6. 5
Apresentação da disciplina
Querido (a) Aluno (a)
Um curso de Letras possibilita a aprendizagem e a reflexão sobre
os fatos lingüísticos e literários. Iniciaremos a partir desta disciplina –
Introdução aos Estudos Lingüísticos – os estudos específicos do Curso.
Estudar Lingüística possibilita ao professor da língua materna um
conhecimento mais estruturado, científico e profundo sobre como a língua
pátria é constituída e como ela funciona enquanto instrumento de
comunicação com uma dimensão social e histórica. O professor que
domina esse conhecimento tem melhores condições de decidir o que é
pertinente trabalhar com os seus alunos e como estruturar as atividades
que os ajudem a atingir um maior domínio da língua e a ter uma maior e
melhor competência comunicativa. Este será o conteúdo e o propósito da
nossa disciplina.
Entretanto, engana-se aquele que pensa que esta disciplina é uma
nova versão da Gramática Normativa. Trataremos do conceito de
Lingüística, linguagem, os teóricos que se destacaram – a exemplo de
Edward Sapir, Ferdinand de Saussure, Leonard Bloomfield, Mikhail
Mikhailovich Bakhtin, Roman Osipovich Jakobson, Noam Chomsky e
Joaquim Mattoso CÂMARA JR. – ou seja, temos muita gente nova a
conhecer, assim como seus pressupostos teóricos.
Essa disciplina, a exemplo das anteriores, possui uma carga horária
de 72 horas. Está dividida em dois blocos temáticos, sendo que cada bloco
será trabalhado em duas semanas.
Temos mais um desafio pela frente. Mas, como nos diz Madre Teresa
de Calcutá...
Profª. Joalêde Bandeira
“A Vida é uma oportunidade, aproveita-a. A Vida é
beleza, admira-a. A Vida é felicidade, saboreia-a. A Vida
é um sonho, torna-o realidade. A Vida é um desafio,
enfrenta- o. [...]A Vida é uma aventura, encara-a. A Vida é
Vida, defende-a.”
Sucesso nas descobertas!
8. 7
VISÃO GERAL DA LINGÜÍSTICA
HISTÓRIA E OBJETO DA LINGÜÍSTICA
Para começar, vamos fazer algumas considerações...
A maior parte dos livros nos diz que a Lingüística é o estudo científico da linguagem
humana e das línguas naturais – línguas faladas por toda a comunidade humana para a
interação social. Aquele que se dedica a este estudo é chamado de lingüista. Parece
simples este conceito, entretanto há uma diversidade de definições para o termo linguagem,
gerando muita controvérsia. John Lyons (1997, p.15) diz que a pergunta “o que é linguagem?”
é comparável a “o que é a vida?”. Para estudarmos Lingüística, é fundamental conhecermos
as respostas para esta pergunta. ou seja, muito temos a conhecer...
Retomaremos esta questão no tema 2, no qual trataremos, especificamente, dos
conceitos de língua, linguagem e também Lingüística.
Para o momento vamos pensar sobre o campo de atuação da Lingüística.
“A lingüística é a parte do conhecimento mais fortemente
debatida no mundo acadêmico. Ela está encharcada com o
sangue de poetas, teólogos, filósofos, filólogos, psicólogos,
biólogos e neurologistas além de também ter um pouco de
sangue proveniente de gramáticos.” (RYMER, p. 48)
A fim de cumprir o seu objetivo básico, que é determinar a natureza da linguagem e a
estrutura e funcionamento das línguas, a Lingüística segue duas direções:
Ramificações da Lingüística
1 Busca desenvolver uma metodologia de trabalho que vai desde a delimitação de
conceitos operatórios até a discussão e montagem de modelos descritivos e/ou
explicativos dos fenômenos lingüísticos. Assume assim um caráter teórico e geral,
pois não se ocupa de nenhuma língua em particular, mas dos fatos em geral e a maneira
de abordá-los. Suscita diversas correntes metodológicas e vários níveis de discussão.
9. 8
Introdução aos
Estudos
Lingüísticos
Vamos dar nomes a cada um dessas “direções” que a
Lingüística segue. Trata-se da Lingüística Geral e da Lingüística
Descritiva, respectivamente. E aí, você já ouviu estes nomes?
2
Busca observar e descrever línguas testando métodos e técnicas visando
descobrir como é a estrutura da língua e como funcionam as línguas. Por estudar
um número maior de línguas, fornece material para, em âmbito mais abstrato,
determinar a natureza e os traços que compõem a linguagem.
É preciso ainda clarear um pouco mais estesÉ preciso ainda clarear um pouco mais estesÉ preciso ainda clarear um pouco mais estesÉ preciso ainda clarear um pouco mais estesÉ preciso ainda clarear um pouco mais estes
nononononovvvvvos conceitos?? Vos conceitos?? Vos conceitos?? Vos conceitos?? Vos conceitos?? Vamos lá...amos lá...amos lá...amos lá...amos lá...
Aparentemente, somos levados a pensar que há apenas uma divergência entre
Lingüística Geral e Descritiva, mas se observarmos atentamente veremos que há um ponto
comum entre elas. Qual? O NOME e o VERBO. Para confirmar ou refutar a hipótese os
lingüísticas precisam operar com estes conceitos que foram fornecidos pela Lingüística
Geral.
Desse modo, a maior parte das pesquisas que estão sendo feitas atualmente sob o
nome de Lingüística é puramente descritiva, visto que é bastante direta em si mesma.
Correspondendo a estudar a linguagem e descrever determinadas línguas,os seus autores
estão procurando clarificar a natureza da linguagem sem usar juízos de valor ou tentar
influenciar o seu desenvolvimento futuro.
Naturalmente há uma diversidade de razões para se descrever uma língua, que não
somente fornecer dados para a Lingüística Geral, ou testar teorias e hipóteses que geram
conflito, mas porque querem apresentar uma gramática de referência ou um dicionário para
fins práticos.
Como a linguagem interessa a diversas categorias, convém delimitar com muita
clareza o campo de atuação do lingüista, para que não se confunda ou penetre em outras
disciplinas. Para isso, analisaremos agora três dicotomias através das quais os autores
dividem o campo da Lingüística:
Convém ressaltar que a despeito de suas diferenças, elas se complementam, visto
que a Lingüística Geral fornece conceitos e categorias em termos dos quais as línguas
serão analisadas; enquanto a Lingüística Descritiva fornecerá os dados que confirmam ou
refutam as proposições e teorias colocadas pela Lingüística Geral. Quem nos diz isso é
John Lyons. Para ilustrar, vamos ao exemplo:
formula a hipótese de que em
todas as línguas há nomes e
verbos
refuta a hipótese demonstrando,
mesmo empiricamente, que em uma
determinada língua os verbos não
existem
LINGÜÍSTICA DESCRITIVALINGÜÍSTICA GERAL
10. 9
1. sincrônica versus diacrônica
2. teórica versus aplicada
3. microlingüística versus macrolingüística
Assustado (a) com os termos? Calma! Vamos às definições...
1. Uma descrição sincrônica de uma língua descreve esta língua tal qual ela se
encontra em determinada época.
Já a descrição diacrônica, preocupa-se com o desenvolvimento histórico da língua,
assim como as mudanças estruturais que nela ocorreram. Entretanto, atualmente,
essas duas abordagens tendem a uma convergência, por vezes, tornando-se
impossível separá-las.
2. A lingüística teórica objetiva a construção de uma teoria geral da estrutura da
língua ou a criação de um arcabouço teórico geral para descrição das línguas. Como
o próprio nome diz, a lingüística aplicada é a aplicação das descobertas e técnicas
do estudo científico da língua para fins práticos, principalmente na elaboração de
métodos de aperfeiçoamento do ensino da língua.
A título de esclarecimento, a distinção entre lingüística teórica e aplicada independe
das outras duas. Na prática, há pouca ou nenhuma diferença entre os termos lingüística
teórica e lingüística geral, visto que ambas partem do pressuposto de que o objetivo da
teórica é formular uma teoria satisfatória da estrutura da linguagem em geral. Quanto à
lingüística aplicada, observa-se que ela se vale tanto do aspecto geral quanto do descritivo.
Viu como não é tão complicado?
A terceira dicotomia refere-se a uma visão mais estreita ou mais ampla dos
propósitos da lingüística. Vale lembrar que estes termos ainda não estão estabelecidos
definitivamente na teoria lingüística.
3. A microlingüística se refere a uma visão mais restrita, e a macrolingüística, a
uma mais ampliada. Na concepção microlingüística, as línguas devem ser analisadas
em si mesmas e sem referência a sua função social, à maneira como são adquiridas
pelas crianças e aos mecanismos psicológicos que subjazem à produção e recepção
da fala. Como diria Saussure, “ em si e por si”. De forma mais ampla, a macrolingüística
trata de tudo o que é pertinente, de alguma forma seja qual for á linguagem e ás
línguas.
Assim temos como campo de atuação:
Fonética: o estudo dos diferentes sons empregados em linguagem;
Fonologia: o estudo dos padrões dos sons básicos de uma língua;
Morfologia: o estudo da estrutura interna das palavras;
Sintaxe: o estudo de como a linguagem combina palavras para formar frases gramaticais;
Semântica: ou semântica lexical, o estudo dos sentidos das frases e das palavras que a integram;
Lexicologia: o estudo do conjunto das palavras de um idioma, ramo de estudo que contribui para a
lexicografia, área de atuação dedicada à elaboração de dicionários, enciclopédias e outras obras
que descrevem o uso ou o sentido do léxico.
MICROLINGÜÍSTICA
11. 10
Introdução aos
Estudos
Lingüísticos
Não há uma “lista” definitiva deste campo de atuação. Há, inclusive, divergência quanto
a isso na fala de diversos estudiosos.
Trataremos um pouco mais da microlingüística no próximo bloco! Cabe, também,
uma pesquisa para maior aprofundamento do campo de atuação da macrolingüística. Fica
aí a sugestão...
MACROLINGUÍSTICA
Psicolingüística;
Sociolingüística;
Lingüística antropológica;
Dialetologia;
Lingüística matemática e computacional;
Estilística, etc.
Como vimos no início deste capitulo, a Lingüística é definida como a ciência da
linguagem ou, alternativamente, como estudo científico da linguagem. Para Lyons (2004,
p.45) Lingüística é uma disciplina cujo status científico é inquestionável, visto que sofre das
implicações muito especificas das palavras inglesas “science” e “scientific” que se referem,
antes de qualquer coisa, às ciências naturais e aos métodos de investigação que lhes são
característicos.
Quando se fala em ciência, as pessoas pensam logo nas ciências naturais como
física, astronomia, biologia, e esquecem que as disciplinas de humanidades também são
ciências. Atualmente, porém, a maioria das ciências humanas tem rigor metodológico
comparável ao das ciências naturais, visto que usa ferramentas como a lógica e a
matemática para descrever seus objetos de estudo e construir teorias complexas.
ALingüística foi decisiva para que as ciências humanas adquirissem esse rigor. Ela
foi a primeira dessas disciplinas a se constituir como ciência, no final do século XVIII, com
método e objeto próprios e bem definidos, emprestando depois às demais o seu método
de pesquisa.
Antigamente, a Lingüística não era autônoma, visto que se submetia às exigências
de outras disciplinas, a exemplo – lógica, filosofia, história. O século XX mudou
completamente esta atitude, que se expressa através do caráter científico dos novos estudos
lingüísticos, que estão centrados na observação dos fatos de linguagem.
O método científico admite que a observação dos fatos seja anterior ao
estabelecimento de uma hipótese e que os fatos observados sejam examinados de forma
sistemática mediante experimentação e à luz de uma teoria. Ora, partindo desse princípio,
não há o que duvidar do caráter científico da Lingüística.
Para entender como isso ocorreu, podemos fazer uma viagem no tempo, desde a
Antigüidade, quando a curiosidade sobre a linguagem humana começou a inquietar os
filósofos e sábios, até os dias atuais.
Caráter Científico da Lingüística
12. 11
Tendemos a pensar que a Lingüística é uma disciplina muito nova, visto que se
estabeleceu em sua forma atual há algumas décadas. Mas tem-se estudado a linguagem
desde a invenção da escrita ou, quem sabe, até mesmo antes disso.
Breve Histórico da Lingüística
De início, temos a “Gramática”. Estudo inaugurado pelos gregos, ainda de forma
filosófica, baseado na lógica e desprovida de qualquer visão científica e desinteressada da
própria língua. Neste momento, visa unicamente formular regras para distinguir as formas
corretas das incorretas. As primeiras discussões dos filósofos gregos centravam-se no
problema da relação entre o pensamento e a palavra, isto é, entre o conceito e o seu nome.
Isto levou Platão a estabelecer a primeira classificação das palavras de que se tem
conhecimento. Para ele, as palavras podem ser nomes e verbos. Depois dele Aristóteles
considerou uma outra classificação das palavras: nomes, verbos e partículas. Se aqui
temos a primeira divisão da cadeia de sinais lingüísticos pelo reconhecimento de uma
diferença de categoria entre palavras, estamos diante de uma posição que toma como
interesse a relação da linguagem com o conhecimento. Esta divisão entre nomes e verbos
visa descrever a estrutura do juízo, que deve falar de como é o mundo. De acordo com S.
Auroux (1992), citado por Guimarães (2001), “a Gramática pode ser considerada como
elemento de uma das primeiras revoluções tecnológicas da história do Homem”.
Ainda na antiguidade, é fundamental mencionar a Índia, onde o interesse religioso
levou a estudos bastante rigorosos dos aspectos fonológicos do sânscrito. Estes estudos
objetivavam estabelecer de modo perfeito que som deveria ser produzido nos cânticos
sagrados, para que eles tivessem validade sagrada. Neste caso, o que importa é a correção
da descrição de uma qualidade fônica, ou seja, a descrição da forma da língua, nela mesma.
Teremos oportunidade de fazer um estudo mais detido da história da gramática, por
hora vamos dar um salto no tempo e sair direto daAntiguidade para o século XIX, tempo em
que ocorreram muitas mudanças no campo da Lingüística.
No início do século XIX, considera-se o trabalho de Franz Bopp, Sobre o Sistema de
Conjugações do Sânscrito, Grego, Latim, Persa e Línguas Germânicas, publicado em 1816,
como um marco para a constituição da lingüística comparativa. Outra obra fundamental é a
Gramática Germânica de Grimm, de 1819. Antes deles pode-se considerar o trabalho de
Rasmus Rask de 1811, publicado em 1818. Neste momento, a lingüística se apresenta
tomando como objeto a mudança lingüística, motivada pela possibilidade de reconstituir o
passado lingüístico das línguas européias e asiáticas. A questão principal aqui são as
relações genealógicas entre as línguas, e o objeto do lingüista são as formas no seu processo
de mudança. Assume uma forma para saber como ela era antes, a fim de reconstruir por
comparação entre as línguas aparentadas (consideradas da mesma família), o passado da
forma em questão. Este procedimento, que se dá no interior de uma posição naturalista,
biológica, visto que, nesta época, a Lingüística é considerada uma disciplina da Biologia.
Na verdade, a linguagem é tão importante que, sem ela, não
seríamos capazes de pensar, pois todo pensamento estrutura-se na
forma de alguma linguagem, seja ela verbal, visual, gestual, etc. O
filósofo grego Parmênides (535-450 a.C.) já dizia que “ser e pensar
são uma só e a mesma coisa”, idéia reafirmada pelo filósofo francês
René Descartes (1596-650) na famosa frase “penso, logo existo”.
13. 12
Introdução aos
Estudos
Lingüísticos
EM SÍNTESE... é de concordância geral que o fato mais extraordinário
dos estudos lingüísticos do séc. XIX foi o desenvolvimento do método
comparativo, que resultou num conjunto de princípios pelos quais as línguas
poderiam se comparadas sistematicamente no tocante a seus sistemas
fonéticos, estrutura gramatical e vocabulário, demonstrando, assim, que eram
“genealogicamente aparentadas” Do mesmo modo que o francês, o italiano,
o português, o romeno, o espanhol e outras línguas românicas tinham sido
originadas do latim; o latim, o grego e o sânscrito tiveram uma origem. Qual?
De alguma língua ainda mais antiga à qual se costuma denominar de indo-europeu ou proto-
indo-europeu.
Esse enfoque foi amplamente adotado em outros campos sob o termo
“estruturalismo” ou análise estruturalista. Saussure também é considerado o fundador
da semiologia.
Durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), Leonard Bloomfield e
colaboradores desenvolveram material de ensino para uma variedade de línguas cujo
conhecimento era necessário para o esforço de guerra. Este trabalho possibilitou o aumento
da proeminência do campo da lingüística, tornando-se uma disciplina reconhecida na maioria
das universidades americanas somente após a guerra.
Noam Chomsky desenvolveu seu modelo formal de linguagem, conhecida como
gramática transformacional, sob a influência de seu professor Zellig Harris, que por sua vez
foi fortemente influenciado por Bloomfield. O modelo de Chomsky foi reconhecidamente
dominante desde a década de 1960 até a de 1980 e desfruta ainda de elevada consideração
em alguns círculos de lingüistas. Steven Pinker tem se ocupado em clarificar e simplificar as
idéias de Chomsky com muito mais significância para o estudo da linguagem em geral.
(WIKPÉDIA, 2005)
Edward Sapir (1884-1939) antropólogo e lingüista, nascido na Alemanha, mas foi
nos Estados Unidos que liderou o estudo da lingüística estrutural. Foi um dos primeiros a
explorar as relações entre os estudos lingüísticos e a Antropologia. Sapir propôs uma
perspectiva alternativa sobre a linguagem em 1921, ao sugerir que a linguagem influencia a
forma de pensar dos indivíduos. A idéia de Sapir foi adaptada e desenvolvida durante a
Década de 1940 por Whorf, dando origem à Hipótese de Sapir-Whorf. Nesta teoria, os
homens vivem segundo suas culturas em universos mentais muito distintos que estão
expressos (e talvez determinados) pelas línguas diferentes que falam. Deste modo, também
o estudo das estruturas de uma língua pode levar à elucidação de uma concepção de um
mundo que a acompanhe. Esta proposição suscitou o entusiasmo de uma geração inteira
de antropólogos, de psicólogos e de lingüistas americanos e, em menor escala, europeus,
No fim do século XIX e comecinho do século XX,
acontece o que se chama da grande revolução lingüística.
Ferdinand de Saussure, (1857 -1913), um estudioso suíço de
indo-europeu, cujas aulas de lingüística geral, publicadas
postumamente por seus alunos (Charles Bally e Albert
Sechehaye), determinaram direção da análise lingüística
européia de 1920 em diante. *(p.306)
Saiba MaisSaiba MaisSaiba MaisSaiba MaisSaiba Mais...............
14. 13
nos anos 40 e 50, antes de ser enfraquecida pela corrente cognitivista. Ela influenciou o
estruturalismo francês e, apesar das refutações formuladas, principalmente por etnólogos e
sociolingüistas neste meio-tempo, sua existência persiste até hoje.
Roman Osipovich Jakobson (1896 - 1982) foi um pensador russo que se tornou um
dos maiores lingüístas do século XX e pioneiro da análise estrutural da linguagem, poesia e
arte. Sua pesquisa foi decisiva para a constituição de um pensamento semiótico vinculado
à arte do construtivismo e da Fonologia como campo de estudo dos sons da linguagem.
Destacou-se, também, pelos estudos sobre afasia, pelo conceito de fonema como feixe de
traços distintivos e da concepção de linguagem como processo de seleção e de combinação
de signos. De mentalidade interdisciplinar, vincula a poética e a lingüística de tal maneira
que Haroldo de Campos chegou a chamá-lo de “o poeta da lingüística”.
Estes são alguns dos nomes que, enquanto “profissional das letras”, precisamos
conhecer. Foi apresentado um brevíssimo histórico, cabe à sua curiosidade e interesse
em descobrir um pouco mais.
A linguagem, a língua e a fala
Acostumamo-nos a considerar a comunicação como muito importante, já dizia o
“Velho Guerreiro” – Chacrinha – “quem não comunica se estrumbica”. Todos os animais se
comunicam de alguma forma e, em algum período em sua vida, seja para garantir a sua
sobrevivência seja por interativos biológicos – a fim de garantir a continuidade da espécie
– só possível através de um mínimo de interação. A freqüência e a extensão da atividade
comunicativa estão ligadas aos meios que a espécie dispõe para tal fim. Embora seja
muito interessante estudar a comunicação dos animais, o nosso foco será a comunicação
humana, pois é nesta espécie que a comunicação atinge o seu mais alto grau de
complexidade.
Os homens se servem dos mais diversos expedientes para entrarem em contato uns
com os outros. Costuma-se dar o nome de linguagem a qualquer dessas formas de
comunicação. Desde os tempos mais remotos, este termo é utilizado para associar uma
cadeia sonora (voz) produzida pelo aparelho fonador a um conteúdo significativo e utilizar
o resultado dessa associação para interação social, tendo em vista que tal aptidão consiste
não somente em produzir e enviar, mas também em receber e reagir , efetivando o processo
de comunicação. Através dessa compreensão, a linguagem aparece como o mais eficaz
instrumento natural de comunicação à disposição do homem.
O desenvolvimento dos estudos lingüísticos fez com que muitos estudiosos
propusessem definições de linguagem, semelhantes em alguns pontos e divergentes em
tantos outros. Estudaremos aqui as apresentadas por Saussure e Chomsky, visto que
pressupõem uma teoria geral da linguagem e da análise lingüística.
Saussure considerou a linguagem “heteróclita e multifacetada”, visto que abrange
vários domínios - é ao mesmo tempo física, fisiológica e psíquica - pertence ao domínio
individual e social; desse modo “ não se deixa classificar em nenhuma categoria de fatos
humanos, pois não se sabe como inferir sua unidade” (1969, p.17). A linguagem, em sua
diversidade e complexidade, também é estuda por outras ciências, a exemplo da Psicologia
e a Antropologia, além da Lingüística. A fim de melhor especificar o objeto da Lingüística,
Objeto da Lingüística
15. 14
Introdução aos
Estudos
Lingüísticos
Saussure distingue a linguagem da língua – um objeto unificado e suscetível
de classificação. Define que a língua é uma parte essencial da linguagem.
Mas o que é mesmo a língua?Mas o que é mesmo a língua?Mas o que é mesmo a língua?Mas o que é mesmo a língua?Mas o que é mesmo a língua?
Muitos de nós confunde língua e linguagem. – Mas não é a mesma
coisa? – nos perguntamos. Vocês conhecem este poema de Gregório de Matos
O todo sem a parte não é o todo;
A parte sem o todo não é parte;
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo.
Este poema nos possibilita fazer uma analogia entre os conceitos de língua e
linguagem, observe:
a linguagem é ao mesmo tempo um produto social da faculdade de linguagem e
um conjunto de convenções necessárias adotadas pelo corpo social para permitir esse
exercício nos indivíduos. Tomada em seu todo, a linguagem é “ uma cavaleiro de diferentes
domínios”- física, fisiológica e psíquica, visto que pertence ao domínio social e individual,
não se deixando classificar em nenhuma categoria de fatos humanos, pois não se sabe
como inferir a sua unidade;
a língua, ao contrário, é um todo por si e um princípio de classificação – daí a
analogia feita com o poema – desde que lhe demos o primeiro lugar entre os fatos da
linguagem.
Voltando ao mestre Saussure, a língua, para ele, é “um sistema de signos” – ou seja,
um conjunto de unidades que se relacionam organizadamente dentro de um todo. É a “parte
social da linguagem”, exterior ao indivíduo e obedece às leis do contrato social estabelecido
pelos membros da comunidade.
O conjunto linguagem-língua comporta, ainda, um outro elemento, conforme Saussure,
a fala. Afala é um ato individual, resulta das combinações feitas pelo sujeito falante utilizando
o código da língua; expressada pelos mecanismos psicofísicos (atos de fonação) necessários
à produção dessas combinações.
A distinção linguagem/língua/fala situa, segundo Saussure, o objeto da Lingüística.
Decorre daí a divisão do estudo da linguagem em duas partes: uma que investiga a língua
(langue) e outra que analisa a fala (parole). As duas partes são interdependentes, visto
que a língua é a condição para produzir a fala, assim como não há língua sem o exercício da
fala. Desse modo, ele destaca a necessidade de duas lingüísticas – a lingüística da língua e
a lingüística da fala. Saussure focou seu trabalho na lingüística da língua “produto social
depositado no cérebro de cada um”, um sistema supra-individual que a sociedade impõe
ao falante.
“ ”
16. 15
Esquematicamente, poderíamos apresentar os seguintes traços básicos:
Os seguidores dos princípios saussureanos se empenham em explicar a língua por
ela própria, examinando as relações que unem os elementos no discurso, procurando
determinar o valor funcional desses diferentes tipos de relações.Ateoria de análise lingüística
desenvolvida por eles, em herança a Saussure, foi denominada de estruturalismo – tema
que será mais detidamente estudado.
Pausa para respirar, antes de passarmos às idéias de Chomsky...
Aula de Português
Carlos Drummond de Andrade
A linguagem
na ponta da língua,
tão fácil de falar
e de entender
A linguagem
na superfície estrelada de estrelas,
sabe lá o que ela quer dizer?
Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
Figuras de gramática, esquipáticas,
atropelam-me, aturdem-me, seqüestram-me.
Já esqueci a língua em que comia,
em que pedia para ir lá fora,
em que levava e dava pontapé,
a língua, breve língua entrecortada
LÍNGUA FALA
subjacente concreto
potencial real
supra-individual, coletivo individual
variedadeassistemáticoregularidadesistemática
17. 16
Introdução aos
Estudos
Lingüísticos
do namoro com a prima.
O português são dois; o outro, mistério.
Carlos Drummond de Andrade, Obra Poética, 7º Volume
Você já conhecia este poema de Drummond? Observe que ele faz, de
forma poética, algumas considerações sobre a linguagem e a língua. E você o
que pensa sobre a dupla existência do português?
Agora vamos a Chomsky!
Em meados do século XX, Noam Chomsky trouxe para os estudos lingüísticos uma
nova “onda de transformação”. Em seu livro Syntactic Structures (1957, p.13), ele afirma
“doravante considerarei uma linguagem como um conjunto (finito ou infinito) de sentenças,
cada uma finita em comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elementos”.
Ao refletirmos sobre esta definição, percebemos que ela vai além das línguas naturais,
mas, de acordo com o próprio Chomsky, todas as línguas naturais são, seja na forma falada
ou escrita, linguagens, no sentido de sua definição, uma vez que:
toda língua natural possui um número finito de sons (e um número finito de sinais
gráficos que os representam, se for escrito);
mesmo que as sentenças distintas da língua sejam em número infinito, cada sentença
só pode ser representada como uma seqüência finita desses sons (ou letras).
Ao lingüista, que descreve qualquer uma das línguas naturais, cabe determinar quais
dessas seqüências finitas de elementos são sentenças e quais não são - isto significa
reconhecer o que se diz e o que não se diz naquela língua.
Chomsky acredita que tais propriedades são tão abstratas, complexas e específicas
que não poderiam ser aprendidas a partir do nada por uma criança em fase de aquisição
da linguagem. Para ele, essas propriedades são “conhecidas” da criança antes do seu
contato com qualquer língua natural e devem ser acionadas durante o processo de aquisição
da linguagem. Portanto, para Chomsky, a linguagem é uma capacidade inata e específica
da espécie humana – ou seja, é transmitida geneticamente e própria da espécie humana.
Desse modo, existem propriedades universais da linguagem, de acordo com
Chomsky e aqueles que partilham destas idéias.Ateoria desenvolvida por eles, denominada
de gerativismo – tema que estudaremos mais detidamente nas próximas aulas - baseia-se
na rapidez espantosa com a qual as crianças aprendem línguas, pelos passos semelhantes
dados por todas as crianças quando estão a aprender línguas e pelo fato que as crianças
realizarem certos erros característicos quando aprendem sua língua-mãe, enquanto que
outros tipos de erros aparentemente lógicos nunca ocorrem. Isto sucede precisamente,
segundo Chomsky, porque as crianças estão a empregar um mecanismo puramente geral
(isto é, baseado em sua mente) e não específico (isto é, não baseado na língua que está
sendo aprendida).
Do mesmo modo Saussure – que separa língua (langue) da fala (parole), ou que é
lingüístico do que não é – enquanto Chomsky distingue competência de desempenho. A
competência lingüística é a porção do conhecimento do sistema lingüístico do falante que
lhe permite produzir o conjunto de sentenças de sua língua: é um conjunto de regras que o
falante construiu em sua mente pela aplicação de sua capacidade inata para a aquisição
*
*
18. 17
da linguagem aos dados lingüísticos que ouviu durante a sua infância. Já o desempenho
corresponde ao comportamento lingüístico, resultando não apenas da competência lingüística
do falante, mas também de fatores não lingüísticos, a exemplo de convenções sociais,
crenças, atitudes emocionais do falante em relação ao que diz, pressupostos sobre as
atitudes do interlocutor, etc., de um lado; e por outro, o funcionamento dos mecanismos
psicológicos e fisiológicos envolvidos na produção dos enunciados. Assim o desempenho
pressupõe a competência ao passo que a competência não pressupõe desempenho.
Querido aluno, detivemo-nos em estudar as teorias lingüísticas que norteiam a
linguagem. Entretanto, é importante ressaltar que A linguagem verbal é a forma de
comunicação mais presente em nosso cotidiano, uma vez que mediante a palavra falada
ou escrita, expomos aos outros as nossas idéias e pensamentos, comunicando-nos por
meio desse código verbal imprescindível em nossas vidas.
Entretanto, para que a comunicação humana se processe, há outras formas de
linguagens. A linguagem não-verbal é constituída pelos outros elementos envolvidos na
comunicação, a saber: gestos, tom de voz, postura corporal, o desenho, a dança, os sons,
os gestos, as cores, etc.
As mensagens em linguagem corporal, por exemplo, são enviadas e recebidas
inconscientes e involuntariamente. Seu uso varia de um país para o outro, e até dentro de
um mesmo país, mas os princípios básicos são universais.
Na verdade, a linguagem não-verbal é como se conversássemos nas entrelinhas,
assim como precisamos fazer para compreender os textos, ou seja, precisamos ir além do
que está escrito.
Além do que está escrito...
Para ilustrar, pense na seguinte situação:
Uma história estava sendo contada... No final, as pessoas do grupo ficaram assim:
Observe que:
língua – sistema lingüístico socializado – de Saussure - aproxima a Lingüística
da Sociologia ou da Psicologia Social;
competência – conhecimento lingüístico internalizado – de Chomsky – aproxima
a Lingüística da Psicologia Cognitiva ou da Biologia.
19. 18
Introdução aos
Estudos
Lingüísticos
Quem de fato gostou da história? Quais as reações despertadas?
Para responder a estas perguntas, você não leu palavras, mas
expressões. Ou seja, observou a linguagem corporal - o modo como estamos
de pé ou sentados e os gestos que fazemos reflete sutilmente nossos
sentimentos em relação às pessoas com quem estamos interagindo e á
situação em que nos encontramos. Em nossas salas de aula, precisamos ser
“craques” na leitura corporal, pois os nossos alunos nos transmitem
silenciosamente seus sentimentos, se a aula está boa ou não, aquela carinha de interrogação
ou até mesmo se está dando um passeio nas nuvens...
Desde o nosso nascimento, mergulhamos no mundo da linguagem, da fala, da língua
do meio em que vivemos. Crescemos ouvindo nossos pais e familiares falarem conosco,
fazendo uso de gestos e sinais, através da fala, das palavras. Assim começamos a
compreender o mundo, aprendemos as nossas primeiras palavras, a linguagem gestual, o
nome das coisas que existem ao nosso redor...
Recapitulando o conceito de linguagem humana, através de Gerber (1996, p.52) que
é bastante elucidativo, observe: “linguagem é um sistema finito de princípios e regras que
permitem que um falante codifique significado em sons e o ouvinte decodifique sons em
significado”. Este sistema da linguagem norteado por regras é finito, pois precisa ser
armazenado no cérebro. Paradoxalmente, possui a propriedade de ser infinitamente criativo,
uma vez que possibilita ao falante/ouvinte criar e entender um conjunto infinito de sentenças
gramaticais novas.
Conversamos anteriormente sobre as concepções de linguagem sob o ponto de
vista de Chomsky e Saussure. Agora, trataremos sobre a aquisição da linguagem, ou
seja, como a linguagem é adquirida pelos seres humanos.
Convém iniciar fazendo uma distinção entre desempenho e competência de
linguagem, porquanto não sejam sinônimos, pois o desempenho inclui e é afetada por outras
competências, como o conhecimento conceitual, social e pragmático. Já a competência é
afetada por fatores como memória atenção e fadiga.
Há uma infinidade de teorias e teóricos que tratam deste tema, dentre estes, Gerber,
já mencionada anteriormente, nos apresenta cinco abordagens sobre a aquisição da
linguagem:
Aquisição da Linguagem
1 abordagem da teoria social: foca os efeitos do input de linguagem
provido pela pessoa que cuida do bebê sobre a produção de linguagem da
criança, e os contextos sociais do início da infância;
2 abordagem de modelo de competição: surge do paradigma de
processamento de informações e tentativas de responder pelas variações individuais
na aprendizagem da linguagem;
20. 19
3
abordagem de teoria cognitivista: que percebe a linguagem como
dependente e surgindo de princípios gerais e conceitos da cognição;
4 abordagem da teoria comportamental: vê a linguagem como semelhante
a todos os outros comportamentos aprendidos e como aprendizagem estímulo-
resposta;
Você deve estar se perguntando: tantas abordagens tornam claro o que deve ou
como se processa a aquisição da linguagem? Bom a resposta é: não e sim. Como pode
ser??? NÃO, porque há muita discordância quanto a como considerar os fatos da aquisição,
uma vez que os próprios teóricos, pela suas diferentes orientações e também formação,
sentem dificuldade em concordar uns com os outros. Contudo, podemos dizer que SIM,
porque diferentes abordagens nos farão refletir sobre diversos enfoques possíveis para o
tema, com isso, aprenderemos um pouco mais.
Dentre estas abordagens, trataremos especificamente da teoria lingüística, visto
ser este o foco de nossa disciplina.
Chomsky’ chamou atenção para dois fatos fundamentais sobre a linguagem. Em
primeiro lugar, cada frase dita ou ouvida é uma nova combinação de palavras, que aparece
pela primeira vez na história do universo. Por isso, uma língua não pode ser um repertório
de respostas. Sugere, em sua teoria, que no cérebro uma “gramática prévia” que possibilita
ao falante construir um número infinito de frases a partir de uma lista finita de palavras. O
que é denominado de Gramática Universal.
A gramática universal consiste em subsistemas interagentes de princípios e regras
que são comuns à linguagem em gral. As linguagens particulares se caracterizam como
variáveis ao longo de determinados parâmetros, em termos dos modos nos quais os
princípios são acionados. (GERBER, p.57)
Em Stenberg (2000), Chomsky nos apresenta o seguinte exemplo: se um cientista
marciano observasse crianças numa comunidade de linguagem única, ele concluiria que a
linguagem é quase completamente inata. Esse exemplo nos leva transporta ao segundo
fato observado por Chomsky - o ritmo que as crianças adquirem palavras e o conhecimento
da gramática sem que tenham sido ensinadas -. Para ele, o desenvolvimento desta aquisição
é tão rápida que não pode ser explicado apenas pelos princípios da aprendizagem, pois
considera que há uma “pobreza de estímulo”.As crianças criam frases, que nunca ouviram
antes, e por isso mesmo não podem estar imitando.Além disso, muitos dos erros cometidos
por crianças pequenas resultam do excesso de generalização das regras gramaticais lógicas.
Naturalmente, esta teoria de Chomsky e seus seguidores, não é aceita por todos os
teóricos. A principal crítica a essa abordagem é a de que não considera as diferenças
individuais na aquisição da linguagem, porquanto não distinga raça, classe social,
inteligência ou conhecimento cultural.
5 abordagem da teoria lingüística: que vê a linguagem como surgindo de
uma estrutura cognitiva inata e específica, resultando do estabelecimento de
parâmetros para os princípios de uma gramática universal (UG).
21. 20
Introdução aos
Estudos
Lingüísticos
Por que os bebês não nascem falando? Segundo Pinker (2002) citado
por Raposo e Vaz (2005), os bebês humanos nascem antes de seus cérebros
estarem completamente formados. Caso os seres humanos permanecessem
na barriga da mãe por um período semelhante ao de outros primatas,
nasceriam aos dezoito meses, exatamente a idade na qual os bebês começam
a falar, portanto, nasceriam falando. Não é curioso??
O cérebro do bebê muda consideravelmente depois do nascimento. Nesse momento,
os neurônios já estão formados e já migraram para as suas posições no cérebro, mas o
tamanho da cabeça, o peso do cérebro e a espessura do córtex cerebral, onde se localizam
as sinapses, continuam a aumentar no primeiro ano de vida. Conexões a longa distância
não se completam antes do nono mês e a bainha de mielina continua se adensando durante
toda a infância.As sinapses aumentam significativamente entre o nono e o vigésimo quarto
mês, a ponto de terem 50% a mais de sinapses que os adultos. A atividade metabólica
atinge níveis adultos entre o nono e o décimo mês, mas continuam aumentando até os
quatro anos. O cérebro também perde material neural nessa fase. Um enorme número de
neurônios morre ainda na barriga da mãe, essa perda continua nos dois primeiros anos e
só se estabiliza aos sete anos. As sinapses também diminuem a partir dos dois anos até a
adolescência quando a atividade metabólica se equilibra com a do adulto. Dessa forma,
pode ser que a aquisição da linguagem dependa da maturação cerebral e que as fases de
balbucio, primeiras palavras e aquisição de gramática exijam níveis mínimos de tamanho
cerebral, de conexões a longa distância e de sinapses, particularmente nas regiões
responsáveis pela linguagem. (PINKER, 2002; apud RAPOSO E VAZ, 2005)
E tudo começa com um balbucio ...
Os teóricos costumam dividir o estágio inicial da aquisição de linguagem em duas
fases: pré-lingüística e lingüística. No estágio pré-lingüístico, a capacidade lingüística da
criança desenvolve-se sem qualquer produção lingüística identificável. Este período se
estende, aproximadamente, até o 10º mês de idade. É caracterizado, basicamente, por
vocalizações incompreensíveis e, a partir dos nove meses de idade, por algumas palavras
tão mal formuladas que dificilmente são compreendidas. Nesta fase, as vocalizações não
possuem ainda função representativa, ou seja, uma relação objetiva entre os sons, conceitos
e objetos. Com o aparecimento das primeiras palavras esta função começa a se estabelecer.
Na fase lingüística, quando a criança começa a falar palavras isoladas com certa
compreensão. Posteriormente, a criança progride na escalada de complexidade da
expressão.
Fases do Desenvolvimento da Linguagem
Veja, na página seguinte, a síntese do desenvolvimento da linguagem apresentada
por Schirmer, Fontoura e Nunes (2004).
Este processo é contínuo e ocorre de forma ordenada e seqüencial, com
sobreposição considerável entre as diferentes etapas deste
desenvolvimento.
*
*
23. 22
Introdução aos
Estudos
Lingüísticos
As mesmas autoras nos dizem que o processo de aquisição da
linguagem envolve o desenvolvimento de quatro sistemas interdependentes:
o pragmático, que se refere ao uso comunicativo da linguagem num contexto
social; o fonológico, envolvendo a percepção e a produção de sons para
formar palavras; o semântico, respeitando as palavras e seu significado; e o
gramatical, compreendendo as regras sintáticas e morfológicas para combinar
palavras em frases compreensíveis.
Os sistemas fonológico e gramatical conferem à linguagem a sua forma. O sistema
pragmático descreve o modo como a linguagem deve ser adaptada a situações sociais
específicas, transmitindo emoções e enfatizando significados.Aintenção de comunicar-se
pode ser demonstrada de forma não-verbal através da expressão facial, sinais, e também
quando a criança começa a responder, esperar pela vez, questionar e argumentar. Essa
competência comunicativa reflete a noção de que o conhecimento da adequação da
linguagem a determinada situação e a aprendizagem das regras sociais de comunicação
é tão importante quanto o conhecimento semântico e gramatical.
Diversos estudos são efetuados para melhor compreensão deste processo e também
das anomalias que interferem neste desenvolvimento. O processo de aquisição da linguagem
é bastante complexo, mas também muitíssimo interessante. Dá vontade de só ficar falando
nisso, mas temos um “oceano a atravessar..”
AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividades
ComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares
Nesta semana começamos a ter contato com uma nova disciplina – a Lingüística –
ainda estamos dando os primeiros passos, mas já foi possível perceber qual a importância
deste estudo para os profissionais das Letras – ou seja – Nós! Então, a partir deste
conteúdo, elabore um texto analisando o papel da Lingüística na formação do professor da
área de Letras.
11111.....
24. 23
A Linguagem e a Língua
(Por Domingos Oliveira Medeiros)
A língua muscular
O órgão alongado
Que fica bem situado
A língua pra degustar
....................................
E para deglutinar
A língua que se fala
A língua que se cala
Com ela se escreve
Com ela ninguém se atreve
Chupar somente uma bala
....................................
A língua que é falada
A língua que é escrita
A língua que é prescrita
A língua que é molhada
A língua que é colada
No selo daquela carta
A língua de quem se farta
Lá vai levando a mensagem
Por toda aquela passagem
A língua que se descarta
...........................................
Linguagem é expressão
Cultura de um povo
O velho e o novo
O verbo e a razão
Palavra e palavrão
A língua articular
O modo de se falar
A língua do que é dito
E pra guardar eu repito
Para se comunicar
(Fonte: Usina de Letras)
Observe que o poeta faz algumas considerações sobre a língua, a linguagem e a fala.
Identifique os conceitos presentes e, à luz dos nossos estudos, explique-os!
Destacamos em nosso estudo a aquisição da linguagem humana. Elabore um texto
relatando uma experiência vivida quanto à aquisição da linguagem - filho, neto, sobrinho,
vizinho – não importa de quem, mas a sua percepção sobre esta aquisição.
3.3.3.3.3.
Leia atentamente o texto abaixo, trata-se de uma cantiga de cordel:2.2.2.2.2.
25. 24
Introdução aos
Estudos
Lingüísticos
A partir de agora, iniciaremos nossos estudos sobre alguns conceitos
mais específicos da Lingüística.
PRINCÍPIOS GERAIS DA LINGUAGEM
Conversamos anteriormente sobre a fala. Vimos que ela é a realização das
possibilidades oferecidas pela língua. Deste modo, é um ato individual e momentâneo no
qual interferem fatores extralingüísticos. Vimos também que há uma interdependência entre
língua e fala. Por seu caráter homogêneo, Saussure considera a língua – sistema de signos
- como o objeto específico da Lingüística.
Este mesmo autor nos diz que um signo é combinação de um conceito com uma
imagem sonora. Observe que quando alguém lhe diz: “ganhei rosas” o que acontece
imediatamente? Você mentalmente cria uma imagem mental e “visualiza” a escrita da palavra.
Este é o conceito de signo lingüístico. Ou seja, um conjunto formado de duas partes: uma
perceptível, ou imagem acústica - o significante - e uma inteligível, ou a idéia que o complexo
sonoro desperta no ouvinte, o conceito – o significado. Observe a ilustração:
Natureza do Signo Lingüístico
É importante destacar que o signo não é uma “coisa e uma palavra”, mas um conceito
e uma imagem acústica. Esta imagem sonora é algo mental, visto que é possível a uma
pessoa falar consigo própria sem mover os lábios. Mas, em geral, as imagens sonoras são
usadas para produzir uma elocução.
Para ilustrar o conceito de signo:
significante
significado
face material
face imaterial
SIGNO
sons
conceito
(R-O-S-A)
( )
IMAGEMACÚSTICA CONCEITO
R – O – S – A
Significante Significado
26. 25
Para definir a relação de que a língua e pensamento são indissociáveis, Saussure
criou uma analogia com a folha de papel: se rasgarmos o papel, afetamos ambos os lados
da folha – verso e anverso. Podemos ampliar este exemplo também para os componentes
do signo, o significado e o significante.Alíngua, para Saussure, é a expressão do pensamento
que, sem ela, é uma “massa amorfa e indistinta”. A expressão não se dá diretamente do
pensamento aos sons: ela é mediada pela língua, que é um sistema de signos.
É nesta relação que se estabelece no sistema que os signos adquirem seu valor,
que significam. A língua não é um sistema de signos justapostos, mas uma rede de signos
que se relacionam e, assim, significam.
Para melhor compreender esta relação, Saussure estabeleceu dois princípios: o da
arbitrariedade dos signos e o caráter linear dos significantes.
Vamos a eles:
O signo lingüístico traz ainda como características, segundo Saussure, a mutabilidade
e imutabilidade do signo. Paradoxalmente, o signo lingüístico é simultaneamente mutável e
imutável. Parece ser uma contradição, mas a contradição desaparece atendendo às
diferentes perspectivas em que o signo é mutável e imutável. O signo é imutável pela simples
razão de que “relativamente à comunidade lingüística que o emprega, o signo não é livre,
mas imposto”. O povo não é consultado, e o significante escolhido pela língua não poderia
ser substituído por qualquer outro.
Por que os signos são arbitrários? Será que ao pensar em rosa poderíamos
criar outra seqüência de sons que não a /r/-/o/-/s/-/a/ que lhe serve de significante?
A resposta será não, se considerarmos que a língua é um conjunto de convenções
– e realmente precisa ser assim – adotada por uma comunidade lingüística para
se comunicar. Entretanto, em outras línguas tal idéia pode ser representada por
outros significantes, rose (inglês) por exemplo.
Em contrapartida, o signo lingüístico também aparece como mutável, pois a língua,
enquanto instituição social está sujeita à ação do tempo. “O tempo que assegura a
continuidade da língua, tem um outro efeito, à primeira vista contraditório em relação ao
primeiro: o de alterar mais ou menos rapidamente os signos lingüísticos, e, num certo sentido,
podemos falar ao mesmo tempo de imutabilidade e da mutabilidade do signo.” A mutação
1
O segundo princípio se refere ao caráter linear do significante. Sendo o
significante de natureza auditiva, desenvolve-se na cadeia do tempo de modo
que os signos se apresentam obrigatoriamente uns após os outros, formando
assim uma cadeia – a da fala, cuja estrutura linear em virtude disto, é analisável
e quantificável.
2
* A língua aparece, pois, como um corpo imutável,
independente não só do sujeito como da própria
comunidade lingüística que a utiliza. “Em qualquer
época, e por muito que recuemos, a língua aparece
como uma herança dura geração precedente”.
27. 26
Introdução aos
Estudos
Lingüísticos
provocada pelo tempo sobre a língua consiste fundamentalmente num desvio
na relação entre significante e significado.
O próprio Saussure, através de uma analogia com o jogo de xadrez se
encarrega de ilustrar, o que, a princípio pode parecer uma contradição. Ele
nos diz que se substituirmos as peças de madeira por peças de marfim, a
troca não fará nenhuma diferença. Entretanto, se diminuirmos ou aumentarmos
o número de peças, essa mudança, com certeza, afetará a “gramática do
xadrez”...
“A língua altera-se no tempo, mas não por causa dele”
(BORBA, 2003, p.70)
Vimos que a língua não é estática, muito pelo contrário, é um mecanismo dinâmico
em constante transformação. Como elemento essencial para os estudos lingüísticos, ela
pode ser estudada sob três pontos de vista:
Perspectivas de enfoque: Sincronia, Diacronia, Anacromia
Você percebeu que estes três pontos de vista têm relação com o tempo?
Vamos dar os nomes a cada um destes enfoques.
O primeiro deles considera os fatos lingüísticos independente do seu real
funcionamento porque o seu campo de interesse está centrado no exame de suas
possibilidades de funcionamento, ou seja, descrevem ou explicam quanto à sua
natureza e função – este é o enfoque anacrônico.
O segundo enfoque, o que será observado são os fatos ou dados concretos em
funcionamento, ou seja, a sua maior preocupação será descrever o funcionamento
concreto da língua em um dado momento e lugar, procura conhecer o estado de
língua - este é o enfoque sincrônico.
O terceiro enfoque, naturalmente será o diacrônico. Neste, observa-se as mudanças
que a língua sofre com o decorrer do tempo, ou seja, detectam-se as alterações
sofridas pela língua no decorrer do tempo.
Convém destacar que o estudo anacrônico, por se deter no modo de ser dos fatos, é
atemporal, pois tanto pode referir-se ao passado, ao presente ou mesmo predizer o que
acontecerá no futuro. Diz-se, assim, que este ponto de vista examina o mecanismo lingüístico
como potencial, enquanto conjunto de possibilidades ou como uma máquina lógica.
Os enfoques sincrônicos e diacrônicos, apesar das características distintas, não
devem ser considerados como estanques. Na verdade, completam-se, visto que a língua
*
*
*
quanto ao seu modo de ser;
ao seu funcionamento;
quanto às suas transformações ou evolução.
28. 27
não é estática e, desse modo, não é uma realidade sincrônica. A sincronia é, então, uma
operação abstrativa e, de certa forma, redutora. Nesse sentido, precisa ser completada
pela visão diacrônica. Por outro lado, a sincronia vê a língua como um jogo de relações num
conjunto coerente e regular.
Veja um exemplo, apresentado por Borba (2003, p.72), que esclarece estes conceitos:
Sincronicamente o plural dos nomes (substantivos e adjetivos) funciona assim:
1º) nomes terminados em vogais recebem o (s): menino-s, bode-s
2º) nomes terminados em (r, -s, -z) recebem o (es): mar- es, mes-es, feroz-es;
3º) nomes terminados em (l) mudam o (i) em (is): anima -is, crué -is, azu- is
Para as regras acima, temos que observar o seguinte:
Considerações de ordem diacrônica mostram a regularidade desses fenômenos.
Inicialmente sabemos que o morfema de plural é o –s porque assim terminava o acusativo
plural latino, caso que gerou as formas do português. Esse –s acrescenta-se a diferentes
tipos de radicais.
Exemplo: Rosa/rosas, lobo/lobos, etc...
Ufa! Parafraseando Machado deAssis: “Você ainda está aí, caro leitor?” Se estiver,
fique tranqüilo, pararemos as regras gramaticais por aqui, e vamos à leitura de um poema
de Mário de Andrade, que nos faz refletir sobre o nosso próximo tópico:
se a vogal pertence ao ditongo (ao), há três possibilidades:
mão, irmão mãos, irmãos
pão, cão pães, cães
dragão, leão dragões, leões
se o (s) está em sílaba átona, a palavra não varia:
um dois lápis
o os alferes
este estes ourives
a terminação em ( il) comporta-se assim:
(il) tônico
(il) átono
perde o (e) recebe o (s):
funil/funis, anil/anis
perde o (il) e acrescenta-se
o (eis): fóssil/fósseis, dócil/eis
Que importa que uns falem mole descansado
Que os cariocas arranhem os erres na garganta
Que os capixabas e paroaras escancarem as vogais?
Que tem si o quinhentos réis meridional
Vira tostões do Rio pro Norte?
Juntos formamos este assombro de miséria e grandezas,
Brasil, nome de vegetal...
29. 28
Introdução aos
Estudos
Lingüísticos
Variação Lingüística
Segundo Dubois (1973, p.609), variação é o fenômeno no qual, na
prática corrente, uma língua determinada não é jamais, numa época, num lugar
e num grupo social dados, idêntica ao que ela é noutra época, em outro lugar
e em outro grupo social. Ou seja, é perceber que a “língua é um organismo
vivo”, conforme já nos disse Saussure. Assim, uma variável lingüística é
caracterizada como forma alternante de se transmitir um mesmo conteúdo.
Ilude-se quem pensa que o português, língua majoritária no Brasil, constitui uma
realidade única e homogênea. Sujeito ao fenômeno da variação, próprio a todas as línguas,
a língua portuguesa do Brasil apresenta diversidade interna correlacionada com o espaço
geográfico, o estrato sociocultural, a faixa etária e o sexo próprios do falante. Desse modo,
falantes de diferentes regiões do país mostram diferenças no uso da língua, assim como
falantes que ocupam diferentes lugares na estrutura social ou que pertencem a gerações
diferentes, ou mesmo falantes que são de sexo diferente. É essa diversidade que passaremos
a estudar a partir de agora.
O estudo da variação diatópica considera a língua em suas ocorrências regionais –
comunidades lingüísticas -. Suas manifestações consideram que, hipoteticamente, há uma
linguagem comum sob o ponto de vista geográfico, sendo, geralmente, compreendida e
aceita, visto que contribui para o nivelamento das diferenças regionais.
Destaca-se que determinados traços distinguem a linguagem urbana da rural.
Considerando-se a linguagem urbana mais próxima da linguagem comum, pela ação
decisiva que recebe dos fatores culturais (escola, meios de comunicação, literatura,...);
enquanto que a rural conserva traços mais conservadores e isolados, tendendo à extinção,
visto as influências da vida urbana.
Sobre isso nos diz Labov (1972), que “os dialetos rurais podem transformar-se em
dialetos de classe nas zonas metropolitanas, com decorrência da migração dos falantes
rurais para as ocupações urbanas de menor prestígio.”
Você compreendeu o que eles disseram?
Variação Diatópica ou Regional
30. 29
O estudo da variação diastrática leva em conta a classe social a que o indivíduo
pertence, influenciando no seu modo de falar. Tem influência, ainda, a sua escolaridade.
Infelizmente, é comum em nosso país que as classes de baixa renda apresentem maior
índice de analfabetismo. É o que está demonstrado na charge acima.
Além do grau de escolaridade, outros fatores, segundo Dino Preti (1997, p.38) podem
influenciar na fala, a exemplo de:
a) idade: as variações devidas às várias faixas etárias se restringem muito mais ao
vocabulário, às palavras utilizadas, visto que a “linguagem jovem” é considerado um
vocabulário gírio, e, de certo modo, vago.
Aí, a Tati , cara, é assim, fala sério, uma gata muito maneira, supercabeça, a gente
conversa sobre tudo numa boa.” (Maurinho, amigo de Tati – personagem de Heloísa Périssé
ao se referir ao lançamento do livro “o Diário da Tati”)
b) sexo: a oposição da linguagem do homem/linguagem da mulher pode determinar
diferenças sensíveis no tocante ao vocabulário. Entretanto, essa oposição vem
gradativamente perdendo sua significação, visto que, especialmente, nos grandes centros,
a mulher tem cada vez mais igualado seus hábitos e modo de viver ao dos homens.
c) raça ou cultura: variações ligadas a fatores etnológicos, ou seja, o estudo histórico
dos povos e suas culturas. No Brasil, destaca-se a influência nos falantes que residem em
zonas de maior imigração negra.
Variação Diastrática ou Socioculturais
Conforme vimos nas demais variações, a língua varia em várias dimensões em função
das circunstâncias específicas em que se realiza o ato de fala, conforme o canal utilizado na
comunicação, conforme o grau de intimidade existente entre os interlocutores, conforme o
assunto tratado, o local em que ocorre a interação. Assim é que diferentes recursos da
língua são mobilizados segundo as circunstâncias em que o falante esteja se comunicando,
oralmente ou por escrito, conforme a situação de fala permita um estilo mais informal ou
exija uma linguagem mais formal. É disso que trata a variação estilística ou diafásica.
Considerando, ainda, que a variação estilística é uma realidade da qual os falantes
não podem escapar, o desempenho dos falantes em situações de diferentes graus de
formalidade, permite a observação de diferenças na norma culta, em correspondência a
diferentes graus de formalidade na elocução. Deve-se observar, ainda, que, considerando-
se que os falantes não escrevem como falam, a norma culta se desdobra em uma modalidade
oral e uma modalidade escrita.
Variação Diafásica ou Estilística
31. 30
Introdução aos
Estudos
Lingüísticos
Na variação diafásica, pode-se estabelecer a hipótese de que o mesmo
falante use as formas “andar” ou “andá”, “fazer” ou “fazê”, apagando parte de
palavras quando está numa situação de bastante informalidade (por exemplo,
numa conversa familiar), diferentemente do que muito provavelmente faria
numa situação de maior formalidade - como em uma apresentação. (FIORIN,
2002).
Em nossa sociedade, desfruta de prestígio aquele que utiliza a chamada língua
padrão. Entende-se como padrão, o português usado pelo segmento da população que
tem bastante escolaridade – o chamado português culto ou “norma culta”. É a variedade
que é ensinada na escola, que é usada nos documentos oficiais e em livros, jornais, revistas,
televisão e rádio. Entretanto, considerando-se a extensa área do país, e a existência de
vários centros urbanos importantes, dos quais origina a norma culta, faz-se necessário
reconhecer que essa norma apresenta algumas diferenças de região para região. Portanto,
não há como existir uma única norma culta vigente em todo o país.
Com o estudo das variações lingüísticas, reforçamos a nossa percepção de a
linguagem que utilizamos não transmite apenas nossas idéias, mas também um conjunto
de informações sobre quem somos socialmente, em que região vivemos, até mesmo os
nossos valores – ou seja – parafraseando uma frase bastante conhecida: - “diga-me o que
dizes e dir-te-ei quem és!”.
Assim, a língua é um poderoso instrumento de ação social. Por isso e para isso,
convém salientar que, enquanto futuros professores de Língua Portuguesa, devemos ensinar
a norma culta, mas respeitando sempre as diferenças, pois não é nosso papel condenar ou
eliminar a língua falada pelos nossos alunos em seu ambiente familiar. Saber usar bem uma
língua equivale a empregá-la de modo adequado nas mais distintas situações sociais.
Para entender um pouco mais este tema, vamos falar agora sobre os dialetos.
Você sabe o que é isso?
Segundo Halliday (1974) apud Preti (1997), “um dialeto é uma variedade de uma
língua diferenciada de acordo com o usuário: grupos diferentes de pessoas no interior da
comunidade lingüística falam diferentes dialetos.”
Desse modo, é possível que ocorram em qualquer área geográfica (embora sejam
mais freqüentes na linguagem urbana), identificar e descrever um sistema de variedades
sócio-culturais da linguagem a qual se denomina – dialetos sociais.
Não se pode esperar que os dialetos sociais sejam tão claramente distintos, como
os regionais, por exemplo, mas duas variáveis podem ser apresentadas, pois convivem
numa mesma comunidade, cada uma desempenhando especificamente o seu papel –
fenômeno conhecido por diglosia.
Em sínteseEm sínteseEm sínteseEm sínteseEm síntese...............
Variação ou variantes lingüísticos são as variações que
uma língua apresenta de acordo com as condições sociais,
culturais, regionais e históricas em que é utilizada.
Variantes, Gírias e Tabus
32. 31
Estamos nos referindo ao uso da linguagem culta ou padrão e uma linguagem popular
ou subpadrão. A primeira traz maior prestígio para os seus falantes e , normalmente, é
utilizada em situações de maior formalidade; a segunda, por sua vez, de menor prestígio, é
utilizada nas situações coloquiais, de menor formalidade.
Genericamente, poderíamos apresentar utilizar o exemplo utilizado por Ferguson:
Naturalmente, há controvérsias quanto a alguns destes elementos, se considerarmos,
por exemplo, os discursos políticos que temos assistido...
Função Dialeto
culto popular
aula universitária, conferências, sermões
discursos políticos
programas culturais e noticiários de TV ou rádio
programas de auditório da TV
conversa entre amigos ou em família
irradiação de futebol e outros esportes
novelas de rádio e TV
comunicações científicas
entrevistas com intelectuais a propósito de temas científicos / artísticos
expressão de estados emocionais, confissões, anedotas, narrativas
X
-
X
X
X
X
X
X
X
X
-
-
-
-
-
-
-
-
-
X
Poderíamos ainda fazer a seguinte síntese quantos aos níveis de linguagem:
CULCULCULCULCULTTTTTOOOOO
comumcomumcomumcomumcomum
POPULARPOPULARPOPULARPOPULARPOPULAR
padrão lingüístico;
maior prestígio;
situações mais formais;
falantes cultos;
literatura e linguagem escrita;
sintaxe mais complexa;
vocabulário técnico;
maior ligação com a gramática e
com a língua dos escritores, etc.
subpadrão lingüístico;
menor prestígio;
situações menos formais;
falantes do povo menos culto;
linguagem escrita popular;
simplificação sintática;
vocabulário mais restrito;
gíria, linguagem obscena;
fora dos padrões da gramática tradicional.
DIALETOSSOCIAS
{
{
33. 32
Introdução aos
Estudos
Lingüísticos
Sendo que o nível intermediário ou comum seria um meio-termo entre
o nível culto e popular, cabe observar que essas subdivisões não são perfeitas
quando didaticamente estudadas, pois não é tão simples traçar um limite entre
os níveis. Ficam alguns questionamentos para reflexão: Em sua fala, onde
começa ou termina o nível popular?Até onde vai o nível culto? Viu como não é
tão simples?
Você já devia estar se perguntando, “e a gíria”?
A gíria é um dos muitos dialetos de uma língua. Normalmente é criada por um grupo
social como o dos fãs de rap, de havy metal, o dos que praticam uma determinada luta
como a capoeira, dos internautas, etc. Observe alguns termos utilizados pelos grafiteiros:
As gírias, quando ligadas às profissões, passam a ser chamada de jargão. É o caso
do jargão dos jornalistas, dos médicos, dos dentistas e de tantos outros profissionais.
Dino Preti nos diz: “Antigamente, jargão era a gíria dos marginais, mas, até hoje, há
estudos nos quais a palavra é usada como sinônimo de gíria.” Mas isso gera uma confusão
grande”, afirma.
Ainda de acordo com o mesmo autor, jargão é a “linguagem científica ou técnica
banalizada”. Por definição, é uma forma de falar inadequada à situação. “A pessoa quer se
promover, mostrar que fala uma linguagem que o outro desconhece, o que disfarça uma
ignorância.” , conforme nos diz Luis Fernando Veríssimo em “As Mentiras que os homens
contam”.
É fácil apontar o jargão dos outros, difícil é viver sem um. Do telemarketing ao
ministério, da mecânica ao magistério, toda atividade tem vocabulário próprio. Cada
especialista recorre à sua “rebimboca da parafuseta” ou à sua “política fiscal contracíclica”.
Então, por que a censura? “O jargão tem um sentido mais pejorativo nos meios acadêmicos,
mas, na verdade, a própria academia o usa muito”, diz Preti.
Gíria e Jargão
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Leia atentamente o texto abaixo. Trata-se de uma música cantada por Zeca Baleiro,
um poeta/compositor maranhense, que, de forma divertida e bem humorada, nos apresenta
a oposição de duas forças: Deus e o diabo.
Heavy Metal Do Senhor
O cara mais underground que eu conheço é o diabo
que no inferno toca cover das canções celestiais
com sua banda formada só por anjos decaídos
a platéia pega fogo quando rolam os festivais
enquanto isso Deus brinca de gangorra no playground
do céu com santos que já foram homens de pecado
de repente os santos falam “toca Deus um som maneiro”
e Deus fala “aguenta vou rolar um som pesado”
a banda cover do diabo acho que já tá por fora
o mercado tá de olho é no som que Deus criou
com trombetas distorcidas e harpas envenenadas
mundo inteiro vai pirar com o heavy metal do Senhor
ComplementaresComplementaresComplementaresComplementaresComplementares
AtividadesAtividadesAtividadesAtividadesAtividades
11111.....
Identifique os dialetos sociais utilizados. Para isso, identifique a qual grupo social pode
ser associado as palavras ou expressões como:
-underground, som, som pesado, heavy metal;
-inferno, canções celestiais, anjos, Deus, santos, homens decaídos;
-cara, cover, pega fogo, maneiro, rolar, tá de olho, envenenadas, pirar.
b)
Identifique os elementos que denotam uma variação cultural.a)
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Introdução aos
Estudos
Lingüísticos
Suponha que você seja um criador de campanhas publicitárias e que
tenha sido contratado por uma indústria de perfumes para produzir os textos
de propaganda de uma nova linha masculina. Levando em conta as
características próprias da linguagem de cada grupo social, escreva um
pequeno texto dirigido a cada um dos seguintes tipos de público consumidor
do produto:
2.2.2.2.2.
a) jovens adolescentes urbanos
b) homens de elevado padrão socioeconômico
Leia atentamente as frases abaixo:3.3.3.3.3.
I. O professor chamou ele no quadro.
O professor o chamou no quadro.
II. Os meninos tudo saiu.
Todos os meninos saíram.
As frases acima e a charge, exemplificam o fenômeno da variação lingüística. Redija
um texto, de uma página, explicando a ocorrência desse fenômeno em nossa língua.
III.
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PERSPECTIVA DO ENFOQUE LINGÜÍSTICO
GRAMÁTICA: CONSIDERAÇÕES GERAIS
“O ensino de língua na escola é a única disciplina em que existe
disputa entre duas perspectivas distintas, dois modos diferentes de
encarar o fenômeno da linguagem: a doutrina gramatical tradicional,
surgida no mundo helenístico no século III a.C. e a lingüística moderna,
que se firmou como ciência autônoma no final do século XIX e início
do século XX.” Marcos Bagno
Para início de conversa...
Ouvimos o tempo inteiro o termo ‘gramática tradicional’ ou ‘gramática normativa’,
você sabe por que ela é assim denominada? É sobre isso que conversaremos a partir de
agora...
Saussure define a gramática como o estudo de uma língua examinada como um
“sistema de meios de expressão” (1992, p.185)
Mattoso Câmara Jr., no Dicionário de Lingüística e Gramática, nos diz que mais
estritamente é o estudo dos morfemas, ou morfologia, e dos processos de estruturação do
sintagma. Pode-se acrescentar o estudo dos traços fônicos e da grafia correspondente,
que permitem a apreensão lingüística pela distinção acústica dos elementos enunciados,
na língua oral – fonologia e fonêmica -, e, na escrita, a leitura do texto. Trata, assim, a
gramática:
a) dos fonemas e sua combinação;
b) dos morfemas e sua estruturação no vocábulo (sintagma lexical);
c) dos sintagma de vocábulos.
Desse modo, a gramática está dividida em três partes gerais, respectivamente:
História; divisões: Gramática Tradicional
fonologia, morfologia e sintaxe.
Desde a sua origem –Séculos V – IV a.C. - a gramática estabeleceu as regras,
consideradas as melhores, para a língua escrita, baseada no uso que dela faziam seus
usuários – escritores, poetas e prosadores. Etimologicamente é a “arte de escrever”,
esclarecendo, assim, o seu objetivo.
O estudo da gramática, na Grécia Antiga, apresenta três diferentes períodos:, pré-
socráticos, estóicos e alexandrinos.