A matéria vem se organizando de maneira cada vez mais complexa ao longo do tempo, com eventos evolutivos elevando os patamares de complexidade. A invenção da linguagem e dos computadores foram exemplos de saltos evolutivos que aceleraram a acumulação de complexidade. Estamos prestes a alcançar um "ponto de acumulação" onde novos desenvolvimentos surgirão em intervalos cada vez menores, possivelmente levando a uma singularidade tecnológica.
1. Metaevolução e o ponto de acumulação
(Resumo: a matéria vem se organizando de maneira cada vez mais complexa. Eventos
metaevolutivos esporádicos elevam os patamares de organização do sistema. Estamos prestes a nos
deparar com um ponto de acumulação das mudanças de patamares evolutivos.)
Após o surgimento do universo, a matéria começou a se organizar muito lentamente, tendo sido
necessários 10 bilhões de anos até o surgimento da vida. Antes do surgimento da vida, a
complexidade dos seres era descrita pela equação:
.
Ao surgirem, os seres vivos galgaram um novo patamar evolutivo, passando a ser regidos por:
,onde a2 > a1 .
Note que a taxa de variação, ou acumulação de complexidade nesse intervalo era dada por
.
O primeiro ser vivo era uma criatura muito primitiva e simples comparada aos mais simples
organismos atuais, embora fosse a criatura mais complexa de então.
Embora muito mais acelerado que o anterior, o novo patamar manteve um nível de acumulação de
complexidade muito baixo relativo ao que viria em seguida, após a aquisição da reprodução
sexuada, durante a explosão cambriana, tendo sido necessários mais 3 bilhões de anos para que isso
ocorresse, elevando a função de complexidade ao patamar n3 e, consequentemente a
,onde a3 > a2 ,
500 milhões de anos foram ainda necessários até a elaboração da linguagem, um acumulador de
complexidade até então sem precedentes. Vários animais são capazes de inventar técnicas
extraordinárias com variadas finalidades, demonstrando um engenho surpreendente. Diferente de
nós, no entanto, eles não conseguem repassar suas eventuais descobertas a outros indivíduos, já que
não conseguem se comunicar. Por essa razão, os animais retornam sempre ao ponto de partida. Cada
um deles deve refazer qualquer descoberta que tenha sido efetuada anteriormente por outro, de
modo que não conseguem acumular uma tecnologia complexa.
A invenção da linguagem elevou nossa cultura a um novo patamar evolutivo, permitindo a
construção de numerosos objetos, instituições e de toda uma ampla variedade cultural.
Chegamos assim a:
e precisamos de 200.000 anos para construir algo que estivesse um nível acima, os computadores.
Enquanto os seres vivos evoluem por seleção natural, os computadores evoluem de maneira
projetada, um modo de evolução muito superior ao outro. Os computadores já participam, como
auxiliares, em todas as etapas do aperfeiçoamento e construção de outros computadores. Em poucas
décadas estarão executando autonomamente todas as etapas de sua produção e aperfeiçoamento,
2. desde o projeto até a execução final. Nesse momento terão transposto, definitivamente, a era da
seleção projetada. Esse salto extraordinário permitirá que cada geração acumule uma quantidade de
complexidade que os seres vivos precisavam esperar milhares, ou milhões de anos para conseguir.
Isso sugere que, ao cabo de uns 100 anos, desde sua invenção, engendrarão algo novo que lhes
supere quanto ao patamar evolutivo, elevando-o ainda mais.
A sucessão cada vez mais acelerada sugere a emergência de algo ainda maior em apenas uma
década. Algo que gerará seu sucedâneo em um ano. Esse que, em apenas um mês, deve produzir
algo surpreendentemente mais complexo, que virá a ser superado, em um mês, por algo tão
extraordinário que será capaz de criar seu sucedâneo em apenas um dia.
A complexidade do sistema é dada, recursivamente, por:
onde n corresponde à cardinalidade do patamar evolutivo, e a(n+1) > an ,
Estando em tão estrondoso patamar evolutivo, esse ser inimaginável conseguirá produzir seu
sucessor em apenas uma hora, algo tão impressionante que se superará em um minuto, gerando um
ser espantoso que em apenas um segundo alcançará a superação de seu próprio patamar.
E logo virá o seguinte e outro e mais outro, ocasionando-se assim, um ponto de acumulação. Nesse
ponto a curva de complexidade do sistema adquire uma inclinação vertical. Será um momento
radiante, o maior evento desde o big bang.
(Restrições quânticas impondo limites mínimos de gasto de energia por informação, caso mantidos,
deixarão as coisas muito quentes para nós. Há esperança na superação de tais limites.)
Gustavo Gollo