Marina Silva vive momento oposto ao de 2010 na reta final da campanha, com aliados em pânico com a possibilidade de ela não chegar ao segundo turno, ao contrário de quatro anos atrás quando estava em ascensão. Especialistas apontam que a falta de apoio partidário e uma reação mais fraca às críticas contribuíram para a queda da candidata.

1. Quinta-feira 2.10.2014 l País l O GLOBO l 9
Na reta final, Marina vive momento oposto ao de 2010
Aliados tentam evitar o pânico, contam os dias para o fim do 1º turno e dizem que não há muito mais a ser feito
MARCO GRILLO
marco.grillo@oglobo.com.br
A campanha de Marina Silva
(PSB)entranaretafinaldo1ºtur-
no com um sentimento oposto
aode2010,quandoaentãosena-
dora se candidatou à Presidência
pelo PV. Há quatro anos, correli-
gionárioslamentavamaproximi-
dade do fim da disputa, apostan-
do que, se houvesse mais três se-
manas de pleito, Marina ultra-
passariaJoséSerra(PSDB)eche-
garia ao 2º turno, já que estava
em franca ascensão. Agora, alia-
dos estão apreensivos e contam
os minutos até domingo, receo-
sos de que a reação de Aécio Ne-
ves (PSDB) e a queda de Marina
propiciem um cenário que pare-
ciaimprovávelháummês:acan-
didata do PSB fora do 2º turno.
Hoje, há dentro da campanha
a preocupação de que o ritmo de
queda se mantenha ou se inten-
sifique até domingo. Interna-
mente, a possibilidade de ausên-
cia na próxima etapa da eleição
não é discutida de forma aberta.
Marinatemtentadopassarconfi-
ançaaoscorreligionáriose,como
fazdesdequesuacandidaturafoi
lançada e as pesquisas a coloca-
ram à frente de Aécio, evita falar
em 2º turno e pede aos integran-
tes da campanha que trabalhem
comoseadisputaaindaestivesse
no início. Mas há, nos bastidores,
quem revele um clima de preo-
cupação. Um aliado próximo re-
sumiu ontem a situação: “Está
todo mundo em pânico”.
A leitura mais frequente é que
não há muito a ser feito, já que o
tempo de propaganda na televi-
são é curto, e os adversários dire-
tos têm estruturas de comunica-
ção mais potentes. O deputado
federal Alfredo Sirkis (PSB-RJ),
que esteve com Marina ontem,
minimiza possíveis focos de pre-
ocupação e afirma que a disputa
acirrada nesta reta final já era
previsível.
— É um cenário de suspense,
mas a hipótese mais provável
ainda é a Marina no segundo
turno. A palavra de ordem é
“muita calma nessa hora”. Fora
uma boa performance no deba-
te da (TV) Globo, não há muito
mais a ser feito.
Para Sirkis, Marina é mais forte
entre os eleitores que desejam
derrotar Dilma, fator que pode
desequilibrar a balança favora-
velmente à candidata do PSB:
— Agora é uma disputa pelo
voto urbano, de classe média, e a
Marina tem capacidade de pro-
vocar ondas de entusiasmo. l
Paraespecialista,Marina
pagaopreçodenãoter
construídobasepartidária
O cientista político César Zucco,
da FGV/Ebape, diz que ficou
mais surpreso com a ascensão
meteórica de Marina na segunda
quinzena de agosto do que com
a queda nas últimas semanas:
—Édifícilmanterumacampa-
nhasemumagrandequantidade
de prefeitos e vereadores que sir-
vam como cabos eleitorais.
Segundo o especialista, a razão
principal da queda de Marina é
essa falta de capilaridade, mais
do que eventuais reflexos das crí-
ticas feitas especialmente pela
campanha petista, sobre recuos
oucontradiçõesdacandidataem
temas como a homofobia, o pré-
sal,aposiçãoemrelaçãoàCPMF
ou críticas à proposta de autono-
mia do BC.
— A Marina não fez muito es-
forço para atrair uma base mais
forte. Isso dificulta adesões, a for-
maçãodeumacoalizão.Ficadifí-
cil tocar uma campanha assim.
Não entro no mérito se é bom ou
ruim, mas faltou “política real”.
Já o cientista político Antônio
Testa, da UNB, acredita que a fal-
ta de uma reação mais firme às
críticassofridascontribuiuparao
desgaste de Marina e a conse-
quente queda nas pesquisas.
— As questões da autonomia
do Banco Central e da retirada
da criminalização da homofo-
bia do programa de governo
prejudicaram bastante a Mari-
na. E faltou uma reação mais
forte. Ela foi criticada e disse
que ia “oferecer a outra face”. É
briga por disputa de poder,
não dá para jogar de forma tão
amena assim — analisa. l
Falta de apoio
e ataques
contribuíram
para queda
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