Artigo de minha autoria sobre a busca pela máquina de moto contínuo, o Perpetuum Móbile. Nesse artigo mostro que a impossibilidade de tal máquina reside na aplicação das leis da conservação da energia.
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Perpetuum Móbile: A História das Máquinas Movidas Pelo Movimento Perpétuo
1. PERPETUUM MÓBILE
Francisco Aurélio Madureira da Silva
Figura 01 – Um perpetuum móbile que servia
de anúncio em um café de Los Angeles.
Foi veiculado recentemente por um canal aberto o filme KENOMA,
produzido em 1998, que narra a trajetória de Lineu, habitante da fictícia cidade de
Kenoma, que se dedica por vinte anos à tarefa de construir uma máquina capaz
de produzir movimento na ausência de ações externas, uma máquina que
funcione indefinidamente, apenas com uma certa quantidade de energia inicial a
ela fornecida: o moto-perpétuo (perpetuum móbile).
As máquinas de moto-perpétuo ou moto-contínuo foram muito difundidas ao
longo da história, particularmente no final da Idade Média e no Renascimento.
Ainda hoje é possível encontrar pessoas com raciocínios intuitivos que sustentam
o funcionamento de equipamentos do tipo moto-perpétuo.
Inúmeros projetos de máquinas desse tipo foram sugeridos no decorrer dos
séculos, alguns deles, verdadeiras obras de engenharia: extremamente complexos
e minuciosos. Lamentavelmente, até os dias de hoje, nenhum deles não passou
do estágio de projeto e todas as tentativas dos perpetuístas – pessoas que
acreditam no perpetuum móbile – fracassaram.
A figura 02 mostra um moto-perpétuo muito difundido na Idade Média.
Hastes são fixadas ao aro de uma roda, com bolinhas idênticas presas nas suas
extremidades. Em qualquer posição que se encontre a roda, as bolinhas à direita
estarão mais afastadas do centro da roda do que as da esquerda.
Conseqüentemente, baseando-se no princípio da alavanca, as bolinhas da direita
criam um torque (momento de força) maior do que o das bolinhas da esquerda,
fazendo a roda girar no sentido horário. A queda subseqüente das outras bolinhas,
2. depois de atingirem a posição superior, faz a roda girar para sempre, ou pelo
menos até que seu eixo fosse gasto.
Figura 02 – Um perpetuum móbile da Idade Média.
Mas afinal, qual a falha desse projeto? Por que essa máquina não
funciona? Examine novamente a figura 02. Observe que existem apenas quatro
bolinhas à direita e oito bolinhas à esquerda da roda. O mecanismo está, na
verdade, em equilíbrio. O torque produzido pelas quatro bolinhas da direita é
anulado pelo torque das oito bolinhas situadas do lado esquerdo e a roda não gira,
apenas inclina um pouco, para em seguida voltar a sua posição inicial.
A figura 03 mostra um sistema mais sofisticado de moto-contínuo, utilizando
o magnetismo, proposto, no século XVII, pelo inglês John Wilins, bispo de
Chester.
Figura 03 – Um perpetuum móbile baseado no magnetismo.
Um poderoso imã no topo do pedestal atrairia uma esfera de ferro que
subiria a rampa reta até atingir um orifício pelo qual cairia rolando numa rampa
inferior até voltar ao ponto inicial onde mais uma vez seria atraída pelo imã, cairia
pelo orifício, rolaria pela rampa inferior e atingiria novamente a rampa reta, ad
3. infinitum. É fácil ver a razão pela qual esse perpetuum móbile não pode funcionar:
se o imã é suficientemente forte para atrair a esfera rampa acima, por que razão
ele permitiria que a atração gravitacional a fizesse cair pelo orifício e descer a
rampa inferior?
Várias modificações foram introduzidas, de tempos em tempos, no mesmo
projeto, mas nenhuma obteve êxito. No entanto, em 1878, um inventor camuflou
tão bem o princípio que se baseava a máquina magnética de moto-contínuo que
conseguiu enganar o departamento de patentes da Alemanha, obtendo a sua
patente.
Você seria capaz de descobrir o “furo” do projeto de máquina de moto-
contínuo apresentado na figura 04? Segundo o inventor, a água em A, pesando
mais do que em B, provoca a subida da água em B, fazendo-a cair nas pás da
roda, produzindo trabalho mecânico, e voltando para A, onde recomeçaria o ciclo.
Figura 04 – Um perpetuum móbile baseado na hidrostática.
Um dos aspectos mais importantes da energia é exatamente a facilidade
com que muda de uma forma para outra. É a energia que possibilita os processos
de transformação da natureza e, ao mesmo tempo, estabelece uma continuidade,
visto que não se pode criar nem destruir energia.
A crença nos motos-perpétuos acabou se tornando uma barreira à
formulação do conceito de energia e a sua conservação. No entanto, o princípio
da conservação da energia, conseqüência do insucesso dos perpetuístas, é
simplesmente a generalização da impossibilidade do perpetuum móbile. Negar a
possibilidade dos motos-perpétuos existirem implica em aceitar a idéia de que
existem grandezas associadas ao movimento que se conservam.
Francisco Aurélio Madureira da Silva (Chico)
Professor de física da rede particular de ensino.