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Ao Encontro de Mr. Banks - João Canelo - ER
1. Ao Encontro de Mr. Banks
Mary Poppins é um dos clássicos indiscutíveis da Disney e uma história que tem marcado, desde
a sua estreia em 1964, a vida de pais e filhos por todo o mundo. Mas a simpática e mágica
governanta, que aparece um dia na vida da família Banks, esconde por detrás do seu sorriso
encantador uma escritora marcada por uma infância dura e decepcionante que a impossibilita de
viver ou seguir em frente. E o seu nome é P.L. Travers, a sua criadora.
Mais do que a história da adaptação de Mary Poppins ao grande ecrã, Ao Encontro de Mr. Banks
foca-se em Travers e na sua luta pessoal contra a venda dos direitos da sua personagem fictícia.
O filme, realizado por John Lee Hancock (Um Sonho Possível), leva-nos numa viagem através
da pré-produção daquela que viria a ser uma das grandes obras da Disney, e dá-nos a conhecer
a relação entre a escritora e o criador de Mickey e companhia.
Ainda que a história nos apresente uma personagem verdadeiramente interessante e
problemática, fechada no seu próprio mundo e enclausurada num medo constante de perder
tudo à sua volta, o seu desenvolvimento deixa um pouco a desejar ao deixar-se levar por clichés
constantes de um género que teima em quebrar qualquer possibilidades de uma narrativa
envolvente e surpreendente - problemas quase sempre inseparáveis de biopics ou biografias.
O uso constante de flashbacks, que recontam a infância de Travers e a criação da visão clássica
de Poppins, demonstram como o guião é, por vezes, pouco surpreendente e imaginativo no que
toca à sua narrativa. Os cortes abusivos para o passado desconstroem uma estrutura que podia
ter sido muito mais focada e desenvolvida no presente e com uma Travers amargurada sem
necessitar de explicar exaustivamente seu o percurso. Mostrar é sempre melhor que contar, é
certo, mas Ao Encontro de Mr. Banks não consegue encontrar um equilibrio perfeito na sua
estrutura para justificar o uso de flashbacks. A sua utilização apenas evidencia que a equipa não
sabia como contar a história de Travers sem recorrer à assistência desta bengala narrativa.
A própria vertente visual do filme segue a mesma banalidade das escolhas narrativas, com a
realização a apostar num dramatismo exagerado e esperançoso para contar a sua história. São
os momentos mais calmos e protagonizados por Travers, na solidão do seu lar e no seu
deslocamento físico e psicológico durante a estadia em Los Angeles, que fazem brilhar a
realização pouco imaginativa de Hancock e realçam a interpretação de Emma Thompson como a
escritora perturbada. Mas tudo em Ao Encontro de Mr. Banks é fugaz e insípido, pouco
explorado ou enaltecido, e tanto a realização, como a banda sonora e a interpretação de Tom
Hanks, que assume o papel de Walt Disney, e dos restantes actores, caem numa enorme
banalidade.
Ao Encontro de Mr. Banks é um filme que tem medo de arriscar e assumir uma visão mais
assertiva sobre a história de P.L. Travers, e deixa-nos a desejar mais. A pré-produção de Mary
Poppins e a relação de Travers com os argumentistas e músicos responsáveis pela adaptação
do seu livro, é, juntamente com a própria escritora, um dos pontos fortes de um filme que se
perde num mar de flashbacks quase desnecessários. Se Hancock e a Disney tivessem arriscado
um pouco mais, Ao Encontro de Mr. Banks podia ter sido um delicioso filme sobre a aceitação do
passado e uma análise sobre as tormentas do processo criativo numa escritora perdida no
tempo e nas suas memórias. Como está, é apenas mais um filme numa época repleta de
melhores produções nas salas de cinema.
Nota: 2,5 em 5