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O celibato sacerdotal, um caminho de
liberdade
Do 4 ao 6 de fevereiro, um congresso internacional na Pontifícia
Universidade Gregoriana em Roma
25/jan/2016 –
“O celibato sacerdotal mantém todo o seu
valor, também no nosso tempo, caracteriza-
do por uma profunda mudança de mentali-
dade e de estruturas”. Palavras que parecem
escritas hoje, mas cujo autor é o beato Paulo
VI, que as colocava antes das várias ques-
tões apresentadas no começo da encíclica
Sacerdotalis Caelibatus (n. 1-12). Palavras
que inspiraram o congresso
internacional que acontecerá
do 4 ao 6 de fevereiro de 2016
na Sala Loyola da Pontifícia
Universidade Gregoriana. Inti-
tulado “O celibato sacerdotal,
um caminho de liberdade”, o
congresso deseja investigar a
promessa celibatária como va-
lor, analisando a sua positivi-
dade como modo autentica-
mente humano de doar-se na
liberdade e a sua legitimidade
para afirmar eclesialmente o
próprio “sim” a Deus.
O primeiro dia começará com
a saudação introdutória do Reitor Magnifíco
da Gregoriana, o jesuíta Pe. François-Xavier
Dumortier, e com a apresentação do con-
gresso, organizado por mons. Tony Anatrel-
la, psiquiatra, sacerdote da diocese de París
e docente no Colégio des Bernardins. A se-
guinte conferência será do Card. Marc Ou-
ellet, Prefeito para a Congregação dos Bis-
26/JAN/2016 Edição 1681
pos, e também membro da Companhia dos
sacerdotes de São Sulpizio, cujo carisma é a
formação dos candidatos ao sacerdócio na
direção dos seminários e na atualização do
clero.
Na manhã de sexta-feira, 5 fevereiro, o tema
do congresso será abordado segundo uma
perspectiva bíblica pela Dra. Rosalba Manes
(Faculdade de Missiologia e Teologia – Gre-
goriana), analisando o dom do celibato co-
mo apresentado no Novo Testamento, e por
uma perspectiva histórica pelo Pe. Joseph
Carola, SJ (Faculdade de Teologia – Grego-
riana), que apresentará o apelo à tradição
na defesa do celibato sacerdotal por parte
do teólogo Johann Adam Mohler.
Na parte da tarde, serão realizadas em para-
lelo quatro workshop divididos por grupos
de línguas (francês, inglês, italiano). Con-
cluirá, na segunda tarde, a palestra de
mons. Tony Anatrella sobre as condições
psicológicas de um celibato feliz hoje.
O último dia, sábado 6 de fevereiro, oferece-
rá duas palestras. Mons. Joël Mercier, Se-
cretário da Congregação para o Clero, vai
oferecer uma leitura da encíclica “Sacerdo-
talis Caelibatus” do Beato Paulo VI, que
marcará o quinquagésimo aniversário no
próximo ano (1967-2017).
Em conclusão, a palestra do card. Pietro
Parolin, Secretário de Estado, intitulada “O
sacerdote ordenado „in persona Christi’”.
O caos provocado pelo mosquito
26/jan/2016 –
"O fato é que a epidemia de Dengue,
Chikungunya e Zika só irá diminuir caso
a população mude de atitude, que envolve
uma meta fácil: não permitir que haja água
parada em pneus velhos, vasos de plantas,
ralos e caixa d‟água destampada. É em meio
ao caos que a população tem que mostrar
sua força", escreve Janguiê Diniz, mestre
e doutor em Direito e Fundador e Presiden-
te do Conselho de Adminis-
tração do Grupo Ser Educaci-
onal, em artigo publicado por
EcoDebate, 25-01-2016.
Eis o artigo.
Mais de um 1,6 milhão
de casos suspeitos de
dengue foram notificados no
ano passado, segundo dados
do Ministério da Saúde. Um
crescimento de 178% em
comparação a 2014. Do total
de casos de 2015, mais de 840
pessoas morreram – 80%
mais óbitos que no ano ante-
rior. Vivemos a maior epidemia de den-
gue desde os anos 1990.
Entretanto, não só de dengue vive o Aedes
aegypti, mosquito transmissor da doença.
Ele é, também, responsável pela transmis-
são da febre Chikungunya e o vírus Zi-
ka, que ao infectar gestantes pode causar
aos bebês a má formação conhecida como
microcefalia.
Os dados são alarmantes e, mais do que a
dengue e a Chikungunya, a maior preocu-
pação tem sido com o alto índice de crianças
nascidas com microcefalia, principalmente
em Pernambuco. O Zika vírus infectou ao
menos meio milhão de brasileiros neste ano,
de acordo com a estimativa mínima do Mi-
nistério da Saúde. Considerando expectati-
vas de casos não informados, o número sobe
para 1,4 milhão de pessoas contaminadas,
segundo o Protocolo de Vigilância e Res-
posta à Microcefalia e ao Zika.
Infelizmente, em meio à crise política e
econômica, os problemas na saúde pública
se agravam com a epidemia dos vírus, lo-
tando ainda mais os hospitais e levando a
espera por atendimento a se arrastar por
muitas horas. E no meio do caos, talvez a
assertiva mais correta seja dizer que a popu-
lação é vítima do seu próprio descaso.
Hoje, o exército está nas ruas para ajudar
a combater o mosquito. 80% dos focos
de reprodução estão nas casas, que, infeliz-
mente, não conseguem ser vistoriadas pelos
agentes de saúde ou pelos soldados porque
os donos não liberam a entrada ou porque
os imóveis estão fechados.
No final de 2015, foi aprovada pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o
registro da vacina contra a dengue. A
vacina é considerada eficaz na prevenção
dos quatro tipos de dengue, no entanto, não
protege contra Chikungunya e Zika. Cla-
ro que algumas perguntas surgem diante da
notícia: por que demorou-se tantos anos
para buscar uma vacina para a dengue? A
medicação será disponibilizada pelo SUS?
E a partir de quando será possível encontrá-
la no mercado?
Ainda sobre a eficácia da vacina, um estudo
que envolveu quase 21 mil crianças e ado-
lescentes da América Latina e Caribe de-
monstrou que a vacina foi capaz de reduzir
em 60,8% o número de casos de dengue.
Em outro estudo, feito com mais de 10 mil
voluntários da Ásia, a vacina conseguiu re-
duzir em 56% o número de casos da doença.
Ou seja, não é uma solução definitiva.
O fato é que a epidemia de Dengue,
Chikungunya e Zika só irá diminuir caso
a população mude de atitude, que envolve
uma meta fácil: não permitir que haja água
parada em pneus velhos, vasos de plantas,
ralos e caixa d‟água destampada. É em meio
ao caos que a população tem que mostrar
sua força. É preciso denunciar criadouros,
entrar em imóveis fechados ou abandona-
dos e acabar, de uma vez, com o que causa
as três doenças: o mosquito.
John Henry Newman poderia ser o santo
padroeiro da relevância
26/jan/2016 –
"Poder-se-ia descrever Newman como o
'santo padroeiro da relevância' para o catoli-
cismo, em que se pode concordar ou discor-
dar das conclusões daí decorrentes, sendo
impossível porém descartá-las como relí-
quias de uma mentalidade medieval. Todo
aquele que lê Newman hoje, e muitos ain-
da o leem, reconhece nele imediatamente
um representante moderno. Não é sem que-
rer que uma de suas mais conhecidas obras
se chama 'Tratado para os tempos'", escre-
ve John L. Allen Jr., em artigo publicado
por Crux, 23-01-2016.
Eis o artigo.
A partir das décadas de 1950 e 1960, os so-
ciólogos de maneira mais ou menos unifor-
me passaram a aceitar o que ficou conheci-
do como a “tese da secularização”, ideia
segundo a qual as sociedades, na medida em
que se tornam mais modernas, inevitavel-
mente ficam menos religiosas.
Conforme apontou cinco décadas depois o
mais famoso convertido da tese da secu-
larização, Peter Berger, está claro que os
seus colegas tinham razão somente em se
tratando da Europa oriental e central – e
mesmo aí, as pessoas religiosas continua-
vam sendo uma “minoria criativa” teimosa,
para empregar a frase do Papa Bento
XVI, pessoas que simplesmente se recusa-
vam a desaparecer.
Há muitos motivos por que a religião conti-
nua a prosperar, mas no alto da lista está a
capacidade de um punhado de pensadores
religiosos influentes em fazer, para a situa-
ção contemporânea, relevantes as suas tra-
dições antigas, pondo aquelas tradições em
diálogo criativo com as questões propostas
pelos homens e mulheres modernos.
Nesse universo, poucas figuras católicas ti-
veram um impacto maior no século passado
do que o Cardeal John Henry Newman,
o convertido anglicano britânico do século
XIX cujo trajeto cuidadosamente pensado
para o catolicismo continua a inspirar e
provocar.
Poder-se-ia descrever Newman como o
“santo padroeiro da relevância” para o
catolicismo, em que se pode concordar ou
discordar das conclusões daí decorrentes,
sendo impossível porém descartá-las como
relíquias de uma mentalidade medieval.
Todo aquele que lê Newman hoje, e muitos
ainda o leem, reconhece nele imediatamente
um representante moderno. Não é sem que-
rer que uma de suas mais conhecidas obras
se chama “Tratado para os tempos”.
Tudo isso ocorre à luz de uma informação,
primeiramente dada pela revista The Ta-
blet, de que Newman pode estar a caminho
da canonização depois que a Arquidiocese
de Chicago investigou um milagre atribuído
à sua intercessão envolvendo uma mulher
com gravidez de risco. O caso agora está no
Vaticano.
Se aprovado, o milagre poderia abrir cami-
nho para o Papa Francisco declará-lo
santo.
(Curiosamente, o milagre que permi-
tiu Newman ser beatificado em 2010 tam-
bém veio dos EUA, envolvendo a cura de um
diácono em Boston com graves problemas
crônicos de coluna. Nesse sentido, poder-se-
ia dizer que os ingleses teriam de agradecer
aos Yanks caso Newman se tornar, de fato, o
primeiro santo inglês desde 1970.)
Os escritos clássicos de Newman, incluindo
“Apologia Pro Vita Sua” e “Gramática
do Assentimento”, ainda são insuperáveis
como modelos de apologética católica em
língua inglesa, quer dizer, uma defesa fun-
damentada da fé.
Um grupo claramente inspirado em New-
man é o “Catholic Voices”, projeto lança-
do para a visita do Papa Bento XVI à In-
glaterra em 2010, em que a beatificação do
religioso foi o último ato na programação do
pontífice.
O “Catholic Voices” foi tão bem-sucedido
que passou a ser uma marca mundial, um
dos programas mais buscados e eficazes pa-
ra os comunicadores católicos atualmente.
A ideia era dar um curso intensivo aos jo-
vens católicos, em sua maioria leigos e lei-
gas, sobre a linguagem midiática e questões
candentes relacionadas à Igreja, tais como
os direitos das mulheres, o matrimônio
gay, aborto e métodos contraceptivos,
e então disponibilizá-lo para publicações e
entrevistas.
Com efeito, estes católicos se tornaram a
trilha sonora da viagem de Bento. Eles es-
tiveram onipresentes na imprensa inglesa,
contrariando a impressão de que o catoli-
cismo estaria à beira da morte.
Eu já contei essa história antes, mas vale a
pena repeti-la quando se está diante da pos-
sibilidade iminente de canonização de John
Henri Newman.
Porque a crise dos abusos sexuais na Eu-
ropa havia explodido em 2009 e 2010, a
imprensa teve um enorme interesse na via-
gem de Bento. Embora tenha sido conside-
rada um sucesso, esta visita também gerou
um aumento no sentimento antipapal, na
medida em que 10 a 15 mil secularis-
tas e ateus, defensores dos direitos dos
gays, vítimas de abuso sexual e outros mar-
charam em Londres em um “Protesto ao
Papa!”.
Eu estava trabalhando para a CNN durante
esta viagem em 2010 e assim, no dia 19 de
setembro, um domingo, o último dia do pa-
pa no país, eu não pude acompanhá-lo até
Birmingham para a cerimônia de beatifica-
ção. Em vez disso, fiquei em Londres para
comentar a partir do estúdio.
Como as redes de TV não católicas geral-
mente fazem, a CNN não transmitiu a toda
a missa ao vivo, fechando os trabalhos logo
após a homilia do papa. Eu e a equipe fo-
mos a um bar ali próximo de onde estáva-
mos para comemorar uma transmissão
bem-sucedida.
Sendo domingo, havia um monte de torce-
dores de futebol à espera para assistir aos
jogos da rodada. Quando chegamos, os apa-
relhos de tevês ainda traziam as imagens
finais da missa e, no ar naquele momento,
tinham comentadores do grupo Catholic
Voices.
Eu consegui um lugar no bar, perto de uns
caras com um sotaque local forte, que, não
tendo outra coisa a fazer, se viram assistin-
do televisão, onde uma jovem católica esta-
va descrevendo o significado da fé em sua
vida cotidiana. Ela se saiu um tanto racio-
nal, engraçada e, bem, completamente
normal e sã.
Um dos jovens disse aos outros: “Ah!, na
verdade acho que os católicos não são tão
malucos assim”.
Esse, em uma palavra, é o legado em ação
de John Henry Newman.
Ao escutar Newman ou um de seus discí-
pulos do século XXI discutir a fé, podemos
ser persuadidos ou não. Mas ninguém pode-
rá classificar a sua mensagem como irrele-
vante ou anacrônica. A sua racionalidade
serena, juntamente com a clara relevância
para o mundo contemporâneo, leva as pes-
soas a apreendê-la, ao invés de ignorá-la.
Em breve, se o relato de milagre de Chica-
go sobreviver ao exame minucioso do Vati-
cano, este legado do cardeal pode ser acres-
cido com uma auréola de santo.
5
Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta
casa!’6
Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se
não, ela voltará para vós. 7
Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei
do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de
casa em casa. 8
Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos,
comei do que vos servirem, 9curai os doentes que nela houver e dizei ao
povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’”. (Lc 10, 5-9)
Eutanásia: Parlamento Europeu rejeita
medida que propunha “direito à morte”
Projeto queria facilitar no continente o intercâmbio de experiências
médicas relacionadas ao fim da vida
25/jan/2016 –
A Declaração sobre a dignidade no fim da vida, proposta por Elena Valenciano,
do Partido Socialista Obrero Español, exigia que 751 membros do Parlamento a assinas-
sem. Em três meses, foi assinada por apenas 95 membros.
A declaração solicitava ao Conselho da União Europeia que identificasse as melhores práti-
cas em vigor dentro do bloco no que diz respeito à oferta de serviços de saúde relacionados
ao fim da vida, a fim de facilitar o intercâmbio entre os países no continente. O texto da
declaração também apoiava a eutanásia, afirmando que o direito à vida também constitui
um direito à morte.
Papa: na Quaresma, sair da própria
alienação existencial
Cidade do Vaticano, 26/jan/2016 –
“A Quaresma deste Ano Jubilar é um tem-
po favorável para todos poderem, finalmen-
te, sair da própria alienação existencial,
graças à escuta da Palavra e às obras de mi-
sericórdia”: é o que afirma o Papa Francisco
na Mensagem para a Quaresma 2016, di-
vulgada na terça-feira (26/01).
"'Prefiro a misericórdia ao sacrifício” (Mt 9,
13). As obras de misericórdia no caminho
jubilar" é o tema da Mensagem do Pontífice.
No texto, Francisco destaca que a miseri-
córdia de Deus transforma o coração
do homem, tornando-o assim, por sua
vez, capaz de misericórdia.
Estas obras, ressalta o Papa, nos recordam
que a nossa fé se traduz em atos con-
cretos e quotidianos, destinados a aju-
dar o próximo no corpo e no espírito e sobre
os quais havemos de ser julgados: alimentá-
lo, visitá-lo, confortá-lo, educá-lo.
“Será uma maneira de acordar a nossa
consciência, muitas vezes adormecida pe-
rante o drama da pobreza, e de entrar cada
vez mais no coração do Evangelho, onde os
pobres são os privilegiados da misericórdia
divina”, escreve o Pontífice, citando a Bula
de convocação do Jubileu.
Todavia, adverte o Papa, o pobre mais
miserável é aquele que não aceita re-
conhecer-se como tal. “Pensa que é rico,
mas na realidade é o mais pobre dos pobres.
E quanto maior for o poder e a riqueza à sua
disposição, tanto maior pode tornar-se esta
cegueira mentirosa. E esta cegueira está
acompanhada por um soberbo delírio de
omnipotência.”
Este delírio, prossegue Francisco, “pode
assumir também formas sociais e políticas,
como mostraram
os totalitarismos
do século XX e
mostram hoje as
ideologias do
pensamento úni-
co e da tecnoci-
ência que preten-
dem tornar Deus
irrelevante e re-
duzir o homem a
massa possível de
instrumentalizar.
E podem atual-
mente mostrá-lo
também as estru-
turas de pecado
ligadas a um mo-
delo de falso de-
senvolvimento
fundado na idolatria do dinheiro, que torna
indiferentes ao destino dos pobres as pes-
soas e as sociedades mais ricas, que lhes
fecham as portas recusando-se até mesmo a
vê-los”.
Portanto, exorta o Papa, a Quaresma des-
te Ano Jubilar é um tempo favorável
para todos poderem, finalmente, sair
da própria alienação existencial, gra-
ças à escuta da Palavra e às obras de miseri-
córdia.
E explica: “Se por meio das obras corporais,
tocamos a carne de Cristo nos irmãos e ir-
mãs necessitados de ser nutridos, vestidos,
alojados, visitados, as obras espirituais to-
cam mais diretamente o nosso ser de peca-
dores: aconselhar, ensinar, perdoar, admo-
estar, rezar”.
Para Francisco, estas obras nunca podem
ser separadas, pois é precisamente tocando
a carne de Jesus crucificado no miserável
que o pecador pode receber a consciência de
ser ele próprio um pobre mendigo. “Não
percamos este tempo de Quaresma favorá-
vel à conversão!”, é o convite final do Santo
Padre.
(BF)
Mensagem do Papa para a
Quaresma 2016
Cidade do Vaticano, 26/jan/2016 –
Leia na íntegra a mensagem do Papa
Francisco para a Quaresma 2016:
«“Prefiro a misericórdia ao sacrifício” (Mt 9,
13). As obras de misericórdia no caminho
jubilar»
1. Maria, ícone duma Igreja que evan-
geliza porque evangelizada
Na Bula de proclamação do Jubileu, fiz o
convite para que «a Quaresma deste Ano
Jubilar seja vivida mais intensamente como
tempo forte para celebrar e experimentar a
misericórdia de Deus» (Misericordiӕ Vul-
tus, 17). Com o apelo à escuta da Palavra de
Deus e à iniciativa «24 horas para o Se-
nhor», quis sublinhar a primazia da escuta
orante da Palavra, especialmente a palavra
profética. Com efeito, a misericórdia de
Deus é um anúncio ao mundo; mas cada
cristão é chamado a fazer pessoalmente ex-
periência de tal anúncio. Por isso, no tempo
da Quaresma, enviarei os Missionários da
Misericórdia a fim de serem, para todos, um
sinal concreto da proximidade e do perdão
de Deus.
Maria, por ter acolhido a Boa Notícia que
Lhe fora dada pelo arcanjo Gabriel, canta
profeticamente, no Magnificat, a misericór-
dia com que Deus A predestinou. Deste mo-
do a Virgem de Nazaré, prometida esposa
de José, torna-se o ícone perfeito da Igreja
que evangeliza porque foi e continua a ser
evangelizada por obra do Espírito Santo,
que fecundou o seu ventre virginal. Com
efeito, na tradição profética, a misericórdia
aparece estreitamente ligada – mesmo eti-
mologicamente – com as vísceras maternas
(rahamim) e com uma bondade generosa,
fiel e compassiva (hesed) que se vive no âm-
bito das relações conjugais e parentais.
2. A aliança de Deus com os homens:
uma história de misericórdia
O mistério da misericórdia divina desvenda-
se no decurso da história da aliança entre
Deus e o seu povo Israel. Na realidade, Deus
mostra-Se sempre rico de misericórdia,
pronto em qualquer circunstância a derra-
mar sobre o seu povo uma ternura e uma
compaixão viscerais, sobretudo nos momen-
tos mais dramáticos quando a infidelidade
quebra o vínculo do Pacto e se requer que a
aliança seja ratificada de maneira mais está-
vel na justiça e na verdade. Encontramo-nos
aqui perante um verdadeiro e próprio dra-
ma de amor, no qual Deus desempenha o
papel de pai e marido traído, enquanto Isra-
el desempenha o de filho/filha e esposa infi-
éis. São precisamente as imagens familiares
– como no caso de Oseias (cf. Os 1-2) – que
melhor exprimem até que ponto Deus quer
ligar-Se ao seu povo.
Este drama de amor alcança o seu ápice no
Filho feito homem. N‟Ele, Deus derrama a
sua misericórdia sem limites até ao ponto de
fazer d‟Ele a Misericórdia encarnada (cf.
Misericordiӕ Vultus, 8). Na realidade, Jesus
de Nazaré enquanto homem é, para todos os
efeitos, filho de Israel. E é-o ao ponto de
encarnar aquela escuta perfeita de Deus que
se exige a cada judeu pelo Shemà, fulcro
ainda hoje da aliança de Deus com Israel:
«Escuta, Israel! O Senhor é nosso Deus; o
Senhor é único! Amarás o Senhor, teu Deus,
com todo o teu coração, com toda a tua alma
e com todas as tuas forças» (Dt 6, 4-5). O
Filho de Deus é o Esposo que tudo faz para
ganhar o amor da sua Esposa, à qual O liga
o seu amor incondicional que se torna visí-
vel nas núpcias eternas com ela.
Este é o coração pulsante do querigma apos-
tólico, no qual ocupa um lugar central e
fundamental a misericórdia divina. Nele
sobressai «a beleza do amor salvífico de
Deus manifestado em Jesus Cristo morto e
ressuscitado» (Evangelii gaudium, 36),
aquele primeiro anúncio que «sempre se
tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras
e aquele que sempre se tem de voltar a
anunciar, duma forma ou doutra, durante a
catequese» (Ibid., 164). Então a Misericór-
dia «exprime o comportamento de Deus
para com o pecador, oferecendo-lhe uma
nova possibilidade de se arrepender, con-
verter e acreditar» (Misericordiӕ Vultus,
21), restabelecendo precisamente assim a
relação com Ele. E, em Jesus crucificado,
Deus chega ao ponto de querer alcançar o
pecador no seu afastamento mais extremo,
precisamente lá onde ele se perdeu e afastou
d'Ele. E faz isto na esperança de assim po-
der finalmente comover o coração endure-
cido da sua Esposa.
3. As obras de misericórdia
A misericórdia de Deus transforma o cora-
ção do homem e faz-lhe experimentar um
amor fiel, tornando-o assim, por sua vez,
capaz de misericórdia. É um milagre sempre
novo que a misericórdia divina possa irradi-
ar-se na vida de cada um de nós, estimulan-
do-nos ao amor do próximo e animando
aquilo que a tradição da Igreja chama as
obras de misericórdia corporal e espiritual.
Estas recordam-nos que a nossa fé se traduz
em atos concretos e quotidianos, destinados
a ajudar o nosso próximo no corpo e no es-
pírito e sobre os quais havemos de ser jul-
gados: alimentá-lo, visitá-lo, confortá-lo,
educá-lo. Por isso, expressei o desejo de que
«o povo cristão reflita, durante o Jubileu,
sobre as obras de misericórdia corporal e
espiritual. Será uma maneira de acordar a
nossa consciência, muitas vezes adormecida
perante o drama da pobreza, e de entrar
cada vez mais no coração do Evangelho, on-
de os pobres são os privilegiados da miseri-
córdia divina» (Ibid., 15). Realmente, no
pobre, a carne de Cristo «torna-se de novo
visível como corpo martirizado, chagado,
flagelado, desnutrido, em fuga... a fim de ser
reconhecido, tocado e assistido cuidadosa-
mente por nós» (Ibid., 15). É o mistério
inaudito e escandaloso do prolongamento
na história do sofrimento do Cordeiro Ino-
cente, sarça ardente de amor gratuito na
presença da qual podemos apenas, como
Moisés, tirar as sandálias (cf. Ex 3, 5); e
mais ainda, quando o pobre é o irmão ou a
irmã em Cristo que sofre por causa da sua
fé.
Diante deste amor forte como a morte (cf.
Ct 8, 6), fica patente como o pobre mais mi-
serável seja aquele que não aceita reconhe-
cer-se como tal. Pensa que é rico, mas na
realidade é o mais pobre dos pobres. E isto
porque é escravo do pecado, que o leva a
utilizar riqueza e poder, não para servir a
Deus e aos outros, mas para sufocar em si
mesmo a consciência profunda de ser, ele
também, nada mais que um pobre mendigo.
E quanto maior for o poder e a riqueza à sua
disposição, tanto maior pode tornar-se esta
cegueira mentirosa. Chega ao ponto de não
querer ver sequer o pobre Lázaro que men-
diga à porta da sua casa (cf. Lc 16, 20-21),
sendo este figura de Cristo que, nos pobres,
mendiga a nossa conversão. Lázaro é a pos-
sibilidade de conversão que Deus nos ofere-
ce e talvez não vejamos. E esta cegueira está
acompanhada por um soberbo delírio de
onipotência, no qual ressoa sinistramente
aquele demoníaco «sereis como Deus» (Gn
3, 5) que é a raiz de qualquer pecado. Tal
delírio pode assumir também formas sociais
e políticas, como mostraram os totalitaris-
mos do século XX e mostram hoje as ideo-
logias do pensamento único e da tecnociên-
cia que pretendem tornar Deus irrelevante e
reduzir o homem a massa possível de ins-
trumentalizar. E podem atualmente mostrá-
lo também as estruturas de pecado ligadas a
um modelo de falso desenvolvimento fun-
dado na idolatria do dinheiro, que torna
indiferentes ao destino dos pobres as pesso-
as e as sociedades mais ricas, que lhes fe-
cham as portas recusando-se até mesmo a
vê-los.
Portanto a Quaresma deste Ano Jubilar é
um tempo favorável para todos poderem,
finalmente, sair da própria alienação exis-
tencial, graças à escuta da Palavra e às obras
de misericórdia. Se, por meio das obras cor-
porais, tocamos a carne de Cristo nos ir-
mãos e irmãs necessitados de ser nutridos,
vestidos, alojados, visitados, as obras espiri-
tuais tocam mais diretamente o nosso ser de
pecadores: aconselhar, ensinar, perdoar,
admoestar, rezar. Por isso, as obras corpo-
rais e as espirituais nunca devem ser sepa-
radas. Com efeito, é precisamente tocando,
no miserável, a carne de Jesus crucificado
que o pecador pode receber, em dom, a
consciência de ser ele próprio um pobre
mendigo. Por esta estrada, também os «so-
berbos», os «poderosos» e os «ricos», de
que fala o Magnificat, têm a possibilidade de
aperceber-se que são, imerecidamente,
amados pelo Crucificado, morto e ressusci-
tado também por eles. Somente neste amor
temos a resposta àquela sede de felicidade e
amor infinitos que o homem se ilude de po-
der colmar mediante os ídolos do saber, do
poder e do possuir. Mas permanece sempre
o perigo de que os soberbos, os ricos e os
poderosos – por causa de um fechamento
cada vez mais hermético a Cristo, que, no
pobre, continua a bater à porta do seu cora-
ção – acabem por se condenar precipitando-
se eles mesmos naquele abismo eterno de
solidão que é o inferno. Por isso, eis que res-
soam de novo para eles, como para todos
nós, as palavras veementes de Abraão:
«Têm Moisés e o Profetas; que os ouçam!»
(Lc 16, 29). Esta escuta ativa preparar-nos-á
da melhor maneira para festejar a vitória
definitiva sobre o pecado e a morte conquis-
tada pelo Esposo já ressuscitado, que deseja
purificar a sua prometida Esposa, na expec-
tativa da sua vinda.
Não percamos este tempo de Quaresma fa-
vorável à conversão! Pedimo-lo pela inter-
cessão materna da Virgem Maria, a primeira
que, diante da grandeza da misericórdia
divina que Lhe foi concedida gratuitamente,
reconheceu a sua pequenez (cf. Lc 1, 48),
confessando-Se a humilde serva do Senhor
(cf. Lc 1, 38).
Vaticano, 4 de Outubro de 2015
Festa de S. Francisco de Assis
[Franciscus]
A morte das ciências humanas
vai matar também as exatas
É crucial reconhecer que as descobertas nascem da curiosidade
26/jan/2016 – James Banks –
A ciência está matando as humanidades: eu
não sou o primeiro a afirmar isto, nem serei
o último. Os líderes norte-americanos estão
apressando essa morte, seja por causa das
suas prioridades, seja por causa das suas
opções políticas. Enquanto muitos estudio-
sos provavelmente vão lamentar o fim das
humanidades, outros já começaram a acei-
tar estoicamente a ideia de que não vale a
pena tentar salvar as ciências humanas.
John Ellis escreve sobre este declínio:
“Os cursos que oferecem uma visão geral
das realizações da cultura ocidental foram
abolidos em quase todos os lugares; os cur-
sos obrigatórios sobre a história e sobre as
instituições desta nação também foram
deixados de lado e até as faculdades de lite-
ratura deixaram de exigir Shakespeare
como parte essencial da literatura inglesa.
Mesmo quando cursos anteriormente obri-
gatórios ainda são oferecidos como opcio-
nais, costuma-se apresentá-los a partir de
uma perspectiva preconceituosa do nosso
passado cultural, o que tende a desencora-
jar estudos mais aprofundados”.
Ellis identifica uma tendência real, embora
não muito inteligível: ler Shakespeare pode
até deixar de ser exigido, mas quem se for-
mar em literatura inglesa sem ter lido Sha-
kespeare deverá ter realizado uma tarefa
hercúlea para se desviar de Hamlet, Otelo
ou Macbeth.
No entanto, mes-
mo que as faculda-
des de ciências
humanas, em seu
estado atual, não
desapareçam, Ellis
não responde se as
ciências humanas,
tais como devem
ser ensinadas, ain-
da valem a pena.
Ele pode não ter
uma resposta, mas
eu gostaria de de-
clarar um sonoro
“sim”. Hoje nós
podemos assistir
às ciências matando as humanidades, mas
amanhã vamos perceber que a morte das
humanidades vai matar também as ciências.
Alguns anos atrás, em uma conferência so-
bre a chamada “educação STEM” (ciência,
tecnologia, engenharia e matemática, na
sigla em inglês), especialistas dentre os mais
importante dos EUA se reuniram para la-
mentar que estávamos todos “condenados”,
porque “não havia alunos suficientes inte-
ressados em ciências”. Alguns dos pales-
trantes tinham credenciais impressionantes:
um dos oradores era Dean Kamen, o inven-
tor do Segway; outro era Bill Nye, o “Science
Guy”.
Eu participei de grupos de discussões espe-
cíficas naquele evento e tive a sensação de
que os professores de ciências nos EUA es-
tavam estranhamente desconectados da
maneira como as pessoas vivem e pensam.
A maioria das recomendações que eles tra-
ziam soava banal: “Precisamos mudar a
imagem cultural que as pessoas têm do ci-
entista nerd”, repetiam.
Mas, de forma mais ampla, o problema com
esses eventos é o seu objetivo, que, basica-
mente, é o de ajudar a encontrar substitutos
para os atuais trabalhadores dos ramos de
exatas. Enquanto eles se lamentavam por-
que “os jovens norte-americanos não estão
interessados nos trabalhos científicos que
nós temos para eles”, eu não podia deixar de
me lembrar de uma passagem do livro “Co-
ração das Trevas”, de Joseph Conrad, para a
qual William Deresiewicz tinha chamado a
minha atenção em certa ocasião:
“Ele estava empregado nisso desde a moci-
dade. Era obedecido, mas não inspirava
nem amor, nem medo; nem mesmo respei-
to. Ele inspirava mal-estar. Isso, apenas
mal-estar. Não era uma desconfiança defi-
nida; apenas mal-estar, nada mais. Você
não tem ideia do quanto pode ser eficaz
uma… uma… capacidade desse tipo. Ele
não tinha nenhum grande talento para or-
ganizar, nem para tomar a iniciativa, nem
sequer para comandar… Ele não tinha ne-
nhum conhecimento, nem inteligência. Seu
cargo tinha chegado até ele. Por quê? Ele
não originava nada, ele apenas mantinha a
rotina; só isso. Mas ele impressionava. Ele
impressionava graças a essa pequena coi-
sa, essa impossibilidade dizer o que contro-
lava um homem daqueles. Ele nunca reve-
lou esse segredo”.
Como Deresiewicz aponta, esta é a descrição
perfeita da burocracia: ela está cheia de gen-
te que mantém o status quo, mas não de
gente que define qual é o status quo. Isso
não quer dizer que as pessoas presentes na
conferência fossem todas burocratas; algu-
mas delas eram empreendedoras, realiza-
das; e tinham que ser, para terem chegado
até a posição que ocupavam. Mas elas que-
riam, essencialmente, treinar a próxima ge-
ração para ocupar papéis precisos e para ter
o preciso conhecimento que elas próprias
tinham.
Não é assim que o mundo funciona. Os pro-
blemas de amanhã são sempre diferentes
dos problemas de hoje. As soluções que fun-
cionam hoje não vão responder a todas as
questões que surgirão na próxima década.
Adaptar-se ao amanhã só é possível a partir
do próprio ato de se viver em sociedade. E
isto é assim porque aquele adágio surrado
que diz que “a necessidade é a mãe da in-
venção” é pura verdade: quanto mais as
pessoas precisarem (ou pensarem que pre-
cisam), mais elas vão inventar.
Há uma abundância de sociedades que têm
ou tiveram sistemas educacionais dedicados
quase exclusivamente à formação de estu-
dantes de ciências e de engenharia. A China
faz isso hoje, assim como a União Soviética
o fez em seu tempo. Mas, apesar de estar na
moda declamar que a escassez de habilida-
des em matemática e ciências põe o nosso
futuro em risco, este medo não se mostrou
matematicamente verdadeiro no passado. O
Japão é bem posicionado nos rankings de
desempenho acadêmico, mas o seu desem-
penho econômico não tem refletido este su-
cesso.
Educadores e tecnocratas acreditam, erro-
neamente, que já sabemos ou já pensamos
em tudo de que precisamos para o próximo
boom econômico ou para a próxima revolu-
ção científica. Tudo seria apenas questão de
dar à próxima geração as respostas que nós
já temos. Acontece, porém, que é menos
importante treinar as pessoas para chega-
rem à próxima fronteira do que educá-las
para discernirem quais são as fronteiras que
vale a pena cruzar. Teoricamente, é para
isso que existe a educação nas artes liberais.
Na prática, isso nem sempre é verdade: as
faculdades de humanas tenderam de tal
forma ao pensamento de grupo na geração
passada que provavelmente não melhora-
ram as habilidades de pensamento crítico
dos alunos nem a sua criatividade.
Mesmo que as artes liberais já não sirvam
ao seu propósito tradicional, no entanto,
isso não significa que esse objetivo não seja
valioso. O valor principal de uma educação
em artes liberais é que ela incentiva o deba-
te e a discordância. Diferentemente da ma-
temática, é raro que haja nas artes liberais
uma resposta claramente correta. Algumas
declarações sobre arte ou literatura são mais
verdadeiras do que outras, mas nunca há
uma perspectiva que possa servir indefini-
damente. Isto ocorre porque o “melhor que
já foi pensado e dito” foi mudando ao longo
do tempo; mais ainda: o mundo foi mudan-
do. O “Édipo Rei”, de Sófocles, ou o “Fran-
kenstein”, de Mary Shelley, não podem nos
dizer definitivamente o que devemos pensar
sobre o cientificismo ou sobre o pós-
humanismo, mas nos forçam a enfrentar os
cantos mais escuros do iluminismo para os
quais relutamos em voltar os olhos.
As ciências humanas, entretanto, podem
fazer mais do que nos ajudar a entender o
que não deveríamos estar fazendo: elas po-
dem nos ajudar a contemplar o que deverí-
amos fazer. Podemos estar bem longe do
mundo clássico que separava as artes libe-
rais (artes liberales) das artes técnicas (artes
serviles), mas as artes liberais ainda são in-
dispensáveis porque fomentam a curiosida-
de intelectual e o desejo de aprender pelo
prazer de aprender. As ciências também
podem fazer isso: alguns cientistas atingem
marcos importantes mesmo sem a capaci-
dade de pensar criativamente. Mas os pro-
fessores de ciências nem sempre entendem
as implicações do campo em que querem
educar: se eles acreditam que podem forne-
cer toda a educação de que as pessoas preci-
sam para o futuro, eles já falharam. As idei-
as não são um instrumento para o futuro,
mas são, em si mesmas, objetivos dignos de
busca.
As iniciativas educacionais geralmente fo-
cam no currículo, mas promover a curiosi-
dade intelectual não é algo facilmente des-
critível num currículo. Essa tarefa depende
da cultura da escola e dos valores dos alunos
e dos instrutores. De qualquer forma, ne-
nhum educador deveria começar a elaborar
uma política educacional sem reconhecer
que a próxima revolução tecnológica não
virá de pessoas que sempre têm a resposta
certa, mas de pessoas cuja aprendizagem as
dotou de curiosidade intelectual suficiente
para se sentirem à vontade mesmo quando
obtêm a resposta errada.

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O celibato sacerdotal, um caminho de liberdade

  • 1. O celibato sacerdotal, um caminho de liberdade Do 4 ao 6 de fevereiro, um congresso internacional na Pontifícia Universidade Gregoriana em Roma 25/jan/2016 – “O celibato sacerdotal mantém todo o seu valor, também no nosso tempo, caracteriza- do por uma profunda mudança de mentali- dade e de estruturas”. Palavras que parecem escritas hoje, mas cujo autor é o beato Paulo VI, que as colocava antes das várias ques- tões apresentadas no começo da encíclica Sacerdotalis Caelibatus (n. 1-12). Palavras que inspiraram o congresso internacional que acontecerá do 4 ao 6 de fevereiro de 2016 na Sala Loyola da Pontifícia Universidade Gregoriana. Inti- tulado “O celibato sacerdotal, um caminho de liberdade”, o congresso deseja investigar a promessa celibatária como va- lor, analisando a sua positivi- dade como modo autentica- mente humano de doar-se na liberdade e a sua legitimidade para afirmar eclesialmente o próprio “sim” a Deus. O primeiro dia começará com a saudação introdutória do Reitor Magnifíco da Gregoriana, o jesuíta Pe. François-Xavier Dumortier, e com a apresentação do con- gresso, organizado por mons. Tony Anatrel- la, psiquiatra, sacerdote da diocese de París e docente no Colégio des Bernardins. A se- guinte conferência será do Card. Marc Ou- ellet, Prefeito para a Congregação dos Bis- 26/JAN/2016 Edição 1681
  • 2. pos, e também membro da Companhia dos sacerdotes de São Sulpizio, cujo carisma é a formação dos candidatos ao sacerdócio na direção dos seminários e na atualização do clero. Na manhã de sexta-feira, 5 fevereiro, o tema do congresso será abordado segundo uma perspectiva bíblica pela Dra. Rosalba Manes (Faculdade de Missiologia e Teologia – Gre- goriana), analisando o dom do celibato co- mo apresentado no Novo Testamento, e por uma perspectiva histórica pelo Pe. Joseph Carola, SJ (Faculdade de Teologia – Grego- riana), que apresentará o apelo à tradição na defesa do celibato sacerdotal por parte do teólogo Johann Adam Mohler. Na parte da tarde, serão realizadas em para- lelo quatro workshop divididos por grupos de línguas (francês, inglês, italiano). Con- cluirá, na segunda tarde, a palestra de mons. Tony Anatrella sobre as condições psicológicas de um celibato feliz hoje. O último dia, sábado 6 de fevereiro, oferece- rá duas palestras. Mons. Joël Mercier, Se- cretário da Congregação para o Clero, vai oferecer uma leitura da encíclica “Sacerdo- talis Caelibatus” do Beato Paulo VI, que marcará o quinquagésimo aniversário no próximo ano (1967-2017). Em conclusão, a palestra do card. Pietro Parolin, Secretário de Estado, intitulada “O sacerdote ordenado „in persona Christi’”. O caos provocado pelo mosquito 26/jan/2016 – "O fato é que a epidemia de Dengue, Chikungunya e Zika só irá diminuir caso a população mude de atitude, que envolve uma meta fácil: não permitir que haja água parada em pneus velhos, vasos de plantas, ralos e caixa d‟água destampada. É em meio ao caos que a população tem que mostrar sua força", escreve Janguiê Diniz, mestre e doutor em Direito e Fundador e Presiden- te do Conselho de Adminis- tração do Grupo Ser Educaci- onal, em artigo publicado por EcoDebate, 25-01-2016. Eis o artigo. Mais de um 1,6 milhão de casos suspeitos de dengue foram notificados no ano passado, segundo dados do Ministério da Saúde. Um crescimento de 178% em comparação a 2014. Do total de casos de 2015, mais de 840 pessoas morreram – 80% mais óbitos que no ano ante- rior. Vivemos a maior epidemia de den- gue desde os anos 1990. Entretanto, não só de dengue vive o Aedes aegypti, mosquito transmissor da doença. Ele é, também, responsável pela transmis- são da febre Chikungunya e o vírus Zi- ka, que ao infectar gestantes pode causar aos bebês a má formação conhecida como microcefalia.
  • 3. Os dados são alarmantes e, mais do que a dengue e a Chikungunya, a maior preocu- pação tem sido com o alto índice de crianças nascidas com microcefalia, principalmente em Pernambuco. O Zika vírus infectou ao menos meio milhão de brasileiros neste ano, de acordo com a estimativa mínima do Mi- nistério da Saúde. Considerando expectati- vas de casos não informados, o número sobe para 1,4 milhão de pessoas contaminadas, segundo o Protocolo de Vigilância e Res- posta à Microcefalia e ao Zika. Infelizmente, em meio à crise política e econômica, os problemas na saúde pública se agravam com a epidemia dos vírus, lo- tando ainda mais os hospitais e levando a espera por atendimento a se arrastar por muitas horas. E no meio do caos, talvez a assertiva mais correta seja dizer que a popu- lação é vítima do seu próprio descaso. Hoje, o exército está nas ruas para ajudar a combater o mosquito. 80% dos focos de reprodução estão nas casas, que, infeliz- mente, não conseguem ser vistoriadas pelos agentes de saúde ou pelos soldados porque os donos não liberam a entrada ou porque os imóveis estão fechados. No final de 2015, foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o registro da vacina contra a dengue. A vacina é considerada eficaz na prevenção dos quatro tipos de dengue, no entanto, não protege contra Chikungunya e Zika. Cla- ro que algumas perguntas surgem diante da notícia: por que demorou-se tantos anos para buscar uma vacina para a dengue? A medicação será disponibilizada pelo SUS? E a partir de quando será possível encontrá- la no mercado? Ainda sobre a eficácia da vacina, um estudo que envolveu quase 21 mil crianças e ado- lescentes da América Latina e Caribe de- monstrou que a vacina foi capaz de reduzir em 60,8% o número de casos de dengue. Em outro estudo, feito com mais de 10 mil voluntários da Ásia, a vacina conseguiu re- duzir em 56% o número de casos da doença. Ou seja, não é uma solução definitiva. O fato é que a epidemia de Dengue, Chikungunya e Zika só irá diminuir caso a população mude de atitude, que envolve uma meta fácil: não permitir que haja água parada em pneus velhos, vasos de plantas, ralos e caixa d‟água destampada. É em meio ao caos que a população tem que mostrar sua força. É preciso denunciar criadouros, entrar em imóveis fechados ou abandona- dos e acabar, de uma vez, com o que causa as três doenças: o mosquito. John Henry Newman poderia ser o santo padroeiro da relevância 26/jan/2016 – "Poder-se-ia descrever Newman como o 'santo padroeiro da relevância' para o catoli- cismo, em que se pode concordar ou discor- dar das conclusões daí decorrentes, sendo impossível porém descartá-las como relí- quias de uma mentalidade medieval. Todo aquele que lê Newman hoje, e muitos ain- da o leem, reconhece nele imediatamente um representante moderno. Não é sem que- rer que uma de suas mais conhecidas obras se chama 'Tratado para os tempos'", escre- ve John L. Allen Jr., em artigo publicado por Crux, 23-01-2016. Eis o artigo.
  • 4. A partir das décadas de 1950 e 1960, os so- ciólogos de maneira mais ou menos unifor- me passaram a aceitar o que ficou conheci- do como a “tese da secularização”, ideia segundo a qual as sociedades, na medida em que se tornam mais modernas, inevitavel- mente ficam menos religiosas. Conforme apontou cinco décadas depois o mais famoso convertido da tese da secu- larização, Peter Berger, está claro que os seus colegas tinham razão somente em se tratando da Europa oriental e central – e mesmo aí, as pessoas religiosas continua- vam sendo uma “minoria criativa” teimosa, para empregar a frase do Papa Bento XVI, pessoas que simplesmente se recusa- vam a desaparecer. Há muitos motivos por que a religião conti- nua a prosperar, mas no alto da lista está a capacidade de um punhado de pensadores religiosos influentes em fazer, para a situa- ção contemporânea, relevantes as suas tra- dições antigas, pondo aquelas tradições em diálogo criativo com as questões propostas pelos homens e mulheres modernos. Nesse universo, poucas figuras católicas ti- veram um impacto maior no século passado do que o Cardeal John Henry Newman, o convertido anglicano britânico do século XIX cujo trajeto cuidadosamente pensado para o catolicismo continua a inspirar e provocar. Poder-se-ia descrever Newman como o “santo padroeiro da relevância” para o catolicismo, em que se pode concordar ou discordar das conclusões daí decorrentes, sendo impossível porém descartá-las como relíquias de uma mentalidade medieval. Todo aquele que lê Newman hoje, e muitos ainda o leem, reconhece nele imediatamente um representante moderno. Não é sem que- rer que uma de suas mais conhecidas obras se chama “Tratado para os tempos”. Tudo isso ocorre à luz de uma informação, primeiramente dada pela revista The Ta- blet, de que Newman pode estar a caminho da canonização depois que a Arquidiocese de Chicago investigou um milagre atribuído à sua intercessão envolvendo uma mulher com gravidez de risco. O caso agora está no Vaticano. Se aprovado, o milagre poderia abrir cami- nho para o Papa Francisco declará-lo santo. (Curiosamente, o milagre que permi- tiu Newman ser beatificado em 2010 tam- bém veio dos EUA, envolvendo a cura de um diácono em Boston com graves problemas crônicos de coluna. Nesse sentido, poder-se- ia dizer que os ingleses teriam de agradecer aos Yanks caso Newman se tornar, de fato, o primeiro santo inglês desde 1970.) Os escritos clássicos de Newman, incluindo “Apologia Pro Vita Sua” e “Gramática do Assentimento”, ainda são insuperáveis como modelos de apologética católica em língua inglesa, quer dizer, uma defesa fun- damentada da fé. Um grupo claramente inspirado em New- man é o “Catholic Voices”, projeto lança- do para a visita do Papa Bento XVI à In- glaterra em 2010, em que a beatificação do religioso foi o último ato na programação do pontífice. O “Catholic Voices” foi tão bem-sucedido que passou a ser uma marca mundial, um dos programas mais buscados e eficazes pa- ra os comunicadores católicos atualmente.
  • 5. A ideia era dar um curso intensivo aos jo- vens católicos, em sua maioria leigos e lei- gas, sobre a linguagem midiática e questões candentes relacionadas à Igreja, tais como os direitos das mulheres, o matrimônio gay, aborto e métodos contraceptivos, e então disponibilizá-lo para publicações e entrevistas. Com efeito, estes católicos se tornaram a trilha sonora da viagem de Bento. Eles es- tiveram onipresentes na imprensa inglesa, contrariando a impressão de que o catoli- cismo estaria à beira da morte. Eu já contei essa história antes, mas vale a pena repeti-la quando se está diante da pos- sibilidade iminente de canonização de John Henri Newman. Porque a crise dos abusos sexuais na Eu- ropa havia explodido em 2009 e 2010, a imprensa teve um enorme interesse na via- gem de Bento. Embora tenha sido conside- rada um sucesso, esta visita também gerou um aumento no sentimento antipapal, na medida em que 10 a 15 mil secularis- tas e ateus, defensores dos direitos dos gays, vítimas de abuso sexual e outros mar- charam em Londres em um “Protesto ao Papa!”. Eu estava trabalhando para a CNN durante esta viagem em 2010 e assim, no dia 19 de setembro, um domingo, o último dia do pa- pa no país, eu não pude acompanhá-lo até Birmingham para a cerimônia de beatifica- ção. Em vez disso, fiquei em Londres para comentar a partir do estúdio. Como as redes de TV não católicas geral- mente fazem, a CNN não transmitiu a toda a missa ao vivo, fechando os trabalhos logo após a homilia do papa. Eu e a equipe fo- mos a um bar ali próximo de onde estáva- mos para comemorar uma transmissão bem-sucedida. Sendo domingo, havia um monte de torce- dores de futebol à espera para assistir aos jogos da rodada. Quando chegamos, os apa- relhos de tevês ainda traziam as imagens finais da missa e, no ar naquele momento, tinham comentadores do grupo Catholic Voices. Eu consegui um lugar no bar, perto de uns caras com um sotaque local forte, que, não tendo outra coisa a fazer, se viram assistin- do televisão, onde uma jovem católica esta- va descrevendo o significado da fé em sua vida cotidiana. Ela se saiu um tanto racio- nal, engraçada e, bem, completamente normal e sã. Um dos jovens disse aos outros: “Ah!, na verdade acho que os católicos não são tão malucos assim”. Esse, em uma palavra, é o legado em ação de John Henry Newman. Ao escutar Newman ou um de seus discí- pulos do século XXI discutir a fé, podemos ser persuadidos ou não. Mas ninguém pode- rá classificar a sua mensagem como irrele- vante ou anacrônica. A sua racionalidade serena, juntamente com a clara relevância para o mundo contemporâneo, leva as pes- soas a apreendê-la, ao invés de ignorá-la. Em breve, se o relato de milagre de Chica- go sobreviver ao exame minucioso do Vati- cano, este legado do cardeal pode ser acres- cido com uma auréola de santo. 5 Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’6 Se ali morar um amigo da paz, a vossa paz repousará sobre ele; se não, ela voltará para vós. 7 Permanecei naquela mesma casa, comei e bebei do que tiverem, porque o trabalhador merece o seu salário. Não passeis de casa em casa. 8 Quando entrardes numa cidade e fordes bem recebidos, comei do que vos servirem, 9curai os doentes que nela houver e dizei ao povo: ‘O Reino de Deus está próximo de vós’”. (Lc 10, 5-9)
  • 6. Eutanásia: Parlamento Europeu rejeita medida que propunha “direito à morte” Projeto queria facilitar no continente o intercâmbio de experiências médicas relacionadas ao fim da vida 25/jan/2016 – A Declaração sobre a dignidade no fim da vida, proposta por Elena Valenciano, do Partido Socialista Obrero Español, exigia que 751 membros do Parlamento a assinas- sem. Em três meses, foi assinada por apenas 95 membros. A declaração solicitava ao Conselho da União Europeia que identificasse as melhores práti- cas em vigor dentro do bloco no que diz respeito à oferta de serviços de saúde relacionados ao fim da vida, a fim de facilitar o intercâmbio entre os países no continente. O texto da declaração também apoiava a eutanásia, afirmando que o direito à vida também constitui um direito à morte. Papa: na Quaresma, sair da própria alienação existencial Cidade do Vaticano, 26/jan/2016 – “A Quaresma deste Ano Jubilar é um tem- po favorável para todos poderem, finalmen- te, sair da própria alienação existencial, graças à escuta da Palavra e às obras de mi- sericórdia”: é o que afirma o Papa Francisco na Mensagem para a Quaresma 2016, di- vulgada na terça-feira (26/01). "'Prefiro a misericórdia ao sacrifício” (Mt 9, 13). As obras de misericórdia no caminho jubilar" é o tema da Mensagem do Pontífice. No texto, Francisco destaca que a miseri-
  • 7. córdia de Deus transforma o coração do homem, tornando-o assim, por sua vez, capaz de misericórdia. Estas obras, ressalta o Papa, nos recordam que a nossa fé se traduz em atos con- cretos e quotidianos, destinados a aju- dar o próximo no corpo e no espírito e sobre os quais havemos de ser julgados: alimentá- lo, visitá-lo, confortá-lo, educá-lo. “Será uma maneira de acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida pe- rante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do Evangelho, onde os pobres são os privilegiados da misericórdia divina”, escreve o Pontífice, citando a Bula de convocação do Jubileu. Todavia, adverte o Papa, o pobre mais miserável é aquele que não aceita re- conhecer-se como tal. “Pensa que é rico, mas na realidade é o mais pobre dos pobres. E quanto maior for o poder e a riqueza à sua disposição, tanto maior pode tornar-se esta cegueira mentirosa. E esta cegueira está acompanhada por um soberbo delírio de omnipotência.” Este delírio, prossegue Francisco, “pode assumir também formas sociais e políticas, como mostraram os totalitarismos do século XX e mostram hoje as ideologias do pensamento úni- co e da tecnoci- ência que preten- dem tornar Deus irrelevante e re- duzir o homem a massa possível de instrumentalizar. E podem atual- mente mostrá-lo também as estru- turas de pecado ligadas a um mo- delo de falso de- senvolvimento fundado na idolatria do dinheiro, que torna indiferentes ao destino dos pobres as pes- soas e as sociedades mais ricas, que lhes fecham as portas recusando-se até mesmo a vê-los”. Portanto, exorta o Papa, a Quaresma des- te Ano Jubilar é um tempo favorável para todos poderem, finalmente, sair da própria alienação existencial, gra- ças à escuta da Palavra e às obras de miseri- córdia. E explica: “Se por meio das obras corporais, tocamos a carne de Cristo nos irmãos e ir- mãs necessitados de ser nutridos, vestidos, alojados, visitados, as obras espirituais to- cam mais diretamente o nosso ser de peca- dores: aconselhar, ensinar, perdoar, admo- estar, rezar”. Para Francisco, estas obras nunca podem ser separadas, pois é precisamente tocando a carne de Jesus crucificado no miserável que o pecador pode receber a consciência de ser ele próprio um pobre mendigo. “Não percamos este tempo de Quaresma favorá- vel à conversão!”, é o convite final do Santo Padre. (BF)
  • 8. Mensagem do Papa para a Quaresma 2016 Cidade do Vaticano, 26/jan/2016 – Leia na íntegra a mensagem do Papa Francisco para a Quaresma 2016: «“Prefiro a misericórdia ao sacrifício” (Mt 9, 13). As obras de misericórdia no caminho jubilar» 1. Maria, ícone duma Igreja que evan- geliza porque evangelizada Na Bula de proclamação do Jubileu, fiz o convite para que «a Quaresma deste Ano Jubilar seja vivida mais intensamente como tempo forte para celebrar e experimentar a misericórdia de Deus» (Misericordiӕ Vul- tus, 17). Com o apelo à escuta da Palavra de Deus e à iniciativa «24 horas para o Se- nhor», quis sublinhar a primazia da escuta orante da Palavra, especialmente a palavra profética. Com efeito, a misericórdia de Deus é um anúncio ao mundo; mas cada cristão é chamado a fazer pessoalmente ex- periência de tal anúncio. Por isso, no tempo da Quaresma, enviarei os Missionários da Misericórdia a fim de serem, para todos, um sinal concreto da proximidade e do perdão de Deus. Maria, por ter acolhido a Boa Notícia que Lhe fora dada pelo arcanjo Gabriel, canta profeticamente, no Magnificat, a misericór- dia com que Deus A predestinou. Deste mo- do a Virgem de Nazaré, prometida esposa de José, torna-se o ícone perfeito da Igreja que evangeliza porque foi e continua a ser evangelizada por obra do Espírito Santo, que fecundou o seu ventre virginal. Com efeito, na tradição profética, a misericórdia aparece estreitamente ligada – mesmo eti- mologicamente – com as vísceras maternas (rahamim) e com uma bondade generosa, fiel e compassiva (hesed) que se vive no âm- bito das relações conjugais e parentais. 2. A aliança de Deus com os homens: uma história de misericórdia O mistério da misericórdia divina desvenda- se no decurso da história da aliança entre Deus e o seu povo Israel. Na realidade, Deus mostra-Se sempre rico de misericórdia, pronto em qualquer circunstância a derra- mar sobre o seu povo uma ternura e uma compaixão viscerais, sobretudo nos momen- tos mais dramáticos quando a infidelidade quebra o vínculo do Pacto e se requer que a aliança seja ratificada de maneira mais está- vel na justiça e na verdade. Encontramo-nos aqui perante um verdadeiro e próprio dra- ma de amor, no qual Deus desempenha o papel de pai e marido traído, enquanto Isra- el desempenha o de filho/filha e esposa infi- éis. São precisamente as imagens familiares – como no caso de Oseias (cf. Os 1-2) – que melhor exprimem até que ponto Deus quer ligar-Se ao seu povo.
  • 9. Este drama de amor alcança o seu ápice no Filho feito homem. N‟Ele, Deus derrama a sua misericórdia sem limites até ao ponto de fazer d‟Ele a Misericórdia encarnada (cf. Misericordiӕ Vultus, 8). Na realidade, Jesus de Nazaré enquanto homem é, para todos os efeitos, filho de Israel. E é-o ao ponto de encarnar aquela escuta perfeita de Deus que se exige a cada judeu pelo Shemà, fulcro ainda hoje da aliança de Deus com Israel: «Escuta, Israel! O Senhor é nosso Deus; o Senhor é único! Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças» (Dt 6, 4-5). O Filho de Deus é o Esposo que tudo faz para ganhar o amor da sua Esposa, à qual O liga o seu amor incondicional que se torna visí- vel nas núpcias eternas com ela. Este é o coração pulsante do querigma apos- tólico, no qual ocupa um lugar central e fundamental a misericórdia divina. Nele sobressai «a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado» (Evangelii gaudium, 36), aquele primeiro anúncio que «sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar, duma forma ou doutra, durante a catequese» (Ibid., 164). Então a Misericór- dia «exprime o comportamento de Deus para com o pecador, oferecendo-lhe uma nova possibilidade de se arrepender, con- verter e acreditar» (Misericordiӕ Vultus, 21), restabelecendo precisamente assim a relação com Ele. E, em Jesus crucificado, Deus chega ao ponto de querer alcançar o pecador no seu afastamento mais extremo, precisamente lá onde ele se perdeu e afastou d'Ele. E faz isto na esperança de assim po- der finalmente comover o coração endure- cido da sua Esposa. 3. As obras de misericórdia A misericórdia de Deus transforma o cora- ção do homem e faz-lhe experimentar um amor fiel, tornando-o assim, por sua vez, capaz de misericórdia. É um milagre sempre novo que a misericórdia divina possa irradi- ar-se na vida de cada um de nós, estimulan- do-nos ao amor do próximo e animando aquilo que a tradição da Igreja chama as obras de misericórdia corporal e espiritual. Estas recordam-nos que a nossa fé se traduz em atos concretos e quotidianos, destinados a ajudar o nosso próximo no corpo e no es- pírito e sobre os quais havemos de ser jul- gados: alimentá-lo, visitá-lo, confortá-lo, educá-lo. Por isso, expressei o desejo de que «o povo cristão reflita, durante o Jubileu, sobre as obras de misericórdia corporal e espiritual. Será uma maneira de acordar a nossa consciência, muitas vezes adormecida perante o drama da pobreza, e de entrar cada vez mais no coração do Evangelho, on- de os pobres são os privilegiados da miseri- córdia divina» (Ibid., 15). Realmente, no pobre, a carne de Cristo «torna-se de novo visível como corpo martirizado, chagado, flagelado, desnutrido, em fuga... a fim de ser reconhecido, tocado e assistido cuidadosa- mente por nós» (Ibid., 15). É o mistério inaudito e escandaloso do prolongamento na história do sofrimento do Cordeiro Ino- cente, sarça ardente de amor gratuito na presença da qual podemos apenas, como Moisés, tirar as sandálias (cf. Ex 3, 5); e mais ainda, quando o pobre é o irmão ou a irmã em Cristo que sofre por causa da sua fé. Diante deste amor forte como a morte (cf. Ct 8, 6), fica patente como o pobre mais mi- serável seja aquele que não aceita reconhe- cer-se como tal. Pensa que é rico, mas na realidade é o mais pobre dos pobres. E isto porque é escravo do pecado, que o leva a utilizar riqueza e poder, não para servir a Deus e aos outros, mas para sufocar em si mesmo a consciência profunda de ser, ele também, nada mais que um pobre mendigo. E quanto maior for o poder e a riqueza à sua disposição, tanto maior pode tornar-se esta cegueira mentirosa. Chega ao ponto de não querer ver sequer o pobre Lázaro que men- diga à porta da sua casa (cf. Lc 16, 20-21), sendo este figura de Cristo que, nos pobres, mendiga a nossa conversão. Lázaro é a pos- sibilidade de conversão que Deus nos ofere- ce e talvez não vejamos. E esta cegueira está acompanhada por um soberbo delírio de onipotência, no qual ressoa sinistramente aquele demoníaco «sereis como Deus» (Gn 3, 5) que é a raiz de qualquer pecado. Tal delírio pode assumir também formas sociais
  • 10. e políticas, como mostraram os totalitaris- mos do século XX e mostram hoje as ideo- logias do pensamento único e da tecnociên- cia que pretendem tornar Deus irrelevante e reduzir o homem a massa possível de ins- trumentalizar. E podem atualmente mostrá- lo também as estruturas de pecado ligadas a um modelo de falso desenvolvimento fun- dado na idolatria do dinheiro, que torna indiferentes ao destino dos pobres as pesso- as e as sociedades mais ricas, que lhes fe- cham as portas recusando-se até mesmo a vê-los. Portanto a Quaresma deste Ano Jubilar é um tempo favorável para todos poderem, finalmente, sair da própria alienação exis- tencial, graças à escuta da Palavra e às obras de misericórdia. Se, por meio das obras cor- porais, tocamos a carne de Cristo nos ir- mãos e irmãs necessitados de ser nutridos, vestidos, alojados, visitados, as obras espiri- tuais tocam mais diretamente o nosso ser de pecadores: aconselhar, ensinar, perdoar, admoestar, rezar. Por isso, as obras corpo- rais e as espirituais nunca devem ser sepa- radas. Com efeito, é precisamente tocando, no miserável, a carne de Jesus crucificado que o pecador pode receber, em dom, a consciência de ser ele próprio um pobre mendigo. Por esta estrada, também os «so- berbos», os «poderosos» e os «ricos», de que fala o Magnificat, têm a possibilidade de aperceber-se que são, imerecidamente, amados pelo Crucificado, morto e ressusci- tado também por eles. Somente neste amor temos a resposta àquela sede de felicidade e amor infinitos que o homem se ilude de po- der colmar mediante os ídolos do saber, do poder e do possuir. Mas permanece sempre o perigo de que os soberbos, os ricos e os poderosos – por causa de um fechamento cada vez mais hermético a Cristo, que, no pobre, continua a bater à porta do seu cora- ção – acabem por se condenar precipitando- se eles mesmos naquele abismo eterno de solidão que é o inferno. Por isso, eis que res- soam de novo para eles, como para todos nós, as palavras veementes de Abraão: «Têm Moisés e o Profetas; que os ouçam!» (Lc 16, 29). Esta escuta ativa preparar-nos-á da melhor maneira para festejar a vitória definitiva sobre o pecado e a morte conquis- tada pelo Esposo já ressuscitado, que deseja purificar a sua prometida Esposa, na expec- tativa da sua vinda. Não percamos este tempo de Quaresma fa- vorável à conversão! Pedimo-lo pela inter- cessão materna da Virgem Maria, a primeira que, diante da grandeza da misericórdia divina que Lhe foi concedida gratuitamente, reconheceu a sua pequenez (cf. Lc 1, 48), confessando-Se a humilde serva do Senhor (cf. Lc 1, 38). Vaticano, 4 de Outubro de 2015 Festa de S. Francisco de Assis [Franciscus] A morte das ciências humanas vai matar também as exatas É crucial reconhecer que as descobertas nascem da curiosidade 26/jan/2016 – James Banks –
  • 11. A ciência está matando as humanidades: eu não sou o primeiro a afirmar isto, nem serei o último. Os líderes norte-americanos estão apressando essa morte, seja por causa das suas prioridades, seja por causa das suas opções políticas. Enquanto muitos estudio- sos provavelmente vão lamentar o fim das humanidades, outros já começaram a acei- tar estoicamente a ideia de que não vale a pena tentar salvar as ciências humanas. John Ellis escreve sobre este declínio: “Os cursos que oferecem uma visão geral das realizações da cultura ocidental foram abolidos em quase todos os lugares; os cur- sos obrigatórios sobre a história e sobre as instituições desta nação também foram deixados de lado e até as faculdades de lite- ratura deixaram de exigir Shakespeare como parte essencial da literatura inglesa. Mesmo quando cursos anteriormente obri- gatórios ainda são oferecidos como opcio- nais, costuma-se apresentá-los a partir de uma perspectiva preconceituosa do nosso passado cultural, o que tende a desencora- jar estudos mais aprofundados”. Ellis identifica uma tendência real, embora não muito inteligível: ler Shakespeare pode até deixar de ser exigido, mas quem se for- mar em literatura inglesa sem ter lido Sha- kespeare deverá ter realizado uma tarefa hercúlea para se desviar de Hamlet, Otelo ou Macbeth. No entanto, mes- mo que as faculda- des de ciências humanas, em seu estado atual, não desapareçam, Ellis não responde se as ciências humanas, tais como devem ser ensinadas, ain- da valem a pena. Ele pode não ter uma resposta, mas eu gostaria de de- clarar um sonoro “sim”. Hoje nós podemos assistir às ciências matando as humanidades, mas amanhã vamos perceber que a morte das humanidades vai matar também as ciências. Alguns anos atrás, em uma conferência so- bre a chamada “educação STEM” (ciência, tecnologia, engenharia e matemática, na sigla em inglês), especialistas dentre os mais importante dos EUA se reuniram para la- mentar que estávamos todos “condenados”, porque “não havia alunos suficientes inte- ressados em ciências”. Alguns dos pales- trantes tinham credenciais impressionantes: um dos oradores era Dean Kamen, o inven- tor do Segway; outro era Bill Nye, o “Science Guy”. Eu participei de grupos de discussões espe- cíficas naquele evento e tive a sensação de que os professores de ciências nos EUA es- tavam estranhamente desconectados da maneira como as pessoas vivem e pensam. A maioria das recomendações que eles tra- ziam soava banal: “Precisamos mudar a imagem cultural que as pessoas têm do ci- entista nerd”, repetiam. Mas, de forma mais ampla, o problema com esses eventos é o seu objetivo, que, basica- mente, é o de ajudar a encontrar substitutos para os atuais trabalhadores dos ramos de exatas. Enquanto eles se lamentavam por- que “os jovens norte-americanos não estão interessados nos trabalhos científicos que
  • 12. nós temos para eles”, eu não podia deixar de me lembrar de uma passagem do livro “Co- ração das Trevas”, de Joseph Conrad, para a qual William Deresiewicz tinha chamado a minha atenção em certa ocasião: “Ele estava empregado nisso desde a moci- dade. Era obedecido, mas não inspirava nem amor, nem medo; nem mesmo respei- to. Ele inspirava mal-estar. Isso, apenas mal-estar. Não era uma desconfiança defi- nida; apenas mal-estar, nada mais. Você não tem ideia do quanto pode ser eficaz uma… uma… capacidade desse tipo. Ele não tinha nenhum grande talento para or- ganizar, nem para tomar a iniciativa, nem sequer para comandar… Ele não tinha ne- nhum conhecimento, nem inteligência. Seu cargo tinha chegado até ele. Por quê? Ele não originava nada, ele apenas mantinha a rotina; só isso. Mas ele impressionava. Ele impressionava graças a essa pequena coi- sa, essa impossibilidade dizer o que contro- lava um homem daqueles. Ele nunca reve- lou esse segredo”. Como Deresiewicz aponta, esta é a descrição perfeita da burocracia: ela está cheia de gen- te que mantém o status quo, mas não de gente que define qual é o status quo. Isso não quer dizer que as pessoas presentes na conferência fossem todas burocratas; algu- mas delas eram empreendedoras, realiza- das; e tinham que ser, para terem chegado até a posição que ocupavam. Mas elas que- riam, essencialmente, treinar a próxima ge- ração para ocupar papéis precisos e para ter o preciso conhecimento que elas próprias tinham. Não é assim que o mundo funciona. Os pro- blemas de amanhã são sempre diferentes dos problemas de hoje. As soluções que fun- cionam hoje não vão responder a todas as questões que surgirão na próxima década. Adaptar-se ao amanhã só é possível a partir do próprio ato de se viver em sociedade. E isto é assim porque aquele adágio surrado que diz que “a necessidade é a mãe da in- venção” é pura verdade: quanto mais as pessoas precisarem (ou pensarem que pre- cisam), mais elas vão inventar. Há uma abundância de sociedades que têm ou tiveram sistemas educacionais dedicados quase exclusivamente à formação de estu- dantes de ciências e de engenharia. A China faz isso hoje, assim como a União Soviética o fez em seu tempo. Mas, apesar de estar na moda declamar que a escassez de habilida- des em matemática e ciências põe o nosso futuro em risco, este medo não se mostrou matematicamente verdadeiro no passado. O Japão é bem posicionado nos rankings de desempenho acadêmico, mas o seu desem- penho econômico não tem refletido este su- cesso. Educadores e tecnocratas acreditam, erro- neamente, que já sabemos ou já pensamos em tudo de que precisamos para o próximo boom econômico ou para a próxima revolu- ção científica. Tudo seria apenas questão de dar à próxima geração as respostas que nós já temos. Acontece, porém, que é menos importante treinar as pessoas para chega- rem à próxima fronteira do que educá-las para discernirem quais são as fronteiras que vale a pena cruzar. Teoricamente, é para isso que existe a educação nas artes liberais. Na prática, isso nem sempre é verdade: as faculdades de humanas tenderam de tal forma ao pensamento de grupo na geração passada que provavelmente não melhora- ram as habilidades de pensamento crítico dos alunos nem a sua criatividade. Mesmo que as artes liberais já não sirvam ao seu propósito tradicional, no entanto, isso não significa que esse objetivo não seja valioso. O valor principal de uma educação em artes liberais é que ela incentiva o deba- te e a discordância. Diferentemente da ma- temática, é raro que haja nas artes liberais uma resposta claramente correta. Algumas declarações sobre arte ou literatura são mais verdadeiras do que outras, mas nunca há uma perspectiva que possa servir indefini- damente. Isto ocorre porque o “melhor que já foi pensado e dito” foi mudando ao longo do tempo; mais ainda: o mundo foi mudan- do. O “Édipo Rei”, de Sófocles, ou o “Fran- kenstein”, de Mary Shelley, não podem nos dizer definitivamente o que devemos pensar sobre o cientificismo ou sobre o pós- humanismo, mas nos forçam a enfrentar os
  • 13. cantos mais escuros do iluminismo para os quais relutamos em voltar os olhos. As ciências humanas, entretanto, podem fazer mais do que nos ajudar a entender o que não deveríamos estar fazendo: elas po- dem nos ajudar a contemplar o que deverí- amos fazer. Podemos estar bem longe do mundo clássico que separava as artes libe- rais (artes liberales) das artes técnicas (artes serviles), mas as artes liberais ainda são in- dispensáveis porque fomentam a curiosida- de intelectual e o desejo de aprender pelo prazer de aprender. As ciências também podem fazer isso: alguns cientistas atingem marcos importantes mesmo sem a capaci- dade de pensar criativamente. Mas os pro- fessores de ciências nem sempre entendem as implicações do campo em que querem educar: se eles acreditam que podem forne- cer toda a educação de que as pessoas preci- sam para o futuro, eles já falharam. As idei- as não são um instrumento para o futuro, mas são, em si mesmas, objetivos dignos de busca. As iniciativas educacionais geralmente fo- cam no currículo, mas promover a curiosi- dade intelectual não é algo facilmente des- critível num currículo. Essa tarefa depende da cultura da escola e dos valores dos alunos e dos instrutores. De qualquer forma, ne- nhum educador deveria começar a elaborar uma política educacional sem reconhecer que a próxima revolução tecnológica não virá de pessoas que sempre têm a resposta certa, mas de pessoas cuja aprendizagem as dotou de curiosidade intelectual suficiente para se sentirem à vontade mesmo quando obtêm a resposta errada.