido inverso. Por um lado, a modernização da economia dirige o con-
sum o para energias localmente limpas e adequ adas ao meio urbano; do
o utro lado, a maior sofisticação da produção aumenta o va lor agregado
dos produtos reduzindo o conteúdo de eletricidade. Nesse mesmo sentido, a
modernização eleva a participação no PIB de serviços que são menos intensi-
vos no uso da energia.
O resultado dessas duas tendências é que a razão consumo de eletricidade/
PIB tende a permanecer aproximadamente estável em todos os conjuntos dos
países estudados havendo uma ligeira tendência a queda, como pode ser ob-
servado na Figura 5.
EVO LUÇÃO DA RAZÃO CONSUMO DE ELETRICIDADE/PIS
Q UE NÃO APRESENTA VARIAÇÕES SIGNIFICATIVAS NOS DIVERSOS
GRUPOS DE PAÍSES
0,35
0,3
BRICS
,...
...-
MUNDOo
"'u OCDE
"""""'V)
;:J
" OUTROS
~-"'
0,05
0,00
1990 1995 2000 2005 2010
EN ERGIA NUCI.E1R NOS BIUC.S
A média mundial está muito próxima ela correspondente à O CDE sen-
do que a elos BRICS supera essa médi a e a elos "O utros" é mu ito inferio r.
O conjunto "Outros" envolve principalmente os países mais pobres. O con-
sumo desse grupo ele países corresponde a 16% ela eletri cidade para cerca
de 40 % da população mundial. j á o consumo de eletricidade da OECD
corresponde a 50% da eletricidade mundial consumida por 18% da popu-
lação. Nos BRICS os 42% da população mundial consome 34% da eletrici-
dade em uma situação mais equili brada.
Na Figura 6, pode-se observar que o co nsumo na O CDE permaneceu
praticamente estável nos últimos cinco anos. Em alguns países da Europa
houve inclusive queda no consumo com problemas de ociosidade ele algu-
mas usinas. Nos dez últimos anos, no entanto, houve aumento de 12% no
consumo da OCDE. O co nsumo dos BRICS mais do que dobrou em dez
anos, crescendo 126% (crescimento médio de 8,5% ao ano). O consumo dos
outros países também aumentou em 58% nos dez anos (crescimento médio
de 4,7% ao ano).
~~~
CONSUMO DE ELETR ICIDADE POR GRUPO DE PAÍSES
MOSTRANDO O FORTE INCREMENTO OBSERVADO NO BRICS,
PRINCIPALMENTE NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS
12000
10000 OCDE
8000
o
""'::;: 6000
~
4000
2000
o
1990 1995 2000 2005 2010
I1(; SIL NOS BRICS
/EVOLUÇÃO DOS COHICIIENTES ENERGÉTICOS !: DE
CONSUMO DE ELETRICIDADE NOS PAÍSES DO GRUPO BRICS
Disc ute-se a seguir a evo lução do consumo de energia e eletricidade dos
países com o objetivo de estuda r a potencialidade da participação da geração
elétrica nuclear em cada país. Na seção anterior foi mostrado o comporta-
mento de conjuntos de países divididos em BRICS, OCDE e O utros países
(resto do mundo). O conjunto BRICS é um conjunto bastante heterogêneo e,
para ana lisar o possível papel da geração nuclear nos países, é conveniente
diferenciar o comportamento de cada um. Vale a pena distinguir, prelimi-
narmente, as diferenças na situação econômica nos diversos países para que
sejam levadas em conta quando for necessário tirar conclusões.
A Figura 7 ilustra bem essas diferenças ao mostrar as taxas de crescimento
obser vadas ao longo de quatro décadas. Destaca-se o extraordinário cresci-
mento econômico sustentado durante três décadas pela China e Índia. Só na
época do "milagre econômico" ela década de setenta, o Brasil experimentou
algo parecido. No entanto, ao contrário da nítida tendência decrescente das
taxas das economias desenvolvidas, Brasil e África do Sul têm apresentado
taxas ele crescimento que, embora osci lantes, superam a dos países desenvol-
vidos. A Rússia passou por um desordenado processo ele abertura econômica
e política que a levou a uma profunda recessão na década ele noventa e iniciou
uma recuperação na primeira década do século atual.
~~j?J
TAXA DE VAR IAÇÃO DO PIB PARA OS BRICS
(MÉDIA DO PERÍODO DE - 2 ANOS A+ 2 ANOS)
15%
10%
B
t:
"' 5%E
·~
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u
" 0%"O
-;;;
"'t:.,., -5%><
~
-10%
-15%
ENERG 1 NUC.1',t NOS liI CS
Os BRICS se configuraram, neste início de século, como um conjunto de
países realmente em crescimento, aproximando-se dos países desenvolvidos.
Não se enqu adram no eufem ismo da expressãb "países em d esenvolvi-
mento" dos anos setenta, que apenas servia como forma polida de designar
os subdesenvolvidos.
A Figura 8 mostra a intensidade do uso de energia para os diversos países
tomando como referência o comportamento da OCDE. Foi aplicado um perío-
do de média móvel superior à aplicada na Figura 2 (grupo de países) para
reduzir as oscilações conjunturais no gráfico, natura lmente maiores que a dos
grupos de países. A representação nos gráficos da trajetória da OCDE parte
da suposição de que ela sirva de indica tivo da tendência futura para o BRICS.
Vale destacar, na Figura 7, a persistente tendência, ao longo das quatro déca-
das, de uma queda na taxa de crescimento econômico dos países ricos.
EVOLUÇÃO DA ENERG IA/PIS EM PARIDADE DE PODER
DE COMPRA PARA OS PAÍSES DO BRICS
0,6
0,5
.....
0,4.....
o
"'u
"""" 0,3
"'Vl
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" 0,2::.: ......... __ _________ 0_
........ .... ..................... --- ------
0,1 ~------------------
o L________________________________________ _
1990 1995 2000 2005 2010
Índia
OCDE
Brasil
Note-se na Figura 8 que, à exceção do Brasil, a relação energia/PIB (PPC)
dos BRICS fica bem acima da média mundial. Para Rússia, Índia e China, essa
relação é decrescente, mostrando uma evolução da composição do PIB desses
países na direção de atividades menos intensivas em energia, enquanto para
África do Sul e Brasil ela tende a ser estável. A menor intensidade energética
da economia brasileira é, em princípio, uma vantagem comparativa no cami-
nho do desenvolvimento do país. Pode ser, por outro lado, um sintoma da
chamada desindustrialização prematura da economia.
11ASJI. NOS 1!1ICS
Chama a atenção o qu e ocorreu com a Rúss ia, ond e a recessão pós-
-soviética aumentou os gastos de energia por produto, havendo um a recu-
peração nos anos seguintes. Um aumento geral da ineficiência é esperado em
períodos recessivos.
A posição singular do Brasil de apresentar uma eficiência energética supe-
ri or à elos países desenvolvidos é intrigante e coloca em cheque abordagens
conservacionistas que costumam projetar uma redução significativa desse
indicador no futuro. A Figura 9 compara o consumo ele energia brasileiro
por PIB (PPC) com outros países e regiões ele referência, repetindo a compa-
ração com a OECD, já indicada na figura anterior.
COMPARAÇÃO COM O UTROS PAÍSES OU REGIÕ ES DO
COMPORTAMENTO DO CONSUMO DE ENERGIA/PIS (PPC)
0,25
0,2
~ 0,15
~~
"'V)
2
fr 0,1
~
0,05
o
1990
Fome: B~ nco Mundial
1995 2000 2005 2010
Estados
Unidos
Mundo
OCDE
União
Europeia
Brasil
A intensidade ele uso ela energia elétrica é também um indicador impor-
tante para avaliar o mercado futuro ela energia nuclear. Na Figura 10, mos-
tra-se a evolução do consumo de eletriciclacle/PIB (PPC) para os cinco países
e a OCDE.
~~
EVO LUÇÃO DO COEFICIENTE ELETRICIDADE/ PI S DOS SR ICS
55% _
BRICS
A análise ela Figura 10 mostra que a razão eletricidade/PIE tem a tendên-
cia ele se manter relativamente estável em cada país. A intensidade ele uso é
significativamente maior para a África do Sul elo que para os outros países.
Isso deve estar correlacionado com a importância elas atividades minerais
naquele país. N ota-se ainda o efeito do período recessivo na Rús,sia pós-re-
formas, cujo auge corresponcle com o pico de ineficiência. Brasil e India apre-
sentam coeficientes muito baixos ele utilização de energia elétrica por PIB
relativa mente aos outros BRICS e à O CDE. Nos 21 anos apresentados, a
intensidade elo uso de eletricidade elo Brasil cresceu 12% e se aproxima lenta-
mente ela intensidade ele seu uso pela OCDE que, por sua vez, caiu 9% no
mesmo período. Também neste caso, as indicações do comportamento histó-
rico são de que não se deve esperar mudanças dramáticas nesse coeficiente,
que provavelmente crescerá nas próximas décadas, pelo menos se aproxi-
mando do valor atual ela OCDE.
A Tabela 3 apresenta os valores econômicos e energéticos a qui discu-
tidos. A Tabela 4 mostra a participação ele cada grupo nos itens da Tabela 3.
A OCDE é responsável por metade elo PIB mundial e metade elo consumo de
eletricidade e 81% da energia nuclear. Os BRICS representavam em 2011
28% elo PIB (em PPC), 36,5% da energia e só 12% da energia nuclear para
44% da população mundia l. A participação na emissão ele C02
proveniente
elo uso da energia já é ele 38%, superando a ela OCDE, que é de 37%.
BRASIL NOS BIJCS
~
PR INCIPAIS VARIÁVEIS ECONÔM ICAS E ENERGÉTICAS POR
GRUPO DE PAÍSES 20"11 (COM EXqt:ÇÃO DE C02 2010)
OCDE 45.246 5.305 10.205 2.087 12.592
BRJCS 26.01 8 4.620 6.913 322 12.916
OUTROS 22.023 2.791 3.212 175 8.107
MUNDO 93 .287 12.716 20.330 2.584 33.615
PARTICIPAÇÃO NO MUNDO
OCDE 49% 42% 50% 81% 37%
BRICS 28% 36% 34% 12% 38%
OUTROS 24% 22% 16% 7% 24%
MUNDO 100% 100% 100% 100% 100%
~itlif~·~1ij
CRESCIMENTO EM 1OANOS
OCDE 7.148 31 1081 -192 -219
BRICS 13.873 2039 3853 123 6070
OUTROS 8.632 768 1180 16 2957
MUNDO 29.653 2838 6113 -54 8808
1.249
3.071
2.645
6.965
18%
44%
38%
100%
84
264
437
785
1-:NicitCI: NU<:J.E/1 NOS ntICS
Para o desenvolvimento da energia nuclear, todavia, é o aumento da de-
manda de energia elétrica e da própria energia como um todo o fator mais
determinante. Nesse particular os BRJCS são responsáveis, nos últimos dez
anos, por 72% do crescimento da energia e 63% do crescimento do consumo
de eletricidade. Esta proporção é superior a sua participação no crescimento
elo PIB (47%) e ela população mundial (34%).
O dinamismo do crescimento econômico aliado ao maior conteúdo ener-
gético justifica essa preponderância no crescimento ela energia e ela eletri-
cidade no mundo, que corresponcle a cerca de 2/3 do total.
PAPEL DA ENERGIA NUCLEAR NA GERAÇÃO
ELÉTRICA DOS BRICS
À exceção da Rússia, as contribuições nucleares são peq uenas nos demais
países do grupo, porém encontram-se em significativo crescimento na China e
Índia, com muitas novas usinas em construção e entrando em operação.
Em termos de participação na energia nuclear, os BRICS têm ainda uma
participação modesta de 12% em 2012 no consumo de energia e 15% na
potência instalada. Em termos ele usinas em construção, no entanto, a par-
ticipação dos BRICS atinge 55% (ou 59%, se incluída Taiwan na China).
A forte participação dos BRICS, em termos de potência das usinas em cons-
trução, é comparada com a participação atual de potência instalada, como é
mostrado na Figura 11.
No Brasil e África do Sul, o crescimento da participação nuclear deverá ser
moderado e até decrescente, como ocorreu até o fina l da década de 2010.
~~~
~'-~~
COMPARAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DOS BRICS NA
POTÊNCIA INSTALADA E NA EM CONSTRUÇÃO.
27%
Taiwan, OECD
China
55%---
BRJCS
lll 1 ~ l l. NOS lliU CS
Nas usinas em construção, no entanto, a forte participação fica por conta
de China (24 %), Rússia (9%) e Índia (6%). Na África do Sul, o governo che-
gou a lançar várias vezes licitações internacionais com dLferentes parceiros,
porém a decisão firme para início de construção de uma terceira usina vem
sendo seguidas vezes postergada, o que impede que ela venha a iniciar opera-
ção antes de 2020. De forma similar ao Brasil, o governo sul-a fricano vem
anunciando a construção de mais unidades em horizonte de mais longo prazo,
as mais recentes notícias referindo-se a acordos com a Rússia14
•
No Brasil há apenas uma nova usina em construção (Angra 3) com início
de operação anterior a 2020. O governo brasileiro, entretanto, tem anunciado
novas unidades em horizontes de mais longo prazo. O Plano Nacional de
Energia PNE 2030, lançado em 2008, considerava 4.000 MW elétricos insta-
lados nucleares adicionais após a entrada em operação de Angra 31
 porém
ainda sem decisões firmes para início de construção.
Um resumo ela situação ela energia nuclear nos BRlCS é mostrado na Tabela 6.
F~·w-;.-;-;-;TI
i1'11.;,;J,.!.~;'1li
RESUMO DA ENERG IA NUCLEAR NOS BR ICS
Brasil 2 l 15.385 5 não
Rússia 34 9 169.049 9 mais de sirn
lO.OOOkg
Índia 21 6 33 .232 entre 1 e Sim
10 kg
China 27 24 130.580 3 entre Sllll
1.000 e
10.000 kg
África 2 14.749 6 entre 100 Não''''.
do Sul e l.OOOkg
Fonte: lAEA Powcr Rcacror lnformation Sysrcm, http://www.iaea.org/pris/, consultado em 08/05/2015.
('') lnrernational Pane! on Fissile Materiais, http:/www.fissilematerials.org/, consultado em 20/05/2015.
('' ·•·) Desativada
14 Rltssia vai constru ir aré oito reatores na África do Sul, em hup://www.africa21online.com/anigo.
ph p'a=5227&e=Economia, consultado em 16/05/2015.
15 PNE é w nsidemdo marco na história do setor energético, em http://www.brasil.gov.br/
infraesrrurura/2O11/12/pne-203O-e-considerado-marco-na-historia-do-setor-energerico,
_ .... ..... .. .. 1•.~....1 .... .,....... 1 t: /f"'Ç /"')()1 r;;
ENERGI1 NUCLEAR N(lS BRICS
O crescimento da geração hid roelétr ica no Brasi l seguiu uma trajetória
linear e de forte predominância sobre outras fontes. A predominância é tão
grande que para avaliar a evolução ele outras fontes é necessário representá-
-las em uma escala com ampliação. A Figura 12 mostra a evolução ela partici-
pação das diferentes fontes energéticas na geração de eletricidade elo Brasil.
PA RTICIPAÇÃO DAS FONTES GERADORAS DE ELETRICIDADE NO BRASIL
õ
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o
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450
400
350
300
250
200
150
100
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1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
100%
90%
80%
70%
60%
50%
40 %
30%
20%
10%
0%
1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005
20%
16%
12%
lmASIL NOS BR ICS
A Rússia é um país que tem fartura ele recursos energéticos, principalmente
gás natural. Sua condição ele potência nuclear lhe propiciou a base tecnológica
para a exploração ela energia nuclear, mas as baixas condições ele segurança em
seus reatores, tanto ele projeto como na operação, levaram ao desastre ele Cherno-
byl. Em 2010 as fontes hídricas, carvão e nuclear respondiam por cerca ele
17% cada uma e o GN, por 47%. A Figura 13 mostra a evolução ela partici-
pação elas diferentes fontes energéticas na geração ele eletricidade ela Rússia.
Não há participação significativa ele energias alternativas na matriz elé-
trica russa. A produção a partir ele petróleo está sendo clesativacla, como na
maioria elos países, enquanto a participação ela energia nuclear cresceu 38%
em relação à ele 1990. A Rússia tem 9 reatores em construção com capacidade
total prevista ele 8,2 GW.
PARTICIPAÇÃO DAS FO NTES GERADORAS DE ELETRICIDA DE NA RÚ SSIA
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Carvão
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Petróleo
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1995 2000 2005
GN
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N uclear I-Iidro
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2010
-...~--=-----~.--- Renováveis 
--~------------· --:";-··-'lo---0%
E~ERGI 1 NUCI.E,1 NOS BRICó
A Índia é um país em rápido desenvolvimento cuj a opção para geração foi
predominantemente o carvão. SeLl PIB entre 1971 e 2009 cresceu 5,7% ao
ano tendo se multiplicado por um fato r 8,1. O consumo ele eletricidade foi
multiplicado por 13,5 tendo crescido a 7,1% ao ano em média. O país tem 21
reatores nucleares em operação e 6 em construção, com uma potência adicio-
nal prevista ele 4,8 GW. A Índia é importadora ele energia fóssil e depende do
abastecimento externo em 16% do carvão, 81% elo petróleo e 21% do GN
(base de dados do Banco M undial consultada em 2012) .
A Índia, a exemplo da China, não manifestou nenhuma intenção ele rever sua
política de geração nuclear. Ao contrário, a progressão de sua aceitação como
potência nuclear de fa to abriu caminhos para a cooperação externa na área
comercial que facilitam essa expansão. A Figura 14 mostra a evolução da parti-
cipação das diferentes fontes energéticas na geração ele eletricidade da Índia.
~~~1{1]
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PA RTICIPAÇÃO DAS FONTES GERA DORAS DE ELETRICIDA D E NA ÍN D IA
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2000
Carvão

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2005
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N uclear
BR.IS/1. NOS 111ICS
A geração elétrica na China cresceu 9,0% ao ano entre 1971 e 2009 tendo
sido multiplicada por um fator 27. O uso ela eletriciclacle passou ele 138 TWh
para 3696 TWh por ano. O PIB real cresceu 9,4% ao ano no mesmo período
tendo sido mu ltiplicado por um fator 30. No mesmo período, o PIB elo Brasil
se mu ltiplicou por um fator 4,3. Para atender este grande crescimento el a
clemancla, a China adotou o carvão como combustível básico, cuja participa-
ção atingiu 80%. Um grande investimento foi feito ainda em hiclroelétricas,
cuja participação, no entanto, após superar 20% nas décadas ele setenta e oiten-
ta, foi reduzida em alguns pontos percentuais. A participação elo petróleo,
que também chegou a superar 20%, foi reduzida a menos ele 0,5% em 2009.
A China é praticamente independente de importação ele carvão (4%), mas
é dependente de importação de petróleo (52%) e importa 5% do GN que
consome. Embora sem participação significativa na sua geração atual, a China
tem ambiciosos programas nuclear e de energias alternativas.
Estão sendo construídos na China Continental 27 reatores com capa-
cidade total de 26,6 GW, e ela está se preparando para ser fornecedora de
centrais nucleares para o exterior. Dois outros reatores estão em construção
em Taiwan não existindo nenhum indício de mudança face ao acidente de
Fukushima. A China está atuando fortemente na área ele produção de cole-
tores fotovoltaicos a preços muito inferiores aos elos concorrentes e está a
caminho ele dominar este mercado.
Na Figura 15 podem ser vistas as fontes geradoras de energia na China e a
sua participação relativa .
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FONTES GERADORAS DE ELETRICIDADE NA CHINA
4.000
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ENE/GIJI NIICI.EAR NOS /J RICS
Carvão

Outros
Renováveis H idro
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1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
A geração elétrica na África do Sul é amplamente dominada pelo carvão
mineral, que responde por mais de 90% elo total da eletricidade produzida.
Isso se explica, basicamente, pela abundância desse recurso natural no país.
A segunda maior fonte é a nuclear, com 6%. O gás natural e as renováveis,
basicamente hidroelétricas, respondem por parcelas complementares muito
pequenas. Na Figura 16 podem ser vistas as fontes geradoras de energia na
África do Sul e a sua participação relativa. Como com a hidroelétrica no Brasil,
foi necessário representar o carvão em uma escala separada (eixo esquerdo).
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FONTES GERADORAS DE ELETRICIDADE NA ÁFRICA DO SUL
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1970 1975 1980 1985 1990 1995
EVOLUÇÃO DA TECNOlOGIA E INDÚSTRiA
NUCLEAR NA RÚSSiA ECHI NA
2000 2005 2010
Send o Rússia e China os dois países dos BRICS que apresentam o maior
desenvolvimento no setor da energia nuclear, analisaremos a evolução dessa
indústria nesses países em maior profundidade. Abordaremos a seguir Índia e
África do Sul. Outro artigo aborda o Brasil em maior profundidade16·
RÚSSIA1 7
O desenvolvimento da indústria nuclear russa está intimamente ligado aos
progressos em P& D e descobertas neste campo. A energia n uclear russa ini-
ciou-se com a fund ação de dois institutos de pesquisa- o Instituto Nacional
de Tecnologias de Raio-X (1918) e o Instituto Khlopin Radium (1921). Desde
então a Rússia desenvolveu um sistema sofisticado ele instituições de P& D -
incl uindo desde estudos fundamentais até a construção de protótipos.
Nas décadas de 50 e 60 a Rússia tomou medidas para conquistar a lide-
ra nça no desenvolvimento da energia nuclear civil ao mesmo tempo em que
se torn ava potência mundial nuclea r. Desenvolveu dois grandes projetos,
um proveniente da tecnologia para a produção de plutônio militar (reator
moderado a grafite e refrigerado a água- RBMK ) e outro das unidades de
16 Guimarães, Leonam dos Santos, News and Views: N uclear Power in Brazil, Brazilian Journal
of Physics, September 2011, Volume 41, lssue 2-3, pp 107-112, disponível em hrrps://www.
academia.edu/4163819/Nuclear_Power_in_Brazil, consulrado em 16/05/2015.
17 Nuclear Power in Russia, disponível em lmp://www.world-nuclear.org/info/Country-Profiles/
,-. ____ _ ;__ r.. I:' I n ____ :_ ,.,,___ I ___ n ______ / ------ ~ ~- .J - ___ ., ~lfrl 'l A., r
ENEIGIA NUC LEAR NOS BRICS
propulsão nava l, tal como nos Estados Unidos (a série VVER- pressurizado
e refrigerado e moderado a água).
O primeiro reator nuclear prod utor de eletricidade no mundo a ser ligado
à rede ele distribuição foi um reator russo ele 5 MWe, em 195418
Os dois pri-
meiros reatores comerciais russos iniciaram operação em 1963-64. Em mea-
dos da década de 1980 a Rússia tinha 25 usinas n ucleares em operação.
M uitos reatores ele pesquisa foram construídos nas décadas de 50 e 60.
Em 1998 mais ele 60 reatores não militares de pesquisa e teste estavam opera-
cionais na Rússia, mais três em antigas repúblicas Soviéticas e mais oito em
outros lugares.
O acidente nuclear de Chernobyl, que aconteceu em 1986, foi o resultado
ele projeto ele reator contendo falhas e que era operado por pessoal que não
estava adequadamente treinado. Foi uma consequência direta do isolamento
resultante da Guerra Fria e ela fa lta de qualquer cultura de segurança.
Após o acidente de Chernobyl, houve uma grande mudança na cultura do
establishment nuclear civil russo, pelo menos no nível das centrais. No início
ela década ele 90 vários programas ocidentais de assistência relativos a ques-
tões ele segurança alteraram fundamentalmente a maneira como as coisas
eram fe itas no bloco oriental, incluindo a própria Rússia . Deficiências de
projeto e de operação foram sanadas e então se iniciou uma cultura de segu-
rança. A Rússia também desenvolveu uma linha ele reatores rápidos para
gerar eletricidade.
A Rosenergoatom, companhia estatal que opera as usinas nucleares na
Rússia, está planejando a produção de usinas nucleares flutuantes para abas-
tecer de eletricidade as cidades situadas na costa norte do país. As usinas nu-
cleares russas com 34 reatores em operação totalizando 24.164 MWe são:
o 4 VVER-440/23 0 iniciais (reatores a água pressurizada).
• 2 VVER-440/213 intermediários.
• 11 VVER-1000 recentes.
o 13 RBMK (reatores a água leve e grafite - LWGR), agora existentes apenas
na Rússia.
" 4 reatores pequenos BWR moderados a grafite para cogeração.
o 1 reator rápido breeder BN-600.
A geração de eletricidade na Rússia, como foi visto, tem forte predomi-
nância ele energias fósseis (67, 4%) e a nuclear participa com 16,4% (dados
ele 2011 do Banco M undial).
18 Nuclear power plants world-wide, disponível em http://www.euronuclear.org/info/encyclopedia/n/
UR1ISIL NOS P.IUCS
A propulsão nuclear tornou-se técnica c economicamente essencial na
Rússia Ártica onde co ndições de operação estão além da capacidade de
quebra-gelos convencionais. A potência necessária para quebrar gelo com 3
metros de grossura conjugada com dificuldades de reabastecimento de com-
bustível são fatores significantes. A frota nuclear aumentou a navegação na
rota do Mar do Norte de dois para dez meses por ano e no ártico Ocidental,
durante o ano todo. O quebra-gelo Lenin foi o primeiro navio de superfície de
propulsão nuclear e permaneceu em serviço por 30 anos (1959-89).
Entre o acidente de Chernobyl e meados da década de 1990 somente uma
usina nuclear foi comissionada. Reformas econômicas que se seguiram após o
colapso da União Soviética provocaram a carência de fundos para o desenvol-
vimento nuclear e vários projetos foram paralisados. No final da década ele
1990 exportações de reatores para o Irã, China e Índia foram negociadas e o
programa ele construção de reatores domésticos foi revitalizado.
A política russa é a ele usar o máximo possível o urânio reciclado e even-
tualmente também usar plutônio em combustível de óxido misto (MOX).
Muitas das instalações do ciclo elo combustível foram originalmente desen-
volvidas para uso militar e, portanto, estão localizadas em cidades anterior-
mente fechadas. As instalações ele conversão e enriquecimento foram assumi-
elas por uma su bsidiária ela Atomenergoprom.
Em 2010, o governo aprovou um programa federal feito para trazer uma
plataforma para a indústria nuclear baseada em reatores rápidos com um ciclo
fechado. A Rússia é líder mundial em tecnologia deste tipo de reator.
A Rússia está engajada nos mercados internacionais de energia nuclear,
bem além de seus tradicionais clientes de países do leste europeu. Um passo
importante nesse sentido foi a criação da companhia Rosatom Overseas, sub-
sidiária ela holding Rosatom, que é responsável por implementar projetos sem
ciclo do combustível em mercados externos, fornecendo também produtos,
serviços e tecnologias da indústria nuclear russa.
A Rússia tem reservas de urânio economicamente viáveis que representam
cerca de 10% das reservas mundiais razoavelmente asseguradas.
O país tem quatro plantas de enriquecimento de urânio, fazendo a expor-
tação de serviços de enriquecimento desde 1973. Entre seus clientes estão
países da Europa ocidental. Eles exportam também radioisótopos para os
vários usos. A Rússia, a partir ele 1992, abandonou a difusão gasosa em favor
do uso de ultracentrifugação.
A Rosatom é uma companhia holding integrada verticalmente que assu-
miu a indústria nuclear ela Rússia em 2007, oriunda da Agência Federal de
Energia Atômica. Esta última tinha sido formada a partir do Ministério de
Energia Atômica em 2004, o qual por sua vez sucedeu um ministério Sovié-
tico na área. As partes civis da indústria, com uma história de mais de 60
anos, estão consolidadas na JSC AtomEnergoProm (AEP).
ENERC;Iil KIICLEAR NOS ~R I CS
A missão da Rosatom é manter os in teresses nacionais relativos à defesa,
segurança nuclear e energia nuclear através da liderança global em tecnolo-
gias avançadas, competência e inovação.
A Rosatom também é responsável pelas obrigações in ternacionais rela-
tivas ao regime de não proliferação de energia e materiais nucleares. É ela
também que garante a execução da política de estado e mantém a unidade
de gerenciamento ela energia nuclear, o funcionamento estável do complexo
industrial nuc lear, o complexo de armas nucleares e a segura nça nuclear
e radiológica.
A divisão de armamentos da Rosa tom tem vários centros federais no país.
Em associação com o Ministério de Defesa Russo, estes centros implementam
a política nacional de dissuasão nuclear.
O ciclo de com bustível nuclear é representado por um sistema de compa-
nhias que estão conectadas por um fluxo de material nuclear. Este sistema
inclui: minas de urânio; fábricas de processamento, conversão e enriqueci-
mento de urânio; produção de com bustível nuclear; instalações de armaze-
namento de combustível usado e sítios de disposição de rejeitas. Com esse
sistema integrado, a Rosatom fornece um conjunto de produtos e serviços.
A divisão de engenharia oferece soluções abrangentes de engenharia que
incluem projeto de equipamento, produção, fornecimento, instalação e manu-
tenção de usinas nucleares e convencionais. A divisão reúne mais de 40 com-
panhias de engenharia e P&D da Rússia, na República Tcheca, Hungria e
outros países. Seus eq uipamentos estão instalados em mais de 20 países.
A Rosteclmadzor- Federal Enviromnental, Industrial and Nuclear Su.per-
vision Service of Russia - é uma instituição executiva federal que exerce as
funções de elaboração e implementação no controle regulatório e legal da
política do estado na esfera industrial e supervisão nuclear, segurança dos
usos da energia atômica (exceto em atividades de desenvolvimento, fabri-
cação, teste, operação e disposição de armas nucleares e instalações nuclea-
res militares), além de supervisão de outras áreas industriais. Não é uma agên-
cia especificamente nuclear, mas de segurança na indústria. O presidente da
Rostechnadzor é, pela legislação que estabeleceu o sistema, "nomeado e de-
mitido pelo governo da Federação Russa" (decreto governamental no 401 ele
30 de julho de 2004) 19.
Em 2008 a agência passou à subordinação do Ministério ele Recursos
Naturais e Meio Ambiente (Ministry of Natural Resources And Environ-
ment - MINPIORODY), que assumiu parte elas atribuições antes delegadas
àquela agência.
"19 Covernment O(The Russimr Federation, Ordinance No. 401.2004. Federal Environmenral,
Industrial And Nuclear Su pervision Service, disponível em http://en.gosnadzor.ru/activit)'/
,... ,...1..... ;.,,~; .. ,... ., J,, ;J..,.,. l.T'CV/Of..") (l ., ,.,,., rln,.. ,.,....., .. ,J~...,,..J,... nrn ·1 (/rl/1{)1 ç
111</SIL NOS 1IUCS
A Rússia está planejando o desenvolvimento de reservas de óleo e gás
no Artico. Devido às severas condições climáticas e a demanda de energia
inerente a essa exploração, a energia nuclear será usada para navios e centrais
nucleares flutu ante . O protótipo de uma central flutuante está sendo cons-
truído e mais outras quatro estão planejadas. As centrais de 70 MW terão 2 .
reatores a bordo de plataformas de aço gigantes e permitirão perfurações
necessárias para explorar os mais remotos campos de óleo e gás situados nos
mares de Barents e Kara. O navio deverá armazenar seu próprio rejeito e
combustível e sua revisão será feira a cada 12 ou ] 4 anos. Além disso, proje-
tistas russos estão desenvolvendo um submarino a propulsão nuclear com
equipamentos de perfuração que poderiam perfurar 8 poços de uma só vez.
CHINA2°
O desenvolvimento da energia nuclear civil na China começou na década de
1970. A primeira usina de potência fo i construída nos anos 80 e iniciou sua
operação no início de 1990. Mas o ritJ o de desenvo lvimento da geração
núcleo elétrica não fo i particularmente rápido até há alguns anos quando o
governo da China mudou a política de energia nuclear de desenvolvimento
"moderado" para "ativo". O desenvolvimento da parte civil da energia nuclear
na China pode ser dividido em estágios.
Primeiro estágio (1985-2005): construção do primeiro protótipo ele usina
nucleoelétrica e introdução e transformação da tecnologia internacional de
energia nuclear; introdução de tecnologia e reatores externos nas décadas de
1980 - 1990 (tecnologias francesa, russa e canadense); transformação e ino-
vação para desenvolver seus próprios reatores nas décadas de 1990 e 2000.
Segundo estágio (2005-2010): construção acelera da de rea tores com
tecnologia transformada e introdução de nova tecnologia e transformação;
34 unidades aprovadas, ma is projetos em construção, grandes investimentos
não somente para usinas, mas também para fabricação e P&D; nova e avan-
çada geração de reatores.
Terceiro estágio (a partir de 2011): desenvolvimento, transformação e
inovação seguros e contínuos de tecnologia para mel horar capacidade; tecno-
logias provadas e maduras de segurança são prioridades; manutenção de
investimentos contínuos e escala de construção; transformação e localização
de nova tecnologia; localização de fabricação; desenvolvimento de marca pró-
pria chinesa para competição e venda em mercados internacionais.
A China definiu os seguintes pontos como sendo elementos-chave ele sua
política energética. Note-se que, apesar elo foco nacional desses elementos, a
cooperação internacional é encorajada.
20 Nuclear Power in China, disponível em http://www.world-nuclear.org/info/Counrry-Profiles/
r,..., ,nt.-i.,.c:.A. t::/rh; ,..., __l"f,,,. lp.. r_ P..... .u•.-1 ,............ .1..... .-t,... .,,..,.... 1 t:lft: /1f1 t
F.NCKGI; NUCLEA il NOS lllliCS
A fabricação doméstica de centrais e equipamentos será maximizacla com
autossustentabilidade em projetos e gerenciamento.
A indústria nuclear na China tem certas vantagens por ter começado tarde,
se beneficiando da boa experiência internacional em projeto, construção, ope-
raçã~ e a segurança nuclear, que tem sido considerada como princípio essen-
cial da indústria nuclear.
O governo chinês decid iu esta belecer uma ind ústria nuclear completa em
1970 e chegou ao objetivo com verificação e projeto de engenharia e iniciando
a construção ela primeira usina em 1985 e que foi conectada à rede em 1991.
A política chinesa é pelo ciclo fechado ele combustível.
A China rornou-se autossuficienre no projeto e construção de reatores bem
como em outros aspectos do ciclo do combustível, mas está fazendo uso da
tecnologia ocidental, adaptando-a e melhorando-a. A política da China é
"tornar-se globa l" com exportação de tecno logia incluindo componentes
pesados na cadeia de suprimentos.
A cooperação entre a China e a França começou no início da década ele
1990. Em2008 a AREVAe a China Guangdong Nucleat Power Group (CGN)
estabeleceram uma joint venture para transferência de tecnologia e desen-
volvimento de reatores EPR {terceira geração de reatores ripo PWR) e possi-
velmente a construção ele outras usinas PWR no Japão e posteriormente em
outros países.
Após mais de 3 anos ele análise por especialistas, a China decidiu introdu-
zir o reator AP1000 (reator que usa o conceito de segurança nuclear passiva),
reator avançado da americana Westinghouse e com esta estabeleceu uma
cooperação para a construção destes reatores.
Em 2013 a China tinha 21 usinas nucleares em operação e 28 em constru-
ção. A participação da energia nuclear na geração de eletricidade é de 2%, a
do carvão 83%, a hídrica 14% e a eólica 1% .
Após o acidente de Fukushima em 2011, o governo chinês suspendeu seu
processo de aprovação de usinas, até que uma revisão de lições aprendidas
com o acidente fosse implementada, particularmente a localização e layout
das centrais e o controle da liberação de radiação. As informações oficiais do
governo chinês foram que a revisão da segurança das centrais em operação
tinha sido feita em seguida ao acidente e que uma aná lise daquelas em cons-
trução fora terminada no final de 2011. A reromada ela aprovação de novas
usinas fo i suspensa até a publicação em 2012 do novo plano de segurança,
aprovado pelo Conselho de Estado.
Desde 1980, a China decidiu estabelecer um sistema legislativo relativo à
segurança nuclear e de radiação tendo como base os códigos de segurança e
padrões da Agência Internacional de Energia Atômica. As insta lações regula-
mentadas incluem centrais nucleares, reatores ele pesq uisa, instalações do ciclo
do combustível, instalações de processamento, disposição de rejeitos, equipa-
n,P,,tnc riP cPant·':lnr-:J n n r iP':l l. o;1 nli r~r~ n f"lp tPr n n l nPi~ nnr i P~ ,- f" minPr:::~r~n rlP
BRASil . NOS llRICS
urânio e tóri o. As leis (incluindo convenções internacionais) são emitidas pelo
Congresso, os regulamentos, pelo Conselho de Estado, as regras de departa-
mento e padrões obrigatórios, pelo Ministério de Proteção ao Meio Ambiente
e os padrões de segura nça nuclear e de radiação, conjuntamente pelo Minis-
tério de Proteção ao M eio Ambiente e Comissão de Normas.
A China possui 12 submarinos com propulsão nuclear e, em fevereiro de
2013, a China Shipbuilding Industry CorjJ. recebeu aprovação e fundos do
governo para iniciar pesquisa de tecnologia do núcleo e segurança para navios
com propulsão nuclear, sendo mencionados navios polares, assim como porta-
-aviões. Seu primeiro submarino com propulsão nuclear fo i descomissionaclo
em 2013 após quase 40 anos ele serviço.
A geração nucleoelétrica na China tem duas grandes companhias: a China
National Nuclear Power Co. (CNNC), proprietária e operadora das usinas
nas quais a CNNC tem mais de 90% das ações, e a China General Nuclear
Power Group (CGN), que é líder na província de Guangclong, atuando tam-
bém em outras províncias. A China Power Investm.ent Corporation (CPI)
opera uma central em conjunto com a CGN e tem várias em construção. Essas
companhias se associam com os governos provinciais para a construção e
operação de centrais.
Os 20 reatores em operação (17,1 GWe estão instalados) e as operadoras
estão mencionadas no quadro de reatores divulgado pela AIEA. Destes, a
CNNC opera 9 com a capacidade 6,1 GWe, a CGN opera 9 com capacidade
ele 8,9 GW e 2 de uma central de 2 reatores com potência total de 2,1 GW é
operada conjuntamente pela CGN e a CPI. A maior parte dos reatores em
operação é do tipo PWR e duas unidades são ele PHWR (pressurizado mode-
ra do a água pesada tipo CANDU). Além desses, existe um rea tor rápido
experimental ele 20 MW conectado à rede.
Por volta de 2005 a indústria se moveu para uma fase de rápido desenvol-
vimento. A tecnologia fo i obtida ela França, Canadá e Rússia, com desenvol-
vimentos locais baseado fortemente nos elementos franceses. A última aqui-
sição tecnológica fo i elos USA (via Westinghouse, que tem participação
majoritária ela Toshiba elo Japão) e da França.
A State Nuclear Power Technology Corporation (SNPTC) fez do AP1000
ela Westinghouse a base principal ele seu desenvolvimento tecnológico no fu-
turo imediato, e partiu para um desenvolvimento local denominado CAP1400.
Tal fato conduziu a uma determina.da política de exportação de tecnolo-
gia na China baseada no desenvolvimento do rea tor CAP1400, com direitos
de propriedade intelectual chineses e acompanhados da capacidade do ciclo
do combustível completo. Essa política está sendo conduzida em alto nível
utiliza nd o a influência eco nômica e diplomática da China, mas deixando
a inicia tiva comercial com o SNPTC e mais recentemente, com o suporte
do CNNC.
ENERCI A NUCLEAR ;-.:m llltK:>
ÍNDIA21
A Índia tem um progra ma florescente e em gra nde pa rte autóctone de energia
nuclear e espera ter 14.600 MWe de capacidade nuclear em linha até 2020,
fornecendo 25%, da eletricidade total gerada no país até 2050.
A Índia não aderiu ao Tratado de Não Proliferação N uclear, tendo desen-
volvido um programa de armas nucleares. Por esse fato, há 34 anos foi excluída
do comércio internacional de usinas e materiais nucleares, o que dificultou o
desenvolvimento de seu setor de energia nuclear civil até 2009.
Devido às anteriores proibições comerciais e à fa lta local de urânio, a Índia
tem desenvolvido de forma única um ciclo do combustível nuclear visando
explorar suas grandes reservas de tório.
Desde 201 0, uma incompatibilidade fundamental entre a lei de respon-
sa bilidade civil da Índia e convenções internacionais continua limitando o
fornecimento ele tecnologia ocidental. Esse fato, entretanto, não impediu a
Rússia de construir 2 usinas nucleares nesse país e estar iniciando a constru-
ção de outras duas.
A Índia tem uma visão de se tornar W11Jícler mundial em tecnologia nuclea r,
devido à sua experiência em reatores rápidos e ciclo do combustível de tório.
ÁFRICA DO SUL
Tendo sido um dos países fund adores ela AIEA em 1957, a África elo Sul é
o único país que desenvolveu armas nucleares e voluntaria mente desistiu
delas. Um programa ele armas nucleares foi iniciado por volta de 1970 e um
artefato nuclear operacional estava pronto no final da década. O programa
foi encerrado pelo presidente de Klerk em 1990 e em 1991 o pa ís assinou o
Tratado de Não-Proliferação N uclear (TNP). Em 1993, de Klerk anunciou
que seis armas nucleares e uma sétima incompleta tinham sido desmanteladas.
Em 1995, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) declarou que
todos os materiais foram contabilizados e que o programa de armas tinha
sido encerrado e desaparelhado.
O consumo de eletricidade na África do Sul rem crescido rapidamente
desde 1980 e o país faz parte da Southern African Power Pool (SAPP), com
interconexões extensas com os países vizinhos. A capacidade ele geração ins-
talada total nos países ela SAPP é 54,7 GWe, dos quais cerca de 80% são ela
África do Sul, principalmente a carvão, e em grande parte sob o controle ela
estatal Eskom.
A Eskom tem uma capacidade total instalada de 44,2 GWe brutos, sendo
o carvão responsável por 34,3 GWe e o nuclear, por 1,8 GWe. No início ele
2008, a demanda na África do Sul ficou desconfortavelmente perto elo seu
/11AS II. NOS BIUCS
limite máximo: foram produzidos 230,0 TWh ele energia elétrica ele Llma
ele produção máxima de 239,5 TWh. A central nuclear de Koeberg gerou
12,7 TWh- cerca ele 5,3% desse total.
Desde o início da década de 1990, a Eskom, em colaboração com os par-
ceiros internacionais, desenvolveu o reator modular "Pebble Becl" (PBMR22
).
O PBMR é um projeto de reator nuclear refrigerado a gás a alta tempera-
wra, tanto para a geração de eletricidade como para geração de calor para
processos industria is. Em setembro ele 2010, entreta nto, o governo sul-africa-
no decidiu parar de investir no PBMR, estando hoje suspenso o projeto de
construção de um protótipo.
SiNERGIA NAS RELAÇÕES INTERNAS
O relacionamento nuclear entre os BRICS não é, historicamente, muito
intenso. As intenções desses países de construir programas autônomos de
energia nuclear e os contingenciamentos e limitações internacionais tolheram
maior contato entre eles.
A cooperação existente sempre se dirigiu aos países tradicionalmente
detentores ela tecnologia nuclear e era geralmente estabelecida entre os países
dentro elas alianças políticas da Guerra Fria.
Com o fim da Guerra Fria, o protagonismo das indústrias nucleares da
China e Rússia e o levantamento de muitas das restrições que limitavam a
cooperação com a Índia, abriu-se uma perspectiva de maior interação entre os
BRICS na área nuclear.
As relações históricas entre os BRICS se deram, na maior parte, no âmbito
das alianças da época da Guerra Fria, como foi o caso da cooperação entre
China e União Soviética até o rompimento político entre os dois países (1964),
que estimulou o desenvolvimento independente ela China.
Igualmente a relação entre África do Sul e EUA (e com a lguns países
ocidentais, supostamente também com Isra el) no tempo do aparrb eid se
inscreveu nas relações dentro do bloco ocidental e em oposição ao apoio
cubano-soviético a países vizinhos ela África do Sul, notadamente Angola
e Moçambique.
Um capítulo à parte fo i desenvolvido nas relações com a Índia, que susten-
tou desde sua criação a condição ele país não alinhado. Sua riva lidade regio-
nal com a China favoreceu uma cooperação mais ou menos contida, seja com
os EUA, seja com a União Soviética e Rússia, seja com a França e Canadá.
Rúss ia e China já deixaram claras suas intenções de atuar como prota-
gonistas na expansão elo uso da energia nuclear no mundo e tem atuado
com desenvoltura no cenário dos outros BRICS. Nesse sentido, intensa
22 Status reporr 70- Pebble Bed Modular Reactor (PBMR), disponível em https://a ris.iaea.orgi
•n1.-..-.n'"'rn•,.,...,.,.,... ,,,..., • ~ .., ,.,,...,..,,... .... .. ,.
ENERGIA NUCLEA R NOS ll iUCS
movimentação diplomática e comercial pode ser observada nesses países e
suas empresas estatais nucleares com a África elo Sul e Brasil. Essa ação se
desenvolve ainda em relação a outros países onde existem possibil idades
concretas ele expansão da geração nuclear, como Argentina, países elo Leste
Europeu e países árabes.
Por ora, não existe nenhuma movimentação clara ele cooperação institu-
cional focalizada na incipiente aliança político-comercial entre os países e o
provável é que ela continue se dando no âmbito das relações bilaterais entre
os BRICS e com outros países atuantes no quadro da expansão do uso da
energia nuclear.
SINERGIA NAS RElAÇÕES EXTERNAS
O número de países e empresas atuantes no âmbito da geração nuclear mun-
dial é bem reduzido. Destacam-se atualmenre- além dos EUA, Rússia e Fran-
ça - a China e Coreia do Sul como pretendentes.
Como protagonista tradicional está os EUA cujo papel no cenário dessa
expansão ainda está para ser melhor equacionado. As empresas tradicionais
elos EUA (Westinghouse e GE) passaram para o comand o acionário de empre-
sas japonesas (Mitsubishi e Hitachi). Japão e EUA têm sua atuação no merca-
do nuclear provavelmente vinculadas.
O reator predominante, o PWR, tanto em centra.is existentes como em
construção, deriva da tecnologia ela Westinghouse. É o caso da França e Coreia
do Sul e ultimamente ela própria China, que firmou contrato com a Westin-
ghouse sem limitações para exporração. A linha de reatores BWR (GE/Hita-
chi) terá que conviver no futuro com os problemas de imagem ad vindos do
acidente em Fukushima, embora os problemas verificados não tenham rela-
ção direta com o conceito atual do BWR.
Outro antigo protagonista mundial, o Canadá, encontra suas limitações
de expansão no modelo de reator escolhido PHWR, exportado com êxito
para alguns países (Coreia, Argentina, China, Armênia, etc.). A Índia baseou
seu desenvolvimento próprio em reatores de água pesada e a Argentina
inaugurou recentemente uma central nuclear desenvo lvida origina lmente
pela Alemanha, mas concluída principa lmente com tecnologia própria.
No entanto, não há sinais de que isso possa reacender a comercialização
desse tipo de reator.
Como capítulo aberto para o futuro, existem os reatores rápidos (FBR),
em cuj o desenvolvimento já atuaram concretamente EUA, França, Japão e
Reino Unido, mas atualmente só existem unidades em construção e operação
em três BRICS: Rússia, China e Índia.
BRASIL NOS 1RICS
CONClUSÕES
Os BRICS foram na década passada os maiores responsáveis pela expansão
energética e elétrica mundial. Atualmente são responsáveis pela maior parte
dos reatores em construção no mundo.
Dos cinco componentes dos BRICS, Rússia e China são países reconhe-
cidos pelo TNP como nuclearmente armados e a Índia tem status de país
nuclearmente armado de facto. A África do Sul já teve a posse de armas
nucleares e mantém em estoque o material nuclear nelas utilizado, não obs-
tante as pressões internacionais no sentido de passar esse material para o
controle internacional, especialmente dos EUA. Todos possuem a tecnologia
do ciclo de combustível. Os três primeiros países têm submarinos nucleares e
o Brasil tem planos de construção.
A opção nuclear não é nem deve ser majoritária nesses países para gera-
ção de energia elétrica, mas a energia nuclear deve continuar a ser uma opção
relevante na política e na geração de eletricidade.
A cooperação existente entre os países integrantes do grupo é ainda muito
limitada, mas apresenta perspectivas concretas para as próximas décadas.

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Cooperação nuclear nos BRICS

  • 1. / "Os países do BRTCS devem se.r abertos e inclusivos, realizando ativamente diálogos e intercâmbios com outros países e organizações íoternaclo;nais, aumentando a representatividade e a influência elo grupo." Xi Jinping "Cada um aos nossos paises tem Sl!Ja próprÜl via de desenvo vimento, seu próprio modelo de crescimento econômico, história e cultura ricas. E é nesta diversidade, na .convergência de diferentes tradições, que está a 'força dos BRICS." Wladmir Putin "Acredito que alcançamos hoje um nivel no qual devemos ter ainda mais ambição. Devemos nos concentrar em outros mecanismos mais tangív.eis, fazendo que com que BRICS seja uma plataforma de impacto. Temos de conceber o futuro não só de nossos países, mas também do mundo como um todo." Narendra Mocli I'ATROC[N IO REALI ZAÇÃ O FEDERAÇÃO DE CÃMARAS DE COMÉRCIO E INDÚSTRIA DA AMÉRICA DO SUL G OV ERNO FEDERAL - - - ----
  • 2. SUMÁRIO APRESENTAÇÃO. . . . . . . . . . . . . . . . 1. O IMPACTO DO BRICS SOBRE A POLÍTICA INTERNACIONAL . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 WlLUAMS GONÇALVES 2. ENERGIA E O BRICS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 DARC COSTA 3. BRlCS: UM NOVO FUNDO MONETÁRLO E UM NOVO BANCO DE DESENVOLVIMENTO ...... 33 PAULO NOGUEiRA BAT!STAJR. 4. O BRASIL E OS BRlCS . . . . . . . . . . . . . . . . . . .3~ CARLOS Lt::SSA S. ENERGIA NUCLEAR NOS BRLCS ............ ... 50 CARLOS FEU ALVIM E LEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES 6. O liriAGlNÁRIO NO BRAS[L E BRICS . . . . . . . . . . . . 83 MARIA HERNANDEZ 7. BRICS E A NOVA ORDEM MUNDIAL MULTIPOLAR .... L06 St:VERINO CABRAL 8. BRIC(S): DE ACRÔNIMO A REAUDADE? .......... 115 CARLOS/. PRIMO BR/G1
  • 3. 9. O PATRIMÔNIO, NOVO INDICADOR DE RIQUEZA PARA O BRICS . . . . . ........... 128 .JOS(·: CAR LOS ALBANO DO AMARANTE 1O. CIÊNCIA, TECNOLOGIA E INOVAÇÃO NA COOPERAÇÃO ENTRE OS BRICS- UM NOVO PARADIGMA .. . ........... ..... 141 JONATHAN TENNENBAUM 11. A COOPERAÇÃO EM SAÚDE NO BRICS: UMA PERSPECTIVA ECONÔMICA E POLÍTICA BRASILEIRA .................... 165 R/Pil/EI. 1'/DULA 12. BRJCS, MERCOSUL E URASlL ................. 184 SAMU I~J. PIN IIEmO GUIM/l~Al~S AUTORES. . . . . . . . . . . . 200 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS . . 205 VII CÚPULA DO BRICS- DECLARAÇÃO DE UFÁ . . 217 UFÁ, RÚSSIA, 9 DE JULHO DE 2015 TABELAS ............................ 247 APRESENTAÇÃO Estt: livro L' o resulrado da busc1 que realizanws de visõês diVl'rs~b sobn;• , parril'ipa~;i'io do nosso p~11 · ttu bloco dos p~11ses qul' constituem o 13Rtl'~. P,u-.1 ranro, n:unimos diversos renomados pen·adore~ que viver11:iam ~l discus~.tu d~1 insen,:i'io inrern~H:ion~1l do Br~tsil. A partir de su~1s diferentes experi2nct,ts como acadêmicos e operadores de políric1 internacional, logr~tmos formar um quadro de amplas dimensões sobre esse extraordinário grupo de Estados. Nosso propósito foi dar ao leitor uma presença multifacerada elos diver- sos aspectos desse novo processo geopolítico, que revelam duas caracterís- ticas de extrema relevância. Uma, estabelecer por objetivo a criação de uma ordem internacional fundada na mulripolaridade. Outra, o lugar do Brasil como protagonista desse processo, ao lado da RCtssi3, c!J Índia, da China e d~1 África do Sul. Temos também a pretensão de preencher um vazio existenre n;.~ discus- são sobre as relações inrernacionais e sobre a inser.;ão inrernacion:..tl Jo llrasil . Por meio dos diferenres enfoques e pomos de vtsra dos organizadores e dos aurores convidados, propomos aos no sos leitores ir :.tlém do senso .:omurn t· refletir sobre os desafios e as oporrunidades que a presença do Brasil no BRICS ofere ·e par:~ a esrrurur:~ção de uma ordem inrern~Kiunal capaz de gcr;.~r soll- chriedade enrre os povos. Os org~tlllzadurt' .
  • 4. ENERGIA NUCLEAR NOS BRICS CARlOS FEU AlVIM ElEONAM DOS SANTOS GUIMARÃES RESUMO f: inequívoca a importância estratégica de o Brasil se manter ativo na explo- raç:io dos usos pacíficos da energia nuclea r, ex pandindo seu domínio tecnoló- gico c ca pacidade industrial insta lada nos di versos seto res associados, como produção de radioisótopos para medicina c ind C1stria, produção de combustí- vel nuclea r, propulsão nuclea r nava l e geração elétrica nuclear. Para isso, a cooperação dentro dos BRICS desponta como uma excelente oport unidade. INTRODUÇÃO Um aspecto pouco discutido so bre os BRICS é o fa ro de todos os cinco países ter uma indC1stria nuclea r desenvolvida. Esse aspecm comum é po11 co explo- rado nas discussões sobre as relações internas e externas do grupo com 0 resto elo munclo. , A geração cl_étrica nuclea r faz parte da matriz energética de Brasil, Rússia, lnd1a, Ch111a e Africa do Sul com diferentes graus ele comribuição. Somado, 0 parq_ue de geração nuclea r elo BRfCS monta a 86 usinas em operação (2 no Brasil, 34 na RC1ssia, 27 na China, 2 1 na Índia e 2 na África do Sul ), o que representa 20% do parque mundial. O grupo rambém tem 40 usinas em cons- trução (1 no Brasil, 24 na China, 6 na Índia e 9 na RC1ssia), o que representa 60% das usinas a entra r em operação ao longo des ta década . Em tc: rm os de geração líq uida, em 20 14 o Brasil produziu 15.385 CXI.h de eletricidade nuclea r (2,86% do total de geraçiio IJacional), n Rl"1ssi<l, 169.049 GW.h 50 ( lil,57%), a fndia, 33.232 GXI.h (3,53%), ~China, L30.5il0 GW.h (2,39%) t: a Africl do Sul, l4.749 CW.h (6,_0%) 1 • O projl'tu l' consrrução das usinas russas s:lo roralml'nte :lLLrócron~s. O parque nuclear chinês se iniciou tambem de forma aut6crone, porém a Jlina passou a adorar na década de l990 a política de adquirir usinas de uurros patses, induinJu a Rússia, mas também EUA e Fran~~a, e promover transferência de tecnologia que lhe permitisse desenvolvê-las localmente. A políri- c..:a teve sucesso e hoje seu parque i~1 indu i usinas de projeto e construção local. A grande maioria das usinas indianas rambém é de projero e constrw,:ão na- cional, mas lerivam de uma transferência de tecnologia inicial do Canada em 1963. Só recentemente a Índia adquiriu usinas no exrerior, inicialmente da Rússia, e tem negoci:1do a compra de outras com outros países fora do grupo. As usinas brasileiras e sul-africanas foram adquiridas de países for:1 Jo gruro: EUA e Alemanha no caso cio Brasil, rrança no caso da África do Sul. Esses países remaram uma polírica de transferência de tecnologia com Alemanha e Fr~1nça, respectivamente, similar àquela adorada pela Chin~1, porém sem sucesso, dependendo hoje da impurraç:1o de tecnologia para expansão de seus p~Hques. A Rúss ia é hoje o maior exportador de usinas nude~ues nu mundo, com ll projeros em andamento no exterior'. A China dever~í em breve rorn~u-se também importante ator nesse mercado, no passado dominado pelos EUA e Europa, j~1 tendo concluído a venda de um projeto aurocrone para u Paquistão. Em ro::rn1os de recut·sos de urânio razoa velmenre assegurados (Reasonably Assured Ressources- l{A.R) e inferidos (< L30USD/kgU), os BR!CS somam 23% dos recursos globais (Brasil 5%, Rússia 9%, China 3% e África do Sul 6%)". Entreranro, o Brasil teve apenas 1/3 ele seu território prospeccaclo aré o momenro. As caracrerísrica::. geológicas do país -cujas áreas de formação pre-cambriana, propícias à ocorrência de urânio, rêm exrensão quase idênrica às mesmas áreas na Australia, país que detêm a maior reserva (24% cios recursos RAR e inferidos globais) - bzem crer que um esforço cle pesquisa nacional poderia alterar em rnuiro o quadro atual'. A China também rem significativa parre de seu território ainda ~em pros- pecção adequada e est<l fazendo esforços nesse senrido. ~ IAFA l'owcr ltcac·ror lnfnrntanon Sprern, hrrp://www.iaea.org/pns/, <:on,ulcaJo em 0~/05/20 15. Arornstnl)"<"Xpon, hrcp://www.;1tomsrroyexpon.ru/wp;,/wc:ITtkunne.:r/a>eft·ngl, C:<Hl>Ltlr.1du en1 ll~/05/2.0 I S. (, llllrNilll1 2.014: RF::.OLIRl E'>, I'RODUC f"IOI'. ANll DEMAND, l'.l.A No. 710'1, V lll:ll> l.lll ~. di,pLliiiVd c1n hrrp://www.oc.:d-tte;t.or!lfndd/pub,/20 14/720'! ·ur.IIIJUJJJ20 1-l.pdf, c:othtdr;~du c·m ll~/05/20 I. 7 Ptn.'~, h: rn~utJo Robcrro tkndt'!-1, ur~1nio no Br~t"il: gt.·olu~i:.I, jo.tltd;,t~ l' ~h.:UI"I"l'lh..'l~l"'- H. tu de J;tnt:tru: Vitrina, 2.012, dtspuntvd t•m hrrps://www.;K•l•knti;1.~du/7H2H2.4Wllr'Y..l 1"',.,litl!l 110 llr;tsil (;,·ologt;t J.ttilLts ,. lk!lrr"',,( 1%Arm·t,._, çoJt,ulrado em OX/OS/20 I. ~I
  • 5. A Rúss ia mua no mercado inrermH.:iorwl como fomeccdor de serviços de convers~io, cnriquccirnenro e fabricação de elementos contbusttveis. i China depende de intportnc,:õcs de urânio para produzir o curnb usttvl'i para seus reatores, mns n conversão, cnriquecill1L'nrO e Ltbricac,:ão ele elemL'n tus com- bustív<.:is são feitos loc;tltnente. A Índia rambem tkpertde de imporr~11;ues de urânio c t:nriquecimen to, mas faz a conversão l' fabrica os elt:tttt•nros contbus- tíveis locnllllente. Nore-se que a lll<tior pane do 1X1l't]LIC indíanu de usinas usa uni nio natural, niio n:quercntlo enriquecimento. A Afric~1 do Sul produz o ur<lnio, faz a conversão e fabrica elenKntos combusrtvcis para suas usinas localtnenre, mas o enriquecimento é feito no exrerior. Ainda na época do aparrheicl, a África elo Sul desenvolveu um processo (Helikon VortexH) ele enriquecimento aerodinâmico semelhante ao jet-nozzle que seria transferido ao Brasil denrro do Programa ele Cooperação Brasil- -Alemanha elos anos serenra'1 • A África do Sul obteve uma quanridade de urâ- nio alramenre enriquecido, que se supõe suficienre para confeccionar cerca de dez bombas. Esse material permanece de posse do governo sul-africa no ctn in s t~l la ções de Pelind::tba. A origem desse urânio enriquecido (: oficialmente atribuída ao enriquecimento no próprio país 1 ". O Brasil rambém produz urânio e fabrica os ele mentos combustíveis localmente, mas importa os serviços de conversão c enriq uecimento, esre Cdr im o parcialmente, na medida em que a capacidade de produção nacio- nal é insuficiente. Todos os cinco países operam rearorcs de pesquisa e de produção de raclioisóropos para usos médicos e industriais, também produzindo o comb ustível para esses reatores, e fazem amplo uso elas diversas aplicações nuclea res não energéticas. Rt."1ssia e África elo Sul são também exporwdo res de radioisóropos. As Marinhas de Rússia, China e Índia projetam, constroem c operam sub- marinos dt: propulsão nuclea r. A Índia se iniciou no seror alugando unidades ele origem russa, mas recentemente lançou ao mar sua primeira unidade de projeto e construção nacional. O Brasil desenvolve de forma autóctone um programa para obtenção desses navios, que se enconrra em esdgio avançado. Rú ss ia e China são estados nuclearmente armados de juris, isro é, ele acordo com o Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP). A Índia também I kli kon C!ITl'X 'cparanon proccss, disponíveiL·m hrrp:l/en.wikipcc.lia.or!oVwiki/Helikon_'OITL'X_ sep~rnrion_proccs,, cons ulr:~Jo Clll 26/0'i/20 I 'i. Urnniu m cnnchmcnr by jcr ncnzlc scpnrario11 proce>s in rhc Gcnnan-Brazil coopcrntion prugr:un, di>po11ívl'l c1n hrt p://www.i.tca.urgiinis/collccrion/NCl.CollccriunSrorc/_l'u bl id22/063/22063 j 82. pdf, co11;,ulrado em 26/05/20 I S. IO Consta qnc foi produzido nn Usina Y, que foi dcsmumada, mas cxisrem cspcculaçôcs sobr,· 52 se esse· urânio não rcria ungem em llwrcriniL·nriquccido prcvinmcnre nos EU/; igualmcmc Sl' especula sobre a dcrc,;ç;io d;l ex plo,:Jo d,· um arrcfnro que leria sid1> realizada co•n n cuopcraç;io israclen,c, mas dcpoinlcnlo' sohr,· ,L lmw n>I" '''IIÍda 110 dc"'rlll d1· l<:~ l:~h :ll'l dão co11r:1 dt• qnL' d:1 11111)1:,1 foi 1HiiÍ1:1d.1, pussui artn•h nucleares, rn~1 · n~u t' membro Ju TNt>, St' ttLlo utn est•H.Iu nuckarmt'lHt' armadu de /;teto. A África du Sul ju foi tantbem utll e~r~tdo nuck,trtHL'nrt' nrrnadu de f;tcto, purem teria abandou~1do as ~lrrn•ts na ~f.ltH:a do 1rc>sidente De Klerk para evitar qut: com a tnlllbnc,:a de rt:girm•L asSUII:lO tk 1.'lson Mandela upresrdência do p~1ís u novo n:gime di'ipll'it'SW de amt~l ntt:l t to nuck-tr. O Br~1siln:'I1Unciou us amus nucleares pel~1 Constrtutç:lu de l':J88 t:' pustL'- riormenre, em l999, aderiu ao lNP como esrado n:lo nuckartnl'llte ~Hlll<ldu. Os BRlCS, portanto, constituem um grupo dt· países nuckanm·nre desen- volvidos. incluem a Rússia, que comparte' com os EUA a lidemnça mundial no setor, e a China, que muiro ern breve deverá se ombrear a esses dois países. A Índia rt'm um ~1lro grau de avanço no ·eror, pouco inferior .1 Rússia e China. Brasil e África do Sul, por su~1 vez, fazem parte da vanguarda do setor no mundo, ainda que num patamar inferior aos outros três pan:t'iros. O faro de rodos os BRlCS ter uma indt.'istria mtclear desenvolvida, ~tind.t que em diferenres graus, abre um amplo leque de possibilidades de coopl'ra- ·:lo e sint>rgi•1s que explur•tm as complemenr~uidades entre os patses e que pudern reforçar ~1 cumperitividade do grupo com um rodo. Nure-se aqui qut' o Brasil ~ u unicu paí~ do grupo que n.:iu possur nem nunca possuiu armas nuclec1re~. lnreres~~~ muito a nosso pa1s m~uun sua opç:lo constilllcional pelo uso exclusivamente pacílicu da t.:nergia nuck~tr. lssu lltc Jú um carúrer único junro aos parceiros do BRlC~, qut> se rdlcre numa auw- ridade moral e ética que pude ser explorada politicamente' t.:m diversas siru.t- ções, como por exemplo na necessária reforma elo Conselho de Segurunça da ONU e na arbitragem de crises nucleares internacionais. Essa "vantagem competitiva " ~ muiro mais valiosa do que a posse de armas nudear<:!S que, ao tina! das conras, são feiras p.ua num:a ~er usadas. Entretanto, uma an~1lisc t>quilibrada 11 mostra Jt> forma inequívoGl a illl- portô.ncia estr~Hegica de o Brasil se manter arivo na exploração dos usos pact- ficos (b energia nuclear, expandindo seu domínio tecnológico e capacidade industrial iusralada nos diversos serores associados, como produção de radio- isótOpos para medicina e indústria, produc,:iio ele combustível nuclear, propul- são nuclear naval e geração elétrica nuclear. Para isso, a cooperação dentro dos BRICS desponta como uma excelente oportunitbde. Discutiremos ~1 seguir as características da indCt~tria nucle~H de cada um desses p~tíses e em seguida analisaremos como as sinergias poderiam ser- ex- ploradas nas suas relações inrernas e externas. I t S1lv:1, Carlus Augusro FcLJ Alvim dJ c Gu1mJdcs, L.con:HTt du> S:1m'•~. A' J~1 lrl,llurc' cc:,>numl.l' c .1 ,·ncrgw nuclcJr: rdle~1in p:Hct o fLLwru du ~r;hd, RcVL>[,I Hm,lcir.l de l'LtncJ;llltcnro t' Ur,·amemo fUli'O, Hr:~síli,t, y,,l I, JH>l, lllll, pJg' ~'i 'N, d"pu1t1vd L'IIJimp://www.;t"'''''tl'.<>l'f hrlindn.phr/rhpo/vol I llllllH'I'll·l 20 l 1/, "'""ulr:tdo t'llt OH/OS/!.0 I 'i.
  • 6. CRESCIMENTO ECONÔMICO EDEMANDA DE ENERGIA ELÉTRICA NOS BRICS Os BRICS têm sido responsáveis por boa parte da expansão econômica mundial. A crise do final da primeira década deste século reduziu ainda mais o papel dos países da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) no crescimento mundial. A OCDE reúne a quase totali- dade de países desenvolvidos e os poucos países em desenvolvimento que dela fazem parte (México, Chile e Turquia) não invalidam considerar seus dados como representativos dos países ricos. A Tabela 1 compara a evolução do PIB dos BRICS com o da OCDE, o resto do mundo (OUTROS) e o Mundo nos últimos 10 anos. A Figura 1 com- para a evolução do PIB dos BRICS com o da OCDE e o resto do mundo (Outros). Pode-se observar que os BRICS têm sido responsáveis por boa parte do crescimento mundial. Nos últimos dez anos da amostra, foram responsá- veis por quase 50% do crescimento da economia global. A participação dos BRICS no PIB mundial passou de 16% para 28% entre 1990 e 2011. Já a participação da OCDE caiu de 62% para 49% entre 1990 e 2011. COMPARAÇÃO DO PIB PPP DOS BRICS COM A OCDE, OS OUTROS E O MUNDO DE 2001 A 201 O(US$ Bl) OECD 38.098 45.246 49,00% 7.148 24% BRICS 12.145 26.018 28% 13.873 114% OUTROS 13.390 22.023 24% 8.362 64% MUNDO 63.634 93.287 100% 29.653 47% 19% 7,9% 5,1% 3,90% Embora existam pontos em comum entre os BRICS, a dinâmica de cresci- mento dos países que o constituem está longe de ser homogênea, mas a visão de conjunto apresenta algumas vantagens na medida que sugere as oportuni- dades existentes e fornecem o contexto em que se inserem os países. No con- junto, a economia dos BRICS tem crescido significativamente mais rápido que as economias da OCDE. Isso contribuiu para uma distribuição menos desi- gual de riquezas entre esses países e a OCDE. 'i4 EVOLUÇÃO DO PIB DOS BRICS, OCDE E OUTROS PAÍSES DA ECONOMIA MUNDIAL EM PARIDADE DE PODER DE COMPRA (PPC). DADOS INDICADORES DO BANCO MUNDIAL12 50 45 OCDE ,.... ...... 40o N v; 35Vl ::> 30..."O BRICSo 25 '"'..::: OUTROS,-;:i 20~ u 15 ~ ~ 10 5 o 1990 1995 2000 2005 2010 Na Tabela 2 são mostradas as taxas centradas para alguns anos seleciona- dos. Na Figura 2, mostram-se as taxas centradas (crescimento médio entre o ano anterior e o seguinte) para os grupos de países. Com efeito, os países OCDE ainda reúnem 49% da produção mundial para apenas 18% da popu- lação mundial. Já os BRICS reúnem 28% da riqueza produzida para 42% da população mundial. TAXAS CENTRADAS PARA 1995 A 2011 OCDE 2,9% 2,7% 3,0% 2,5% 1,6% BRICS 5,2% 7,9% 9,2% 8,2% OUTROS 4,2% 2,3% 6,5% 5,0% MUNDO 3,6% 3,5% 5,1% 4,6% 3,6% 12 World Development lndicators, disponível em htrp://dara.worlclbank.orglclata-caralog/world- clevelopment-inclicarors, consultado em 26/05/2015.
  • 7. WhbtJfj TAXA DE CRESCIMENTO ANUAL DE GRUPOS DE PAÍSES (ENTREANOS ADJACENTES) "'@ :::1 ~ ~ "'.§ Vl "'....u "'"'"' ~ 12% 10% 8% 6% 4% 0% -2% -4% BRICS OUTROS MUNDO OCDE Em termos de energia como um todo e de energia elétrica em particular, a participação dos BRICS é ainda mais significativa. Com efeito, é caracte- rística de países em desenvolvimento possuir uma intensidade energética maior por trabalhar com produtos de menor valor agregado e por ser menos eficientes no uso da energia. Países como China e Índia em especial têm concentrado, seu desenvolvimento em atividades industriais, enquanto os países desenvolvidos têm se especializado no setor de serviços menos inten- sivo no uso da energia. É de se esperar que esses países emergentes revertam paulatinamente a situação. A evolução da razão energia/PIE em PPC pode ser acompanhada na Figura 3. Pode-se observar que o conteúdo energético da produção, em moeda cons- tante, tem sido reduzido ao longo elos anos tanto nos países da OCDE como nos BRICS. O conteúdo energético que era quase o dobro (+ 100%) em 1990 agora é cerca ele 50% superior. A diferença entre as intensidades ainda é maior quando é calculada com o PIB convertido pelo câmbio comercial13. 13 O uso de um ou outro coeficiente depende elo tipo ele aná lise a ser feito: qua ndo se trata 56 ele produtos que se destinam a exportação ou sofrem concorrência externa, como prod utos industriais ou commodities, o câ mbio nominal é mais recomendável; para coeficientes associados ao conjunto da economia, existe um consenso de que o va lor de paridade pelo poder ele compra é a melhor referência. ENERG IA EM Q UILOS EQU IVALENTES DE PETRÓLEO POR DÓLAR PPC DE 2011 0,35 0,3 u 0,25I!:. I!:. .... 0,2 -....o <'I "' 0,15Vl t2I!:. ~ 0,1 0,05 o 1990 1992 1994 1996 1998 2000 BRICS MUNDO OCDE Mesmo assim, o consumo de energia dos BRICS já se aproxima elo consu- mo da OCDE, o que torna a evolução do consumo desses países muito rele- vante para o mercado energético. Na Figura 4, mostra-se a evolução do con- sumo energético, expresso em milhão ele toneladas equivalentes de petróleo. CONSUMO DE ENERG IA POR GRUPOS DE PAÍSES, COM DESTAQUE PARA A APROXIMAÇÃO DO CONSUMO DOS BRICS AO CONSUMO DA OCDE 6000 l T "' .--r ~ OCDE '.:1 "' 5000"'@ BRICS> ....·sO' 4000"'o "';'é b 3000 OUTROS "'c.. "'"' 2000... "' "'o '"' 1000 ~ o 1990 1995 2000 2005 2010 57
  • 8. l<ll i111. NOS llRICS Pode-se deduzir do gráfico ela Figura 4 que o consumo energético elos BRICS já representa 36% do consumo mundial (27% em 1990) e o consumo ela OCDE passou de 53% em 1990 para 42% elo total. N os últimos dez anos elo período mostrado (200112011 ) o consumo ela OCDE permaneceu praticamente estagnado, já o consumo elos BRICS aum ento u cerca de 80% e esses países foram responsáveis por 72% elo aumento elo consumo verificado em dez anos. O conteúdo ele eletricidade por produto tem dois fatores qu e atuam no sentido inverso. Por um lado, a modernização da economia dirige o con- sum o para energias localmente limpas e adequ adas ao meio urbano; do o utro lado, a maior sofisticação da produção aumenta o va lor agregado dos produtos reduzindo o conteúdo de eletricidade. Nesse mesmo sentido, a modernização eleva a participação no PIB de serviços que são menos intensi- vos no uso da energia. O resultado dessas duas tendências é que a razão consumo de eletricidade/ PIB tende a permanecer aproximadamente estável em todos os conjuntos dos países estudados havendo uma ligeira tendência a queda, como pode ser ob- servado na Figura 5. EVO LUÇÃO DA RAZÃO CONSUMO DE ELETRICIDADE/PIS Q UE NÃO APRESENTA VARIAÇÕES SIGNIFICATIVAS NOS DIVERSOS GRUPOS DE PAÍSES 0,35 0,3 BRICS ,... ...- MUNDOo "'u OCDE """""'V) ;:J " OUTROS ~-"' 0,05 0,00 1990 1995 2000 2005 2010 EN ERGIA NUCI.E1R NOS BIUC.S A média mundial está muito próxima ela correspondente à O CDE sen- do que a elos BRICS supera essa médi a e a elos "O utros" é mu ito inferio r. O conjunto "Outros" envolve principalmente os países mais pobres. O con- sumo desse grupo ele países corresponde a 16% ela eletri cidade para cerca de 40 % da população mundial. j á o consumo de eletricidade da OECD corresponde a 50% da eletricidade mundial consumida por 18% da popu- lação. Nos BRICS os 42% da população mundial consome 34% da eletrici- dade em uma situação mais equili brada. Na Figura 6, pode-se observar que o co nsumo na O CDE permaneceu praticamente estável nos últimos cinco anos. Em alguns países da Europa houve inclusive queda no consumo com problemas de ociosidade ele algu- mas usinas. Nos dez últimos anos, no entanto, houve aumento de 12% no consumo da OCDE. O co nsumo dos BRICS mais do que dobrou em dez anos, crescendo 126% (crescimento médio de 8,5% ao ano). O consumo dos outros países também aumentou em 58% nos dez anos (crescimento médio de 4,7% ao ano). ~~~ CONSUMO DE ELETR ICIDADE POR GRUPO DE PAÍSES MOSTRANDO O FORTE INCREMENTO OBSERVADO NO BRICS, PRINCIPALMENTE NOS ÚLTIMOS DEZ ANOS 12000 10000 OCDE 8000 o ""'::;: 6000 ~ 4000 2000 o 1990 1995 2000 2005 2010
  • 9. I1(; SIL NOS BRICS /EVOLUÇÃO DOS COHICIIENTES ENERGÉTICOS !: DE CONSUMO DE ELETRICIDADE NOS PAÍSES DO GRUPO BRICS Disc ute-se a seguir a evo lução do consumo de energia e eletricidade dos países com o objetivo de estuda r a potencialidade da participação da geração elétrica nuclear em cada país. Na seção anterior foi mostrado o comporta- mento de conjuntos de países divididos em BRICS, OCDE e O utros países (resto do mundo). O conjunto BRICS é um conjunto bastante heterogêneo e, para ana lisar o possível papel da geração nuclear nos países, é conveniente diferenciar o comportamento de cada um. Vale a pena distinguir, prelimi- narmente, as diferenças na situação econômica nos diversos países para que sejam levadas em conta quando for necessário tirar conclusões. A Figura 7 ilustra bem essas diferenças ao mostrar as taxas de crescimento obser vadas ao longo de quatro décadas. Destaca-se o extraordinário cresci- mento econômico sustentado durante três décadas pela China e Índia. Só na época do "milagre econômico" ela década de setenta, o Brasil experimentou algo parecido. No entanto, ao contrário da nítida tendência decrescente das taxas das economias desenvolvidas, Brasil e África do Sul têm apresentado taxas ele crescimento que, embora osci lantes, superam a dos países desenvol- vidos. A Rússia passou por um desordenado processo ele abertura econômica e política que a levou a uma profunda recessão na década ele noventa e iniciou uma recuperação na primeira década do século atual. ~~j?J TAXA DE VAR IAÇÃO DO PIB PARA OS BRICS (MÉDIA DO PERÍODO DE - 2 ANOS A+ 2 ANOS) 15% 10% B t: "' 5%E ·~ ~ u " 0%"O -;;; "'t:.,., -5%>< ~ -10% -15% ENERG 1 NUC.1',t NOS liI CS Os BRICS se configuraram, neste início de século, como um conjunto de países realmente em crescimento, aproximando-se dos países desenvolvidos. Não se enqu adram no eufem ismo da expressãb "países em d esenvolvi- mento" dos anos setenta, que apenas servia como forma polida de designar os subdesenvolvidos. A Figura 8 mostra a intensidade do uso de energia para os diversos países tomando como referência o comportamento da OCDE. Foi aplicado um perío- do de média móvel superior à aplicada na Figura 2 (grupo de países) para reduzir as oscilações conjunturais no gráfico, natura lmente maiores que a dos grupos de países. A representação nos gráficos da trajetória da OCDE parte da suposição de que ela sirva de indica tivo da tendência futura para o BRICS. Vale destacar, na Figura 7, a persistente tendência, ao longo das quatro déca- das, de uma queda na taxa de crescimento econômico dos países ricos. EVOLUÇÃO DA ENERG IA/PIS EM PARIDADE DE PODER DE COMPRA PARA OS PAÍSES DO BRICS 0,6 0,5 ..... 0,4..... o "'u """" 0,3 "'Vl ;:J .....o. " 0,2::.: ......... __ _________ 0_ ........ .... ..................... --- ------ 0,1 ~------------------ o L________________________________________ _ 1990 1995 2000 2005 2010 Índia OCDE Brasil Note-se na Figura 8 que, à exceção do Brasil, a relação energia/PIB (PPC) dos BRICS fica bem acima da média mundial. Para Rússia, Índia e China, essa relação é decrescente, mostrando uma evolução da composição do PIB desses países na direção de atividades menos intensivas em energia, enquanto para África do Sul e Brasil ela tende a ser estável. A menor intensidade energética da economia brasileira é, em princípio, uma vantagem comparativa no cami- nho do desenvolvimento do país. Pode ser, por outro lado, um sintoma da chamada desindustrialização prematura da economia.
  • 10. 11ASJI. NOS 1!1ICS Chama a atenção o qu e ocorreu com a Rúss ia, ond e a recessão pós- -soviética aumentou os gastos de energia por produto, havendo um a recu- peração nos anos seguintes. Um aumento geral da ineficiência é esperado em períodos recessivos. A posição singular do Brasil de apresentar uma eficiência energética supe- ri or à elos países desenvolvidos é intrigante e coloca em cheque abordagens conservacionistas que costumam projetar uma redução significativa desse indicador no futuro. A Figura 9 compara o consumo ele energia brasileiro por PIB (PPC) com outros países e regiões ele referência, repetindo a compa- ração com a OECD, já indicada na figura anterior. COMPARAÇÃO COM O UTROS PAÍSES OU REGIÕ ES DO COMPORTAMENTO DO CONSUMO DE ENERGIA/PIS (PPC) 0,25 0,2 ~ 0,15 ~~ "'V) 2 fr 0,1 ~ 0,05 o 1990 Fome: B~ nco Mundial 1995 2000 2005 2010 Estados Unidos Mundo OCDE União Europeia Brasil A intensidade ele uso ela energia elétrica é também um indicador impor- tante para avaliar o mercado futuro ela energia nuclear. Na Figura 10, mos- tra-se a evolução do consumo de eletriciclacle/PIB (PPC) para os cinco países e a OCDE. ~~ EVO LUÇÃO DO COEFICIENTE ELETRICIDADE/ PI S DOS SR ICS 55% _ BRICS A análise ela Figura 10 mostra que a razão eletricidade/PIE tem a tendên- cia ele se manter relativamente estável em cada país. A intensidade ele uso é significativamente maior para a África do Sul elo que para os outros países. Isso deve estar correlacionado com a importância elas atividades minerais naquele país. N ota-se ainda o efeito do período recessivo na Rús,sia pós-re- formas, cujo auge corresponcle com o pico de ineficiência. Brasil e India apre- sentam coeficientes muito baixos ele utilização de energia elétrica por PIB relativa mente aos outros BRICS e à O CDE. Nos 21 anos apresentados, a intensidade elo uso de eletricidade elo Brasil cresceu 12% e se aproxima lenta- mente ela intensidade ele seu uso pela OCDE que, por sua vez, caiu 9% no mesmo período. Também neste caso, as indicações do comportamento histó- rico são de que não se deve esperar mudanças dramáticas nesse coeficiente, que provavelmente crescerá nas próximas décadas, pelo menos se aproxi- mando do valor atual ela OCDE. A Tabela 3 apresenta os valores econômicos e energéticos a qui discu- tidos. A Tabela 4 mostra a participação ele cada grupo nos itens da Tabela 3. A OCDE é responsável por metade elo PIB mundial e metade elo consumo de eletricidade e 81% da energia nuclear. Os BRICS representavam em 2011 28% elo PIB (em PPC), 36,5% da energia e só 12% da energia nuclear para 44% da população mundia l. A participação na emissão ele C02 proveniente elo uso da energia já é ele 38%, superando a ela OCDE, que é de 37%.
  • 11. BRASIL NOS BIJCS ~ PR INCIPAIS VARIÁVEIS ECONÔM ICAS E ENERGÉTICAS POR GRUPO DE PAÍSES 20"11 (COM EXqt:ÇÃO DE C02 2010) OCDE 45.246 5.305 10.205 2.087 12.592 BRJCS 26.01 8 4.620 6.913 322 12.916 OUTROS 22.023 2.791 3.212 175 8.107 MUNDO 93 .287 12.716 20.330 2.584 33.615 PARTICIPAÇÃO NO MUNDO OCDE 49% 42% 50% 81% 37% BRICS 28% 36% 34% 12% 38% OUTROS 24% 22% 16% 7% 24% MUNDO 100% 100% 100% 100% 100% ~itlif~·~1ij CRESCIMENTO EM 1OANOS OCDE 7.148 31 1081 -192 -219 BRICS 13.873 2039 3853 123 6070 OUTROS 8.632 768 1180 16 2957 MUNDO 29.653 2838 6113 -54 8808 1.249 3.071 2.645 6.965 18% 44% 38% 100% 84 264 437 785 1-:NicitCI: NU<:J.E/1 NOS ntICS Para o desenvolvimento da energia nuclear, todavia, é o aumento da de- manda de energia elétrica e da própria energia como um todo o fator mais determinante. Nesse particular os BRJCS são responsáveis, nos últimos dez anos, por 72% do crescimento da energia e 63% do crescimento do consumo de eletricidade. Esta proporção é superior a sua participação no crescimento elo PIB (47%) e ela população mundial (34%). O dinamismo do crescimento econômico aliado ao maior conteúdo ener- gético justifica essa preponderância no crescimento ela energia e ela eletri- cidade no mundo, que corresponcle a cerca de 2/3 do total. PAPEL DA ENERGIA NUCLEAR NA GERAÇÃO ELÉTRICA DOS BRICS À exceção da Rússia, as contribuições nucleares são peq uenas nos demais países do grupo, porém encontram-se em significativo crescimento na China e Índia, com muitas novas usinas em construção e entrando em operação. Em termos de participação na energia nuclear, os BRICS têm ainda uma participação modesta de 12% em 2012 no consumo de energia e 15% na potência instalada. Em termos ele usinas em construção, no entanto, a par- ticipação dos BRICS atinge 55% (ou 59%, se incluída Taiwan na China). A forte participação dos BRICS, em termos de potência das usinas em cons- trução, é comparada com a participação atual de potência instalada, como é mostrado na Figura 11. No Brasil e África do Sul, o crescimento da participação nuclear deverá ser moderado e até decrescente, como ocorreu até o fina l da década de 2010. ~~~ ~'-~~ COMPARAÇÃO DA PARTICIPAÇÃO DOS BRICS NA POTÊNCIA INSTALADA E NA EM CONSTRUÇÃO. 27% Taiwan, OECD China 55%--- BRJCS
  • 12. lll 1 ~ l l. NOS lliU CS Nas usinas em construção, no entanto, a forte participação fica por conta de China (24 %), Rússia (9%) e Índia (6%). Na África do Sul, o governo che- gou a lançar várias vezes licitações internacionais com dLferentes parceiros, porém a decisão firme para início de construção de uma terceira usina vem sendo seguidas vezes postergada, o que impede que ela venha a iniciar opera- ção antes de 2020. De forma similar ao Brasil, o governo sul-a fricano vem anunciando a construção de mais unidades em horizonte de mais longo prazo, as mais recentes notícias referindo-se a acordos com a Rússia14 • No Brasil há apenas uma nova usina em construção (Angra 3) com início de operação anterior a 2020. O governo brasileiro, entretanto, tem anunciado novas unidades em horizontes de mais longo prazo. O Plano Nacional de Energia PNE 2030, lançado em 2008, considerava 4.000 MW elétricos insta- lados nucleares adicionais após a entrada em operação de Angra 31 porém ainda sem decisões firmes para início de construção. Um resumo ela situação ela energia nuclear nos BRlCS é mostrado na Tabela 6. F~·w-;.-;-;-;TI i1'11.;,;J,.!.~;'1li RESUMO DA ENERG IA NUCLEAR NOS BR ICS Brasil 2 l 15.385 5 não Rússia 34 9 169.049 9 mais de sirn lO.OOOkg Índia 21 6 33 .232 entre 1 e Sim 10 kg China 27 24 130.580 3 entre Sllll 1.000 e 10.000 kg África 2 14.749 6 entre 100 Não''''. do Sul e l.OOOkg Fonte: lAEA Powcr Rcacror lnformation Sysrcm, http://www.iaea.org/pris/, consultado em 08/05/2015. ('') lnrernational Pane! on Fissile Materiais, http:/www.fissilematerials.org/, consultado em 20/05/2015. ('' ·•·) Desativada 14 Rltssia vai constru ir aré oito reatores na África do Sul, em hup://www.africa21online.com/anigo. ph p'a=5227&e=Economia, consultado em 16/05/2015. 15 PNE é w nsidemdo marco na história do setor energético, em http://www.brasil.gov.br/ infraesrrurura/2O11/12/pne-203O-e-considerado-marco-na-historia-do-setor-energerico, _ .... ..... .. .. 1•.~....1 .... .,....... 1 t: /f"'Ç /"')()1 r;; ENERGI1 NUCLEAR N(lS BRICS O crescimento da geração hid roelétr ica no Brasi l seguiu uma trajetória linear e de forte predominância sobre outras fontes. A predominância é tão grande que para avaliar a evolução ele outras fontes é necessário representá- -las em uma escala com ampliação. A Figura 12 mostra a evolução ela partici- pação das diferentes fontes energéticas na geração de eletricidade elo Brasil. PA RTICIPAÇÃO DAS FONTES GERADORAS DE ELETRICIDADE NO BRASIL õ .{j ;_ o "'.. ~1--< 450 400 350 300 250 200 150 100 50 o 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 100% 90% 80% 70% 60% 50% 40 % 30% 20% 10% 0% 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 20% 16% 12%
  • 13. lmASIL NOS BR ICS A Rússia é um país que tem fartura ele recursos energéticos, principalmente gás natural. Sua condição ele potência nuclear lhe propiciou a base tecnológica para a exploração ela energia nuclear, mas as baixas condições ele segurança em seus reatores, tanto ele projeto como na operação, levaram ao desastre ele Cherno- byl. Em 2010 as fontes hídricas, carvão e nuclear respondiam por cerca ele 17% cada uma e o GN, por 47%. A Figura 13 mostra a evolução ela partici- pação elas diferentes fontes energéticas na geração ele eletricidade ela Rússia. Não há participação significativa ele energias alternativas na matriz elé- trica russa. A produção a partir ele petróleo está sendo clesativacla, como na maioria elos países, enquanto a participação ela energia nuclear cresceu 38% em relação à ele 1990. A Rússia tem 9 reatores em construção com capacidade total prevista ele 8,2 GW. PARTICIPAÇÃO DAS FO NTES GERADORAS DE ELETRICIDA DE NA RÚ SSIA ""O "'"O ·n -~ " 600 500 400 300 200 .. ..... ··. GN - ~... ... ... .-. "· ' •' ~ .. • ~ ~' •• ._<t.f Carvão Nuclear I-lidro ""O o ""u- 100 ~:..::~:······ · · · · ··· · ······ ·· ···· · ··· O~tr~s ·--·~·-...---.......__......_.._ Ret10vavets Petróleo ~ "ü o ""u- o ~--- 1990 60% 50% b 40% 00 "'",g 30% u- "'o. ·n 20% -~ :>.. ..................,_,.,_____-.._..: 1995 2000 2005 GN .....~ ·~ .., ·-~ '·•• ~ .. ·····" ~· ~r N uclear I-Iidro ·············~-~-,~:.::::.:::·· ·· · · ·· · · O utros Petróleo10% .. 2010 -...~--=-----~.--- Renováveis --~------------· --:";-··-'lo---0% E~ERGI 1 NUCI.E,1 NOS BRICó A Índia é um país em rápido desenvolvimento cuj a opção para geração foi predominantemente o carvão. SeLl PIB entre 1971 e 2009 cresceu 5,7% ao ano tendo se multiplicado por um fato r 8,1. O consumo ele eletricidade foi multiplicado por 13,5 tendo crescido a 7,1% ao ano em média. O país tem 21 reatores nucleares em operação e 6 em construção, com uma potência adicio- nal prevista ele 4,8 GW. A Índia é importadora ele energia fóssil e depende do abastecimento externo em 16% do carvão, 81% elo petróleo e 21% do GN (base de dados do Banco M undial consultada em 2012) . A Índia, a exemplo da China, não manifestou nenhuma intenção ele rever sua política de geração nuclear. Ao contrário, a progressão de sua aceitação como potência nuclear de fa to abriu caminhos para a cooperação externa na área comercial que facilitam essa expansão. A Figura 14 mostra a evolução da parti- cipação das diferentes fontes energéticas na geração ele eletricidade da Índia. ~~~1{1] F,i;~~~~~~~ PA RTICIPAÇÃO DAS FONTES GERA DORAS DE ELETRICIDA D E NA ÍN D IA 800 o 700 ""':;o 600~ f-< " 500"O "'"O :g 400 b " " 300 ""O o 200 '"'u- ~ 100 ":.;J o 1970 80% 70% ,g 60% u- "'~5 0 % "'~ 40 % ""~ 30% ·o ~ 20% 1975 1980 1985 1990 1995 'o,l,.. : .~-.. /'• .. ,. ··~. 2000 Carvão O utros Renovávels 2005 O utros Renováveis 2010 0.. Petróleo 10% 1 GN ', ..... ~~~ O% L_,,.:..:..:..:.:..:..:..~..~~.:..:..;:-.;,..-..,..~7:.;,•~;,;-';,;";,;•·~"~"M.'--""''"";;_~·;:;:~;-~:.:g..;!i::!:!.•~;.:,•';,;;~..-.;,;:·~";,;,•g•:=---;;··.;,•·=-~=···,.,· ,;··,;:• ~·==:c:=""':::~'::::-~··~··~;: N uclear
  • 14. BR.IS/1. NOS 111ICS A geração elétrica na China cresceu 9,0% ao ano entre 1971 e 2009 tendo sido multiplicada por um fator 27. O uso ela eletriciclacle passou ele 138 TWh para 3696 TWh por ano. O PIB real cresceu 9,4% ao ano no mesmo período tendo sido mu ltiplicado por um fator 30. No mesmo período, o PIB elo Brasil se mu ltiplicou por um fator 4,3. Para atender este grande crescimento el a clemancla, a China adotou o carvão como combustível básico, cuja participa- ção atingiu 80%. Um grande investimento foi feito ainda em hiclroelétricas, cuja participação, no entanto, após superar 20% nas décadas ele setenta e oiten- ta, foi reduzida em alguns pontos percentuais. A participação elo petróleo, que também chegou a superar 20%, foi reduzida a menos ele 0,5% em 2009. A China é praticamente independente de importação ele carvão (4%), mas é dependente de importação de petróleo (52%) e importa 5% do GN que consome. Embora sem participação significativa na sua geração atual, a China tem ambiciosos programas nuclear e de energias alternativas. Estão sendo construídos na China Continental 27 reatores com capa- cidade total de 26,6 GW, e ela está se preparando para ser fornecedora de centrais nucleares para o exterior. Dois outros reatores estão em construção em Taiwan não existindo nenhum indício de mudança face ao acidente de Fukushima. A China está atuando fortemente na área ele produção de cole- tores fotovoltaicos a preços muito inferiores aos elos concorrentes e está a caminho ele dominar este mercado. Na Figura 15 podem ser vistas as fontes geradoras de energia na China e a sua participação relativa . 511Jm1!i_~ FONTES GERADORAS DE ELETRICIDADE NA CHINA 4.000 õ 3.500 '"'> :.~ 3.000o "'"'.._, ~ 2.500 " 2.000"O "'"O ·o ·s 1.500 ""ij ""O 1.000o '"'U" "'~ 1400 i{ 1200 Carvão r ../ f 1000 I 800 / I-lidro 600 400 200500 " o ==:~____::-.:....~-~-=:::~.;;..:;~~~- o 1 ()OI" :sl:l ".9.. o "'"' ~"'"O "'"O ·o .E ""ij O) "O o '"'U" ~O) " 90% 80% o 70% '"'<>' E 60% en ~ 50% o ·~- 40% .9< ·l:! 30%... "':.. 20% 10% / ENE/GIJI NIICI.EAR NOS /J RICS Carvão Outros Renováveis H idro 0%~==========------==~~~~~~~~~~~~~~~~~~ 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010 A geração elétrica na África do Sul é amplamente dominada pelo carvão mineral, que responde por mais de 90% elo total da eletricidade produzida. Isso se explica, basicamente, pela abundância desse recurso natural no país. A segunda maior fonte é a nuclear, com 6%. O gás natural e as renováveis, basicamente hidroelétricas, respondem por parcelas complementares muito pequenas. Na Figura 16 podem ser vistas as fontes geradoras de energia na África do Sul e a sua participação relativa. Como com a hidroelétrica no Brasil, foi necessário representar o carvão em uma escala separada (eixo esquerdo). ~~ FONTES GERADORAS DE ELETRICIDADE NA ÁFRICA DO SUL 300 30 õ Carvão "' "" o > t:.. 250 25 ""'~ .9.. o o "' "'"' "'.._, 200 20 ~~O) N uclear ""O 150 .. 15 "O "' "'"O .........·········...... ...···..,.. "O :g .,..r ..... ·o tí ...... ·. 10 '5100 ,.:./ . "ij ..... "ij O) ·..,.: Renováveis-Hidro O) "O "O o : . o '"' 50 5 '"'U" U• ~ ~ " " " "o 1970 1975 1980 1985 1990 1995 2000 2005 2010
  • 15. 1RtSil. NOS BIICS 100% 90% o 80% ""~ 70% t ~o 60% ~ 50% ""a40% ·o ·e 30% "'""' 20% 10% Carvão Outros Renováveis Hidro I ....···....·····························Q%~~- ~~-~.>~..~..~~~-.~w-~·-•~,,~v~.~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~~ 1970 1975 1980 1985 1990 1995 EVOLUÇÃO DA TECNOlOGIA E INDÚSTRiA NUCLEAR NA RÚSSiA ECHI NA 2000 2005 2010 Send o Rússia e China os dois países dos BRICS que apresentam o maior desenvolvimento no setor da energia nuclear, analisaremos a evolução dessa indústria nesses países em maior profundidade. Abordaremos a seguir Índia e África do Sul. Outro artigo aborda o Brasil em maior profundidade16· RÚSSIA1 7 O desenvolvimento da indústria nuclear russa está intimamente ligado aos progressos em P& D e descobertas neste campo. A energia n uclear russa ini- ciou-se com a fund ação de dois institutos de pesquisa- o Instituto Nacional de Tecnologias de Raio-X (1918) e o Instituto Khlopin Radium (1921). Desde então a Rússia desenvolveu um sistema sofisticado ele instituições de P& D - incl uindo desde estudos fundamentais até a construção de protótipos. Nas décadas de 50 e 60 a Rússia tomou medidas para conquistar a lide- ra nça no desenvolvimento da energia nuclear civil ao mesmo tempo em que se torn ava potência mundial nuclea r. Desenvolveu dois grandes projetos, um proveniente da tecnologia para a produção de plutônio militar (reator moderado a grafite e refrigerado a água- RBMK ) e outro das unidades de 16 Guimarães, Leonam dos Santos, News and Views: N uclear Power in Brazil, Brazilian Journal of Physics, September 2011, Volume 41, lssue 2-3, pp 107-112, disponível em hrrps://www. academia.edu/4163819/Nuclear_Power_in_Brazil, consulrado em 16/05/2015. 17 Nuclear Power in Russia, disponível em lmp://www.world-nuclear.org/info/Country-Profiles/ ,-. ____ _ ;__ r.. I:' I n ____ :_ ,.,,___ I ___ n ______ / ------ ~ ~- .J - ___ ., ~lfrl 'l A., r ENEIGIA NUC LEAR NOS BRICS propulsão nava l, tal como nos Estados Unidos (a série VVER- pressurizado e refrigerado e moderado a água). O primeiro reator nuclear prod utor de eletricidade no mundo a ser ligado à rede ele distribuição foi um reator russo ele 5 MWe, em 195418 Os dois pri- meiros reatores comerciais russos iniciaram operação em 1963-64. Em mea- dos da década de 1980 a Rússia tinha 25 usinas n ucleares em operação. M uitos reatores ele pesquisa foram construídos nas décadas de 50 e 60. Em 1998 mais ele 60 reatores não militares de pesquisa e teste estavam opera- cionais na Rússia, mais três em antigas repúblicas Soviéticas e mais oito em outros lugares. O acidente nuclear de Chernobyl, que aconteceu em 1986, foi o resultado ele projeto ele reator contendo falhas e que era operado por pessoal que não estava adequadamente treinado. Foi uma consequência direta do isolamento resultante da Guerra Fria e ela fa lta de qualquer cultura de segurança. Após o acidente de Chernobyl, houve uma grande mudança na cultura do establishment nuclear civil russo, pelo menos no nível das centrais. No início ela década ele 90 vários programas ocidentais de assistência relativos a ques- tões ele segurança alteraram fundamentalmente a maneira como as coisas eram fe itas no bloco oriental, incluindo a própria Rússia . Deficiências de projeto e de operação foram sanadas e então se iniciou uma cultura de segu- rança. A Rússia também desenvolveu uma linha ele reatores rápidos para gerar eletricidade. A Rosenergoatom, companhia estatal que opera as usinas nucleares na Rússia, está planejando a produção de usinas nucleares flutuantes para abas- tecer de eletricidade as cidades situadas na costa norte do país. As usinas nu- cleares russas com 34 reatores em operação totalizando 24.164 MWe são: o 4 VVER-440/23 0 iniciais (reatores a água pressurizada). • 2 VVER-440/213 intermediários. • 11 VVER-1000 recentes. o 13 RBMK (reatores a água leve e grafite - LWGR), agora existentes apenas na Rússia. " 4 reatores pequenos BWR moderados a grafite para cogeração. o 1 reator rápido breeder BN-600. A geração de eletricidade na Rússia, como foi visto, tem forte predomi- nância ele energias fósseis (67, 4%) e a nuclear participa com 16,4% (dados ele 2011 do Banco M undial). 18 Nuclear power plants world-wide, disponível em http://www.euronuclear.org/info/encyclopedia/n/
  • 16. UR1ISIL NOS P.IUCS A propulsão nuclear tornou-se técnica c economicamente essencial na Rússia Ártica onde co ndições de operação estão além da capacidade de quebra-gelos convencionais. A potência necessária para quebrar gelo com 3 metros de grossura conjugada com dificuldades de reabastecimento de com- bustível são fatores significantes. A frota nuclear aumentou a navegação na rota do Mar do Norte de dois para dez meses por ano e no ártico Ocidental, durante o ano todo. O quebra-gelo Lenin foi o primeiro navio de superfície de propulsão nuclear e permaneceu em serviço por 30 anos (1959-89). Entre o acidente de Chernobyl e meados da década de 1990 somente uma usina nuclear foi comissionada. Reformas econômicas que se seguiram após o colapso da União Soviética provocaram a carência de fundos para o desenvol- vimento nuclear e vários projetos foram paralisados. No final da década ele 1990 exportações de reatores para o Irã, China e Índia foram negociadas e o programa ele construção de reatores domésticos foi revitalizado. A política russa é a ele usar o máximo possível o urânio reciclado e even- tualmente também usar plutônio em combustível de óxido misto (MOX). Muitas das instalações do ciclo elo combustível foram originalmente desen- volvidas para uso militar e, portanto, estão localizadas em cidades anterior- mente fechadas. As instalações ele conversão e enriquecimento foram assumi- elas por uma su bsidiária ela Atomenergoprom. Em 2010, o governo aprovou um programa federal feito para trazer uma plataforma para a indústria nuclear baseada em reatores rápidos com um ciclo fechado. A Rússia é líder mundial em tecnologia deste tipo de reator. A Rússia está engajada nos mercados internacionais de energia nuclear, bem além de seus tradicionais clientes de países do leste europeu. Um passo importante nesse sentido foi a criação da companhia Rosatom Overseas, sub- sidiária ela holding Rosatom, que é responsável por implementar projetos sem ciclo do combustível em mercados externos, fornecendo também produtos, serviços e tecnologias da indústria nuclear russa. A Rússia tem reservas de urânio economicamente viáveis que representam cerca de 10% das reservas mundiais razoavelmente asseguradas. O país tem quatro plantas de enriquecimento de urânio, fazendo a expor- tação de serviços de enriquecimento desde 1973. Entre seus clientes estão países da Europa ocidental. Eles exportam também radioisótopos para os vários usos. A Rússia, a partir ele 1992, abandonou a difusão gasosa em favor do uso de ultracentrifugação. A Rosatom é uma companhia holding integrada verticalmente que assu- miu a indústria nuclear ela Rússia em 2007, oriunda da Agência Federal de Energia Atômica. Esta última tinha sido formada a partir do Ministério de Energia Atômica em 2004, o qual por sua vez sucedeu um ministério Sovié- tico na área. As partes civis da indústria, com uma história de mais de 60 anos, estão consolidadas na JSC AtomEnergoProm (AEP). ENERC;Iil KIICLEAR NOS ~R I CS A missão da Rosatom é manter os in teresses nacionais relativos à defesa, segurança nuclear e energia nuclear através da liderança global em tecnolo- gias avançadas, competência e inovação. A Rosatom também é responsável pelas obrigações in ternacionais rela- tivas ao regime de não proliferação de energia e materiais nucleares. É ela também que garante a execução da política de estado e mantém a unidade de gerenciamento ela energia nuclear, o funcionamento estável do complexo industrial nuc lear, o complexo de armas nucleares e a segura nça nuclear e radiológica. A divisão de armamentos da Rosa tom tem vários centros federais no país. Em associação com o Ministério de Defesa Russo, estes centros implementam a política nacional de dissuasão nuclear. O ciclo de com bustível nuclear é representado por um sistema de compa- nhias que estão conectadas por um fluxo de material nuclear. Este sistema inclui: minas de urânio; fábricas de processamento, conversão e enriqueci- mento de urânio; produção de com bustível nuclear; instalações de armaze- namento de combustível usado e sítios de disposição de rejeitas. Com esse sistema integrado, a Rosatom fornece um conjunto de produtos e serviços. A divisão de engenharia oferece soluções abrangentes de engenharia que incluem projeto de equipamento, produção, fornecimento, instalação e manu- tenção de usinas nucleares e convencionais. A divisão reúne mais de 40 com- panhias de engenharia e P&D da Rússia, na República Tcheca, Hungria e outros países. Seus eq uipamentos estão instalados em mais de 20 países. A Rosteclmadzor- Federal Enviromnental, Industrial and Nuclear Su.per- vision Service of Russia - é uma instituição executiva federal que exerce as funções de elaboração e implementação no controle regulatório e legal da política do estado na esfera industrial e supervisão nuclear, segurança dos usos da energia atômica (exceto em atividades de desenvolvimento, fabri- cação, teste, operação e disposição de armas nucleares e instalações nuclea- res militares), além de supervisão de outras áreas industriais. Não é uma agên- cia especificamente nuclear, mas de segurança na indústria. O presidente da Rostechnadzor é, pela legislação que estabeleceu o sistema, "nomeado e de- mitido pelo governo da Federação Russa" (decreto governamental no 401 ele 30 de julho de 2004) 19. Em 2008 a agência passou à subordinação do Ministério ele Recursos Naturais e Meio Ambiente (Ministry of Natural Resources And Environ- ment - MINPIORODY), que assumiu parte elas atribuições antes delegadas àquela agência. "19 Covernment O(The Russimr Federation, Ordinance No. 401.2004. Federal Environmenral, Industrial And Nuclear Su pervision Service, disponível em http://en.gosnadzor.ru/activit)'/ ,... ,...1..... ;.,,~; .. ,... ., J,, ;J..,.,. l.T'CV/Of..") (l ., ,.,,., rln,.. ,.,....., .. ,J~...,,..J,... nrn ·1 (/rl/1{)1 ç
  • 17. 111</SIL NOS 1IUCS A Rússia está planejando o desenvolvimento de reservas de óleo e gás no Artico. Devido às severas condições climáticas e a demanda de energia inerente a essa exploração, a energia nuclear será usada para navios e centrais nucleares flutu ante . O protótipo de uma central flutuante está sendo cons- truído e mais outras quatro estão planejadas. As centrais de 70 MW terão 2 . reatores a bordo de plataformas de aço gigantes e permitirão perfurações necessárias para explorar os mais remotos campos de óleo e gás situados nos mares de Barents e Kara. O navio deverá armazenar seu próprio rejeito e combustível e sua revisão será feira a cada 12 ou ] 4 anos. Além disso, proje- tistas russos estão desenvolvendo um submarino a propulsão nuclear com equipamentos de perfuração que poderiam perfurar 8 poços de uma só vez. CHINA2° O desenvolvimento da energia nuclear civil na China começou na década de 1970. A primeira usina de potência fo i construída nos anos 80 e iniciou sua operação no início de 1990. Mas o ritJ o de desenvo lvimento da geração núcleo elétrica não fo i particularmente rápido até há alguns anos quando o governo da China mudou a política de energia nuclear de desenvolvimento "moderado" para "ativo". O desenvolvimento da parte civil da energia nuclear na China pode ser dividido em estágios. Primeiro estágio (1985-2005): construção do primeiro protótipo ele usina nucleoelétrica e introdução e transformação da tecnologia internacional de energia nuclear; introdução de tecnologia e reatores externos nas décadas de 1980 - 1990 (tecnologias francesa, russa e canadense); transformação e ino- vação para desenvolver seus próprios reatores nas décadas de 1990 e 2000. Segundo estágio (2005-2010): construção acelera da de rea tores com tecnologia transformada e introdução de nova tecnologia e transformação; 34 unidades aprovadas, ma is projetos em construção, grandes investimentos não somente para usinas, mas também para fabricação e P&D; nova e avan- çada geração de reatores. Terceiro estágio (a partir de 2011): desenvolvimento, transformação e inovação seguros e contínuos de tecnologia para mel horar capacidade; tecno- logias provadas e maduras de segurança são prioridades; manutenção de investimentos contínuos e escala de construção; transformação e localização de nova tecnologia; localização de fabricação; desenvolvimento de marca pró- pria chinesa para competição e venda em mercados internacionais. A China definiu os seguintes pontos como sendo elementos-chave ele sua política energética. Note-se que, apesar elo foco nacional desses elementos, a cooperação internacional é encorajada. 20 Nuclear Power in China, disponível em http://www.world-nuclear.org/info/Counrry-Profiles/ r,..., ,nt.-i.,.c:.A. t::/rh; ,..., __l"f,,,. lp.. r_ P..... .u•.-1 ,............ .1..... .-t,... .,,..,.... 1 t:lft: /1f1 t F.NCKGI; NUCLEA il NOS lllliCS A fabricação doméstica de centrais e equipamentos será maximizacla com autossustentabilidade em projetos e gerenciamento. A indústria nuclear na China tem certas vantagens por ter começado tarde, se beneficiando da boa experiência internacional em projeto, construção, ope- raçã~ e a segurança nuclear, que tem sido considerada como princípio essen- cial da indústria nuclear. O governo chinês decid iu esta belecer uma ind ústria nuclear completa em 1970 e chegou ao objetivo com verificação e projeto de engenharia e iniciando a construção ela primeira usina em 1985 e que foi conectada à rede em 1991. A política chinesa é pelo ciclo fechado ele combustível. A China rornou-se autossuficienre no projeto e construção de reatores bem como em outros aspectos do ciclo do combustível, mas está fazendo uso da tecnologia ocidental, adaptando-a e melhorando-a. A política da China é "tornar-se globa l" com exportação de tecno logia incluindo componentes pesados na cadeia de suprimentos. A cooperação entre a China e a França começou no início da década ele 1990. Em2008 a AREVAe a China Guangdong Nucleat Power Group (CGN) estabeleceram uma joint venture para transferência de tecnologia e desen- volvimento de reatores EPR {terceira geração de reatores ripo PWR) e possi- velmente a construção ele outras usinas PWR no Japão e posteriormente em outros países. Após mais de 3 anos ele análise por especialistas, a China decidiu introdu- zir o reator AP1000 (reator que usa o conceito de segurança nuclear passiva), reator avançado da americana Westinghouse e com esta estabeleceu uma cooperação para a construção destes reatores. Em 2013 a China tinha 21 usinas nucleares em operação e 28 em constru- ção. A participação da energia nuclear na geração de eletricidade é de 2%, a do carvão 83%, a hídrica 14% e a eólica 1% . Após o acidente de Fukushima em 2011, o governo chinês suspendeu seu processo de aprovação de usinas, até que uma revisão de lições aprendidas com o acidente fosse implementada, particularmente a localização e layout das centrais e o controle da liberação de radiação. As informações oficiais do governo chinês foram que a revisão da segurança das centrais em operação tinha sido feita em seguida ao acidente e que uma aná lise daquelas em cons- trução fora terminada no final de 2011. A reromada ela aprovação de novas usinas fo i suspensa até a publicação em 2012 do novo plano de segurança, aprovado pelo Conselho de Estado. Desde 1980, a China decidiu estabelecer um sistema legislativo relativo à segurança nuclear e de radiação tendo como base os códigos de segurança e padrões da Agência Internacional de Energia Atômica. As insta lações regula- mentadas incluem centrais nucleares, reatores ele pesq uisa, instalações do ciclo do combustível, instalações de processamento, disposição de rejeitos, equipa- n,P,,tnc riP cPant·':lnr-:J n n r iP':l l. o;1 nli r~r~ n f"lp tPr n n l nPi~ nnr i P~ ,- f" minPr:::~r~n rlP
  • 18. BRASil . NOS llRICS urânio e tóri o. As leis (incluindo convenções internacionais) são emitidas pelo Congresso, os regulamentos, pelo Conselho de Estado, as regras de departa- mento e padrões obrigatórios, pelo Ministério de Proteção ao Meio Ambiente e os padrões de segura nça nuclear e de radiação, conjuntamente pelo Minis- tério de Proteção ao M eio Ambiente e Comissão de Normas. A China possui 12 submarinos com propulsão nuclear e, em fevereiro de 2013, a China Shipbuilding Industry CorjJ. recebeu aprovação e fundos do governo para iniciar pesquisa de tecnologia do núcleo e segurança para navios com propulsão nuclear, sendo mencionados navios polares, assim como porta- -aviões. Seu primeiro submarino com propulsão nuclear fo i descomissionaclo em 2013 após quase 40 anos ele serviço. A geração nucleoelétrica na China tem duas grandes companhias: a China National Nuclear Power Co. (CNNC), proprietária e operadora das usinas nas quais a CNNC tem mais de 90% das ações, e a China General Nuclear Power Group (CGN), que é líder na província de Guangclong, atuando tam- bém em outras províncias. A China Power Investm.ent Corporation (CPI) opera uma central em conjunto com a CGN e tem várias em construção. Essas companhias se associam com os governos provinciais para a construção e operação de centrais. Os 20 reatores em operação (17,1 GWe estão instalados) e as operadoras estão mencionadas no quadro de reatores divulgado pela AIEA. Destes, a CNNC opera 9 com a capacidade 6,1 GWe, a CGN opera 9 com capacidade ele 8,9 GW e 2 de uma central de 2 reatores com potência total de 2,1 GW é operada conjuntamente pela CGN e a CPI. A maior parte dos reatores em operação é do tipo PWR e duas unidades são ele PHWR (pressurizado mode- ra do a água pesada tipo CANDU). Além desses, existe um rea tor rápido experimental ele 20 MW conectado à rede. Por volta de 2005 a indústria se moveu para uma fase de rápido desenvol- vimento. A tecnologia fo i obtida ela França, Canadá e Rússia, com desenvol- vimentos locais baseado fortemente nos elementos franceses. A última aqui- sição tecnológica fo i elos USA (via Westinghouse, que tem participação majoritária ela Toshiba elo Japão) e da França. A State Nuclear Power Technology Corporation (SNPTC) fez do AP1000 ela Westinghouse a base principal ele seu desenvolvimento tecnológico no fu- turo imediato, e partiu para um desenvolvimento local denominado CAP1400. Tal fato conduziu a uma determina.da política de exportação de tecnolo- gia na China baseada no desenvolvimento do rea tor CAP1400, com direitos de propriedade intelectual chineses e acompanhados da capacidade do ciclo do combustível completo. Essa política está sendo conduzida em alto nível utiliza nd o a influência eco nômica e diplomática da China, mas deixando a inicia tiva comercial com o SNPTC e mais recentemente, com o suporte do CNNC. ENERCI A NUCLEAR ;-.:m llltK:> ÍNDIA21 A Índia tem um progra ma florescente e em gra nde pa rte autóctone de energia nuclear e espera ter 14.600 MWe de capacidade nuclear em linha até 2020, fornecendo 25%, da eletricidade total gerada no país até 2050. A Índia não aderiu ao Tratado de Não Proliferação N uclear, tendo desen- volvido um programa de armas nucleares. Por esse fato, há 34 anos foi excluída do comércio internacional de usinas e materiais nucleares, o que dificultou o desenvolvimento de seu setor de energia nuclear civil até 2009. Devido às anteriores proibições comerciais e à fa lta local de urânio, a Índia tem desenvolvido de forma única um ciclo do combustível nuclear visando explorar suas grandes reservas de tório. Desde 201 0, uma incompatibilidade fundamental entre a lei de respon- sa bilidade civil da Índia e convenções internacionais continua limitando o fornecimento ele tecnologia ocidental. Esse fato, entretanto, não impediu a Rússia de construir 2 usinas nucleares nesse país e estar iniciando a constru- ção de outras duas. A Índia tem uma visão de se tornar W11Jícler mundial em tecnologia nuclea r, devido à sua experiência em reatores rápidos e ciclo do combustível de tório. ÁFRICA DO SUL Tendo sido um dos países fund adores ela AIEA em 1957, a África elo Sul é o único país que desenvolveu armas nucleares e voluntaria mente desistiu delas. Um programa ele armas nucleares foi iniciado por volta de 1970 e um artefato nuclear operacional estava pronto no final da década. O programa foi encerrado pelo presidente de Klerk em 1990 e em 1991 o pa ís assinou o Tratado de Não-Proliferação N uclear (TNP). Em 1993, de Klerk anunciou que seis armas nucleares e uma sétima incompleta tinham sido desmanteladas. Em 1995, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) declarou que todos os materiais foram contabilizados e que o programa de armas tinha sido encerrado e desaparelhado. O consumo de eletricidade na África do Sul rem crescido rapidamente desde 1980 e o país faz parte da Southern African Power Pool (SAPP), com interconexões extensas com os países vizinhos. A capacidade ele geração ins- talada total nos países ela SAPP é 54,7 GWe, dos quais cerca de 80% são ela África do Sul, principalmente a carvão, e em grande parte sob o controle ela estatal Eskom. A Eskom tem uma capacidade total instalada de 44,2 GWe brutos, sendo o carvão responsável por 34,3 GWe e o nuclear, por 1,8 GWe. No início ele 2008, a demanda na África do Sul ficou desconfortavelmente perto elo seu
  • 19. /11AS II. NOS BIUCS limite máximo: foram produzidos 230,0 TWh ele energia elétrica ele Llma ele produção máxima de 239,5 TWh. A central nuclear de Koeberg gerou 12,7 TWh- cerca ele 5,3% desse total. Desde o início da década de 1990, a Eskom, em colaboração com os par- ceiros internacionais, desenvolveu o reator modular "Pebble Becl" (PBMR22 ). O PBMR é um projeto de reator nuclear refrigerado a gás a alta tempera- wra, tanto para a geração de eletricidade como para geração de calor para processos industria is. Em setembro ele 2010, entreta nto, o governo sul-africa- no decidiu parar de investir no PBMR, estando hoje suspenso o projeto de construção de um protótipo. SiNERGIA NAS RELAÇÕES INTERNAS O relacionamento nuclear entre os BRICS não é, historicamente, muito intenso. As intenções desses países de construir programas autônomos de energia nuclear e os contingenciamentos e limitações internacionais tolheram maior contato entre eles. A cooperação existente sempre se dirigiu aos países tradicionalmente detentores ela tecnologia nuclear e era geralmente estabelecida entre os países dentro elas alianças políticas da Guerra Fria. Com o fim da Guerra Fria, o protagonismo das indústrias nucleares da China e Rússia e o levantamento de muitas das restrições que limitavam a cooperação com a Índia, abriu-se uma perspectiva de maior interação entre os BRICS na área nuclear. As relações históricas entre os BRICS se deram, na maior parte, no âmbito das alianças da época da Guerra Fria, como foi o caso da cooperação entre China e União Soviética até o rompimento político entre os dois países (1964), que estimulou o desenvolvimento independente ela China. Igualmente a relação entre África do Sul e EUA (e com a lguns países ocidentais, supostamente também com Isra el) no tempo do aparrb eid se inscreveu nas relações dentro do bloco ocidental e em oposição ao apoio cubano-soviético a países vizinhos ela África do Sul, notadamente Angola e Moçambique. Um capítulo à parte fo i desenvolvido nas relações com a Índia, que susten- tou desde sua criação a condição ele país não alinhado. Sua riva lidade regio- nal com a China favoreceu uma cooperação mais ou menos contida, seja com os EUA, seja com a União Soviética e Rússia, seja com a França e Canadá. Rúss ia e China já deixaram claras suas intenções de atuar como prota- gonistas na expansão elo uso da energia nuclear no mundo e tem atuado com desenvoltura no cenário dos outros BRICS. Nesse sentido, intensa 22 Status reporr 70- Pebble Bed Modular Reactor (PBMR), disponível em https://a ris.iaea.orgi •n1.-..-.n'"'rn•,.,...,.,.,... ,,,..., • ~ .., ,.,,...,..,,... .... .. ,. ENERGIA NUCLEA R NOS ll iUCS movimentação diplomática e comercial pode ser observada nesses países e suas empresas estatais nucleares com a África elo Sul e Brasil. Essa ação se desenvolve ainda em relação a outros países onde existem possibil idades concretas ele expansão da geração nuclear, como Argentina, países elo Leste Europeu e países árabes. Por ora, não existe nenhuma movimentação clara ele cooperação institu- cional focalizada na incipiente aliança político-comercial entre os países e o provável é que ela continue se dando no âmbito das relações bilaterais entre os BRICS e com outros países atuantes no quadro da expansão do uso da energia nuclear. SINERGIA NAS RElAÇÕES EXTERNAS O número de países e empresas atuantes no âmbito da geração nuclear mun- dial é bem reduzido. Destacam-se atualmenre- além dos EUA, Rússia e Fran- ça - a China e Coreia do Sul como pretendentes. Como protagonista tradicional está os EUA cujo papel no cenário dessa expansão ainda está para ser melhor equacionado. As empresas tradicionais elos EUA (Westinghouse e GE) passaram para o comand o acionário de empre- sas japonesas (Mitsubishi e Hitachi). Japão e EUA têm sua atuação no merca- do nuclear provavelmente vinculadas. O reator predominante, o PWR, tanto em centra.is existentes como em construção, deriva da tecnologia ela Westinghouse. É o caso da França e Coreia do Sul e ultimamente ela própria China, que firmou contrato com a Westin- ghouse sem limitações para exporração. A linha de reatores BWR (GE/Hita- chi) terá que conviver no futuro com os problemas de imagem ad vindos do acidente em Fukushima, embora os problemas verificados não tenham rela- ção direta com o conceito atual do BWR. Outro antigo protagonista mundial, o Canadá, encontra suas limitações de expansão no modelo de reator escolhido PHWR, exportado com êxito para alguns países (Coreia, Argentina, China, Armênia, etc.). A Índia baseou seu desenvolvimento próprio em reatores de água pesada e a Argentina inaugurou recentemente uma central nuclear desenvo lvida origina lmente pela Alemanha, mas concluída principa lmente com tecnologia própria. No entanto, não há sinais de que isso possa reacender a comercialização desse tipo de reator. Como capítulo aberto para o futuro, existem os reatores rápidos (FBR), em cuj o desenvolvimento já atuaram concretamente EUA, França, Japão e Reino Unido, mas atualmente só existem unidades em construção e operação em três BRICS: Rússia, China e Índia.
  • 20. BRASIL NOS 1RICS CONClUSÕES Os BRICS foram na década passada os maiores responsáveis pela expansão energética e elétrica mundial. Atualmente são responsáveis pela maior parte dos reatores em construção no mundo. Dos cinco componentes dos BRICS, Rússia e China são países reconhe- cidos pelo TNP como nuclearmente armados e a Índia tem status de país nuclearmente armado de facto. A África do Sul já teve a posse de armas nucleares e mantém em estoque o material nuclear nelas utilizado, não obs- tante as pressões internacionais no sentido de passar esse material para o controle internacional, especialmente dos EUA. Todos possuem a tecnologia do ciclo de combustível. Os três primeiros países têm submarinos nucleares e o Brasil tem planos de construção. A opção nuclear não é nem deve ser majoritária nesses países para gera- ção de energia elétrica, mas a energia nuclear deve continuar a ser uma opção relevante na política e na geração de eletricidade. A cooperação existente entre os países integrantes do grupo é ainda muito limitada, mas apresenta perspectivas concretas para as próximas décadas.