Reflexão sobre o centro de comando de incidentes dos EUA - NIFC.
Sedeado em Boise, Idaho, este centro reune elementos de 9 agencias departamentais norte-americanas e procede ao acompanhamento e coordenação de incidentes de elevada complexidade.
1. Memorando1
NIFC - National Interagency Fire Center
(www.nifc.gov)
Elaborado por Miguel Galante
(Eng. Florestal)
Setembro 2011
1
O presente memorando sobre o Centro Nacional Interdepartamental de Apoio ao Combate aos Incêndios Florestais (NIFC – National
Interagency Fire Center) resultou da experiência colhida durante o programa International Leadership Visitor Program aos Estados
Unidos realizada em Agosto 2011.
2. O NIFC – National Interagency Fire Center é o centro de coordenação operacional, de âmbito
nacional. Está sedeado em Boise, Idaho (no espaço do Aeroporto Internacional de Boise), emprega
600 pessoas (pode chegar às 900 pessoas durante o período critico de incêndios florestais - fire
season) e é responsável pela coordenação da mobilização de meios para grandes incêndios
florestais e outras ocorrências de Protecção Civil de âmbito nacional.
Localização do NIFC no espaço Aeroporto Internacional de Boise
Instalações do NIFC
3. No âmbito das competências do NIFC, inscreve-se a mobilização e coordenação de meios nacionais,
tais como de equipas de combate a incêndios florestais (ex. IMT - Incident Management Team e
hot-shot crews), meios aéreos pesados (air tankers e helicópteros pesados), equipamento de apoio
a combate a incêndios florestais (rádios, estações meteorológicas móveis, equipamento de
protecção individual) e demais logística de apoio ao combate a grandes incêndios florestais. O NIFC
também responsável pela recolha de informação à escala nacional sobre incêndios florestais e
outros incidentes de dimensão nacional (ex. Furacão Irene).
O NIFC é também a sede do NICC – National Interagency Coordination Center, um centro de
comunicações que recolhe informação dos
vários Centros Regionais de Coordenação e
desempenha funções de monitorização das
várias ocorrências e dos meios envolvidos
nos teatros de operação. Esta informação
serve de base aos briefings operacionais,
realizados duas vezes ao dia (10.00h e
16.30h).
Centros Regionais de Coordenação
NICC – National Interagency Coordination Center
4. Os briefings operacionais contemplam informação sobre grandes incêndios florestais, com
destaque para aqueles de maior dimensão/complexidade, localização e disponibilidade de hot-shot
crews e meios aéreos pesados (heli Type-1 + air tankers). A meteorologia é um dos aspectos mais
desenvolvidos nos briefings operacionais, com destaque para a análise da cartografia de risco
potencial (Significant Fire Potential – Day 1, Day 3, Day 4-7). No final do briefing, os serviços de
informação de apoio à decisão (Fire Predictive Services) apresentam uma análise sumária, por
região de coordenação, com as principais preocupações/recomendações e uma interpretação da
cartografia de risco de incêndio.
Mapa com a informação dos grandes incêndios florestais
Previsão do potencial de risco de incêndio
5. Este centro de coordenação também presta apoio na hierarquização das prioridades/necessidades
de apoio ao combate a incêndios florestais à escala nacional e disponibiliza informação a nível
nacional sobre os incêndios florestais - http://www.nifc.gov/fireInfo/nfn.htm
A produção de informação estatística sobre incêndios florestais também é uma atribuição do NICC,
onde se inclui a elaboração do relatório anual, que além do tratamento estatístico do número de
ocorrências e área ardida (também inclui informação sobre fogo controlado) também apresenta
informação operacional sobre os meios nacionais utilizados.
Em situações extremas, à escala nacional, pode ser accionado o NMCA – National Multi-agency
Coordination Group, que identifica as necessidades e prioridades nacionais. O NMAC é composto
pelos directores dos serviços de fogos florestais de cada agência governamental.
Além das funções de coordenação e de mobilização de meios, o NIFC também serve de base para
um conjunto de serviços e programas relacionados com o apoio à tomada de decisão:
- Serviço de mapeamento com infra-vermelhos (apoio ao combate e rescaldo);
- Serviço de Gestão das Estações Meteorológicas Automáticas (informação remota);
- Serviço de Análise e Previsão de risco de incêndio (Predictive Services);
- Serviço de Gestão e Logística de Comunicações e Rádios;
- Serviço de Análise e Desenvolvimento de Formação e Equipamento;
Predictive Services
Os serviços de análise e apoio à decisão (Fire Predictive Services) resultam de um programa interdepartamental, à escala nacional, que tem como objecto produzir informação para apoio à tomada
de decisão sobre incêndios florestais, nomeadamente ao nível da meteorologia, monitorização de
combustíveis e da análise da situação e previsão do comportamento do fogo.
O NICC e cada uma das Áreas Geográficas de Coordenação dispõem de uma unidade de Serviços de
Análise e Apoio à Decisão, que integra meteorologistas, especialistas e ocasionalmente peritos em
análise do comportamento do fogo.
Os produtos da acção destes serviços está publicada na Internet - www.predictiveservices.nifc.gov/
Dentre a lista de produtos contam-se análise regional e nacional da previsão de risco de incêndio
florestal diário e semanal, bem como as análises das previsões mensais e sazonais (três meses);
Informação sobre os grandes incêndios florestais (http://activefiremaps.fs.fed.us/lg_fire2.php);
Monitorização do estado dos combustíveis vegetais.
6. Análise do estado dos combustíveis e recomendações de actuação (ex. Southern Area) é outra das
valências do serviço.
Uma das funções mais importantes desempenhada por este serviço prende-se na recolha e
actualização da informação sobre grandes incêndios florestais, com base nos relatórios de síntese
de ocorrência (ICS-209).
7. National Interagency Fuels Management Group
Actualmente coordenado pelo Bureau of Land Management (David Miller), este serviço do NIFC
tem por objecto facultar orientação e coordenação entre as várias agências governamentais ao
nível dos recursos e programas de gestão de combustíveis. Este grupo coordenador é constituído
por cinco elementos de base (um elemento de cada agência), um secretariado executivo, peritos e
especialistas e ainda por grupos de trabalhos específicos para determinadas matérias (ex. Interface
Urbano-Florestal).
Joint Fire Science program (http://www.firescience.gov/)
O NIFC é também a sede deste programa científico criado por uma decisão do Congresso de 1998.
Este programa assenta numa coordenação conjunta entre o Ministério do Interior e o Ministério da
Agricultura e visa o financiamento e gestão da investigação científica aplicada para responder às
necessidades dos gestores e decisores políticos em matérias dos incêndios florestais, em projecto
de curta duração (2,5 – 3 anos), tais como:
- Cartografia e inventário de combustíveis florestais;
- Gestão de combustíveis florestais
- Consequências e comportamento do fogo
- Recuperação de áreas ardidas
- Estabilização pós-fogo
- Detecção Remota
- Desenvolvimento e integração de informação e dos resultados da investigação para gestores
Nota: Em 2010 os principais recursos financeiros foram destinados a projectos científicos nos domínios da
Gestão de Combustíveis e da Gestão da Qualidade do Ar. Também em 2010 foi iniciada uma nova linha de
investigação subordinada aos aspectos sociais dos incêndios florestais (segurança e saúde das equipas de
combate a incêndios florestais e Protecção do Interface Urbano-Florestal).
Lessons Learnt Center (http://www.wildfirelessons.net/Home.aspx)
Esta unidade de estudo e análise sobre incêndios florestais foi estabelecida com o objectivo de
proporcionar melhores condições de segurança nos Teatros de Operações e melhorar o
desempenho na organização do combate em grandes incêndios florestais. Um dos objectivos deste
centro de estudos foi criar um repositório de informação acessível a toda a comunidade envolvida
no combate aos incêndios florestais.
Uma das fontes mais importantes deste centro de Estudos resulta do contributo dos Comandantes
de Incidente (IC), como é o caso de Mike Quinsenbery (IMT – Type 1), que visitou Portugal em 2004
ao abrigo de um programa de cooperação técnica para análise do Sistema de Prevenção e Combate
a Incêndios Florestais: http://soblue1.imtcenter.net/main/HomeTemplate2.aspx?LinkID=home
Mike Quinsenbery é o comandante do IMT Southern Area Blue Team, que tem por missão planear e
gerir incidentes de elevada complexidade. A equipa inclui peritos em contabilidade, logística,
operações, informação e planeamento, oriundos das várias agências governamentais (Federais e
Estatais).
8. Considerações finais:
O Sistema Nacional de Defesa da Floresta Contra Incêndios foi objecto de melhorias significativas
desde 2003, sobretudo ao nível da organização do sistema de Protecção Civil, do Comando no
Teatro de Operações e da profissionalização da prestação do Socorro (GIPS e FEB), acção essa que
foi reforçada em 2006 com a Reforma da Protecção Civil e tem sido complementada com um
aumento dos níveis de coordenação das várias forças no TO (nomeadamente pelo reforça das
comunicações), pelo incremento de formação aos combatentes e comandantes e no reforço da
segurança no TO (fornecimento de EPI).
Apesar das melhorias introduzidas no sistema, subsiste a necessidade de melhorar o desempenho
no combate a grandes incêndios florestais e de reforçar/consolidar o nível de empenhamento dos
organismos públicos com responsabilidades no Sistema Nacional de DFCI, nomeadamente,
Autoridade Nacional de Protecção Civil, Serviços Florestais e de Gestão das Áreas Protegidas, GNR e
Instituto de Meteorologia.
Tendo como objectivo final a melhoria da eficácia do combate aos grandes incêndios e da resposta
a situações de episódios/períodos de muito elevado/extremo risco de incêndio florestal, são
apresentadas as seguintes cinco propostas organizacionais:
1) Criação de 2-3 equipas de gestão de grandes incêndios florestais (IMT - Type 1/2), com a
realização de formação in-situ no NIFC – Boise, ID.
2) Criação de um serviço de análise e apoio à decisão (Predictive Service), constituído com
recursos humanos em permanência oriundos das várias agencias governamentais
(Autoridade Nacional de Protecção Civil, Serviços Florestais e de Gestão das Áreas
Protegidas, GNR e Instituto de Meteorologia).
Este serviço tem a sede nacional no CNOS e com 4 centros regionais de coordenação:
a.
Norte, sede Vila Real – distritos de Viana do Castelo, Braga, Porto, Vila Real e
Bragança
b. Centro, sede em Coimbra – distritos de Coimbra, Aveiro, Leiria, Viseu, Guarda e
Castelo Branco
c. Lisboa, com sede em Lisboa – distritos de Lisboa, Setúbal e Santarém
d. Sul, com sede em Faro – distritos de Évora, Beja, Faro e Portalegre
3) Criação de um curso de formação técnico-científico de “analista de incêndio florestal” (Fire
Behaviour Analist), ministrado pela Escola Nacional de Bombeiros (Centro Formação Lousã),
com apoio dos Serviços Florestais e dos especialistas universitários no domínio da DFCI.
4) Criação de 4-5 equipas profissionais especializadas no combate a incêndios florestais (hotshot crews), com 10-20 elementos cada, que além do apoio ao combate a grandes
incêndios florestais (fogo táctico e rescaldo), também prestam apoio à realização de fogo
controlado e treino de bombeiros voluntários.
5) Criação de um centro de análise de grandes incêndios florestais (lessons learnt center),
sedeado em Coimbra (ENB - Lousã), composto por 3-4 especialistas e que além dessa
valência, também presta apoio no diagnóstico de acções de emergência pós-fogo.