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                                                                                                                                                                    NúmerO
     laboratório OlímpicO




                                                                                                                                                                             ANO 2
     iNFOrmAtiVO téCNiCO-CieNtíFiCO DO COmitê OlímpiCO brASileirO                                                                                                  OUt/NOV 2008




               SiStemA De mONitOrAmeNtO
               e CONtrOle DA CArGA De treiNAmeNtO
                                                                                Agregando conceitos da cibernética e da mecânica, um sis-
                  JACielle CArOliNA FerreirA                                    tema de controle e monitoramento da carga foi desenvol-
                  Universidade Federal de minas Gerais (UFmG)
                  laboratório de Avaliação da Carga                             vido baseado em um modelo de circuito aberto. A fim de
                                                                                criar maiores possibilidades de interferência no processo
                                                                                de treinamento, novos componentes foram incluídos no
                  leSzek ANtONi SzmUChrOwSki
                  Universidade Federal de minas Gerais (UFmG)
                                                                                sistema, aumentando sua complexidade e trazendo maior
                  laboratório de Avaliação da Carga                             garantia dos resultados pretendidos (Figura 2).

                                                                                                                 interferência

              A preparação do atleta é um processo multifacetado de uti-          planos de
                                                                                 treinamento
              lização racional de fatores (meios e condições) que per-
                                                                                                EntRaDa         _                 SaíDa                resultado
              mitem influir de maneira dirigida sobre o seu progresso.                p                         X                                      esportivo

              Neste sentido, é preciso estabelecer uma carga específica
              de trabalho para assegurar a sua melhor performance1. Um                                        Efetor
                                                                                                       (estado do atleta)
              sistema de gerenciamento de treinamento de atletas en-
                                                                                 tREinaDOR
              volve a participação de recursos humanos e materiais que
                                                                                Figura 1 – esquema de um sistema de circuito fechado, mais
              devem ser organizados para obtenção da qualidade alme-            freqüentemente encontrado no treinamento esportivo
              jada. A estruturação deste tipo de sistema é tão impor-
                                                                                                                  interferência
              tante que na Grécia Antiga já se observava tal preocu-
                                                                                   planos de
              pação. Naquela época, foram respondidas questões relativas          treinamento
              à preparação dos atletas, envolvendo as competições e o parecer                    EntRaDa         _                SaíDa                resultado
                                                                                       p                         X                                     esportivo
              de treinadores, médicos, massagistas, juízes e organizadores2.

              De acordo com Verkhoshanski3, o desenvolvimento do trei-                                         Efetor
                                                                                                          (estado do atleta)                 interferência
              namento está baseado no fundamento científico, através
                                                                                  tREinaDOR                  medicina
                                                                                                                                      Observação
              do qual se corrige erros do passado e especulações teo-                                        Esportiva
                                                                                                          (processamento)
                                                                                                                                       (medida)

              rizadas. A organização da preparação dos atletas auxilia          preparador físico,
                                                                                  membros da
              o treinador na adoção de tarefas de maior complexidade,           comissão técnica                                    (monitoramento)
                                                                                                                                        Direto
              muitas vezes diferentes das tradicionais.                                                      avaliador                Operacional
                                                                                                          (processamento)              periódico


              O sistema de preparação de atletas é multidimensional.            Figura 2 – esquema de um sistema de circuito aberto, encontrado
              Uma destas dimensões diz respeito ao Sistema de monito-           em modalidades esportivas mais estruturadas

              ramento e controle da carga de treinamento. Num modelo
                                                                                possivelmente, o principal fator determinante do poten-
              pouco funcional, o treinamento é processado em um siste-
                                                                                cial atlético é resultado do seu componente genético,
              ma de circuito fechado, onde não há opção de interferên-
                                                                                que inclui não só características antropométricas, cardio-
              cia. Deste modo, o que foi planejado será executado sem a
                                                                                vasculares e de proporção do tipo de fibras, mas tam-
              garantia de que o objeto/efetor/atleta está em condições          bém a capacidade de evoluir com o treinamento. Apesar
              de suportar as cargas impostas e de que as adaptações             de o cientista do esporte poder fazer pouco para alterar
              desejadas estão de fato ocorrendo. Além disso, as demais          o que foi determinado pela hereditariedade, ele pode su-
              interferências que acontecem durante a realização dos             gerir estratégias eficientes de treinamento de acordo com
              programas não são controladas (Figura 1).                         as aptidões genéticas dos atletas.




01
NúmerO


     iNFOrmAtiVO téCNiCO-CieNtíFiCO DO COmitê OlímpiCO brASileirO
                                                                                                                 07           OUt/NOV2008   ANO 2




                                                                             Como exemplo de variável interna (fisiológica) podemos
                                                                             citar a freqüência cardíaca, que, apesar de apresentar mui-
                                                                             tas limitações, é a prática mais utilizadas no treinamento
               As cargas de treinamento representam                          esportivo. Outras variáveis como lactato, amônia, tempe-
               um estresse multidimensional e exigem                         ratura interna e secreção hormonal trazem informações
               do atleta a produção de força em um                           importantes a cerca do estado do indivíduo. No entanto,
                                                                             seus instrumentos de mensuração são mais dispendiosos
               determinado espaço e tempo.
                                                                             e invasivos, podendo perturbar o processo de treinamen-
                                                                             to, além de serem de difícil aplicação em campo.

                                                                             Já as variáveis mecânicas respondem pela qualidade da
               Neste novo modelo, o programa de treinamento representa       carga executada. Espaço, força e tempo são as variáveis
               a entrada do sistema e os resultados obtidos pelos atletas,   básicas das quais resultam outras como velocidade, acele-
               a saída. Os programas permitem avaliações e correções ao      ração, potência e trabalho. Os instrumentos de mensura-
               longo do treinamento, que são elaboradas pela comissão        ção de variáveis mecânicas para controle vão de simples
               técnica multidisciplinar (departamento técnico, departa-      cronômetros e trenas a sistemas automatizados com sen-
               mento de estatística, médico, preparador físico, prepara-     sores fotoelétricos, dinamômetros, sistemas de filmagem
               dor mental, nutricionista etc).                               e de GpS (Global Positioning System).

               Sem dúvida, o atleta representa o componente mais im-         Os dois tipos de variáveis devem ser utilizados no processo
               portante do Sistema, com função efetora que sofre cons-       de controle e monitoramento da carga de treinamento.
               tantes adaptações na direção dos componentes das cargas       este processo deve ocorrer em três diferentes níveis, cada
               realizadas. As cargas de treinamento representam um es-       um deles visando à identificação de respostas diferentes.
               tresse multidimensional e exigem do atleta a produção de      São eles:

               força em um determinado espaço e tempo. para cumprir          1. controle Direto (monitoramento) permite o acompa-
               estas cargas, que geram instabilidade no organismo, sua          nhamento e o registro real das cargas as quais o atleta
               estrutura interna (sistema energético, cardiorrespiratório,      é submetido. O controle direto diz respeito ao controle
               neuromuscular etc) se modifica a fim de buscar uma nova          da qualidade da carga estabelecida para o exercício.
               homeostasia, que nem sempre é alcançada. A resposta do           Com o controle direto, é possível manter a execução
               organismo à carga pode ser mensurada, e conseqüente-             do treinamento dentro do que foi anteriormente pla-
               mente controlada, utilizando variáveis internas (fisiológi-      nejado no programa. podemos citar como variável
               cas) ou externas (mecânicas)4,5.                                 mecânica a velocidade (km/h) durante uma corrida
                                                                                e como variável fisiológica, a freqüência cardíaca (bpm)
                                                                                registrada no mesmo tempo com micro-computador
                                                                                carregado pelo atleta. O controle direto se aplica
                                                                                apenas no nível da unidade de treinamento (durante
                                                                                treinamento).

                                                                             2. controle Operacional é o processo de monitoramento
                                                                                mais importante das adaptações agudas relaciona-
                                                                                das ao estado de fadiga-recuperação, principalmente
                                                                                durante o período anterior às competições. O contro-
                                                                                le operacional ocorre tanto dentro da unidade de trei-
                                                                                namento quanto nos microciclos, representando um
                                                                                dos principais fatores de detecção da necessidade de
                                                                                alteração do programa. pode ser aplicado utilizando
                                                                                uma variável mecânica, como o desempenho em um
               Figura 3 – exemplo de instrumentalização do monitoramento        salto vertical (cm), ou fisiológica, como a variabilidade
               no treinamento esportivo, utilizando variáveis internas
               (fisiológicas) ou externas (mecânicas)                           da freqüência cardíaca (Desvio padrão).




02
NúmerO


iNFOrmAtiVO téCNiCO-CieNtíFiCO DO COmitê OlímpiCO brASileirO
                                                                                                                                             07           OUt/NOV2008   ANO 2




          3. controle periódico permite verificar os efeitos crônicos                                  tando, por exemplo, lesões por excesso de carga,
               do treinamento, ou seja, o estado das adaptações per-                                   e maximizar o desempenho do atleta, uma vez que sua
               manentes. é utilizado no nível do meso e macrociclos                                    resposta à carga física é bem conhecida e controlada
               e também na seleção dos atletas. Os testes aqui apli-                                   pelos componentes do sistema.

               cados podem ser os mesmos adotados para o controle                                      Como todo sistema, este também está sujeito a ruídos,
               operacional, com apoio de testes clássicos em labora-                                   interferências que causam problemas na obtenção, inter-
               tórios tais como testes de consumo máximo de oxigê-                                     pretação ou transmissão das informações. para minimizá-
               nio, limiar anaeróbico (bpm, km/h, mmol/l), 1rm (kg),                                   los, é importante prezar pela qualidade dos equipamen-
               força isométrica (N), teste de velocidade (m/s), winga-                                 tos utilizados e dos profissionais que compõem o sistema.

               te (w, J, percentual da queda de potência) etc.                                         Somando isto ao conhecimento prévio de seu funciona-
                                                                                                       mento, o sistema de controle e monitoramento da carga
          para o funcionamento harmônico do sistema, o monito-
                                                                                                       de treinamento pode render ótimos resultados à forma-
          ramento e o controle realizados, devido às suas comple-                                      ção e ao treinamento dos atletas brasileiros.
          xidades, devem ser executados e interpretados pelo espe-
                                                                                                       tal proposta representa um avanço em relação aos mode-
          cialista-avaliador, que repassará os resultados aos outros
                                                                                                       los praticados no passado, onde o sistema adotado carac-
          membros do sistema (preparador físico, médico, nutricio-
                                                                                                       terizava-se pela estrutura fechada. Os programas elabo-
          nista, treinador), de acordo com suas responsabilidades.
                                                                                                       rados simplesmente não sofriam nenhum ajuste de cargas
          Caberá a estes membros a tomada de decisões operacio-
                                                                                                       de treinamento e não detectavam alterações provocadas
          nais e a modificação ou não do programa planejado.
                                                                                                       pelos ruídos, além de não ofereceram a possibilidade de
          Os resultados sobre os estados de fadiga–recupera-                                           avaliação precisa dos resultados obtidos em competições.
          ção–adaptação gerados pelo sistema trazem maior                                              Com a nova proposta, o controle aplicado desde a unida-
          conhecimento sobre o atleta e sobre o próprio processo                                       de de treinamento permite maiores e melhores ajustes no
          de treinamento. A utilização deste sistema pode minimizar                                    programa proposto e traz aos técnicos segurança acerca
          os erros de manipulação do programa de treinamento, evi-                                     do rendimento e do estado de saúde física dos atletas.


           reFerêNCiAS

           1. matveiev, l. Fundamentos Del treinamento Desportivo. moscú: raduga, 1985.
           2. platonov, VN. tratado Geral de treinamento Desportivo. São paulo: phorte, 2008.
           3. Verkhoshanski, Y. treinamento desportivo: teoria e metodologia. porto Alegre: Artmed, 2001.
           4. Szmuchrowski, lA. Componentes e parâmetros da Carga no treinamento esportivo. in: temas X em educação Física e esportes. Coletânea de
              trabalhos do Departamento de esportes / UFmG. belo horizonte: Saúde, 2005.
           5. Szmuchrowski, lA; Couto, bp; kraguljac, m; rodrigues, hS. System for registration and analysis of load. in: book of Abstracts 9th annual Congress –
              european College of Sport Science. France, 2004.



           eXpeDieNte

           Responsável: Departamento técnico do COb                                                    colaboração: luciano espíndula pinto
           Superintendente Executivo de Esportes: marcus Vinícius Freire                               Endereço: Comitê Olímpico brasileiro
           Gerente Geral: José roberto perillier                                                       Avenida das Américas, 899 - barra da tijuca
           Área de ciência do Esporte: luis eduardo Viveiros de Castro                                 rio de Janeiro-rJ - Cep: 22631-000
           isadora toscano de britto                                                                   contatos: e-mail: laboratorioolimpico@cob.org.br
           Edição: isadora toscano de britto                                                           Fax: (21) 3433-5858


           laboratório Olímpico é uma publicação do Comitê Olímpico brasileiro (COb) sob a supervisão da Área de marketing e Comunicação


                                                               pat R O c i n a D O R E S O f i c i a i S




                             aSSiStência méDica                                                                aSSiStência ODOntOlóGica




                                                                                                                                                 www.cob.org.br

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Laboratorio olimpico 07

  • 1. 07 NúmerO laboratório OlímpicO ANO 2 iNFOrmAtiVO téCNiCO-CieNtíFiCO DO COmitê OlímpiCO brASileirO OUt/NOV 2008 SiStemA De mONitOrAmeNtO e CONtrOle DA CArGA De treiNAmeNtO Agregando conceitos da cibernética e da mecânica, um sis- JACielle CArOliNA FerreirA tema de controle e monitoramento da carga foi desenvol- Universidade Federal de minas Gerais (UFmG) laboratório de Avaliação da Carga vido baseado em um modelo de circuito aberto. A fim de criar maiores possibilidades de interferência no processo de treinamento, novos componentes foram incluídos no leSzek ANtONi SzmUChrOwSki Universidade Federal de minas Gerais (UFmG) sistema, aumentando sua complexidade e trazendo maior laboratório de Avaliação da Carga garantia dos resultados pretendidos (Figura 2). interferência A preparação do atleta é um processo multifacetado de uti- planos de treinamento lização racional de fatores (meios e condições) que per- EntRaDa _ SaíDa resultado mitem influir de maneira dirigida sobre o seu progresso. p X esportivo Neste sentido, é preciso estabelecer uma carga específica de trabalho para assegurar a sua melhor performance1. Um Efetor (estado do atleta) sistema de gerenciamento de treinamento de atletas en- tREinaDOR volve a participação de recursos humanos e materiais que Figura 1 – esquema de um sistema de circuito fechado, mais devem ser organizados para obtenção da qualidade alme- freqüentemente encontrado no treinamento esportivo jada. A estruturação deste tipo de sistema é tão impor- interferência tante que na Grécia Antiga já se observava tal preocu- planos de pação. Naquela época, foram respondidas questões relativas treinamento à preparação dos atletas, envolvendo as competições e o parecer EntRaDa _ SaíDa resultado p X esportivo de treinadores, médicos, massagistas, juízes e organizadores2. De acordo com Verkhoshanski3, o desenvolvimento do trei- Efetor (estado do atleta) interferência namento está baseado no fundamento científico, através tREinaDOR medicina Observação do qual se corrige erros do passado e especulações teo- Esportiva (processamento) (medida) rizadas. A organização da preparação dos atletas auxilia preparador físico, membros da o treinador na adoção de tarefas de maior complexidade, comissão técnica (monitoramento) Direto muitas vezes diferentes das tradicionais. avaliador Operacional (processamento) periódico O sistema de preparação de atletas é multidimensional. Figura 2 – esquema de um sistema de circuito aberto, encontrado Uma destas dimensões diz respeito ao Sistema de monito- em modalidades esportivas mais estruturadas ramento e controle da carga de treinamento. Num modelo possivelmente, o principal fator determinante do poten- pouco funcional, o treinamento é processado em um siste- cial atlético é resultado do seu componente genético, ma de circuito fechado, onde não há opção de interferên- que inclui não só características antropométricas, cardio- cia. Deste modo, o que foi planejado será executado sem a vasculares e de proporção do tipo de fibras, mas tam- garantia de que o objeto/efetor/atleta está em condições bém a capacidade de evoluir com o treinamento. Apesar de suportar as cargas impostas e de que as adaptações de o cientista do esporte poder fazer pouco para alterar desejadas estão de fato ocorrendo. Além disso, as demais o que foi determinado pela hereditariedade, ele pode su- interferências que acontecem durante a realização dos gerir estratégias eficientes de treinamento de acordo com programas não são controladas (Figura 1). as aptidões genéticas dos atletas. 01
  • 2. NúmerO iNFOrmAtiVO téCNiCO-CieNtíFiCO DO COmitê OlímpiCO brASileirO 07 OUt/NOV2008 ANO 2 Como exemplo de variável interna (fisiológica) podemos citar a freqüência cardíaca, que, apesar de apresentar mui- tas limitações, é a prática mais utilizadas no treinamento As cargas de treinamento representam esportivo. Outras variáveis como lactato, amônia, tempe- um estresse multidimensional e exigem ratura interna e secreção hormonal trazem informações do atleta a produção de força em um importantes a cerca do estado do indivíduo. No entanto, seus instrumentos de mensuração são mais dispendiosos determinado espaço e tempo. e invasivos, podendo perturbar o processo de treinamen- to, além de serem de difícil aplicação em campo. Já as variáveis mecânicas respondem pela qualidade da Neste novo modelo, o programa de treinamento representa carga executada. Espaço, força e tempo são as variáveis a entrada do sistema e os resultados obtidos pelos atletas, básicas das quais resultam outras como velocidade, acele- a saída. Os programas permitem avaliações e correções ao ração, potência e trabalho. Os instrumentos de mensura- longo do treinamento, que são elaboradas pela comissão ção de variáveis mecânicas para controle vão de simples técnica multidisciplinar (departamento técnico, departa- cronômetros e trenas a sistemas automatizados com sen- mento de estatística, médico, preparador físico, prepara- sores fotoelétricos, dinamômetros, sistemas de filmagem dor mental, nutricionista etc). e de GpS (Global Positioning System). Sem dúvida, o atleta representa o componente mais im- Os dois tipos de variáveis devem ser utilizados no processo portante do Sistema, com função efetora que sofre cons- de controle e monitoramento da carga de treinamento. tantes adaptações na direção dos componentes das cargas este processo deve ocorrer em três diferentes níveis, cada realizadas. As cargas de treinamento representam um es- um deles visando à identificação de respostas diferentes. tresse multidimensional e exigem do atleta a produção de São eles: força em um determinado espaço e tempo. para cumprir 1. controle Direto (monitoramento) permite o acompa- estas cargas, que geram instabilidade no organismo, sua nhamento e o registro real das cargas as quais o atleta estrutura interna (sistema energético, cardiorrespiratório, é submetido. O controle direto diz respeito ao controle neuromuscular etc) se modifica a fim de buscar uma nova da qualidade da carga estabelecida para o exercício. homeostasia, que nem sempre é alcançada. A resposta do Com o controle direto, é possível manter a execução organismo à carga pode ser mensurada, e conseqüente- do treinamento dentro do que foi anteriormente pla- mente controlada, utilizando variáveis internas (fisiológi- nejado no programa. podemos citar como variável cas) ou externas (mecânicas)4,5. mecânica a velocidade (km/h) durante uma corrida e como variável fisiológica, a freqüência cardíaca (bpm) registrada no mesmo tempo com micro-computador carregado pelo atleta. O controle direto se aplica apenas no nível da unidade de treinamento (durante treinamento). 2. controle Operacional é o processo de monitoramento mais importante das adaptações agudas relaciona- das ao estado de fadiga-recuperação, principalmente durante o período anterior às competições. O contro- le operacional ocorre tanto dentro da unidade de trei- namento quanto nos microciclos, representando um dos principais fatores de detecção da necessidade de alteração do programa. pode ser aplicado utilizando uma variável mecânica, como o desempenho em um Figura 3 – exemplo de instrumentalização do monitoramento salto vertical (cm), ou fisiológica, como a variabilidade no treinamento esportivo, utilizando variáveis internas (fisiológicas) ou externas (mecânicas) da freqüência cardíaca (Desvio padrão). 02
  • 3. NúmerO iNFOrmAtiVO téCNiCO-CieNtíFiCO DO COmitê OlímpiCO brASileirO 07 OUt/NOV2008 ANO 2 3. controle periódico permite verificar os efeitos crônicos tando, por exemplo, lesões por excesso de carga, do treinamento, ou seja, o estado das adaptações per- e maximizar o desempenho do atleta, uma vez que sua manentes. é utilizado no nível do meso e macrociclos resposta à carga física é bem conhecida e controlada e também na seleção dos atletas. Os testes aqui apli- pelos componentes do sistema. cados podem ser os mesmos adotados para o controle Como todo sistema, este também está sujeito a ruídos, operacional, com apoio de testes clássicos em labora- interferências que causam problemas na obtenção, inter- tórios tais como testes de consumo máximo de oxigê- pretação ou transmissão das informações. para minimizá- nio, limiar anaeróbico (bpm, km/h, mmol/l), 1rm (kg), los, é importante prezar pela qualidade dos equipamen- força isométrica (N), teste de velocidade (m/s), winga- tos utilizados e dos profissionais que compõem o sistema. te (w, J, percentual da queda de potência) etc. Somando isto ao conhecimento prévio de seu funciona- mento, o sistema de controle e monitoramento da carga para o funcionamento harmônico do sistema, o monito- de treinamento pode render ótimos resultados à forma- ramento e o controle realizados, devido às suas comple- ção e ao treinamento dos atletas brasileiros. xidades, devem ser executados e interpretados pelo espe- tal proposta representa um avanço em relação aos mode- cialista-avaliador, que repassará os resultados aos outros los praticados no passado, onde o sistema adotado carac- membros do sistema (preparador físico, médico, nutricio- terizava-se pela estrutura fechada. Os programas elabo- nista, treinador), de acordo com suas responsabilidades. rados simplesmente não sofriam nenhum ajuste de cargas Caberá a estes membros a tomada de decisões operacio- de treinamento e não detectavam alterações provocadas nais e a modificação ou não do programa planejado. pelos ruídos, além de não ofereceram a possibilidade de Os resultados sobre os estados de fadiga–recupera- avaliação precisa dos resultados obtidos em competições. ção–adaptação gerados pelo sistema trazem maior Com a nova proposta, o controle aplicado desde a unida- conhecimento sobre o atleta e sobre o próprio processo de de treinamento permite maiores e melhores ajustes no de treinamento. A utilização deste sistema pode minimizar programa proposto e traz aos técnicos segurança acerca os erros de manipulação do programa de treinamento, evi- do rendimento e do estado de saúde física dos atletas. reFerêNCiAS 1. matveiev, l. Fundamentos Del treinamento Desportivo. moscú: raduga, 1985. 2. platonov, VN. tratado Geral de treinamento Desportivo. São paulo: phorte, 2008. 3. Verkhoshanski, Y. treinamento desportivo: teoria e metodologia. porto Alegre: Artmed, 2001. 4. Szmuchrowski, lA. Componentes e parâmetros da Carga no treinamento esportivo. in: temas X em educação Física e esportes. Coletânea de trabalhos do Departamento de esportes / UFmG. belo horizonte: Saúde, 2005. 5. Szmuchrowski, lA; Couto, bp; kraguljac, m; rodrigues, hS. System for registration and analysis of load. in: book of Abstracts 9th annual Congress – european College of Sport Science. France, 2004. eXpeDieNte Responsável: Departamento técnico do COb colaboração: luciano espíndula pinto Superintendente Executivo de Esportes: marcus Vinícius Freire Endereço: Comitê Olímpico brasileiro Gerente Geral: José roberto perillier Avenida das Américas, 899 - barra da tijuca Área de ciência do Esporte: luis eduardo Viveiros de Castro rio de Janeiro-rJ - Cep: 22631-000 isadora toscano de britto contatos: e-mail: laboratorioolimpico@cob.org.br Edição: isadora toscano de britto Fax: (21) 3433-5858 laboratório Olímpico é uma publicação do Comitê Olímpico brasileiro (COb) sob a supervisão da Área de marketing e Comunicação pat R O c i n a D O R E S O f i c i a i S aSSiStência méDica aSSiStência ODOntOlóGica www.cob.org.br