O poema descreve a história de um homem sem-teto que construiu um abrigo às margens de um lago e viu outras 80 famílias se juntarem a ele ao longo de 27 anos. Recentemente, eles foram informados que teriam que desocupar a área, mas o secretário de obras prometeu que eles seriam realocados para um novo local chamado Cerejeira.
1. Os sem teto e os filhos
Foi às margens do Lagoa
De águas cristalinas
Junto a um grande arvoredo
Que pude construir meu ninho.
Eu via nesse lugar
Uma única saída
Pra poder botar em ordem
Um pouco da minha vida
Assim como eu vieram
Em busca de moradia
E aos poucos foram se agregando
Mais de oitenta famílias.
Muitos anos se passaram
Mais ou menos vinte e sete
As crianças já cresceram
Mas já nasceram os netos
A cidade foi crescendo
Lá surgiram muitos bairros
Avenidas são abertas
E vão ser interligadas.
Para nós não foi surpresa
Quando chegou o recado
Que deveríamos sair
Para não sermos despejados.
Com a notícia nas casas
Fizemos uma reunião
Para juntos lutarmos
Por outro pedaço de chão
Buscando a resolução
Ficamos apavorados
Era a desconfiança
2. Que estava ao nosso lado
Conversando com o Paulão
Era quem nos ajudava
Para falar com o prefeito
Que em tudo é quem mandava
O secretário de obras
Mais uma vez nos pediu
Com uma promessa boa
Vocês vão para o cerejeira
Desocupando o Lagoa
Não fiquei muito afobado
Já tinha pra onde ir
Só fiquei com a saudade
Do lugar onde vivi.